Construção de Tubos Sonoros para Aplicação Didática da Física Musical João V. Oliveira, Jônatas C. C. Alves, Maria Alzira A. Nunes, Marcus V. G. Morais Universidade de Brasília – Faculdade de Engenharia Campus Gama (UnB/FGA); Área Especial 02 Lote 14 Setor Central – 72.405-610 Gama - DF [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Abstract. This work aims to build sound tubes for application in the teaching of sound. They can be used at high school end graduate courses, like engineering and physics. The system consists of pipes and other materials like woods. All of them are low cost materials. The apparatus consists of a holder and eight pipes according to the musical notes of an octave (C to C +). The noise excitation can be performed manually in one end of the tube or using a joint-stick membrane. So the sound is propagated within a closed-open duct at its natural frequency. Resumo. Este trabalho tem por objetivo a construção de tubos sonoros para aplicação no ensino de acústica podendo estes ser utilizados desde o ensino médio até o ensino superior (cursos de engenharias e física). O sistema é composto de tubos musicais construídos a partir de materiais de baixo custo. O aparato consiste de um suporte e oito tubos correspondentes às notas musicais de uma oitava (Dó a Dó+). A excitação sonora pode ser realizada manualmente espalmando uma das extremidades do tubo ou utilizando nesta mesma extremidade um conjunto membrana-vareta. Desta maneira o som é propagado no interior de um duto caracterizado por fechado-aberto na sua freqüência natural ou característica. 1. Introdução As ondas sonoras são produzidas por deformações provocadas pela diferença de pressão em um meio elástico qualquer (ar, metais, isolantes, etc.), precisando deste meio para se propagar. A maioria dos sons é obtida através de objetos que estão vibrando, como é o caso do alto-falante. Quando as variações de pressão chegam aos nossos ouvidos, os tímpanos tentam imitar este tipo de vibração e nos causam a sensação fisiológica do som [Bosquetti e Marega 1997]. No entanto, não são todas as flutuações de pressão que produzem a sensação de audição quando atingem o ouvido humano. A sensação de som só ocorrerá quando a amplitude destas flutuações e a freqüência com que elas se repetem estiverem dentro de determinada faixa de valores. A sensação auditiva do ser humana se caracteriza na faixa de freqüência 20Hz a 20kHz. Acima e abaixo desta faixa são, respectivamente, denominadas por ondas ultrasônicas e infrasônicas [Gerges 2000]. Assim como as cordas ou molas, a ar ou gás contido dentro de um tubo pode vibrar com freqüências sonoras, este é o princípio que constitui os instrumentos musicais como a flauta, corneta, clarinete, etc. que são construídos basicamente por tubos sonoros. As vibrações das colunas gasosas podem ser estudadas como ondas estacionárias resultantes da interferência do som enviado na embocadura com o som refletido na outra extremidade do tubo [Virtuous 2009]. Com base neste conceito, propõe-se neste trabalho a construção de tubos sonoros para aplicação didática, onde se é possível demonstrar o efeito das ondas estacionárias bem como a teoria envolvida para obtenção das notas musicais de interesse. 2. Tubos Sonoros Fechados Neste trabalho será abordada a teoria de tubos fechados uma vez que o aparato proposto é composto de tubos onde uma extremidade é aberta e a outra fechada (com uma membrana ou espalmando a mão). A extremidade aberta se caracteriza por ventre de deslocamento e conseqüentemente um nó de pressão. Já a extremidade fechada corresponde a um nó de deslocamento (ventre de pressão). A distância entre um nó e o ventre adjacente é sempre igual a um quarto do comprimento de onda. As freqüências dos modos normais deste tipo de tubo são dadas por [Young 2008]: fn = v λn = nv 4L (Eq. 1) ( n = 1,3 ,5 ,...) onde f é a freqüência em Hz, v é a velocidade do som no meio considerado em m/s, λ é o comprimento de onda (m), L é o comprimento do tubo (m) e o subscrito n se refere ao modo normal de interesse (fundamental e harmônicos). Em um tubo fechado em uma das extremidades, a freqüência fundamental é f1=v/4L e somente os harmônicos de ordem ímpar na série são possíveis. Na Fig. 1 estão ilustrados os três primeiros modos normais em um tubo fechado. Fundamental Terceiro harmônico Quinto harmônico Figura 1. Seção reta de um tubo fechado mostrando os três primeiros modos normais. 3. Metodologia Para construção do aparato utilizou-se tubos de PVC branco para esgoto de diâmetro interno igual a 0,038 m, chapas de madeira para construção do suporte, luvas simples de PVC para fixação dos tubos no suporte de madeira, bexigas (comumente utilizadas em festas infantis) para fechar uma extremidade do tubo (membrana vibratória), pregos e materiais necessários para confecção do sistema, como martelo, alicates, etc. Ressaltase que o todo o material é de baixo custo sendo alguns encontrados em locais para descarte do mesmo. Para cálculo dos comprimentos dos tubos, utilizou-se a Eq. 2, a qual se deriva da Eq. 1, porém considerando o chamado efeito de borda ou de extremidade, quando se trata da propagação de ondas estacionárias em duto onde uma das extremidades é aberta. L= (Eq. 2) v − 0.31d int 4f onde L é o comprimento do duto para que a freqüência fundamental do mesmo seja igual à freqüência f correspondente à nota musical de interesse, dint é o diâmetro interno do tubo. Neste caso estamos interessados na freqüência fundamental do tubo o que corresponde a n igual a 1. A segunda parcela da Eq. (2) é chamada de efeito de extremidade [JACOBSEN 2008]. A partir das freqüências de interesse, as quais correspondem a de uma escala musical (Dó a Dó+), calculou-se o comprimento do tubo considerando a velocidade do som em temperatura ambiente. Após os cálculos para a escala fundamental, a equipe optou por construir os tubos em uma oitava abaixo (metade da freqüência fundamental) uma vez que os comprimentos obtidos para os tubos foram muito pequenos e demonstrativamente não seria interessante. 4. Resultados e Discussão Na Tab. 1 estão descritas as freqüências teóricas para cada nota musical, o comprimento dos tubos calculados a partir da Eq. 2 para obter a freqüência teórica, e ainda a freqüência experimental medida após construção do tubo com o comprimento especificado. Ressalta-se que ambas as freqüências encontra-se uma oitava abaixo da fundamental. Tabela 1. Comprimentos dos tubos de PVC. Nota musical Freq. teor. [Hz] L[m] Freq. exp. [Hz] Nota musical Freq. teor. [Hz] L[m] Freq. exp. [Hz] Dó 131,0 0,6428 125,0 Sol 196,0 0,4257 192,5 Ré 147,0 0,5716 141,0 Lá 220,0 0,3780 215,0 Mi 165,0 0,5079 163,1 Si 247,0 0,3354 244,0 Fá 174,5 0,4796 173,8 Dó+ 261,5 0,3161 257,8 Na Fig. 2(a) pode-se visualizar um tubo cortado no comprimento de interesse. Na Fig. 2(b) está mostrado o aparato completo. A verificação experimental e calibração dos tubos foram realizadas utilizando um sistema de aquisição de dados composto por um microfone ominidirecional Behringer e uma placa de áudio USB Edirol (Roland). O software SIA SmaartLive de análise de sinais foi utilizado de modo a obter o espectro do sinal obtido no interior do tubo com o microfone a partir de uma excitação impulsiva na extremidade fechada deste. Na Fig. 3(a) e 3(b) estão mostrados dois espectros correspondentes às notas Mi e Fá (respectivamente tubos com comprimentos iguais a 0,5079 e 0,4796 m). Extremidade fechada (bexiga) Tubos PVC Extremidade aberta Suporte Madeira Luva PVC simples Fig.2(a) – Tubo sonoro fechado Fig.2(b) – Aparato completo Fig.3(a) – Espectro da nota Mi Fig.3(b) – Espectro da nota Fá O maior erro relativo obtido entre as freqüências experimentais e as freqüências teóricas foi de 4,5 % para a nota Dó e a menor foi de 0,4% para a nota Fá. 5. Conclusões O conjunto de tubos sonoros construídos a partir de materiais de baixo custo demonstrou-se de grande valia para fins didáticos. Os resultados experimentais eram esperados de acordo com a teoria demonstrada e os erros relativos obtidos foram pequenos em função da precisão dos equipamentos utilizados. O aparato já está sendo usado em demonstrações para ensino médio (Projeto de extensão da FGA) podendo também ser utilizado em disciplinas do curso de Engenharia da FGA, tais como Física e Acústica. 6. Referências Bosquetti, D. e Marega Jr, E. (1997) “Curso de Mecânica Ondulatória”, Universidade de São Paulo, CDCC - Centro de Divulgação Científica Cultural. Gerges, S. N. Y. (2000) “Ruído – Fundamentos e Controle”, 2ª Ed., NR Editora, Florianópolis, Brasil. Grupo Vituous (2009) “Tubos Sonoros”, http://www.sofisica.com.br/conteudos/Ondulatoria/Acustica/tubos.php disponível em Jacobsen, F. (2008) “Propagation of Sound Waves in Ducts”, Acoustic Technology, Technical University of Denmark, Note nº 31260. Young, H. D. (2008) “Física II: Termodinâmica e ondas”, 12 Ed., São Paulo: Addison Wesley, Editora Pearson Education.