Cris Bierrenbach Fotógrafa e artista plástica paulista expõe trabalho

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novembro/2015
R$ 28.50
www.doispontos.com.br
ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
João Carlos Martins
homenageia Vladimir
Herzog na Sala São Paulo
Fusão entre música clássica e resistência política deram forma a um evento
único e inesquecível no centro da cidade
Walter Benjamin discorre
sobre arte e capitalismo
Reflexões sobre a principal obra do
filósofo alemão e uma enquete sobre
Romero Britto e a mercantilização do
artista
Cris Bierrenbach
Fotógrafa e artista plástica paulista expõe trabalho de peso
na SP-arte foto 2015
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
ÍNDICE
FILOSOFIA
Um futuro esquecido
p: 07
LAZER
O autêntico Pub Irlandês em São Paulop: 09
EXPOSIÇÕES
Cris Bierrenbach, expositora engajada na SP-arte 2015
p: 10
Conexão latina subversiva e intensa
p: 04
MÚSICA
A música clássica a favor da
liberdade de expressão
p: 18
Dois amigos, um século de música p: 23
:4
doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
TEATRO
Caesar, a peça atemporal
p: 26
CINEMA
”Beasts of No Nation”, o império da
Netflix rumo ao Oscar
p: 28
É uma questão de escolha. Um dilema.
p: 32
OPINIÃO
O que é arte?
p: 38
CONTRIBUIÇÃO DOS LEITORES
Manifestações artísticas de novembro
p: 44
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
FILOSOFIA
:Um futuro esquecido
O filósofo Hans Jonas diz que não devemos pôr em risco a continuidade da vida humana
POR ISABELI PATRÃO
entro dos princípios éticos encontrados na sociedade contemporânea, é de suma importância levar
em conta determinados conceitos adotados de análises filosóficas.
Dentre os principais conceitos está
o do Principio da Responsabilidade,
citado pelo filosofo alemão Hans Jonas. Este traz uma discussão diante das
contradições encontradas na época
das luzes, mais conhecida como Iluminismo. Como já é de conhecimento pleno e quase que generalizado,
tal época trouxe para a sociedade o
ideal da superação das guerras, das
superstições, das intolerâncias, da submissão aos dogmas, da escravidão e
trouxe também a luta pelos direitos individuais dos cidadãos. Porém este se
segue de ideais contrários, gerando diversos conflitos.
Em tais contradições, é analisado o perfil do líder ditador Adolf Hitler, que trouxe dentro do nazismo um
avanço na identidade tecnológica
que ameaçou e acabou com muitas
vidas. Tal alegoria fez com que muitos
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filosófos da época passassem a apresentar teorias sobre a ética humana,
inclusive Hans Jonas, que mencionou o Principio da Responsabilidade
centrado nos problemas encontrados
pela sociedade dentro do desenvolvi-
ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
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doispontos
mento tecnológico e os perigos para
uma sociedade futura.
O filósofo traz o conceito de que
diante dos avanços inevitáveis da
tecnologia, temos que nos ater não
somente às consequências presentes
ou mais próximas a nós, mas também
pensar em consequências a longo
prazo. Segundo Jonas, devemos não
apenas levar em conta as vidas já existentes, mas também pensar nas vidas
que surgirão no percurso que o planeta ainda terá. Se pensarmos apenas
no momento em que estamos e agirmos como se não houvesse a probabilidade de diversas gerações futuras
, estaremos tirando destas o direito de
suas vidas e nós não temos o direito
de delimitar o fim da vida humana e
planetária.
Usa-se como o exemplo do filosófo
para tais argumentos, a possivel vida
de nossos filhos e filhas. Não é certo
colocarmos em risco a vida destes por
nos voltarmos apenas as nossas ignorancias centradas dentro de um pensamento egoísta e de relações líquidas, expostas por Zygmunt Bauman,
que diz que temos relações voltadas
a “puros interesses”.
Segundo Jonas o futuro das geraçoes encontra-se nas mãos de algo
não determinado, de alguma entidade ou mesmo de um acaso , como
diz na citação: “O longo trajeto das
“O longo trajeto das
consequências
ficava ao critério do
acaso, do destino ou
da providência”
- Hans Jonas
consequências ficava ao critério do
acaso, do destino ou da providência”.
Pode-se, ainda, dizer que os conceitos
do filósofo atuaram como algo importante para o estudo da bioética, que
seria uma análise da ética da vida.
Dentre as citações de Jonas temse, também, a que resume o ideal do
Principio de Responsabilidade: “age de
tal maneira que os efeitos de tua ação
sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica,
ou ainda, não ponhas em perigo a
continuidade indefinida da humanidade”.
Resume-se, portanto, que os ideais
que Hans Jonas dentro de suas pesquisas devem ser encarados como de real
importância. Todos deveriam ser postos a pensar em tais argumentos, para
assim olharem suas atitudes realizadas
no presente e, diante disso, lembrar de
que depois de nós haverá muitas outras gerações.
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LAZER
:O autêntico Pub Irlandês em São Paulo
St. John’s Irish Pub: uma casa localizada na Zona Leste da cidade que traz música ao vivo e saborosas opções de cerveja
POR CAIO FONSECA
Fundado em 2004, o St. John’s Irish Pub é o primeiro pub com a proposta
de trazer para a região um autêntico bar irlandês, com diversidade de cervejas e um clima típico europeu. A casa tem som ao vivo de quinta a domingo
com o melhor do Blues, Jazz e Pop-Rock internacional. Contando com bandas
de diversos estilos, o St. John’s se estabeleceu no Tatuapé como o único bar
temático com música ao vivo e com diversos eventos, como Festivais de Cultura Irlandesa, shows de bandas celtas e muitos mais.
Além disso, o bar conta com um board oficial para jogo de dardos, promovendo inclusive campeonatos na casa. No andar superior, há uma mesa de
bilhar para passar o tempo enquanto aprecia as opções do menu e as incríveis
cervejas artesanais. Único pub na região de São Paulo a ter seu próprio rótulo
de cerveja, o St. John’s também oferece aos seus clientes um espaço capaz
de comportar 600 pessoas, perfeito para sediar celebrações de aniversário e
afins.
O St. John’s se diferencia de outros bares e presenteia seus amigos com
mais espaço, mais qualidade e mais cervejas no cardápio. O bar possui áreas
exclusivas, como o “Espaço Heineken”, “Espaço Jameson” e “Espaço Erdinger”, e todos os ambientes são acessíveis a deficientes físicos.
ST. JOHN’S IRISH PUB
ENDEREÇO:
RUA ITAPURA, Nº 1308
TATUAPÉ | SÃO PAULO - SP
TELEFONE:
+55 11 2295 0677
:9
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
wW
:Cris Bierrebach,
expositora
engajada na
SP-arte 2015
Galeria Rabieh representa a artista em
evento trazendo obras que inspiram
questionamentos críticos diante de
temas como o corpo feminino e as
relacoes humanas.
POR CAROLINA MAIA
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
EXPOSIÇÕES
A Sp-arte/foto/2015 foi a nona
foto digital, vídeos, performances
e instalações. Ainda, a técnica do
daguerreotipo, dos primórdios da
invenção da fotografia (século XIX)
como uma tentativa de aproximar
tradição e contemporaneidade em
suas obras e, como consequência,
denunciar a atemporalidade dos
temas que aborda.
edição de uma exposição/feira fotográfica que ocorreu no shopping Jk
Iguatemi em São Paulo nos dias 20 a
23 de agosto de 2015. Reuniu, além
das fotografias expostas pelas vinte
galerias, instalações, obras multimídia
e ações promocionais de patrocinadores.
Dentre seus muitos
Fala de vítimas de
expositores destacaviolência doméstica,
se Cris Bierrenbach,
por exemplo, através
cujos
trabalhos
de
imagens
de
estavam
sendo
corpos nus cobertos
expostos pela Galeria
com
hematomas
Rabieh de São Paulo.
cuja
inspiração
A fotógrafa iniciou sua
veio das estatísticas
carreira nos anos 90
brasileiras associadas
como
fotojornalista
a tal crime, ainda não
na Folha de S. Paulo
reduzidas pela Lei
e
consolidou-se
Maria da Penha e que
como
artista
nos
levantaram o debate
anos 2000 através de
para o surgimento da v
obras centradas na
do feminicídio. Ainda,
investigação do corpo como reflexo
trata do tema da descartabilidade
social de maneira poética e crítica.
dos relacionamentos atuais, por
meio de uma tela onde apresenta
Na exposição “Fotogramas
diversas fotografias de preservativos
de um discurso amoroso” Cris
usados (Repetição de amores e a
trata de assuntos relativos aos
arte do xadrez).
relacionamentos
humanos,
vistos sob uma ótica ácida e
escancarada. Utiliza, além da
Seu
trabalho
traz
questionamentos feministas, visíveis
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
no próprio debate da violência,
mas também ao exibir imagens
como a de um pênis alfinetado
(Meu Consolo) ou ao transmitir um
vídeo no qual uma mulher corta seu
próprio cabelo – crítica à suposta
feminilidade dos fios. As fotos tiradas
por Cris Bierrenbach bebem na
fonte do surrealismo, altamente
perceptível na impactante imagem
dos cílios longos que remetem a
lágrimas escorrendo pela face de
uma mulher.
Dessa maneira, sua exibição
pretende ponderar sobre a questão
da identidade, da individualidade
e do íntimo nas trocas pessoais,
predominando
retratos
e
autorretratos. Obras como The Lines
of My Life documentam as linhas da
vida na mão de diversas pessoas
próximas à artista, como uma
tentativa de lhes singularizar por
intermédio de suas características
corporais únicas. Ademais, procura
refletir sobre as probabilidades do
encontro amoroso enriquecedor e
verdadeiro, no qual existe uma troca
real de “eus” (O Encontro).
“Fotogramas de um discurso
amoroso”, logo, configura uma
compilação profunda e sincera de
questões humanas básicas e viscerais
que vão de encontro ao espectador
com o intuito de chocar e alertar
sobre essas minúcias, muitas vezes
ignoradas ou esquecidas no dia-adia mecanizado e quase apático
inerente à sociedade atual.
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
EXPOSIÇÕES
:Conexão latina subversiva e intensa
Obras de Frida Kahlo e outras artistas conectam-se numa teia
de relações marcadas por uma arte íntima e contestadora
POR CAROLINA MAIA
“F
rida Kahlo – conexões entre
mulheres surrealistas no México” está
ocorrendo no Instituto Tomie Ohtake
em São Paulo durante o segundo semestre de 2015. Dentre suas outras
expositoras estão expoentes como
Lola Álvarez Bravo, Rosa Rolanda,
MaríaIzquierdo, Remedios Varo, Alice
Rahon, LeonoraCarrington e KatiHorna. Muitas vezes reconhecidas como
“esposas” de outras figuras do mundo da arte (como Frida em seu relacionamento com Diego Rivera), na
mostra são colocadas em primeiro
plano, como protagonistas.
A exposição propõe um diálogo entre um grupo de mulheres artistas, mexicanas de nascença ou influenciadas
pelo país em suas obras, associadas
ao surrealismo. A confluência desse
grupo no México criou uma atmosfera
de produção cultural vivíssima, orquestrada e encabeçada por Frida Kahlo.
A exposição pretende mostrar as afinidades estéticas e ideológicas entre
as artistas, abordando temas como o
a identidade, o corpo feminino, a maternidade, a família,
a cultura, o inconsciente e o onírico.
Tratando do tema da identidade,
surpreende a abundância de autorretratos e retratos simbólicos entre as
obras. Neles reflete-se a exploração da
psique carregada de símbolos e mitos
pessoais que trazem. Algumas pintoras
optaram, em tais representações, pela
identificação com o passado pré-hispânico e as culturas indígenas mexicanas – inclusive usando vestimentas associadas a mulheres poderosas,
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
como rainhas outehuanas, apropriando-se dessas figuras matriarcais. Outras utilizaram estratégias alternativas
como o uso de máscaras ou disfarces.
O corpo feminino se apresenta
como lugar de resistência e energia criativa. Às vezes são talhados ou
fragmentados e outras vezes lançam
mão da sexualidade e da ideia de reprodução, tendo
como objetivo sempre a
aproximação entre o
público e o privado.
Em especial nas pinturas de Frida Kahlo
o tema da dor física
é recorrente devido
aos seus problemas de
coluna e a uma gangrena no pé que lhe acometeu já no fim da vida.
Há a representação de histórias eróticas, de amor e de abandono nas pinturas metafóricas de natureza-morta
expostas na mostra. Esse gênero clássico foi retomado por Kahlo e Izquierdo,
principalmente, sendo subvertidas na
forma de “natureza-viva” por carregarem um forte viés simbólico. As frutas
trazem uma associação com a vida da
dona-de-casa e exprimem, em suas
cores e tonalidades, os sentimentos e
vivências das mulheres mexicanas da
época.
A relação a dois, o matrimônio e
a família são corriqueiros nas pro-
duções das artistas – muitas vezes,
até, subvertendo papéis de gênero
e costumes sociais pré-estabelecidos. A figura da mulher é o eixo ao
redor do qual a família se constrói e
funciona, retomando a ideia matriarcal das civilizações pré-hispânicas.
No caso de Frida, sua impossibilidade
de engravidar tornou-se uma
obsessão, perceptível na
representação de seu
filho que nunca existiu como um boneco
ao seu lado nas pinturas.
No que cerne ao
surrealismo, nota-se
um especial interesse
pela magia e doutrinas esotéricas como tarô,
astrologia, alquimia etc. Muitas das artistas significam a si mesmas
como deusas, feiticeiras ou figuras
místicas em rituais mágicos. Grande
parte dessas obras revelam viagens
pessoais de transformação e renascimento espiritual. Ainda, o México
foi considerado por André Breton, o
“país surrealista por excelência” devido à sua tradição de festas e cores,
artefatos, artesanato e mitos.
Em termos de técnica muitas incluíam
o elemento acidental. As mulheres
exploraram o desenho automático,
a superposição de objetos aparentemente desconexos, a fotomontagem
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
e o raiograma. Todos
com o intuito de representação do inconsciente. A intensidade,
dramaticidade e subjetividade das obras tornam o conjunto exibido inquietante inclusive
para os familiarizados
com o movimento surrealista em sua vertente
original francesa.
Frida Kahlo, no entanto, rejeita o rótulo, não
se identificando com
as características do
movimento e alegando
pintar sua própria realidade. Queria que sua
obra fosse uma con-
tribuição para a luta das
pessoas em seu esforço
pela paz e pela liberdade, e não uma manifestação decadente de
arte burguesa, como julgava o surrealismo.
Em resumo, trata-se de
uma exposição riquíssima em termos de cultura latina e, porque não,
feminista. Conta com a
presença de pinturas,
documentos históricos,
vestimentas e acessórios
usados por Frida além de
um filme-documentário
que dura em torno de
30 minutos contando a
história incrível da artista.
Estará montada no Instituto entre 27 de setembro de 2015 até 10 de janeiro de 2016.
INSTITUTO TOMIE OHTAKE
ENDEREÇO:
AV. FARIA LIMA, Nº 201
PINHEIROS | SÃO PAULO - SP
TELEFONE:
+55 11 2245 1900
:16
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
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:A música clássica
a favor da liberdade
de expressão
O aclamado maestro e pianista
João Carlos Martins faz
homenagem aos quarenta
anos de morte do jornalista
Vladimir Herzog
POR MARIANA SANTINI
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MÚSICA
No sábado, 22 de agosto de 2015,
o grande maestro brasileiro João Carlos Martins regeu, na Sala São Paulo,
um concerto em homenagem aos 40
anos de morte do jornalista Vladimir
Herzog(1937–1975). Herzog foi encontrado morto na cela do DOI-CODI no
período da ditadura militar brasileira e
se transformou num ícone político do
período.
Ivo Herzog, filho do jornalista, prestou
sua homenagem, discursando sobre o orgulho que sente da luta do
pai para acabar com a censura que
prejudicava não apenas o jornalismo,
mas também a propaganda, o teatro, o cinema, a televisão, a música,
e todo e tipo de manifestação artística. Falou também sobre a tristeza que
ainda persiste nos brasileiros por saber
que tantas pessoas foram torturadas e
assassinadas nessa época turbulenta.
O maestro, ainda, fez uso do concerto para clamar a liberdade de expressão e a democracia, tendo como
convidada a eterna musa do teatro e
da televisão Fernanda Montenegro.
A atriz estava envolvida, justamente,
na polêmica causada pelo beijo entre sua personagem e a personagem
da atriz Natália Timberg na novela Babilônia, exibida pela Rede Globo. Ela
leu um texto sobre o tema da noite e
emocionou todos os presentes.
Sempre comovido e intenso,
mostrando o amor que sente pela
música, Martins regeu peças como
o Concerto nº 1 de Meldelssohn e A
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
Lista de Schindler, de John Williams. Foi
Apesar de toda a grandiosidade do
também solista no 2º Movimento do espaço oferecido, a Sala São Paulo
Concerto Imperador de Beethovene tem uma política que oferece apreem Libertango, de Astor Piazzolla, clás- sentações a preços acessíveis para
sicos virtuosamente interpretados pela que a música clássica deixe de ser
orquestra Bachiana Filarmônica Se- meramente de elite, como sempre
si-SP.
foi ao longo
Ademais, recebeu as crida história, e
anças da Fundação Cafu,
passe a ser
uma ONG cuja missão é
incentivar a inclusão social da comunidade
do Jardim Irene, que
cantaram o Hino
Nacional Brasileiro e finalizou a
noite com Trem
das Onze, de Adoniran Barbosa – canção
clássica da cultura paulista.
A Sala São Paulo se encontra dentro do Centro Cultural Júlio Prestes, região central da cidade. Foi construída no local democratizada, popularizada e para
onde antes ficava o pátio ao ar livre que transforme-se em um direito de
de uma estação de trem e muito da todos.
estrutura anterior foi mantido para sua
arquitetura atual. É considerada uma
das dez melhores salas de concerto ao
redor do mundo graças a sua acústica
SALA SÃO PAULO
impecável, concorrendo, por exempENDEREÇO:
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
lo, com a Berlin Philhiarmonie e a Tokyo
01218 020 | SÃO PAULO - SP
Opera City Concert Hall e é também
TELEFONE:
+55 11 3367 9500
a casa oficial da OSESP, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
MÚSICA
:Dois amigos, um século de música
Cantores brasileiros fazem excursão cultural por 11 países e
espalham o legado da MPB pelo mundo
POR RODRIGO SALEM
N
esse ano de 2015, Gilberto Gil
e Caetano Veloso além de completarem 73 anos de vida, completam 50
anos de carreira. E para comemorar
os dois ícones da música brasileira estão realizando uma turnê
juntos, não só no Brasil, mas
também em outros países
da América do Sul, Europa
e Ásia.
Os dois artistas têm
uma grande importância
histórica para a música brasileira, uma vez que foram os principais precursores do movimento que
ficou conhecido no país como Tropicalismo ou Tropicália. Esse movimento
contextualizado no final da década
de 60, quando o Brasil estava sob controle militar, se caracterizou por mesclar manifestações da cultura brasileira com inovações estéticas na música.
As letras das canções eram inovadoras, criando jogos de linguagem, se
aproximando da poesia dos concretistas. As mensagens das letras eram codi-
ficadas, exigiam uma certa bagagem
cultural para que fossem compreendidas. Os artistas do movimento se caracterizavam
pelo
excesso,
roupas coloridas, cabelos compridos
e agregavam várias influências musicais. A intenção era chocar e, por
meio de performances caracterizadas pela violência estética, protestar
contra a música brasileira bem-comportada. Influenciados pela contracultura, se apoderaram da linguagem
da paródia e do deboche. Os tropicalistas transformaram a música popular brasileira, sendo grandes expoen-
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novembro/2015
ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
tes da arte brasileira de vanguarda.
Seu fim chegou com a prisão de Gil
e Caetano por desrespeito à bandeira nacional, e além disso militares alegaram que Caetano teria cantado o
hino nacional inserindo versos ofensivos ás Forças Armadas.
Em 1969 ambos foram exilados
para Londres, e só voltariam definitivamente ao Brasil em 1972.
Um espetáculo desses dois, que
tanto vivenciaram, e moldaram individualmente e ás vezes em parceria
um repertório que sintetiza boa parte
da linha evolutiva da música popular
brasileira, indiscutivelmente emociona muito os espectadores, como se
pode ver nesse pequeno depoimento de um fã: “Eu vivi um sonho no último dia 16, sexta-feira. Posso dizer até
que vivi dois. Você provavelmente
já deve ter sonhado em algum momento da vida ver seus super-heróis
favoritos, certo? Eu vi os meus. Como
resumir esse show em uma palavra?
Histórico.”
A turnê teve início no dia 25 de junho de 2015 em Amsterdã, e se encerrará no dia 14 de novembro em Fortaleza. “O somatório de vivências que
esses gigantes baianos apresentam
no espetáculo Dois Amigos, um Século de Música mostra o quanto eles experimentaram e alargaram as infinitas
possibilidades de juntar música e poesia. ”
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
TEATRO
:Caesar, a peça atemporal
A releitura da peça transmite à plateia uma mistura ambígua
de compreensão e indagação, criando um verdadeiro ruído e
transparecendo um fascínio mais do que plausível.
POR JÚLIA GISMONTE
E
scrita por volta de
1599 d.C, a tragédia
shakespeariana
teve
como palco de fundo
a traição, o sentimento
de incerteza, o desejo
e o poder. Mas, acima
de tudo, a grande guerra civil que se estendeu
por toda a Roma antiga, uma das consequências da morte do
grande ditador Júlio
César, que traído pelos
seus senadores e seu sobrinho, Brutus, foi apunhalado e morto.
Aproveitando-se dos
fatos históricos para inspirar-se, William Shakespeare escreveu assim
sua peça, transmitindo
dessa maneira o seu temor pelo futuro da In-
glaterra que se encontrava em uma situação
perigosa. A corrente governante do país, Rainha
Elizabeth, encontrava-se
em estado terminal. Sem
deixar herdeiros, a mes-
ma recusava-se a indicar um sucessor, fato que
poderia ocasionar uma
guerra civil, como ocorreu em Roma.
A adaptação que recebeu o nome de “Caesar- Como construir um
império” , escrita por Roberto Alvin, estreou em 18
de setembro de 2015 e
suas apresentações se
estenderam até 25 de
outubro. A peça pode ser
associada sem grande
esforço ao período pelo
qual se passou recentemente e que ainda traz
resquícios e fagulhas ferventes. Momento esse no
qual o país se dividia em
apoiadores do governo
vigente e manifestantes
contra o mesmo, de-
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
fendendo o partido adversário e visando uma
mudança de administração do Estado. Em
outro plano encontravam-se os concorrentes
à presidência da republica, que manipulavam
suas palavras e gestos
através da retórica, assim como faziam Brutus e
Marco Antônio. Com o intuito de evidenciar o jogo politico
que nasce a partir da
troca de discursos dos
atores e deixar claras as
suas bases, o diretor resumiu a peça em apenas dois atores (Carmo
Dalla Vecchia e Caco
Ciocler), que interpretam
todos os personagens
dando uma ênfase especial nos quatro principais:
Júlio César, Brutus, Marco
Antônio e Cássio. A diferenciação dos mesmos
é feita através de uma
montagem de corpo impecável e tons vocais,
muito bem trabalhados
e atuados de maneira intensa e apaixonada.
A obra teatral conta, ainda, com a música
vigorosa de tom enérgico criada por Vladimir
Safatle. A composição
chamada pelo diretor
de “Sismografia Pulsante
do Poder” potencializou as palavras e trouxe
à plateia o sentimento
atemporal que a peça
precisava. Os discursos e
a música se encaixaram
sempre
perfeitamente
na trama do ciclo de
poder.
Encenada em um
quadrado 6X6, com teto
de onde surgem dezenas
de esqueletos humanos
e um chão coberto de
moedas, criou-se um
ambiente sinistro e misterioso.
O cenário pretende
refletir a obra que, em
sua essência, pretende
retratar a complexidade
humana, sua vulnerabilidade, instabilidade psicológica e emocional e
acima de tudo sua busca pela soberania, que
se dá através de meios
mortais e corruptos.
SESC SANTO ANDRÉ
ENDEREÇO:
RUA TAMARUTACA, 302
VILA GUIOMAR | SANTO ANDRÉ SP
TELEFONE:
+55 11 4469 1200
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novembro/2015
ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
CINEMA
:“Beasts of No Nation”, o império da Netflix
rumo ao Oscar
O primeiro filme da rede, apesar de ficcional, impressiona pela
realidade, não só das cenas, como do drama vivenciado.
POR PEDRO HYPOLITO
D
urante os últimos anos, o número de serviços ondemand cresceu
consideravelmente. Hoje temos plataformas da HBO, FOX e até mesmo
de canais pagos e abertos brasileiros (vide Globosat Play e Globo Play).
Cards e Orange is The New Black. Vitoriosa em séries e com documentários
aclamados pela critica, a Netflix encara agora um desafio, entrar no terreno de longas-metragens e manter
sua qualidade, algo que não parece
ser muito difícil.
Contudo, a Netflix – responsável pela
onda de “televisão pela internet” –
segue na liderança. Seu catálogo
aumenta a cada dia, assim como a
quantidade de produções próprias
do serviço, como os sucessos House of
Beasts of No Nation acompanha a
história de Agu (Abraham Attah), um
garoto que, após ser separado dos pais
em meio a uma guerra civil, é forçado
a lutar ao lado de mercenários e tornar-se um menino-soldado. A sinopse
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
do filme muito lembra grandes clássicos como Diamante de Sangue, estrelado por Leonardo DiCaprio, e Hotel
Ruanda, mas o longa se diferencia em
um aspecto: acompanhamos a guerra através dos olhos de uma criança.
Inspirado no romance homônimo
do escritor descendentes de nigerianos, Uzodinma Iweala, o filme – dirigido e roteirizado por Cary Fukunaga
– não poupa esforços ao transmitir imagens fortes através da ingenuidade
infantil. Cenas de assassinato, uso de
drogas e até sexo são mostradas sem
pudor graças à liberdade de produção
por um serviço ondemand, e imprimem a estrema realidade vivida nos
países africanos. Beasts of No Nation
é uma história atemporal de perda de
Beasts of No Nation (2015)
Rotten Tomatoes - 7,8/10
IMDb - 7,9/10
Omelete - 4,0/5
doispontos - 4,3/5
inocência, o que nos faz lembrar do
brasileiro Cidade de Deus (2002) – exceto pelo humor do filme dirigido por
Fernando Meireles.
Além de dirigir e roteirizar, Fukunaga assume a direção de fotografia
do longa, e prova novamente sua
competência. Cenas de tirar o folego mostram a capacidade do diretor
atrás das câmeras. Os planos de ação
são bem colocados e contrastam com
cenas da paisagem do local: densas
florestas e vilarejos em condições desumanas. Destaque para um plano-sequência de invasão de um edifício,
sempre priorizando a figura de Agu
como um assassino cruel de apenas
8 anos. Entretanto, algumas poucas
cenas são demoradas e pouco empolgantes em meio ao resto do filme.
O longa conta com atuações
igualmente brilhantes. O estreante
Ahraham Attah (que apesar de ter
14 anos, veste perfeitamente o personagem mais novo) encarna Agu
com intensidade e aptidão, mostrando todo o seu talento. Idris Elba, que
já interpretou Nelson Mandela em
“Mandela – O Caminho para a Liber-
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
doispontos
dade”, é o Comandante. Uma figura sem nome próprio que caminha
por uma inimaginável linha tênue
que divide sua personalidade. Hora
carismático, hora intimidador, o personagem responsável por tornar Agu
em um menino-soldado mostra certa
compaixão pelo garoto, sem deixar a
postura líder de uma milícia de lado;
trabalho bem feito de Elba.
Quando lançado, o filme veiculou em algumas salas de cinema
e, por isso, torna-se possível sua indicação ao Oscar (além de possuir elementos dignos do prêmio, é claro).
Em 2014, outra produção do serviço
(The Square) concorreu – e ganhou
– na categoria Documentário em
Longa-Metragem. Agora, o longa de
ficção mira na categoria de Melhor
Filme. A torcida para que isso aconteça é grande. Beasts of No Nation é
uma história densa e, ao mesmo tempo, comovente. Roteiro bem construído e com personagens fortes, a Netflix
mostrou competência mais uma vez,
agora em um novo formato. O filme
está disponível na própria plataforma
e a doispontos o recomenda fortemente.
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
HOJE NOS CINEMAS
QUE HORAS ELA VOLTA?
um filme de ANNA MUYLAERT
REGINA CAMILA KARINE LOURENÇO
CASÉ
MÁRDILLA
TELLES
MUTARELLI
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
:É uma questão de
escolha. Um dilema.
Em uma parceria que surgiu depois do
convite feito pelo festival dinamarquês de
documentários, o CPH:DOX de Copenhague, as cineastas Lea Glob e a já conhecida, porém jovem, Petra Costa trazem
para seu filme uma questão ainda pouco
discutida pela sociedade.
POR JULIA GISMONTE
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ESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.
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CINEMA
A ideia era simples.
Um filme sobre um dia
na vida de uma mulher,
porém as coisas tomaram um rumo completamente inesperado e o
que era pra ser um dia
se transformou numa
saga de nove meses.
A gestação é o que retrata o filme “Olmo e
a Gaivota”, um documentário que chega
às margens de uma
ficção. Essa mudança aconteceu após a notícia de
que a atriz Olivia Corsini,
que interpretaria a personagem principal do
documentário, estava
grávida. E a ideia surgiu
exatamente daí: trazer,
então, para as telas um
assunto tão pouco abordado, tanto no campo
do cinema quanto da
literatura. Quando feito, contudo, de modo
quase biológico e banal.
O filme mostra a história
de uma atriz que tem
como principais características de sua personalidade a selvageria, a
liberdade e a sua boemia – sendo isso o que
mais presa em sua essência. Apesar disso, após
uma noite de volúpia
e desejo, Olívia encontra-se grávida e tem que
aprender a criar raízes,
passando a viver sob as
necessidades de um indivíduo que nem sequer
existia dias antes.
A atriz, embora pretendesse trabalhar na
peça teatral até às
vésperas do parto, encontra-se em um embate ainda maior quando a gravidez se mostra
de risco, impedindo-a de
subir e descer as escadas do prédio onde vivia. Desde então, Olivia é
dispensada das montagens e não pode participar de uma das maiores
apresentações do grupo,
em Nova York. Diante
dessa grande mudança
de percurso, o aborto
entra em discussão. E assim o filme
se estende, retratando
a alma sensível, intimista e existencial de uma
gestante. Durante todo
o documentário/ficção,
Olivia Corsini mostra-se
uma mulher fascinante e
humana, passando por
períodos de constantes
alterações de humor, incertezas e mudanças no
seu estilo de vida, que
diferem completamente
do que estava acostumada. Ao final do filme
o telespectador se comove com a declaração
da personagem em
relação ao marido. Não
existe uma paixão avassaladora e ardente entre o casal, apenas um
amor, ou apenas um
reconforto na aceitação
da adaptação da vida
em virtude da inesperada prole que invadiu as
suas vidas.
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
A cineasta brasileira acrescenta:
“O corpo é um lugar de política. Existe
um discurso milenar, que se concretiza
com a criação do mito da Nossa Senhora, uma mulher que engravida virgem.
Então é uma gravidez sem sexo, sem
desejo e sem medo. A partir disso, a
gravidez virou sinônimo de santificação
da mulher, mas uma santificação falsa porque não vem com o apoio devido. Trata-se de um dos territórios onde
mais se vê a opressão da mulher e não
existe quase nada no cinema ou na literatura sobre o assunto. Um dos poucos filmes que falam sobre as pressões
sociais que a mulher vive na gravidez é
“O bebê de Rosemary”, que é um filme
de terror. Os homens abandonam seus
filhos constantemente, já a mulher que
abandona o filho é apedrejada pela
sociedade. Como não existem filmes
que falam sobre essas questões? Então esta virou uma causa urgente pra
mim.”
Petra traz à tona no país a questão
do aborto, principalmente após dirigir
o vídeo que recebeu o nome de “Meu
corpo, minhas regras” – maior numero de dislikes na historia do youtube.
O curta conta com participações de
atores consagrados da TV brasileira e
que aceitaram a proposta de trazer a
mensagem que a população já deveria ter captado. A conscientização
do aborto. A reprovação já era esperada, porém o assunto promete
grandes repercussões e debates, na
esperança de trazer o efeito almejado.
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wWWW
:O que é arte?
Walter Benjamin questiona a mercantilização
da arte e um paralelo é traçado com o
polêmico artista Romero Britto em uma
enquete sobre sua credibilidade.
POR CAROLINA MAIA E PEDRO HYPOLITO
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OPINIÃO
Em seu ensaio primordial, “A obra de arte
na era da sua reprodutibilidade técnica”, Walter Benjamin discorre sobre como o surgimento
da lógica da produção
em massa causou uma
deterioração da “aura”
das obras de arte. A partir da possibilidade de
reprodução mecânica,
o objeto artístico perdeu sua “unicidade”,
“singularidade” e “autenticidade”. Ainda, seu
valor de culto foi drasticamente
alterado.
Neste cenário houve
espaço para o valor de
exposição, baseado na
distribuição de cópias
e no lucro advindo das
mesmas.
Logo, é possível traçar
um paralelo entre o modus operandi do sistema
capitalista e a noção de
“arte” vigente na sociedade. A arte pode ser
classificada como uma
atividade humana vin-
culada a manifestações
de ordem estética, realizada por artistas a partir
de percepção, emoções
e ideias. Além do mais,
visa estimular interesse
de consciência em um
ou mais espectadores e
cada obra de arte possui um significado único
e diferente.
Partindo desse pressuposto, é possível dissociar, do
valor artístico intrínseco
a determinada criação,
a figura do artista? É
aceitável designar como
arte uma imagem repro-
duzida
tecnicamente,
isto é, sem o contato direto do humano em seu
desenvolvimento? Seria
necessário focar-se no
conceito de arte partindo da perspectiva do receptor (e sua reação às
obras) de maneira a refutar tais questionamentos, visto que o elemento
emissor seria desindividualizado.
Dentro dessa perspectiva cabe a inquirição: o conceito
de arte sofreu transformações no imaginário social diante das novas capacidades reprodutivas?
Ou, ainda, manteve-se
restrito como forma de
diferenciar itens dotados de carga simbólica
de simples mercadorias
cambiáveis?
Cabe então, baseando-se no já exposto,
analisar um afamado
nome do cenário artístico
brasileiro atual: Romero
Britto. O artista pernam-
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doispontosESCLARECENDO MENTES. DISSEMINANDO CULTURA.novembro/2015
bucano, que desde 1988
mora em Miami, iniciou
sua carreira aos 18 anos
e rapidamente conseguiu prestígio internacional, sendo nomeado,
no ano de 2005, embaixador das artes do Estado
da Flórida. Seu estilo simples, baseado em cores
fortes e brilhantes, diferentes texturas e traços
pretos bem delineados,
conquistou diversas celebridades como Madonna, Michael Jackson,
Bill Clinton e o casal real
inglês. O artista possui
diversas obras públicas
(pinturas e esculturas) espalhadas pelo mundo,
em aeroportos, praças e
outros estabelecimentos
– e é altamente requisitado por diversas marcas
como Pepsi, Disney, Absolut e Microsoft, que incorporam seus desenhos
a seus produtos.
Entretanto, a notoriedade de suas composições é questionada
por diversos críticos, uma
vez que apresentam uma
estética “fácil” e repetitiva. Ainda, a ausência
de profundidade critica
e de valor de culto são
recriminadas. O ponto
central, no entanto, é o
caráter comercial que
suas criações possuem,
já que são reproduzidas em larga escala e
com um único objetivo:
a venda. É exatamente
isso que Walter Benjamin
indaga em seu ensaio
ao fazer referência a
deterioração da “aura”
da obra de arte e ao
indicar a consolidação
do valor de exposição
como status quo.
Em uma análise
mais concreta, tem-se
números resultantes de
uma enquete realizada
na cidade de São Paulo
cujo mote gira em torno
dos apontamentos aqui
apresentados: Romero
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Britto pode ser considerado arte? Dentre os entrevistados, apenas 39%
reconheceram
valor
artístico no seu trabalho.
Um dos relatos é de um
estudante de cinema
de 18 anos: “Acredito
que Romero Britto criou
um outro tipo de arte, a
arte comercial, que se
distancia da arte plástica e visual. Na minha
visão, apesar de ser
uma coisa vendável,
continua sendo arte.”.
Contudo, a maioria dos
entrevistados concorda
com os críticos, Romero
Britto não é um artista e
suas criações não possuem as características
necessárias para atingir o patamar de representações verdadeiramente artísticas. Não
transmitem
emoções
catárticas ou impõem
reflexões significativas.
A demanda faz-se
apropriada uma vez
que o artista de 51 anos
se tornou um exemplo
nacional de mercantilização da arte. Hoje em
dia existem os mais di-
versos tipos de materiais
estampados com suas
pinturas, desde canecas
até peças de vestuário.
É possível que essa reprodutibilidade tenha exaurido, de fato, a originalidade de suas criações?
Estaríamos diante de um
patamar de mudança
de paradigmas do que é
arte?
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COLABORAÇÃO DOS LEITORES
POR BRUNA ELISEU
POR BRUNA ELISEU
Eu acredito
POR ANA CLÁUDIA MIDORI
O mundo está corrompido,
Estamos deteriorando o planeta.
Guerras e mais guerras.
Bombas matam inocentes.
A violência anda pelas ruas.
Até quando vamos achar
tudo isso normal?
Por que o homem só busca o poder?
Será que a decadência é inevitável?
É preciso dar um basta
Chega!
Eu levanto a bandeira branca.
Vamos parar e pensar.
Existe uma saída.
Uma luz no fim do túnel.
Basta mudar o homem,
valorizar o que cada um
tem dentro de si.
Encontrar a felicidade
na ajuda ao próximo.
O caminho é esse,
ainda há esperança.
Pseudônimo: PAZ
POR GABRIEL SORAGGI
POR LAURA DELIZA
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Quinta-feira; 23:01
O céu de São Paulo acende e apaga repetitivamente
com raios azucrinantes. Ou trovões. Seja lá qual dos dois
for a luz. É nessas horas que a saudade do Ceará aumenta, detesto esse clima inconstante.
E eu sento sozinha, frente ao computador, tentando
escrever qualquer coisa decente. Acho que falhei. No
meio disso tudo, percebo, pela quadragésima vez na semana, que prefiro pontos a vírgulas.
Meu guarda-roupa está sempre uma bagunça. Adoro ir
ao teatro. Aprender francês é mais difícil do que pensei
e eu sou bem mais preguiçosa do que devia. Ainda preciso jantar. Preciso é de férias.
De repente, um grito corta o silêncio da noite e também
a minha reflexão sem sentido. E tudo que escuto é
“Vai Corinthians”
POR BIANCA DANTAS
POR PAULA LOPES
POR FERNANDA FONTES
POR BEATRIZ MARTINI
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QUEM SOMOS
CAIO FONSECA
Piadista, nerd, intelectual e boêmio. Amante da mitologia grega, e super fã da série de livros de Rick Riordan. Além de ser um conhecedor nato sobre toda
a saga “Dragon Ball”. Se deleita de tardes sempre
bem acompanhadas em bares, teatros, cinemas ou
até interessantes exposiçoes. Um legítimo jogador de
video game, viciado em jogos da saga “God of War”.
Faz de sua vida uma eterna coleção de risadas.
CAROLINA MAIA
Paulista de nascimento, pernambucana de
coração. Aprendiz de tudo nessa vida, gosta de
rock and roll, pizza e gente interessante. Aspirante
a escritora e filósofa de fim de semana. Entusiasta
de mudança e escrava da indecisão. Gosta de rir
até doer a barriga e de abraços que deixam ser
ar. Foge de rótulos e de classificações, só se aceita
como é.
ISABELI PATRÃO
Distraída e tranquila, traz alegria a toda roda de conversa. É animada e está sempre pronta para curtir uma festinha, mas também adora debater sobre
assuntos variados e discutir filosofia. É a partir dessas
contradições e dessa intensidade que Isabeli é caracterizada.
JÚLIA GISMONTE
Interiorana, apaixonada por literatura e séries, participa constantemente de várias oficinas artísticas e
apresentações teatrais, sendo o seu gênero predileto a farsa, que aborda o mundo simples de uma
maneira lúdica. Com um olhar crítico e dramático,
transmite a sua visão de mundo para seus desenhos
e textos.
MARIANA SANTINI
Durante os preparativos para o Natal, veio ao mundo aquela que tem gana por conhecimento e experiências novas. Aquela que, muitas vezes, é durona
demais consigo mesma e que é apaixonada por desenhos animados, cinema, Machado de Assis, música
clássica e tudo que envolve arte.
PEDRO HYPOLITO
Nascido em São Paulo, cidade que trocaria apenas
por Nova York. Espera sempre, ansiosamente, por
dias frios e chuvosos. Aspirante a crítico de televisão
e cinema, não dispensa um restaurante japonês
ou assistir a um episódio de Friends. Idas ao teatro
e à exposições também não são negadas. Gosta
de um bom livro sobre distopia e de refletir sobre o
mundo quando ele chega ao fim.
RODRIGO SALEM
Espera ter marcado o mundo antes de morrer. Grande
viajante no pensamento. Seus principais interesses: música, teatro e cinema. Nunca ficou dentro da
caixa nem vai ficar. É considerado por muitos um cara
engraçado. Vou parar de escrever se não vou deixar vocês cansados. Esse sou eu, ou melhor, Rodrigo
Salem. Esqueci que estava em terceira pessoa. Mas
tudo bem, quem gostou eu sei que me perdoa.
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EDITORIAL
A revista “doispontos” nasceu pensando na elite intelectual brasileira. Com
matérias densas, trará uma grande variedade de temas e novidades do mundo da arte: música, cinema, teatro e entretenimento em geral. O nome remete
ao sinal gráfico dois pontos e está associado à ideia de esclarecimento. Dessa
forma, “doispontos” é uma revista educativa, difundindo cultura.
A revista pretende ser um canal de comunicação artística, mas também, uma
maneira didática de transmitir conhecimento aos leitores. Optou-se por um
visual mais clean, contendo apenas as cores preta, cinza, amarela e branca.
A tipografia segue o mesmo modelo, letras finas e geométricas para transmitir
seriedade.
A matéria de capa desta edição refere-se à exposição de Salvador Dalí em
Paris. Nela contaremos, nos mínimos detalhes, tudo sobre esse grande artista.
Além disso, temos uma importante discussão sobre “O que é arte?” - resgatando conceitos do filósofo, sociólogo e crítico literário Walter Benjamin sobre a
reprodutibilidade técnica - e uma matéria sobre a Sala São Paulo.
Venha, leitor, desfrutar de nossos artigos, tornando-se um indivíduo com amplo
repertório e conhecimento de mundo.
Atenciosamente,
Equipe doispontos.
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