tcc_-_priscila_lima

Propaganda
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
RESIDÊNCIA MÉDICA EM TOCOGINECOLOGIA
PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA SÍFILIS EM MULHERES
GRÁVIDAS E NÃO GRÁVIDAS ATENDIDAS EM 22 MESES EM HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
Aluna: Priscila Carneiro Moreira Lima
Orientador: Prof. Dra. Rose Luce Gomes do Amaral
Campinas, fevereiro de 2017
1
Prevalência e fatores de risco para sífilis em mulheres grávidas e não grávidas
atendidas em 22 meses em hospital universitário
Priscila Carneiro Moreira Lima1; Paulo César Giraldo2; Jose Marcos Sanches3;
Natalie Rios Almeida4; Rose Luce Gomes do Amaral5
1
Médica Residente do Programa de Tocoginecologia, Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (DTG/FCM/UNICAMP)
2
Médico Docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (DTG/FCM/UNICAMP)
3
Bacharel em Biologia. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP)
4
Médica Residente do Programa de Mastologia, Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (DTG/FCM/UNICAMP)
Médica Doutora Contratada PAEPE do Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” – Centro de Atenção
Integral à Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas (CAISM/UNICAMP)
5
UNICAMP
2017
2
SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................................................... 4
SIGLAS E ABREVIAÇÕES......................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO. ................................................................................................................................6
MÉTODOS .......................................................................................................................................7
RESULTADOS ................................................................................................................................9
DISCUSSÃO .................................................................................................................................. 12
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 17
ANEXOS ........................................................................................................................................ 21
3
RESUMO
Introdução: Estima-se que 1,8 milhões de gestantes no mundo estão infectadas por
sífilis e menos de 10% dessas está diagnosticada e tratada.
No Brasil,
aproximadamente 30 mil casos por ano, estão relacionados a desigualdades sociais e
oportunidades perdidas de diagnóstico e prevenção, com crescimento progressivo a
cada ano. Considerando a importância da detecção rápida dessa doença, esse estudo
poderá contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias para o controle de sífilis
em população especifica. Métodos: Esse estudo retrospectivo caso- controle incluiu
170 pacientes (34 casos e 136 controles), em que a positividade e VDRL e TPHA
definiu caso. Foi baseado na análise de prontuários médicos de mulheres admitidas no
Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti”, Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), pareadas por idade no período de 22 meses. A análise
estatística utilizou os testes qui-quadrado e exato de Fisher. Obtiveram-se medidas de
risco (odds ratio) com intervalo de confiança de 95%. Para as variáveis quantitativas
obtiveram-se medidas descritivas e para verificar diferença significativa entre os valores
médios, usou-se teste de Mann-Whitney. Resultados: De todas as pacientes que
coletaram VDRL nesse período, a prevalência de sífilis foi de 1,04%, nas mulheres com
sífilis idade média foi 27,5 anos, 58,8% das mulheres eram brancas, 52,9% com ensino
fundamental e paridade de 3,24 (OR 6,77). Dos controles, 70,6% eram brancas, 45,6%
com ensino médio e paridade de 2,27. Em mulheres com sífilis a média de parceiros
sexuais foi igual a 7, a coitarca foi aos 15,3 anos, 29,5% eram usuárias de drogas,
(p=0,0001), e 35,3% tinham antecedente de DSTs. Os controles tiveram em média 2,6
parceiros sexuais, coitarca aos 17,1 anos, 11,1% eram usuários de drogas e 7,4% com
história prévia de DSTs. Os casos tiveram 6,2 consultas de pré-natal (p=0.0664).
Metade dos parceiros não foram tratados e houve um óbito neonatal. Dos 34 casos de
sífilis, apenas 5 obtiveram cura após seguimento adequado. Conclusões: A
prevalência de sífilis foi associada a mulheres multíparas, usuárias de drogas, e
presença de outras DSTs simultâneas. Vulnerabilidade sócio-demográfica e dificuldade
diagnóstica parecem influenciar na doença.
Palavras chaves: Sífilis Congênita, Treponema pallidum, Fatores de Risco
4
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
SC – Sífilis Congênita
VDRL – Veneral Diseases Research Laboratory
OMS – Organização Mundial da Saúde
MS – Ministério da Saúde
CAISM – Centro de Atenção Integral a Saúde da Mulher
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
TPHA – Treponema pallidum hemagglutination
RN – Recém-nascido
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis
SINAM – Sistema de Informação de Agravos de Notificação
5
Introdução
Sífilis é uma infecção bacteriana de caráter sistêmico, curável e transmitida
predominantemente por via sexual e vertical. A maioria das pessoas com sífilis
não sabe estar infectada devido à ausência ou escassez de sintomatologia e à
multiplicidade de formas nas quais se manifesta ao estágio da infecção. Quando
não tratada ou tratada inadequadamente, pode evoluir para formas mais graves,
acometendo sistema nervoso e cardiovascular e em gestantes, ser transmitida
para o feto (1).
Embora medidas preventivas, tratamento eficazes e de baixo custo estejam
disponíveis, a sífilis continua sendo problema de saúde mundial, com 12 milhões
de novos infectados a cada ano (5). Desfechos perinatais adversos são frequentes
em gestantes com sífilis não tratada, como mortes perinatais, parto prematuro,
baixo peso ao nascer e infecção neonatal grave (2). A transmissão vertical de
sífilis leva a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais por ano no mundo (3).
Estima-se que 1,8 milhões de gestantes no mundo estão infectadas por sífilis e
que menos de 10% dessas, está diagnosticada e tratada (4). A prevalência
mundial de sífilis congênita (SC) varia de 0,11 a 8,4% (5).
No Brasil, o número de casos notificados de sífilis na gestação tem
aumentado a cada ano (6). Apesar da SC ter notificação compulsória desde 1986,
sendo nas gestantes desde 2006 e na forma adquirida desde 2011, o número de
casos existentes indica que o agravo persiste e desafia serviços de saúde (7). Em
2013 foram notificados 21.382 casos, com taxa de detecção de 7,4 casos por
1.000 nascidos vivos (1). Alguns estudos mostram uma prevalência de SC no
Brasil de 1%, com cerca de 30 mil casos por ano (8,9).
O rastreamento para sífilis na gestação, utilizando a detecção de anticorpos
não treponêmicos no sangue da paciente (VDRL - Veneral Diseases Research
Laboratory), é uma das estratégias mais importantes usadas pela Organização
6
Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS) para eliminação da SC (5,
10). Sífilis na gestação tem sido relacionada a desigualdades regionais e sociais, e
oportunidades perdidas de diagnóstico e prevenção (9-11). Na ausência de
tratamento, a transmissão vertical é alta, valores próximos a 100% em formas
recentes da doença (12). Se diagnóstico e tratamento são oportunos, tem alta
eficácia e reduzem a transmissão vertical em 97% (13,14). Planos para
desenvolvimento de vacina contra doenças sexualmente transmissíveis, incluindo
sífilis vem sendo estudados (15).
Considerando o grande número de casos, a dificuldade do ginecologista
geral para o correto diagnóstico sorológico, e as entraves o atendimento do prénatal, esse trabalho buscou identificar no serviço a prevalência de sífilis e infecção
neonatal, além de descrever os principais fatores de risco para sífilis nas pacientes
atendidas no período do estudo.
Métodos
O estudo retrospectivo avaliou 170 prontuários de mulheres admitidas no
Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Centro de Atenção Integral a
Saúde
da mulher -CAISM da Universidade Estadual de Campinas), no período
de janeiro de 2011 a outubro de 2012 (22 meses). Foi realizado estudo casocontrole com 34 casos pareados por idade com 136 controles. O estudo foi
aprovado no Comitê de Ética em pesquisa médica do Hospital.
As mulheres incluídas no estudo foram definidas como caso (sífilis), após
identificação no banco de dados do laboratório CAISM/ UNICAMP, por VDRL ≥ 1/1
e TPHA positivo. O cut-off foi definido após verificar que todos os casos de sífilis
eram mulheres que se encontravam no período gravídico-puerperal. Cada
paciente foi pareada com quatro pacientes com VDRL e TPHA negativos, da
7
mesma faixa etária. Foram excluídos do estudo prontuários que tivessem menos
de 60% das variáveis analisadas.
Foi utilizada uma ficha elaborada especialmente para esta pesquisa
contendo perguntas sobre variáveis dependentes (ter sífilis e não ter sífilis) e
variáveis independentes como idade, etnia, escolaridade, paridade, número de
consultas de pré- natal, número de parceiros sexuais, idade de inicio de atividade
sexual, uso de drogas e tabagismo, antecedentes de doenças sexualmente
transmissíveis, idade gestacional, dados do parto, titulação do VDRL, tratamento
do parceiro, sorologia do recém-nascido (RN) de mãe afetada, desfecho da
doença materna e fetal.
Foi realizada a coleta dos dados a partir dos prontuários, com
preenchimento e revisão das fichas, verificação da legibilidade, codificação das
variáveis, codificação das fichas ao serem digitadas, e após realizada a limpeza
dos dados.
O banco de dados foi estruturado utilizando-se um banco de dados do
programa Excel for Windows ®. A análise estatística foi realizada através da
avaliação de associações pelos testes qui-quadrado e exato de Fisher. Obtiveramse medidas de risco (odds ratio) com intervalo de confiança de 95%. Para as
variáveis quantitativas obtiveram-se medidas descritivas e para verificar diferença
significativa entre os valores médios, usou-se teste de Mann-Whitney.
8
Fluxograma do estudo
Fonte: Núcleo de Estatística CAISM Unicamp - Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti.
*Prontuários com mais de 60% de informações inapropriadas.
Resultados
Observou-se 72 mulheres com VDRL positivo das quais 38 foram
considerados falso positivos (TPHA negativo) e 37 verdadeiros positivos. A
prevalência de sífilis na população estudada foi de 1,04% (total de 3.539 pacientes
que coletaram VDRL, e 37 positivos no período estudado). Infelizmente 3 casos
foram excluídos por oferecerem menos de 60% das variáveis solicitadas, portanto
o número total de casos foi igual a 34.
A idade média das pacientes foi de 27,5 anos. O perfil das pacientes com
sífilis era de mulheres brancas (n=20/34), com instrução fundamental (n=18/34) e
estavam na 3,24 gestação. Já os controles eram constituídos de mulheres brancas
(n=96/136), com instrução no fundamental (n=54/136) e ensino médio (n=62/136)
e estavam na 2, 27 gestação.
9
Nas mulheres com sífilis a média de parceiros sexuais foi igual a 7, porém
11,7% relataram apenas 1 parceiro sexual e 8% declararam 10 parceiros sexuais.
(Tabela 1). Não foi possível checar a informação de número de parceiros sexuais
na maioria dos casos (n=20).
Tabela 1. Número de parcerias sexuais das mulheres com e sem sífilis
2 ou mais
Único
Caso
10 (71, 4%)
4 (28,6%)
Controle
15 (53,5%)
13 (46,5%)
1,23
Total
25
17
100
p
Fisher's Exact Test
Fonte: Célula de Estatística CAISM Unicamp - Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
A média de idade de início de atividade sexual foi 15,3 anos, sendo a paciente
mais jovem com 12 anos, em 16 casos esse dado não era conhecido. Em relação
as DSTs, 64% dos casos (n=22) não apresentava antecedentes de DSTs no
momento do diagnóstico. Porém, foi vista a presença de DST atual em 5 casos
(herpes, trichomoníase, HIV e HPV), dois quais 2 eram HIV (Tabela 2). As
mulheres controles apresentavam média de 2,6 parceiros sexuais e 17,1 anos ao
início de atividade sexual. Além disso, 7,4% e 3,7% apresentavam história de DST
no passado ou atual respectivamente.
Tabela 2. Presença de outras DST concomitantes
Caso
Controle
Sim
5 (15,1%)
5 (3,6%)
Não
28 (84,9%)
131(96,4%)
0,0257
Total
33
136
100
p
Fisher's Exact Test
Fonte: Célula de Estatística CAISM Unicamp - Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
Das mulheres com sífilis 29,5% declaravam usar drogas (crack n=5/34,
cocaína n=1/34, maconha n=2/34, maconha/crack=2/34) e 38,2% (n=13/34) eram
tabagistas. As mulheres controles declaravam usar drogas em 11, 1%. Em relação
10
aos casos, 58,8% haviam feito tratamento anterior para sífilis e nos controles
nenhuma delas.
As pacientes com sífilis tinham média de 6,2 consultas no PN, e os
controles 7,6 (p=0,0664). Os RN dos casos e controles tinham média de 2,844kg e
2,879kg respectivamente. A maioria dos casos e controles (85,29%) esteve
internada nas enfermarias de Patologia Obstétrica e Alojamento Conjunto, e
apenas 14,71%, na enfermaria da Ginecologia.
As pacientes com sífilis tiveram os seguintes desfechos obstétricos: parto
vaginal (n=16/34), cesárea (n=11/34), aborto (n= 5/34) e duas pacientes com
desfecho ignorado por perda de seguimento pré-natal no serviço (Tabela 3).
Dentre os controles, os resultados foram: parto vaginal (n=55/136), cesárea
(n=59/136), aborto (m=9/136) e 13 pacientes eram não gestantes (Tabela 4).
Tabela 3. Número de Partos a termo, Partos pré termo, Abortos, Ignorados em mulheres com
Sífilis em 22 meses no CAISM
Número
%
Partos a termo
22
64,7
Partos pré-termo
5
14,7
Abortos
5
14,7
Ignorados
2
5,9
Total
34
100
Fisher's Exact Test
Fonte: Célula de Estatística CAISM Unicamp - Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
Tabela 4. Número de Partos a termo, Partos pré termo, Abortos, Ignorados em mulheres sem
Sífilis em 22 meses no CAISM
Número
%
Parto a termo
79
58,1
Partos pré-termo
35
25,7
Abortos
9
6,7
Ignorados
1
0,7
Não gestante
12
8,8
11
Total (controles)
136
100
Fisher's Exact Test
Fonte: Célula de Estatística CAISM Unicamp - Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
Parceiros tratados eram n=16/34 (47%), 24 dos RN das mulheres com sífilis
foram tratados, 3 não foram tratados, pois um RN apresentou o exame de VDRL
negativo com mãe adequadamente tratada, e 2 casos evoluíram para óbito
perinatal (um RN com VDRL de 1/512 e VDRL da mãe 1/8 e o outro com não
realizado), 5 abortos e 2 mães perderam seguimento antes do nascimento dos
RN, impossibilitando saber sobre o tratamento desses. Grávidas com sífilis eram
multíparas (58,33%-OR 6,77) e em 62,5% usavam algum tipo de droga (p=
0,0001). Além disso, dos 34 casos, 19 mulheres já haviam sido diagnosticadas e
tratadas como sífilis. Um caso (2,9%) foi definido como cicatriz sorológica. Chama
atenção que das 34 mulheres com diagnóstico inicial de sífilis, apenas 5 (14%)
obtiveram seguimento correto e cura.
Discussão
Nesse estudo, a prevalência de sífilis foi de 1,04%, muito
parecido em
relação ao encontrado em gestantes por Domingues et al (9), que foi de 1,2%. Em
Codes et al, a prevalência de mulheres em escola secundária foi de 0,8% em
2009, porém o mesmo autor achou 3,2% em mulheres moradoras de favela (15).
As diferentes prevalências encontradas aparentemente se relacionam ao tipo de
estudo e marcadores sóciodemográficos de cada região, assim como o tipo de
população. Alessandro et al estimou a prevalência de sífilis em parturientes no
Brasil no período de janeiro de 2010 a dezembro de 2011 atendidas em sistema
público de saúde em 0,89% (16). Contudo esse valor pode estar subestimado por
não incluir pacientes da rede privada, partos domiciliares e admitidas por aborto.
Foram identificados como fatores de risco importante para a sífilis a
presença de outras DSTs concomitantes, ser multípara e ser usuária de drogas.
Estudo realizado em 2014 encontrou maior prevalência de sífilis entre gestantes
12
com nível de escolaridade menor, negras e sem pré-natal (9). Outro estudo
encontrou uma prevalência de sífilis em gestantes de 7,7%, porém considerou
apenas VDRL para diagnóstico, o que pode ter superestimado o resultado
encontrado. Também mostrou associação com uso de drogas ilícitas, semelhante
ao encontrado no neste trabalho (17). Alguns estudos também mostram essa
relação com uso de drogas, falta de pré-natal e sintomas de DSTs (18,91).
Angélica et al encontrou baixa escolaridade, mais de um parceiro sexual na vida e
história prévia de DSTs associados à sífilis (20).
Parece que as condições sociodemográficas, assim como o uso regular e
sustentado de drogas ilícitas mantem a prevalência alta em qualquer tipo de
população estudada, sendo fator de risco claro para manutenção da sífilis na
população.
Foi possível observar que 100% das pacientes internadas no CAISM com
diagnóstico de abortamento e trabalho de parto tiveram solicitação de sorologia
para sífilis. Também percebemos prevalência de sífilis congênita (SC) significante
e taxa de sorologia alterada nos recém-nascidos de mães não tratadas ou tratadas
incorretamente.
Apesar de existirem várias oportunidades para registro de número de
parcerias sexuais e coitarca em prontuário médico, houve um grande número de
falta de informações referente a essas variáveis. O fato de 55,8% dos casos já
terem tido sífilis anteriormente chama a atenção para a dificuldade aparente no
correto tratamento e principalmente seguimento dessa doença.
Foi visto que 47% dos parceiros sexuais das mulheres com sífilis foram
tratados. A OMS considera razoável mais de 80% dos parceiros tratados (21). O
número de parceiros tratados identificados pelo Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) em 2011, foi de 11,5% (7). Portanto, apesar de
menor do que o recomendado pela OMS, o percentual de tratamento de parceiros
13
foi superior à média nacional notificada. O tratamento do parceiro é importante
para prevenir a reinfecção durante a gestação e uma oportunidade de prevenir
novos casos na população geral. Além disso, o trabalho de Cerda et al diz que o
objetivo de eliminar a SC só será atingido quando estratégias forem adotadas para
diminuir a prevalência de sífilis entre gestantes (22).
A média do início de atividade sexual foi 15,3 anos das pacientes com
sífilis. O início de atividade sexual no Brasil ocorre antes, aos 14,7 anos (20, 2325). O início precoce de atividade sexual pode favorecer exposição a DSTs, sendo
necessário melhorar o acesso aos recursos de saúde à população mais jovem
considerada mais vulnerável (23).
A OMS tem como meta a eliminação de SC definida como ocorrências de
0,5 ou menos casos de SC para cada mil nascidos vivos, sendo essa meta
adotada pelo MS. A prevalência de SC no Brasil foi de 4 e no estado de São Paulo
3,1 para cada mil nascidos vivos em 2012 (26). A estimada nesse estudo foi de
5,5 para cada mil nascidos vivos, portanto superior à meta. Importante lembrar
que o MS considera como caso de sífilis congênita mesmo desfechos negativos
(aborto e/ou natimorto). Tal prevalência pode ser resultado do fato de o hospital
ser uma referência para gestação de alto risco, sendo encaminhados casos mais
complexos.
Das pacientes estudadas com sífilis, 54,5% realizaram 6 ou mais consultas
de pré-natal, percentagem menor que a encontrada por Alessandro et al que foi de
68,8% (17). O MS recomenda pelo menos 6 consultas de pré-natal, portanto
ambos os estudos indicam ainda assistência pré-natal insatisfatória, o que pode
de alguma maneira impactar de maneira negativa no diagnóstico e tratamento
corretos da SC durante o pré-natal. Porém, não houve diferenças entre o número
de consultas de pré-natal entre as mulheres casos e as controles, fazendo supor
que mais importante que o número absoluto de consultas de pré-natal, é a
14
qualidade nas consultas (checar exames, tratamento adequado, fazer controle de
cura, educação e saúde etc.).
A maioria dos casos de mulheres com sífilis apresentavam sorologias com
títulos de VDRL altos e médios, não deixando dúvidas quanto ao diagnóstico. O
que
parece
evidenciar
que
talvez
a
dificuldade
diagnóstica
seja
por
desconhecimento do novo fluxograma do MS ou, mais ainda por falta de busca
ativa dos resultados de exames solicitados durante a consulta pré-natal nas
unidades de saúde básica.
Os números referentes à sífilis vêm mantendo-se em elevação ao longo dos
anos, apesar dos conhecimentos atuais oferecerem subsídios para erradicação da
doença. Portanto, faz-se necessário a identificação das características e fatores
de risco da população atendida em cada serviço, para formular estratégias de
controle de sífilis, seguindo protocolos personalizados, a fim de diminuir sua
incidência, tratar corretamente as doenças correlatas, e controlar sua propagação.
Conclusão
Sífilis é uma doença sexualmente transmissível de fácil diagnóstico e
tratamento, porém características sóciodemográficas dificultam sua correta
abordagem. Mulheres atendidas em hospital escola de Campinas tem sífilis
associada a outras DSTs simultâneas, multiparidade, e uso de drogas ilícitas.
Desigualdades sociais e de acesso à saúde assim como baixa cobertura de
tratamento aos parceiros parecem contribuir para persistência de sífilis na
população.
15
PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA SÍFILIS EM MULHERES
GRÁVIDAS E NÃO GRÁVIDAS ATENDIDAS EM 22 MESES EM HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
Contribuições:
Estimar prevalência de sífilis na população estudada;
Conhecer o perfil das mulheres internadas nas enfermeiras;
Mostrar a necessidade de ciência dos protocolos de assistência em sífilis.
Limitações:
Número pequeno de casos;
Notações em prontuários inadequadas;
Estudo descritivo.
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo
clínico e diretrizes terapêuticas para prevenção da transmissão vertical de HIV,
sífilis e hepatites virais. Brasília, 2015.
2- Gabriela GB, Kamb ML, Newman LM, Mark J, Broutet N. Untreated maternal
syphilis and adverse outcomes of pregnancy: a systematic review and metaanalysis. Bulletin of the World Health Organization. 2013; 91:217- 26.
3- Newman L, Kamb M, Hawkes S, Gomez G, Say L, Seuc A. Global estimates of
syphilis in pregnancy and associated adverse outcomes: analysis of multinational
antenatal
surveillance
data.
PLOS
Med.
2013;
10(2):
e1001396.
doi:
10.1371/journal.pmed.1001396.
4- Klausner JD. The sound of silence: missing the opportunity to save lives at birth.
Bulletin of the World Health Organ. 2013; 91(3):158- 158A.
5- World Health Organization. The Global elimination of congenital syphilis: rationale
and strategy for action. Geneva, 2007.
6- Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Transmissão
vertical do HIV e sífilis: estratégias para redução e eliminação. Brasília, 2014.
7- Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim
Epidemiológico Sífilis. Ano I, n.1. Brasília, 2012.
17
8- Szwarcwald CL, Barbosa Junior A, Miranda AE, Paz LC. Resultados do Estudo
Sentinela-Parturiente, 2006: desafios para o controle da sífilis congênita no Brasil.
DST J Bras Doenças Sex Transm. 2007; 19:128-33.
9- Domingues RM, Szwarcwald CL, Souza Junior PR, Leal MC. Prevalence of
syphilis in pregnancy and prenatal syphilis testing in Brazil: birth in Brazil study.
Rev Saúde Pública. 2014; 48:766-74.
10- Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Protocolo para a
prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis: manual de bolso. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Série B: Textos Básicos de Saúde. Brasília, 2007.
11- Saraceni, V. Sífilis Congênita. In: Passos MRL. Deessetologia, DST 5. Rio de
Janeiro: Cultura Médica, 2005. p. 215-33.
12- Berman SM. Maternal syphilis: pathophysiology and treatment. Bulletin of the
World Health Organ. 2004; 82:433-8.
13- Blencowe H, Cousens S, Kamb M, Berman S, Lawn JE. Lives saved tool
supplement detection and treatment of syphilis in pregnancy to reduce syphilis
related stillbirths and neonatal mortality. BMC Public Health. 2011; 11 (Suppl
3):S9.
14- Gottlieb SL, Deal CD, Giersing B, Rees H, Bolan G, Johnston C, Timms P, GrayOwen SD, Jerse AE, Cameron CE, Moorthy VS, Kiarie J, Broutet N. The global
roadmap for advancing development of vaccines against sexually transmitted
infections: Update and next steps. Vaccine. 2016; 34: 2939–2947.
18
15- Codes JS,
Cohen DA,
Melo
NA.
Detecção
de
doenças sexualmente
transmissíveis em ambientes clínicos e não clínicos na cidade de Salvador, Bahia,
Brasil. Caderno de Saúde Pública. 2006: S1, v.2, n.2: p325-34.
16- Cunha ARC, Merchan-Hamann E. Sífilis em parturientes no Brasil: prevalência e
fatores associados, 2010 a 2011. Rev Panam Salud Publica. 2015; 38(6):479–86.
17- Araújo MAL, Freitas SCR, Moura HJ, Gondim APS, Silva RM. Prevalence and
factors associated with syphilis in parturient women in Northeast, Brazil. 2013;
13:206.
18- Msuya SE, Uriyo J, Hussain A. Prevalence of sexually transmitted infections
among pregnant women with known HIV status in Northern Tanzania. Reprod
Health. 2009; 6:8.
19- Romoren M, Rahman M. Syphilis screening in the antenatal care: a crosssectional
study from Botswana. BMC Int Health Hum Right. 2006; 6:5.
20- Miranda AE, Figueiredo NC, Pinto VM, Kimberly P, Sinésio T. Risk factors for
syphilis in young women attending a family health program in Vitória, Brazil. An
Bras Dermatol. 2012; 87(1):76–83.
21- World Health Organization. Investment case for eliminating mother-to-child
transmission of syphilis: promoting better maternal and child health and stronger
health systems. Geneva, 2012.
22- Cerda R, Perez F, Luz PM, Grinsztejn B, Veloso VG, Freedberg KA. Prenatal
syphilis and HIV transmission in Latin American and the Caribbean: achieving PanAmerican Health Organization elimination goals. 4th International Workshop on
HIV Pediatrics. Washington, July 2012.
19
23- Doreto DT, Vieira EM: Knowledge on sexually transmitted diseases among lowincome adolescentes in Ribeirão Preto, São Paulo State, Brazil. Cad. Saúde
Publica. 2007; 23:2516–22.
24- Guimarães EA, Witter GP: Adolescent pregnancy: knowledge and prevention
between youngsters. Bol Acad Paul Psicol. 2007; 27:167–180.
25- Paiva V, Calazans G, Venturi G, Dias R, Grupo de Estudos em População,
Sexualidade e Aids: Age and condom use at first sexual intercourse of Brazilian
adolescentes. Rev Saude Publica. 2008; 42 (Supl 1).
26- Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim
Epidemiológico Sífilis Ano IV, n.1. Brasília, 2015.
20
ANEXOS
ANEXO 1 – FICHA DE COLETA DE DADOS
INICIAIS: ____HC: ________________________
IDADE: ____ ANOS COR: ( ) BRANCA ( ) NÃO BRANCA
NÍVEL DE ESCOLARIDADE: ( ) FUNDAMENTAL ( ) MÉDIO ( ) SUPERIOR
ORIGEM: ( ) OBSTETRICIA PATOLOGICA ( ) GINECO ( ) ALOJ. CONJUNTO
PARIDADE G_P_C_A_NM_P1T_P2T_PPT_OF_
GESTANTE ATUAL: ( ) SIM ( ) NÃO
NUMERO PARCEIROS SEXUAIS:
COITARCA:
OUTRAS DSTS: ( ) PRÉVIAS ( ) ATUAIS
VDRL PACIENTE:
TPHA PACIENTE:
GESTANTE: ( )SIM ( )NÃO
IDADE GESTACIONAL AO DIAGNÓSTICO:
TRATAMENTO PARA SIFILIS ATUAL:( )SIM ( )NÃO. QUAL DROGA E QUANTAS DOSES
DESFECHO SIFILIS: ( )CURA ( )INFECÇÃO ( )PERDA DE SEGUIMENTO
TABAGISMO: ( ) SIM ( ) NÃO
DROGAS: CRACK/MACONHA/COCAINA
DADOS DO PARTO: A TERMO( ) PREMATURO ( ) ABORTO PRECOCE ( ) ABORTO
TARDIO ( ) ÓBITO FETAL ( )
NÚMERO DE CONSULTAS PRÉ-NATAL:
DADOS DO RECÉM-NASCIDO - PESO______; APGAR _______
TRIAGEM POSITIVA NEONATAL (VDRL, RAIOX DE OSSOS LONGOS, LIQUOR,
HEMOGRAMA): ( ) SIM ( ) NÃO
LESÕES ( ) NÃO ( ) SIM. SE SIM, QUAIS?_______________
TRATAMENTO ( ) NÃO ( )SIM. SE SIM, QUAL?____________
TRATAMENTO PARCEIRO: ( )SIM ( )NÃO
SEGUIMENTO AMBULATORIAL PACIENTE: ( ) SIM ( )NÃO
COMORBIDADES:
21
ANEXO 2
CARTA AO CÔMITE DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP)
Ao Comitê de Ética em Pesquisa
Em conformidade com a Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012
(CONEP/CNS), venho por meio desta solicitar a dispensa do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, uma vez que este será um estudo
retrospectivo
de
levantamento
de
prontuários
e
não
envolverá
manipulação de fármacos, tecidos vivos e derivados hemoterápicos, e
nem haverá envolvimento com as mulheres.
Atenciosamente,
Priscila Carneiro Moreira Lima
22
23
Download