mapeamento geológico de detalhe do pegmatito alto do feio, região

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IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
MAPEAMENTO GEOLÓGICO DE DETALHE DO PEGMATITO ALTO DO FEIO,
REGIÃO DE PEDRA LAVRADA, SERIDÓ PARAIBANO
Vandriele Alves Genuíno¹, Lauro Cesar Montefalco de Lira Santos², Fabrício Fernandes Vieira³
1
Estudante de graduação, UFCG
2
3
Professor, UFCG
Estudante de pós-graduação, UFCG
[email protected]
RESUMO
O pegmatito Alto do Feio ocorre nas adjacências do município de Pedra Lavrada (Paraíba), com
uma forma alongada na direção NE-SW. Regionalmente, esta rocha pertence a Província
Pegmatítica da Borborema, ocorrendo na porção sul do Domínio Rio Grande do Norte da Província
da Borborema. Estudos de campo e mapeamento geológico de detalhe (1:2.500) revelaram que
este pegmatito encontra-se encaixado em xistos e paragnaisses deformados ductilmente da
Formação Seridó. Seções geológicas esquemáticas transversais a direção principal do corpo
indicou que o pegmatito é claramente zonado, tendo sua distribuição mineral bem definida em
três regiões principais da borda para o centro: i) zona de borda (composto por feldspato e em
menores concentrações turmalina, apatita, granada e mica), ii) zona de margem de núcleo
(apresentando cristais de quartzo e feldspato formando textura gráfica e concentrações de apatita
e granada) e iii) núcleo homogêneo (composto principalmente de quartzo). Este corpo é ainda
cortado por diversas fraturas de atitude vertical à sub-vertical, as quais são responsáveis por
injeções de veios de quartzo. A presença de zonas de borda e um núcleo homogêneo de quartzo,
permitiu classificar o pegmatito Alto do Feio como heterogêneo. Apesar da crescente exploração
de quartzo e feldspatos nesta região, este pegmatito é portador de outros minerais
economicamente importantes, tais como micas (principalmente moscovita), turmalinas e granada.
PALAVRAS-CHAVE: Pegmatitos, Província Pegmatítica da Borborema, Pegmatito Alto do Feio, NE
do Brasil.
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ABSTRACT
The pegmatite Alto do Feio occurs in the vicinity of Pedra Lavrada city (Paraíba), with an elongated
form towards NE-SW direction. Regionally, this rock belongs to the Borborema Pegmatite
Province, occurring in the south portion of the Rio Grande do Norte Domain. Field studies and
detailed geological mapping (1:2500) revealed that this pegmatite is hosted in ductile deformed
schists and paragneiss from Seridó Formation. Transverse schematic geological sections to the
principal strike of the body indicated that the pegmatite is clearly zoned, having its mineral
distribution well defined in three main regions from the border to the center: i) border zone
(composed by feldspar and, in a minor concentration, tourmaline, apatite, garnet and mica), ii)
core margin zone (presenting quartz crystals and feldspar forming a graphic texture and
concentrations of apatite and garnet) and iii) homogeneous core (composed mainly by quartz).
This body is also cut by many fractures with vertical to sub-vertical attitude that are responsible
for injections of quartz veins. The presence of border zones and a homogeneous quartz core
allowed categorize Alto do Feio Pegmatite as heterogenic. Despite the increasingly quartz and
feldspar exploration in this region, this pegmatite hosts other economically important minerals,
such as micas (mainly muscovite), tourmalines and garnet.
KEYWORDS: Pegmatites, Borborema Pegmatite Province, pegmatite Alto do Feio, NE Brazil.
1.
INTRODUÇÃO
A área de estudo localiza-se nas proximidades do município de Pedra Lavrada (Paraíba). Ela
encontra-se a uma distância de 232 Km da capital João Pessoa. Este município encontra-se na
região centro-norte do Estado da Paraíba, mais precisamente na mesorregião da Borborema e na
microrregião do Seridó Oriental deste estado.
A região de Pedra Lavrada e adjacências concentram um grande número de corpos
pegmatíticos que são potencialmente mineralizados em diversas espécies minerais, com destaque
para: feldspato, quartzo, granito gráfico, também conhecido como prego, tantalitas, berilos, micas
(muscovita e biotita) e gemas (Vasconcelos, 2006). Como exemplo, destacam-se os pegmatitos do
Manoel Paulo, Tanquinho, Pendanga, Sino, Serra Branca e Alto do Feio (foco da presente
pesquisa), os quais são explorados desde da década de 1930.
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2.
OBJETIVOS
Realizar uma pesquisa mineral de superfície no pegmatito Alto do Feio para melhor
conhecer seus controles geológicos e perspectivas econômicas, tendo em vista a importância dos
pegmatitos do ponto de vista geológico e econômico, e poucos são os trabalhos existentes sobre
essas rochas na região de Pedra Lavrada, que tratam de forma integrada da estratigrafia e dos
diversos minerais-gemas que nela ocorrem.
3.
DESENVOLVIMENTO
3.1 Pegmatitos
Os pegmatitos são rochas ígneas formadas através da cristalização de magmas graníticos
residuais enriquecidos em fundentes (Johnston 1945; Jahns, 1955). Comumente, possuem textura
holocristalina, além de inequigranulares e faneríticas. Sua principal característica textural é a
granulação grossa evidenciada por cristais de escala centimétrica a métrica, resultado de um lento
esfriamento magmático.
Johnston (1945) classificou os pegmatitos do ponto de vista de distribuição mineral. Este
autor agrupa pegmatitos graníticos em dois tipos principais: a) Homogêneos e b) Heterogêneos.
Pegmatitos homogêneos apresentam como minerais essenciais quartzo, feldspato e mica
distribuídos regularmente ao longo da rocha, possuem formas tabulares com granulometria dos
minerais variando de centímetro a decímetro e raramente são cristaliados. Esses são normalmente
extraídos em forma de blocos para fins de rochas ornamentais. Por outro lado, pegmatitos
heterogêneos possuem minerais em formas lenticulares, arredondados ou em forma de disco
achatado dispostos de maneira irregular formando estruturas em zonas. São caracterizados por
uma maior variedade mineralógica.
Existem ainda os pegmatitos mistos, que apresentam características intermediárias com
respeito aos homogêneos e heterogêneos. É feição distintiva deste tipo de pegmatitos bolsões de
quartzo ao longo de todo o corpo mineralizado. Esses, assim como os pegmatitos heterogêneos,
são as principais fontes de quartzo, feldspato e micas para aplicação na indústria, em função de
sua ocorrência zonada, caracterizada por grandes bolsões enriquecidos em quartzo e feldspato.
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3.2 Província Pegmatítica da Borborema
Essa Província foi originalmente denominada de Província Pegmatítica da Borborema por
Scorza (1944) para designar a principal área de ocorrência de pegmatitos mineralizados no
Nordeste do Brasil, situada entre os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte.
Os pegmatitos da PPB estão concentrados em uma área com cerca de 75km x 150Km, na
parte este-sudeste da faixa Seridó (FS), Subprovincia Rio Grande do Norte da Província Borborema,
compreendendo partes dos Estados da Paraíba e Rio grande do Norte, Nordeste do Brasil. O
empilhamento estratigráfico nesta área, da base para o topo, consiste das Formações Jucurutu,
Equador e Seridó, do Grupo Seridó de idade neoproterozoica (Van Schmus et al. 2003).
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O pegmatito Alto do Feio ocorre nas adjacências do município de Pedra Lavrada, com uma
forma alongada na direção NE-SW, sendo encaixado em rochas da Faixa de dobramentos Seridó,
interpretadas como rochas encaixantes do pegmatito (Figura 1).
Figura 1 - Imagem aérea da região em estudo. (a) Pegmatito Alto do Feio nas proximidades de Pedra
Lavrada, (b) Foco em Alto do Feio. (c) Pegmatito e rochas encaixantes.
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Durante o presente trabalho, foi realizado mapeamento geológico, em uma escala de
detalhe (escala 1:2.500). O mapa geológico confeccionado da área de trabalho pode ser observado
na figura 2. Localmente, o pegmatito alto do feio ocorre associado a rochas encaixantes da Faixa
de dobramentos Seridó. Ambos possuem um trend estrutural de direção NE-SW.
Fraturas de direção N-S, NE-SW e NW-SE também foram observadas no campo e são
interpretadas no presente trabalho como estruturas posteriores, uma vez que cortam tanto
rochas encaixantes, quanto o pegmatito (Figura 2).
Figura 2 - Mapa geológico de detalhe do pegmatito Alto do Feio e rochas encaixantes.
Análise dos afloramentos relacionados ao pegmatito Alto do Feio e rochas encaixantes,
demonstrou a presença de importante controle estrutural dessas rochas, onde abrange estruturas
de caráter dúctil, que ocorrem principalmente nos xistos encaixantes e nas porções mais externas
do pegmatito Alto do Feio. E falhas e fraturas locais, correspondendo a um regime rúptil,
ocorrendo principalmente na zona de borda e margem de núcleo do pegmatito (figura 3).
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Figura 3 - Mapa estrutural do pegmatito Alto do Feio e adjacências e seção geológica esquemática A-B
(NW-SE).
4.1 Rochas Encaixantes
Na área de estudo ocorrem rochas metassedimentares da Formação Seridó do Grupo
homônimo. Essas rochas apresentam textura lepidoblástica com lamelas de biotita que
acompanham as principais direções da foliação regional (Figuras 4(a) e (b)).
As ocorrências observadas no campo correspondem a micaxistos feldspáticos, podendo
ocorrer como biotita Xistos ou granada-biotita Xistos com a presença de aluminossilicatos (não
identificados em amostra de mão). Por outro lado, outras litologias como calcissilicáticas,
paragnaisses e rochas metavulcânicas não foram observadas na área de estudo. É comum nos
pontos visitados a presença de cristais de micas (principalmente biotitas) que sofreram
microdobramento, o que contribuem para a formação da textura xistosa, podendo ocorrer como
crenulação. Essas rochas afloram em toda a borda do pegmatito Alto do Feio, sendo interpretada
no presente trabalho como sua porção encaixante.
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Figura 4 (a) e (b) - Aspectos de campo da rocha encaixante (biotita-xisto) do pegmatito Alto do Feio.
4.2 Pegmatito Alto do Feio
Com base na presente pesquisa, foi identificado que esse corpo pegmatítico encontra-se
claramente encaixado em xistos da Faixa de dobramentos Seridó. Foi definido no presente
trabalho a nível de afloramento três zonas minerais principais: i) Zona de borda, ii) zona marginal
de núcleo e iii) Núcleo o que possibilita a sua classificação como pegmatito heterogêneo.

Zona de borda – Caracterizada pela granulação grossa e cristais bem desenvolvidos
variando da escala centimétrica à métrica, caracterizando textura pegmatítica. A mineralogia
presente nesta zona é constituída por feldspato, com predominância de plagioclásio e em
menores concentrações turmalina, apatita, granada, muscovita e feldspato potássico (figura 5).
Figura 5 - Zona de borda com presença de feldspato, turmalina, apatita, granada, muscovita.
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
Núcleo de quartzo – Localizado na parte central do corpo pegmatítico, é constituído
por uma massa sólida de quartzo com variações da cor róseo para o leitoso. É perceptível a
predominância de quartzo róseo no centro e quartzo leitoso ocupando a porção mais externa. Em
menor escala é também observável a presença de cristais disseminados plagioclásio, cristais
pirolusita com hábito dendrítico (típico de minérios de Mn), variedade clavelandita de
plageoclásio, representando uma fase mais sódica (figura 6) e geodos com sílica amorfa nas
bordas.
Figura 6 - Núcleo de quartzo, clavelandita.

Zona de margem do núcleo – Essa região foi definida como uma região intermediária
de contato entre o núcleo e a borda do pegmatito. A feição marcante principal dessa região é a
presença de uma granulação média, caracterizada pela ocorrência textura gráfica visível a olho
desarmado. Essa textura é evidenciada pela ocorrência de cristais de quartzo e feldspato com
hábitos "vermiformes" (figura 7). Nesta região, concentra-se cristais de apatita e granada. Caulim
ocorre localmente como resultado da alteração intempérica do feldspato. Adicionalmente, em
regiões onde a rocha ocorre fraturada, ocorrem cristais de silexito (sílica amorfa).
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Figura 7 - Margem do núcleo, textura gráfica.
Por fim, foi identificada uma lente de granitoide de coloração escura. Trata-se de uma rocha
com textura média, predominantemente fanerítica e inequigranular. Essas feições indicam um
lento resfriamento do magma envolvido, típico de rochas graníticas.
Macroscopicamente, sua mineralogia é composta por quartzo, feldspato potássico
(ortoclásio), plagioclásio, biotita, anfibólio (hornblenda) e diminutos cristais de muscovita. Como
possui apenas 10% de minerais máficos, essa rocha foi classificada como leucocrática. Análise
modal macroscópica em amostras coletadas no campo revelou que sua composição petrográfica é
quartzo-monzonítica (Figura 8).
Figura 8 - Granitoide de composição quartzo-monzonítica que ocorre como lente em pegmatito alto do
feio.
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5.
CONCLUSÕES
O presente estudo permite algumas conclusões quanto a geologia, mineralogia, gênese e
potencialidades do pegmatito alto do feio, localizado no município de pedra lavrada. Estas são:

Inserido geologicamente na faixa de dobramentos Seridó, este pegmatito apresenta
forma alongada na direção principal NE-SW, sendo encaixado em biotita-xistos e granada-biotitaxistos;

O corpo possui minerais dispostos de maneira irregular formando estruturas
fortemente zonadas, apresentando variações sistemática na textura, além de ser afetados por
fraturas locais de direções diversas;

Apresenta zona de borda, margem do núcleo e núcleo de quartzo, além de uma lente
de granitoide de coloração escura classificada de composição quartzo-monzonítica;

Em função da sua distribuição mineral e suas relações regionais, levando em
consideração os modelos clássicos para pegmatitos, conclui-se que o pegmatito Alto do Feio
corresponde a um pegmatito heterogêneo;
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JAHNS, R. H., 1955. The study of pegmatites. In: Economic Geology, 50th. Anniversary. v.2, p.10251130.
JOHNSTON, W.D.Jr., 1945. Beryl-tantalite pegmatites of Northeastern Brazil. Geol. Soc. Amer. Bul.
56, 1015-1070.
SCORZA, E.P., 1944. Província Pegmatítica da Borborema. DNPM/DGM (Boletim 112). Rio de
Janeiro, 55pp.
VAN SCHMUS, W. R.; BRITO NEVES, B. B.; WILLIAMS, I. S.; HACKSPACHER, P. C.; FETTER, A. H.;
DANTAS, E. L.; BABINSKI, M., 2003. The Serido Group of NE Brazil, a late Neoproterozoic pré- to
syn-collisional basin in West Gondwana: insights from SHRIMP U-Pb detrital zircon ages and SmNd crustal residence (TDM) ages. Precambrian Research, 127:287-327.
VASCONCELOS, S. A., 2006. O uso do território do município de Pedra Lvrada-PB pela mineração.
Programa de pós-graduação, curso de mestrado e doutorado em geografia. UFPE.
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