Governos locais e mudanças climáticas: desafios e oportunidades em energias renováveis e eficiência energética para Porto Alegre–RS e Betim–MG. 1. Tema - GT11: Mudança Climática e as Cidades Os recentes relatórios de avaliações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007) estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Metereológica Mundial (WMO) expressaram relativo consenso sobre o aquecimento global ao concluir que há de 90 a 99% de probabilidades de que as mudanças climáticas resultam das atividades humanas combinadas a variações naturais do sistema climático global. Considerando que mais da metade da população mundial vive em cidades, e a previsão é que até 2030, dois terços da humanidade viverão em áreas urbanas, entende-se que o tema tem uma dimensão local importante já que muitas das atividades humanas que contribuem para essas mudanças, em geral, acontecem no nível local (WILBANKS & KATES, 1999). As cidades, especialmente as de rápido crescimento em países em desenvolvimento, são vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas (HOGAN & MARANDOLA, 2009). Nessas circunstâncias, os governos locais desempenham um papel fundamental no sentido de elaborar e implementar políticas públicas de mitigação e adaptação em resposta a essas alterações (FERREIRA, 1999). Um número cada vez maior de governos locais tem aderido às redes nacionais e transnacionais, como a rede ‘CCP - Cidades pela Proteção do Clima’, do ICLEI - Governos Locais pela Sustentabilidade; as cidades C-40, um grupo que inclui as maiores cidades do mundo comprometidas com o enfrentamento das mudanças climáticas; a rede ‘Aquecimento Global – Aquecimento Local’, criada pelas cidades britânicas e coordenada por cidades européias; a iniciativa ‘AMICA’ da Aliança pelo Clima de Cidades Européias, entre outras. Esses esforços envolvem mais de mil governos locais no mundo todo (BETSILL & BULKELEY, 2007) com objetivo de apoiar e estimular os governos locais a adotarem políticas de enfrentamento às mudanças climáticas. Atualmente as políticas locais de energias renováveis constituem um segmento diversificado e em constante crescimento no cenário de políticas energéticas, no qual centenas de cidades e governos locais no mundo têm adotado metas, políticas de incentivo, planejamento urbano, dentre outras práticas direcionadas às energias mais sustentáveis. 2. Objetivos e/ou Hipóteses Os governos locais possuem um papel central na promoção de energias sustentáveis. Eles têm à sua disposição uma variedade de ferramentas administrativas, regulatórias e financiadoras. Além disso, a participação dos governos locais em redes comprometidas com o enfrentamento das mudanças climáticas e a criação de programas-modelo municipais para promoção de energias sustentáveis constitui um caminho possível para o desenvolvimento de ações efetivas e políticas nessa direção. Nesse cenário, este artigo tem como objetivo explorar os desafios e as oportunidades em energias renováveis e eficiência energética, agregando subsídios para o desenvolvimento de projetos e políticas mitigatórias para os municípios de Porto Alegre (RS) e Betim (MG), integrantes da Rede CCP do ICLEI. 3. Metodologia e informações utilizadas Para atingir os objetivos deste estudo, além da pesquisa bibliográfica e documental sobre o tema de energias renováveis (ER) e eficiência energética (EE) nos municípios em estudo, foram realizadas entrevistas estruturadas em janeiro de 2010, com: • Representantes do poder público: Caixa Econômica Federal; Câmara Municipal de Vereadores; Centro de Referência em Energias Sustentáveis (CRER) de Porto Alegre e Betim; órgãos municipais responsáveis por Habitação, Limpeza Urbana, Inovação, Meio Ambiente, Obras, Planejamento, Transportes. • Representantes do setor privado: empresas concessionárias de energia (CEEE e CEMIG); Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia; Federação das Indústrias; Sindicato da Indústria da Construção Civil; e empresas locais. • Representantes da sociedade civil organizada: Cidades Solares; IDEAAS, Núcleo Amigos da Terra. • Representantes da Academia: PUC – Pontifícia Universidade Católica do RS e MG; UFRGS – Universidade Federal do RS. 4. Parte dos Resultados Ao integrarem a Rede CCP do ICLEI, Porto Alegre e Betim foram selecionadas para se tornarem “comunidades-modelo” em energias sustentáveis no Brasil. Em decorrência disso, em ambas as cidades se estabeleceu um Centro de Referência em Energia Sustentável (CRER). O Centro conta com um Grupo Consultivo, formado por atores relevantes ao tema provenientes de diferentes segmentos da sociedade. A falta de políticas públicas foi apontada como o maior empecilho para a expansão das ER e da EE, pelos atores entrevistados. Em ambas as cidades, foram verificadas algumas ações isoladas em ER e EE, de caráter voluntário, e na maioria das vezes desconhecidas internamente por outros órgãos da administração pública e por outros segmentos. Por exemplo, alguns órgãos da Prefeitura de Porto Alegre, como a Secretaria de Saúde e o Departamento de Água e Esgoto possuem ações em EE que não são articuladas entre si e com os demais órgãos. Ambos os governos locais estão dando andamento à realização do seu inventário de gases de efeito estufa e à aprovação de leis sobre o uso de energia solar em novas edificações, com apoio do CRER. 5. Conclusões ou conclusões parciais, reflexões sobre os resultados, propostas ao debate A participação dos municípios na rede de Cidades pela Proteção do Clima do ICLEI tem estimulado a implementação de medidas de mitigação nessas localidades, com foco em energias sustentáveis. Os CRERs possuem um papel fundamental para os municípios, no sentido de contribuir para a promoção de ações em políticas públicas de energias sustentáveis. Os Centros passam por um momento favorável, com a participação de diversos atores provenientes dos diferentes segmentos da sociedade através do seu Grupo Consultivo. O Grupo tem grande importância ao se configurar como um espaço de intercâmbio de informações e experiências entre esses atores. Além disso, a atuação do CRER junto à Concessionária de Energia é decisiva para direcionar as ações nos municípios. 6. Principais referências bibliográficas (máximo 5) • BETSILL, Michele M. & BULKELEY, Harriet. Looking Back and Thinking Ahead: A Decade of Cities and Climate Change Research. Local Governments, 12:5, 447-456, 2007. • FERREIRA, Leila C. Local Policies and Global Environmental Change. In: HOGAN, D., TOLMASQUIM, M. Human Dimensions of Global Environmental Change. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2001. • HOGAN, Daniel J. & MARANDOLA, E. (org) População e mudança climática. Dimensões humanas das mudanças ambientais globais. NEPO/ Unicamp. Brasília: UNFPA, 2009. • IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Summary for Policymakers. In: Climate Change 2007: Mitigation. Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [B. Metz, O.R. Davidson, P.R. Bosch, R. Dave, L.A. Meyer (eds)], Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA, 2007. • WILBANKS, Thomas J. & KATES, Robert W. Global Change in Local Places: How Scale Matters. Climatic Change 43:601-628, 1999.