REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 71 - nº 3 - Maio/Junho 2012 MAI/JUN 2012 ANÚNCIO VARILUX VOLUME 71 NÚMERO 3 P. 143-208 100 95 75 25 RBO 5 0 DESDE 1942 CAPA REVISTA-MAIO-JUNHO-2012 segunda-feira, 23 de julho de 2012 13:28:25 143 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Arlindo Jose Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Co-editores Abelardo de Souza Couto Jr.- Rio de Janeiro- RJ Abrahão da Rocha Lucena - Fortaleza - CE José Beniz Neto - Goiania - GO Leonardo Akaishi - Brasília - DF Marcelo Netto - São Paulo - SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro - RJ Newton Kara-José Jr. - São Paulo SP Corpo Editorial Internacional Baruch D. 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Duarte - Rio de Janeiro - RJ André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Acácio Muralha Neto - Niterói - RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Ari de Souza Pena- Niteroi- RJ Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia- Natal- RN Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Ramos de Souza Dias- Sao Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belem- PA Eduardo Cunha de Souza- Sao Paulo- SP Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Evandro Lucena Jr. - Rio de Janeiro - RJ Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa- Recife- PE Francisco Grupenmacher- Curitiba- PR Francisco Valter da Justa Freitas- Fortaleza- CE Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helder Alves da Costa Filho - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 71, n. 3, p. 143-208, Mai./Jun. 2012 Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Itamar Soares - Rio de Janeiro - RJ Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira- Florianopolis- SC João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Joaquim Marinho de Queiroz- Belém- PA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Ricardo Carvalho L. Rehder- Sáo Paulo- SP Juliana Bohn Alves - Rio de Janeiro - RJ Laurentino Biccas Neto- Vitoria- ES Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Luiz Claudio Santos de Souza Lima - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Luis Occhiutto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niteroi- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirao Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mario Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Miguel Angelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Newton Kara José - São Paulo - SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fo.- Rio de Janeiro- RJ Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Fadel - Curitiba - PR Paulo Schor - São Paulo - SP Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr.- São Paulo- SP Renata Rezende - Rio de Janeiro - RJ Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niteroi- RJ Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rubens Camargo Siqueira- S.J do Rio Preto- SP Sebastiao Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sergio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Sergio Kwitko - Porto Alegre - RS Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- São Paulo - SP Suzana Matayoshi - São Paulo - SP Tadeu Cvintal- Sao Paulo - SP Tiago Bisol - Rio de Janeiro - RJ Virgilio Augusto M. 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Luciene Barbosa de Souza Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ezequiel Portella Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Dr. Lhano Fernandes Adorno Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Jânio Carneiro Gonçalves Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Mansur Elias Ticly Júnior Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Flávio Rezende Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Armando Crema Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Ricardo Morschbacher Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Norma Allemann Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Romero Henrique Carvalho Bertrand Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dr. Jorge Luiz Santos Gomes Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. Edmar Guedes Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Raimundo Emanuel Menezes Maciel Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. João Pessoa de Souza Filho Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade de Oftalmologia do Sul de Minas Presidente: Dr. Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Saulo Zanone Lemos Neiva Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Dennis Marcelo de Souza Ramos Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. Fábio Braga Soares Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Bruno Campelo 145 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 71, n. 3, p. 143-208, Mai./Jun. 2012 Sumário - Contents Editorial 147 Simulador cirúrgico e realidade virtual no ensino de cirurgia de catarata Flavio Rezende, Renata Attanasio de Rezende Bisol, Tiago Bisol, Flavio Attanasio de Rezende Artigos originais 149 Microscopic analysis of opacification in Ioflex® hydrophilic acrylic intraocular lenses Análise microscópica da opacificação de lentes intraoculares acrílicas hidrofílicas Ioflex® Bruna Vieira Ventura, Marcelo Ventura, Wagner Lira, Camila Vieira Ventura, Marcony Rodrigues Santhiago, Liliana Werner 155 Tratamento da úlcera escleral pós-cirurgia de pterígio e betaterapia por enxerto de esclera autóloga de espessura parcial Partial thickness autologus scleral graft for treating scleral ulcers following pterygium excision and betatherapy Eurípedes da Mota Moura, Marcos Volpini, Guilherme Afonso Garcia Moura 160 Eficácia da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% no tratamento do glaucoma primário de ângulo aberto e na hipertensão ocular Efficacy of fixed combination of timolol 10% and Brinzolamide 1%for primary open angle glaucoma and ocular hypertension Juliana Almodin, Carlos Buhler Junior, Flavia Almodin, Tadeu Cvintal 164 Hipermetropia após ceratotomia radial: flutuação da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde e correlações com a pressão ocular e o estado biomecânico da córnea Hyperopia after radial keratotomy: fluctuation of refraction and visual acuity from morning to evening and correlations with intraocular pressure and corneal biomechanics Renato Ambrósio Jr; Renata Siqueira da Silva; Karla Lopes; Bruno Valbon; Allan Luz; Guillermo Coca Velarde 146 173 Características e deficiências dos programas de pós-graduação em oftalmologia no Brasil segundo pós-graduandos participantes Caracteristics and deficiencies of ophthalmology residency programs in Brazil: residents evaluation Camila Vieira Oliveira Carvalho Ventura, Mirela Luna Santana Gomes, Bruna Vieira Oliveira Carvalho Ventura, Liana Oliveira Ventura, Carlos Teixeira Brandt 180 Periocular basal cell carcinoma: cost of topical immunotherapy versus estimated cost of surgical treatment Carcinoma basocelular periocular: custo da imunoterapia tópica versus custo estimado do tratamento cirúrgico Erick Marcet Santiago de Macedo, Rachel Camargo Carneiro, Pedro Carlos Carricondo, Suzana Matayoshi Relato de Caso 184 Diplopia após injeção de toxina botulínica tipo A para rejuvenescimento facial Diplopia after injection of botulinic toxin type A for facial rejuvenation Márcia Melo de Oliveira Rassi, Lucas Henrique Barbosa dos Santos 188 Síndrome de Down: epidemiologia e alterações oftalmológicas Down syndrome: epidemiology and ophthalmologic changes Silvia Helena Tavares Lorena 191 Atrofia de íris após tratamento estético facial com luz intensa pulsada Iris atrophy after aesthetic treatment with intense pulsed light Ângelo Ferreira Passos, Daniele Fioroti Borges Artigo de Revisão 194 Importance of genetic polymorphisms in the response to age-related macular degeneration treatment Importância dos polimorfismos genéticos na resposta terapêutica da degeneração macular relacionada à idade Carlos Eduardo dos Reis Veloso, Luciana Negrão Frota de Almeida, Luiz Armando De Marco, Raul Nunes Galvarro Vianna, Márcio Bittar Nehemy 199 Tracoma: ainda uma importante causa de cegueira “Trachoma: still being an important blinding disease” Silvana Artioli Schellini, Roberta Lilian Fernandes de Sousa Comentário sobre livro oftalmológico 205 GASS’ ATLAS OF MACULAR DISEASES, 2 - Volume Set (Expert consultation online and in print) Instruções aos autores 206 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 147 Simulador cirúrgico e realidade virtual no ensino de cirurgia de catarata A realidade virtual é o uso de diversas tecnologias digitais para criar a ilusão de uma realidade que não existe de verdade, fazendo a pessoa mergulhar em mundos criados por um computador. Ela começou a se desenvolver em áreas diversas a partir dos anos 70. Dentre as suas primeiras aplicações, destacam-se os simuladores de voo, instrumentos fundamentais no treinamento de futuros pilotos. Ainda hoje, muitos acreditam que a realidade virtual só tem aplicação no entretenimento, em jogos eletrônicos e parques de diversão. Na verdade, ela tem aplicações práticas importantes e vem se expandindo em diferentes áreas como educação, com ensino à distância, indústria, no treinamento de pessoas para atividades de risco, e, principalmente, na Medicina, onde já é utilizada em tratamentos de transtorno do pânico e outras fobias, em teleconferências e, mais recentemente, no aprimoramento e desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas. A realidade virtual tem potencial de aplicação em qualquer circunstância na qual ensaios repetidos são necessários para aquisição de habilidades. Na oftalmologia, o uso de simulador com realidade virtual para ensino de cirurgias intraoculares já é REAL. Na última edição da Revista Brasileira de Oftalmologiafoi publicado o artigo de revisão “Oftalmologia e realidade virtual”(1), que abordou aspectos importantes da realidade virtual e suas diversas aplicações na área médica, e gostaríamos de acrescentar como o uso de simuladores tem sido utilizado no ensino de cirurgia intraocular em diversos centros de referência de ensino do mundo, tendo recentemente chegado ao Brasil. Dentre os simuladores mais conhecidos estão: Eyesi, produzido por VRmagic, Alemanha, e PhacoVision, produzido por Melerit, Suécia, além de outros protótipos que estão em desenvolvimento por centros de pesquisa, como, por exemplo, “Computerbased training system for cataract surgery”, em pesquisa no Instituto Nacional de Investigación en Informática y Automática de Francia (INRIA) e departamento de Oftalmologia da Universidade de Lille, França. O simulador Eyesi, por exemplo, é utilizado em mais de 50 instituições de ensino na América do Norte e Europa para treinamento de seus residentes em cirurgia de catarata por facoemulsificação, previamente ao início das atividades cirúrgicas em pacientes e olhos reais. Os resultados deste treinamento já estão na literatura, demonstrando, por exemplo, a redução de tempo e potência de faco nas cirurgias realizadas por residentes que realizaram o treinamento, uma curva de aprendizado da técnica cirúrgica mais acelerada e menos complicações(2). O aparelho consiste de um sistema com microscópio binocular montado em mesa com cabeça e olho artificiais acoplados a computador, pedal do microscópio e do facoemulsificador, reproduzindo muito fielmente o equipamento cirúrgico. A elasticidade e resistência dos tecidos intraoculares na realidade virtual (córnea, íris, cápsula, núcleo, córtex) têm semelhança de comportamento com os tecidos reais sufuciente para possibilitar o desenvolvimento e aprimoramento das habilidades necessárias à realização da cirurgia “in vivo”. O equipamento possui critérios de avaliação do desempenho do aluno com feedback imediato e sequência de exercícios com graus de dificuldade crescentes. Desde 2003 há artigos na literatura científica descrevendo o seu uso no treinamento e desenvolvimento de técnicas de vitrectomia via pars plana e de cirurgia de catarata(3-6). Sua aplicação como método de ensino para facoemulsificação inclui as etapas de capsulorrexe, hidrodissecção e delineação, emulsificação do núcleo e aspiração do córtex e já foi documentado e validado(7-11). O treinamento prático com simuladores cirúrgicos (que vem sendo denominado “Dry-lab”, em oposição ao tradicional “Wet-lab”, onde são utilizados olhos de animais para o treinamento ex- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 147-8 148 Rezende F, Bisol RAR, Tiago Bisol T, Rezende FA perimental) já é realidade no Brasil. O simulador Eyesi foi utilizado pela primeira vez no Brasil, com seu módulo de retina, no “Curso Avançado de Retina”, realizado no Rio de Janeiro, em outubro de 2011, pelo Curso de Pós-Graduação em Oftalmologia da Escola Médica da PUC-RJ, sob Coordenação do dr. Flávio Attanasio de Rezende, Professor associado da PUC-RJ e Universidade de Montreal, Canadá, onde o equipamento já é utilizado como rotina para treinamento de seus residentes. Em abril de 2012, o equipamento começou a ser utilizado no Rio de Janeiro, no “Curso de treinamento prático em cirurgia de catarata com simulador cirúrgico Eyesi”, sob coordenação do dr. Flávio Rezende, Professor Instituto Nacional de Investigación en Informática y Automática de Francia (INRIA) e Titular de Pós-Graduação em Oftalmologia da PUC-RJ. Alguém, hoje, entregaria um avião ou sua vida a um piloto que se inicia na arte de conduzir pelos ares pela primeira vez sem que tenha antes realizado horas e horas de treinamento em um simulador? Da mesma forma acreditamos, como profissionais envolvidos na formação de médicos oftalmologistas, que o uso dos simuladores cirúrgicos inicia uma nova era na educação médica e no treinamento dos residentes, poupando pacientes das mãos inexperientes dos alunos e reduzindo os riscos de complicações e traumas físicos e psicológicos, tanto para paciente, como para o aluno e professor, em uma época em que a exigência de melhores resultados é crescente. Flavio Rezende1, Renata Attanasio de Rezende Bisol1, Tiago Bisol1, Flavio Attanasio de Rezende1,2 1 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Universidade de Montreal, Canadá. 2 REFERÊNCIAS 1. 2. Carvalho JA. Oftalmologia e realidade virtual. Rev Bras Oftalmol.2012;71(1):40-7. Belyea DA, Brown SE, Rayyoub LZ.Influence of surgery simulator training on ophthalmology resident phacoemulsification performance. J Cataract Refract Surg. 2011;37(10):1756-61. 3. Jonas JB, Rabethge S, Bender HJ. Computer-assisted training system for pars plana vitrectomy. Acta Ophthalmol Scand. 2003;81(6):600-4. 4. Rossi JV, Verma D, Fujii GY, Lakhanpal RR, Wu SL, Humayun MS, et al.Virtual vitreoretinal surgical simulator as a training tool. Retina.2004;24(2):231-6. 5. Grimm J. Tearing of membranes for interactive real-time surgical training. Stud Health Technol Inform. 2005;111:153-9. 6. Webster R, Sassani J, Shenk R, Harris M, Gerber J, Benson A, et al.Simulating the continuous curvilinear capsulorhexis procedure during cataract surgery on the EYESI system. Stud Health Technol Inform.2005;111:592-5. 7. Mahr MA, Hodje DO. Construct validity of anterior segment anti-tremor and forceps surgical simulator training modules: attending versus resident surgeon performance.J Cataract Refract Surg. 2008;34(6): 980-5. 8. Feudner EM, Engel C, Neuhannm IM, Petermeier K, Bartz-Schmidt KU, Szurman P. Virtual reality training improves wet-lab performance of capsulorhexis: results of a randomized, controlled study. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol.2009;247(7):955-63. 9. Solverson DJ, Mazzoli RA, Raymond WR, Nelson ML, Hansen EA, Torres MF,et al. Virtual reality simulation in acquiring and differentiating basic ophthalmic microsurgical skills. Simul Healthc.2009;4(2):98-103. 10. Privett B, Greenlee E, Rogers G, Oetting TA. Construct validity of a surgical simulator as a valid model for capsulorhexis training. J Cataract Refract Surg. 2010;36(11):1835-8. 11. Le TD, Adatia FA, Lam WC.Virtual reality ophthalmic surgical simulation as a feasible training and assesment tool: results of a multicentre study. Can J Ophthalmol.2011;46(1):56-60. Endereço para correspondência: Rua 19 de Fevereiro, 76 Botafogo - Rio de Janeiro - RJ CEP: 22280-030 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 147-8 ARTIGO ORIGINAL 149 Microscopic analysis of opacification in Ioflex® hydrophilic acrylic intraocular lenses Análise microscópica da opacificação de lentes intraoculares acrílicas hidrofílicas Ioflex® Bruna Vieira Ventura1, Marcelo Ventura1,2, Wagner Lira1, Camila Vieira Ventura1, Marcony Rodrigues Santhiago3, Liliana Werner4 ABSTRACT Five cases of intraocular lens (IOL) opacification in patients implanted with the Mediphacos Ioflex® IOL are described. Clinical data in each case was obtained from the patient’s medical record. The five explanted IOLs underwent gross and light microscopic analysis. Selected lenses were processed for further evaluation and multiple sagittal cuts were stained with the alizarin red and von Kossa methods. Light microscope analysis confirmed the presence of deposits on and within the lens, which stained positive for calcium. The reason why calcification has occurred in these cases remains unclear, but surgeons should be aware of this potential late postoperative complication. Keywords: Lenses, intraocular; Lens implantation, intraocular; Reoperation; Device removal; Microscopy; Case reports RESUMO Cinco casos de opacificação de lente intraocular (LIO) em pacientes implantados com a LIO Ioflex® da Mediphacos são descritos. Os dados clínicos dos pacientes foram obtidos a partir dos prontuários médicos. As cinco LIOs explantadas foram enviadas para análise macroscópica e sob microscopia óptica. Algumas lentes foram processadas para análise adicional e múltiplos cortes sagitais foram corados pelos métodos de vermelho de alizarina e von Kossa. A análise sob microscopia óptica confirmou a presença de depósitos na superfície e no corpo da lente, que coraram positivamente para cálcio. A razão pela qual a calcificação ocorreu nestes casos permanece obscura. Entretanto, cirurgiões devem estar atentos para esta potencial complicação tardia. Descritores: Lentes intraoculares; Implante de lenteintraocular; Reoperação; Remoção de dispositivo; Microscopia; Relatos de casos 1 Fundação Altino Ventura – FAV – Recife (PE), Brazil; Hospital de Olhos de Pernambuco – HOPE – Recife (PE), Brazil; 3 Department of Refractive Surgery, Cole Eye Institute, Cleveland Clinic, Cleveland (OH), USA; 4 Intermountain Ocular Research Center, John A. Moran Eye Center, University of Utah, Salt Lake City (UT), USA. 2 No author has a financial or proprietary interest in any material or method mentioned. Financial support: none. Recebido para publicação em 29/08/2011 - Aceito para publicação em 18/04/2012 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 149-54 150 Ventura BV, Ventura M, Lira W, Ventura CV, Santhiago MR, Werner L INTRODUCTION P ostoperative optic opacification is the leading cause of explantation of hydrophilic acrylic intraocular lens (IOL)(1). The Mediphacos Ioflex® (Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil) IOL is a foldable hydrophilic acrylic single-piece IOL with an optic diameter of 5.7 mm and an overall diameter of 12.5 mm. The material used for the lens manufacture is a copolymer of poly-hydroxyethylmethacrylate with 25% water content. It was first introduced in the market in 2001. No case of IOL opacification has been reported in patients with this lens in articles published in scientific journals indexed in PubMed and SciELO (keywords searched: Ioflex, lens opacification, lens calcification). Although few hydrophilic acrylic IOL designs are approved by the Food and Drug Administration (FDA) to be used in the United States(2), they are largely commercialized in other countries. The purpose of this study was to report the microscopic analysis of five cases of Mediphacos Ioflex® IOL opacification. All IOLs were explanted due to significant visual impairment. This study was approved by the Altino Ventura Foundation Ethics Committee and conducted at the Altino Ventura Foundation. Case reports Case 1 A 72-year-old female had an uneventful phacoemulsification with implantation of Mediphacos Ioflex® IOLs in the right eye (Lot G0718092) on august 2007 and in the left eye (Lot H0731101) on november 2007. The patient had a medical history of hypertension. She presented 29 months after the surgery on the right eye with a decrease in best-corrected visual acuity (BCVA) in OD from 20/25 on the fifteenth postoperative day evaluation to 20/100. Examination revealed haziness of the IOL (Figure 1). The anterior chamber was quiet, with no signs of inflammation. Her fundus exam was normal. Neodymium:yag (Nd:YAG) laser treatment was ineffective in removing the opacification from the lens. The IOL was explanted 31 months postoperatively and a hydrophobic acrylic Type 7B (Alcon, Inc.) IOL was implanted in the capsular bag. There were no intraoperative or postoperative complications. The patient’s final BCVA on the right eye was 20/30. The BCVA of OS after phacoemulsification was always 20/20. Case 2 An 86-year-old male with vascular hypertension was submitted to an uneventful phacoemulsification with implantation of Mediphacos Ioflex® IOLs in the capsular bag of the right eye (Lot C0715102) in august 2007 and of the left eye (Lot J0729351) in december 2007. On evaluation on the thirtieth postoperative day of the surgery in the left eye, his BCVA in OD was 20/30 and in OS was 20/25. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 149-54 Figure 1: Slitlamp photograph of case 1 showing IOL opacification. In the center of the optic component there are pits, corresponding to Nd:YAG laser application. The marks caused by forceps during the folding process are highlighted by the opacification Thirty-three months later he returned referring a progressive decrease in the left eye’s visual acuity. He presented with a 20/200 BCVA in this eye and 20/30 in OD. On examination IOL’s optic and posterior capsule opacification was noted.The eye had no inflammatory signs.A posterior capsulotomy was done with Nd:YAG laser, without vision improvement.The IOL was explanted 35 months postoperatively. A dense fibrous tissue was connecting the lens haptics to the bag. The haptics were cut to facilitate IOL’s removal, the optic was explanted successfully and the haptics were left in the eye. An anterior vitrectomy was done and a poly(methyl methacrylate) (PMMA) OP-72 (Mediphacos, Belo Horizonte, Brazil) IOL was implanted in the sulcus. There were no intraoperative complications. On the first postoperative day, the eye had mild inflammatory signs and the IOL was centered. Postoperative outcome evolved with secondary glaucoma treated medically, later requiring trabeculectomy. One month after this procedure, BCVA in the left eye was 20/400 and the IOP was 10 mm Hg. Case 3 In september 2007 a 53-year-old female with severe non-proliferative diabetic and hypertensive retinopathy was submitted to phacoemulsification with uneventful implantation of a Mediphacos Ioflex® IOL in the right eye (Lot H0731101). There were no intraoperative complications. At the moment of the surgery, the patient had hard exudates in the macula and few microaneurysms in the right eye. In the left eye she had mild nucleosclerosis. Pan-retinal photocoagulation and an intravitreal injection of triamcinolone acetonide were done in the right eye three and two years prior to cataract surgery, respectively. One month after phacoemulsification she presented with hard exudates in the macula and clinically significant macular edema. She was submitted to grid pho- Microscopic analysis of opacification in Ioflex® hydrophilic acrylic intraocular lenses 151 Figure 2: Explanted Ioflex® IOL of case 1. A: Gross photograph showing IOL opacification on the optic and haptics; B: Light photomicrograph. Dense deposits can be observed mostly on the anterior surface of the optic component, highlighting the marks caused by forceps during the folding process. Pits, corresponding to Nd:YAG laser application, can also be seen in the center of the optic component; C and D: Light photomicrographs showing confluent deposits arranged in a convoluted, “cerebriform” pattern. E: Light photomicrograph, small granular deposits are observed in areas outside of the confluent deposits; F: Light photomicrograph; multiple, small, granular deposits are seen within the haptics of the lens, close to the surface; B: unstained, original magnification X20; C: unstained, original magnification X40; D: unstained, original magnification X100; E, unstained, original magnification X10; F, unstained, original magnification X100 Figure 3: Explanted Ioflex® IOL of case 2; A: Gross photograph showing that the haptics of the IOL were cut and the IOL was divided in two parts to facilitate explantation; B, C and D: Light photomicrographs; Dense deposits can be observed mostly on the anterior surface of the optic component, highlighting the marks caused by forceps during the folding process; Confluent deposits are arranged in a convoluted, “cerebriform” pattern Postoperative outcome evolved; E: Light hotomicrograph showing confluent deposits that form a cerebriform pattern on the haptics’ anterior surface; B: unstained, original magnification X20: C:unstained; original magnification X40; D: unstained, original magnification X40; E: unstained, original magnification X40. tocoagulation. Her uncorrected vision after the laser was 20/60. Two months later a mild fibroglial proliferation was observed superiorly to the optic nerve and there were hard exudates temporally to the macula. Superior retinal photocoagulation and focal laser were done in OR. Twenty-two months after surgery, her uncorrected visual acuity in the right eye was 20/30. She had no macular edema or macular exudates. However, thirty months postoperatively she presented with an uncorrected vision on the right eye of 20/150. On biomicroscopy IOL and subcapsular opacification was noted. The patient was submitted to a Nd:YAG laser posterior capsulotomy, but her uncorrected visual acuity did not improve and one month later had decreased to 20/400. The IOL was explanted seven months later. A dense fibrous tissue was connecting the lens haptics to the bag. The haptics were cut, the optic was removed successfully and the haptics were left in the eye. A poste- rior vitrectomy was done. A hydrophobic acrylic Type 7B (Alcon, Inc.) IOL was implanted in the ciliary sulcus. Two months after IOL exchange, the uncorrected and corrected visual acuity in the right eye was 20/60. During fundus exam, macular edema was noted. Case 4 A 79-year-old female had an uneventful phacoemulsification with implantation of a Mediphacos Ioflex® IOL in the capsular bag of the left eye (Lot H0731101) on december 2007. The patient had a medical history of hypertension and diabetes, and an ocular history of glaucoma (cup-to-disc ratio of 0.9 OU), controlled with timolol maleate 0.5% and travoprost 0.004%. She presented 33 months later with a decrease in BCVA from 20/30 on the thirtieth postoperative day evaluation to counting fingers at 4 meters. Biomicroscopy revealed IOL opacification. The eye had no signs of inflam- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 149-54 152 Ventura BV, Ventura M, Lira W, Ventura CV, Santhiago MR, Werner L Figure 4: Explanted Ioflex ® IOL of case 3; A and B: Light photomicrographs showing dense deposits mostly on the anterior surface of the optic component. Brown deposits, consistent with iris pigments, are seen on the lens surface; C: Light photomicrograph. Confluent deposits are arranged in a convoluted, “cerebriform” pattern. D: Light photomicrograph showing multiple, small, granular deposits within the haptics of the lens, close to the surface. Part of the haptic was cut to facilitate IOL explantation. A: unstained, original magnification X20; B: unstained, original magnification X40; C: unstained, original magnification X100; D: unstained, original magnification X100 Figure 5: Light photomicrographs of the explanted Ioflex® in cases 1 (A and B) and 4 (C and D). In both cases, the deposits were more concentrated on the anterior surface of the lens and in regions close to the surface. They stained positive for calcium with both histochemical techniques; A: von Kossa, original magnification X40; B: von Kossa, original magnification X200; Postoperative outcome evolved; C: Alizarin red, original magnification X20; D: Alizarin red, original magnification X100. mation.The IOL was explanted 39 months postoperatively and a hydrophobic acrylic Type 7B (Alcon, Inc.) IOL was implanted in the capsular bag. There were no intraoperative or postoperative complications. The patient’s BCVA 1 month after IOL exchange on the left eye was 20/80. underwent gross examination and light microscopy. Gross analyses were performed and photographs were taken for documentation using a Cyber-shot DSC-F707 (Sony, CA, USA). Light microscopy was performed using a BX40 light microscope (Olympus, Japan) and photomicrographs were taken with a DP20 digital camera (Olympus, Japan) attached to the light microscope. Gross examination of the explanted IOLs showed a whitish discoloration of the specimens. Microscopic examination showed dense deposits forming an almost continuous crust, mostly on the anterior surface of the optic component. Confluent deposits were arranged in convoluted irregular areas forming a “cerebriform” pattern. Small granular deposits were observed in areas outside of the crust. The deposits were most confluent along linear areas. Multiple, small, granular deposits were also generally observed within the optic and haptics of the lenses, close to the surface. Some peripheral areas of the optic were relatively clear of surface and substance deposits/granules (Figures 2, 3 and 4). In case 1, pits, corresponding to Nd:YAG laser application, were observed in the optic component. In case 3, there were brown deposits on the lens surface consistent with iris pigments. Selected lenses underwent further examination. Two sagittal cuts were performed at the optic component of the lenses in cases 1 and 4 to obtain an optical cylinder. In case 1, the cylinder was processed and multiple sagittal cuts were stained with the von Kossa method for calcium. In case 4, the cylinder and the remainder of the lens were Case 5 A 78-year-old male was submitted to a phacoemulsification with uneventful implantation of a Mediphacos Ioflex® IOL in the right eye (Lot J0726349) on september 2007 and in the left eye (Lot G0726242) on october 2007. The patient had a medical history of hypertension and diabetes. There were no intraoperative or immediate postoperative complications. His fundus exam was normal. He presented 30 months after the surgery in the left eye with a decrease in this eye’s BCVA from 20/20 on the thirtieth postoperative day evaluation to 20/150. BCVA in the right eye was preserved. Ocular examination only revealed haziness on the left IOL’s surfaces. Vision did not improve after Nd:YAG laser posterior capsulotomy. The IOL in the left eye was explanted 41 months postoperatively and a PMMA OP-72 (Mediphacos, Belo Horizonte, Brazil) IOL was implanted in the sulcus. This eye’s final BCVA was 20/30. Laboratory findings The explanted lenses were sent to the Intermountain Ocular Research Center (John A. Moran Eye Center, University of Utah, USA) in the dry state. Each lens Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 149-54 Microscopic analysis of opacification in Ioflex® hydrophilic acrylic intraocular lenses directly stained with alizarin red for calcium. Analysis of the sections obtained from the lens in case 1 under the light microscope confirmed the presence of calcium deposits on and within the lens, which stained dark brown with the von Kossa method. Analysis of the optical cylinder of the lens in case 4 showed the calcium deposits stained in red by the alizarin red. They were present on the surface of the lens and close to the surface, at different depths within the optic component (Figure 5). DISCUSSION IOL calcification is a sight-threatening complication of lens implantation. Nd:YAG laser treatment is ineffective in removing the calcified deposits from the lenses(1,3-5), as seen in most of our cases. The only effective treatment to restore vision is explantation and exchange of the calcified IOL. Calcification on the surface and in the substance of the lens in hydrophilic acrylic IOLs has been well documented(6-10). However, to the best of our knowledge this is the first peer-reviewed report on opacification of the Mediphacos Ioflex® IOL. A previous study analyzing an opacified hydrophilic acrylic AcquaSense® (Ophthalmic Innovative International, USA) IOL described the presence of calcium deposits on the surface and within the substance of the IOL optic and haptics(10). Similarly to this and other studies regarding hydrophilic lenses, microscopic examination of the five Ioflex® IOLs revealed that the opacification was due to calcium granular deposits on the surface and within the optic and haptics of the lenses(7,8,10). Two histochemical methods for calcium detection were used in these cases, and both of them yielded positive results, confirming the calcified nature of the deposits. The deposits were most confluent along linear areas, probably corresponding to marks caused by forceps during the folding process. Calcification of hydrophilic acrylic lenses seems to have a multifactorial origin. Factors related to IOL manufacture and packaging, surgical techniques, adjuvants, as well as patient metabolic and ocular conditions, may be involved(11). The formation of calcium deposits seems to depend both on the material of the IOL and on the local chemical microenvironment of the aqueous humor(3). Groh et al. described a possible association between IOL calcification and the metabolic disturbances in diabetes(12). The level of phosphorus in the aqueous humor of diabetic patients, particularly those with proliferative diabetic retinopathy, is significantly higher than normal individuals, which may lead to opacification of hydrophilic acrylic IOLs(13). A previous study reported bilateral hydrophilic IOL opacification in a diabetic patient(9). In the present study, case 3 had severe non-proliferative diabetic retinopathy and cases 4 and 5 also had diabetes. Interestingly enough, in case 5, only 1 of the lenses exhibited calcification. Both surgical implantations were performed within 1 month by the same surgeon, using the same solutions. This may suggest that local conditions of supersaturation, ei- 153 ther in the vicinity of the surface of the IOLs or within their substance, may promote salts development by diffusion of calcium/phosphate ions, as suggested in the study by Gartaganis et al.(3). Additionally, all cases had arterial hypertension. Other studies have described IOL calcium deposits in patients with hypertension(3,5,8,14). However, not all patients with IOL calcification have underlying systemic diseases(3,5,8,14) and not all cases operated for bilateral cataracts with implantation of the same IOL type have bilateral lens opacification(3), as seen in cases 1, 2 and 5. The IOLs in each of these cases came from different lots, which might have had different susceptibilities to develop the complication. Previous papers have described IOL calcification in patients with ocular diseases, such as uveitis and asteroid hialosis (this latter in relation to silicone IOLs)(1,15). Besides diabetic and hypertensive retinopathy in case 3, none of our cases had other past ocular inflammatory diseases. The crystalline deposition on IOLs can be divided into two general time frames: intraoperative or shortly postoperative versus late postoperative(16). Our patients had late postoperative IOL calcification. The mean period between phacoemulsification and patient presentation with decreased vision was 31 months, with minimum being 29 and maximum 33 months. The literature shows that this mean period varies from 16.4 to 35.3 months, depending on the case series(14,17). When comparing the visual acuity before and after IOL opacification, we noticed that all patients lost more than three Snellen lines in visual acuity. In a previous study of 12 patients with calcified IOL, twenty percent of the patients lost more than three Snellen lines in visual acuity, 46.7% lost less than three Snellen lines in visual acuity and 13.3% maintained the same visual acuity(14). In case 3, during a one-month period the uncorrected visual acuity decreased from 20/150 to 20/400 on the right eye. This demonstrates the progressive nature of the process of calcification in the Ioflex® lenses, which was also previously described in another hydrophilic IOL(6). The mean period between first surgery and explantation of lenses was 36.8 months, with minimum being 31 and maximum 41. After explantation of the opacified IOL and implantation of a new lens, four of our cases gained more than three Snellen lines of visual acuity and one lost a line. The patient who lost a line had secondary glaucoma after the IOL exchange. In another study from Brazil, one of twelve patients who had IOL explantation due to calcification exchanged with a PMMA IOL lost more than 3 Snellen lines of visual acuity. He had a decompensation of proliferative diabetic retinopathy and neovascular glaucoma(14). There were no intraoperative complications in all cases presented. In cases 2 and 3, a dense fibrous tissue was connecting the haptics of the lens to the bag. In these cases, to avoid complications, the haptics were cut and only the optic of the lens was removed, as previously described in other studies(5,10,14). Yu et al. reported poste- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 149-54 154 Ventura BV, Ventura M, Lira W, Ventura CV, Santhiago MR, Werner L rior capsule rupture and zonule dehiscence during explantation of opacified IOLs, which were adequately managed, not affecting visual recovery(5). In the postoperative period of the opacified IOL explantation one of our cases had a secondary glaucoma, with an increase in IOP that was only controlled with a trabeculectomy. This patient’s second IOL was placed in the sulcus. Former studies have described other postoperative complications, such as posterior capsule opacification, cystoid macular edema, retinal detachment, choroidal hemorrhage and endophthalmitis(4,5,14). Although hydrophilic acrylic IOLs have higher uveal biocompatibility resulting in less postoperative inflammation than other IOLs(18), potential complications such as late opacification have to be considered. From 2006 to 2007, we placed approximately 4,000 Ioflex® lenses. To date, opacification occurred in only five cases. On may 10, 2011, Mediphacos sent a report to the Brazilian Society of Laser and Surgery in Ophthalmology (http://www.bloss.com.br/site/default.aspx) summarizing their investigation on the problem of Ioflex® calcification. According to the manufacturer, they started receiving sporadic and isolated reports on Ioflex® opacification starting in 2009, related to some lots distributed between 2007 and 2009 (Lots starting with: A09, A10, B09, C09, D09, E09, F09, G08, G09, H08, H09, I08, I09, J08, J09, K08, k09, L08, L09). Surface analysis apparently confirmed the presence of calcium/phosphate precipitation, as well as the presence of polydimethylsiloxane (PDMS) on the surfaces of the analyzed lenses. PDMS was found to come from the packaging of these IOL lots, manufactured during the period in question. A study by Guan et al. has already demonstrated a possible role of silicone compounds interacting with long-chain saturated fatty acids present in the aqueous humor (myristic, palmitic, stearic, arachidic, and behenic) on the calcification process of the Hydroview IOL(19). Mediphacos withdrew the lenses from these lots from the market and the packaging was changed. However, the opacified lenses from our patients are from different lots. Thus, the presence of PDMS in the packaging of some lots does not explain the lens opacification in our patients. In conclusion, this is the first report on opacification of the Mediphacos Ioflex® IOL describing microscopic findings. The opacification of the five lenses was due to calcium deposits. Although this IOL should not be discredited based on the occurrence of these calcification cases, surgeons should be aware of this potential late postoperative complication and further investigation on the causes of opacification is needed. REFERENCES 1. Neuhann IM, Kleinmann G, Apple DJ. A new classification of calcification of intraocular lenses. Ophthalmology. 2008;115(1):73-9. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 149-54 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Mamalis N, Brubaker J, Davis D, Espandar L, Werner L. 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Ventura Altino Ventura Foundation – FAV Rua do Progresso, nº 71 – Boa Vista Zip Code: 50070-020 - Recife (PE), Brazil Phone: 55 81 3302-4343 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 155 Tratamento da úlcera escleral pós-cirurgia de pterígio e betaterapia por enxerto de esclera autóloga de espessura parcial Partial thickness autologus scleral graft for treating scleral ulcers following pterygium excision and betatherapy Eurípedes da Mota Moura1, Marcos Volpini2, Guilherme Afonso Garcia Moura3 RESUMO Objetivo: Avaliação dos resultados da utilização de enxerto de espessura parcial de esclera autóloga para o tratamento das úlceras esclerais profundas, como complicação tardia da exérese de pterígio associada à betaterapia. Métodos: Foram tratados doze olhos de doze pacientes, nove femininos e três masculinos, com idade variando entre 48 e 82 anos, média 65,2 anos. Resultados: Houve boa integração do enxerto em todos os casos, com resultado funcional e cosmético favorável e sem complicações. Conclusão: Várias técnicas de enxertia tem sido propostas para o tratamento da úlcera escleral: esclera e dura-máter homólogas, derme, cartilagem auricular e periósteo autólogos. No entanto, o procedimento com esclera autóloga apresenta reais vantagens em relaçâo aos enxertos empregados anteriormente. Não há referências na literatura quanto ao emprego de enxerto de esclera autóloga de espessura parcial para o tratamento da úlcera escleral. Descritores: Esclera/transplantation; Transplante autólogo; Pterígio/cirurgia; Pterígio/radioterapia; Efeitos de radiação ABSTRACT Objeticve: The authors describes a surgical technique that utilizes autologus delaminated scleral graft for the management of deep scleral ulcers. Methods: In this technique that were perfomed in 12 eyes of 12 patients, 9 female, 3 male, age from 48 to 82 years, mean age 65.2 years. Results: Occurred good integration of the grafting in all cases without any complications. Conclusion: Many techniques have been proposed for the management of scleral ulcers: sclera and dura-mater, autologus derme, auricular cartilage and autologus periosteum. There is no reference in relation to autologus scleral grafting with partial thickness for the treatment of scleral ulcers, as proposed in this study. Keywords: Sclera/transplantation; Transplantation, autologous; Pterygium/surgery; Pterygium/radiotherapy; Radiation effects 1 Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil; Hospital Sírio Libanês. São Paulo (SP), Brasil; 3 Hospital CEMA. São Paulo (SP), Brasil. 2 Trabalho realizado no Hospital Sírio Libanês, São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 13/01/2010 - Aceito para publicação em 02/03/2012 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 155-9 156 Moura EM, Volpini M, Moura GAG INTRODUÇÁO A exérese do pterígio é um procedimento cirúrgico comum em nosso meio. O índice de revascularizaçáo e recidiva após a simples excisão pode atingir 69%, especialmente em ambientes quentes, secos e com alta exposição a radiação ultravioleta.(1) A betaterapia tem sido utilizada como terapêutica complementar no pós-operatório para reduzir a sua recorrência.(2) A recidiva foi de 16% quando a betaterapia era iniciada até 24 horas após a exérese do pterígio. A utilização desta radiação no pós-operatório, tem o objetivo de reduzir a revascularização e contribue para que este procedimento não seja isento de complicações.(3) As seguintes sequelas oculares estão associadas à betaterapia: telangiectasia, queratinizaçáo conjuntival, conjuntivite crônica, simbléfaro, ptose palpebral, atrofia de íris, catarata, corneoesclerite, úlcera ou necrose corneoescleral.(1) As úlceras esclerais profundas delineiam o tecido uveal subjacente (Figura 1), predispondo o indivíduo a um risco de perfuração ocular, uveíte e endoftalmite. Estas condições podem levar à perda da visão, motivo pelo qual, esta complicação deve ser tratada cirurgicamente.(4) No presente estudo, descreve-se a técnica de enxertia de esclera autóloga no tratamento da úlcera escleral profunda com exposição uveal, secundária a exérese de pterígio e betaterapia com o objetivo de restabelecer a espessura da parede do bulbo ocular. MÉTODOS No período de janeiro de 1998 a dezembro de 2006, 12 olhos de 12 pacientes, nove do sexo feminino e três do masculino, com idade variando de 48 a 82 anos, média de 65,2 anos, portadores de úlceras esclerais profundas com exposição uveal localizadas no setor nasal, decorrentes de exérese de pterígio e betaterapia, foram submetidos a enxertia de esclera delaminada autóloga. Os casos foram operados no Hospital Sírio Libanês em São Paulo e na Clínica de Olhos de um dos autores (EMM). A técnica cirúrgica descrita foi baseada na ressecção escleral lamelar proposta por Blaskowicz em 1911 para o tratamento da alta miopia(5) e foi realizada com lupa cirúrgica. A anestesia é local, peribulbar com cloridrato de lidocaína 2.0% sem vasoconstrictor, associada à infiltração subtenoniana no quadrante nasal superior e na região da úlcera escleral. Mede-se com auxí- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 155-9 lio do compasso a área ulcerada (Figura 2). Faz-se a divulsão da conjuntiva, separando-a do leito escleral com tesoura, escarifica a margem da úlcera com bisturi de lâmina 15, e eventual remoção de placas de calcificação quando presentes. Efetua-se a cauterização com pinça bipolar. O enxerto escleral de espessura parcial foi retirado do quadrante súpero-nasal anteriormente à inserção dos músculos reto superior e medial, com forma compatível, mas com área de 0,5 mm maior que a da úlcera. O enxerto foi suturado com fio vicril 7-0 com pontos simples e separados. (Figuras 3 e 4). Recobre-se a área do enxerto com conjuntiva através de um retalho de deslizamento. Curativo oclusivo nas primeiras 24 horas e colírio de antibiótico e corticoesteróide 4 vezes ao dia durante 2 semanas. RESULTADOS Todos os pacientes apresentaram boa integração do enxerto escleral, não apresentando qualquer reabsorção. Não se observou desnível na região do limbo corneal e os pacientes não apresentaram queixa de epífora, fotofobia ou sensação de corpo estranho no pósoperatório tardio. Em todos os casos a mobilização da conjuntiva adjacente permitiu um adequado recobrimento do tecido transplantado sobre a úlcera escleral. O período de seguimento tardio ainda permitiu observar que: a) A área doadora, no quadrante nasal superior, ficou com uma coloração levemente mais escura que a vizinha, mas não ocorreu qualquer sinal de estafiloma; b) O enxerto escleral aparentemente não apresentou retração ou adelgaçamento durante o período de seguimento ; c) Acuidade visual, tonometria e biomicroscopia do segmento anterior mantiveram-se inalteradas após a cirurgia; d) Com a utilização de um enxerto de espessura parcial, não se observou após a cicatrização nenhuma elevação ou desnivelamento em relação a esclera e córnea. O filme lacrimal manteve-se bem distribuído no limbo próximo ao enxerto (Figura 5). DISCUSSÃO São várias as técnicas propostas para o tratamento cirúrgico do pterígio: transposição, excisão simples, deixando a esclera nua, excisão com rotação de retalho conjuntival, enxerto de membrana amniótica ou Tratamento da úlcera escleral pós-cirurgia de pterígio e betaterapia por enxerto de esclera autóloga de espessura parcial Figura 1: Úlcera escleral pós-exérese de pterígio e betaterapia Figura 2: Medida da lesão escleral Figura 3: Delaminação do enxerto escleral Figura 4: Enxerto no leito receptor para ser suturado 157 Figura 5: Pós-operatório tardio Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 155-9 158 Moura EM, Volpini M, Moura GAG conjuntiva autóloga. As técnicas disponíveis para o tratamento do pterígio devem ser avaliadas segundo dois critérios: ausência de complicações que comprometam a visão e redução da frequência de recidivas. O enxerto autólogo de conjuntiva tem sido utilizado desde 1985 no tratamento do pterígio com o objetivo de reduzir as taxas de recidiva.(6) Esta técnica consiste no enxerto de conjuntiva bulbar incluindo a região do limbo corneal obtido do setor superior do mesmo olho; remove-se o pterígio e transplanta-se a conjuntiva para a área receptora. O enxerto deve ser suturado mantendo a margem limbar na periferia da córnea. Kenyon et al. observaram uma taxa de recorrência de 5,3% em pterígios recidivados ou avançados utilizando esta técnica.(7) As complicações decorrentes do enxerto de conjuntiva tais como: granuloma, cisto conjuntival, infecção ou falência do transplante podem ocorrer. Estudos demonstram que pacientes submetidos à exérese de pterígio associada à betaterapia, com seguimento por mais de 10 anos desenvolveram escleromalacia em 10% e adegalçamento escleral grave em 4,5%. A ocorrência de necrose escleral pelo uso de betaterapia, revela o provável desconhecimento da dosagem segura e do esquema de fracionamento no pós-operatório. A esclera posterior parece ser mais resistente à radioterapia, enquanto a anterior é mais susceptível à combinação de cirurgia e betaterapia.(5) Outros fatores que poderiam contribuir para esta complicação são: cauterização excessiva, que provocaria uma retração tecidual, deficiência de filme lacrimal comprometendo a lubrificação local, ausência de conjuntiva pela técnica cirúrgica da esclera nua e possível descalibração dos aparelhos de irradiação.(7,8) Clinicamente as úlceras esclerais podem ser classificadas em três grupos: a) superficial, caracterizada por exposição das camadas da esclera com uma área de conjuntiva avascular, ulceração rasa com comprometimento de menos de um terço de espessura escleral; b) Moderada, caracterizada pelo envolvimento de um a dois terços da espessura escleral, com base frequentemente constituída por uma fina camada de fibras esclerais sobre o tecido uveal subjacente; podem ser encontradas também placas de calcificação no seu leito.(1) Esta lesão pode ser observada, em geral muitos anos após o tratamento inicial; este período pode variar de 9 a 30 anos.(5) O tratamento cirúrgico com enxertos somente está indicado nos casos de úlceras esclerais profundas. A técnica cirúrgica indicada para a úlcera escleral profunda é um reforço tecidual às custas de um enxerto. Várias modalidades de tratamento foram propostas para Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 155-9 a correção desta complicação tardia: córnea e esclera homólogas, dura-mater, derme de espessura parcial, pericárdio humano processado, cartilagem auricular e periósteo autógeno.(10-17) A esclera e córnea homólogas têm a vantagem da disponibilidade em Banco de Olhos, mas sua qualidade pode variar, sendo necessário adelgaçamento do tecido para evitar desnivelamento no limbo corneal.(18) Estes tecidos, às vezes são conservados em glicerina ou álcool, que não são completamente virucidas e poderiam teoricamente transmitir doenças infecciosas.(18,19) A dura-mater foi utilizada em cirurgia plástica ocular para o revestimento de implantes orbitais e em outras especialidades cirúrgicas. As vantagens deste tecido são: resistência tecidual, flexibilidade, biocompatibilidade e eventual substituição pelo tecido conjuntivo do hospedeiro.(19) Entretanto, a preocupação aumentou com a utilização da dura-mater processada de cadáveres porque a doença de Creutzfeldt-Jacob (DCJ) poderia estar associada ao seu uso.(20) O enxerto dérmico de espessura parcial por ser autólogo não apresenta antigenicidade, e pode integrar e reepitelizar em uma superfície avascular, não sendo necessário o recobrimento conjuntival. Além disso são flexíveis, com boa resistência tensional, de fácil manuseio e boa moldagem na área da enxertia.(14) O enxerto autólogo de cartilagem auricular não apresenta antigenicidade, porém é um tecido difícil de manusear, pois não é flexível e rompe com facilidade. Além disso, a moldagem no leito receptor pode ser comprometida devido à espessura e convexidade irregular.(16) O enxerto de periósteo autólogo não exibe atividade osteogênica. As suas principais vantagens são: a ausência de antigenicidade, boa integração com os tecidos oculares, boa resistência e fácil manuseio.(17) O pericárdio humano processado fornece um apoio que promove a epitelização. Apresenta as seguintes vantagens: custo baixo, material estéril, prazo de validade longo e fácil manuseio.(15) O pericárdio processado tem sido empregado nos casos de pterígio recidivado, mas não há referência quanto ao seu uso nos casos de úlceras esclerais pós-betaterapia. (21) O presente estudo demonstrou que a esclera autóloga delaminada apresenta a melhor compatibilidade tecidual, não sofrendo reação imunológica e reabsorção. Além disso, este tecido escleral apresenta grande resistência tensional, pouca distensibilidade e grande flexibilidade. É de fácil manuseio e de excelente moldagem na área receptora, sendo um material vanta- Tratamento da úlcera escleral pós-cirurgia de pterígio e betaterapia por enxerto de esclera autóloga de espessura parcial joso quando comparado ao periósteo autólogo, esclera e dura-mater homólogas. Uma grande vantagem da presente técnica é que a mesma via conjuntival de preparação do leito receptor serve para a colheita da esclera delaminada. Quando, por exemplo, se usa o enxerto de periósteo pré-tibial ou cartilagem auricular tem-se um outro sítio cirúrgico. A principal vantagem do atual procedimento, no entanto, é o emprego do mesmo tecido escleral autólogo e exatamente do mesmo padrão histológico que foi perdido durante a evolução da úlcera. Este aspecto, de se abandonar a utilização de tecido homólogo, ou seja, de outro indivíduo, é absolutamente desejável. Assim, não se tem qualquer risco de transmissão de agentes microbianos, vírus ou prions. Além disso, evita-se a exigência de alguns hospitais, que só permitem a cirugia após a liberação do tecido homólogo por parte da sua “Comissão de Transplantes de Orgãos”. A presente técnica, dadas todas suas vantagens, certamente trará enormes benefícios aos pacientes portadores de úlceras esclerais profundas que necessitem tratamento cirúrgico. Demonstra que o emprego da esclera delaminada autóloga para o tratamento das úlceras esclerais profundas pós-cirurgia de pterígio associada com betaterapia é preferível em relação a outras técnicas utilizadas anteriormente. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Tarr KH, Constable IJ. Late complications of pterygium treatment. Br J Ophthalmol.1980;64(7):496-505. Green MO, Brannen AL. Hyperbaric oxygen therapy for betaradiation-induced scleral necrosis. Ophthalmology. 1995;102(7):1038-41. Wilder RB, Buatti JM, Kittelson JM, Shimm DS, Harari PM, Rogoff EE, Cassady JR. 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Endereço para correspondência: Eurípedes da Mota Moura Rua Pio XI, nº 1181 CEP 05060-001 - Alto da Lapa - São Paulo (SP) , Brasil Fone/Fax: (11) 3832-2173 E-mail:[email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 155-9 ARTIGO ORIGINAL 160 Eficácia da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% no tratamento do glaucoma primário de ângulo aberto e na hipertensão ocular Efficacy of fixed combination of timolol 10% and Brinzolamide 1%for primary open angle glaucoma and ocular hypertension Juliana Almodin1, Carlos Buhler Junior2 , Flavia Almodin3 , Tadeu Cvintal4 RESUMO Objetivo: Avaliar a eficácia e conforto dos pacientes portadores de glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) ou hipertensão ocular (HO) em uso da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1%. Métodos: Foram acompanhados prospectivamente 26 pacientes portadores de GPAA ou HO, num total de 50 olhos que foram instituídos a utilizarem a combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1%. As avaliações foram feitas por um único examinador por tonometria de aplanação (Goldman) em 7 e 30 dias. Os possíveis efeitos colaterais e intolerância foram descritos pelos próprios pacientes através da pergunta: “Você sentiu alguma alteração ao pingar a medicação prescrita?” Os dados foram coletados e analisados estatisticamente. Resultados: Os valores de pressão intraocular (PIO) foram significativamente menores nas avaliações de 7 e 30 dias (p<0,001). A média da redução da PIO foi de 38%, variando de uma média inicial de 23,8 mmHg para 14,6 e 14,4 mmHg nos dias 7 e 30, respectivamente. Dos 26 pacientes incluídos apenas 4 relataram alguma queixa ao pingar o colírio, sendo que as queixas variaram de ardência, leve queimação e embaçamento. Conclusão: A combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% mostrou-se eficaz no tratamento de pacientes com GPAA e HO com eficácia semelhante a da literatura e apresentou um baixo índice de efeitos desconfortáveis relatados pelos usuários da medicação. Descritores: Timolol/administração & dosagem; Glaucoma/quimioterapia; Combinação de medicamentos; Hipertensão ocular 1 Departamento de Glaucoma do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; Residente do Terceiro Ano de Oftalmologia do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; 3 Residente do Primeiro Ano de Oftalmologia do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; 4 Departamento de Córnea e Diretor do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil. 2 Departamento de Glaucoma do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 20/2/2011 - Aceito para publicação em 28/11/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 160-3 Eficácia da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% no tratamento do glaucoma primário ... 161 ABSTRACT Objective: To evaluate the efficacy and side effects of timolol 0,5% and brinzolamide 1% fixed combination in patients with primary open angle glaucoma (POAG) and ocular hypertension (OH). Methods: 50 eyes of 26 patients with POAG or OH were evaluated with topical therapy with fixed combination of timolol 0.5% and brinzolamide 1%. The measurements with Goldmann tonometry were applied by only one ophthalmologist after 7 and 30 days on medication. The side effects were described by the patient based on the following question: “Did you feel any alteration with the prescribed drops?” The data were collected and analized statistically. Results: The intraocular pressure (IOP) was lower in 7 and 30 days (p<0.001). The mean reduction in IOP was 38% with a variation from 23,8 mmhg to 14.6 and 14.4 mmhg in 7 and 30 days. Four patients had side effects: burning and blurring vision were related. Conclusion: the fixed combination of timolol 0.5% and brinzolamide 1% had good results with lower IOP in the treatment of patients with POAG and OH just like in the literature and had few side effects. Keywords: Timolol/administration & dosage; Glaucoma/drug therapy; Drug combinations; Ocular hypertension INTRODUÇÃO MÉTODOS glaucoma é a causa mais comum de cegueira irreversível nos dias de hoje(1). Os agentes hipotensores oculares são a única farmacoterapia disponível para seu tratamento(2). Nas últimas décadas, tivemos grandes avanços no desenvolvimento de medicações antiglaucomatosas e as opções para a terapia combinada também aumentaram(3). A combinação fixa representa a combinação de dois agentes hipotensores oculares num único frasco(4). Essa combinação tem a conveniência de trazer a eficácia de dois agentes hipotensores oculares ao mesmo tempo e ainda de poder aumentar a fidelidade do paciente ao tratamento. Atualmente no mercado temos a combinação fixa de produtos com timolol 0,5% associados à brimonidina 0,2%, dorzolamida 2%, travoprosta 0,004%, latanoprosta 0,005% e bimatoprosta 0,03%.2 Recentemente foi formulada a combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% (AzorgaTM,Alcon laboratórios, Inc., Ft.Worth,TX, USA).(5) A brinzolamida é um agente inibidor da anidrase carbônica que diminui a PIO através da redução da produção do humor aquoso (HA), ela é formulada a 1% em suspensão oftalmológica (Azopt,Alcon laboratórios, Inc., Ft.Worth,TX, USA) e administrada duas a três vezes ao dia. Indicada para o tratamento do GPAA e também para a HO. Como monoterapia ou em associação a beta bloqueadores já foi demonstrado em estudos que ela tem uma ação significante na redução da PIO.(6) Estudos também demonstram que ela tem boa tolerância pelos pacientes, além de ter um menor desconforto ocular quando comparada a outras medicações.(7) O objetivo deste estudo é de avaliar a eficácia e conforto dos pacientes portadores de GPAA ou HO em uso da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1%. Estudo prospectivo com participação de 26 pacientes com idade entre 51 e 90 anos (média 69,8 anos) com diagnóstico de GPAA ou HO do Departamento de Glaucoma do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal. Foram excluídos do estudo os pacientes que apresentaram: uso de lentes de contato, corticosteróides, ciclosporina tópica, lágrimas artificiais, conjuntivite ativa, ceratite, esclerite ou uveíte em qualquer um dos olhos, história de cirurgia intraocular 90 dias antes da introdução da medicação ou durante o curso do estudo, história de doenças inflamatórias oculares, doenças retinianas progressivas como degenerações retinianas ou doença macular relacionada à idade, retinopatia diabética, descolamento de retina, história de hipersensibilidade ao uso de timolol 0,5% e a inibidores da anidrase carbônica, presença de doenças cardiovasculares, hepáticas ou renais, doenças obstrutivas pulmonares ou asma; que podem dificultar a administração do beta bloqueador, além de gestantes e mulheres em aleitamento materno. Todos os pacientes tiveram a PIO aferida antes do uso da medicação (dia 0) no período da manhã por um único examinador e foram orientados a usar a combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% de 12/ 12 h. Após a introdução da medicação a PIO foi aferida no sétimo dia (dia 7) e no trigésimo dia (dia 30). A PIO foi aferida através de tonometria de aplanação (Goldmann) e os pacientes foram questionados sobre possíveis efeitos colaterais através de entrevista pelo mesmo examinador, com a seguinte questão: Você sentiu alguma alteração ao pingar a medicação prescrita?, diminuindo a possibilidade de sugestão de possíveis efeitos colaterais. O Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 160-3 162 Almodin J, Buhler Junior C, Almodin F, Cvintal T As variáveis foram resumidas pelas estatísticas descritivas pertinentes: frequência absoluta (n) e relativa (%) ou média, desvio padrão (dp), mediana, valores mínimo e máximo. Foi aplicado um modelo de Análise de Variância para medidas repetidas para comparar as medidas de PIO ao longo do seguimento. As diferenças entre as avaliações foram localizadas por testes de comparações múltiplas com a correção de Bonferroni. Foi adotado o nível de significância de 0,05 (a = 5%) e utilizado o programa estatístico SPSS versão 15.0 for Windows para todas as análises estatísticas. Gráfico 1 Média (+/- 1dp) da PIO dos pacientes ao longo do seguimento RESULTADOS Foram avaliados cinquenta (50) olhos de vinte e seis (26) pacientes sendo que em dois pacientes hipertensos oculares, a medicação foi instituída em apenas um dos olhos. Foi observada variação estatisticamente significante entre as avaliações da PIO (p < 0,001). Nos testes de comparações múltiplas, a média de PIO no dia 0 mostrou-se significantemente maior do que as médias das demais avaliações (p < 0,001 comparado ao dia 7 e p < 0,001 comparado ao dia 30) e não foi observada diferença estatisticamente significante entre as médias dos dias 7 e 30 (p = 1,000). A média das pressões intraoculares iniciais foram de 23,8 mmHg (1830mmHg) e após o início da medicação, nos dias 7 e 30 foram de 14,6 e 14,4mmHg respectivamente, mostrando uma redução média de cerca de 38,65% no dia 7 e 39,49% no dia 30. Os dados são apresentados na tabela 1 e gráfico 1. Quanto aos efeitos adversos relatados pelos pacientes ao uso da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1%, dos 26 pacientes estudados, apenas 4 (15,4%) relataram alguma experiência desconfortável. Desses quatro pacientes, dois pacientes (7,7%) relataram alguma ardência ao instilar o colírio, um paciente (3,8%) relatou algum embaçamento e um paciente (3,8%) relatou uma leve queimação. De todos os pacientes que iniciaram o tratamento com a medicação prescrita, apenas em três (11,5%) foi necessário acrescentar alguma medicação antiglaucomatosa (Tabela 2), pois não alcançaram a PIO alvo estabelecida de acordo com sua escavação do nervo óptico 30 dias após introduzida a medicação. DISCUSSÃO Cada vez mais as combinações fixas de medicações antiglaucomatosas têm ganhado espaço na prática Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 160-3 Tabela 1 PIO dos pacientes ao longo do seguimento PIO (mmHg) (n = 50) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Pré x Pós Avaliação Dia 0 Dia 7 Dia 30 23,8 (3,7) 14,6 (2,8) 14,4 (2,4) 24 14 15 17 – 30 8 – 20 8 – 18 p < 0,001 * Tabela 2 Efeitos colaterais na amostra de pacientes (n=26) Efeitos colaterais Queixas Não Sim Queixas (especificação) Não Ardência Embaçamento Leve queimação Acrescentou medicação Não Sim n (%) 22 (84,6) 4 (15,4) 22 2 1 1 (84,6) (7,7) (3,8) (3,8) 23 (88,5) 3 (11,5) clínica diária, por fornecerem maior potência na diminuição da PIO e também porque melhoram a aderência dos pacientes ao tratamento(8,9). Com o surgimento de uma nova combinação no mercado, procuramos avaliar a eficácia e a tolerância dessa nova formulação com pacientes que não usavam nenhuma droga no tratamento do glaucoma. Em nosso estudo obtivemos uma média de di- Eficácia da combinação fixa de timolol 0,5% e brinzolamida 1% no tratamento do glaucoma primário ... minuição da PIO com a combinação de timolol/ brinzolamida de cerca de 38%, número um pouco maior que em outro estudo que obteve aproximadamente 30 a 33% de redução da PIO(1). Nossos pacientes mantiveram a PIO no mesmo patamar nas avaliações de 7 dias e 30 dias, demonstrando eficácia em manter a PIO mais baixa. Quanto ao desconforto dos pacientes ao utilizar a medicação proposta, em nosso estudo uma pequena parcela relatou queixas, apenas quatro pacientes que representam 15,4% do total. Desses pacientes, dois queixaram de ardência (7,7%), um de embaçamento (3,8%) e um de leve queimação (3,8%). Na literatura encontramos estudos que comparam uma medicação com outra, onde em todas as comparações apresentaram resultados favoráveis à combinação de timolol com brinzolamida(5,10,11). A combinação de timolol 0,5% com brinzolamida 1% mostrou-se eficaz no controle da PIO com índices de redução semelhantes à literatura e mostrou um baixo índice de desconforto nos pacientes acompanhados. No entanto, em nosso estudo, tivemos um número pequeno de pacientes e são necessários mais estudos para evidenciar esses mesmos resultados em longo prazo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Holló G, Bozkurt B, Irkec M. Brinzolamide/timolol fixed combination: a new ocular suspension for the treatment of openangle glaucoma and ocular hypertension. Expert Opin Pharmacother. 2009;10(12):2015-24. Woodward DF, Chen J. Fixed-combination and emerging glaucoma therapies. Expert Opin Emerg Drugs. 2007;12(2):313-27. Ishikawa S, Nakamura Y, Nakamura Y, Sakai H, Sawaguchi S, Terashima K, et al. 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Endereço para correspondência Juliana Almodin Rua Xavier Curado, nº 351 - apto. 131 CEP 04210-100 - Ipiranga (SP), Brasil Email: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 160-3 ARTIGO ORIGINAL 164 Hipermetropia após ceratotomia radial: flutuação da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde e correlações com a pressão ocular e o estado biomecânico da córnea Hyperopia after radial keratotomy: fluctuation of refraction and visual acuity from morning to evening and correlations with intraocular pressure and corneal biomechanics Renato Ambrósio Jr1,2,3; Renata Siqueira da Silva1,2; Karla Lopes1; Bruno Valbon1,2; Allan Luz2,3; Guillermo Coca Velarde4 RESUMO Objetivo: Verificar as variações entre manhã e tarde da refração, da acuidade visual, das medidas da pressão ocular e dos parâmetros biomecânicos da córnea em pacientes operados de ceratotomia radial e interesse em retratamento refrativo; correlacionar os parâmetros biomecânicos da córnea com a refração, com a acuidade visual e com as suas variações. Métodos: Foram examinados trinta e oito olhos de 19 pacientes pela manhã (9 am) e à tarde (6 pm), obtendo-se refração esfero-cilíndrica dinâmica, acuidade visual (logMAR) sem correção (AVsc) e corrigida (AVcc) e parâmetros do ORA (Ocular Response Analyzer): histerese corneana (corneal hysteresis - CH), fator de resistência da córnea (corneal resistance factor - CRF), pressão intraocular (intraocular pressure – IOP) calibrada para o padrão Goldmann (IOPg) e pressão compensada da córnea (IOPcc). Considerando a não distribuição normal das variáveis (teste de Kolmogorov-Smirnov), o teste de Wilcoxon signed rank foi utilizado para verificar significância nas diferenças entre as medidas da manhã e as da tarde de cada variável. O teste de Spearman foi utilizado para verificar correlações das medidas do ORA com o estado refracional e com a acuidade visual pela manhã e à tarde, assim como para verificar as correlações entre as medidas do ORA pela manhã e à tarde e as variações da refração e da acuidade visual. Resultados: Grau esférico (E), equivalente esférico (EE), equivalente desfoco (ED), AVsc, IOPcc e IOPg variaram significativamente (Wilcoxon, p<0,05) entre manhã e tarde, havendo maior hipermetropia, pior acuidade visual não corrigida, maior pressão ocular e menor CH pela manhã. Nas medidas pela manhã, observaram-se correlações positivas (Spearman, p<0,05) do EE e do ED com IOPcc (rs=0,39 e 0,34 respectivamente), mas não com IOPg. Nas medidas da tarde, não houve correlações significantes entre os parâmetros refracionais e os pressóricos. Observaram-se correlações negativas (Spearman, p<0,05) entre AVsc (logMAR) e CH pela manhã e à tarde (rs= -0,48 e rs= -0,51), entre E e CH pela manhã e à tarde (rs= -0,66 e -0,76), entre E e CRF pela manhã e à tarde (rs= -0,40 e -0,47), entre EE e CH pela manhã e à tarde (rs= -0,70 e -0,68), entre EE e CRF pela manhã e à tarde (rs= -0,41 e -0,46), entre ED e CH pela manhã e a tarde (rs= -0,64 e -0,54) e entre ED e CRF pela manhã e a tarde (rs= -0,35 e -0,34). Observou-se correlação significante e negativa do CRF pela manhã com a variação do ED (p = 0,05; rs = -0,30) e com a variação da AVsc (p = 0,04; rs = -0,33). Conclusão: Maior hipermetropia pela manhã foi associada a maior pressão compensada (IOPcc), mas não com IOPg em pacientes operados de ceratotomia radial, o que deve ser considerado no planejamento do retratamento refrativo. Parâmetros biomecânicos (CRF e CH) mais baixos foram associados com maior hipermetropia e pior acuidade visual. Uma tendência de haver maior flutuação relacionada com córneas mais fracas foi encontrada. Novos estudos envolvendo parâmetros biomecânicos derivados do sinal do ORA, além dos parâmetros CH e CRF (derivados das pressões de aplanamento do ORA), juntamente com dados tomográficos da córnea e de aberrometria total são necessários. Descritores: Ceratotomia radial/efeitos adversos; Hiperopia/etiologia; Córnea/fisiologia; Erros de refração; Acuidade visual 1 Instituto de Olhos Renato Ambrósio Grupo de Estudos de Tomografia e Biomecânica de Córnea do Rio de Janeiro 3 Universidade Federal de São Paulo 4 Universidade Federal Fluminense (Departamento de Estatística) 2 Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 4/4/2011 - Aceito para publicação em 26/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 Hipermetropia após ceratotomia radial: flutuação da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde e correlações ... 165 ABSTRACT Purpose: To verify the morning to evening variations of refraction, visual acuity, intraocular pressure and biomechanical parameters on patients operated by radial keratotomy who presented for refractive re-treatments; and to correlate the biomechanical parameters with refraction, visual acuity and their variations among morning and evening. Methods: 19 patients were examined, respectively thirty-eight eyes in the morning (9 am) and evening (6 pm), recording sphere-cylindrical dynamic refraction, visual acuity (logMAR) without correction (AVsc) and corrected (AVcc) and ORA (Ocular Response Analyzer) parameters: corneal hysteresis (CH), corneal resistance factor (CRF), intraocular pressure calibrated for Goldmann (IOPg) e corneal compensated (IOPcc). Variables had no normal distribution (Kolmogorov-Smirnov test), so that the Wilcoxon signed rank was used for testing the significance on the differences for each variable between morning and afternoon. The Spearman test was used for assessing the correlations between the ORA parameters and refraction, visual acuity in the morning and afternoon, as well as to verify the correlations between the ORA parameters and the variations on refraction and visual acuity. Results: Sphere (E), spherical equivalent (EE), defocus equivalent (ED), AVsc, IOPcc e IOPg varied significantly (Wilcoxon, p<0.05) between morning and evening. There was more hyperopia, worse visual acuity, higher pressure and lower CH in the morning measurements. In the morning measurements, there was a positive correlation (Spearman, p<0.05) between EE and ED and IOPcc (rs=0.39 and 0.34 respectively), but not with IOPg. In the evening measurement, there were no correlations between the refractive and pressure measurements. Negative correlations were observed (Spearman, p<0.05) between AVsc (logMAR) and CH in the morning and in the evening (rs= -0.48 e rs= -0,51), between E and CH in the morning and in the evening (rs= -0.66 and -0.76), between E and CRF in the morning and in the evening (rs= -0.40 and -0.47), between EE and CH in the morning and in the evening (rs= -0.70 and -0.68), between EE and CRF in the morning and in the evening (rs= -0.41 and -0.46), between ED and CH in the morning and in the evening (rs= 0.64 and -0.54) and between ED and CRF in the morning and in the evening (rs= -0.35 and -0.34). There was a significant negative correlation between the morning measurement of CRF and the variation of defocus equivalent (p = 0.05; rs = -0.30) and the variation of AVsc (p = 0.04; rs = -0.33). Conclusion: More hyperopia was recorded in the morning which was associated with higher compensated pressure (IOPcc) but not with IOPg ten years after RK. Lower biomechanical parameters (CRF e CH) were associated with higher hyperopia and worse visual acuity. A trend was observed for having higher fluctuation on weaker corneas. New studies involving the variables derived from the waveform signals, beyond CH and CRF (derived from the applanation pressures) along with data from corneal tomography and wavefront aberrometry are necessary. Keywords: Keratototmy, radial/adverse effects; Hyperopia; Cornea/physiology; Refractive erros; Visual acuity INTRODUÇÃO A ceratotomia radial (CR ou radial keratotomy – RK) foi introduzida no Brasil em abril de 1981 e, até o advento do excimer laser, correspondeu à técnica cirúrgica mais utilizada para correção da miopia no mundo inteiro.(1,2) Uma média de 250.000 procedimentos de CR ou RK foram realizadas anualmente nos EUA na primeira metade da década de 90.(3) Atualmente, considerando-se a maior previsibilidade, eficácia e segurança do excimer laser, a RK tornou-se um procedimento histórico. Entretanto, devido ao grande número de pacientes submetidos à RK realizadas no passado, é comum nos depararmos com complicações tardias, destacando-se a hipermetropia.(4,8) A hipermetropia após RK pode resultar de uma hipercorreção imediata ou de um efeito contínuo das incisões ao longo do tempo, o que pode ser exacerbado por um aumento da pressão ocular.(9,10) Também podendo estar relacionada com outras alterações fisiológicas do sistema óptico ocular.(11) De forma geral, o paciente jovem compensa a hipermetropia com a acomodação, havendo evolução gradual para hipermetropia manifesta desde a segunda metade da quarta década de vida. Adicionalmente, a flutuação da acuidade visual e do estado refracional durante o dia comumente agrava o estado de hipermetropia tardia, décadas após a realização da RK. Tal fenômeno é reconhecido e ocorre em até 60% dos casos desde o pós-operatório inicial,(12,13) podendo persistir em alguns casos.(14,15) A instabilidade da córnea foi documentada por meio de topografia, cujos índices se relacionaram melhor que a ceratometria central com a flutuação refracional e da acuidade visual não corrigida.(16,17) Há evidências de que a instabilidade da córnea após RK que leva à hipermetropia esteja relacionada com variações da pressão ocular.(17) Em um estudo experimental, alterações induzidas na pressão ocular foram relacionadas com o grau de aplanamento da córnea em coelhos submetidos à RK..(18) Entretanto, dados conflitantes foram encontrados em outros estudos, que falharam em correlacionar as alterações da pressão ocular ao longo do dia, com as variações refracionais e de acuidade visual encontradas.(15,19,20) Nossa hipótese é que a inconsistência nas associ- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 166 Ambrósio Jr R, Silva RS; Lopes K; Valbon B; Luz A; Velarde GC Tabela 1 Tabela 2 Variáveis tabuladas para o estudo Equivalente esférico (EE) e Equivalente desfoco (ED)25 · ID, idade, sexo, ano da realização da RK, olho, número de incisões · Grau Esférico (E), Cilindro (C) e Eixo às 9am · Grau Esférico (E), Cilindro (C) e Eixo às 6pm · Acuidade Visual sem correção (AVsc) e com correção (AVcc) às 9am · Acuidade Visual sem correção (AVsc) e com correção (AVcc) às 6pm · IOPg, IOPcc, CH e CRF às 9am · IOPg, IOPcc, CH e CRF às 6pm · Equivelante Esférico: EE = E + (C/2) Valor esférico (E) somado a metade do cilindro (C), respeitando-se o sinal · Equivalente Desfoco:(26) ED = [EE] + [C/2] Valor absoluto do equivalente esférico (EE) somado a metade do valor absoluto do cilindro Ex: +1,00 = -2,00 x 90º - EE = +1 + (1/2 x (-2)) = +1 – 1 = zero (plano); ED = [zero] + (1/2 x [-2]) = 1 -1,00 = -2,00 x 90º - EE = -1 + (1/2 x (-2)) = -1 – 1 = -2; ED = [-2] + (1/2 x [-2]) = 3 Tabela 3 Média e desvio padrão dos parâmetros que variaram significativamente entre 9am e 6pm (Teste de Wilcoxon*) Parâmetro Grau Esférico (D) Equivalente Esférico (D) Equivalente Desfoco (D) IOPcc (mmHg) IOPg (mmHg) Histerese (mmHg) AVsc (logMAR) Média - 9am Desvio Padrão - 9am Média - 6pm Desvio Padrão - 6pm valor p* 2,49 1,59 2,64 18,92 15,69 9,29 0,56 1,73 1,49 1,53 4,89 1,89 1,89 0,35 1,76 0,89 2,26 16,43 14,16 9,78 0,50 1,72 1,57 1,46 4,43 4,91 1,52 0,33 <0,0001 <0,0001 0,0099 <0,0001 <0,0001 0,0381 0,0205 Tabela 4 Correlações significantes (9am) Equivalente Esférico X CH Coeficiente de Spearman (rs)= (p)= Equivalente Esférico X CRF Coeficiente de Spearman (rs)= (p)= Equivalente Desfoco X CH Coeficiente de Spearman (rs)= (p)= Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 Equivalente Desfoco X CRF -0.7018 Coeficiente de Spearman (rs)= < 0.0001 (p)= Equivalente Esférico x CH -0.4132 Coeficiente de Spearman (rs)= 0.0099 (p)= Equivalente Esféricox CRF -0.6414 Coeficiente de Spearman (rs)= < 0.0001 (p)= -0.3474 0.0325 -0.6613 <0.0001 -0.4044 0.0118 Hipermetropia após ceratotomia radial: flutuação da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde e correlações ... ações entre as variações da hipermetropia e da acuidade visual com a pressão ocular seja atribuída a uma imprecisão na medida da pressão ocular com método considerado como o padrão. Alterações das medidas de tonometria de aplanação de Goldmann (TAG) após cirurgias corneanas são bem reconhecidas.(21) Apesar da RK não determinar alteração da paquimetria, o procedimento determina um impacto biomecânico significativo, o que leva a alterações na medida da TAG, podendo inclusive, influenciar ou dificultar o diagnóstico de glaucoma.22,23 Novos métodos para medida da pressão ocular foram introduzidos no mercado oftalmológico, destacando-se o ORA (Ocular Response Analyzer, Reichert [Depew, EUA]). O ORA mede a pressão intraocular (intraocular pressure – IOP) calibrada para o padrão Goldmann (IOPg) e calcula uma medida da pressão compensada da córnea (IOPcc) a partir de duas medidas que refletem as propriedades viscoelásticas e biomecânicas da córnea: histerese corneana (corneal hysteresis - CH) e o fator de resistência da córnea (corneal resistance factor - CRF).(24) Considerando que o impacto da RK na medida da pressão ocular se dá por alterações nas propriedades biomecânicas da córnea, o estudo destas variáveis é de grande interesse e relevância clínica. O presente estudo tem o objetivo de verificar variações da refração, da acuidade visual, das medidas da pressão ocular e dos parâmetros biomecânicos da córnea medidos com o ORA pela manhã e à tarde, em pacientes operados de ceratotomia radial, que se apresentaram com interesse em retratamento refrativo. Adicionalmente, foram verificadas as correlações entre os parâmetros biomecânicos da córnea (CH e CRF) com a refração, com a acuidade visual e com as variações da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde. MÉTODOS O estudo retrospectivo incluiu 38 olhos de 19 pacientes submetidos à RK há mais de 10 anos, que se apresentaram com interesse em retratamento refrativo. O estudo seguiu os critérios e recomendações da Declaração de Helsinki, e fez parte de um protocolo aprovado pelo comitê de ética para pesquisas em humanos. Todos os pacientes concordaram em participar deste estudo. Os pacientes foram examinados pela manhã (9 am) e à tarde (6 pm), obtendo-se refração esfero-cilíndrica dinâmica (dioptrias [D]), acuidade visual (logMAR) sem correção (AVsc), acuidade visual corrigida (AVcc) e os parâmetros do ORA (mmHg). Exame oftalmológico completo foi realizado em todos 167 os casos. Os dados relevantes ao estudo (Tabela 1) foram tabulados no Excell 97-2003 (Microsoft, EUA). O equivalente esférico (EE) e o equivalente desfoco (ED) foram calculados em dioptrias (D), de acordo com as fórmulas (Tabela 2). Estudos estatísticos foram realizados utilizando-se o BioEstat 5,0 (download gratuito - Instituto Mamirauá, Brasil). Considerando a não distribuição normal das variáveis (teste de Kolmogorov-Smirnov), o teste de Wilcoxon rank sum foi utilizado para verificar diferenças entre as medidas da manhã e as da tarde de cada variável. As médias e os desvios padrão foram calculados para cada variável pela manhã e à tarde. As diferenças entre as medidas da manhã e as da tarde do grau esférico (E), do cilindro (C), do equivalente esférico (EE), do equivalente desfoco (ED) e da acuidade visual corrigida (AVcc) e não corrigida (AVsc) foram calculadas. Considerando a não distribuição normal das variáveis (teste de Kolmogorov-Smirnov), o teste de Spearman foi utilizado para verificar correlações das medidas do ORA pela manhã (CH, CRF, IOPg e IOPcc) com o estado refracional (E, C, EE e ED) e com as medidas de acuidade visual (AVsc e AVcc) pela manhã. As mesmas correlações foram calculadas para as medidas à tarde. O teste de Spearman foi também utilizado para verificar correlações entre as medidas do ORA (IOPcc, IOPg, CH e CRF) pela manhã e à tarde e as variações da refração e da acuidade visual. Significância estatística foi considerada para valores p menores que 0,05. RESULTADOS Observou-se diferença estatisticamente significante no grau esférico (E), equivalente esférico (EE), equivalente desfoco (ED), AVsc, IOPcc e IOPg entre manhã e tarde (Wilcoxon, p<0,05 [Tabela 3]). Vinte e nove dos 38 olhos (76,3%) apresentaram uma diferença do grau esférico pela manhã e a tarde maior que 0,50D; em 12 olhos (38%) esta diferença foi superior a 1D. A pressão compensada (IOPcc) foi maior pela manhã em 33 olhos (87%) e a IOPg, maior pela manhã em 30 olhos (79%). A visão não corrigida foi melhor à tarde em 29 olhos (73%). Apenas dois olhos apresentaram maior hipermetropia na medida da tarde, sendo que em um deles a pressão ocular foi maior à tarde e em outro a pressão não variou. O grau esférico (E) e o equivalente esférico (EE) apresentaram uma redução da hipermetropia durante o Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 168 Ambrósio Jr R, Silva RS; Lopes K; Valbon B; Luz A; Velarde GC Figura 1: Correlações entre IOPcc e equivalente esférico (EE) e equivalente desfoco (ED) Figura 2: Correlações significativas entre equivalente esférico e equivalente desfoco e CH e CRF pela manhã Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 Hipermetropia após ceratotomia radial: flutuação da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde e correlações ... 169 Figura 3: Correlações entre grau esférico (E) e histerese (CH) às 9am e 6pm Figura 4: Correlação entre a diferença do equivalente desfoco e o CRF 9am Figura 5: Correlação entre a diferença da AVsc e o CRF 9am dia (p<0,0001). O grau esférico apresentou redução de 2,49±1,73 para 1,59±1,72. O EE apresentou redução de 1,59±1,49 para 0,89±1,57. O equivalente desfoco reduziu de 2,64±1,53 para 2,26±1,46 (p=0,0099). A média da AVsc melhorou ao longo do dia, de 0,56±0,35 (20/73) para 0,50±0,33 (20/63), o que foi estatisticamente significante (p=0,0205, Tabela 3). O valor do cilindro (C) não variou de forma significativa (p=0,49), bem como o CRF (p=0,57) e a AVcc (p=0,26). A média da acuidade visual corrigida passou de 0,3±0,29 (20/40) para 0,63±0,23 (20/29), mas tal variação não teve significância estatística (p=0,26). Nas medidas pela manhã, observaram-se correlações positivas (Spearman, p<0,05) do EE e do ED com IOPcc (rs=0,39 e 0,34 respectivamente [Figura 1]), mas não com IOPg. Nas medidas da tarde, não houve correlações significantes entre os parâmetros refracionais e os pressóricos. Observaram-se correlações negativas (Spearman, p<0,05) entre o grau esférico (E), equivalente esférico (EE) e equivalente desfoco (ED) e os parâmetros biomecânicos CH e CRF pela manhã (Tabela 4, Figura 2) e à tarde. As maiores correlações foram encontradas entre o grau esférico (E) e CH pela manhã e a tarde (rs= -0,66 e -0,76, Figura 3). Foram encontradas correlações significantes e negativas entre E e CRF pela manhã e à tarde (rs= -0,40 e -0,47), entre EE e CH pela manhã e à tarde (rs= -0,70 e -0,68), entre EE e CRF pela manhã e à tarde (rs= -0,41 e -0,46 ), entre ED e CH pela manhã e a tarde (rs= -0,64 e -0,54) e entre ED e CRF pela manhã e Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 170 Ambrósio Jr R, Silva RS; Lopes K; Valbon B; Luz A; Velarde GC a tarde (rs= -0,35 e -0,34). Observou-se correlação significativa entre a diferença do equivalente desfoco entre manhã e tarde e o CRF medido às 9am (Figura 4). Houve também correlação significativa entre a diferença da acuidade visual sem correção e o CRF medido às 9am (Figura 5). Uma maior variação de mais desfoco e pior AVsc pela manhã foi relacionada com valores de CRF mais baixos. DISCUSSÃO A hipermetropia secundária, que ocorre décadas após RK, é uma complicação relativamente comum (4,6,2729) , que pode ser agravada por instabilidade da córnea e flutuação refracional durante o dia. Neste estudo, observamos uma variação significativa da refração e da acuidade visual entre as medidas da manhã e da tarde, que foi relacionada com propriedades biomecânicas mais baixas da córnea e com maior pressão compensada (IOPcc) em pacientes operados de ceratotomia radial. Ocorre um aumento da incidência e da magnitude da hipermetropia ao longo do período pós-operatório de RK. O Prospective Evaluation of Radial Keratotomy Study (PERK) foi um estudo prospectivo, multicêntrico, composto de nove centros de investigação, que determinou o início de uma era científica para a Cirurgia Refrativa.(5) No estudo PERK, todas as cirurgias foram realizadas com oito incisões, variando-se apenas a profundidade das incisões e a zona óptica (ZO) livre, de acordo com a espessura corneana e a refração do paciente. Os resultados do PERK demostram a tendência de hipermetropização, com 43% dos casos apresentando em 10 anos, um aumento de efeito superior a + 1.00 dioptria.(5) Um determinado grau de hipermetropização é esperado com o envelhecimento,(30) uma vez que há perda progressiva da acomodação. Denomina-se hipermetropia latente o grau compensado pela acomodação e aparece na refração sobre cicloplegia. Com a perda progressiva da acomodação esse grau deixa de ser latente e torna-se facultativo e posteriormente manifesto. Entretanto, no estudo do PERK, além dos olhos submetidos à RK, os olhos contralaterais que não foram submetidos à cirurgia, também foram avaliados e nenhum destes olhos evoluiu com uma alteração de grau acima de 1.00 dioptria em direção à hipermetropia. Adicionalmente, Deitz et al.(4) relataram 54% de hipermetropia com 8 anos de seguimento. Guedes et al.(6) reportaram uma incidência de 42% de hipermetropia Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 164-72 que variou entre +1.00 a +5.75, mais de 10 anos após RK. Tais achados tardios contrastam com o pós-operatório de um ano em que apenas 4,2% dos olhos apresentavam-se hipermétropes(6) . Entre os fatores de risco mais importantes para o processo de hipermetropização tardio após RK, encontra-se ZO menores, maior número de incisões, maior profundidade das incisões, a presença de incisões transversas e menor estroma residual posterior livre da incisão.(4,6) Todas estas características da cirurgia estão relacionadas com um maior trauma nas fibras de colágeno da córnea, o que provoca maior efeito da cirurgia e maior indução de aplanamento e possivelmente de irregularidade.(31) Com isso, quanto maior o impacto biomecânico causado pela cirurgia, maior o aplanamento. Demonstrou-se que a prevenção da hipermetropia é possível se for mantida uma zona periférica livre de incisões.(32) Estudos realizados por Meek et al.(33,35) demonstram que maior resistência biomecânica é conferida às lamelas periféricas da córnea, que apresentam maior reticulação (crosslinking), capacidade natural do colágeno. Neste estudo, parâmetros biomecânicos (CRF e CH) mais baixos foram associados com maior hipermetropia e pior acuidade visual tanto nas medidas pela manhã, como à tarde. Tal fato pode ser relacionado com uma cirurgia que determinou maior alteração e enfraquecimento da córnea, mas também poderia ser explicado por tratar-se de uma córnea “mais fraca” desde o pré-operatório. Resultados insatisfatórios de RK com severa indução de irregularidade e piora da acuidade visual foram reportados em casos de ceratocone.(38,37) Entretanto, nenhum estudo foi capaz de verificar se há correlação independente da espessura pré-operatória com a hipermetropia após RK. Adicionalmente, não eram disponíveis metodologias mais sofisticadas para estudo tomográfico (38,39) ou biomecânico(24,40) da córnea no pré-operatorio de RK. De qualquer forma, sendo o estado biomecânico mais fraco causado pela RK ou a razão da hipercorreção da RK, o presente estudo identifica diversas correlações negativas entre o grau esférico (E), equivalente esférico (EE) e equivalente desfoco (ED) e os parâmetros biomecânicos CH e CRF. Ou seja, quanto maior o grau de hipermetropia, menores o CH e CRF. Com isso, contundentemente podemos afirmar que, para o momento atual, existe uma associação entre o estado biomecânico mais fraco com o grau de hipermetropia. Observou-se nas medidas pela manhã, correlações positivas entre o estado refracional (EE e ED) e a Hipermetropia após ceratotomia radial: flutuação da refração e da acuidade visual entre manhã e tarde e correlações ... pressão compensada da córnea (IOPcc). Tal observação corrobora com o conceito de que a instabilidade da córnea após RK esteja relacionada com variações da pressão ocular.(17) É importante notar que não houve correlações com a IOPg. Tais achados suportam nossa hipótese de que a inconsistência nas associações entre as variações da hipermetropia e da pressão ocular, observada em alguns estudos,(15) está relacionada com alterações das medidas de tonometria de aplanação de Goldmann (TAG) após RK. A IOPcc é uma medida que considera a resposta viscoelástica da córnea para gerar um valor pressórico menos influenciado pela estrutura corneana,(24) o que reduz o impacto das alterações da córnea após cirurgias nesta medida da pressão.(41) Nas medidas da tarde, não houve correlações significantes entre os parâmetros refracionais e os pressóricos, o que pode ser explicada pela redução significativa encontrada da pressão ocular ao longo do dia, o que reduz a influência da pressão no estado refracional. Não se observou correlação entre a flutuação (diferenças entre manhã e tarde) no grau esférico e no equivalente esférico e CH e CRF. Entretanto, houve associação entre a variação do equivalente desfoco e o CRF medido pela manhã. Esta tendência de haver maior flutuação relacionada com córneas mais fracas biomecanicamente, merece novos estudos envolvendo parâmetros biomecânicos mais avançados, como os derivados do sinal do ORA. Existem 38 novas variáveis derivadas do sinal de reflexo da córnea durante o exame do ORA*, além dos parâmetros CH e CRF, que são derivados das pressões de aplanamento do ORA. Adicionalmente, variáveis topográficas, tomográficas da córnea e de aberrometria total devem ser estudadas. A flutuação refracional juntamente com o estado biomecânico da córnea e a pressão ocular devem ser considerados individualmente em pacientes submetidos à RK, com interesse em retratamento refrativo. Tais variáveis são também importantes no caso de se considerar cirurgia de catarata.(42-44) O aplanamento da córnea pode ser acentuado no pós-operatório imediato, levando a uma relativa surpresa hipermetrópica transitória. Tal fenômeno ocorre devido ao edema corneano juntamente com a possível hipertensão ocular. O maior conhecimento sobre as variáveis biomecânicas e do impacto da pressão ocular sobre a flutuação da córnea abre definitivamente um novo horizonte para entender os achados clínicos e personalizar tratamentos neste complexo grupo de pacientes. 171 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Radial keratotomy for myopia. American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 1993;100(7):1103-15. Rowsey JJ, Morley WA. Surgical correction of moderate myopia: which method should you choose? I. Radial keratotomy will always have a place. Surv Ophthalmol. 1998;43(2):147-56. Leaming DV. Practice styles and preferences of ASCRS members—1993 survey. J Cataract Refract Surg. 1994;20(4):459-67. Deitz MR, Sanders DR, Raanan MG. Progressive hyperopia in radial keratotomy. Long-term follow-up of diamond-knife and metal-blade series. Ophthalmology. 1986;93(10):1284-9. Waring GO 3rd, Lynn MJ, McDonnell PJ. 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Autor para Correspondência: Dr. Renato Ambrósio Jr Rua Conde de Bonfim, 211/712 CEP 20520-050 - Tijuca – Rio de Janeiro (RJ), Brasil Telefone: (21) 2234-4233; (21) 2274- 5694; (21) 7892-2131 e-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 173 Características e deficiências dos programas de pós-graduação em oftalmologia no Brasil segundo pós-graduandos participantes Caracteristics and deficiencies of ophthalmology residency programs in Brazil: residents evaluation Camila Vieira Oliveira Carvalho Ventura1, Mirela Luna Santana Gomes2, Bruna Vieira Oliveira Carvalho Ventura3, Liana Oliveira Ventura4, Carlos Teixeira Brandt5 RESUMO Objetivo: Analisar a percepção dos pós-graduandos participantes quanto à qualidade dos cursos lato sensu de oftalmologia do Brasil e apontar as áreas que necessitam melhorias. Métodos: Realizou-se um estudo transversal e descritivo com 107 pós-graduandos de oftalmologia de cursos credenciados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e/ou Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Avaliou-se através de questionário as preceptorias (clínica, cirúrgica e emergência), as necessidades de melhoria curricular, aulas teóricas, cirurgias experimentais, atividades cirúrgicas e infraestrutura das instituições participantes. Resultados: Vinte e seis pós-graduandos (24,3%) estudavam em instituições credenciadas pelo MEC, 25 (23,4%) pelo CBO e 56 (52,3%) pelo CBO e MEC. A qualidade da preceptoria clínica, cirúrgica e na emergência mostrou-se satisfatória (86,0%, 87,0% e 67,3% respectivamente). As preceptorias clínica, cirúrgica e na emergência estiveram presentes em todos os turnos em 55,1%, 56,1% e 36,4%, respectivamente. A maioria dos alunos deseja maior oferta de cirurgias experimentais (75,7%), melhoria de recursos para o ensino (63,6%), dos equipamentos (74,8%) e das instalações físicas (67,3%). Conclusão: As variáveis analisadas foram similares nos serviços credenciados pelo MEC, CBO e por ambos. A qualidade das preceptorias nos serviços era satisfatória, embora não eram presenciais em todos os turnos em várias instituições. Os alunos sugeriram um aumento do volume cirúrgico e de cirurgias experimentais e melhoria na infraestrutura. Descritores: Programas de pós-graduação em Saúde; Treinamento; Oftalmologia/educação; Currículo; Internato e Residência 1 Médica, aluna do primeiro ano do Curso de Especialização em Oftalmologia da Fundação Altino Ventura - FAV - Recife (PE), Brasil; Médica, aluna do terceiro ano do Curso de Especialização em Oftalmologia da Fundação Altino Ventura Fundação Altino Ventura FAV - Recife (PE), Brasil; 3 Médica, aluna do segundo ano do Curso de Especialização em Oftalmologia Fundação Altino Ventura - FAV - Recife (PE), Brasil; 4 Departamento de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo do Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE); Fundação Altino Ventura FAV - Recife (PE), Brasil; 5 Coordenador da pós-graduação da UFPE. Coordenador do Departamento de Investigação Cientifica da Fundação Altino Ventura FAV - Recife ( PE), Brasil. 2 Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 18/5/2011 - Aceito para publicação em 15/9/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 174 Ventura CVOC, Gomes MLS, Ventura BVOC, Ventura LO, Carlos Teixeira Brandt CT ABSTRACT Purpose: Analyze residents’ perception on ophthalmology training in Brazil by classifying the quality of attendings’ supervision. Also, identify areas that need better investment.Methods: This was a descriptive and transversal study that analyzed residents’ opinion about Brazilian institutions accredited by the Ministry of Education and Culture (MEC) or by the Brazilian Council of Ophthalmology (CBO) or by both. A multiple-choice survey was applied to 107 residents to evaluate attendings’ (clinical, surgical and in the emergency room) supervision, and the need of improvement in different areas such as, curriculum, amount/quality of surgical procedures, wetlabs and infrastructure. Results: Twenty-six residents (24.3%) were from institutions accredited by MEC, 25 (23.4%) by CBO, and 56 (52.3%) by both, MEC and CBO. Attendings’ supervision quality was considered satisfactory during surgeries (86,0%), clinical examinations (87,0%) and in the emergency room (67.3%). Full-time supervision was present in these departments in 55.1%, 56.1%, and 36.4%, respectively. Wetlabs, resources, equipments, and physical facilities were pointed as areas that need investment in 75.7%, 63.6%, 74.8%, and 67.3%, respectively. Conclusion: This study showed no statistical relevance between the different institutions’ accreditation and the variables analyzed. In general, direct supervision in Brazilian institutions is satisfactory, although many are not full-time. Residents suggested increasing the number of surgeries and wetlabs, and investing in the institutions’ infrastructure. Keywords: Health Postgraduate Programs; Training; Ophthalmology/education; Curriculum; Internship and Residency INTRODUÇÃO A oftalmologia, especialidade clínico-cirúrgica adquiriu sua autonomia como entidade médica em meados de 1950, quando a educação e a prática oftalmológica e otorrinolaringológica se distinguiram.(1-3) O ensino da oftalmologia nos Estados Unidos (EUA) segue critérios específicos determinados pelo Conselho de Acreditação para Educação em Graduação Médica (ACGME), que visa uma padronização curricular e um sistema de avaliação das residências médicas. Há pouco menos de quatro anos, esse currículo passou a obedecer a seis competências gerais, incluindo o cuidado ao paciente, conhecimento médico, profissionalismo, comunicação, habilidade interpessoal e o sistema de aprendizagem (systems-based learning). Desde 1978, as Residências Médicas americanas são rigorosamente controladas pelo Comitê de Revisão de Residência (RRC), que para a subespecialidade da oftalmologia é composta por nove membros da American Board of Ophthalmology, American Academy of Ophthalmology e American Medical Association.(4-8) No Canadá, os programas de pós-graduação são reconhecidos internacionalmente pelos seus altos padrões, sendo credenciados e regulamentados pelo Royal College of Physicians and Surgeons of Canada (RCPSC), que segue as diretrizes do International Council of Ophthalmology (ICO).(9) Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 No Brasil, existem dois órgãos independentes responsáveis pelo credenciamento e supervisão dos cursos de pós-graduação Lato Sensu em oftalmologia: a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a Associação Médica Brasileira (AMB) através do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Ambas têm como atribuições a educação continuada, através de eventos científicos e a padronização do ensino oftalmológico nos cursos credenciados. O CBO, através da sua comissão de ensino organiza a Prova Nacional de Oftalmologia, concedendo aos aprovados o Título de Especialista em Oftalmologia. Tal competência era exclusividade do CBO até a década de oitenta, quando o MEC oficialmente adquiriu esta autonomia.(10-11) Nos últimos tempos, os órgãos de credenciamento têm buscado um aperfeiçoamento e unificação do currículo nas instituições de ensino em oftalmologia com o objetivo de uniformizar a qualidade do ensino no país, acompanhar os avanços tecnológicos, sem perder o padrão de uma medicina humanizada.(12,13) Informações básicas para a construção do conhecimento e subsídios como recursos humanos e infraestrutura para a boa formação do profissional em oftalmologia vem sendo discutidos amplamente.(7,14-16) Objetivou-se nesse estudo analisar a qualidade dos cursos de oftalmologia no Brasil, com foco maior no suporte ao ensino durante a pós-graduação e as áreas que necessitam melhorias nas instituições de ensino no Brasil, levando em consideração a opinião dos pós- Características e deficiências dos programas de pós-graduação em oftalmologia no Brasil segundo pós-graduandos participantes 175 graduandos, uma vez que não foi encontrado nenhum trabalho brasileiro, até o momento, com esse enfoque. MÉTODOS Realizou-se um estudo observacional e analítico baseado nas respostas dos questionários fechados aplicados aos pós-graduandos de oftalmologia do curso de residência médica credenciados pelo MEC e aos do curso de especialização credenciados pelo CBO. A coleta de dados foi realizada durante o XVIII Congresso Brasileiro de Prevenção a Cegueira e Reabilitação Visual realizado em Florianópolis em 2008. O questionário era composto de 22 perguntas com dados de identificação (idade, instituição onde cursava a pós-graduação, credenciamento da instituição, localização); avaliação quantitativa e qualitativa concernentes à percepção dos alunos quanto às preceptorias (clínica, cirúrgica e emergência oftalmológica) nas instituições; necessidades de melhoria curricular; aulas teóricas; cirurgias experimentais; atividades cirúrgicas; e infraestrutura (biblioteca/internet, equipamentos e instalações físicas). O estudo teve a participação de 107 oftalmologistas em formação, que cursavam do primeiro ao terceiro ano, em 45 instituições brasileiras, sendo seu preenchimento voluntário e anônimo. Para fins analíticos, os dados foram divididos em três grupos de acordo com a instituição a qual o aluno estava vinculado: CBO; MEC; CBO e MEC. Considerou-se como qualidade de preceptoria satisfatória, aquela em que o aluno qualificou como excelente/boa e insatisfatória a classificada como regular/ausente. O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Fundação Altino Ventura. Os alunos dos cursos de pós-graduação em oftalmologia foram orientados quanto à natureza do estudo e convidados a participar do mesmo, procedendo à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os resultados foram expressos por suas frequências absolutas e relativas, sendo realizado uma análise através do teste Qui-quadrado. RESULTADOS Cento e sete questionários preenchidos pelos pósgraduandos atenderam aos critérios adotados para este estudo. A idade dos participantes variou de 24 a 33 anos, com média de 26,8 ± 1,9 anos. Vinte e seis pós-graduandos Figura 1: Distribuição regional por frequência das instituições brasileiras de ensino em oftalmologia (24,3%) estudavam em instituições de ensino da oftalmologia credenciadas pelo MEC, 25 (23,4%) pelo CBO e 56 (52,3%) pelo CBO e MEC. A maior concentração dos alunos estudava em cursos da região sudeste do Brasil (53,5%) (Figura 1). Os alunos referiram preceptoria clínica presencial em 105 (98,1%) serviços, estando presentes em todos os turnos (manhã e tarde) em 59 (55,1%) das instituições avaliadas. A qualidade da preceptoria clínica mostrouse satisfatória na opinião de 92 (86,0%) pós-graduandos. Preceptoria cirúrgica foi referida em 100 (93,5%) instituições, atuando de forma presencial em todos os turnos (manhã e tarde) em 60 (56,1%) dos serviços, com qualidade satisfatória em 93 (87,0%). Não houve diferença estatisticamente significante de frequência dos alunos credenciados pelo CBO, MEC e CBO e MEC em relação a presença de preceptoria clínica, em todos os turnos e a sua qualidade (teste de Qui-quadrado p-valor= 0,5723; 0,9189 e 0,2584, respectivamente). Tal tendência também foi verificada na preceptoria cirúrgica (teste Qui-quadrado, p=0,5784, p=0,4519 e p=0,6304, respectivamente) (Tabelas 1 e 2) Preceptoria nas emergências oftalmológicas esteve presente em 70 (65,4%) instituições, não havendo preceptoria em todos os turnos em 68 (63,6%) serviços, especialmente naqueles credenciados pelo CBO (72,0%) e pelo CBO e MEC (62,5%). Esta preceptoria foi apontada como de menor qualidade, especialmente nas instituições credenciadas pelo MEC, onde 11 (42,3%) foi classificada como insatisfatória. Não houve diferença estatisticamente significante entre os órgãos de credenciamento (CBO, MEC e CBO e MEC) em relação a presença de preceptoria na emergência, em todos os turnos e a sua qualidade (teste Qui-quadrado p= 0,6304, p= 0,5537 e p=0,3757) (Tabela 3). Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 176 Ventura CVOC, Gomes MLS, Ventura BVOC, Ventura LO, Carlos Teixeira Brandt CT Tabela 1 Distribuição das informações dos pós-graduandos quanto à preceptoria clínica segundo a instituição de credenciamento (CBO, MEC, CBO e MEC) por frequência Presença da Preceptoria Clínica Sim n CBO MEC MEC e CBO Total p-valor Não % 24 26 55 105 Todos os turnos Sim n % n 96,0 1 100,0 0 98,2 1 98,1 2 0,5723 4,0 0,0 1,8 1,9 13 15 31 59 Qualidade Não % n % 52,0 12 57,7 11 55,4 25 55,1 48 0,9189 48,0 42,3 44,6 44,9 Satisfatório n % 19 23 50 92 Insatisfatório n % 76,0 6 88,5 3 89,3 6 86,0 15 0,2584 24,0 11,5 10,7 14,0 Tabela 2 Distribuição das informações dos pós-graduandos quanto à preceptoria cirúrgica segundo a instituição de credenciamento (CBO, MEC, CBO e MEC) por frequência Presença da Preceptoria Clínica Sim n CBO MEC MEC e CBO Total p-valor Não % 24 25 51 100 Todos os turnos Sim n % n 96,0 1 96,2 1 91,0 5 93,5 7 0,5784 4,0 3,8 9,0 6,5 12 17 31 60 Qualidade Não % n 48,0 13 65,4 9 55,4 25 56,1 47 0,4519 Satisfatório % n 52,0 34,6 44,6 43,9 21 24 48 93 % Insatisfatório n 84,0 4 92,4 2 85,8 8 87,0 14 0,6304 % 16,0 7,6 14,2 13,0 Tabela 3 Distribuição das informações dos pós-graduandos quanto à preceptoria da emergência segundo a instituição de credenciamento (CBO, MEC, CBO e MEC) por frequência Presença da Preceptoria Clínica Sim n CBO MEC MEC e CBO Total p-valor 17 15 38 70 Todos os turnos Não % n 68,0 8 57,7 11 67,9 18 65,4 37 0,6354 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 Sim % n 32,0 2,3 32,1 34,6 7 11 21 39 Qualidade Não % n 28,0 18 42,3 15 37,5 35 36,4 68 0,5537 Satisfatório % n 72,0 57,7 62,5 63,6 19 15 38 72 % Insatisfatório n 76,0 6 57,7 11 67,9 18 67,3 35 0,3757 % 24,0 42,3 32,1 32,7 Características e deficiências dos programas de pós-graduação em oftalmologia no Brasil segundo pós-graduandos participantes 177 Tabela 4 Distribuição das necessidades de aperfeiçoamento curricular segundo a instituição de credenciamento (CBO, MEC, CBO e MEC) por frequência Currículo Sim n CBO MEC MEC e CBO Total p-valor % 15 14 33 62 Aulas teóricas Não n 60,0 10 53,8 12 58,9 23 57,9 45 0,8848 Maior quantidade Menor Maior quantidade e quantidade melhores preceptores % n % n 40,0 46,2 41,1 42,1 9 7 32 48 36,0 26,9 57,1 44,9 3 3 1 7 % 12,0 11,6 1,8 6,5 0,1543 Cirurgias Experimentais Maior quantidade n CBO MEC MEC e CBO Total p-valor 21 20 40 81 n 84,0 4 76,9 6 71,4 16 75,7 26 0,4693 n % n % 3 9 7 19 12,0 34,6 12,5 17,8 10 7 16 33 40,0 26,9 28,6 30,8 Atividades cirúrgicas Satisfatório % Outras Mais quantidade Menos quantidade Maior quantidade e melhores preceptores % n % n % n 16,0 23,1 28,6 24,3 18 17 36 71 72,0 65,4 64,3 66,4 0 1 2 3 0,0 3,8 3,6 2,8 4 6 7 17 0,6475 Outros % n % 16,0 23,1 12,5 15,9 3 2 11 16 12,0 7,7 19,6 15,0 Tabela 5 Distribuição das necessidades de melhoria na infraestrutura segundo a instituição de credenciamento (CBO, MEC, CBO e MEC) por frequência Internet / Biblioteca Necessidade n CBO MEC MEC e CBO Total p-valor 17 16 35 68 % Equipamentos Satisfatório n 68,0 8 61,5 10 62,5 21 63,6 39 0,8668 Necessidade % n % 32,0 38,5 37,5 36,4 19 20 41 80 76,0 76,9 73,2 74,8 Os alunos revelaram uma necessidade de melhoria do conteúdo nuclear programático do currículo na maioria das instituições avaliadas, não havendo significância estatística entre o tipo do credenciamento (teste Qui-quadrado p= 0,8848). Foi sugerido pelos alunos maior quantidade de aulas teóricas em 48 (44,9%) dos casos e maior volume cirúrgico em 71 (66,4%) (Tabela 4). Maior necessidade de cirurgias experimentais foi sugerida por 81 alunos (75,7%), especialmente nas ins- Instalações Físicas Satisfatório n % 6 24,0 6 23,1 15 26,8 27 25,2 0,925 Necessidade n % 17 18 37 72 68,0 69,2 66,0 67,3 Satisfatório n 8 8 19 35 0,957 % 32,0 30,8 34,0 32,7 tituições credenciadas pelo CBO (84,0%), entretanto não houve significância estatística entre os grupos estudados (teste Qui-quadrado p=0,4693). Além disso, melhoria de recursos para o ensino (biblioteca / internet) foi indicada por 68 alunos (63,6%), dos equipamentos e instalações físicas por 80 (74,8%) e 72 (67,3%) alunos, respectivamente (Tabela 4). Não houve significância estatística entre o órgão de credenciamento e as infraestruturas analisadas (teste Qui-quadrado, p= 0,8668, p= 0,925 e p=0,957, respectivamente) (Tabela 5). Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 178 Ventura CVOC, Gomes MLS, Ventura BVOC, Ventura LO, Carlos Teixeira Brandt CT DISCUSSÃO O papel de assegurar a formação de oftalmologistas éticos, competentes, habilidosos e preparados para o mercado de trabalho tem sido um compromisso constante dos cursos de pós-graduação em oftalmologia do Brasil. Estudos recentes demonstram a importância da valorização da perspectiva dos pós-graduandos quanto ao ensino da oftalmologia.(2,5,9,12) O presente estudo foi realizado com este objetivo. Ofereceu-se a oportunidade para que alunos de pós-graduação pudessem avaliar a qualidade e recomendar melhorias para o currículo e infraestrutura das instituições. Em 1983, havia no país 32 cursos credenciados pelo CBO e 30 pelo MEC.(13) Nos últimos anos, tem se observado um grande aumento da oferta de cursos de pós-graduação em oftalmologia, tanto pelas instituições credenciadas pelo MEC (87), quanto pelas credenciadas pelo CBO (50), sendo que 42 instituições estão credenciadas pelos dois órgãos (MEC e CBO).(10,17) Uma explicação plausível para este crescimento deve-se a necessidade de suprir um país tão populoso, considerado o quinto maior do mundo em termo de dimensões.(18) Entretanto, este crescimento não tem seguido uma distribuição regional homogênea, o que é compatível com os dados obtidos da amostra estudada, onde o sudeste concentrou a maior frequência dos pós-graduandos credenciados pelo MEC (52,87%), CBO (58,82%) e por ambos os órgãos simultaneamente (61,9%).(19) A oferta e distribuição de serviços credenciados pelo CBO ou pelo MEC para o ensino da oftalmologia no país deve ser visto com cautela, no sentido de promover um ensino de qualidade. Verificou-se que existe uma fragmentação na supervisão e credenciamento nos cursos de pós-graduação em oftalmologia do Brasil, devendo haver um maior intercâmbio entre o CBO e a CNRM.(11) Os dados obtidos no presente estudo também demonstram que na percepção do aluno existe a necessidade de uma melhoria na qualidade do ensino da oftalmologia do Brasil, tanto nas instituições credenciadas pelo CBO quanto pelo MEC. Alguns serviços não oferecem preceptoria clínica, cirúrgica e na emergência oftalmológica em todos os turnos, falhando também quanto à qualidade do ensino prestado. Estes fatores podem causar sérios prejuízos na curva de aprendizado do médico ainda em formação, por isso o investimento nos recursos humanos deve ser prioridade nas instituições, pois são responsáveis pela transmissão do conhecimento e sua deficiência pode repercutir negativamente na soci- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 edade, gerando profissionais inseguros na conduta de seus pacientes.(3,7-9,12) A necessidade de melhoria do conteúdo nuclear programático foi constatada anteriormente, onde mais de 20% dos cursos não possuíam disciplina de histologia, patologia, imunologia, farmacologia, microbiologia, cirurgia experimental em seus programas.(13) Neste estudo, a maioria dos alunos manifestou o desejo de ter maior acesso a cirurgias experimentais (75,7%) e realizar maior volume cirúrgico (66,4%). A habilidade cirúrgica individual exerce uma importante influência no desempenho profissional, entretanto a prática cirúrgica experimental aliada a um maior número de procedimentos realizados sob supervisão minimiza as taxas de complicações operatórias.(9,20) Melhor infraestrutura das instituições de ensino (equipamentos, acervo da biblioteca, acesso a internet e melhores instalações físicas), pode minimizar de forma significativa as diferenças da saúde ocular da população dos países em desenvolvimento.(12) Preocupados em oferecer um ensino de qualidade, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou a resolução 1785/2006 da Comissão Mista de Especialidades (CME), composta pela CFM, AMB e a CNRM, onde foram instituídas normas orientadoras e reguladoras para a padronização das residências médicas de cada especialidade quanto ao currículo.(21) Com esta visão, o CBO, através da comissão de ensino, tem realizado fóruns para os diretores dos 50 cursos credenciados do país.(10) A meta desses fóruns é padronizar um currículo mínimo, obtido com a cooperação das sociedades de cada subespecialidade afiliadas ao CBO. Este currículo deve atender aos critérios internacionais e ao mesmo tempo se adequar à realidade brasileira. O ensino da oftalmologia nos EUA e Canadá, seguem os critérios determinados pelo RRC e RCPSC, respectivamente.(4-9) Programas virtuais como o “Medical Resident Progress Notebook (RPN)” e o “Surgical RPN” utilizados nos EUA podem ser uma poderosa ferramenta na tentativa de padronização curricular entre os cursos, permitindo uma integração entre as instituições, além de ser fonte complementar de disciplinas básicas dentro da oftalmologia.(11,13) CONCLUSÃO As variáveis analisadas foram similares nos serviços credenciados pelo MEC, CBO e por ambos. Em geral, as instituições oferecem as preceptorias (clínica, cirúrgica e na emergência) de qualidade Características e deficiências dos programas de pós-graduação em oftalmologia no Brasil segundo pós-graduandos participantes 179 satisfatória, no entanto nem todas são presenciais em todos os turnos. A maioria dos pós-graduandos sugeriu um aumento do volume cirúrgico e do número de cirurgias experimentais, melhoria na infraestrutura, dos equipamentos e instalações físicas. Este estudo é de grande impacto na área do ensino e pode contribuir para a formação de novas políticas de ensino na sociedade brasileira de oftalmologia. REFERÊNCIAS 1. Truhlsen SM. The American Academy of Ophthalmology. In: Albert DM, Edward DD, editors. The history of ophthalmology. Cambridge: Blackwell Science; 1996. p.323-58. 2. Pankratz MJ, Helveston EM. Ophthalmology. The resident’s perspective. Arch Ophthalmol. 1992;110(1):37-43. 3. Liesegang TJ, Hoskins HD Jr, Albert DM, O’Day DM, Spivey BE, Sadun AA, et al. Ophthalmic education: where have we come from, and where are we going? Am J Ophthalmol. 2003;136(1):114-21. Review. 4. Lee AG, Beaver HA, Greenlee E, Oetting TA, Boldt HC, Olson R, et al. Teaching and assessing systems-based competency in ophthalmology residency training programs. 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Endereço para Correspondência: Fundação Altino Ventura – FAV Rua da Soledade, nº 170, Boa Vista CEP 50070-040 - Recife (PE), Brasil Fone: (81)3302-4300 E-mail: [email protected] [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 173-9 ARTIGO ORIGINAL 180 Periocular basal cell carcinoma: cost of topical immunotherapy versus estimated cost of surgical treatment Carcinoma basocelular periocular: custo da imunoterapia tópica versus custo estimado do tratamento cirúrgico Erick Marcet Santiago de Macedo1, Rachel Camargo Carneiro1, Pedro Carlos Carricondo2, Suzana Matayoshi3 ABSTRACT Purpose: The objective of this study was to compare the estimated cost of clinical and surgical treatment for basl cell carcinoma of the eyelid. Methods: This was a pilot study of 12 patients with basal cell carcinoma receiving treatment with 5% imiquimod cream at the ocular plastic surgery center, medical school University of São Paulo (HC-FMUSP, Brazil). The cost of clinical treatment was estimated based on the time of treatment and amount of medication consumed by patients in the home setting. The cost of surgical treatment was estimated by ophthalmologists with experience in reconstructive plastic surgery based on analysis of images of the same patients. Surgeons responded to a questionnaire with four questions about surgical technique, surgical materials required, estimated duration of surgery and type of anesthesia.Results: Immunotherapy lasted from 8 to 12 weeks. All patients reported each coldstored sachet with 5% imiquimod cream lasted 3 days. According to the institution, a box with 12 sachets costs BRL 480.00. Patients required 1.58-3.11 boxes for complete treatment, corresponding to a total cost of BRL 758.401,492.80. Based on image analysis, surgeons evaluated surgery would require 1-3 hours. The estimated cost of surgery room and staff was BRL 263.00, to which the cost of supplies was added. Thus, the total cost of surgical treatment was BRL 272.61-864.82. On the average, immunotherapy was 57,64% more costly than surgical treatment. Conclusions: Malignant eyelid tumors are a common finding in clinical ophthalmology. Surgery is still the treatment of choice at our institution, but immunotherapy with 5% imiquimod cream may be indicated for patients with multiple lesions or high surgical risk and for patients declining surgery for reasons of fear or esthetic concerns. The ability to estimate costs related to the treatment of malignant eyelid tumors is an important aid in the financial planning of health care institutions. Further studies should evaluate the possibility of institutions equating the cost of immunotherapy and surgical treatment by acquiring similar but less expensive medications. Keywords: Carcinoma, basal cell carcinoma/surgery; Carcinoma, basal cell /economy; Carcinoma, basal cell carcinoma/drug therapy; Eyelid neoplasms; Antineoplastic agents/therapeutic use; Biopsy; Health care costs 1 Department of Ophthalmology, Hospital das Clínicas, Medical School, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brazil; Department of Ophthalmology, Hospital das Clínicas, Medical School, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brazil; 3 Department of Ophthalmology, Hospital das Clínicas, Medical School, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brazil; 2 Study conducted at the Ocular Plastic Surgery Center, Department of Ophthalmology, Hospital das Clínicas, Medical School, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brazil. Clinical Trials.gov Identifier: NCT00803907 Apoio do CNPq - processo n° 480144/2008-7 Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 2/11/2011 - Aceito para publicação em 2/3/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 180-3 Periocular basal cell carcinoma: cost of topical immunotherapy versus estimated cost of surgical treatment 181 RESUMO Objetivo: O objetivo deste estudo foi comparar os custos do tratamento clínico e cirúrgico para carcinoma basocelular palpebral. Método: Neste estudo piloto, doze pacientes com carcinoma basocelular atendidos no departamento de Plástica Ocular do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) foram tratados com imiquimode creme 5%. O Custo do tratamento clínico foi estimado baseado no tempo de tratamento e quantidade de medicação utilizada pelo paciente no domicilio. O custo do tratamento cirúrgico foi baseado na análise das imagens dos mesmos pacientes submetidos ao tratamento clínico, por Oftalmologistas experientes em cirurgia plástica reconstrutiva. Os profissionais responderam um questionário com quatro perguntas relacionadas à técnica cirúrgica, à quantidade de material gasto, ao tempo cirúrgico estimado e anestesia utilizada. Resultados: O tempo de tratamento clínico variou entre 8 a 12 semanas. Todos os pacientes referem que um sachê dura 3 dias e armazenaram na geladeira. O valor informado pela instituição na compra do imiquimode creme 5% foi de 40,00 reais/sachê, portanto o custo da caixa medicação foi de R$ 480,00 a caixa. A média de caixas consumidas por tratamento variou de 1,58 a 3,11 caixas, portanto o custo do tratamento clínico variou de R$ 758,40 a R$1.492,80. Os cirurgiões avaliaram as imagens dos pacientes submetidos ao tratamento clínico e informaram que o tempo estimado de cirurgia para cada paciente seria de 1 a 3 horas se a opção fosse cirúrgica. Foi estimado um custo de centro cirúrgico, incluindo espaço físico e pessoal de R$ 263,00 ao qual foi acrescido o valor do material que seria utilizado. Assim, observou-se que o valor variou entre R$ 272,61 a R$ 864,82 para o tratamento cirúrgico. O tratamento clínico em média foi de 57,64% superior ao tratamento cirúrgico. Conclusão: As lesões palpebrais malignas são responsáveis por uma porção importante na prática clínica oftalmológica. A cirurgia continua sendo o padrão ouro em nossa instituição, porém casos em que a cirurgia não é uma opção, como pacientes com alto risco cirúrgico, aqueles com múltiplas lesões ou que se negam a cirurgia, seja por fobia ou motivo estético, podemos lançar mão de terapias alternativas como a imunoterapia com o imiquimode creme 5%. Conhecer a estimativa dos custos relacionados ao tratamento dessa patologia é fundamental para o planejamento financeiro das instituições. A instituição com a possibilidade de aquisição de uma mesma medicação com valor mais acessível permitiria equilibrar o custo do tratamento clínico com o cirúrgico e deverão ser avaliados em trabalhos futuros Descritores: Carcinoma basocelular/cirurgia; Carcinoma basocelular/economia Carcinoma basocelular/ quimioterapia; Neoplasias palpebrais; Antineoplásicos/uso terapêutico; Biópsia; Custos de cuidados de saúde INTRODUCTION B asal cell carcinoma (BCC) is the most common type of periocular neoplasm, with an annual incidence of 10%.(1) In the periocular area, BCC currently represents 20% of all tumors and 90% of neoplasms.2 The increasing incidence makes it urgent to evaluate treatment costs and financial impacts on public health system. Considered reliable and effective, surgical excision with safety margins, followed by primary reconstruction of the affected area, is the standard treatment for periocular BCC.(3) However, the periocular region is difficult to manage, requiring special surgical techniques to avoid damage to eyelid function. In addition, surgical treatment often involves the removal of a large amount of tissue in detriment of the patient’s appearance.(4) Several alternative therapies have been proposed to help patients with contraindication for conventional treatment. One of these, immunotherapy with 5% imiquimod cream, has been widely tested and found to be efficacious in the treatment of BCC.(5-7)It is supposed to be costly, but an economic evaluation, with a cost-outcome analysis, is necessary to estimate the actual contribution of this procedure in skin cancer treatment, in comparison with the reference procedure, ie traditional surgical excIt is supposed to be costly, but an economic evaluation, with a cost-outcome analysis, is necessary to estimate the actual contribution of this procedure in skin cancer treatment, in comparison with the reference procedure, ie traditional surgical excision. Few studies have compared the cost-effectiveness of surgical and clinical treatment for superficial BCC. Exceptions include a study on patients with BCC in the lower limbs8 and a study comparing dermatological and non-dermatological services.(9) However, no previous study compared the cost of clinical and surgical treatment of BCC in the periocular area. METHODS This pilot study, conducted at the Ocular Plastic Surgery Center (HC-FMUSP, Brazil), involved 12 patients with periocular lesions meeting the inclusion criteria for treatment with 5% imiquimod cream. All lesions were nodular BCC confirmed by 2-mm punch biopsy. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 180-3 182 Macedo EMS, Carneiro RC, Carricondo PC, Matayoshi S Table 1 Cost of clinical treatment versus estimated cost of surgical treatment for periocular basal cell carcinoma Patient Size of lesion(mm) Boxes (12 sachets) of 5% imiquimod cream consumed Cost of clinical treatment in BRL* Estimated cost of surgical treatment in BRL 1 2 3 4 5 6 7 8 11 x 8 11 x 10 11 x 9 19 x 11 12.5 x 5 27 x 10 5x5 5x5 1.58 2.33 2.33 2.52 3.11 2.33 1.58 2.72 758.40 1,118.40 1,118.40 1,209.60 1,492.80 1,118.40 758.40 1,305.60 594.54 864.80 601.04 601.04 502.77 543.81 272.61 272.61 (*)According to the institution, in 2008/2009 the cost of a box with 12 sachets of 5% imiquimod cream was BRL 480.00 Table 2 Estimated cost in BRL of surgery room and staff at the Ocular Plastic Surgery Center (HC-FMUSP) Breakdown Human resources Facilities Depreciation of equipment Total Month Day Hour Minute 34,337.25 4,885.00 200.00 39,422.25 2,376.86 244.25 16.67 2,637.78 237.69 24.43 1.67 263.79 3.96 0.41 0.03 4.40 Inclusion criteria - Periocular basal cell carcinoma confirmed by biopsy; - Clinical contraindication for surgical intervention; - Refusal to submit to surgery for aesthetic or psychological reasons; - Signing of informed consent form. Exclusion criteria - Previous treatment (in case of recurrence); - Age under 12 years; - Pregnancy or breastfeeding; - Autoimmune disorder or previous inflammatory disease; - Immunodepression. The cost of clinical treatment was estimated based on the time of treatment and amount of medication used by patients in the home setting. The cost of surgical treatment was estimated by ophthalmologists with experience in reconstructive plastic surgery based on analysis of images of the same Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 180-3 patients. Surgeons were given a questionnaire with four questions about surgical technique, surgical materials required, estimated duration of surgery and type of anesthesia. RESULTS Immunotherapy lasted from 8 to 16 weeks 8. Patients reported that each cold-stored sachet with 5% imiquimod cream lasted 3 days. According to the institution, in 2008/2009 the cost of one sachet was BRL 40.00 (BRL 480.00 for a box with 12 sachets). Patients required 1.58–3.11 boxes for complete treatment, corresponding to a total cost of BRL 758.40– 1,492.80 (Table 1). Based on image analysis, surgeons estimated surgery would require 1–3 hours. Based on earlier studies from the same institution, 9,10 the cost of surgery room and staff was estimated to be BRL 263.00, to which the cost of supplies was added (Table 2). Thus, the total cost of surgical treatment was BRL 272.61–864.82. On the average, immunotherapy was 57.64% more costly than surgical treatment. Periocular basal cell carcinoma: cost of topical immunotherapy versus estimated cost of surgical treatment DISCUSSION Malignant eyelid tumors constitute an important part of clinical ophthalmology. At our institution, surgery is still the treatment of choice, except in patients with high surgical risk, multiple lesions or refusal to submit to surgery for aesthetic or psychological reasons. Such patients may opt for immunotherapy with 5% imiquimod cream. Knowledge of treatment costs is an essential subsidy to the financial planning of health care institutions. Aguilar et al. evaluated the cost of treatment for superficial BCC in the lower limbs. Surgery was found to be more costly, but also more efficacious, than clinical treatment.(11) Vanaclocha et al. evaluated the cost-effectiveness of treatment of superficial BCC using surgical excision or 5% imiquimod cream at dermatological and nondermatological services and found that clinical treatment reduced patient cost compared to surgery.(12) In addition, the cost was higher at non-dermatological services due to more expensive surgical procedures and postoperative care. Surgical treatment was less costly in our study than in the literature. However, the duration of surgery and need of supplies may have been underestimated by the fact that estimates were based on image analysis. Nevertheless, we believe that even if corrected for this difference, surgery would still be significantly less expensive than immunotherapy, especially in view of the low fixed labor costs of Brazilian public institutions. The cost of clinical treatment was similar to what has been reported from other countries, but prolonged treatment would be financially unfeasible in the context of Brazilian public health care. The possibility of reducing clinical cost to the level of surgical cost through bulk purchase of less expensive but equivalent brands of medication might be explored in future studies. 183 5. Gupta AK, Browne M, Bluhm R. Imiquimod: a review. J Cutan Med Surg. 2002;6(6):554-60. 6. Peris K, Campione E, Micantonio T, Marulli GC, Fargnoli MC, Chimenti S. Imiquimod treatment of superficial and nodular basal cell carcinoma: 12-week open-label trial. Dermatol Surg. 2005;31(3):318-23. 7. Schön MP, Schön M. 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Vanaclocha F, Daudén E, Badía X, Guillén C, Conejo-Mir JS, Sainz de Los Terreros M, Hamel L, Llorens MA; HEIS Study Group. Cost-effectiveness of treatment of superficial basal cell carcinoma: surgical excision vs. imiquimod 5% cream. Br J Dermatol. 2007;156(4):769-71. Corresponding author: Erick Marcet Santiago de Macedo Rua Dr. Veiga Filho, n° 207, apto. 59, CEP 01229-001 - São Paulo, (SP), Brazil e-mail: [email protected] REFERENCES 1. 2. 3. 4. Wong CS, Strange RC, Lear JT. Basal cell carcinoma. BMJ. 2003;327(7418):794-8. Review. Allali J, D’Hermies F, Renard G. Basal cell carcinomas of the eyelids. Ophthalmologica. 2005;219(2):57-71. Review. Cook BE Jr, Bartley GB. Treatment options and future prospects for the management of eyelid malignancies: an evidence-based update. Ophthalmology. 2001;108(11):2088-98; quiz 2099-100, 2121. Hamada S, Kersey T, Thaller VT. Eyelid basal cell carcinoma: non-Mohs excision, repair, and outcome. Br J Ophthalmol. 2005;89(8):992-4. 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Descritores: Diplopia/induzido quimicamente; Toxinas botulínicas tipo A/efeitos adversos; Relatos de casos ABSTRACT Report of 4 patients referred to the Orthoptics Service of this Hospital, who presented diplopia after the injection of botulinic toxin type A for facial rejuvenation.When measuring the angle of the strabismus in the diagnostic positions, all of the patients presented paralitical micro strabismus, two of them due to inferior oblique paresisand the other two due to lateral rectus paresis. Based on the cases described, we advise the professionals that make use of BTA for facial rejuvenation to be aware of diplopia as a complication. Keywords: Diplopia/chemically induced; Botulinic toxins, type A/adverse effects; Case reports 1 2 Hospital Ver-Excelência em Oftalmologia – Goiânia (GO), Brasil; Departamento de Plastica Ocular e Vias Lacrimais do Hospital Ver-Excelência em Oftalmologia – Goiânia (GO), Brasil. Trabalho realizado no VER - Excelência em Oftalmologia, Goiânia(GO), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 18/11/2010 - Aceito para publicação em 27/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 184-7 Diplopia após injeção de toxina botulínica tipo A para rejuvenescimento facial INTRODUÇÃO A toxina botulínica tipo A (TxBA) tem sido amplamente usada para melhora das linhas faciais de expressão hipercinéticas nos últimos anos. Acompanhando o aumento exponencial do uso da TxBA para fins estéticos, houve também o aumento de complicações do uso desta(1). Dor no local de injeção, edema e equimose podem ocorrer, e geralmente são dependentes da técnica utilizada e não devem ser consideradas como complicações(2). Encontramos na literatura apenas um relato de 3 casos de diplopia associada ao uso cosmético da TxBA para rejuvenescimento facial na Inglaterra em 2006(3). Em nosso relato, descrevemos quatro pacientes que apresentaram queixa de diplopia após a aplicação de TxBA para rejuvenescimento facial entre os anos de 2007 e 2010. Relato de casos Entre os anos de 2007 e 2010 foi encaminhado ao Departamento de Ortóptica do Hospital Ver para realização de teste ortóptico, quatro pacientes que apresentaram queixa de diplopia alguns dias após a injeção de TxBA na face para fins de rejuvenescimento. As pacientes apresentavam, no momento do exame, a queixa de diplopia sem estrabismo aparente e, somente após a realização do teste de cobertura alternado nas diversas posições diagnósticas do olhar foi constatado estrabismo de pequeno ângulo com incomitância. As duas primeiras pacientes não foram entrevistadas, pois não foram localizadas. As duas últimas pacientes, que fizeram o exame no mês de abril de 2010, foram contatadas três semanas após o teste ortóptico e participaram de uma entrevista semidirigida. As perguntas realizadas, assim como as respostas estão na Tabela 1. 185 Exame clínico Acuidade visual: 1,0 em cada olho; Posição anômala de cabeça: mantinha o queixo elevado; Teste de cobertura simples e alternado com prisma em 9 posições diagnósticas à distância de 4 m: ET4D ET8D HTE6D orto ET6D, HTE 2D HTE4D orto E2D orto ET= esotropia, E= esoforia, HTE= hipertropia esquerda, O= ortotropia Teste de cobertura simples e alternado com prisma em posição primária para perto: ortofórica; Hipótese diagnóstica: paresia de músculo oblíquo inferior direito. Caso 2 Idade: 35 anos; Sexo: feminino; Data do exame ortóptico: abril de 2008; Queixa principal: visão distorcida há 15 dias; História da doença atual: cinco dias após a injeção da TxBA; História patológica pregressa: Nega diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, trauma craniano e outros sintomas associados; Exame clínico Acuidade visual: 1,0 em cada olho; Posição anômala de cabeça: não utilizava; Teste de cobertura simples e alternado com prisma em 9 posições diagnósticas à distância de 4m; HTD6D HTD4D HTD2D ORTO ORTO ORTO ORTO ORTO ORTO HTD= hipertropia direita, O= ortotropia Caso 1 Idade: 42 anos; Sexo: feminino; Data do exame ortóptico: janeiro de 2007; Queixa principal: “visão dupla” há 25 dias; História da doença atual: Chegou a consulta relacionando a injeção com a diplopia, iniciada 5 dias após a injeção da toxina botulínica; História patológica pregressa: Nega diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, trauma craniano e outros sintomas associados. Hipótese diagnóstica: paresia de músculo oblíquo inferior esquerdo. Caso 3 Idade: 60 anos; Sexo: feminino; Data do exame ortóptico: abril de 2010; Queixa principal: “visão dupla” há uma semana. História da doença atual: chegou ao exame relacionando a injeção com a diplopia, cinco dias após a Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 184-7 186 Rassi MMO, Santos LHB TABELA 1 Perguntas realizadas às pacientes casos III e IV (as do caso I e II não foram localizadas na época deste trabalho). Perguntas: 1) Quantos dias após a aplicação da TxBA você começou a ter visão dupla? 2) Voce massageou o local de aplicação após a injeção? 3) Foi realizado o mesmo procedimento estético na face no mesmo dia? 4) Foi a primeira vez que você recebeu injeção de TxBA? 5)Voce fez uso dos óculos com prismas que foram recomendados? 6) Quantos dias após o inicio da visão dupla, você passou a enxergar único? Caso III Caso IV Pergunta 1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 4 Pergunta 5 Pergunta 6 Cinco dias Cinco dias Não Não Não Preenchimento labial Sim Não Sim Sim 29 dias 25 dias injeção de toxina botulínica; História patológica pregressa: Nega diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, trauma craniano e outros sintomas associados. Exame clínico Acuidade visual: 1,0 em cada olho; Posição anômala de cabeça: não utilizava; Teste de cobertura simples e alternado com prisma em 9 posições diagnósticas à distância de 4m; ET6D ET12D ET 12D E(T)6D ET 6D E(T)12D ET12D E(T)12D ET 12D ET= esotropia Teste de cobertura simples e alternado com prisma em posição primária para perto: E’6D (E= esoforia); Hipótese diagnóstica: paresia de músculos reto laterais. Caso 4 Idade: 46 anos; Sexo: feminino; Data do exame ortóptico: abril de 2010; Queixa principal: “visão dupla” há três dias; História da doença atual: aplicação de toxina botulínica na face há oito dias e após três dias iniciou a diplopia. História patológica pregressa: usa ansiolítico (não se lembra qual); Exame clínico Acuidade visual: 1,0 em cada olho; Posição anômala de cabeça: não utilizava; Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 184-7 Teste de cobertura simples e alternado com prisma em 9 posições diagnósticas à distância de 4m; ET6D ET6D ET 6D E(T)6D E(T)6D E(T)6D ET6D ET 6D ET 6D ET= esotropia, E (T)= esotropia intermitente Teste de cobertura alternado com prisma em posição primária para perto: ortofórico; Hipótese diagnóstica: paresia de músculos retos laterais; DISCUSSÃO A literatura relata casos de diplopia em pacientes que receberam aplicação de TxBA para distonia muscular(4) e para tratamento do estrabismo. Entretanto, encontramos um único relato de diplopia após injeção da TxBA para fins de rejuvenescimento facial(3). Estes autores relatam 3 casos de diplopia nos quais um foi devido à paresia de oblíquo inferior de um olho e outros dois de paresia bilateral de oblíquo inferior. Estes autores sugerem que no termo de consentimento assinado pelo paciente seja incluída a diplopia como um efeito colateral. As participantes do nosso relato encontram-se na faixa etária entre 35 e 60 anos. Três apresentaram a queixa de diplopia, sem estrabismo aparente, cerca de cinco dias após o uso de TxBA com fins estéticos. Uma apresentou queixa de visão distorcida. Nas medidas de ângulo do estrabismo em posições diagnósticas todas apresentaram micro estrabismo paralítico, sendo duas por déficit da função do músculo oblíquo inferior e duas por déficit de função de músculo reto lateral. A provável Diplopia após injeção de toxina botulínica tipo A para rejuvenescimento facial explicação para a paresia do músculo oblíquo inferior seria a migração da toxina aplicada na glabela, visto que a inserção do músculo oblíquo inferior ocorre em uma pequena depressão logo atrás da rima orbitária lateral ao ducto lacrimal. Já para a paresia do músculo reto lateral, a explicação seria a migração da toxina aplicada nas rugas periorbitárias (pés-de-galinha) visto a proximidade anatômica deste músculo com a região tratada com a toxina. Nenhum dos médicos oftalmologistas que nos encaminharam estas pacientes atribuíram o diagnóstico etiológico à complicação do uso da TxBA, entretanto três pacientes suspeitavam dessa relação e, uma, confirmou a intervenção estética somente após ter sido perguntada na anamnese. As duas pacientes entrevistadas afirmaram ter sido a primeira aplicação de toxina botulínica que receberam. A visão dupla iniciou cinco dias após as injeções, não massagearam o local e a diplopia desapareceu aos 29 e 25 dias, respectivamente. Não podemos precisar as causas da diplopia como complicação da injeção da toxina para rejuvenescimento facial. Dentre as causas possíveis estão: local errado de aplicação, volumes aplicados acima do necessário que leva a uma maior difusão da toxina, ou defeito do septo orbitário que permitiria a toxina de alcançar os músculos extraoculares(3) ou ainda a falta de orientação dada ao paciente quanto aos cuidados nas primeiras quatro horas após a injeção (não massagear o local, para evitar a migração da toxina para lugares indesejáveis). Observamos que tanto os médicos que fazem uso da TxBA, como aqueles que recebem o paciente com a queixa de “visão dupla” têm pouco conhecimento desta complicação no uso da TxBA para fins estéticos. Baseado nisto, pensamos que o pequeno número de pacientes apresentados neste estudo não represente a real frequência desta complicação. Ao escolher o melhor método para o alívio da diplopia, devemos levar em consideração o incômodo que a queixa visual está causando na rotina do paciente. Observando que o desaparecimento da diplopia se deu em menos de 30 dias, sugerimos que a oclusão é mais indicada que os prismas. Baseados nos casos descritos acima aconselha-se aos profissionais que fazem uso desta toxina para fins estéticos que considerem a possibilidade desta complicação, e que no termo de consentimento assinado pelo paciente seja incluída a diplopia como um possível efei- 187 to colateral(3). Aos profissionais oftalmologistas e neurologistas que avaliam pacientes adultos saudáveis, do sexo feminino, acima de 35 anos, com queixa de visão dupla, de origem súbita e sem estrabismo aparente, envolvendo paresia de músculos reto lateral e/ou oblíquo inferior, sem que possa determinar a causa, sugere-se que fiquem atentos à historia recente de injeção de TxBA para fins de rejuvenescimento facial. Cabe a ele fazer todos os exames necessários para determinar a causa da diplopia, e uma vez que esta esteja relacionada ao uso da TxBA, tranqüilizar o paciente quanto à duração dos sintomas. CONCLUSÃO Baseados nos casos descritos acima, aconselhamos aos profissionais que fazem uso desta toxina para fins de rejuvenescimento que estejam atentos para a diplopia como efeito colateral. Ressaltamos aqui a necessidade futura de uma investigação mais ampla, inclusive com uma casuística maior, para que possamos determinar com precisão as verdadeiras causas da diplopia quando associada à TxBA para fins estéticos, evitandose assim esta complicação. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Klein AW. Complications, adverse reactions, and insights with the use of botulinum toxin. Dermatol Surg. 2003;29(5):54956; discussion 556. Vartanian AJ, Dayan SH. Complications of botulinum toxin A use in facial rejuvenation. Facial Plast Surg Clin North Am. 2005;13(1):1-10. Aristodemou P, Watt L, Baldwin C, Hugkulstone C. Diplopia associated with the cosmetic use of botulinum toxin A for facial rejuvenation. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2006;22(2):134-6. Wutthiphan S, Kowal L, O´Day J, Jones S, Price J. Diplopia following subcutaneous injections of botulinum A toxin for facial spasms. J Pediatr Ophthalmol Strabismus. 1997;34(4):229-34. Autor para correspondência Dr. Lucas Henrique Barbosa dos Santos Avenida Americano do Brasil, nº 260, Setor Marista CEP 74180-010 – Goiania (GO), Brasil Fax: (62) 3096-9696 Email: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 184-7 RELATO 188 DE CASO Síndrome de Down: epidemiologia e alterações oftalmológicas Down syndrome: epidemiology and ophthalmologic changes Silvia Helena Tavares Lorena1 RESUMO Objetivo: O objetivo do projeto de pesquisa é determinar a incidência das alterações oftalmológicas de crianças com a Síndrome de Down, as quais foram atendidas no Ambulatório de Especialidades Jardim Peri-Peri, no período de 7 de julho 2004 a 14 de outubro de 2009. Métodos: Neste trabalho empregou-se um estudo observacional retrospectivo dos prontuários de 35 crianças com Síndrome de Down, 15 do sexo feminino e 20 do masculino, da raça branca e com 2 meses de idade. Os pacientes, no período em estudo, foram submetidos à avaliação oftalmológica que incluiu: -inspeção ocular; retinoscopia; biomicroscopia; mapeamento de Retina; teste de Milder; teste de observação da fluoresceína na orofaringe (TOFO). Resultados: As crianças deste estudo foram examinadas desde 2 meses de idade e acompanhadas anualmente. As alterações oftalmológicas encontradas nas 35 crianças com a Síndrome de Down foram: fissura palpebral oblíqua em 100%, epicanto em 70%, vasos supranumerários nas arcadas ao exame de mapeamento de retina em 100%,manchas de Brushfield em 48,57% ,blefarite em 42,85%, obstrução da via lacrimal excretora em 25,71%, miopia em 14,28%, astigmatismo em 14,28%, ambliopia em 2,85%, estrabismo convergente em 11,42%, estrabismo divergente em 5,71%, nistagmo em 2,85%, ectrópio em 5,71%, catarata congênita em 2,85%. Conclusão: Neste trabalho verificou-se a alta incidência de patologias oftalmológicas em crianças com a síndrome de Down, tais como: blefarites, obstrução da via lacrimal excretora, erros refracionais, estrabismos e catarata etc. As alterações oftalmológicas são muito importantes para alertar os pais das crianças com síndrome de Down, quanto ao seu tratamento precoce proporcionando melhora na acuidade visual e no desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças. Descritores: Síndrome de Down/complicações; Oftalmopatias/epidemiologia; Anormalidades do olho ABSTRACT Purpose: The research project goal is to determine the incidence of ophthalmologic changes in children with Down syndrome who were attended in Peri-Peri Health Center, from july 07, 2004 to october 14, 2009. Methods: This is an observational retrospective study of 35 children medical records with Down’s Syndrome who were attended in Peri-Peri Health Center. The patients were submitted to ophthalmologic exams including: ocular inspection; retinoscopy; biomicroscopy; indirect ophthalmoscopy; fluorescein disappearance test; observation test of fluorescein in the oropharynx. Results: The children of this study were examined since 2 months of age. The ophthalmologic changes found in the 35 children with Down Syndrome was: oblique eyelid in 100%, epicanto in 70%, supernumerary vessels in the arcades in the retina exam in 100%, Brushfield spot in 48.57%, blefarity in 42.85%, congenital lacrimal obstruction in 25.71%, miopy in 14.28%, astigmatismy in 22.28%, esotropia in 11.42%, exotropia in 5.71%, nystagmus in 2.85%, ectropion in 5.71% and congenital cataract in 2.85%. Conclusion: This study found a lot of ophthalmologic diseases in children with Down’s syndrome: blefarity, congenital nasolacrimal duct obstruction, etc. Therefore the follow-up of these children is very relevant. Keywords: Down syndrome/physiopathology; Eye diseases/epidemiology; Eye abnormalities 1 Ambulatório Municipal de Especialidades Jardim Peri-Peri. São Paulo (SP), Brasil Trabalho realizado no Ambulatório Municipal de Especialidades Jardim Peri-Peri – São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 30/11/2010 - Aceito para publicação em 27/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 188-90 Síndrome de Down: epidemiologia e alterações oftalmológicas INTRODUÇÃO A Síndrome de Down foi descrita em 1866 por um médico britânico: John Langdon Down. A síndrome é também denominada de Trissomia do Cromossomo 21.(1) O diagnóstico desta síndrome é realizado através da cariotipagem cromossômica, que pode ser realizada durante a gestação, por análise citogenética das vilosidades coriônicas ou células do líquido amniótico.(2-4) No Brasil a incidência desta síndrome é de 1,13:1000 nascidos vivos.(5) O aconselhamento se faz mister, pois pais de crianças com a Síndrome de Down, têm risco aumentado desta síndrome na prole futura.(6-9) As alterações oftalmológicas encontradas na Síndrome de Down por ordem de frequência são: fendas palpebrais estreitas e oblíquas, epicanto, ametropias (alta miopia), anomalias de íris (manchas de Brushfield), estrabismo, blefarite, obstrução das vias lacrimais excretoras, alterações retinianas, ambliopia, nistagmo, catarata, ceratocone, eversão congênita das pálpebras superiores, ectrópio ou entrópio das pálpebras, euribléfaro.(8-14) O objetivo do projeto de pesquisa é determinar a incidência das alterações oftalmológicas de crianças com a Síndrome de Down, atendidas no Ambulatório de Especialidades Jardim Peri-Peri, no período de 7 de julho 2004 a 14 de outubro de 2009. MÉTODOS Estudo observacional retrospectivo dos prontuários de 35 crianças, 15 do sexo feminino e 20 do sexo masculino com Síndrome de Down, todos da raça branca e com 2 meses de idade, atendidos no Ambulatório de Especialidades Jardim Peri-Peri, no período de 7 de julho 2004 a 14 de outubro de 2009. Os pacientes, no período em estudo, foram submetidos à avaliação oftalmológica que incluiu: -Inspeção ocular; -Retinoscopia; -Biomicroscopia; -Mapeamento de retina; -Teste de Milder; -Teste de observação da fluoresceína na orofaringe (TOFO). A inspeção ocular foi realizada com a finalidade de diagnosticar: estrabismo, as más posições palpebrais (ectrópio, entrópio) e dacriocistite crônica. 189 A biomicroscopia foi realizada a fim de detectar alguma patologia externa ocular (blefarite, conjuntivite, etc). A retinoscopia foi realizada com régua de esquiascopia sob dilatação com midriático, objetivando diagnosticar ametropias (miopia, astigmatismo, etc). A oftalmoscopia binocular indireta foi realizada, após a dilatação das pupilas, utilizando-se colírios de tropicamida a 1% e fenilefrina a 2,5%, uma gota em cada olho, com intervalo de 5 minutos, por 3 vezes, cerca de 40 minutos antes do exame. A oftalmoscopia binocular indireta foi realizada com lente de 20 dioptrias. -Teste do desaparecimento da fluoresceína (Teste de Milder) -Teste de observação da fluoresceína na orofaringe (TOFO ) RESULTADOS As alterações oftalmológicas encontradas nas 35 crianças com a Síndrome de Down foram: fissura palpebral oblíqua em 100%, epicanto em 70%, vasos supranumerários nas arcadas ao exame de mapeamento de retina em 100%, blefarite em 42,85%, obstrução da via lacrimal excretora em 25,71%, miopia em 14,28%, astigmatismo em 22,85%, hipermetropia em 20%,emétropes em 42,85%, esotropia em 11,42%, exotropia em 5,71%, nistagmo em 2,85%, ectrópio em 5,71%, catarata congênita em 2,85%, manchas de Brushfield em 48,57. A catarata congênita ocorreu em 2,85% das crianças examinadas. Neste trabalho, a incidência de ectrópio correspondeu à 5,71% e a obstrução da via lacrimal excretora obteve uma incidência de 27,27% . As principais alterações oculares na síndrome de Down deste trabalho como: fissura oblíqua (35 crianças), obstrução lacrimal congênita (30 crianças), manchas de Brushfield (17 crianças), blefarite (15 crianças), miopia (5 crianças), esotropia (4 crianças) estão representadas no Gráfico 1. DISCUSSÃO Segundo a literatura(10) é grande a incidência de fissura palpebral oblíqua (98%) e o epicanto convencional (61%) em crianças com a Síndrome de Down, o que é também constatado com as crianças deste estudo. Os Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 188-90 190 Lorena SHT achados de blefarite em 42,85% das crianças examinadas corrobora com a literatura que mostra incidência em torno de 30%.(8) Nesta casuística, o tipo de estrabismo mais frequente foi a esotropia, o que condiz com a literatura.(8) O vício refracional mais frequente, neste trabalho, foi o astigmatismo com 22,85%, seguido da hipermetropia com 20% e miopia com 14,28%, correspondendo com a literatura.(8) Segundo a literatura(6,7,10), os vasos supranumerários nas arcadas são patognomônico desta síndrome, o que condiz com os achados no mapeamento de retina das crianças deste trabalho. A endostatina representa uma proteína codificada no cromossomo 21, sendo um potente inibidor da angiogênese, inibindo a proliferação das células endoteliais e de migração. A redução da angiogênese sistêmica por alto nível de endostatina em indivíduos com síndrome de Down são responsáveis pela ramificação de vasos da retina central. A incidência de nistagmo na literatura (10) corresponde a 6%, outros estudos(8) apontam 18%. Neste presente estudo, a incidência de nistagmo correspondeu a 2,8%, muito abaixo da porcentagem descrita na literatura devido ao menor número de indivíduos estudados. As manchas de Brushfield foram observadas em 48,57% das crianças examinadas, embora a literatura afirme que as manchas desaparecem no primeiro ano de vida, a alta incidência é devido ao fato destas crianças terem sido examinadas a partir de 2 meses de idade.(8) A catarata congênita ocorreu em 2,85% das crianças examinadas, porém segundo a literatura sua incidência é em torno de 13% das crianças, ocorrendo mais comumente em maiores de 12 anos.(8) Neste trabalho, a incidência de ectrópio correspondeu a 5,71%, o que confirma os dados da literatura , a qual afirma que o ectrópio congênito é mais frequente em crianças com a Síndrome de Down devido à associação com a flacidez ligamentar.(12) A obstrução da via lacrimal excretora obteve uma incidência de 27,27%, correspondendo com os dados da literatura.(8) REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Catalano RA. Down syndrome. Surv Ophthalmol. 1990;34(5):385-98. Review. Cullen JF. Blindness in mongolism (Down’s syndrome). Br J Ophthalmol. 1963;47:331-3. Nussbaum RL, McInnes RR, Huntington FW. Thompson & Thompson genética médica. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 188-90 Gráfico1 Principais alterações oftalmológicas na síndrome de Down encontradas neste trabalho 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Smith DW. Síndromes de malformações congênitas: aspectos genéticos, embriológicos e clínicos. 3a ed. São Paulo: Manole; 1985. Frota-Pessoa O, Otto PA, Otto PG. Mongolismo. In: FrotaPessoa O, Otto PA, Otto PG, editores. Genética clínica. São Paulo: Francisco Alves; 1987. p. 143-567. Parsa CF, Almer Z. Supranumerary optic disc vessels may indicate reduced systemic angiogenesis in Down syndrome. Br J Ophthalmol. 2008;92(3):432-3. Jaeger EA. Ocular findings in Down’s syndrome. Trans Am Ophthalmol Soc. 1980;78:808-45. Cunha RN, Moreira JB. Manifestações oculares em crianças e adolescentes com Síndrome de Down. Arq Bras Oftalmol. 1995;58(3):152-7. Matayoshi S, Sardinha M, Cozac AL, Araf D, Moura EM. Síndrome de Down e alterações de vias lacrimais. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(4):481-4. Fimiani F, Iovine A, Carelli R, Pansini M, Sebastio G, Magli A. Incidence of ocular pathologies in Italian children with Down syndrome. Eur J Ophthalmol. 2007;17(5):817-22. Shapiro MB, France TD. The ocular features of Down’s syndrome. Am J Ophthalmol. 1985;99(6):659-63. Shiratori CA, Komatsu MC, Schellini SA, Cvintal T. Ectrópio palpebral em portador da síndrome de Down e conjuntivite alérgica: relato de caso. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(4):706-8. Kanski JJ. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 5a. ed. Rio de janeiro: Elsevier; 2004. Botelho PBM, Marback P, Sousa LB, Campos M, Vieira LA. Ceratoconjuntivite alérgica e complicações do segmento ocular anterior de pacientes. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(1):25-8. Endereço para correspondência Silvia Helena Tavares Lorena Rua Flórida,1404 - Brooklin CEP 04561-030 - São Paulo (SP), Brasil Fone:(11) 5507-2705 E-mail: [email protected] RELATO DE CASO191 Atrofia de íris após tratamento estético facial com luz intensa pulsada Iris atrophy after aesthetic treatment with intense pulsed light Ângelo Ferreira Passos1, Daniele Fioroti Borges2 RESUMO Relato de um caso de complicação ocular, em consequência do uso de luz intensa pulsada, para tratamento facial cosmético. A lesão consistiu em atrofia iriana no setor temporal, com grande área de transiluminação, sinéquias posteriores, deformidade e redução da dilatação pupilar. O objetivo é alertar para os riscos do procedimento para os olhos, caso não sejam tomadas as medidas adequadas de proteção ocular. Descritores: Terapia a laser/efeitos adversos; Iris/lesões; Irite; Transiluminação; Atrofia; Relatos de casos ABSTRACT The authors report a case of ocular complication, following Intense Pulsed Light for cosmetic facial treatment. The lesion was iris atrophy with a large transilumination area, posterior synechiae, deformity and reduced dilation of the pupil, on the temporal side. The aim is to alert for the risk of ocular lesion related to this procedure, if adequate measures to protect the eyes are not taken. Keywords: Laser therapy/adverse effects; Iris/injuries; Irite; Transilumination; Atrophy; Case reports 1 Universidade Federal do Espírito Santo – UFES - Vitória (ES), Brasil; Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes - Vitória (ES), Brasil; 2 Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes – Vitória (ES), Brasil. Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES - Vitória (ES), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 19/12/2010 - Aceito para publicação em 28/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 191-3 192 Passos AF, Borges DF INTRODUÇÃO A procura por tratamentos para rejuvenescimento vem crescendo, aumentando o número de procedimentos a laser, já que este é uma boa opção terapêutica, por ser pouco invasivo, de rápida execução e recuperação além de ter bons resultados.(1) O Laser já tem seus benefícios definidos no tratamento de vários problemas, como despigmentação, alteração da textura da pele, rugas, telangiectasias e remoção de pelos.(1,2) Outra fonte de luz comumente utilizada e com os mesmos benefícios é a Luz Intensa Pulsada (Intense Pulsed Light - IPL), que utiliza um feixe de luz não coerente, com comprimento de onda que varia de 500 – 1200 nm, dependendo do tratamento a ser realizado.(3) Com o aumento do número de procedimentos utilizando IPL, observou-se também a elevação do número de efeitos adversos. Na maioria das vezes, esses são transitórios, como dor, eritema, vesículas ou crostas superficiais, nos sítios de tratamento, podendo haver também hipo ou hiperpigmentação.(4) O objetivo desse artigo é relatar a ocorrência de um caso de lesão ocular definitiva relacionado ao uso do IPL, alertando para a necessidade de medidas adequadas de proteção. Foram encontrados apenas dois relatos na literatura de lesão semelhante, causada por este tipo de tratamento. Relato do caso Paciente do sexo feminino, branca, de 45 anos, atendida em consulta de rotina, em abril de 2010, com histórico de que, há oito meses, havia sido submetida a tratamento estético dermatológico facial, inclusive na região em torno dos olhos com laser. Relatou que, algumas horas após o tratamento, apresentou quadro de forte dor ocular e turvação visual, sendo que esses sintomas eram mais proeminentes no olho esquerdo. Na ocasião, foi medicada por especialista, tendo sido prescritos analgésicos e medicação tópica, que não soube precisar. O quadro ocular persistiu por alguns dias, mas não houve retorno ao médico para reavaliação. O tratamento realizado foi IPL, com o equipamento Harmony, Alma Lasers Ltd., Israel. Utilizou-se o comprimento de onda de 690 nm, sem uso de proteção ocular. Durante consulta de rotina, informou acuidade visual de 20/20 em ambos olhos, com correção de +2.25 esférico, e J1 com adição de +1.50. Ao exame biomicroscópico apresentava, no olho esquerdo, conjuntiva e córnea sem alterações, câmara anterior sem reação, atrofia iriana temporal, mais intensa na porção Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 191-3 ciliar que na pupilar, estendendo-se aproximadamente de 1:00 às 3:00 horas. O defeito era caracterizado por intensa transiluminação iriana, denotando acentuada lesão do epitélio pigmentário (Figura 1). Havia sinéquias posteriores e a pupila apresentava discreta irregularidade, com significativa redução da mobilidade e da dilatação na área correspondente à lesão. Por outro lado, a superfície anterior da íris não apresentava lesão aparente, sugerindo que não tinha ocorrido alteração significativa no estroma (Figura 2). Não foram observadas alterações no cristalino. Fundoscopia em ambos olhos apresentava papila fisiológica, sem alterações na retina do polo posterior e da periferia. A paciente informava que passou a apresentar fotofobia após ter sido submetida ao tratamento com IPL. DISCUSSÃO A IPL é uma forma não invasiva de tratamento rejuvenescedor, atuando não só em tecidos pigmentados, como também em lesões vasculares, como as telangiectasias. O método também é utilizado para depilação.(1,2) O equipamento de IPL emite amplo espectro de luz, com comprimentos de onda que variam de 500 a 1200 nanômetros, em pulsos curtos.(5) Diferentes tecidos absorvem diferentes comprimentos de onda. Por isso, filtros são utilizados na tentativa de selecionar o comprimento de onda ideal para o tecido ou lesão a ser tratada. O intervalo entre os pulsos também é ajustado, para manter a área tratada aquecida e diminuir o dano às estruturas vizinhas.(3) A íris possui grande quantidade de pigmento e absorve amplo espectro de comprimentos de onda (faixa de 400-750 nm), o que a torna uma estrutura extremamente vulnerável ao IPL.(3) Assim, se for atingida, pode apresentar inflamação, atrofia, perda de pigmento, transiluminação, sinéquias e distorção pupilar,(1,3) com alteração da dilatação. A disfunção iriana pode resultar em aumento da fotossensibilidade, lacrimejamento, diminuição da percepção de contraste, dificuldade de adaptação ao claro-escuro e glare.(3) A paciente em questão queixava-se de fotofobia. O caso do presente relato se refere a uma lesão ocular típica por IPL, tendo em vista sua semelhança com lesões comprovadamente causadas pelo mesmo tipo de tratamento.(1,3) O comprimento de onda utilizado foi de 690 nm e, portanto, dentro do espectro absorvido pela íris.(3) Foram encontrados dois relatos de caso com le- Atrofia de íris após tratamento estético facial com luz intensa pulsada 193 Figura 1: Atrofia no setor temporal da íris do olho esquerdo, com sinéquias, irregularidade da borda e limitação da dilatação pupilar, na área correspondente à atrofia Figura 2: Estroma superficial da íris do olho esquerdo, sem alterações evidentes à biomicroscopia são iriana em consequência de tratamento dermatológico pelo IPL, sendo um deles unilateral(3) e o outro bilateral.(1) No presente caso, como nos outros dois encontrados, houve lesão setorial da íris, com deformidade pupilar e redução localizada da dilatação pupilar, por sinéquias e atrofia iriana, mais evidente no epitélio pigmentário, mas podendo também ter ocorrido lesão muscular. Também, como nos outros casos relatados, não foram observadas outras alterações oculares, como catarata e glaucoma, que poderiam ter ocorrido, dependendo do grau de queimadura e inflamação intraocular. No presente caso, a íris era clara, com forte tonalidade azul, e, portanto, com menos pigmento no estroma, fato que pode ter minimizado a lesão dessa camada. A paciente era acompanhada desde 1992, por um dos autores do presente relato (AFP), e antes da constatação da referida lesão, em abril de 2010, havia sido examinada em abril de 2008. Nesse intervalo, além do episódio relacionado com o citado tratamento, nega qualquer tipo de evento ocular, assim como alterações sistêmicas ou oculares, ou antecedentes de qualquer natureza que pudessem justificar a lesão iriana. A ocorrência de mais esse caso de complicação ocular pelo uso da IPL confirma a necessidade de que esse tipo de tratamento seja realizado não apenas por pessoal treinado e habilitado(6), mas consciente dos riscos. Para prevenção de complicações oculares, devem ser utilizados óculos opacos, bem ajustados e com proteção lateral quando o tratamento com IPL for realizado na região do pescoço, face e couro cabeludo. Quando o procedimento for realizado nas pálpebras, devem ser utilizadas lentes opacas esclerais, para completa proteção do globo ocular.(3) Javey et al. (3)recomendam que esses dispositivos de proteção devem ser feitos de aço inoxidável para que dispersem a energia do IPL. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Pang AL, Wells K. Bilateral anterior uveitis after intense pulsed light therapy for pigmented eyelid lesions. Dermatol Surg. 2008;34(9):1276-9. Uebelhoer NS, Dover JS. Photodynamic therapy for cosmetic applications. Dermatol Ther. 2005;18(3):242-52. Javey G, Schwartz SG, Albini TA. Ocular complication of intense pulsed light therapy: iris photoablation. Dermatol Surg. 2010;36(9):1466-8. Moreno-Arias GA, Castelo-Branco C, Ferrando J. Side-effects after IPL photodepilation. 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Endereço para Correspondência: Daniele Fioroti Borges Rua Affonso Claudio, nº 59 apto 1102 - Praia do Canto CEP 29055-570 Vitória - (ES), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 191-3 ARTIGO 194 DE REVISÃO Importance of genetic polymorphisms in the response to age-related macular degeneration treatment Importância dos polimorfismos genéticos na resposta terapêutica da degeneração macular relacionada à idade Carlos Eduardo dos Reis Veloso1, Luciana Negrão Frota de Almeida1, Luiz Armando De Marco2, Raul Nunes Galvarro Vianna3, Márcio Bittar Nehemy4 ABSTRACT Age-related macular degeneration (AMD) is a degenerative disorder that affects the central retina and involves the Bruch’s membrane, the retinal pigment epithelium and the photoreceptors. Recent studies have shown that polymorphisms of the CFH, LOC387715 and VEGF genes are associated with AMD. Herein, we review the literature to analyze the association between the main genetic polymorphisms and the response to the existing therapeutic modalities. Patients with CFH high-risk alleles show a poorer response to preventive treatment of AMD with antioxidants and zinc. The association between genetic polymorphisms and response to photodynamic therapy and antiangiogenic drugs, however, is controversial until now. Keywords: Macular degeneration/genetics; Antioxidants; Polymorphism, genetic; Treatment outcome RESUMO A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma doença degenerativa que afeta a retina central e envolve a membrana de Bruch, o epitélio pigmentar da retina e os fotorreceptores. Estudos recentes têm mostrado que polimorfismos dos genes CFH, LOC387715 e VEGF estão associados com a DMRI. Neste trabalho, é feita uma revisão da literatura para análise da associação entre os principais polimorfismos genéticos e a resposta às diferentes modalidades terapêuticas existentes. Observa-se que os pacientes portadores dos alelos de risco do gene CFH apresentam uma pior resposta ao tratamento preventivo da DMRI com antioxidantes e zinco. Já a associação entre o polimorfismo genético e a resposta à terapia fotodinâmica e às drogas antiangiogênicas é, até o momento, controversa. Descritores: Degeneração macular/genética; Antioxidantes; Polimorfismo genético; Resultado de tratamento 1 Pós-graduando (Doutorado), Departamento de Oftalmologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil; 2 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil; 3 Universidade Federal Fluminense (UFF) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 4 Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 16/2/2011 - Aceito para publicação em 30/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 194-8 Importance of genetic polymorphisms in the response to age-related macular degeneration treatment INTRODUÇÃO A ge-related macular degeneration (AMD) is a degenerative disorder that affects the central retina and involves the Bruch’s membrane, the retinal pigment epithelium (RPE) and the photoreceptors.(1,2) It is characterized by a progressive, painless loss of central vision associated with ageing. AMD is considered the leading cause of irreversible blindness and responsible for a low quality of life in the affected population.(1,3) In the United States of America population aged 40 years and older, the estimated prevalence of any AMD is 6.5%.(4) The disease is usually classified into dry and wet types, responsible for 15% and 85% of cases, respectively. In the dry form, visual loss is usually gradual and is characterized by subretinal deposits called drusen or retinal pigment epithelial (RPE) abnormalities, including hyper or hypopigmentation. Larger drusen may become confluent and evolve into drusenoid RPE detachments, which can progress to geographic atrophy and less frequently to wet AMD. Wet AMD (also called exudative or neovascular AMD) occurs when choroidal neovascular membrane grows under the RPE or between the RPE and neurosensory retina, leading to subretinal hemorrhage and subsequent scar tissue formation.(1,2) Etiological research suggests that AMD is a complex disease, caused by the actions and interactions of multiple genes and environmental factors such as smoking and hypertension.(5,6) Recent studies have shown that some genetic polymorphisms are associated with AMD. A genetic variation in the complement factor H (CFH) gene on chromosome 1q32 is one of the most studied gene polymorphisms related to AMD. This polymorphism (rs 1061170) results in a tyrosine-tohistidine substitution at amino acid position 402 (Y402H) in the CFH protein.(7-33) The A69S polymorphism (rs 10490924) within the gene LOC387715 on chromosome 10q26 that leads to an alanine-to-serine substitution was also found to confer an increased risk for development of AMD.(33-50) Some papers suggested that the vascular endothelial growth factor (VEGF) gene could play a role in the pathogenesis of AMD.(51,58) However, many different single nucleotide polymorphisms (SNPs) were tested and limited sample sizes and diverse ethnic origin of cases and controls were studied to ensure a statistically valid conclusion. It has also been demonstrated that common CFH and LO387715 polymorphisms were independently related to progression from early or intermediate stages to advanced forms of the disease.(59) 195 Herein, we review the main published studies that evaluate the response to the treatment of AMD related to genetic polymorphisms. Klein et al. made a retrospective analysis of participants of a randomized, controlled clinical trial, the Age-Related Eye Disease Study (AREDS) to investigate the possible association between the response to oral antioxidants and zinc with genetic polymorphisms. The AREDS study enrolled 4757 participants from 11 clinical centers and established that a combination of zinc and antioxidants (B-carotene, vitamin C, and vitamin E) produced a 25% reduction in development of AMD over 5 years and a 19% reduction in severe vision loss in individuals determined to be at high risk of developing the advanced forms of the disease. A treatment interaction was observed between the CFH Y402H highrisk genotype and supplementation with antioxidants plus zinc (p = 0.03). An interaction (p = 0.004) was observed in the AREDS treatment groups taking zinc when compared with the groups taking no zinc, but not in groups taking antioxidants compared with those taking no antioxidants (p = 0.59). There were no significant treatment interactions observed with LOC387715.(60) Other authors have studied the effect of the LOC387715, CFH and VEGF genotypes on the response to photodynamic therapy (PDT) with controversial results.(61,68) Goverdhan et al. genotyped a total of 557 cases with AMD and 551 normal controls for the CFH Y402H. Twenty-seven PDT-treated patients were followed up for 15 months and individuals with different CFH genotypes were then analyzed for any association with visual change following PDT. The number of patients carrying the high-risk C allele was 70.4% in those requiring PDT as compared to 52.3% in the non-PDT group (p=0.011), and presence of the CC genotype significantly increased the risk of PDT (p=0.015). The degree of visual loss following PDT was significantly higher in the CFH CC genotype group (p=0.038); 50% of CC cases and 45% of the CT cases lost 15 or more ETDRS letters at final follow-up. In conclusion, they showed that patients homozygous for the CFH high risk allele seem to have worse outcome after PDT. (61) Brantley et al. also found a potential relationship between CFH genotype and response to PDT. However, they showed that patients with the CFH TT genotype (T: nonrisk allele) fared significantly worse with PDT than those with the CFH TC and CC genotypes.(62) Other studies did not show significant association between CFH polymorphism and PDT response for neovascular AMD.(63,64) For LOC387715, two important studies have Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 194-8 196 Veloso CER, Almeida LNF, De Marco LA, Vianna RNG, Nehemy MB shown that there is no statistical significant difference among the genotypes in response to PDT.(62,65) However, Sakurada et al. have recently shown that there is a pharmacogenetic association between the LOC387715 A69S variant and the long-term results after PDT in eyes with polypoidal choroidal vasculopathy (PCV). In this study, PDT was repeated every 3 months until the disappearance of angiographic signs of active lesions in 71 eyes of 71 patients with PCV who were followed-up for at least 12 months. There was a statistically significant difference in the visual acuity both at the 12-month and final visits (p = 0.002 and P < 0.001, respectively) with the poorer acuity in patients with the higher T-allele frequency.(66) Immonen et al. have evaluated VEGF gene polymorphism and the outcome after PDT and showed a strong relationship between this gene and the treatment results. The VEGF gene polymorphic SNPs at rs699947 and rs2146323 were strong determinants of the anatomic outcome after PDT, but the SNPs studied were not associated with the presence of exudative AMD or with the CNV lesion size or configuration.(67) However, Tsuchihashi et al. did not show any association between VEGF rs 699947 SNP and the response to PDT.(68) Other genetic polymorphisms and its relationship with the response to PDT were evaluated but showed no statistically significant results.(62,67) Recently, two studies have demonstrated the association between gene polymorphisms and the response to intravitreal injections of the antivascular endothelial growth factor (anti-VEGF) agents bevacizumab and ranibizumab. (69,70) Brantley et al. conducted a study in which eighty-six patients with exudative AMD undergoing treatment with 1.25 mg intravitreal bevacizumab in one eye were enrolled. Intravitreal injections were performed at 6-week intervals until there was no longer evidence of active neovascularization. Each patient was followed for a minimum of 6 months. The authors showed that postbevacizumab VA was significantly worse in the CFH CC genotype than for the CFH TC or TT genotypes (p=0.016). However, there was no significant difference in response to this drug according to the LOC387715 genotypes.(69) The other pharmacogenetic study published three years later was conducted to determine whether CFH genotypes had an effect on the treatment of exudative AMD with ranibizumab. A total of 178 patients were studied and, for each patient, an intravitreal injection of 0.5 mg of ranibizumab was performed at the initial presentation of an active choroidal neovascular complex. Subsequent injections were performed as needed and Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 194-8 patients were followed for a minimum of 9 months. In this retrospective study, Lee et al. found no difference in VA outcomes after ranibizumab treatment among the different CFH genotypes, in contrast to the previous study with bevacizumab. Nevertheless, over 9 months, patients with both risk alleles received approximately 1 more intravitreal injection.(70) There is only one study with a large number of patients that addresses the preventive treatment of dry AMD related to the genetic polymorphisms. As we can observe, the majority of published articles about the therapeutic response of exudative AMD are related the photodynamic therapy and many of them are controversial. Only two papers consider the intravitreal response to anti-VEGF agents according to the genetic polymorphisms. Since antiangiogenic therapy is now considered the gold standard treatment of exudative AMD, there is a long way to be traversed until treatment could be indicated according to the genetic profile of the patient. Additional studies with a larger number of patients, longer follow-up period and including more SNPs are important to establish a definite correlation between gene polymorphism and the therapeutic response in AMD. Only then may the treatment of this disease be recommended or modified based on genetic findings. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Seddon JM, Chen CA. Epidemiology of age-related macular degeneration. In: Ryan SJ. Retina. 4th ed. Philadelphia: Elsevier; 2006. Donoso LA, Kim D, Frost A, Callahan A, Hageman G. The role of inflammation in the pathogenesis of age-related macular degeneration. Surv Ophthalmol. 2006;51(2):137-52. Comment in: Surv Ophthalmol. 2006;51(5):532; author reply 532. Brown G, Brown MM. Let us wake the nation on the treatment for age-related macular degeneration. Curr Opin Ophthalmol. 2010;21(3):169-71. Klein R, Chou CF, Klein BE, Zhang X, Meuer SM, Saaddine JB. Prevalence of age-related macular degeneration in the US population. 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As autoras chamam a atenção para os fatores relacionados com a transmissão, apresentam dados históricos e de distribuição da doença no Brasil e no mundo, comentam sobre o agente, os sinais e os sintomas desta conjuntivite crônica. Ainda reforçam a necessidade de capacitar os profissionais para o diagnóstico, o que possibilitará a detecção e tratamento. O reflexo destas atitudes será a contribuição para a eliminação desta importante causa de cegueira do nosso meio. Descritores: Tracoma/história; Conjuntivite crônica; Cegueira; Brasil ABSTRACT Trachoma is a disease known thousand years ago and still as a potential blindness disease all over the world. The authors call attention to the factors related with the transmission, present historical data and distribution of the disease in Brazil and in the world, comment on the agent, the signs and symptoms of this chronic conjunctivitis. Still, reinforce the need to enable professionals for the diagnosis, detection and treatment. The reflection of these attitudes will be the contribution to the elimination of this important disease as a blindness cause among us. Keywords: Trachoma/history; Chronic conjunctivitis; Blindness; Brazil 1 2 Faculdade de Medicina de Botucatu –Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Botucatu (SP), Brasil; Pós-Graduanda do Programa Bases Gerais da Cirurgia - Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Botucatu (SP), Brasil; Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Botucatu (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 18/3/2011 - Aceito para publicação em 27/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 199-204 200 Schellini SA, Sousa RLF INTRODUÇÃO A pesar de milenarmente conhecido, o Tracoma figura ainda dentre as doenças que preocupam o mundo, estando presente especialmente nos países em desenvolvimento. No ano de 2003, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimava a existência de 84 milhões de pessoas com Tracoma ativo no mundo, 76 milhões com triquíase tracomatosa e cinco milhões com sérios riscos para a visão e potencial desenvolvimento de cegueira(1). O Tracoma é considerado pelas organizações internacionais do campo da saúde como uma das “doenças negligenciadas”, doença para a qual tem havido pouco ou nenhum investimento da indústria, no desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico, medicamentos e vacinas. Essa doença tem sido negligenciada inclusive pela academia, o que se pode constatar pelo pequeno número de estudos e publicações sobre ela. A doença está relacionada com baixas condições sócioeconômicas e baixos índices de desenvolvimento humano, sendo descrita em locais com precárias condições de habitação, grande concentração populacional, precariedade de saneamento básico, baixos níveis educacional e cultural. Outros fatores relacionados com a presença do Tracoma seriam: presença de insetos vetores, deslocamentos populacionais, presença de outras doenças oculares, precariedade no abastecimento de água e coleta de lixo e íntima relação com a estrutura social(2,3). A doença figura entre as causas de cegueira a serem prevenidas, fazendo parte do programa GET 2020 (Global Elimination of Trachoma) da OMS, que visa exterminar as causas preveníveis de cegueira no planeta até o ano de 2020(4). A OMS tem como meta para o combate desta doença a estratégia “SAFE” (S=cirurgia corretiva de triquíase; A= antibióticos; F=limpeza da face; E=saneamento), baseada em medidas bastante simples e que envolvem higiene pessoal, acompanhada de melhoria das condições de vida(4). Lavar o rosto(5) e usar latrinas(6) tem promovido diminuição significativa dos casos em algumas regiões. Interessante pesquisa realizada na Amazônia brasileira mostrou que ter água disponível não é suficiente; é preciso ter hábitos de higiene que possam impedir que a doença seja adquirida e que se propague(7). Para que haja sucesso na tarefa de eliminar o Tracoma como causa de cegueira, há que se desenvolver estratégias de atuação nas áreas de maior prevalência, como é o Brasil, envolvendo projetos que Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 199-204 favoreçam o diagnóstico dos casos agudos e também detectem e tratem as formas cicatriciais. Distribuição do Tracoma no Brasil e no mundo O Tracoma é presente desde os primeiros registros humanos, em diferentes civilizações e momentos, tais como na China (século XXVII a.C.), Suméria (século XXI a.C.), Egito (século XIX a.C.), Grécia (século V a.C.) e Roma (século I a.C.). O Tracoma se disseminou pelo antigo continente europeu juntamente com as grandes migrações de povos, dentre eles os mongóis que se lançaram em guerras e conquistas por grande extensão territorial. Na Idade Média a doença era abundante no Mundo Islâmico e na Grécia, sendo levado para o restante da Europa, onde se tornou endêmico. A partir da Europa, foi trazido pela colonização para o Continente Americano. Na segunda metade do século XIX e início do século XX, o Tracoma achava-se amplamente disseminado em todo o mundo. No decorrer do século XX, com a melhoria das condições de vida, consequente à industrialização e ao desenvolvimento econômico, o Tracoma desapareceu da Europa, América do Norte e Japão. No entanto, continua a ser um importante problema de saúde pública em grande parte dos países subdesenvolvidos, principalmente na África, Oriente Médio, Índia e Sudoeste da Ásia. O Tracoma ainda existe em menores proporções na América Latina e Oceania. Tracoma no Brasil O Tracoma chegou ao Brasil por três vertentes: região do Cariri (Ceará), São Paulo e Rio Grande do Sul. Relata-se que teria sido introduzido no Brasil a partir do século XVIII, no Nordeste, com a deportação dos ciganos que haviam sido expulsos de Portugal e se estabelecido nas Províncias do Ceará e Maranhão, constituindo-se então os primeiros “focos” de Tracoma no país, dos quais o mais famoso foi o “foco do Cariri”, no sul do atual estado do Ceará. Além do “foco do Nordeste”, outros dois “focos” teriam contribuído decisivamente para a disseminação do Tracoma no país, os “focos” de São Paulo e do Rio Grande do Sul, que teriam se iniciado com a intensificação da imigração européia para esses dois estados, a partir da segunda metade do século XIX. Com a expansão da fronteira agrícola em direção ao oeste, o Tracoma foi disseminando-se e tornou-se endêmico em praticamente todo o Brasil, sendo encontrado hoje em todo o território nacional. A primeira medida de controle do Tracoma adotada no Brasil foi de iniciativa do Governo do Estado de Tracoma: ainda uma importante causa de cegueira São Paulo, que em 1904 proibiu a entrada de imigrantes com Tracoma no Porto de Santos, a exemplo do que era feito nos Estados Unidos. Esta medida, porém, não teve sucesso, devido à pressão dos fazendeiros de café, que necessitavam da mão de obra imigrante. Desta forma, a proibição foi substituída por uma multa para o dono do navio que trouxesse imigrantes com Tracoma. Em 1906, inicia-se em São Paulo a primeira “Campanha contra o Tracoma” realizada no país, e em 1914 começam a ser instalados, também em São Paulo, os primeiros serviços especializados em Tracoma, os “Postos Antitracomatosos”. Em nível nacional, a primeira medida de controle do Tracoma foi tomada em 1923, quando foi decretado o “Regulamento do Departamento Nacional de Saúde Pública”, que proibia o desembarque de imigrantes com Tracoma, medida esta que, naquele momento, já era totalmente inócua, já que o mesmo encontrava-se amplamente disseminado no país, e não mais dependia da imigração para sua manutenção. A partir de 1938, o estado de São Paulo iniciou a implantação de uma rede de serviços especializados em Tracoma, os “Dispensários do Tracoma”, anexos aos Centros de Saúde e localizados nos locais onde a doença era mais prevalente. Esta rede chegou a ter mais de 200 unidades, cobrindo quase a totalidade do estado de São Paulo. Depois de diversas medidas de combate a doença, com postos de detecção ligados aos postos de saúde e também na zona rural, chegou-se a diminuição importante do número de casos. O Governo Federal iniciou, em 1943, a realização da “Campanha Federal Contra o Tracoma”, por iniciativa do Departamento Nacional de Saúde Pública. Esta Campanha foi incorporada ao “Departamento Nacional de Endemias Rurais - DENERu”, quando da sua criação em 1956, e posteriormente à SUCAM (Superintendência Nacional de Campanhas de Saúde Pública), criada em 1970. O ciclo de desenvolvimento econômico iniciado nos anos 50 e que perdura até o “milagre econômico” dos anos 70, teve um profundo impacto na ocorrência do Tracoma no Brasil. Observou-se uma diminuição acentuada no número de casos detectados em todo o país, e chegou-se mesmo a considerar que o Tracoma havia sido erradicado em alguns estados, como em São Paulo, sendo que em 1978, na implantação do Sistema de Vigilância Epidemiológica no Estado de São Paulo, o Tracoma não foi incluído no elenco de doenças de notificação compulsória. Todo o aparato que havia sido montado para o combate à endemia foi redimensionado e o Tracoma 201 passou a não ser mais pesquisado, nem ensinado nas escolas médicas e nos cursos de especialização. Passa-se a ter outra realidade, ligada ao desconhecimento da afecção. O mito da “erradicação” do Tracoma, cunhado em meados da década de 70 do século XX, persiste até hoje. A pretensão de pertencer a um mítico “país desenvolvido” e o fetiche tecnológico da incorporação de equipamentos oftalmológicos cada vez mais sofisticados, fez com que os departamentos de Oftalmologia da maioria das universidades “esquecessem” de olhar o seu entorno, não identificando a doença ocular ainda frequente na população.Assim, os especialistas continuaram a propagar o mito da erradicação e muitos de nós, oftalmologistas, fazemos parte de uma geração que nunca recebeu treinamento formal durante o curso de especialização em Oftalmologia para detecção e manejo da doença. Na década de 80 do século passado, o Tracoma volta a ter destaque, a partir do encontro de Tracoma na cidade de Bebedouro, estado de São Paulo, nas diversas fases, denotando que a doença nunca havia sido eliminada naquele município(8). As ações de vigilância epidemiológica do Tracoma foram retomadas pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, detectando a endemia em mais de 150 municípios do estado, alguns com altos coeficientes de prevalência e com complicações e sequelas(9). Em 1990, as atividades de controle do Tracoma no âmbito nacional passaram a fazer parte das atribuições da Fundação Nacional de Saúde - FNS. O Ministério da Saúde vem mantendo as ações de controle nas regiões com maior prevalência, através da FNS, estando o controle da doença na Gerência Técnica Nacional de Endemias Focais. Usando sistemática investigativa, o Tracoma foi detectado em várias regiões do Brasil(9-18). Entretanto, a ideia da erradicação do Tracoma ainda permanece como dominante entre a comunidade científica brasileira até os dias atuais. Pesquisas epidemiológicas feitas em todo o Brasil reforçam a existência do Tracoma na realidade de todos os municípios nos quais foi feita a investigação, com taxas de detecção variáveis: Alagoas (4,5%); Rio Grande do Norte (3,61%), Bahia (3,58%), Paraíba (3,81%), Roraima (4,34%), São Paulo (4,11%), Rio Grande do Sul (4,60%), Tocantins (5,33%), Sergipe (5,84%), Paraná (6,2%), Espírito Santo (4,74%), Ceará (7,81%), Acre (8,34%), São Paulo - SP (2,2%), Santa Catarina (4,9% e Joinville), Manaus (4,8%), Rio de Janeiro (8,78% em Duque de Caxias)(3). Mesmo em regiões onde não era reportada a doença, estudos bem con- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 199-204 202 Schellini SA, Sousa RLF duzidos mostraram que a mesma está presente, inclusive com altas taxas de detecção, o que levou os pesquisadores a concluir que é importante divulgar que o Tracoma não foi erradicado e deve permanecer no diagnóstico diferencial de conjuntivite folicular crônica em crianças e adolescentes em alguns municípios(19). Estudos feitos no interior de São Paulo também apontam a presença da doença em diferentes taxas: Presidente Prudente - SP (2,6%), Franco da Rocha - SP (1,5%), Francisco Morato - SP (3,6%)(14,19,20). Assim é possível observar que, apesar da diminuição acentuada na prevalência e na incidência do Tracoma, a doença sempre existiu em nosso meio, acometendo majoritariamente as populações mais carentes e desassistidas, presente inclusive nas grandes metrópoles. O agente O Tracoma é causado pela C. trachomatis, que possui 15 sorotipos diferentes já identificados. Os sorotipos L1, L2 e L3 são os grandes responsáveis pela síndrome do linfogranuloma venéreo; A, B, Ba e C são mais frequentemente associados ao tracoma; os de D a K estão ligados a outras manifestações sexualmente transmitidas, sendo que os sorotipos mais frequentes são os do tipo D, E e F. Assim como em outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), a infecção genital é uma porta de entrada e aumenta o risco de contrair o vírus HIV, agente da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids/SIDA). O controle do tracoma depende da identificação de portadores assintomáticos, os quais representam um reservatório para o agente patogênico. Acredita-se que a imunidade é apenas parcialmente protetora, pois o risco de desenvolver sequelas como gravidez ectópica ou infertilidade aumenta com os sucessivos episódios de infecção. Os sinais, os sintomas e o diagnóstico O agente provoca uma conjuntivite crônica, que se acompanha de poucos sinais e sintomas, dentre eles: prurido ocular, hiperemia leve, pouca ou nenhuma secreção ocular. A dificuldade maior para o diagnóstico decorre exatamente da cronicidade, o que faz com que os sintomas sejam frustros ou ausentes. Confunde-se, ainda, com a conjuntivite alérgica que não infrequentemente se encontra associada ao quadro da conjuntivite tracomatosa. O diagnóstico do Tracoma é essencialmente clínico. A confirmação laboratorial deve ser utilizada, para a constatação da presença do agente etiológico na comunidade, e não para a confirmação de cada caso. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 199-204 A OMS orienta que o diagnóstico de Tracoma deve ser dado quando houver pelo menos dois dos seguintes sinais clínicos: folículos na conjuntiva tarsal superior, folículos no limbo ou fossetas de Herbert, cicatriz conjuntival típica e pannus no limbo superior(21,22). Visando a pesquisa da doença em comunidades (trabalhos de campo), a mesma organização estabeleceu um esquema simples de classificação do Tracoma, com a finalidade de simplicidade diagnóstica e implicações epidemiológicas (Tabela 1). Cada um dos sinais tem importância para compreensão do estado epidemiológico da população(23). A prevalência da doença ativa é representada pela proporção de pessoas com TF (tracoma folicular) e TI (tracoma folicular intenso); aqueles com TI representam indivíduos com doença grave, requerendo pronto tratamento. A prevalência de TT (triquíase tracomatosa), por sua vez, indica a necessidade de tratamento cirúrgico para aquela comunidade, enquanto que a prevalência de CO (opacidade de córnea) indica o impacto do Tracoma como causa de perda visual. Há várias formas de pesquisar o Tracoma na população. Atingir a população portadora é mais simples se a pesquisa se inicia pelos escolares, já que as crianças estão reunidas nos espaços didáticos. A partir dos casos positivos, os adultos acometidos (comunicantes) podem ser identificados e todos devem receber o tratamento clínico que atualmente é feito com a administração via oral de Azitromicina. Todos os acometidos passam por exames periódicos para certificação da cura. Caso a doença tenha permanecido por muitos anos na comunidade investigada, as seguidas reinfecções poderão ocasionar a triquíase tracomatosa, a qual poderá ser responsável por lesões corneanas por traumatismo direto, seguindo-se de opacidade da córnea e perda da visão. A forma cicatricial da doença poderá requerer tratamento cirúrgico. Esta é a sistemática para quem se lança a campo para pesquisar esta afecção, devendo ser a equipe preparada para tal. Importância de se pesquisar e ensinar o Tracoma Detectar e tratar o Tracoma é muito importante, já que estas medidas são capazes de alterar o quadro da doença. O Tracoma pesquisado em escolares de Botucatu no ano de 1992 mostrou prevalência de 11%, tendo sido os casos e comunicantes tratados(9). Nova pesquisa feita no ano de 2005, conduzida nos mesmos moldes que a anterior, apontou significativa queda do número de casos em relação ao levantamento anterior, com prevalência de TF de 3,7%(24). Tracoma: ainda uma importante causa de cegueira Pesquisa realizada na cidade de Bauru mostrou interessante faceta da doença com relação ao meio ambiente. Através de geoprocessamento, a distribuição espacial das residências dos alunos afetados foi feita, tendo sido demonstrado que a localização dos casos traduz condições de detecção de outras afecções. Ou seja, o Tracoma pode funcionar como marcador para doenças relacionadas com a pobreza, indicando onde as secretarias de saúde devem investir para a prevenção de doenças(18,25,26). Além disso, há que se pesquisar nas áreas onde a doença está presente, quais seriam os fatores que mantém a doença ativa. Apesar da importância do Tracoma em todo o território nacional, já demonstrada pelas inúmeras pesquisas que revelaram as taxas de prevalência, o ensino da doença, com raras exceções, não é feito de forma regular nas escolas de Medicina e nos cursos que formam oftalmologistas. É preciso incluir este assunto nos currículos médicos e nos cursos de residência médica, a fim de capacitar pessoas a diagnosticar e tratar adequadamente esta afecção, o que vai contribuir para a erradicação da mesma. No ano de 2010, o Ministério da Saúde, em ação conjunta com o Ministério da Educação, lançou um Programa de Ensino Tutorial (PET) em Vigilância Epidemiológica. A Faculdade de Medicina de Botucatu teve a aprovação do PET-Tracoma, do qual participa uma equipe multidisciplinar, constituída por membros da Secretaria de Saúde do Município e da Faculdade de Medicina de Botucatu, que estão trabalhando como tutores, no ensino da doença para a comunidade universitária, replicando e criando novos investigadores em Tracoma. É importante frisar que, mesmo em cidades em que a doença é combatida com busca ativa e sistemática, e tratamento dos casos e comunicantes, a doença ainda se faz presente, e a ampliação do número de profissionais integrados na luta contra a doença é necessária para que se consiga cumprir a meta de extermínio do Tracoma até o ano de 2020, como é o desejo da OMS. 203 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. CONCLUSÃO 14. As autoras chamam a atenção para o Tracoma, uma doença muito antiga, ainda presente em nosso meio e que é potencial causa de cegueira. Comentam sobre a necessidade de se oferecer treinamento para jovens profissionais, a fim de capacitá-los a realizar o diagnóstico clínico desta afecção, o que vai possibilitar o tratamento e afastar o risco de cegueira. 15. 16. 17. World Health Organization. Report of the 2nd Global Scientific Meeting on Trachoma. Geneva, 25-27 August, 2003. Geneva: WHO; 2003. D’Amaral RKK, Cardoso MRA, Medina NH, Cunha ICKO, Waldman EA. Fatores associados ao tracoma em área hipoendêmica da Região Sudeste, Brasil. Cad Saúde Pública. 2005;21(6):1701-8. Lopes MFC. Tracoma: situação epidemiológica no Brasil [dissertação]. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva. Universidade Federal da Bahia; 2008. Bailey R, Lietman T. The SAFE strategy for the elimination of trachoma by 2020: will it work? Bull World Health Organ. 2001;79(3):233-6. West S, Muñoz B, Lynch M, Kayongoya A, Chilangwa Z, Mmbaga BB, Taylor HR. Impact of face-washing on trachoma in Kongwa, Tanzania. Lancet. 1995;345(8943):155-8. 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Esta é uma notícia muito importante para os residentes, “fellows”, especialistas em Retina e oftalmologistas em geral devotados à Retina Clínica. A 5ª edição do livro do Professor Gass , Atlas de Doenças Macular Stereoscópico é uma valorosa contribuição ao armamentário do estudo das doenças retinianas. Escrito pela Dra. Anita Agarwal, que foi uma “fellow” do Professor J. Donald M. Gass, reconhecido como um dos mais importantes oftalmologistas do século 20, este livro combina muito do conteúdo das edições prévias escritas pelo Professor Gass com novas contribuições como o capítulo de Tumores do Dr. Arun Singh e outro de doenças inflamatórias supervisionado pelo Dr. Lee Jampol, sabidamente autoridades nos seus respectivos temas. Novos capítulos, com novas doenças, foram incluídas como a “relentless” Epiteliopatia Pigmentar Placóide. Após trabalhar por 30 anos no Instituto Bascom Palmer da Universidade de Miami, o Professor Gass retornou a Universidade Vanderbilt , em Nashville, no Tennessee, em 1995 , onde a Dra. Agarwal trabalhou com ele, primeiro com um “fellow” e depois como um colega. Ela desenvolveu a 5ª edição do livro trabalhando em uma sala onde são guardados os materiais que o Professor Gass usava para preparar suas conferências. Por dois anos ela dedicou parte do seu tempo desenvolvendo este livro e hoje temos o previlégio de ver o produto do seu trabalho; um guia para aprender, diagnosticar e tratar nossos pacientes. Como o Dr. Lee Jampol disse: “A bíblia dos oftalmologistas dedicados à Retina Clínica é o Stereoscopic Atlas do Professor Gass”. Nossos agradecimentos à Dra. Agarwal, por seus esforços em produzir este livro. É um grande prazer para nós, seus leitores, aprender com esta nova edição. Book: GASS’ ATLAS OF MACULAR DISEASES, 2Volume Set (Expert consultation online and in print) Author: Anita Agarwal ISBN: 978-1437715084 Saunders/Elsevier, 2011 The most highly anticipated book published for ophthalmologists dedicated to Medical Retina this year, the fifth edition of Gass, has arrived. This is a very important notice for residents, fellows, retina specialists, and practitioners devoted to the Medical Retina. The fifth edition of Gass, Stereoscopic Atlas of Macular Diseases, is a valued addition to the armamentarium for studying retina diseases. Written by Anita Agarwal, who was a fellow with Professor J. Donald M. Gass -recognized as one of the outstanding ophthalmologists of the 20th century - this book combines much of the content of the previous editions written by Dr. Gass with new contributions, such as a chapter on tumors by Dr. Arun Singh and another on inflammatory diseases supervising by Dr. Lee Jampol. The table of contents maintains the structure of the previous edition and includes new entries, like Chapter 11, where we find diseases like relentless placoid pigment epitheliopathy. After working at the Bascom Palmer Eye Institute for 30 years, Gass returned to Vanderbilt University in Nashville in 1995, where Dr. Agarwal worked with him, first as a fellow and later as a colleague. She developed the fifth edition; working in a room devoted to the material Dr. Gass used to prepare his lectures. For two years, she spent time working on this book and we now have the privilege of seeing the product of this work: a guide that will help ophthalmologists to learn about, diagnose, and treat their patients. As Lee Jampol has stated, “What is the Bible of retinal diseases - Donald Gass’ Stereoscopic Atlas!” Thank you Dr.Agarwal, for your effort in producing this book. It is a great pleasure for us, your readers, to understand and learn with this new edition. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 205 206 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resu- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 206-8 mo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações 207 no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem definilos. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word(r)e as demais em arquivos Microsoft Excel(r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 206-8 208 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 206-8