ARTIGO O PAPEL DA COMUNICAÇÃO NO MARKETING ESPORTIVO Paulo Lanes ~ o b a t ~ : Marlucia de Fátima Valente I i RESUMO Buscou-se analisar aspectos relacio~iadosa comunicação e que se inter-relacionam com o inarketing desportivo, bem coino algumas estratégias passíveis de serem utilizadas e os inecanisinos que iiitervêin no esporte para que este possa constituir-se em meio adequado para ser utilizado no processo de comunicação iiistitucional. Buscou-se também, simultaneamente. analisar o retorno e Ó potencial do esporte como instr;meiito de marketing e as alternativas de retorno, não só para o atleta, como também para o esporte como um todo. Palavras-chave: coinuiiicação, marketing esportivo, patrocínio. Neste estudo procurou-se discutir algumas questões básicas referentes ao marketing esportivo, por se tratar de área que tem exercido muita iiifluêiicia iio desporto, cuja maioria dos profissionais ainda não te111 plena consciência de seu valor. Forain encontrados aspectos indefinidos, uma vez que, mesmo para aqueles que lidam com o inarketing, não há plena compreensão de sua ainplitude, e para aqueles que lidain com o desporto ainda maiores seriam estas dúvidas. Para que sejam esclarecidos alguns aspectos relacionados ao papel do desporto, é necessário que se analisem algun~as particularidades relacionadas ao inarketing, ao sistema de produção e as relações com os meios de coinunicação. A Iiistória do inarketing mostra que, no século XIX, devido as características e v lutivas ~ do lioinem, havia excesso de matéria-prima e de mão-de-obra; a deiiiarida pelos produtos era muito grande e o fabricante tinha como única preocupação distribuir o que já Iiavia sido produzido, para que ocorresse a venda. Não Iiavia preocupação em entelider os gostos, interesses e anseios particulares do mercado. Já no século XX, com o aumento da capacidade de produção e também com o surgimento da coiicorrência, evidenciou-se a necessidade de técnicas de vendas mais agressivas e a utilização de meios externos a produção, coino propaganda e manejo de preços, e comu~iicação,coilio armas de coinpetição. Com isso, somente desenvolver uiii bom produto deixou de ser a melhor forma de obter retorno para a empresa. Outras atividades, como Professor de Dep. Educação Física da Universidade Federal de Viçosa. Professora de Educação Física.. R. min. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 40 11 I determinar corretamente o preço e torná-lo acessível ao consumidor, passaram a ser um caminho natural para a empresa, além de outras estratégias, como criar programas de comunicação, reconhecendo as necessidades e os interesses do público-alvo, criando mecanismos de identificação do produto e, dessa forma, garantindo o seu consumo dentro do mercado. Portanto, a necessidade de informar ao consumidor sobre seu produto assumiu papel muito importante, e a escolha desses modelos de comunicação passou a interferir no alcance dos objetivos. O público receptor tem que ser capaz de decodificar e entender a mensagem; para isso, o transmissor deverá ser capaz de influir positivamente na intenção de consumir, pois será o expositor do produto. A escolha do meio para que esta mensagem seja passada deverá ser baseada em aspectos que criem elos de identificação e os aproximem do público-alvo. A segmentação do mercado deve levar em conta a personalidade e o traço do grupo consumidor, bem como o estágio em que ele se encontra. Entender o indivíduo e como ele se comporta será essencial ao marketing. Por isso, as estratégias do marketing deverão ser formuladas no campo e não nos intramuros das empresas, pois o acerto na escolha do mecanismo da comunicação mercadológica terá maior probabilidade de sucesso. Uma das formas de comunicação ao consumidor que vem apresentando grande crescimento no mercado brasileiro e que tem sido objeto de grandes interesses mercadológicos de muitos fabricantes é o marketing esportivo, em que ocorre a associação da imagem do atleta, do clube e do esporte em geral com a marca, o produto e o nome da empresa patrocinadora. Diferentes fatores proporcionam esse interesse, podendo-se citar, entre outros, o fato de que o esporte permite o que se denomina regionalização, pois atinge diferentes mercados e públicos específicos. O esporte também contribui para preservar o que Iiá de mais importante para qualquer empresa nos dias atuais: a sua imagem. A compreensão do fenômeno associativo é imprescindível, pois somente assim será possível o aproveitamento de suas potencialidades. Buscou-se mostrar a ascensão do inarketing esportivo e o papel do esporte como meio de comunicação, atuando na dimensão institucional, objetivando, assim, difundir a marca, melhorar a imagem e fixá-la melhor na mente do consumidor. Podein ser ainda enumerados diferentes aspectos relacionados à relevância dessa abordagem: 1 - Importância do processo evolutivo do marketing e o retorno deste para as instituições patrocinadoras. 2 - Ressaltar para os profissionais da área desportiva como o marketing esportivo está sendo usado pelas instituições e seu papel como forma de coinunicação alternativa. 3 - Destacar para os diretores de empresa as possibilidades de um retorno sigiiificativo através do patrocínio de eventos esportivos. 4 - Relatar a importância da associação esporte-mídia eletrônica, no sentido de ampliar e diversificar as possibilidades de se atingir o público-alvo de acordo coin objetivos preestabelecidos. 41 R. min. Educ. Fís.,Viçosa, 5 (2):40-55,1997 5 - E, por fim, discernir sobre características próprias do fato esportivo e dos mais diferentes aspectos a ele relacionados, destacando seu caráter educativo e a influência exercida pelo ídolo na percepção do público. REVISÃO DE LITERATURA Comunicação em Marketing As organizações descobrem, na luta pela sobrevivência, que a melhor maneira de manter suas portas sempre abertas é se orientar pela exigência e pelas necessidades do mercado. Esse é o enfoque centralizado pelo marketing, que objetiva detectar e responder às necessidades dos consumidores (PINHO, 1988). Para COBRA (1992), o marketing surgiu da preocupação de não se ter o que fazer com os excedentes de produção decorrentes da revolução industrial, obrigando as empresas a se preocuparem em identificar melhor seus mercados e a procurarem a melhor forma de atingi-los. Daí a necessidade da comunicação mercadológica, que, segundo PINHO (1988), "é aquela projetada para ser persuasiva, para conseguir um efeito calculado sobre as atitudes e/ou comportamento do público visado. Se faz pela venda pessoal, propaganda, publicidade, promoção de vendas, merchandising, relações públicas e embalagem." Buscando facilitar a compreensão dessa terminologia, serão transcritas as definições de PINHO (1988) para os principais termos que nos interessarão no decorrer deste estudo: -"Propaganda: é um conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a injluenciar num determinado sentido as opiniões, os sentimentos, e as atividades do público receptor. -Publicidade:fase do processo de distribuição dos produtos ou serviços que se ocupam de informar sobre a existência e qualidade dos mesmos de tal forma que estimule a sua compra. -Merchandising: segundo a American Marketing Association ( A M ) , citado por PINHO (1988), Merchandising é a operação de planejamento necessária para se introduzir no mercado o produto certo, no lugar certo, no tempo certo, em quantidades certas e a preço certo. -Relações Públicas: o CONRERP - Conselho Regional de Relações Públicas de São Paulo, citado por PINHO (1988), conceitua Relações Públicas como sendo "umaJilosoJia de direção de caráter permanente planiJicada e regular, que partindo do pressuposto de que a boa vontade da opinião pública é fundamentalmente importante para a vida de qualquer empresa, pessoa, entidade ou órgão 42 R. inin. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 governamental, trabalha junto a esta mesma opinião pública. " Para que o produto saia das empresas e seja consumido em seu mercado é necessário que este seja divulgado e reconhecido pelo público. Esta publicidade ocorre através da comunicação, que é, segundo SCHEWE e SMITH (1982), "um processo de intercambiar. E um sistema que compreende sete elementos: fonte, receptor, mensagem, canal de mensagem, codificação, decodificação e retroinformação". Explicando sua exposição, os autores relatam: "o processo de comunicação começa com uma fonte (uma pessoa, ou um grupo de pessoas, ou uma organização formal como uma companhia) que deseja comunicar-se com alguém, um receptor (que do mesmo modo pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas ou uma organização). Portanto a fonte deseja transmitir alguma idéia ou significado ao receptor. O meio para fazer isto é o canal de mensagem, e o que é comunicado é a mensagem. Há muitm espécies de canais de mensagem - palavras faladas ou escritas,figuras e gestos." Ein inarketing, os principais canais de mensagens usados, de acordo com SCHEWE e SMITH (1982), são: palavras impressas, figuras nos jornais e revistas e palavras faladas na televisão e no rádio. Para CONTURSI (1996b), o segredo de manter-se no mercado e enfrentar a coiicorrência coin sucesso está baseado em alguns pontos-chave: "imite menos e aprenda niais; confie no seu feeling; evite sucesso a curto prazo; pare de vigiar a concorrência; decida sua própria identidade; desenvolver um plano; promoção de imagem; criatividade; evite acomodaçZo ", que devem ser implementados com adaptações das técnicas de inarketing e coinunicação, na sua comunidade. A comunicação efetiva depende dos elementos-chave: codificar e decodificar. Codificar é o processo pelo qual a fonte traduz o significado ou a idéia em siiiais (a ineiisagein), e decodificar é o processo pelo qual o receptor interpreta esses siiiais. Pode-se ver, portanto, que a escolha de sinais usados para a transinissão de uma iiieiisagein é crucial para o bom êxito do envio do significado. Coin base nesses coiiceitos e ein informações diversas, nota-se que o meio de coinuiiicação iiiercadológico que mais tem se evidenciado ultiinaniente são aqueles que se utilizain do esporte. E, coino complementa NUZMAN (1997), presidente do Comitê Olímpico Brasileiro: "o esporte é, sem dúvida alg~iina, uma ferramenta fundamental dentro dos novos paradiginas do inarketing". R. inin. Educ. Fis., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 43 Marketing Esportivo O esporte tem assumido um papel diferente e muito significativo para o marketing, que nos conduz a busca de um conceito de marketing esportivo. Kotler, citado por CONTURSI (1996a), conceitua marketing esportivo como: "um sistema de utilidades e técnicas, inter-relacionadas, organizadas para criar, desenvolver, atribuir preços, comunicar,promover, distribuir e vender produtos destinados a satisfater as necessidades de determinados consumidores. " Segundo MELO NETO (1985), o marketing esportivo está incluido na categoria do que denominamos marketing promocional. Este tipo de marketing privilegia a busca de novos esforços de merchandising, favorecendo a veiculação do nome, produto e marca dos patrocinadores, a baixo custo ou a custo zero. Neste sentido, o autor faz a seguinte consideração: "cada modalidade esportiva permite uma pesquisa de espaços. Esta relação aumenta o potencial do esporte. Considerando o local da competição, os uniformes dos atletas, o posicionamento dos equipamentos, o local destinado ao público e os demais personagens coadjuvantes que participarem do evento esportivo, torna-se possível investigar os diversos potenciais de visibilidade do esporte e do evento. Este é o primeiro passo em busca da definição das melhores alternativas de merchandising, para consolidar o esporte cada vez mais como veículo de marketing esportivo". Para CONTURSI (1996a), o segredo do marketing esportivo e saber compatibilizar a modalidade esportiva adequada à estrafégia de mercado da empresa patrocinadora e ao seu perfil institucional. E neste aspecto que reside a sua força como midia alternativa. Os seus custos (cotas de patrocínio, produção e compra de merchandising, etc.) são inferiores aos elevados gastos de propaganda através da midia convencional. Ainda para CONTURSI (1 996a): "o esporte é uma mídia alternativa, pois além de permitir uma divulgação diferenciada através do merchandising, exibe a marca ou o produto, de diferentes formas. A marca pode ser exibida nos uniformes, bonés dos atletas, na publicidade estática existente nos locais de competição e através de outras modalidades de merchandising, especíjicapara cada tipo de esporte. " Para o autor, o esporte é uma comunicação alternativa porque se apresenta como uma alternativa a propaganda convencional. MELO NETO (1995) destaca ainda outras vantagens indiretas da utilização do esporte como veiculo de marketing, pela ocorrência de associação das sensações que o esporte possui, que podem ser positivas no incentivo ao consumo. e relata aue "o inarketing. es~ortivo.ao associar a imagem do atleta, do clube e do esporte em gerarà marca, Produto e nome 44 R. min. Educ. Fis., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 da empresa patrocinadora, torna-se um elemento decisivo na estratégia de valorização, divulgação e, se necessário, rejuvenescimento da marca e, ou, produto." r Deve-se destacar que o esporte, por si só, tem um espaço público reservado em qualquer veículo de comunicação, pois as notícias do esporte ajudam a vender o veículo (jornal, revista, rádio e TV). Dentre outras vantagens, o esporte permite o que denominamos regionalização da mídia e segmentação do mercado, atingindo diferentes mercados e públicos específicos, como afirma MELO NETO (1995). - Evolução da Comunicação e do Marketing Esportivo no Brasil No Brasil o marketing esportivo é muito recente e não apresenta o grau de evolução necessário para o aproveitamento de todas as suas potencialidades. Segundo MELO NETO (1995), é difícil definir uma data precisa para caracterizar o nascimento do marketing esportivo no Brasil. No início do século já se podia ver anúncios nos jornais e revistas, como peças publicitárias de campanhas institucionais e de propaganda de produtos, através das quais empresas diversas buscavam vincular suas imagens aos esportes em ascensão. ~ no final dos anos 70 e De acordo com CONTURSI ( 1 9 9 6 ~ )foi início dos anos 80 que houve uma grande transformação no esporte brasileiro. Surgiram empresas que começaram a investir no esporte, buscando retorno publicitário e de vendas. Era o inicio do marketing esportivo propriamente dito, que se caracterizava pelo uso do esporte como um produto por parte das empresas. Estas, através de ações promocionais, escolhiam a modalidade esportiva que melhor se adequava ao seu perfil institucional e definiam as melhores alternativas ds promoção e patrocínio esportivo. Foi nesse período que ocorreram várias explosões de diversas modalidades esportivas. Assim, 110s últimos anos, como afirma MELO NETO (1995), evoluímos com espantosa velocidade no Brasil, de uma visão puramente mercantil narcisista das ações de marketing esportivo para uma visão também em grande parte institucional, na qual a propaganda, ou seja, o ato de anunciar para vender tal ou qualquer mercadoria ou serviço, é apenas um complemento de uma ação mais ampla de marketing, cujo objetivo é, para usar expressões em moda no meio empresarial socialista, inserir a empresa no contexto social ein que ela atua. Para o autor: "estão nessa linha os serviços de atendimento direto ao consumidor, conzo academias e clubes, seguindo a mesma norma das grandes empresas, que criam os serviços de conzunicação e assessoria da empresa, funcionando quase como entidades jornalísticas voltadas para informar ao seu público tudo o que acontece na empresa. A ordem é integrar empresa e cidadão; acadenzia e aluno, clube e associados, e não somente interagir produtos e consumidor ou professor e R. min. Educ.Fís., Viqosa, 5 (2):40-55,1997 45 aluno, pois essa ultima ligação é muitofrágil, colocando em risco constante asfinanças da empresa". A crise de venda de produtos, bens de consumo e de serviços, principalmente em nível de academias e escolas, obrigou as empresas a brigarem mais pela fidelidade de um consumidor empobrecido e assustado. Essa situação, ainda que indiretamente, proporcionou, como cita MEL0 NETO (1999, "um avanço de mentalidade no marketing esportivo, que coincide, em parte, com as realizações e verdadeiros Indiana Jones do mercado de serviços esportivos dentre tantos: Ricardo DeElias, Carlinhos Cardoso, Duca Espaço Vital, Numan, Coaracy Nunes, Marcos Bechara e Ecio Madeira. Estes agitam o mundo dos negócios na atividade fisica ". Na visão de CONTüRSI (1995a), com o aumento da concorrência no segmento esportivo, existe uma tendência de que cada vez mais os produtos se pareçam entre si. Se o produto/serviço está cada vez mais parecido, o que determina quem vai vender mais será a empresa que prestar o melhor atendimento, e ela levará a melhor fatia do mercado. Ainda segundo CONTüRSI (1995b): "o mercado esportivo está passando cada vez mais a investir no binômio marca/fabricante procurando formar sua própria imagem e na manutenção dela. Esta preocupação começou a nascer quando constantes pesquisas mostraram que os consumidores viam as empresas esportivas como algo distante dos serviços/produtos por eles oferecidos e viam como muito positivo uma aproximação entre os que faziam o produto consumido e ele próprio. Descobriu-se que a fidelidade do consumidor para os produtos e serviços esportivos e sua adesão a novos produtos eram maiores ou mais fáceis de "conquistar" quando o consumidor "conhecia" não só os atletas campeões e professores responsáveis pelo produto, mas o produto por dentro e por fora e seus beneficios para aqueles que desejam iniciar uma atividade a ser apenas um mortal, que utilizara os beneficios do produto, sem jamais ser um Deus Mitológico do esporte nesses nossos tempos de consumo de massas, de grandes aglomerações urbanas, o consumidor precisa ter uma relação de intimidade com o fabricante e essa sensação de "intimidade" tem extraordinário valor, mesmo comercial. Uma coisa é comprar algo de um desconhecido, outra de alguém que você não só confia, mas conhece profindamente. " Essa versão é uma revolução não só na "cultura" das empresas como também na do próprio consumidor: não é o produto que faz a empresa, mas é a empresa que garante o produto. 46 R. inin. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 Imagem do Atleta A imagem do atleta, hoje, ocupa lugar de destaque em campanhas publicitárias, pela força que ela representa na mídia e na imagem da marca ou do produto. Seu papel é previamente estabelecido e, às vezes, toda a campanha se desenvolve em torno de aspectos relacionados ao atleta. "Escolhemos os atletas top em cada modalidade e divulgamos nosso nome através da imagem deles, que sempre estará associada a bom desempenho" (RODRIGUES, 1996). E a busca de elos identificadores que vai delineando a preferência dos consumidores em relação aos produtos disponíveis. Como relata CONTURSI (1995a), em decorrência desse processo há uma tendência nas necessidades de diferentes pessoas para aquisição do produto. O diferencial ocorrerá em cada categoria de produtos, pois estes estão cada vez mais semelhantes entre si, dificultando a decisão em relação a compra a fazer. Daí vem a assinatura do produto ou seu fabricante: a marca. Quaiido a imagem da marca é forte - decorrente quase sempre de ações predeterminadas para este fim - o objetivo do produtor é prontamente atingido e é este o atributo mais importante de qualquer empresa esportiva de produto ou serviço. A promoção de imagem, segundo MELO NETO (1995), pode ser feita através de eventos culturais, sociais, esportivos e políticos e da busca de divulgação da imagem, associando a empresa ao sonho da comunidade-alvo. Sabe-se que o uso do atleta como imagem para vendas pode ser um bom ou mal negócio, por isso a escolha tem que ser bem feita, assegurando que a associação transmita aos produtos ou à marca os aspectos positivos relacionados ao desempenho e a outras atitudes do atleta escolhido. E, como ainda destaca MELO NETO (1995): "Não é fácil transformar um bom atleta num bom produto, ou seja, um atleta cuja imagem é ideal para alcançar as vendas de qualquer marca ou produto." Para tanto, o autor listou alguns cuidados a serem tomados: "- O personagem escolhido deve ter perfeita adequação com o produto ou marca que se pretende anunciar. - Antes de assinar o contrato, procurar checar a credibilidade ou o poder de convencimento de comunicação do esportista. - Saber como está a imagem do escolhido junto ao público alvo do produto. - Evitar o uso de atleta temperamental ou explosivo. Nunca se sabe o que ele é capaz de fazer com a cabeça quente. - Verijkar o resultado das campanhas personiJicadas pela celebridade. Será que ele já não anunciou um produto da concorrencia? " No inarketing esportivo, o atleta vitorioso, bem sucedido, é o melhor produto. O seu talento, amplamente reconliecido por todos, é decodificado pela ineiite do consuinidor como alta qualidade, alta performance e garantia R. min. Educ. Fis., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 47 de sucesso. E tais características compõem o que denominamos "a imagem do atleta." Para reunir os atributos necessários para exercer esse papel, MELO NETO (1995) destaca que "além das habilidades técnicas, solicita-se dos atletas outros cuidados com sua imagem. Portanto, preservar a sua imagem é tarefa de fundamental importância para o atleta. Quaisquer deslizes em sua conduta, no campo e fora do campo, podem ser fatais para a sua imagem. De craque ele passa a ser estigmatizado como jogador-problema". A realidade mostra inúmeros casos e MELO NETO (1995) referenda: "de jogador a astro é uma trajetória difícil, que poucos atletas conseguem cumprir. E, daqueles que conseguem chegar ao estrelato, são poucos os que conseguem manter-se em evidência. Suas atitudes e estilos de vida, às vezes, os afastam dos seus patrocinadores". E, a título de exemplificação, mencionamos ainda o mesmo autor, que destaca: No Brasil, tivemos diversos exemplos no passado, tais como Garrincha, Heleno de Freitas e muitos outros, que, apesar de chegaram ao estrelato, não tiveram retorno decorrentes desta situação. Ao contrário, existem aqueles que, mesmo depois de afastados da prática esportiva como atleta, mantêm-se como astros e continuam divulgando marcas e produtos de seus patrocinadores. Ex.: Zico, Júnior, Pelé, Tostão e outros. E o mesmo autor conclui: "sabendo da importância de um atleta com uma boa imagem, que sirva de imagem ideal para determinado produto, fica fácil entender as atitudes dos craques Romário, Edmundo e Bebeto, do Comitê Olímpico Brasileiro e especialmente da Confederação Brasileira de Vôlei, que, com o apoio do Banco do Brasil, trouxe de volta para o Brasil os campeões olímpicos de Barcelona. A Liga Nacional sem eles jamais seria o excelente produto de marketing que é hoje em dia. E nem tampouco o futebol carioca e paulista, sem seus tetracampeões e os craques que despontam no momento e cuja glória está bem próxima. São eles que fazem o espetáculo. E é de espetáculos que depende o desenvolvimento do marketing esportivo. E o público cada vez mais se beneficia com espetáculos mais bonitos". O Papel do Marketing Esportivo no Consumo PINHO (1988) ressalta que "o consumidor de hoje é um consumidor consciente e exigente. As empresas são obrigadas a uin cuidado maior com qualidade e preço, gerando em muitos casos um nivelamento dos vários produtos e serviços. O que faz um consumidor escolher entre um produto e outro? Certamente escollierá pelo nome mais forte associado ao produto, o nome do qual se recorda, ao qual está acostumado." Para CONTURSI (1995a), "o comportamento de um consumidor é influenciado por fator social. As razões que levam certos esportes a estarem ligados a determinadas classes sociais ainda são um tanto obscuras." Na 48 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 opinião do autor, pela natureza econômica e historicamente exclusivistas que possuem, algumas atividades atraem as classes mais altas como os esportes de elite: tênis, iatismo, automobilismo, asa delta e golfe. Do outro lado, os esportes do proletariado: futebol, alpinismo e atletismo; e, por fim, os esportes da classe média: voleibol, basquetebol e natação. As razões que levam certos esportes estarem ligados a determinadas classes sociais não estão completamente definidas; porém, o importante é que, em qualquer esporte, o profissional de marketing deve distinguir a centralização dos sistemas de valores da classe do consumidor, bem como conhecer a complexidade da estrutura social brasileira. Em diferentes circunstâncias, diferentes imagens se manifestam. A principal distinção no padrão de aquisição de um produto é o modo como ele será consumido: se particularmente ou coletivamente, em público. Quando se consome um produto de forma particular o mecanismo influente é a autoimagem. Por exemplo, quando alguém de renda moderada compra bola de futebol ou voleibol para jogar com seu filho, tende a comprar a mais barata. Mas, caso fosse jogar com seus amigos uma pelada de futebol no clube, sua imagem idealizada, que ele coiisidera iinagem preferencial, sobressai e este indivíduo pode vir a comprar bola de uma marca mais cara. Continuando, o autor destaca que a compreensão desses fenômenos interfere nas estratégias adotadas pelas empresas, pois estas têm sido as regras que regem as necessidades e os desejos dos clientes. Televisão CONTURSI (1996a) lembra que o meio de comunicação que leva a população o conhecimento de produtos em geral é a televisão, a qual ocupa o primeiro lugar na opinião dos indivíduos. A principal vantagem deste meio de comunicação, em relação aos outros, é a interligação de imagens, som e inovimento. O autor cita o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que reforça essa linha de raciocínio ao afirmar: "cuda vez se torna nzais d~jlcil sustentar o espetáculo esportivo com a presença do público nos estádios, com as grandes uglonzeruções nas arquibancadas, e, por outro lado se torna cada vez mais eJiciente as telecomunicações, sendo esta viu de projeção de imagens do evento desportivo, meio dos mais propícios e fecundos para germinar o marketing como forma de agenciumento de suporte Jinanceiro para o desporto, não há como negar o senso de oportunidade da obra sob comento, instrumento eJiciente e incapaz para o sustento do trabalho esportivo, já em nossos dias, e, em futuro próxin~omuito nzais. " É sem dúvida que por motivos diversos o esporte ganha maior destaque na televisão, havendo, com isso, um trio perfeito entre esporte, televisão e marketing esportivo (CONTURSI, 1995a). R. min. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 49 NUZMAN (1997) afirma que: "o papel da televisão neste triângulo é bastante óbvio. O poder desse meio de comunicação de reunir em torno de eventos esportivos, nas mais distantes localidades, um número de espectadores cada vez mais crescente mudou o papel que o esporte desempenha na sociedade. A televisão ampliou o impacto que o esporte exerce sobre as relações comerciais e a política, e mudou o perfil do evento esportivo. " Hoje, a televisão desempenha papel de fundamental importância na escolha dos esportes a serem disputados e na forma como serão disputados. A oportunidade de cobertura dos maiores eventos esportivos também gerou forte competição entre as maiores redes de televisão e passou a redefinir o que o público espera assistir. Tanto a televisão como o esporte e o marketing esportivo precisam um do outro, pois através da televisão o marketing esportivo é aceito pelo grande público, o qual aumenta cada vez mais (NUZMAN 1997). Segundo CONTURSI (1995a): "a televisão quando começou a cobrir eventos esportivos limitava-se apenas a transmitir a imagem. Ela tão somente permitia acesso mais rápido h imagens do que os tradicionais rolos deJilmes. A partir daí a televisão realizou algo jamais pensado. Começou a transmitir as imagens das competições, ao vivo, para dentro das casas. Não apenas os sons, não apenas imagens estáticas, mas imagens ao vivo dos competidores no ato da competição. Num passe de mágicas as mais importantes competições não estavam mais limitadas ao tamanho do local onde eram realizadas. E sim estão abertas, estas competições a disposição de todos os espectadores e não apenas aos mais ricos. " O autor destaca ainda que em alguns esportes as regras do jogo foram e estão sendo alteradas para torná-lo mais interessante para a programação de televisão e para os patrocinadores. O pedido de tempo com o objetivo comercial, por exemplo o Jim-out, é uma inovação para muitos esportes que buscam o apoio da televisão. NUZMAN (1997) confirma tudo isso ao dizer que o mundo atual é inflacionado por imagem, pois está cercado pelo vídeo e pela televisão. O imaginário não se reduz a imaginação, é na verdade o registro da identificação pessoal que atua como um espelho. As imagens são, portanto, modelos de identificação, como se pode ver na publicidade e no esporte. Por isso, sem a televisão diversos eventos não seriam patrocinados e não seria possível alcançar os milhões de espectadores em todo o mundo. Nenhum outro canal de comunicação de massa é capaz de criar tantas oportunidades quanto a televisão. Os eventos esportivos transmitidos pela televisão, ao vivo ou em videoteipe, por televisão aberta ou paga, permitem as empresas complementar seus planos de comuiiicação. 50 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 Para NUZMAN (1997), o marketing esportivo envolve atividades que dependem diretamente do televisionamento dos eventos. No futuro, o ~atrocíniode eventos esportivos será cada vez mais uma ação integrada e planejada pelas empresas'e suas agências de marketing e proiaganda,com as federações e as televisões participando verdadeiramente como parceiras num projeto comum de comunicação. Patrocínio Segundo CONTURSI (1996c), patrocínio é aquisição dos direitos de afiliar, ou associar produtos, eventos e, ou, marcas, com o intuito de diversificar e, ou, ampliar os beneficios obtidos com esta associação. O patrocínio não é meramente uma forma de responsabilidade de comportamento social das empresas. O aumento dos gastos com eventos de patrocínio e os beneficios advindos com a associação, o esporte e os eventos especiais colocam o patrocínio entre os componentes de promoções e comunicações, com crescente demanda em termos de orçamento, pessoal e planejamento das empresas. Os custos do patrocínio explodiram à medida que o público e as instituições públicas passaram a aceitar a comercialização do esporte. Sackiewicz, gerente de marketing da empresa Reebok, citado por MICHAEL e FILGUEIRAS (1996), afirma que "colocar a marca no peito de um atleta há muito deixou de ser um favor para se tomar um privilégio." Atualmente, segundo NUZMAN (1997), o retorno dos patrocinadores é oriundo do espaço ocupado por reportagens em jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão. Esses clipping comprovam matematicamente que os patrocinadores teriam que investir no mínimo até dez vezes mais, se tivessem que desembolsar o valor de mercado dessas mídias. Também sabemos dos múltiplos beneficios que o marketing esportivo traz para o esporte. Como também é ressalvado por NUZMAN (1997), "se eliminásseinos do esporte o patrocínio e a comercialização, o que sobraria? Uina enorme, fantástica e finamente ajustada máquina desenvolvida ao longo de 100 anos sem nenhum combustível." Conforme a revista Veja (1 994), "o uso do marketing esportivo pode trazer benefícios variados. Entra mais dinheiro para contratação de atletas e os jogos vão se transformando em espetáculos mais grandiosos. Onde platéias maiores, muitas vezes espalhadas pelo mundo inteiro são atingidas. Pois o esporte é um espetáculo que mais tem acesso a públicos". Segundo MEL0 NETO (1995), graças ao pioneirismo dessas empresas e a visão de futuro de seus dirigentes, o patrocínio e a promoção no esporte constituem urna atividade que movimenta grande volume de negócios. Recentemente, para garantir a participação nos Jogos Olímpicos, em Atlanta, de seus 220 atletas em 19 das 33 modalidades esportivas, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) contou com apoio de patrocinadores. Traduzidas em números, essas parcerias renderam ao COB nada menos que R$10 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 5 ( 2 ) :40-55,1997 51 milhões. Nunca uma delegação olímpica brasileira levou tantos atletas e dispôs de tantos recursos (Isto é, 1996). Confirma-se com isto que, a cada ano, aumentam as atividades de marketing esportivo. E ambas as partes são beneficiadas: a empresa patrocinadora e o esporte em questão. Como diz NUZMAN (1997): "Fica claramente evidenciada a importância do marketing no desenvolvimento, manutenção, aperfeiçoamento e dzjüsão do esporte... o esporte é, sem dúvida alguma, uma ferramenta _fundamental dentro dos novos paradigmas do marketing. " Muitas empresas adotam o tema do evento nas suas estratégias de marketing. Para essa campanha, há um denominador comum: a vinculação de uma marca a competição mais importante traz grande retomo institucional e de rejuvenescimento do nome. Alguns optam pela compra de cotas de patrocínio nas emissoras de televisão, outros elaboram campanhas promocionais (MEL0 NETO, 1995). Há um relato de MICAHEL e FILGUEIRAS (1995) que diz que a necessidade de veiculação de produtos chega até mesmo a incentivar novos esportes. "Impulsionado por anunciantes ávidos por novas formas de veiculação de seus produtos, surge agora o que parece, de forma definitiva, uma inusitada maneira de jogar bola: o beach soccer, ou futebol de praia". Segundo CONTURSI (1995a): "O grande cuidado que devemos ter com eventos são riscos signrjicativos que esse tipo de promoção oferece. Todo o trabalho de imagem de um produto pode ter grande revés, se num show programado o artista não aparece, ou num congresso onde o professor chave falta, num torneio internacional que fica marcado por uma briga generalizada no público ocasionando mortes, etc., esses tipos de incidentes marcam o produto, podendo, de acordo com o grau de relevância e principalmente de espaço e tempo ocupado na imprensa, levar a empresa a retirar esse produto do mercado, pois ele fica, definitivamente, marcado na mente do consumidor, como tragédia. O autor deixa claro que, no marketing esportivo, levar vantagem em tudo já está superado e o negócio tem que ser bom para os dois lados. No marketing esportivo, o bom negócio é cultivar relacionamento de longo prazo entre empresários e clientes, estabelecendo um clima de confiança mútua. " Marshall, citado por CONTURSI (1995a), relata alguinas vantagens do marketing esportivo: o retorno de uma marca ou produto envolvido em patrocínio de eventos esportivos é quatro vezes maior do que o de uma boa campanha publicitária, além de: - Um alto retorno publicitário para os seus investidores. 52 R. rnin. Educ. Fis., Viçosa, 5 (2): 40-55, 1997 - Permite uma maior capacidade de fixação de uma marca ou do produto da empresa investidora na mente do consumidor - Contribui para melhoria da imagem da empresa e da sua marca junto aos clientes atuais e potenciais. Possibilitando um retorno institucional. - O marketing esportivo alcançando vendas, porque promove institucionalmente a empresa, a marca e o produto. " A comunicação institucional é um recurso muito utilizado pelas organizações, visando alcançar a distribuição plena de seus produtos. Está inserida nos departamentos de marketing das empresas e utiliza-se de diferentes estratégias para possibilitar o alcance desses objetivos. Dentre as estratégias utilizadas, aquelas que se utilizam do esporte como veículo têm sobressaído, em decorrência de diferentes fatores, dentre os quais podem-se destacar: o baixo custo, a empatia gerada, a ampla área de alcance e a diversificação de publico. Como cita MELO NETO (1995): "O esporte encerra em si próprio um conceito e uma imagem de sucesso, emoção, vida, prazer, vitória e entretenimento. Os esportes coletivos, além do talento, têm o sentido de equipe, e de união. Nos esportes individuais, sobressai o puro talento individual. E através do esporte que o homem testa os seus limites e os recordes são superados a todo instante." E com base nessas idéias pode-se ainda evocar NUZMAN (1997), o qual relata que os eventos esportivos agregam valores altamente positivos aos produtos e serviços de uma empresa. Saúde, energia, garra, espírito de equipe e força são alguns desses valores repassados para o produto. E o retorno é incalculável . Ein relação ao esporte, esse também tem se beneficiado através do marketing esportivo, e, como afirma MELO NETO (1985): "Seus atributos e características fazem do marketing esportivo uma ação de baixo custo, de grande eficácia, indispensável ein qualquer plano estratégico de marketing e coinunicação para as empresas que se destacam pela excelência empresarial e pela forte liderança em seus mercados." Além desses aspectos, pode-se destacar o papel do ídolo desportivo, que, além do reconheci~iientopíibl ico, torna-se um significativo referencial de identidade da marca ou do produto, encontrando-se em permanente exposição nos meios de coi-iiu~iicação,inclusive na televisão, que hoje represenfa o melhor canal de divulgação. E necessário ressaltar que a televisão, como foi destacado no decorrer deste estudo, representa o diferencial que propicia esse status que vem sendo atribuído ao esporte e ao ídolo desportivo. Essa interação com a televisão permite retorno para ambas as partes e, indiretamente, para aqueles que se associam ou utilizam o esporte em suas estratégias de comu~iicação. R. min. Educ. Fís., Viçosa, 5 (2): 40-55,1997 53 Sabemos que o uso do merchandising e patrocínio de eventos é de grande valia para as instituições, principalmente com o espaço e a atenção ampliada da mídia nos dias atuais. Portanto, pode-se concluir que o esporte agrega todos os elementos necessários para que se consiga, através de sua utilização, alcançar os mais diferentes objetivos nos mais diferentes tipos de instituições, cabendo nesse momento assinalar que, apesar de todos os benefícios, tem-se ainda que considerar a existência de alguns riscos que são passíveis de serem analisados antes de afirmar ser o esporte a melhor estratégia de comunicação alternativa para o marketing. COBRA, M. Marketing Básico São Paulo, 1992. - Uma Perspectiva Brasileira. Atlas Ltda. Comemoração no 1. Veja 30, Março, 1994. 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