PRÁTICA OFTALMOLÓGICA Dr. Jorge Palmares Oftalmologista Hospital Privado da Boavista (HPP) – Porto Olho seco (Querato-conjuntivite sicca) vel produz constantemente lágrimas que o lubrifim oftalmologia «Olho seco» refere-se ao conjuncam. As lágrimas, produzidas pelas glândulas lacrito de alterações multifatoriais do filme lacrimal e mais principais e acessórias, são constituídas por uma da superfície ocular externa, relacionadas com a camada lipídica, que evita a evaporação e estabiliza o diminuição da produção ou excessiva evaporação das filme lacrimal e por um gel aquoso-mucínico (eleclágrimas, provocando desconforto ocular. Estas alteratrólitos, imunoglobulinas, vitaminas, factores antições acompanham-se do aumento da osmolaridade da bacterianos e de crescimento), responsável pela adepelícula lacrimal e da inflamação da superfície ocular. são da lágrima à superfície ocular. É fundamental um diagnóstico correcto, pois o seu tratamento para melhorar a visão e minimizar as leEpidemiologia sões do epitélio corneo-conjuntival é diferente de outras situações de irritação ocular e hiperemia conjunA prevalência do olho seco está a aumentar devido tival (olho vermelho). ao aumento da esperança de vida. É uma patologia O «olho vermelho» é uma apresentação clínica frequente, afectando cerca de 40% dos doentes numa muito frequente e responsável por mais de 60% das consulta de Oftalmologia e provoca vários graus de prescrições tópicas oftalmológicas. Pode também desconforto ocular. Alguns estudos epidemiológicos observar-se nas situações alérgicas (com prurido e lainternacionais apontam para valores de prevalência crimejo) e na querato-uveíte (visão turva e dor) de 15% (8% nos adultos com menos de 60 anos e (quadro 1). 19% nos indivíduos com mais de 80 anos) que, exComo a doença é crónica e actualmente sem cura, trapolado para a nossa população, representa cerca a visão e a cirurgia corneana podem ficar compromede 1,5 milhões de portugueses. tidas, afectando a qualidade de vida e frustrando as expectativas do doente e do médico. A disfunção da Sinais e sintomas unidade funcional integrada – córnea, conjuntiva e glândulas lacrimais – provoca instabilidade do filme Os sintomas e sinais relacionados com olho seco são lacrimal com sintomas de irritação ocular e queratoconjuntivite seca. Está geralmente associada à idade, factores ambientais e doenças locais ou sistémicas. Quadro 1. Diagnóstico diferencial de «olho vermelho» A lágrima tem um importante papel na manutenção da superfície Olho seco Ardência Défice de lágrimas Lágrima artificial ocular externa e na qualidade da viSensação de areia são. Assegura a nutrição e hidrataAlergia Prurido Lacrimejo Anti-alérgico ção do olho e regulariza a superfície Infecção com queratite Dor Secreção mucosa ocular, permitindo uma visão com Hipovisão e purulenta Antibiótico melhor qualidade. Um olho saudá- E VOL 35 / N. o 1 / JANEIRO 2010 / POSTGRADUATE MEDICINE / PRÁTICA OFTALMOLÓGICA ➢1 P R Á T I C A O F TA L M O L Ó G I C A Figura 1. Olho seco – queratoconjuntivite sicca. a sensação de corpo estranho, ardência, picor, irritação, lacrimejo, prurido ligeiro, fotofobia, visão enevoada, intolerância às lentes de contacto, hiperemia conjuntival (olho vermelho), secreção mucosa, pestanejo frequente e flutuação visual diurna. Geralmente há agravamento ao fim do dia, quando há vento, fumo de tabaco ou ar condicionado. Contudo, outras doenças da superfície ocular podem provocar sintomas semelhantes. A clínica do olho seco varia muito na gravidade, na duração e na etiologia. Na maior parte dos casos não é grave, se forem evitados os possíveis factores de risco (ambiente e/ou certos medicamentos). Não há um procedimento diagnóstico infalível. Em alguns doentes sintomáticos, determinadas provas podem estar alteradas. O diagnóstico é feito pela história clínica, observação minuciosa de um filme lacrimal instável (teste de Schirmer diminuído; tempo de rotura do filme lacrimal baixo - teste com fluoresceína) ou de alterações da córnea, conjuntiva e estrutura palpebral. continuação Figura 2. Queratite seca. Figura 3. Rotura do filme lacrimal (Break-up time; corante vital de fluoresceína). O olho seco tem uma origem multifactorial e importante para o tratamento. Os principais factores de risco são a idade, o sexo feminino, a menopausa, a artrite e o tabaco. É fundamental identificar as causas ambientais que exacerbam os sintomas (vento, andar de avião, ar condicionado, calor, alergénios, esforços visuais, como ler e usar o computador por períodos prolongados) e as circunstâncias em que se sente algum alívio (lágrimas artificiais e humidade). Certas doenças locais ou sistémicas estão associadas ao olho seco, tais como, blefarite, rosácea, artrite reumatóide, lupus eritematoso sistémico, síndrome de Sjogren, atopia, linfoma, sarcoidose, viroses, SIDA, síndrome Stevens-Johnson, paralisia facial, doença de Parkinson, alterações hormonais (androgénios têm efeito protector), défice de vitamina A e alcoolismo. A radioterapia local, a cirurgia de pálpebras (blefaroplastia), a cirurgia refractiva (miopia, hipermetropia), por vezes após a cirurgia da catarata e alguns medica- 2 PRÁTICA OFTALMOLÓGICA / VOL 35 / N. o 1 / JANEIRO 2011 / POSTGRADUATE MEDICINE Causas P R Á T I C A O F TA L M O L Ó G I C A mentos (anti-hipertensores, anti-colinérgicos, antihistamínicos, anti-depressivos, anti-arritímicos, diuréticos, hipnóticos, anti-glaucomatosos, atropina, beta-bloqueantes, corticosteróides, estrogénios, isotretinoína, vaso-constritores, quimioterapia) e conservantes dos colírios, são factores desencadeantes do processo patológico. Prevenção e tratamento O tratamento multidisciplinar é importante para preservar a visão e melhorar o conforto do doente, e têm como finalidade restaurar a osmolaridade da lágrima, inibir a produção de mediadores inflamatórios e evitar as lesões da superfície ocular. É fundamental alertar estes doentes sobre a evolução do processo patológico crónico, providenciar instruções do regime terapêutico e nas indicações para cirurgia refractiva, que podem aumentar os sintomas de olho seco, e ter cuidado redobrado no uso de lentes de contacto, principalmente se são hidrófilas, em que convém usar lágrimas artificiais sem conservantes. O olho seco é muitas vezes tratado com soluções descongestionantes e vasoconstritores, que produzem alívio temporário, mas que devem ser evitados devido ao efeito «rebound» que torna o olho cada vez mais seco. O uso de um computador não é factor de risco para os olhos. É importante sentar-se a uma distância de 50 ou 60 cm do ecrã, posicionar o monitor abaixo do olhar, para reduzir a abertura interpalpebral e a evaporação lacrimal, pestanejar e fazer pausas frequentes, evitando uma fixação prolongada. Deve-se eliminar sempre que possível medicamentos que exacerbem a doença, humidificar o ambiente, limpar o ar condicionado, usar óculos se estiver vento, fazer intervalos regulares de leitura, aumentar a frequência do pestanejar, tratar a blefarite e usar lágrimas artificiais. As lágrimas artificiais são complexos macromoleculares, que actuam como agentes viscosos e que aumentam o tempo de retenção, produzem um alívio mais duradouro e mantêm a integridade do epitélio continuação córneo-conjuntival; também reduzem a hiperosmolaridade e diluem os produtos pró-inflamatórios. Para manter a esterilidade dos frascos multi-doses é necessário usar conservantes (cloreto de benzalcónio, cetrimida, polyquad, purite,...) ou sistemas sem conservantes como ABAK, com a incorporação de um filtro esterilizante para impedir a penetração de bactérias. As lágrimas artificiais mais indicadas são as que não têm conservantes e são menos tóxicas, caso dos sistemas multidoses sem conservantes e das unidoses, sendo estas últimas mais caras e em que por vezes, as pessoas mais idosas têm alguma dificuldade na sua manipulação. Nos doentes com blefarite é útil usar lágrimas com conteúdo lipídico. Em casos mais graves podem ser usados emulsões e geles. (quadro 2). Por vezes é necessário ocluir os canalículos lacrimais com tampões de silicone (não reabsorvíveis) ou de colagénio (reabsorvíveis), ou por laser. Os casos mais graves de olho seco e de boca seca (síndrome de Sjogren) são tratados com fármacos orais (agonistas colinérgicos: pilocarpina, cevimelina), que estimulam a secreção do componente aquoso das lágrimas. A ciclosporina tópica e os corticóides podem melhorar alguns casos mais graves de secura ocular. Por vezes é recomendável referenciar os doentes ao internista ou reumatologista para avaliação e tratamento das doen- Quadro 2. Lágrimas artificiais Lipídeos Fosfolipídeos, Triglicerídeos Lanolina, Sorbitol, Vaselina Mucopolissacarídeos Hialuronato de sódio Polímeros sintéticos Ácido poliacrílico, Álcool polivinílico Carbómero Povidona Polissacarídeos mucílagos Carmelose (carboxi-metilcelulose) Hipromelose HP– Guar + polietilenoglicol ➢ VOL 35 / N. o 1 / JANEIRO 2010 / POSTGRADUATE MEDICINE / PRÁTICA OFTALMOLÓGICA 3 P R Á T I C A O F TA L M O L Ó G I C A continuação ças inflamatórias associadas que requerem terapêutica específica (imunossupressão). A tetraciclina (doxiciclina ou minociclina) apresenta uma actividade imunomoduladora útil nos casos mais graves de olho seco. Alguns estudos apontam para o benefício de uma dieta rica em ácidos gordos ómega-3 e ómega-6. O «perfil do doente» que sofre mais com o olho seco O exemplo típico do doente com mais queixas oculares é uma mulher na menopausa, fumadora, com artrite e blefarite, que lê muito e utiliza o computador mal posicionada na cadeira, num ambiente seco ou com ar condicionado, que toma antidepressivos, antihistamínicos para a alergia ou diuréticos para a hipertensão, que fez cirurgia estética palpebral, frequenta ambientes poluídos (café, shoppings, discoteca) e que se expõe frequentemente ao vento e ao calor. Conclusão Em alguns doentes com deficiência irreversível da produção lacrimal ou evaporação aumentada (blefarite), a doença pode ser crónica e flutuante ao longo do tempo. Nos casos mais graves podem surgir complicações, tais como úlceras, adelgaçamento, neovascularização e perfuração da córnea, infecção microbiana e cicatrização córneo-conjuntival anormal, e consequentemente perda da visão. Uma em cada seis pessoas sofre de algum tipo de secura ocular, com impacto na sua qualidade de vida pessoal e profissional, pelo que a prevenção e a terapêutica são fundamentais para a população que sofre de olho seco. 4 VOL 35 / N. o 1 / JANEIRO 2011 / POSTGRADUATE MEDICINE AZYTER – 15 mg/g Colírio, solução em recipiente unidose COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA Cada grama de solução contém 15 mg de azitromicina di-hidratada equivalente a 14,3 mg de azitromicina. Um recipiente unidose de 250 mg de solução contém 3,75 miligramas de azitromicina dihidratada. FORMA FARMACÊUTICA Colírio, solução em recipiente unidose. Líquido oleoso, límpido, incolor a ligeiramente amarelado. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS Tratamento antibacteriano localizado das conjuntivites causadas por estirpes susceptíveis: Conjuntivites bacterianas purulentas, Conjuntivites tracomatosas provocadas pela Chlamydia trachomatis. Deverão ser tidas em consideração as recomendações oficiais relativamente à utilização apropriada de agentes antibacterianos. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO Adultos, adolescentes (12 a 17 anos), crianças (2 a 11 anos): Instilar uma gota no fórnix conjuntival duas vezes por dia, de manhã e à noite, durante três dias. É desnecessário prolongar o tratamento para além de três dias. A adesão ao regime posológico é importante para o sucesso do tratamento. Crianças (1 a 2 anos de idade): Na conjuntivite do tracoma, não é necessário o ajuste da dose. Na conjuntivite bacteriana purulenta, não existe experiência suficiente com Azyter em crianças com menos de 2 anos de idade. Crianças (menos de 1 ano de idade): Não existe experiência suficiente com Azyter em crianças com menos de 1 ano de idade na conjuntivite do tracoma, assim como na conjuntivite bacteriana purulenta. Doentes idosos: Não é necessário o ajuste da dose. Modo de administração: Uso oftálmico. O doente deve ser advertido para: – lavar cuidadosamente as mãos antes e após a instilação, – evitar tocar no olho ou nas pálpebras com a extremidade do conta-gotas do recipiente unidose, – rejeitar o recipiente unidose após a utilização e não o conservar para uma – utilização subsequente. CONTRAINDICAÇÕES Hipersensibilidade à azitromicina, a qualquer outro macrólido ou ao excipiente. ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES ESPECIAIS DE UTILIZAÇÃO O colírio, solução não deve ser injectado nem ingerido. O colírio, solução não deve ser usado para injecção peri ou intra-ocular. Em caso de uma reacção alérgica, o tratamento deve ser descontinuado. Com base no consenso internacional sobre as doenças que envolvem o olho e o tracto genital e que são susceptíveis de serem transmitidas aos recém nascidos, a conjuntivite não tracomatosa provocada pela Chlamydia trachomatis e a conjuntivite provocada pela Neisseria gonorrhoeae requerem um tratamento sistémico. Com excepção do tratamento da conjuntivite tracomatosa, não se recomenda a utilização do Azyter em crianças com menos de 2 anos de idade devido à inexistência de dados clínicos suficientes nesta faixa etária. Este tratamento não se destina a ser usado como tratamento profiláctico da conjuntivite bacteriana em crianças recém nascidas. O doente deve ser informado que não é necessário continuar a instilar o colírio, solução após o final do tratamento no terceiro dia, mesmo se ainda persistirem sinais residuais de conjuntivite bacteriana. Ocorre geralmente um alívio sintomático no espaço de 3 dias. Caso não se verifiquem sinais de melhoria ao fim de 3 dias, o diagnóstico deve ser reconsiderado. Os doentes com conjuntivite bacteriana não devem usar lentes de contacto. INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS E OUTRAS FORMAS DE INTERACÇÃO Não foi realizado nenhum estudo de interacção específico com Azyter. Dada a inexistência de concentrações detectáveis de azitromicina no plasma durante a administração de Azyter por instilação ocular, com a utilização do colírio, solução não são de esperar as interacções com outros medicamentos descritas para a azitromicina administrada por via oral. No caso de tratamento concomitante com outro colírio, solução, deve ser respeitado um intervalo de 15 minutos entre a instilação das duas soluções. Azyter deve ser instilado por último. EFEITOS INDESEJÁVEIS Durante os ensaios clínicos realizados e de acordo com os dados de segurança relativos à póscomercialização do Azyter colírio, solução, foram notificados os seguintes sinais e sintomas relacionados com o tratamento: Afecções oculares: Muito frequentes (³1/10): Desconforto ocular (prurido, sensação de queimadura, ardor) após a instilação. Frequentes (³1/100, <1/10): Visão turva, sensação de olho colado, sensação de corpo estranho após a instilação. Pouco frequentes (³1/1000, <1/100): Aumento do lacrimejo após a instilação. Alterações do sistema imunitário: Muito raras (<10,000): Hipersensibilidade. PRAZO DE VALIDADE Prazo de validade do medicamento na sua embalagem comercial: 18 meses Após abertura do recipiente unidose, o colírio, solução deve ser imediatamente utilizado. Rejeite o recipiente unidose aberto imediatamente após a primeira utilização APRESENTAÇÃO E PREÇOS: PREÇO APROVADO: AZYTER 15 mg/g: €7,60. Comparticipado (37% / 52%) PREÇO PRATICADO SEGUNDO DL n.º 106-A/2010, de 1 de Outubro: AZYTER 15 mg/g: € 7,14. Comparticipado (37% / 52%) Medicamento sujeito a receita médica. Para mais informações deverá contactar o Titular da AIM.