Desempenho Recente e Perspectivas para a Economia de Pernambuco A economia pernambucana vem registrando dinamismo mais acentuado que o observado na maior parte dos demais estados brasileiros. Nesse cenário, o objetivo deste boxe consiste em identificar possíveis determinantes da distinção mencionada; avaliar o desempenho recente da economia do estado; analisar o impacto desta evolução sobre indicadores de renda e pobreza; e discutir as perspectivas relacionadas ao desempenho econômico do estado nos próximos anos. Gráfico 1 – Distribuição dos rendimentos do trabalho dos empregados (%) 24,9 26,5 46,1 55,9 59,5 45,9 19,2 8,1 BRASIL 14,0 NORDESTE (excl.PE) Até 0,5 SM De 0,5 SM a 1,5 SM PERNAMBUCO Maior que 1,5 SM Fonte: PNAD 2009 / IBGE. Gráfico 2 – Rendimento real médio do trabalho dos empregados (2003=100) 140 130 120 O fortalecimento da demanda interna constituiu fator chave para a sustentação do crescimento econômico do estado e reflete, em especial, os impactos dos aumentos reais do salário mínimo, das transferências assistenciais do setor público, e da expansão dos financiamentos para projetos de investimento. Em cenário de aumentos reais do salário mínimo em patamar superior ao dos níveis salariais mais elevados1, a massa de rendimentos do fator trabalho tende a registrar elevação relativamente maior onde predominam níveis salariais mais reduzidos, padrão observado em Pernambuco. De fato, a participação no total dos rendimentos do trabalho dos empregados de salários entre meio a um e meio salário mínimo atingiu 59,5% no estado, 55,9% no Nordeste, e 45,9% no Brasil, em 2009, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE) (Gráfico 1). 110 100 90 2003 2004 2005 2006 2007 Brasil Nordeste (excl.PE) Fonte: PNAD 2003-2009 / IBGE 2008 2009 Pernambuco A estrutura mencionada se refletiu na evolução recente do rendimento médio real do trabalho no estado e na região, que, conforme o Gráfico 2, atingiu 5,6% e 5,2%, respectivamente, de 2003 a 2009, ante expansão média de 3,4% no Brasil. 1/ De 2003 a 2009, o salário mínimo registrou aumento anual médio real de 6,3%, enquanto o valor real médio dos salários superiores a 1,5 salário mínimo - considerados dados da PNAD relativos a setembro de 2003 e de 2009, deflacionados pelo INPC - apresentou estabilidade. Abril 2011 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | 107 Gráfico 3 – Participação das transferências assistenciais no PIB (%)1/ 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 2006 2007 2008 2009 2010 Brasil Nordeste (excl.PE) Pernambuco Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE (NE e PE, estimativas Banco do Nordeste (BNB) e BCB para 2009 e 2010) e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) 1/ Programa Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e Renda Mensal Vitalícia. As transferências assistenciais2 do setor público para Pernambuco e o Nordeste vêm se mostrando relativamente mais expressivas do que as destinadas, em média, ao país. A proporção entre estas transferências e o PIB registrou, de 2005 a 2010, aumento mais acentuado em âmbito estadual e regional do que na esfera nacional, conforme o Gráfico 3. 2005 Gráfico 4 – Desembolsos do BNDES em relação ao PIB (%)1/ 18 15 12 9 6 3 0 2004 2005 2006 BRASIL 2007 2008 2009 Nordeste (excl.PE) 2010 Pernambuco Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE (NE e PE, estimativas Banco do Nordeste (BNB) e BCB para 2009 e 2010) e BNDES 1/ Dos 17% do PIB de Pernambuco em desembolsos do BNDES em 2009, 13 p.p. correspondem a financiamento em utilização na RAL. Gráfico 5 – Variação do volume do VAB da construção civil (% a.a.) 16,7 11,2 5,3 4,1 3,8 3,0 Brasil Nordeste (excl.PE) 2005/2007 Pernambuco 2008/2010 Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE. NE e PE, estimativas BCB para 2009 e 2010. Gráfico 6 – Variação do PIB real (% a.a.) 5,4 4,9 4,7 4,4 4,0 3,9 Brasil Nordeste (excl.PE) 2005-2007 Pernambuco 2008-2010 Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE. NE e PE, estimativas Banco do Nordeste (BNB) e BCB para 2009 e 2010. A expansão da demanda por financiamento de projetos de investimentos vem favorecendo o desempenho diferenciado do estado. De acordo com o Gráfico 4, os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinados a Pernambuco, como proporção do PIB, após se manterem, até 2008, em patamar inferior aos concedidos para o restante do Nordeste e o país, registraram impulso acentuado no biênio seguinte. Essa evolução torna-se mais relevante na medida em que, mesmo desconsiderado o desembolso de R$10 bilhões para ser utilizado na implantação da Refinaria Abreu e Lima (RAL), a razão entre os financiamentos do BNDES para projetos de investimentos e o PIB atingiu 4,8% em Pernambuco, em 2010, ante 3,3% no Nordeste e 4,6% no país. A implantação dos projetos de investimento, vários de grande porte, vem estimulando a construção civil, importante geradora de empregos. O valor adicionado pela construção civil no estado, após registrar expansão inferior às assinaladas no país e no restante da região no triênio encerrado em 2007, registrou taxa anual de crescimento médio de 16,7% no triênio finalizado em 2010, ante aumento médio anual de 4,1% no país (Gráfico 5). O maior dinamismo da economia pernambucana em anos recentes está evidenciado na trajetória do PIB (Gráfico 6). Nesse sentido, a distinção entre o crescimento médio anual do PIB do estado e dos PIB's do restante da região e do país, após atingir 0,2 p.p. e 0,5 p.p., respectivamente, no triênio encerrado em 2007, totalizou, na ordem, 1,4 p.p. e 1,5 p.p., no triênio finalizado em 2010. A taxa de crescimento médio anual do valor adicionado do comércio no estado (Gráfico 7), embora recuasse no triênio encerrado em 2010, em relação ao finalizado em 2007, apresentou arrefecimento menos acentuado do que os observados no restante da região e no país. 2/ Considerados os programas Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e Renda Mensal Vitalícia. 108 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | Abril 2011 Gráfico 7 – Variação do volume do VAB do comércio (% a.a.) 7,9 7,1 5,9 6,6 5,6 4,9 Brasil Nordeste (excl.PE) 2005/2007 2008/2010 Pernambuco Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE. NE e PE, estimativas BCB para 2009 e 2010 Gráfico 8 – Variação do volume do VAB da indústria de transformação (% a.a.) 4,7 3,5 2,6 2,6 2,0 1,2 Brasil Nordeste (excl.PE) Pernambuco 2005/2007 2008/2010 Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE. NE e PE, estimativas BCB para 2009 e 2010 Gráfico 9 – Volume do VAB da indústria de transformação (1985=100) 200 Além da redução geral do ritmo de crescimento entre os dois triênios, a exemplo do observado no comércio, o Gráfico 8 evidencia que ainda assim o valor adicionado pela indústria de transformação registrou expansão mais acentuada no estado do que no restante do Nordeste e no país, nos dois triênios considerados. É importante ressaltar, no entanto, que considerando horizonte temporal mais extenso (Gráfico 9), esse desempenho reflete uma base de comparação deprimida, podendo representar um processo de recuperação, após forte retração da atividade no final do século passado. De fato, de acordo com estatísticas do IBGE, o valor adicionado pela indústria de transformação no estado retraiu-se 31% de 1987 a 1999, movimento, em parte, associado à perda de mercado de setores importantes, após a abertura da economia brasileira, à dificuldades financeiras na agroindústria sucroalcooleira e à desconcentração regional dos investimentos. O mercado de trabalho do estado registrou criação acentuada de empregos formais no período 2004/2010, quando o numero de vagas aumentou, em média, 6,9% a.a, ante 5,9% no Brasil (Gráfico 10). Esse resultado torna-se mais relevante se considerado que, de 1995 a 2003, a taxa de crescimento médio anual dos postos de trabalho no estado atingiu 1,9%, ante 2,8% no país. 180 160 140 120 100 80 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 60 Brasil Nordeste (excl.PE) Pernambuco Fontes: Contas Regionais e Contas Nacionais Trimestrais / IBGE. NE e PE, estimativas BCB para 2009 e 2010 Gráfico 10 – Variação do nível de emprego formal (% a.a.) 6,9 6,6 5,9 4,0 2,8 Esse cenário econômico favorável se traduziu em melhoras representativas nos indicadores sociais de Pernambuco. A taxa de pobreza do estado, conforme o Gráfico 11, recuou 20 p.p. de 2003 a 2009, evolução semelhante à registrada no restante do Nordeste, 21 p.p. e superior à assinalada no Brasil, 15 p.p. No mesmo sentido, a desigualdade de renda no estado, medida pelo coeficiente de Gini, registrou, no período, retração significativamente maior do que na região e no país. Os principais projetos de investimento em implantação e recentemente concluídos no estado estão relacionados na Tabela 1. Vale enfatizar o potencial das cadeias produtivas dos projetos relativos a uma refinaria e a uma montadora de veículos. 1,9 Brasil Nordeste (excl.PE) 1995/2003 2004/2010 Fontes: RAIS / Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) Pernambuco As perspectivas para a economia do estado envolvem aspectos relacionados à continuidade do fortalecimento do mercado interno do estado e aos projetos de investimentos em curso e previstos para os próximos anos. O processo de consolidação do mercado interno Abril 2011 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | 109 Gráfico 11 – Taxa de pobreza (%)1/ 62 60 42 39 36 35 62 59 21 Brasil Nordeste (excl.PE) 1995 2003 Pernambuco 2009 deverá manter-se impulsionado pela expansão do nível de emprego e rendimentos e pela continuidade da política de transferência de renda do governo federal, podendo, inclusive, exercer efeito-escala relevante para a instalação de novos empreendimentos no estado, a exemplo do observado nos últimos anos. Ressalte-se que as decisões de investimentos no estado consideram, adicionalmente, sua localização, em relação ao mercado nordestino e a importantes mercados externos, e a infra-estrutura do Complexo Industrial Portuário de Suape. Fonte: Ipeadata 1/ Percentual de pessoas na população total com renda domiciliar per capita inferior à linha de pobreza. Estimativas utilizando dados da PNAD/IBGE. Gráfico 12 – Desigualdade de renda – Coeficiente de Gini 0,56 0,57 0,52 Brasil Fonte: IBGE 2004 0,59 0,53 0,52 Nordeste 2009 Pernambuco Tabela 1 – Principais investimentos recentes em Pernambuco Investidor Atividade Situação Valor (US$milhões) Petrobras Refinaria de petróleo Implantação FIAT Automóveis Montadora Anunciado 12 290 3 000 Governo Federal Ferrovia (Transnordestina) - PE PI AL CE Implantação 2 036 Petroquímica Suape Fábricas de PTA, POY e PET Implantação 1 708 Companhia Siderúrgica Suape Siderúrgica de laminados Anunciado 900 Governo Federal Integração do Rio São Franscisco - PE CE PB RN Implantação 812 Estaleiro Atlântico Sul Estaleiro Concluído 780 Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco e Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – Balanço 4 anos 2007-2010 – Pernambuco 110 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | Abril 2011