Papiledema bilateral associado à trombose de veia jugular interna: Uma rara apresentação de linfoma folicular Souza, L. B.; Almeida, B. I. A.; Baptista, L. R.; Filho, J. T. D. S. Faculdade de Medicina de Campos INTRODUÇÃO: OBJETIVOS: A trombose de veia jugular interna é uma doença vascular de apresentação incomum. Pode ser causada por diversas condições clínicas, como complicação de infecções e trauma de cabeça e pescoço, cateterização venosa central prolongada, abuso de drogas intravenosas, compressão extrínseca ou efeito trombogênico consequente a uma neoplasia. Um ponto em comum entre essas condições clínicas é a presença da tríade de Virchow como fator desencadeante da doença, uma vez que em todas elas há um dano à camada íntima do vaso, alteração do fluxo sanguíneo e estado de hipercoagulabilidade. Por sua vez, papiledema secundário à oclusão da veia jugular é extremamente raro, havendo relatos de poucos casos, ocorrendo por redução ou obstrução da drenagem venosa intracraniana. Relatamos um caso de papiledema bilateral associado à trombose de veia jugular interna em uma paciente com linfoma folicular. Relatar um caso de papiledema bilateral associado à trombose de veia jugular interna em uma paciente com linfoma folicular e sua evolução em resposta à terapia de escolha. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo descritivo na forma de relato de caso e revisão bibliográfica em base de dados. RELATO DE CASO/RESULTADOS: Paciente do sexo feminino, 41 anos, apresentava há cerca de 9 meses quadro de adenomegalia indolor e móvel em regiões submandibular e cervical bilaterais, com crescimento lento e progressivo. Após 8 meses de evolução, apresentou turvação visual bilateral, fotofobia e diplopia. Ao exame físico não apresentava alterações, exceto pela presença de linfonodomegalias. Exame oftalmológico: acuidade visual OD 20/20, OE 20/20 (turvação visual à direita); tonometria normal; fundo de olho: edema de disco óptico bilateral. Exames laboratoriais sem alterações relevantes, exceto por LDH e PCR elevados (Tabela 1). hipodensas e hipocaptantes. A ressonância magnética e angioressonância de crânio e órbitas mostraram dilatação bilateral das bainhas dos nervos ópticos retrobulbares e edema dos mesmos, sinais de trombose de aspecto oclusivo de veia jugular interna direita cervical, trombo filiforme e alongado no seio transverso e sigmóide direitos, sem oclusão. Foi iniciado tratamento com corticóide, anticoagulação com heparina de baixo peso molecular e tratamento quimioterápico (R-CHOP). A paciente evoluiu com redução dos linfonodos e melhora progressiva da acuidade visual. Tabela 1: exames laboratoriais. O exame liquórico foi normal, sem alteração citológica ou bioquímica. A angiografia e retinografia evidenciaram olhos com papilas borradas, edemaciadas, hiperfluorescentes, com hemorragias em chama de vela, em quadro de papiledema bilateral, mais acentuado em olho direito. A biópsia ganglionar foi compatível com linfoma folicular de baixo grau. As tomografias computadorizadas (TC) de crânio, pescoço, tórax, abdome e pelve mostraram crânio normal, presença de linfonodomegalias cervicais acometendo os níveis IB e II, bilateralmente, conglomerado linfonodal na região supraclavicular direita, de aspecto irregular, observando-se falha de enchimento no interior da veia jugular interna deste lado (Figura 1), múltiplas linfonodomegalias na cadeia axilar direita, baço de dimensões normais, apresentando lesões nodulares Figura 1: TC de pescoço – linfonodomegalias cervicais, com falha de enchimento no interior da veia jugular interna à direita. CONCLUSÕES: A grande maioria dos quadros de papiledema relacionado aos linfomas é consequente à meningite linfomatosa e à hipertensão intracraniana pela infiltração do linfoma no sistema nervoso central. Devido à baixa casuística da trombose de veia jugular interna associada aos linfomas, esse diagnóstico é raramente considerado, acarretando um retardo na elucidação dos casos, podendo culminar em complicações, tais como o papiledema. O tratamento imediato com anticoagulação seguido da terapia quimioterápica para o linfoma permitiu a reversão do quadro, evitando-se a lesão neuro-oftalmológica definitiva. BIBLIOGRAFIA: 1. BADAWI, M., ALAM, J., KHAN, Z.. A Rare Presentation of Mediastinal Lymphoma: Upper Airway Obstruction and Internal Jugular Vein Thrombosis. Ibnosina Journal of Medicine and Biomedical Sciences, América do Norte, 4 de abril de 2012. Disponível em: <http://journals.sfu.ca/ijmbs/index.php/ij mbs/article/view/246>. Data de acesso: 03 de agosto de 2015. 2. Shameem, M., Akhtar, J., Bhargava, R., Ahmed, Z., Baneen, U., & Khan, N. A. Internal jugular vein thrombosis–A rare presentation of mediastinal lymphoma. Respiratory Medicine CME, 3(4), 273-275, 2010. 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Data de acesso: 03 de agosto de 2015.