Você, a gente et alia indeterminam o sujeito em - PPGEL

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS
VALTER DE CARVALHO
VOCÊ, A GENTE ET ALIA INDETERMINAM O SUJEITO EM SALVADOR
Salvador
2010
VALTER DE CARVALHO
VOCÊ, A GENTE ET ALIA INDETERMINAM O SUJEITO EM SALVADOR
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Estudo de Linguagens do Departamento
de Ciências Humanas – Campus I da UNEB, como
requisito obrigatório para obtenção do grau de Mestre
em Letras.
Orientadora: Profa. Dra. Norma Lopes
Coorientadora: Profa. Dra. Celina Abbade
Salvador
2010
FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB
Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592
Carvalho, Valter de
Você, a gente et alia indeterminam o sujeito em Salvador / Valter de Carvalho. -Salvador, 2010.
197f.
Orientadora: Norma da Silva Lopes.
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências
Humanas. Campus I. 2010.
Contém referências.
1. Sociolinguística – Salvador (BA). 2. Língua portuguesa – Salvador (BA) - Variação. 3.
Língua portuguesa - Português falado – Salvador (BA). I. Lopes, Norma da Silva. II.
Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas.
CDD: 410
VALTER DE CARVALHO
VOCÊ, A GENTE ET ALIA INDETERMINAM O SUJEITO EM SALVADOR
Dissertação aprovada como requisito parcial e obrigatório para obtenção do grau de Mestre
em Letras, Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens do Departamento de
Ciências Humanas – Campus I da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Profa. Dra. Norma da Silva Lopes – Orientadora
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
______________________________________________
Profa. Dra. Jacyra Andrade Mota
Universidade Federal da Bahia - UFBA
______________________________________________
Profa. Dra. Lígia Pellon de Lima Bulhões
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Salvador, 23 de março de 2010.
À mainha,
pelo amor incondicional,
companheirismo, amizade e dedicação.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela força, saúde e luz, sem as quais não conseguiria chegar até onde
cheguei, vencendo todos os obstáculos.
À minha mãe, Vitalina de Carvalho, que com seu amor colaborou para os propósitos
de Deus em minha vida.
À minha orientadora, Norma Lopes, mãe acadêmica que me gerou no seio da
Sociolinguística, colega e, sobretudo, amiga. Muito obrigado pela paciência e
dedicação antes e durante o mestrado.
À minha coorientadora, Celina Abbade, não só por toda colaboração na produção
deste trabalho, mas pela amizade, nascida em meio profissional e extrapolada para
além fronteiras.
Aos grandes amigos que são Lorena Nascimento e Jorge Martins, por me suportar
com todo estresse durante a realização do mestrado e me apoiar em todos os
momentos.
Às minhas eternas amigas Ane e Taís cuja amizade foi construída na graduação,
solidificada e mantida com amor ao longo de nossas vidas.
A todos os meus colegas do curso de mestrado, especialmente às amigas
fantásticas Fabíola, Sandra e Zoraide que compõem o “Quarteto Fantástico”. Os
conselhos, incentivos e desabafos foram preciosos para vencer mais uma etapa.
Às colegas e amigas Eliéte Oliveira e Marcela Paim, pelo grande incentivo para
realização da seleção do mestrado.
À Profa. Dra. Odete Menon, pelas valiosas contribuições acerca do tema deste
trabalho e pela amizade que nasceu após os encontros nos eventos linguísticos.
À amiga Neila Santana, que muito contribuiu para o enriquecimento desta pesquisa,
não só enviando sua dissertação, mas também sugerindo algumas leituras.
Às Profas. Dras. Jacyra Mota e Suzana Cardoso, que me acolheram no grande lar
do Projeto Atlas Linguístico do Brasil – ALiB e também como aluno especial nas
disciplinas ministradas no Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da
Universidade Federal da Bahia. Muito obrigado por ensinar-me os caminhos da
Dialetologia e da Sociolinguística e, principalmente, a ser um ser humano melhor a
cada dia. Quod abundat non nocet.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens
(PPGEL) da Universidade do Estado da Bahia, pelo aprendizado acadêmico e
incentivo.
Aos funcionários administrativos do PPGEL, Camila e Danilo, que com presteza
sempre me apoiaram em todo processo acadêmico.
À Denise Silva por revisar o meu abstract com o maior carinho e atenção.
À Edilza, minha diretora e amiga, que muito contribuiu para que várias etapas
fossem concluídas.
A todos os colegas e amigos que compartilham a vida pessoal, acadêmica e
profissional nos mais diversos espaços, fazendo com que eu aprenda cada dia mais
a construir um mundo melhor para mim e todos que me cercam.
“Tentar aprisionar a língua é na verdade tentar
cercear o espírito criador do ser humano.”
Marta Scherre
RESUMO
A presente pesquisa investigou as principais estratégias para marcar a
indeterminação do sujeito na fala urbana popular e culta de Salvador, registrando-as
e descrevendo-as. Buscaram-se não só as formas consideradas canônicas pelas
gramáticas tradicionais, tais como as formas verbais sem sujeito lexical expresso, o
verbo na 3ª pessoa do plural (Ø+V3PP), o verbo na 3ª pessoa do singular mais o
pronome “se” (Ø+V3PS+SE) ou ainda o verbo no infinitivo impessoal (Ø+VINF), mas
também outras estratégias como “você”, “a gente”, “nós”, “eles”, “eu”, voz passiva
sem a gente (VPSA), voz passiva sintética (VPASSINT) e as “formas nominais”,
como, por exemplo, “o cara, o sujeito, o pessoal” entre outras. O trabalho foi
desenvolvido de acordo com o enquadramento teórico-metodológico da
Sociolinguística Variacionista, buscando identificar os contextos extralinguísticos ou
sociais (gênero/sexo, escolaridade e faixa etária) e linguísticos (forma antecedente,
mudança/manutenção do referente, tempo e modo verbal, tipo de verbo,
preenchimento do sujeito, tipo de oração, grau de indeterminação) que justificassem
os usos encontrados. Para a realização desta pesquisa, foram analisados quarenta
e quatro inquéritos do tipo DID (Diálogo entre Informante e Documentador) do
Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador (PEPP) e do
Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta de Salvador (NURC-SSA). Os
dados, após sua coleta, foram submetidos à quantificação através do pacote de
programa Varbrul 2S e do GoldVarb X. Os resultados mostraram que os falantes de
Salvador nos diversos níveis de escolaridade fazem uso de várias estratégias para
marcar a indeterminação do sujeito, principalmente das formas pronominais “você” e
“a gente”, influenciadas por diversos fatores extralinguísticos e linguísticos.
PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística. Variação linguística. Língua Portuguesa.
Indeterminação do sujeito.
ABSTRACT
The present research investigated the main strategies to mark the undetermination of
the subject in urban speech popular and cultured of Salvador, registering them and
describing them. The forms considered canonic for the traditional grammars, such as
the verbal forms without expressed lexical subject, the verb in 3rd person of the
plural (Ø+V3PP), the verb in 3rd person singular plus the pronoun “se”
(Ø+V3PS+SE), the verb in the impersonal infinitive (Ø+VINF), but also other
strategies as “você”, “a gente”, “nós”, “eles”, “eu”, passive voice without subject
(VPSA), synthetic passive voice (VPASSINT) and the “nominal forms”, for example,
“o cara, o sujeito, o pessoal” among others. The work was developed in accordance
with the framing theoretician-methodological of the Variationist Sociolinguístics,
having searched to identify to the extralinguistic or social contexts (gender/sex,
education and age) and linguistics (antecedent form, change/maintenance of the
referring one, verb tenses, verb type, fulfilling of the subject, sentence type, degree of
undetermination) that they justified the uses found. For the accomplishment of this
research, forty four inquiries of type DID (Dialogue between Informer and
Documentor) of the Program of studies on the Popular Portuguese Speech of
Salvador (PEPP) and of the Project of study of Cultured Urban Linguistic Norm of
Salvador (NURC-SSA). The data, after its collection, were submitted to the
quantification through the Varbrul 2S and GoldVarb X program. The results showed
that the speakers of Salvador in the various levels of education make use of some
strategies to mark the undetermination of the subject, mainly of the pronominal forms
“você” and “a gente”, influenced for diverse extralinguistic and linguistics factors.
KEY-WORDS: Sociolinguístics. Linguistics Change. Portuguese. Undetermination of
the Subject.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora.
96
Tabela 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e nãopronominais.
98
Tabela 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável forma
antecedente.
100
Tabela 4: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/
mudança do referente em relação à aplicação das estratégias pronominais.
100
Tabela 5: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável tempo e
modo verbal.
101
Tabela 6: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável grau de
indeterminação.
102
Tabela 7: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável
escolaridade.
103
Tabela 8: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo em relação à aplicação das estratégias pronominais.
104
Tabela 9: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
105
Tabela 10: Input de cada variante pronominal em análise eneária com o MVarb. 106
Tabela 11: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
gênero/sexo.
107
Tabela 12: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
faixa etária.
108
Tabela 13: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
escolaridade.
109
Tabela 14: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
tempo e modo verbal.
110
Tabela 15: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
forma antecedente.
111
Tabela 16: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
112
Tabela 17: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
preenchimento do sujeito.
113
Tabela 18: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
tempo e modo verbal.
113
Tabela 19: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
grau de indeterminação.
114
Tabela 20: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
tipo de oração.
115
Tabela 21: Input de cada variante não-pronominal em análise eneária com
o MVarb.
116
Tabela 22: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável gênero/sexo.
117
Tabela 23: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável faixa etária.
118
Tabela 24: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável escolaridade.
119
Tabela 25: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável tempo e modo verbal.
121
Tabela 26: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável
forma antecedente.
122
Tabela 27: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável mudança/manutenção do referente.
123
Tabela 28: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável grau de indeterminação.
124
Tabela 29: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável tipo de oração.
124
Tabela 30: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável forma
antecedente.
127
Tabela 31: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/
mudança do referente em relação à aplicação da variante “a gente”.
128
Tabela 32: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável preenchimento
do sujeito.
128
Tabela 33: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável grau de
indeterminação.
129
Tabela 34: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tempo e modo
verbal.
130
Tabela 35: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade.
130
Tabela 36: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo em relação à aplicação da variante “a gente”.
131
Tabela 37: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
132
Tabela 38: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo.
133
Tabela 39: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tipo de oração. 133
Tabela 40: Aplicação da variante “você” em relação à variável forma
antecedente.
134
Tabela 41: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/
mudança do referente em relação à aplicação da variante “você”.
135
Tabela 42: Aplicação da variante “você” em relação à variável preenchimento
do sujeito.
135
Tabela 43: Aplicação da variante “você” em relação à variável grau de
indeterminação.
136
Tabela 44: Aplicação da variante “você” em relação à variável tempo e modo
verbal.
137
Tabela 45: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade
137
Tabela 46: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo em relação à aplicação da variante “você”.
141
Tabela 47: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária.
138
Tabela 48: Aplicação da variante “você” em relação à variável tipo de verbo.
141
Tabela 49: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo.
142
Tabela 50: Aplicação da variante “eles” em relação à variável forma antecedente. 145
Tabela 51: Aplicação da variante “eles” em relação à variável grau de
indeterminação.
146
Tabela 52: Aplicação da variante “eles” em relação à variável preenchimento do
sujeito.
146
Tabela 53: Aplicação da variante “eles” em relação à variável escolaridade.
146
Tabela 54: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo em relação à aplicação da variante “eles”.
148
Tabela 55: Aplicação da variante “eles” em relação à variável tempo e modo verbal.
149
Tabela 56: Aplicação da variante “eles” em relação à variável mudança/
manutenção do referente.
149
Tabela 57: Aplicação da variante “nós” em relação à variável forma antecedente. 150
Tabela 58: Aplicação da variante “nós” em relação à variável preenchimento do
sujeito.
150
Tabela 59: Aplicação da variante “nós” em relação à variável tempo e modo
verbal.
151
Tabela 60: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade.
151
Tabela 61: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo.
152
Tabela 62: Aplicação da variante “nós” em relação à variável grau de
indeterminação.
154
Tabela 63: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária.
155
Tabela 64: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável forma
antecedente.
158
Tabela 65: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável tipo de oração. 158
Tabela 66: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade. 159
Tabela 67: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo.
160
Tabela 68: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável forma
antecedente.
161
Tabela 69: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/
mudança do referente em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS”.
161
Tabela 70: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tempo e
modo verbal.
162
Tabela 71: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade. 162
Tabela 72: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária.
163
Tabela 73: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
165
Tabela 74: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável gênero/sexo. 166
Tabela 75: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e escolaridade em relação à
aplicação da variante “Ø+V3PS”.
166
Tabela 76: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e faixa etária em relação à
aplicação da variante “Ø+V3PS”
167
Tabela 77: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tipo de oração.168
Tabela 78: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tempo e
modo verbal.
169
Tabela 79: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
170
Tabela 80: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável grau de
indeterminação.
170
Tabela 81: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tipo de oração.171
Tabela 82: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária.
171
Tabela 83: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Ø+V3PP”.
172
Tabela 84: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária.
173
Tabela 85: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade. 174
Tabela 86: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
176
Tabela 87: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável tipo de verbo. 176
Tabela 88: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável forma
antecedente.
177
Tabela 89: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/
mudança do referente em relação à aplicação da variante “Ø+V+SE”.
177
Tabela 90: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
forma antecedente.
179
Tabela 91: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
grau de indeterminação.
180
Tabela 92: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
tempo e modo verbal.
180
Tabela 93: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
181
Tabela 94: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
gênero/sexo.
181
Tabela 95: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e
gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Formas Nominais”.
182
Tabela 96: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
tipo de oração.
182
Tabela 97: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
tipo de verbo.
183
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Principais distinções entre indeterminação e indefinição
segundo Milanez (1982).
35
Quadro 2: Distribuição dos informantes nas células.
57
Quadro 3: Ordem de seleção das variáveis nas rodadas binárias em relação
à cada variante.
126
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora.
97
Gráfico 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e
não-pronominais.
98
Gráfico 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável
escolaridade.
104
Gráfico 4: As estratégias pronominais em relação à variável gênero/sexo.
107
Gráfico 5: As estratégias pronominais em relação à variável escolaridade.
109
Gráfico 6: As estratégias não-pronominais em relação à variável gênero/sexo.
117
Gráfico 7: Aplicação da variante Ø+V+SE em relação à variável faixa etária.
119
Gráfico 8: As estratégias não-pronominais em relação à variável escolaridade.
120
Gráfico 9: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade.
131
Gráfico 10: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo.
133
Gráfico 11: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade.
138
Gráfico 12: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária.
139
Gráfico 13: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis faixa etária e
escolaridade.
140
Gráfico 14: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo.
142
Gráfico 15: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e
escolaridade
143
Gráfico 16: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e
faixa etária.
144
Gráfico 17: Frequência da variante “eles” em relação à variável escolaridade.
147
Gráfico 18: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade.
152
Gráfico 19: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo.
153
Gráfico 20: Aplicação da variante “nós” em relação às variáveis gênero/sexo e
escolaridade.
154
Gráfico 21: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária.
155
Gráfico 22: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável
gênero/sexo.
156
Gráfico 23: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável
escolaridade.
156
Gráfico 24: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade. 159
Gráfico 25: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade. 163
Gráfico 26: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária.
164
Gráfico 27: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária
e escolaridade.
164
Gráfico 28: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária
e gênero/sexo.
166
Gráfico 29: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/
sexo e faixa etária.
167
Gráfico 30: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/
sexo e faixa etária.
168
Gráfico 31: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária.
171
Gráfico 32: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária.
174
Gráfico 33: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade. 175
Gráfico 34: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação às variáveis faixa etária
e escolaridade.
175
Gráfico 35: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável
gênero/sexo.
181
LISTA DE ABREVIATURAS
Apl.
Aplicação
Cf.
Conferir
D2
Diálogo entre dois informantes
DID
Diálogo entre informante e documentador
EF
Elocução formal
FN
Formas Nominais
GT
Gramática(s) Tradicional(is)
Ind.
Indicativo
Nº
Número
NURC
Projeto da Norma Urbana Culta
Ø+V+SE
Ø+V3PP
Verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se” sem sujeito
lexical
Verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical
Ø+V3PS
Verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical
Ø+VINF
Verbo no infinitivo sem sujeito lexical
P.R.
Peso Relativo
PASSINT
Voz passiva sintética
PEPP
Programa de Estudo sobre o Português Popular Falado de Salvador
SN
Sintagma Nominal
Subj.
Subjuntivo
T
Total
VARBRUL Variable Rules (Regras Variáveis)
VARSUL
Projeto Variação Linguística Urbana da Região Sul
VARSUL
Projeto Variação Linguística Urbana da Região Sul
VPSA
Voz passiva sem agente
SUMÁRIO
1
COMEÇA-SE FALANDO QUE...
24
2
FUNDAMENTOU COM DUAS CORRENTES LINGUÍSTICAS
26
2.1
A SOCIOLINGUÍSTICA
26
2.1.1
A variação linguística
28
2.1.2
A mudança linguística
30
2.2
2.2.1
FUNCIONALISMO
Gramaticalização
32
33
3
ESTUDARAM A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
34
3.1
A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
35
3.2
O ENFOQUE DAS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS SOBRE A
INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
36
3.2.1
Gramática Metódica da Língua Portuguesa (ALMEIDA, 2005)
36
3.2.2
Gramática Normativa da Língua Portuguesa (ROCHA LIMA,
2008)
37
3.2.3
Nova Gramática do Português Contemporâneo (CUNHA;
CINTRA, 2001)
37
3.2.4
Novíssima Gramática da Língua Portuguesa (CEGALLA, 2008)
38
3.2.5
Moderna Gramática Portuguesa (BECHARA, 1966; 2009)
39
3.3
A PERSPECTIVA DAS GRAMÁTICAS DESCRITIVAS
40
3.3.1
Gramática de Usos do Português (NEVES, 2000)
40
3.3.2
Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (AZEREDO, 2008)
42
3.4
O SUJEITO INDETERMINADO SOB O OLHAR DA SEMÂNTICA E
DA PRAGMÁTICA
43
3.5
A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO EM OUTROS ESTUDOS
46
3.5.1
Recursos de Indeterminação do Sujeito (MILANEZ, 1982)
47
3.5.2
Os pronomes pessoais sujeito e a indeterminação do sujeito
na norma culta de Salvador (ROLLEMBERG, 1991)
48
3.5.3
Indeterminação Pronominal do Sujeito (CUNHA, 1993)
48
3.5.4
Analyse sociolinguistique de l'indetermination du sujet dans le
portugais parlé au Bresil, a partir des données du NURC/SP
(MENON, 1994)
49
3.5.5
A indeterminação do sujeito nas três capitais do sul do Brasil
(SETTI, 1997)
50
3.5.6
A indeterminação do sujeito na escrita padrão: a imprensa
carioca nos séculos XIX e XX (CAVALCANTE, 1999)
52
3.5.7
A indeterminação do sujeito no interior paranaense: uma
abordagem sociolinguística (GODOY, 1999)
52
3.5.8
A indeterminação do sujeito no português rural do semi-árido
baiano (SANTANA, 2006)
54
3.5.9
A indeterminação do sujeito no português popular do interior
do estado da Bahia (PONTE, 2008)
55
4
FOI DESENVOLVIDO ASSIM
56
4.1
OS CORPORA
57
4.1.1
Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de 58
Salvador – PEPP
4.1.2
Projeto Norma Urbana Culta – NURC / SSA
60
4.2
PARÂMETROS DE SELEÇÃO DAS OCORRÊNCIAS
61
4.3
VARIÁVEL DEPENDENTE
62
4.3.1
Eu
62
4.3.2
Nós
63
4.3.3
A gente
65
4.3.4
Você
66
4.3.5
Eles
68
4.3.6
Formas Nominais – FN
70
4.3.7
Verbo na terceira pessoa do plural – Ø+V3PP
71
4.3.8
Verbo mais a partícula “se” – Ø+V+SE
71
4.3.9
Verbo na terceira pessoa do singular – Ø+V3PS
74
4.3.10
Verbo no infinitivo impessoal – Ø+VINF
75
4.3.11
Voz passiva sem agente – VPSA
76
4.3.12
Voz passiva sintética – VPASSINT
77
4.4
VARIÁVEIS INDEPENDENTES
78
4.4.1
Variáveis Extralinguísticas ou Sociais
78
4.4.1.1
Gênero/sexo
78
4.4.1.2
Escolaridade
80
4.4.1.3
Faixa Etária
81
4.4.2
Variáveis Linguísticas
82
4.4.2.1
Tempo e modo verbal
82
4.4.2.2
Tipo de oração
83
4.4.2.3
Tipo de verbo
84
4.4.2.4
Forma antecedente
85
4.4.2.5
Mudança / manutenção do referente
90
4.4.2.6
Preenchimento do sujeito
90
4.4.2.7
Grau de indeterminação
91
4.5
O SUPORTE QUANTITATIVO
93
5
ANALISARAM-SE OS DADOS
96
5.1
ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS X NÃO-PRONOMINAIS
97
5.1.1
Forma antecedente
100
5.1.2
Tempo e modo verbal
101
5.1.3
Grau de indeterminação
102
5.1.4
Escolaridade
103
5.1.5
Mudança/manutenção do referente
105
5.2
ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS
105
5.2.1
Gênero/sexo
106
5.2.2
Faixa etária
108
5.2.3
Escolaridade
108
5.2.4
Tempo e modo verbal
110
5.2.5
Forma antecedente
111
5.2.6
Mudança/manutenção do referente
111
5.2.7
Preenchimento do sujeito
112
5.2.8
Tipo de verbo
113
5.2.9
Grau de indeterminação
114
5.2.10
Tipo de oração
114
5.3
ESTRATÉGIAS NÃO-PRONOMINAIS
115
5.3.1
Gênero/sexo
116
5.3.2
Faixa etária
118
5.3.3
Escolaridade
119
5.3.4
Tempo e modo verbal
120
5.3.5
Forma antecedente
121
5.3.6
Mudança/manutenção do referente
123
5.3.7
Grau de indeterminação
123
5.3.8
Tipo de oração
124
5.4
RODADAS BINÁRIAS POR ESTRATÉGIAS
125
5.4.1
Variantes pronominais
126
5.4.1.1
A gente
126
5.4.1.1.1
Forma antecedente
127
5.4.1.1.2
Preenchimento do sujeito
128
5.4.1.1.3
Grau de indeterminação
128
5.4.1.1.4
Tempo e modo verbal
129
5.4.1.1.5
Escolaridade
130
5.4.1.1.6
Mudança/manutenção do referente
132
5.4.1.1.7
Gênero/sexo
132
5.4.1.1.8
Tipo de oração
133
5.4.1.2
Você
134
5.4.1.2.1
Forma antecedente
134
5.4.1.2.2
Preenchimento do sujeito
135
5.4.1.2.3
Grau de indeterminação
136
5.4.1.2.4
Tempo e modo verbal
136
5.4.1.2.5
Escolaridade
137
5.4.1.2.6
Faixa etária
138
5.4.1.2.7
Tipo de verbo
141
5.4.1.2.8
Gênero/sexo
142
5.4.1.3
Eles
144
5.4.1.3.1
Forma antecedente
145
5.4.1.3.2
Grau de indeterminação
145
5.4.1.3.3
Preenchimento do sujeito
146
5.4.1.3.4
Escolaridade
146
5.4.1.3.5
Tempo e modo verbal
148
5.4.1.3.6
Mudança/manutenção do referente
149
5.4.1.4
Nós
149
5.4.1.4.1
Forma antecedente
150
5.4.1.4.2
Preenchimento do sujeito
150
5.4.1.4.3
Tempo e modo verbal
151
5.4.1.4.4
Escolaridade
151
5.4.1.4.5
Gênero/sexo
152
5.4.1.4.6
Grau de indeterminação
154
5.4.1.4.7
Faixa etária
155
5.4.2
Variantes não-pronominais
157
5.4.2.1
Verbo no infinitivo sem sujeito lexical – Ø+VINF
157
5.4.2.1.1
Forma antecedente
157
5.4.2.1.2
Tipo de oração
158
5.4.2.1.3
Escolaridade
158
5.4.2.2
Verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical – Ø+V3PS
160
5.4.2.2.1
Forma antecedente
160
5.4.2.2.2
Tempo e modo verbal
162
5.4.2.2.3
Escolaridade
162
5.4.2.2.4
Faixa etária
163
5.4.2.2.5
Mudança/manutenção do referente
165
5.4.2.2.6
Gênero/sexo
165
5.4.2.2.7
Tipo de oração
168
5.4.2.3
Verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical – Ø+V3PP
169
5.4.2.3.1
Tempo e modo verbal
169
5.4.2.3.2
Mudança/manutenção do referente
169
5.4.2.3.3
Grau de indeterminação
170
5.4.2.3.4
Tipo de oração
170
5.4.2.3.5
Faixa etária
171
5.4.2.4
Verbo na terceira pessoa do singular + se sem sujeito lexical – 172
Ø+V+SE
5.4.2.4.1
Faixa etária
173
5.4.2.4.2
Escolaridade
174
5.4.2.4.3
Mudança/manutenção do referente
176
5.4.2.4.4
Tipo de verbo
176
5.4.2.4.5
Forma antecedente
177
6
O PESSOAL TAMBÉM FOI CONTEMPLADO
178
6.1
DADOS NUMÉRICOS DAS FORMAS NOMINAIS
178
6.1.1
Forma antecedente
179
6.1.2
Grau de indeterminação
179
6.1.3
Tempo e modo verbal
180
6.1.4
Mudança/manutenção do referente
180
6.1.5
Gênero/sexo
181
6.1.6
Tipo de oração
182
6.1.7
Tipo de verbo
183
6.2
CONHECENDO AS FORMAS NOMINAIS
183
6.2.1
O cara
184
6.2.2
O indivíduo
184
6.2.3
O sujeito
185
6.2.4
Nego
185
6.2.5
O pessoal, a(s) pessoa(s)
186
6.2.6
O povo
187
6.2.7
O público
187
6.2.8
O homem
188
6.2.9
Gente
188
7
A GENTE CONSIDEROU FINALMENTE
189
REFERÊNCIAS
24
1 COMEÇA-SE FALANDO QUE...
...ao longo deste trabalho, as estratégias “você”, “a gente” e outras formas
também indeterminam o sujeito em Salvador, não só as estruturas sem sujeito
lexical com o verbo intransitivo ou transitivo direto acompanhado da partícula “se” ou
o verbo na terceira pessoa do plural, conforme encontradas em várias gramáticas
tradicionais, doravante GT.
A indeterminação do sujeito ocorre de diversas maneiras na língua falada,
principalmente quando o falante relata experiências vividas. Por exemplo, o uso do
pronome “você” destacado neste trecho extraído de um dos inquéritos do Programa
de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador (PEPP), “se você vê a
missa de seis horas, no Bonfim, se você chegar seis e quinze, não acha lugar pra
sentar”. O item salientado faz referência a qualquer pessoa que chega à Igreja do
Bonfim, as seis e quinze, não determinando quem é essa pessoa, ou seja, o sujeito,
o referente extralinguístico.
Do mesmo modo, a expressão “a gente”, que atualmente alterna no uso com
o pronome pessoal de primeira pessoa plural “nós”, apresenta-se como marca da
indeterminação do sujeito, como nesta frase do Projeto Norma Urbana Culta de
Salvador, NURC/SSA, “[...] vinha pelo litoral norte da Bahia 36 léguas de terra, a
começar na Praça da Ponte que a gente chama da Mariquita aqui em Salvador...”.
A leitura de alguns trabalhos sobre o objeto desta pesquisa (cf. MILANEZ,
1982; ROLLEMBERG, 1991; CUNHA, 1993; MENON, 1994; SETTI, 1997;
CAVALCANTE, 1999; GODOY, 1999; SANTANA 2006; FAGGION, 2008; PONTE,
2008) fez com que os objetivos fossem estabelecidos, as variantes fossem
selecionadas e a metodologia traçada.
Assim, tendo como ponto inicial a conceituação semântica de sujeito, este
trabalho investigou se havia e quais seriam as outras estratégias usadas pelos
falantes para marcar a indeterminação do sujeito na fala urbana popular e culta de
Salvador e quais seriam condicionamentos extralinguísticos (ou sociais) e
linguísticos que motivariam os usos encontrados, a partir do enquadramento teóricometodológico da Sociolinguística Quantitativa.
25
Buscando atender aos objetivos propostos nesta introdução, este trabalho foi
desenvolvido em mais cinco seções, cujos títulos apresentam algumas das
estratégias apontadas e que foram encontradas ao longo do seu desenvolvimento.
A
seção
Fundamentou
com duas
correntes
linguísticas
aborda os
pressupostos teóricos da Sociolinguística Quantitativa, principalmente em relação à
definição da variação e da mudança linguística, como também sobre o
Funcionalismo, especialmente sobre o processo de gramaticalização que, na
interpretação dada por este trabalho, contribuiu para a transformação de alguns
itens em um elemento com função de indeterminação.
Em seguida, na seção intitulada Estudaram a indeterminação do sujeito, são
apresentadas as abordagens acerca desse tema em algumas gramáticas normativas
e descritivas, além de expor pesquisas realizadas sobre o objeto em questão, nas
modalidades oral e escrita da língua portuguesa no Brasil.
A metodologia empregada para dar conta dos objetivos pretendidos é descrita
em Foi desenvolvido assim, quando são apresentados os corpora utilizados, os
parâmetros de seleção das ocorrências, a descrição das variantes encontradas e as
variáveis extralinguísticas e linguísticas contempladas.
Após coleta de dados e sua quantificação realizada através do pacote de
programas VARBRUL e do GoldVarb X, foi possível a obtenção de dados numéricos
para proceder à análise feita em Analisaram-se os dados, apresentando os gráficos
e tabelas com os resultados alcançados e devidamente comentados, a fim de buscar
justificativas
para
os
usos
linguísticos
encontrados
ao
longo
de
todo
desenvolvimento do trabalho em relação à fala de Salvador.
As formas nominais (ou sintagmas nominais) ganharam destaque, não só
pela quantidade de usos encontrada, mas pela distinção das demais formas, uma
vez que as outras são pronominais ou verbais sem preenchimento do sujeito. Assim,
na seção O pessoal também foi contemplado, partindo de dados quantitativos, fazse uma análise do ponto de vista lexicológico e da gramaticalização, levantando as
significações das lexias encontradas em alguns dicionários até chegar à
indeterminação do sujeito, significação dada neste trabalho.
Por fim, A gente considerou finalmente apresenta as considerações finais, as
quais não se encerram e nem finalizam a pesquisa, apenas resumem os principais
resultados obtidos ao longo do desenvolvimento deste trabalho e apontam possíveis
encaminhamentos.
26
2 FUNDAMENTOU COM DUAS CORRENTES LINGUÍSTICAS
“É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o
conhecimento e entendimento de si própria e do mundo que a cerca.”
(LEITE; CALLOU, 2004, p. 7)
Nesta seção, traz-se à baila a definição da Sociolinguística, área da Linguística
que busca compreender a relação entre língua e sociedade a partir dos usos reais
de seus falantes, os quais fazem uso da linguagem para expressar seus
conhecimentos e tentar entender a si mesmos e a sociedade na qual vivem. Como
também o Funcionalismo, principalmente no que diz respeito à Gramaticalização,
noção que será necessária para entendimento de algumas estratégias de
indeterminação.
2.1 A SOCIOLINGUÍSTICA
Um dos ramos da Linguística que surgiu para estudar os usos reais e
concretos da língua foi a Sociolinguística, cujo termo foi fixado em 1964, em um
congresso organizado por William Bright, na Universidade da Califórnia em Los
Angeles (UCLA). Neste evento, participaram diversos estudiosos que já percebiam e
estudavam a relação existente entre linguagem e sociedade, tais como John
Gumperz, Einar Haugen, William Labov, Dell Hymes, John Fisher e José Pedro
Rona. Os trabalhos apresentados nesse congresso foram publicados, em 1966, sob
o
título
“Sociolinguistics”,
cujo
capítulo
introdutório
“As
dimensões
da
Sociolinguística”, escrito por Bright, definiu e caracterizou este novo ramo dos
estudos linguísticos, estabelecendo a diversidade linguística como seu objeto de
estudo (ALKMIM, 2005, p. 28).
O termo sociolinguística foi cunhado naquela época por não terem encontrado
outro que pudesse dar conta das intenções reais propostas por aqueles estudiosos.
Inclusive o próprio Labov ([1972] 2008, p. 13) declarou: “por vários anos, resisti ao
termo sociolinguística, já que ele implica que pode haver uma teoria ou prática
linguística bem-sucedida que não é social”, pois toda prática linguística é também
social. Daí, Calvet (2002, p. 12) afirmar que “se a língua é um fato social, a
27
linguística então só pode ser uma ciência social, isto significa dizer que a
sociolinguística é a linguística”.
De uma maneira mais ampla e esclarecedora, Cezario e Votre (2008, p. 142)
dizem que a Sociolinguística
é uma área que estuda língua em seu uso real, levando em
consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos
sociais e culturais da produção linguística. Para essa corrente, a língua
é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma
estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e
da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação.
Ao se estudar a diversidade linguística, torna-se claro que para os estudiosos
supracitados a língua não é homogênea, mas heterogênea. Ela apresenta “diversas
alternativas de dizer ‘a mesma’ coisa” (LABOV, [1972] 2008, p. 221), caracterizando
assim a variação linguística.
A Sociolinguística “é o estudo da língua falada, observada, descrita e
analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso” (ALKMIN, 2005,
p. 31), ocupando-se, portanto, de estudar a variação linguística, conforme definido
acima, buscando “analisar e aprender a sistematizar variantes linguísticas usadas
por uma mesma comunidade de fala” (TARALLO, 2003, p. 6) ou “comunidade
linguística” (ALKMIN, 2005, p. 31).
Em uma mesma cidade, bairro ou rua haveria tantas formas diferentes de uso
de uma língua quanto seria a quantidade de falantes. Assim, uma “comunidade de
fala”, como define Fernández (1998, p. 19, tradução nossa),
é formada por um conjunto de falantes que compartilham
efetivamente, pelo menos, uma língua, porém que, além disso,
compartilham um conjunto de normas e valores de natureza
sociolinguística: compartilham as mesmas atitudes linguísticas, as
mesmas regras de uso, o mesmo critério quanto à avaliação dos fatos
linguísticos, os mesmos padrões sociolinguísticos.
O modelo de análise linguística elaborado por Labov serviu de base para
vários estudiosos até os dias atuais, os quais convencionaram chamar de “modelo
teórico-metodológico”, isso por que se trata de uma teoria que explica as diferentes
formas de os falantes fazerem uso de sua língua, e utiliza-se de uma metodologia
para coleta e análise de dados. Em seus estudos iniciais, Labov se concentrou no
inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, em Massachusetts-EUA, em 1963, e
28
outros posteriores, tais como os estudos sobre a estratificação social do inglês
falado na cidade de Nova Iorque e o estudo sobre o inglês falado por adolescentes
negros do Harlem, também em Nova Iorque.
Esse modelo de estudo também é conhecido como Sociolinguística
Quantitativa, por fazer uso de dados numéricos, instituídos a partir dos dados
coletados e quantificados, buscando dar um caráter mais preciso e objetivo aos
estudos linguísticos, pois, segundo Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006, p. 107),
não basta apontar a existência ou a importância da variabilidade: é
necessário lidar com os fatos de variabilidade com precisão suficiente
para nos permitir incorporá-los em nossas análises da estrutura
linguística.
Atualmente, emprega-se também a nomenclatura Sociolinguística Laboviana,
fazendo menção ao seu precursor.
Ao linguista variacionista importa estudar características linguísticas comuns
de uma comunidade de falantes, pois é vivendo em grupo que há ou não a
manutenção linguística das características dessa comunidade. Por exemplo, dentro
de uma comunidade de fala haverá pessoas mais escolarizadas, e elas tentarão
preservar a variante tida como padrão; sendo assim, o condicionante dessa variante
não será uma delimitação geográfica, mas, nesse caso, social. Porém isso não
implica que um determinado falante dessa mesma comunidade não possa fazer uso
de uma variante menos prestigiada.
A Sociolinguística surge diante da necessidade de tentar entender essa
relação entre língua e sociedade. Sendo ela uma área da ciência da linguagem,
buscará “verificar de que modo fatores de natureza linguística e extralinguística
estão correlacionados ao uso de variantes nos diferentes níveis da gramática da
língua – a fonética, a morfologia e a sintaxe” (BELINE, 2003, p. 125).
2.1.1 A variação linguística
A variação linguística é um fenômeno intrínseco a toda e qualquer língua,
contudo ela “não é aleatória, mas sim governada por restrições linguísticas e não
linguísticas” (SILVA; SCHERRE, 1998, p. 39). Os falantes modificam seus
29
comportamentos diante da sociedade, e sua fala irá refletir esses posicionamentos.
Assim, as formas alternativas utilizadas por esses usuários da língua para tratar
mais ou menos da mesma coisa denominam-se variantes linguísticas, as quais
serão tratadas como um conjunto denominado de variável dependente, ou seja,
uma variável é concebida como dependente no sentido que o emprego
das variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores
(ou variáveis independentes) de natureza social ou estrutural
(MOLLICA, 2004, p.11).
As nomenclaturas de variável dependente e variáveis independentes foram
emprestadas da estatística, por fazer uso das técnicas numéricas empregadas por
essa ciência exata.
A variável dependente diz respeito à forma linguística que está em variação,
ou seja, que está fazendo parte do repertório linguístico dos falantes, os quais fazem
escolhas quanto ao uso de uma ou outra forma. Vale ressaltar que essas escolhas,
normalmente, são inconscientes. Os dados que são coletados para os estudos
sociolinguísticos são, em sua maioria, de contextos naturais de uso, quando a fala não é tão
monitorada, assim os falantes utilizam a língua com espontaneidade, sem sofrer qualquer
tipo de pressão imposta por regras estruturais dos estilos formais de fala.
Contudo essa escolha não é aleatória, depende dos fatores externos (ou
sociais) à língua e dos fatores internos ou linguísticos, uma vez que a própria língua
pode condicionar determinados usos.
Diversos são os fatores externos à língua que podem determinar essas
escolhas, entre eles o status social do falante, a influência da mídia, rede social,
entre outros. Além desses, há também a possibilidade de se verificar a influência do
nível de escolaridade, gênero/sexo e faixa etária (idade), os quais serão abordados
na seção 4 juntamente com os fatores linguísticos selecionados para este trabalho.
Diante do exposto, cabe ao sociolinguista, segundo Silva e Scherre (1998, p.
43),
identificar os fenômenos linguísticos variáveis de uma dada língua,
inventariar suas variantes, definindo as variáveis dependentes,
levantar hipóteses que dêem conta das tendências sistemáticas da
variação linguística, operacionalizar as hipóteses através de variáveis
independentes ou grupos de fatores de natureza linguística e não
linguística, identificar, levantar e codificar os dados relevantes,
30
submetê-los a tratamento estatístico adequado e interpretar os
resultados obtidos à luz das hipóteses levantadas.
2.1.2 A mudança linguística
Pensar em mudança linguística é, também, pensar em variação, pois, apesar
de que “nem tudo o que varia sofre mudança; toda mudança linguística, no entanto,
pressupõe variação. Variação, portanto, não implica mudança; mudança, sim,
implica sempre variação” (TARALLO, 2003, p. 63).
Cabe retomar a ideia de variação linguística para entender de uma maneira
mais clara o que é a mudança linguística. Quando duas ou mais formas alternativas
de se dizer mais ou menos a mesma coisa estão sendo empregadas em uma
comunidade de fala, diz-se que elas estão em variação, ou seja, estão coocorrendo.
Se um dia na história dessa comunidade uma das formas deixar de ser utilizada
pelos falantes, será caracterizada a mudança linguística, pois uma das formas não
faz mais parte do repertório linguístico, não está “na boca do povo”.
A mudança linguística não se dá de maneira aleatória, assim como a
variação;
ela
sofre
influência
de
diversos
fatores,
sejam
linguísticos
ou
extralinguísticos. Daí Weinreich, Herzog e Labov ([1968] 2006, p. 122) afirmarem
que
a mudança linguística não deve ser identificada com deriva aleatória
procedente da variação inerente na fala. A mudança linguística
começa quando a generalização de uma alternância particular num
dado subgrupo da comunidade de fala toma uma direção e assume o
caráter de uma diferenciação ordenada.
A língua, principal ferramenta de comunicação dos membros de uma
sociedade, também passa por mudanças para atender às necessidades de seus
usuários. E isso se dá tanto na língua falada quanto na língua escrita. Em relação à
falada, há uma adaptação mais rápida às alterações sofridas nos hábitos dos
indivíduos. Contrariamente, a escrita tende a ser mais resistente às inovações
linguísticas.
Uma
das
técnicas
empregadas
pela
Sociolinguística
para
buscar
compreender se determinadas formas linguísticas estão em processo de mudança
31
ou já estão estabelecidas é o trabalho desenvolvido com falantes de diferentes
faixas etárias em uma mesma época (estudo da mudança em tempo aparente). Há
também o estudo da mudança em tempo real, quando, em sincronias diferentes, se
observa um mesmo falante (estudo em painel) ou outros falantes que compartilham
as mesmas características dos falantes já registrados (estudo de tendência).
O estudo em tempo real é um tanto difícil de se realizar quando se trata do
mesmo informante, pois ele com quarenta anos de idade, por exemplo, poderá não
estar mais vivo depois de dez, vinte anos, ou até mesmo, poderá mudar de
endereço e não ser mais encontrado pelos pesquisadores.
Trabalhos na perspectiva do tempo real estão sendo desenvolvidos a partir de
dados do Projeto da Norma Urbana Culta – NURC de Salvador, cujas entrevistas
foram realizadas na década de 70 e os mesmos informantes que ainda se
encontravam vivos foram recontactados na década de 90 do século passado. No
caso de não haver contato com os antigos informantes, foram incluídos novo
informantes com as mesmas características dos informantes anteriores. Há dados
coletados em língua portuguesa em duas épocas diferentes e com os mesmos
informantes ou informantes com as mesmas características.
O recurso de análise em tempo aparente permite ao sociolinguista obter
informações sobre a mudança linguística em uma mesma sincronia com falantes
diferentes em idades diferentes. Por exemplo, a observação será realizada com dois
falantes no ano de 2009. O falante “A” tem quarenta anos e o “B” vinte anos. Tendo
em vista a análise em tempo aparente, acredita-se que o falante “A” representa a
fala de um jovem de vinte anos em 1989, ou seja, vinte anos antes do falante “B”.
De acordo com Mattos e Silva (1996, p. 27),
o recurso de trabalhar com gerações conviventes permitiu à
Sociolinguística apreender mudanças em curso ou em processo, ou
seja, permitiu captar o processo de difusão da mudança na estrutura
da língua e na comunidade de fala, o que até então não tinha sido
alcançado porque, em geral, as teorias da mudança trabalhavam com
a mudança no tempo histórico real.
Conforme dito anteriormente, realizar uma pesquisa sociolinguística incluindo
a variável idade permitirá ao estudioso observar a mudança ocorrida nas formas
linguísticas que estão sendo investigadas, levantar hipóteses e obter resultados que
permitam uma melhor compreensão dos usos que os falantes fazem de sua língua,
32
nos mais variados níveis, seja fonológico, morfológico, sintático, semântico, entre
outros. Ao estudar a mudança linguística, o pesquisador poderá saber se ela está
em progresso, por vias de concretização da mudança, ou se está consolidada.
Somente o estudo em tempo real poderá confirmar se há de fato mudança.
2.2 FUNCIONALISMO
Inicialmente, para se definir o que é o Funcionalismo, faz-se necessário
compreender o que seja “funcional”, uma vez que essa palavra pode remeter a
diversas ideias ligadas à linguística ou não.
Para Martinet (apud NEVES, 1997, p. 5, grifo da autora), “o termo funcional só
tem sentido para os linguistas ‘em referência ao papel que a língua desempenha
para os homens, na comunicação de sua experiência uns aos outros.’” Daí, o
funcionalismo ser sempre mencionado pelos pesquisadores como uma corrente
oposta ao formalismo.
O formalismo linguístico concebe a língua como um sistema autônomo,
fechado em si mesmo. Estuda a língua em si mesma, as suas estruturas, o que
pode ser regular. O funcionalismo, por sua vez, “privilegia a função comunicativa
como papel predominante das línguas” (REGO, 2009, p. 53).
Cunha (2008, p. 158), de uma maneira mais ampla e clara, define o
funcionalismo como uma corrente linguística que
se preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das
línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são
usadas. Assim, a abordagem funcionalista apresenta não apenas
propostas teóricas distintas acerca da natureza geral da linguagem,
mas diferentes concepções no que diz respeito aos objetivos da
análise linguística, aos métodos nela utilizados e ao tipo dos dados
utilizados como evidência empírica.
Essa é uma noção geral sobre o funcionalismo, uma vez que ele apresenta
diversas vertentes que dão conta de vários objetivos pretendidos ao se estudar a
linguagem. Evidentemente, há uma base comum nessa corrente para classificar os
mais diversos estudos como pertencentes a ela, a interação social, ou seja, “a
33
consideração metodológica de que o componente discursivo desempenha um papel
preponderante na gramática de uma língua” (PEZATTI, 2004, p. 176).
Dentre as diversas possibilidades de estudos funcionalistas, para este
trabalho, importa tratar do processo de gramaticalização, uma vez que está
intimamente ligado à mudança linguística.
2.2.1 Gramaticalização
Dentre as possibilidades de estudos da mudança, a gramaticalização é uma
“constante renovação do sistema linguístico – percebida, sobretudo, pelo surgimento
de novas funções para formas já existentes e de novas formas para funções já
existentes” (GONÇALVES et al., 2007, p. 15).
Diante disso, entende-se por gramaticalização, segundo Castilho (1997, p.
31),
o trajeto empreendido por uma forma, ao longo do qual, ela muda de
categoria sintática, recebe propriedades funcionais na sentença, sofre
alterações semânticas e fonológicas, deixa de ser uma forma livre e
até desaparece como consequência de uma cristalização extrema.
Pode-se, portanto, exemplificar esse processo através do item “você”, que já
foi considerado, ao menos no Brasil, pronome de tratamento, passando a pronome
pessoal de referência a segunda pessoa e atesta-se hoje também como uma das
estratégias para indeterminar o sujeito na interação verbal (cf. subseção 4.3.4).
O mesmo pode-se dizer da forma “a gente”, outrora considerado um
substantivo simples mais o artigo definido feminino e, atualmente, sendo empregado
como um pronome pessoal na mesma categoria que o “nós”, além, é claro, de ser
empregado como uma das estratégias para marcar a indeterminação do sujeito.
Esse mesmo fenômeno ocorre com outros substantivos, tais como “o cara”, “o
indivíduo”, “o homem” entre outras formas que também estão sendo empregadas
como marca de indeterminação do sujeito, conforme pode ser verificado na seção 6.
34
3 ESTUDARAM A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
Pensar no uso do termo indeterminação é questionar o que vem a ser o seu
oposto, a determinação. Além disso, faz-se necessário pensar também na
indefinição e impessoalização, termos abundantemente empregados que, muitas
vezes, são confundidos.
A determinação, segundo Milanez (1982, p. 26), ocorre quando os
interlocutores especificam e identificam uma das três pessoas do discurso, ao
contrário da indeterminação, cujas pessoas não são especificadas e identificadas,
podendo abranger qualquer uma delas indistintamente. É o que se chama de
generalização.
O sujeito determinado é conceituado por Rocha Lima (2008, p. 235) quando é
“identificável na oração – explícita ou implicitamente”, não havendo exemplificação a
fim de tornar mais clara sua afirmação.
Cunha e Cintra (2001, p. 127) citam o termo determinado atribuído ao sujeito
quando da classificação de sujeito oculto, dizendo que “é aquele que não está
materialmente expresso na oração, mas pode ser identificado”. Vê-se aí que é
justamente a questão da identificação do sujeito que o classifica em determinado ou
indeterminado.
Em relação à indefinição, as gramáticas normativas a tratam em relação aos
pronomes ditos como indefinidos, de acordo com Santana (2006, p. 43, grifos da
autora) ao dizer que na indefinição
a referência diz respeito exclusivamente a formas lexicais de terceira
pessoa: tudo, nada, alguém, ninguém etc., enquanto na
indeterminação a generalização é essencial, podendo envolver
qualquer pessoa (primeira, segunda e terceira) de forma isolada ou
simultânea.
Assim, Milanez (1982, p. 38-42) propõe alguns aspectos que devem ser
observados para a distinção entre a indeterminação e a indefinição, os quais serão
elencados no quadro a seguir:
35
Indeterminação
Restringe-se apenas aos seres
humanos.
Indefinição
Não se restringe apenas aos seres
humanos, pois pode se referir
também aos não-humanos.
Apresenta recursos sintaticamente
distintos entre si, referindo-se a
qualquer pessoa do discurso,
independente de sua marca pertencer
a uma das três pessoas.
Envolve formas lexicais exclusivas de
terceira pessoa, tal como alguém,
algo, todo, nada etc., não podendo se
remeter a outras pessoas do discurso.
A generalização é uma condição
essencial para que a indeterminação
ocorra.
A generalização é apenas uma
possibilidade.
A quantificação não importa, pois
tanto o singular quanto o plural tem
referência genérica.
A quantificação é importante para
diferenciar a indefinição da definição.
Depende do contexto para sua
interpretação.
Pode ser interpretado no nível frasal.
Não é possível identificar de modo
preciso as pessoas do discurso.
Está no campo da determinação, uma
vez que é possível identificar uma das
pessoas do discurso.
Quadro 1: Principais distinções entre indeterminação e indefinição segundo Milanez (1982).
Por fim, a impessoalização que, segundo Milanez (1982, p. 48, grifo da
autora), é “uma propriedade de certos verbos que, por sua própria natureza, não
atribuem a seus SN-sujeitos nenhuma função referencial”, como é o caso do
infinitivo tido como impessoal, por não haver um sujeito que faça referência.
3.1 A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
Diferenciados os termos determinado, indeterminado e impessoalização, cabe
agora adentrar no tema do presente estudo: a indeterminação do sujeito, termo
empregado pelas Gramáticas Tradicionais, que aqui é entendido como a
indeterminação do referente, ou seja, o agente da ação verbal que se encontra em
um contexto externo ao linguístico, compartilhando do mesmo mundo concreto que
os falantes participantes da interação verbal no ato de comunicação.
Nota-se que não há uma explicação aceitável no contexto sintático para o uso
do termo “indeterminado”, uma das classificações atribuídas ao sujeito. Inicialmente,
36
dever-se-ia tornar claro o que seria um sujeito “determinado” em oposição ao
“indeterminado”. Ao observar as outras classificações do sujeito apresentadas pelas
GT, tal como “oculto”, “simples”, “composto” entre outras, verifica-se que elas fazem
referência à forma, em oposição à classificação de sujeito “indeterminado” que é
semântica (MILANEZ, 1982, p. 11).
Dessa forma, faz-se necessário trazer à baila as abordagens que algumas
gramáticas tidas como tradicionais e descritivas fazem sobre esse objeto de estudo.
Aqui, serão apresentadas algumas das mais conhecidas, selecionadas a partir do
fácil acesso que se obteve ao longo do desenvolvimento da pesquisa.
3.2 O
ENFOQUE
DAS
GRAMÁTICAS
TRADICIONAIS
SOBRE
A
INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO
As gramáticas tradicionais que serão apresentadas a seguir, em relação ao
tratamento dado ao sujeito indeterminado, foram ordenadas de acordo com o ano de
publicação. Os dois últimos, respectivamente Cegalla e Bechara, lançaram uma
nova edição de seus manuais, incluindo o Novo Acordo Ortográfico de 1990, em
vigor no Brasil desde 2008.
3.2.1 Gramática Metódica da Língua Portuguesa (ALMEIDA, 2005)
Almeida (2005, p. 414), em sua “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”,
diz que “o sujeito é indeterminado quando de impossível identificação”, podendo ser
empregado com verbos tidos como “ativos, acidentalmente impessoalizados na 3ª
pessoa do plural”, conforme exemplo 01, ou com verbos “acidentalmente
impessoalizados na passiva”, como o exemplo 02:
(01)
“Dizem que ele vem.”
(02)
“Assim se vai aos céus.”
37
3.2.2 Gramática Normativa da Língua Portuguesa (ROCHA LIMA, 2008)
Rocha Lima (2008, p. 235, grifos do autor), mantendo o mesmo postulado que
o gramático anterior, diz que é sujeito indeterminado “se não pudermos ou não
quisermos especificá-lo”.
O gramático completa sua definição dizendo que
Vale-se a língua de um dos dois expedientes:
1) Empregar o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência
anterior ao pronome eles ou elas, e a substantivo no plural
[cf. exemplos 03 e 04];
2) Usá-lo na 3ª pessoa do singular acompanhado da partícula
se, desde que o verbo seja intransitivo, ou traga
complemento preposicional [cf. exemplos 05 e 06].
Há ainda exemplos citados por Rocha Lima (2008, p. 235) para elucidar
melhor sua explicação:
(03)
“Falam mal daquela moça.”
(04)
“Mataram um guarda.”
(05)
“Vive-se bem aqui.”
(06)
“Precisa-se de professores.”
3.2.3 Nova Gramática do Português Contemporâneo (CUNHA; CINTRA, 2001)
A caracterização do sujeito indeterminado na visão de Cunha e Cintra (2001,
p. 128) não é diferente do que já foi exposto, definindo-se quando “algumas vezes, o
verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem
executa a ação, ou por não haver interesse no seu conhecimento”.
Após essa definição, esses gramáticos dizem que só há duas possibilidades
de marcar esse tipo de sujeito (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 128, grifos dos autores):
colocando o verbo na “3ª pessoa do plural” (ver exemplos 07 e 08) ou na “3ª pessoa
do singular, com o pronome se”:
38
(07)
“- Contaram-me, quando eu era pequenina, a história duns náufragos,
como nós.”
(08)
“Reputavam-no o maior comilão da cidade.”
(09)
“Ainda se vivia num mundo de certezas.”
(10)
“Precisa-se do carvalho; não se precisa do caniço.”
3.2.4 Novíssima Gramática da Língua Portuguesa (CEGALLA, 2008)
De forma bem sucinta, Cegalla (2008, p. 325, grifos do autor) afirma que o
sujeito indeterminado é “quando não se indica o agente da ação verbal”. Para
marcá-lo, o
gramático
apresenta
três possibilidades,
diferenciando-se
dos
gramáticos citados anteriormente:
Em português, assinala-se a indeterminação do sujeito de três modos:
a) usando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a
qualquer agente já expresso nas orações anteriores.
Exemplos:
Na rua olhavam-no com admiração.
“Bateram palmas no portãozinho da frente.” (Josué
Guimarães)
“De qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.”
(Rubem Braga)
b) com um verbo ativo na 3ª pessoa do singular,
acompanhado do pronome se. Exemplos:
Aqui se vive bem.
Devagar se vai ao longe.
Quando se é jovem, a memória é mais vivaz.
Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar.
“E passou-se a falar em internacionalização da Amazônia.”
(Tiago de Melo)
[...]
c) deixando-se o verbo no infinitivo impessoal. Exemplos:
Era penoso carregar aqueles fardos enormes.
É triste assistir a estas cenas repulsivas.
39
3.2.5 Moderna Gramática Portuguesa (BECHARA, 1966; 2009)
A abordagem de Bechara acerca da indeterminação do sujeito mudou ao
longo de quarenta e três anos, período que distancia a décima edição (1966) da
trigésima sétima edição (2009) de sua Moderna Gramática Portuguesa.
Em sua edição mais antiga, Bechara (1966, p. 247, grifos do autor) define o
sujeito indeterminado como o “que não se nomeia ou por não se querer ou por não
se saber fazê-lo”, indicando que a língua portuguesa se vale de duas maneiras
distintas para marcá-lo:
a) pondo o verbo da oração (ou o auxiliar, se houver locução verbal)
na 3ª pessoa do singular ou, mais frequentemente, do plural, sem
referência a pessoa determinada:
Diz que eles são bem (diz = dizem)
Dizem que eles vão bem
Estão chamando o vizinho
b) empregando o pronome se junto a verbo de modo que a oração
passe a equivaler a outra que tem por sujeito alguém, a gente ou
expressão sinônima:
Vive-se bem aqui
Precisa-se de bons empregados
O pronome se nesta aplicação sintática recebe o nome de índice
de indeterminação do sujeito.
Atualmente, esse tipo de sujeito não é abordado por esse gramático, talvez
por definir de forma diferenciada o que vem a ser sujeito. Para o gramático, o
sujeito é uma noção gramatical, e não semântica, isto é, uma
referência à realidade designada, como ocorre com as noções de
agente e paciente. Assim, o sujeito não é necessariamente o agente
do processo designado pelo núcleo verbal (BECHARA, 2009, p. 410,
grifos do autor).
Portanto, o sujeito indeterminado está no campo da referência, no mundo
extralinguístico, fora dos domínios textuais. Essa perspectiva também foi registrada
por Hauy (1986, p. 58, grifos do autor) em relação à “Gramática da língua
portuguesa” de Carlos Góis e Herbert Palhano:
40
Nota – Quando o sujeito da oração é um indefinido, há apenas
indeterminação psicológica. Na análise sintática de – “Alguém
terminou o trabalho” – por exemplo, devemos declarar: sujeito simples,
representado pelo pronome indefinido alguém. Não podemos esquecer
que a análise sintática se fundamenta na sintaxe, que é uma das
partes em que se divide a Gramática.
A partir dessa postura sobre o tipo de sujeito em questão, cabe mencionar
outras gramáticas de língua portuguesa que compreendem essa noção de maneira
mais inovadora e menos tradicional, conforme será visto a seguir.
3.3 A PERSPECTIVA DAS GRAMÁTICAS DESCRITIVAS
As gramáticas descritivas que serão apresentadas a seguir foram ordenadas
de acordo com o ano de publicação.
Há de se manter o conceito de sujeito indeterminado apresentado pelas GT
supracitadas, mas com a concepção de “referente extralinguístico” apontado por
Menon (2006, p. 129):
Para mim, indeterminação do sujeito concerne os casos em que não
se pode ou não se quer nomear o sujeito, na acepção de ‘referente
extralinguístico’. No entanto, o referente é conhecido pelo locutor (e
em certos casos, também do interlocutor, o que torna possível a
compreensão mútua) e se ele quisesse ou se isso lhe fosse
conveniente ou interessante, ele poderia nomeá-lo ou descrevê-lo.
Nesse sentido, o referente pode ser recuperado pelo locutor a
qualquer hora. Trata-se, antes de tudo, de uma maneira de
escamotear o sujeito extralinguístico por meio de uma forma de
expressão linguística, em função da situação de comunicação.
3.3.1 Gramática de Usos do Português (NEVES, 2000)
Em sua “Gramática de usos do português”, Neves (2000, p. 463-465)
apresenta outras formas tidas como mais inovadoras1 para marcar o sujeito
indeterminado, inclusive lexicalmente preenchido, conforme os exemplos 11, 12 e
1
Aqui, inovador é todo recurso utilizado para marcar a indeterminação do sujeito que não sejam as
formas canônicas apontadas pelas GT.
41
13, sendo que esse último ela considera como indeterminação parcial, uma vez que
ele “só abrange o universo das terceiras pessoas”:
(11)
“VOCÊ vai lá, fica dois dias fazendo curso, eles te catequizam, fazem
VOCÊ comprar uma tonelada de sabão e abrir o seu negócio. (OMT)”
(12)
“EU vou lá, fico dois dias fazendo curso, eles ME catequizam, ME
fazem comprar uma tonelada de sabão e abrir o meu negócio.”
(13)
“Sabe como é, quando a gente se acostuma com uma coisa, ELES
inventam outra. (E)”
Além disso, Neves também apresenta outros exemplos nos quais o sujeito
não está lexicalmente preenchido. Os exemplos 14 e 15 estão em consonância com
os ditames tradicionais da gramática, vislumbrados na seção anterior, enquanto os
exemplos 16 e 17 caracterizam-se como mais inovadores, uma vez que não são
contemplados nas gramáticas normativas. Inclusive a autora faz menção ao exemplo
16 como sendo “menos comum e de registro mais popular”. Já o exemplo 17 é
classificado como marca de indeterminação parcial, pois “pelo menos uma
referência é determinada, porque sempre está incluído o falante (o eu)”:
(14)
“Jogaram alguém na piscina; a velha cena da festinha em que todo
mundo cai na piscina. (BL)”
(15)
“Falava-SE de Pedro. (A)”
(16)
“Lá tira título de eleitor, documento. (HO)”
(17)
“NÓS, todos NÓS, o ser humano não suporta o sucesso de outro ser
humano, NÓS odiamos o Pelé. (OMT)”
42
3.3.2 Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (AZEREDO, 2008)
Uma visão mais inovadora sobre a indeterminação do sujeito, que inclusive é
apontada por alguns trabalhos sobre esse objeto, já é encontrada na gramática de
Azeredo (2008, p. 225), elaborada em homenagem ao filólogo Antônio Houaiss:
Orações de sujeito indeterminado são empregadas por motivos
cognitivos ou discursivos variados, e a língua oferece a seus usuários
diferentes meios para indeterminar, dissimular ou mesmo ocultar a
identidade do ser humano a quem o sujeito da oração se refere. A
razão cognitiva óbvia é o desconhecimento da identidade do ser de
que se fala. As razões discursivas, por sua vez, são variadas: a
conveniência ou oportunidade da omissão da identidade do sujeito é
uma delas, o registro de linguagem empregado ou o gênero de texto
produzido é outra.
Esse autor cita os processos mais tradicionais apontados pelos autores
anteriormente citados (verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical Ø+V3PP e verbo intransitivo ou transitivo direto com a partícula “se” sem sujeito
lexical - Ø+V+SE), mas não deixa de incluir também outras formas para marcar a
indeterminação do sujeito, além das formas canônicas apresentadas. Contudo, ele
faz uma ressalva que essas outras formas fazem parte de uma “interação mais
espontânea”, como o verbo na terceira pessoa do singular sem o “se” (Ø+V3PS) e
sintagmas nominais com significação genérica ou indeterminadora, tal como “a
gente, muita gente, todo mundo no papel de sujeito simples”.
Sobre essa fala mais “espontânea”, Said Ali (2006, p. 162) já dizia que
o falar coloquial não se opõe obstinadamente ao que está em uso na
linguagem literária e entre as pessoas cultas. Tanto se serve da
expressão a gente, como do verbo acompanhado do pronome se para
dar a entender que o sujeito psicológico do verbo é pessoa ou são
pessoas indeterminadas.
Embora as inovações linguísticas em relação à indeterminação do sujeito
tenham sido citadas apenas pelas gramáticas descritivas abordadas aqui, Hauy
(1986, p. 58) já mencionava outras obras que apresentavam algumas das inovações
levantadas, além, é claro, dos padrões apontados na subseção 2.2. Há, por
exemplo, registro do uso da forma “a gente” na “Gramática fundamental da língua
portuguesa” de Gladstone Chaves de Melo, na qual o gramático cita um trecho do
43
livro “Três romances” de Raquel de Queiroz como exemplo de marcação do sujeito
indeterminado, tal como as gramáticas consideradas mais tradicionais fazem uso
dos grandes escritores da língua portuguesa tidos como clássicos:
(18)
“Passando num meio-dia quente, ao trote penoso do cavalo, a gente
pára ali...” (HAUY, 1986, p. 58 apud MELO, 1970, p. 194, grifo do
autor)
3.4 O SUJEITO INDETERMINADO SOB O OLHAR DA SEMÂNTICA E DA
PRAGMÁTICA
A função de sujeito indeterminado apresentada pelas gramáticas tradicionais,
entendida neste estudo como a indeterminação do referente do sujeito, parte do uso
do verbo mais uma estratégia de indeterminação pronominal (nós, a gente, você,
nós, eu ou eles), nominal (formas nominais – FN, tal como “o pessoal”, “o indivíduo”
etc.) ou ausência de sujeito lexical (verbo na terceira pessoa do singular com ou sem
a partícula “se” - respectivamente Ø+V+SE e Ø+V3PS - ou verbo na terceira pessoa
do plural - Ø+V3PP). Essas estratégias fazem parte do repertório linguístico dos
falantes brasileiros conforme apontado por Milanez (1982), Rollemberg (1991),
Menon (1994), Setti (1997), Cavalcante (1999), Godoy (1999), Santana (2006) e
Ponte (2008).
Segundo Benveniste ([1966] 2005, p. 247), “em todas as línguas que
possuem um verbo, classificam-se as formas da conjugação segundo a sua
referência à pessoa, constituindo a enumeração das pessoas propriamente a
conjugação”, ou seja, estabelecendo os papéis dos interlocutores em momentos de
interação comunicativa: a primeira pessoa (o emissor), caracterizada por esse autor
de EU e a segunda pessoa (o receptor), o NÃO-EU. Nesse posicionamento não
inclui a terceira pessoa, a NÃO-PESSOA, uma vez que a preocupação na interação
verbal está nas pessoas envolvidas no discurso, quem fala e quem ouve. A NÃOPESSOA diz respeito ao próprio objeto da enunciação, o enunciado em si (LOPES;
RUMEU, 2007, p. 423).
Tradicionalmente, as três pessoas discursivas são “eu”, “tu” e “ele”,
respectivamente quem fala, quem ouve e de quem se fala. Contudo, segundo
44
Benveniste ([1966] 2005, p. 248, grifo do autor) essas “denominações não nos
informam nem sobre a necessidade da categoria, nem sobre o conteúdo que ela
implica nem sobre as relações que reúnem as diferentes pessoas”.
De acordo com a gramática tradicional, as formas “nós, vós” e “eles” são tidas
como plural de “eu, tu e ele”. Tal afirmação é negada por Benveniste ([1966] 2005, p.
256), que defende que não se pode caracterizá-las como apenas em um processo
de pluralização, pois
se não pode haver vários “eu” concebidos pelo próprio “eu” que fala, é
porque “nós” não é uma multiplicação de objetos idênticos mas uma
junção entre o “eu” e o “não-eu”, seja qual for o conteúdo desse “nãoeu”. Essa junção forma uma totalidade nova e de um tipo totalmente
particular, no qual os componentes não se equivalem: em “nós” é
sempre “eu” que predomina, uma vez que só há “nós” a partir de “eu” e
esse “eu” sujeita o elemento “não-eu” pela sua qualidade
transcendente. A presença do “eu” é constitutiva de “nós”.
Essa relação também se aplica aos outros pronomes, uma vez que “nós”
pode ser formado também a partir do “eu” + “eles”. Por isso não se pode
compreender o “nós” como “um ‘eu’ quantificado ou multiplicado, é um ‘eu’ dilatado
além da pessoa estrita, ao mesmo tempo acrescido de contornos vagos”
(BENVENISTE, [1966] 2005, p. 258).
Para tentar perceber as diferenças existentes entre as formas de
indeterminação do sujeito, faz-se necessário refletir sobre a categoria de pessoa
proposta por Benveniste (BENVENISTE, [1966] 2005, p. 250), quando afirma que
nas duas primeiras pessoas, há ao mesmo tempo uma pessoa
implicada e um discurso sobre essa pessoa. Eu designa aquele que
fala e implica ao mesmo tempo um enunciado sobre o “eu”: dizendo
eu, não posso deixar de falar de mim. Na segunda pessoa, “tu” é
necessariamente designado por eu e não pode ser pensado fora de
uma situação proposta a partir do “eu”; e, ao mesmo tempo, eu
enuncia algo como um predicado de “tu”. Da terceira pessoa, porém,
um predicado é bem enunciado somente fora do “eu-tu”; essa forma é
assim exceptuada da relação pela qual “eu” e “tu” se especificam. Daí,
ser questionável a legitimidade dessa forma como “pessoa”.
Benveniste completa essa reflexão dizendo que “a forma dita de terceira
pessoa comporta realmente uma indicação de enunciado sobre alguém ou alguma
coisa, mas não referida a uma ‘pessoa’ específica”, logo essa pessoa se
mencionada no discurso é indeterminada. Assim sendo, “a ‘terceira pessoa’ não é
45
uma ‘pessoa’; é inclusive a forma verbal que tem por função exprimir a ‘não-pessoa’”
(BENVENISTE, [1966] 2005, p. 251). Lopes e Rumeu (2007, p. 423) explicam que “a
dita ‘não-pessoa’ combina-se com verbos que, nas línguas do mundo, em geral,
levam desinência zero, confirmando a sua impessoalidade”, ou seja, ausência de
uma marca que leve a considerá-la dessa ou daquela pessoa.
Nessa relação “eu-tu”, identificadas como “pessoa”, opõe-se à forma “ele”
como a “não-pessoa”. Portanto, as formas de indeterminação do sujeito que fizer
referência a “não-pessoa” estarão apresentando um maior grau de indeterminação
em relação às demais formas. Isso também é colocado por Benveniste ([1966] 2005,
p. 258) quando diz que
quanto à não-pessoa (terceira pessoa), a pluralização verbal, quando
não é o predicado gramaticalmente regular de um sujeito plural,
cumpre a mesma função que nas formas “pessoais”: exprime a
generalidade indecisa do on (tipo dicunt, they say [= “dizem”]. É a
própria não-pessoa que, estendida e ilimitada pela sua expressão,
exprime o conjunto indefinido dos seres não pessoais.
Milanez (1982, p. 80) classifica as estratégias de indeterminação quanto ao
grau, tomando como base essas noções semântico-pragmáticas e as formas lexicais
dos recursos.
Sendo assim, as estratégias “Ø+V+SE” e “Ø+V3PS”, além da forma “Ø+VINF”
(verbo no infinitivo sem sujeito lexical) que não foi mencionada anteriormente, são
consideradas por Milanez (1982, p. 80) com o mais alto grau de indeterminação do
sujeito por que “distanciam-se de referências específicas a qualquer das três
pessoas do discurso, uma vez que são marcadas quanto à pessoa”.
Contrariamente às formas despronominalizadas citadas, os pronomes “a
gente, você, eu, nós” não apresentam um caráter tão genérico porque, ainda que
“envolvam pessoas não determinadas pelo contexto, ainda mantêm referências
específicas aos protagonistas da situação dialogal” (MILANEZ, 1982, p. 81, grifo da
autora). Observando-se o uso de eu ou a gente percebe-se que há a possibilidade
de incluir no contexto a primeira pessoa (o emissor, EU) ou o uso de “você” que
pode incluir a segunda pessoa (o receptor, NÃO-EU).
Milanez (1982, p. 81, grifos da autora) ainda chama a atenção para a
aplicabilidade de “a gente” que é diferente de “você” e “eu”, pois se apresentam com
distinção em relação às pessoas envolvidas na interação comunicativa, dizendo que
46
enquanto que o primeiro inclui a 1ª pessoa de uma forma real, os dois
últimos envolvem os interlocutores apenas hipoteticamente, uma vez
que a circunstância relatada com esses pronomes nada tem a ver,
necessariamente, com a situação pessoal do falante ou do ouvinte.
Em menor grau de indeterminação aparecem as formas “Ø+V3PP” e o
pronome “eles”, segundo Milanez (1982, p. 81), fazendo questão de frisar que essa
última estratégia é a que apresenta menor grau de todas as apontadas
anteriormente, pois
além de ser exclusivo de 3ª pessoa (como a forma Ø + 3ªp. pl.), ainda
ocorre normalmente antecedido por uma referência a um grupo social
a que o agente verbal pertence, o que restringe ainda mais o seu
campo de abrangência.
Em relação ao recurso de indeterminação “Ø+V3PP”, há ainda de se
considerar sua relação com a outra estratégia pronominal “eles”, uma vez que são
compatíveis, pois segundo Lopes e Rumeu (2007, p.419, grifos das autoras), “os
estudos linguísticos mostram que o português do Brasil estaria passando de uma
língua de sujeito nulo para uma língua de sujeito pleno”.
3.5 INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO EM OUTROS ESTUDOS2
Ao iniciar os estudos sobre a indeterminação do sujeito na fala urbana culta e
popular da cidade de Salvador, buscaram-se pesquisas já realizadas sobre o fato
linguístico em questão, os quais auxiliaram na fixação da metodologia que foi
utilizada para a definição das variantes levantadas, coleta e quantificação dos
dados. A ordenação de trabalhos levou em consideração o ano de defesa e/ou
publicação.
Cabe ainda ressaltar que o que será mostrado diz respeito aos resultados
obtidos pelos pesquisadores em suas dissertações e teses, visto que alguns deles
foram citados anteriormente sob o ponto de vista conceitual.
2
As gramáticas normativas e descritivas apresentadas são consideradas também estudos
acadêmicos sobre a língua portuguesa. Daí chamar as dissertações e teses sobre a indeterminação
do sujeito como “outros estudos”.
47
3.5.1 Recursos de indeterminação do sujeito (MILANEZ, 1982)
Numa
perspectiva
gerativista
transformacional,
considerando
também
aspectos dos estudos pragmáticos de Benveniste, Milanez faz uma análise dos
recursos de indeterminação do sujeito, a partir de dados obtidos nos inquéritos do
Projeto NURC/São Paulo, classificando-os tanto à ausência de sujeito lexical (como
o verbo na terceira pessoa do singular e do plural, construções com a partícula “se”
e o infinitivo), quanto ao preenchimento com o sujeito lexical (como as formas “a
gente”, “você” e “eles”).
Milanez (1982, p. 135, grifos da autora) concluiu que a indeterminação do
sujeito só é passível de explicação no nível semântico-pragmático, uma vez que
o reconhecimento de seus recursos não se fez exclusivamente pela
forma lexical dos mesmos, mas sobretudo pelo significado
generalizador abrangente às três pessoas do discurso, de que este
podem estar revestidos, numa determinada situação linguística. Neste
sentido, a indeterminação se revela como um fenômeno dependente
de contexto para sua interpretação.
Além de tecer esse comentário sobre a caracterização de seu objeto de
estudo, Milanez (1982, p. 136) chama a atenção para a “alienação da gramática
tradicional em relação à realidade linguística nacional”, pois sua fonte de dados para
o desenvolvimento da pesquisa consta de entrevistas realizadas por falantes com
nível superior completo, o que demonstra que eles fazem parte do grupo que
compõe a variante culta da língua portuguesa no Brasil e os compêndios
normativistas não dão conta dessa atual situação linguística.
Em relação ao uso dos verbos na terceira pessoa do singular, a pesquisadora
afirmou que parece que se trata de um processo independente do apagamento do
preenchimento lexical do sujeito ou de construções parecidas com o uso de
indefinidos, isso por ter sido usado por falantes mais escolarizados e por menos
escolarizados, como apresentado por Neves (ver 3.3.1).
Sobre o uso do “se”, Milanez (1982, p. 137) atribui certa dificuldade em
estabelecê-lo como recurso de indeterminação ou forma passiva, porque foram
encontrados argumentos sintáticos, semânticos, como também de ordem contextual
e suas características estarem próximas do processo de indefinição.
48
As outras formas sem sujeito lexical (infinitivo e verbo na terceira pessoa do
singular e do plural) foram reconhecidas por Milanez (1982, p. 137) como uma
homogeneidade sintática, à luz da teoria da Gramática Gerativa Transformacional.
3.5.2 Os pronomes pessoais sujeito e a indeterminação do sujeito na norma
culta de Salvador (ROLLEMBERG, 1991)
A pesquisa desenvolvida por Rollemberg (1991), em cooperação com suas
alunas bolsistas, serviu de base para alguns estudos que foram desenvolvidos sobre
a indeterminação do sujeito.
O trabalho foi desenvolvido com base nos dados obtidos pelo Projeto
NURC/SSA, coletados na década de 70, com falantes com o Ensino Superior
completo.
Inicialmente, buscou-se compreender como a indeterminação do sujeito se
dava nas gramáticas tradicionais, para, então, tentar entender, com vistas à teoria
da enunciação de Benveniste e os resultados alcançados por Milanez (1982), como
os pronomes pessoas eram utilizados como recursos para a marcação desse tipo de
sujeito.
Os dados obtidos foram classificados em relação à “categoria de texto”, se se
tratavam de “elocuções formais” (EF) ou “diálogo entre informante e documentador”
(DID), como também em relação às faixas etárias dos informantes (Faixa 1 – 25 a 35
anos e Faixa 3 – 56 anos em diante).
O desenvolvimento do trabalho revelou na época que o pronome “você” era o
mais utilizado pelos falantes, sendo mais empregado nos diálogos entre informante
e documentador e única e exclusivamente pela faixa 1, ou seja, os falantes mais
novos.
3.5.3 Indeterminação pronominal do sujeito (CUNHA, 1993)
O trabalho desenvolvido por Cunha (1993) faz uma análise acerca das
estratégias pronominais para marcar a indeterminação do sujeito por falantes cultos
na cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa segue dois caminhos: uma abordagem
49
chamada de qualitativa, analisando o fenômeno quanto ao papel desempenhado
pelos pronomes (anáfora e dêixis) e os conceitos da indeterminação, que perpassam
o campo da determinação, diversos graus e funções diferenciadas; e outra tida como
quantitativa, valendo-se dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística
Quantitativa, analisando o fenômeno a partir de dez variáveis tidas como
gramaticais (tipos de oração e tempo verbal), discursivas (tipo de elocução,
gêneros discursivos, grau de indeterminação, tamanho do grupo, mudança de
referente e forma antecedente) e sociais (gênero/sexo e faixa etária).
Após o levantamento e análise das ocorrências, Cunha (1993) realizou um
tratamento numérico com os dados obtidos, realizando análises ternárias e binárias,
fazendo cruzamentos entre as variáveis quando foi possível. Feito isso, a
pesquisadora chegou às conclusões de que as variantes pronominais “nós”, “você” e
“a gente” são sensíveis aos condicionamentos linguísticos, especialmente as formas
antecedentes, e sociais, como a faixa etária.
3.5.4 Analyse sociolinguistique de l'indetermination du sujet dans le portugais
parlé au Bresil, a partir des données du NURC/SP (MENON, 1994)
Menon (1994), em tese defendida na Universidade de Paris VII, estudou a
indeterminação do sujeito na fala urbana de São Paulo, a partir dos dados do projeto
NURC, cuja abordagem teórico-metodológica foi da Sociolinguística Quantitativa.
A variável dependente estudada era composta por doze variantes (a gente,
eles, eu, formas nominais, nós, se, você, vocês, voz passiva sem agente, voz
passiva sintética, verbo na terceira pessoa do singular e verbo na terceira pessoa do
plural).
Os dados coletados foram distribuídos conforme as variáveis extralinguísticas
selecionadas: gênero/sexo (masculino e feminino), tipos de entrevistas do
NURC/São Paulo (EF – elocuções formais, DID – diálogo entre informante e
documentador e D2 – diálogo entre dois informantes) e ainda a faixa etária (dos 25
aos 35 anos, dos 36 aos 55 anos e dos 56 em diante).
Para realização das rodadas binárias, como era previsto pelo pacote de
programas estatísticos VARBRUL, a autora concebeu como variável dependente,
50
apenas para a obtenção dos resultados numéricos, a variável sexo, formada por
apenas dois fatores.
Menon (1994) elaborou alguns aspectos metodológicos para a obtenção dos
dados. O primeiro deles foi intitulado de “intercambialidade das formas”,
considerando que os falantes utilizariam vários recursos de indeterminação no
mesmo turno de fala. Após, fazendo o empréstimo de um termo da fonologia, os
“pares mínimos”, que consistia no uso de duas formas distintas em contextos
idênticos. Em seguida, os “tempos verbais”, através dos quais o presente do
indicativo
mostrou-se
como
favorecedor
no
emprego
das
estratégias
de
indeterminação e que, colocando o verbo no pretérito perfeito, segundo a autora,
alguns enunciados perdem o caráter indeterminado, passando a, no mínimo,
ambíguo. Outra estratégia utilizada foi o levantamento de “ditados, verdades gerais
ou eternas, perguntas retóricas”, consistindo como um fator que mais faz uso do
presente do indicativo, por ser considerado “atemporal”, não sendo, obviamente, um
dos fatores mais numerosos. A “mudança de tempo verbal” também foi outro
aspecto observado, pois os informantes costumavam mudar o tempo verbal quando
queriam mencionar sua opinião ou experiência sobre o fato narrado, distanciando-se
daquilo
que
contavam.
Os
“advérbios,
localizadores
espácio-temporais
e
preposições” também foram tomados como barema para identificação das variantes
no corpus estudado. Além desses, foram analisadas também as “completivas
(subordinadas substantivas)”, “destaque do locutor” e, por fim, o “distanciamento no
tempo; construções hipotéticas”.
Menon (1994) chegou à conclusão de que há mais recursos para
indeterminação do sujeito que aqueles ensinados e cobrados pela escola, e que, já
nos anos setenta, as estratégias estudadas já eram utilizadas pela camada mais
escolarizada. A variante “a gente” foi a mais empregada pelos falantes do
NURC/São Paulo.
3.5.5 A indeterminação do sujeito nas três capitais do Sul do Brasil (SETTI,
1997)
Setti (1997) utilizou a mesma metodologia utilizada por Menon (1994) para
estabelecer as variantes linguísticas: “a gente, eles, eu, formas nominais, nós, se, tu,
51
você(s), voz passiva sem agente, voz passiva sintética, verbo na terceira pessoa do
singular e verbo na terceira pessoa do plural”. Nesse trabalho, ela inclui a variante
“tu” por ser utilizada nas cidades de Porto Alegre e Florianópolis, diferentemente de
Menon, uma vez que os falantes de São Paulo, registrados pelo NURC/SP, não
fizeram uso desse pronome.
A amostra utilizada por Setti (1997) era constituída por 72 entrevistas que
compõem o banco de dados do Projeto Variação Linguística Urbana da Região Sul –
VARSUL, contemplando as três capitais da região Sul: Curitiba, Florianópolis e Porto
Alegre. As entrevistas foram equitativamente distribuídas: 24 por cada capital, sendo
08 informantes de cada nível de escolaridade (Primário, Ginásio e 2º grau), 12 por
cada gênero/sexo (masculino e feminino) e 12 por cada faixa etária (de 25 a 50 anos
e mais de 50 anos).
Definido seu corpus de análise, Setti (1997) levantou as hipóteses que buscou
confirmar ou refutar ao longo do trabalho de pesquisa: verificou se havia mais
possibilidades para marcar a indeterminação do sujeito do que as formas
apresentadas pelas Gramáticas Tradicionais; se os tempos e modos verbais e os
grupos de fatores sociais idade, gênero/sexo, escolaridade e localidade poderiam
atuar como condicionadores na escolha das variantes encontradas no corpus.
Após a análise dos dados, Setti (1997) concluiu que de fato há mais variantes
sendo usadas do que as preconizadas pelas GT; além disso, que os tempos e
modos verbais contribuem para o uso de mecanismos de indeterminação do sujeito,
como é o caso do presente do indicativo, que muito colabora para a criação de
situações genéricas, seguido do pretérito imperfeito do indicativo, do infinitivo e
pretérito perfeito do indicativo. Sobre cada variável social, Setti aponta as
conclusões: a escolaridade mostrou-se como influenciadora da variante Ø+V3PP,
uma das formas abordadas pelas GT e os falantes do primário e ginasial estão
preenchendo mais a casa do sujeito do que os do 2º grau; em relação ao sexo, as
mulheres se apresentaram como mais conservadoras3, utilizando menos os recursos
de indeterminação do sujeito em relação aos homens; a faixa etária menor de 50
anos apresentou maior uso da forma “você”; ao tratar das três capitais do Sul, a
3
Setti (1999, p.87) classifica como conservadoras as formas mais utilizadas por falantes acima de 50
anos (nós e Voz Passiva sem agente - VPSA) e inovadoras as formas não empregadas pela GT e
com menor uso por falantes mais velhos (você e Formas Nominais - FN).
52
frequência de uso apontou para o uso das formas “Ø+V3PS”, “a gente”, “você” e, de
maneira predominante em Porto Alegre e Florianópolis, de “tu”.
3.5.6 A indeterminação do sujeito na escrita padrão: a imprensa carioca nos
séculos XIX e XX (CAVALCANTE, 1999)
O trabalho que foi desenvolvido por Cavalcante (1999) tomou como
pressupostos teórico-metodológicos a Sociolinguística Quantitativa, a mesma
utilizada neste trabalho, e a Teoria de Princípios e Parâmetros.
O objeto de análise era composto por textos considerados padrão na
imprensa carioca nos séculos XIX e XX, cujo período foi dividido em cinco,
considerando uma margem de tempo de 20 anos, começando no ano de 1848 e
terminando em 1998. Os textos selecionados foram classificados como mais formais
(editoriais e opinião) e menos formais (crônicas).
Os grupos de fatores que foram escolhidos para a análise quantitativa foram o
período de tempo, tipo de texto, formas finitas e não-finitas, estratégias de
indeterminação, representação nula e plena das formas pronominais, concordância
entre verbo transitivo direto e argumento interno no plural e, por fim, uso de “se” com
infinitivo.
Após obtenção dos dados numéricos, apresentação e análise através de
tabelas e gráficos, Cavalcante (1999), chegou a algumas conclusões: há mais
estratégias de indeterminação em sentenças finitas do que as consideradas pelas
GT; em relação aos tipos de texto, ficou esclarecido que os editoriais eram mais
conservadores, a partir do período entre 1935 e 1942, em relação ao uso de “se”; e
que nos fins do século XX já era perceptível a “infiltração” (1999, p. 105) das formas
pronominais “a gente” e “você”.
3.5.7 A indeterminação do sujeito no interior paranaense: uma abordagem
sociolinguística (GODOY, 1999)
Godoy (1999), por sua vez, estudou três cidades do interior paranaense para
buscar as formas de indeterminação do sujeito mais empregadas, também
53
pertencentes ao Projeto VARSUL anteriormente citado: Irati, de colonização eslava,
Londrina, colonizada predominante por paulistas e mineiros, e Pato Branco,
colonizada por gaúchos e catarinenses descendentes de gaúchos.
As hipóteses levantadas por Godoy (1999, p. 63) são iguais às de Setti
(1997), diferenciando apenas no corpus, pois tratam de localidades diferentes.
Godoy (1999, p. 66) levou em conta os mesmos condicionamentos
linguísticos apontados por Menon (1996) para a seleção dos dados: a
intercambialidade de formas; pares mínimos; tempos verbais; os ditados e as
verdades gerais ou eternas; a mudança de tempo verbal no discurso; determinados
advérbios e preposições; completivas (subordinadas substantivas); o distanciamento
do falante em relação a algo que está dizendo; e o afastamento no tempo ou
discurso hipotético.
Apresentar os casos que foram excluídos das análises tornou-se um
diferencial no trabalho de Godoy (1999, p. 76), pois foram casos que apresentaram,
em sua maioria, ambiguidade. Além disso, ela inclui também um tópico para tratar
da codificação dos dados: os códigos, os critérios para classificação das ocorrências
duvidosas, tais como o uso da categoria Ø, se se trata de anáfora ou catáfora de
uma expressão indeterminadora já utilizada ou não entre outros.
A seção é concluída apresentando as variantes linguísticas que foram
observadas: “a gente; eles; eu; FNs (formas nominais); nós; se; tu; você; VPSA (voz
passiva
sem
agente);
Ø+V3PS
(verbo
na
terceira
pessoa
do
singular
desacompanhado de pronome); Ø+V3PP (verbo na terceira pessoa do plural
desacompanhado de pronome)” (GODOY, 1999, p. 84).
As conclusões a que chegou Godoy (1999, p. 142) revelaram que os homens
mais velhos, como também os falantes mais escolarizados, fazem maior uso das
formas “se, nós e VPSA”. A forma “a gente” apresenta maior grau de informalidade
em relação às formas anteriores e é mais empregada pelas mulheres. Os falantes
da cidade de Irati tendem a utilizar em maior número as formas consideradas
padrão, como o Ø+V3PP e o “se”. A autora também atestou que, quanto maior a
escolaridade, maior o uso das formas canônicas vislumbradas pelas GT.
54
3.5.8 A indeterminação do sujeito no português rural do semi-árido baiano
(SANTANA, 2006)
O trabalho desenvolvido por Santana (2006) sobre as estratégias de
indeterminação do sujeito fez uso do banco de dados do projeto “A língua
portuguesa no semi-árido baiano”.
Os dados que foram coletados foram classificados de acordo com as
variáveis linguísticas e extralinguísticas selecionadas, com vista a buscar
compreender como se proceder à indeterminação do sujeito em duas localidades
que compõem o projeto anteriormente citado: Piabas e Bananal/Barra dos Negros4.
Com
vistas
ao
tratamento
teórico-metodológico
da
Sociolinguística
Quantitativa, inicialmente foi classificada as variantes que faziam parte da variável
dependente, Ø+V3PP, Ø+V+SE, Ø+V3PS, Ø+VINF, nós, a gente, você e eles.
Depois,
estabeleceram-se
extralinguísticas.
As
as
primeiras,
variáveis
independentes
compostas
pela
forma
linguísticas
e
antecedente,
mudança/manutenção do referente, tempo e modo verbal, tipo de oração, tipo de
verbo, preenchimento do sujeito e grau de indeterminação. As segundas, formadas
pelo gênero/sexo, faixa etária e localidade.
Após a realização do levantamento das ocorrências e classificação quanto às
variáveis dependentes e independentes, procedeu à obtenção dos dados numéricos
para posterior análise.
Por fim, Santana (2006, p. 143) chegou à conclusão de que as variáveis
forma antecedente e mudança/manutenção do referente são as que mais favorecem
o uso das formas mais utilizadas pelos falantes das localidades estudadas, a forma
pronominal “a gente” e Ø+V3PS.
4
A pesquisadora considera Bananal e Barra dos Negros como sendo uma única comunidade do
município de Rio de Contas, uma vez que elas apresentam características sócio-históricas
semelhantes e a distância entre elas não ultrapassa 2 km. Além disso, os dados coletados não foram
diferenciados uma da outra.
55
3.5.9 A indeterminação do sujeito no português popular do interior do estado
da Bahia (PONTE, 2008)
A pesquisa que foi desenvolvida por Ponte (2008) sobre a indeterminação do
sujeito no português popular nas comunidades afro-brasileiras de Helvécia, Rio de
Contas, Sapé e Cinzento e na cidade de Santo Antônio de Jesus teve como variável
dependente as estratégias “a gente”, “nós”, “você”, “eles”, “verbo na terceira pessoa
do plural sem sujeito lexical”, “verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito
lexical” e a partícula “se”.
Definidas as variantes, a pesquisa buscou verificar quais seriam, dentre as
variáveis independentes linguísticas (realização fonética do sujeito indeterminado,
desinência verbal, tipo de verbo, tipo de frase, nível de referencialidade, modo
verbal, inclusão do falante e forma antecedente) e extralinguísticas (localidade,
gênero, faixa etária, estada fora da comunidade e escolaridade) estudadas as que
favoreciam o uso das formas selecionadas.
Ponte (2008) concluiu que a estratégia “a gente” foi a mais utilizada, seguida
da variante “verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical”. A forma
antecedente foi a principal variável favorecedora do emprego de todas as estratégias
observadas, sempre sendo selecionada em primeiro ou segundo lugar. Cabe
ressaltar que a forma antecedente também é formada pelas estratégias de
indeterminação do sujeito. Dentre as variáveis sociais, destacou-se a localidade do
informante, que foi a selecionada também por todas as formas.
56
4 FOI DESENVOLVIDO ASSIM
A pesquisa apresentada nesta dissertação foi realizada de acordo com o
enquadramento teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista ou Laboviana,
com base nas formulações de Labov (1994), buscando identificar os contextos
linguísticos e extralinguísticos (ou sociais) que justificam os usos encontrados
acerca do sujeito indeterminado, objeto do presente estudo.
Conforme explicitado na segunda seção, os estudos da Sociolinguística
Variacionista têm como base o vernáculo, ou seja, a língua falada em contextos
reais de uso, sinalizando as diferentes formas linguísticas que os falantes utilizam
para expressar seus pensamentos, ideias, que se correspondem de alguma forma,
caracterizando-as como variantes linguísticas; dito isso de outra maneira, as formas
diferentes para tratar mais ou menos da mesma coisa.
As variantes foram estabelecidas a partir de estudos prévios realizados
(CARVALHO, 2009a; 2009b) e também por observação de outros trabalhos
existentes sobre o sujeito indeterminado (MILANEZ, 1982; ROLLEMBERG, 1991;
CUNHA, 1993; MENON, 1994; SETTI, 1997; CAVALCANTE, 1999; GODOY, 1999;
SANTANA 2006; FAGGION, 2008; PONTE, 2008). Fazendo uma análise
comparativa entre eles, foi possível se depreender doze variantes, classificadas em
dois grupos: com sujeito lexical (a gente, eles, eu, formas nominais, nós e você) e
sem sujeito lexical (Ø+V+SE – verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula
“se”, Ø+V3PS – verbo na terceira pessoa do singular, Ø+V3PP – verbo na terceira
pessoa do plural, Ø+VINF – verbo no infinitivo, VPSA – voz passiva sem agente e
VPASSINT – passiva sintética).
Essas variantes foram analisadas sob os pontos de vista sociais e
linguísticos. Verificou-se se os fatores sociais gênero/sexo, escolaridade e faixa
etária afetaram as escolhas de uso de uma ou de outra forma por parte dos falantes.
A mesma observação foi tida com as variáveis linguísticas forma antecedente,
mudança / manutenção do referente, tempo e modo verbais, tipo de oração, tipo de
verbo, preenchimento do sujeito e grau de indeterminação, buscando perceber se
haveria algum influência desses fatores nos usos encontrados.
57
4.1 OS CORPORA
Os dados para o presente estudo foram coletados a partir de quarenta e
quatro (44) inquéritos: trinta e dois (32) do PEPP  Programa de Estudos sobre o
Português Popular Falado de Salvador  e doze (12) do NURC/SSA  Projeto
Norma Urbana Culta de Salvador.
Os corpora se organizam de acordo com cada variação social que foi
estudada, conforme citada anteriormente. Para a variável escolaridade foram
considerados o Ensino Fundamental e Médio (com os inquéritos do PEPP) e o
Ensino Superior (com os inquéritos do NURC). Em relação ao gênero/sexo, foram
considerados o masculino e o feminino5. E, por fim, a variável faixa etária que foram
estabelecidas em número de quatro faixas etárias: faixa etária 1 ou F1 (dos 15 aos
24 anos), faixa etária 2 ou F2 (dos 25 aos 35 anos); faixa etária 3 ou F3 (dos 45 aos
55 anos) e faixa etária 4 ou F4 a partir dos 56 anos6.
Tendo em vista o exposto, os informantes foram equitativamente distribuídos
em vinte e duas células, contendo dois informantes cada uma, conforme pode ser
verificado no quadro logo a seguir:
ENSINO
FUNDAMENTAL
(PEPP)
Masculino
Feminino
ENSINO MÉDIO
(PEPP)
ENSINO SUPERIOR
(NURC)
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
F1
(15 – 24 anos)
2
2
2
2
-
-
F2
(25- 35 anos)
2
2
2
2
2
2
F3
(45 – 55 anos)
2
2
2
2
2
2
F4
(mais de 56 anos)
2
2
2
2
2
2
Quadro 2: Distribuição dos informantes nas células.
5
Embora os inquéritos originalmente tratem de “homem” e “mulher” para se referir à variável
gênero/sexo, aqui foi adotada essa nomenclatura para não fazer menção ao caráter biológico dos
seres, mas, sim, aos papéis sociais desempenhados por eles.
6
A nomenclatura adotada para as faixas etárias (F1, F2, F3 e F4) foi adaptada, modificando a
classificação original do NURC, uma vez que esse projeto não contempla a primeira faixa etária,
devido aos poucos informantes encontrados, e englobando as classificações adotadas pelo PEPP.
Além disso, o NURC preenche a F4 com informantes acima de 56 anos, enquanto o PEPP com
informantes acima de 65 anos. Dessa forma, manteve-se a informação “mais de 56 anos” por
contemplar os dois corpora.
58
4.1.1 Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador PEPP
O Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador,
doravante PEPP, surgiu a partir de comentários da Profa. Dra. Rosa Virgínia Mattos
e Silva sobre a necessidade da realização de um estudo sobre a concordância
verbal e nominal na fala de Salvador, a partir de novos dados coletados para esse
fim, tomando como ponto de partida a experiência vivida pelos membros do Projeto
Norma Urbana Culta de Salvador, o NURC/SSA, o qual será comentado mais
adiante.
Assim, a Profa. Dra. Norma da Silva Lopes, em regime de Dedicação
Exclusiva na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, juntamente com as Profas.
Dras. Constância Maria Borges de Souza e Emília Helena Portella Monteiro de
Souza, na época doutorandas da Universidade Federal da Bahia – UFBA,
resolveram levar a cabo o PEPP, sob a orientação da Profa. Dra. Myrian Barbosa
Silva.
O Projeto NURC buscava, e até hoje busca, estudar o português falado por
falantes com o Nível Superior completo, daí a necessidade apontada por Lopes
(2009a, p. 13) de preencher
uma lacuna quanto à possibilidade de estudo de uma amostra com
outros níveis de escolaridade. Com o PEPP, pois, pretende-se, além
de fornecer material mais recente, suprir a falta de dados sobre o
português falado pelos não-universitários.
Tendo definido a sua meta principal e fundadora, o PEPP passou a ser
constituído, com falantes com níveis de escolaridade Fundamental (até a antiga 5ª
série ou atual 6 ano) e Médio, e moradores, em sua maioria, de bairros mais
distantes do centro da cidade, tidos como de maior concentração de pessoas de
baixa renda, com raras exceções, caracterizando, portanto, o termo “popular”
empregado em sua denominação, .
Após a conclusão da obtenção dos dados, o programa passou a ter quarenta
e oito gravações de entrevista do tipo DID, diálogos entre informante e
documentador, com cerca de quarenta minutos cada, distribuídas em quatro faixas
etárias, dois gêneros/sexo (masculino e feminino) e os dois níveis de escolaridade
59
citados, os quais preenchem dezoito células, conforme pode ser visualizado no
quadro 2 apresentado no item 4.1, com três informantes cada7.
Segundo Lopes (2009a, p. 17), o PEPP adotou os mesmos critérios do
NURC/SSA para seleção de informantes, uma vez que seria possível fazer um
estudo comparativo entre os níveis de escolaridade de ambos os projetos, que se
completam, tendo em vista a classificação de escolaridade estabelecida no Brasil.
Assim, em relação aos informantes, exigiu-se que
eles fossem naturais de Salvador e, além disso, que tivessem
permanecido nesta cidade a maior parte de suas vidas. Para excluir a
interferência de outros dialetos, seus pais também deveriam ser de
Salvador, ou que tivessem vindo para esta cidade ainda muito
pequenos.
As entrevistas foram realizadas em diversos locais que pudessem manter um
determinado nível de tranquilidade, para evitar ruídos e interferências que pudessem
comprometer a qualidade das gravações, além de contribuir para uma melhor fluidez
do informante, deixando o ambiente mais informal possível, quando haveria menos
monitoramento da fala, possibilitando a gravação do vernáculo.
Buscando minimizar a preocupação dos informantes quanto à gravação, pois
eles sabiam que estavam sendo gravados, temas como a educação do passado e
do presente, os castigos, a relações dos pais e filhos foram escolhidos para tentar
deixar a situação o mais informal possível. Algumas adaptações aos roteiros das
perguntas foram realizadas para dar conta de falantes mais novos, uma vez que
seria difícil falar, por exemplo, da relação entre pais e filhos, uma vez que os
informantes poderiam não ter filhos. De acordo com Lopes (2009a, p. 15), no início
das entrevistas, houve maior preocupação com a linguagem, como eles iriam falar,
mas à medida que os assuntos foram sendo abordados, os informantes “deram
indícios de terem esquecido a postura inicial e ficaram mais à vontade”,
possibilitando atingir os fins pretendidos, com uma “amostra mais próxima do
vernáculo”.
7
O quadro 2 citado no item 4.1 está preenchido com a quantidade de informantes que foram
observados na realização deste trabalho, incluindo também o Ensino Superior. As células do PEPP
correspondem exclusivamente às colunas relativas aos Ensinos Fundamental e Médio, com dois
informantes cada.
60
4.1.2 Projeto Norma Urbana Culta de Salvador – NURC/SSA
Em 1964, o professor Juan M. Lope Blanch, da Universidade Nacional
Autônoma do México, apresentou o projeto internacional intitulado “Proyecto de
Estudio Coordinado del Español Hablado en las Principales Ciudades de América” e
foi aprovado para ser desenvolvido em Buenos Aires, Santiago do Chile, Lima,
Caracas, Havana, San Juan de Porto Rico e México, que mais tarde foi ampliado,
abarcando a cidade de Madri, Granada e Santo Domenico, e se tornando o
“Proyecto de Estudio Coordinado de la Norma Linguística Oral Culta de las
Principales Ciudades de Iberoamérica y de La Península Ibérica”. Nesse projeto,
somente as capitais fizeram parte.
Esse projeto serviu de motivação para o Prof. Nelson Rossi que já
investigava os falares existentes no Brasil. Como a situação linguística do Brasil é
um tanto diferente da exposta anteriormente, pois se trata de um único país, com
uma grande dimensão geográfica, Rossi argumentou que havia um policentrismo
cultural no país e que outras regiões precisavam ser investigadas, não mais se
detendo no Rio de Janeiro, uma vez que o centro brasileiro voltou-se para Brasília,
capital fundada na década de 60 do século passado (MENON, 1994).
Nesse mesmo período, Rossi decidiu estudar a língua culta falada no Brasil,
estabelecendo alguns critérios para as escolhas das capitais: a cidade deveria
possuir mais de 1 milhão de habitantes em 1969 ou, pelo menos, mais de cem anos
de existência, pois isso permitiria encontrar quatro gerações completas. Daí, foram
selecionados Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. Belo
Horizonte não foi incluída por não atender o segundo critério. Salvador, por sua vez,
ainda não possuía a quantidade de habitantes informada, mas ultrapassava a meta
do segundo critério, com uma grande tradição e legado histórico, por ter sido a
primeira capital do país.
O principal objetivo do Projeto NURC era descrever os padrões reais de uso
na comunicação oral adotados pelo estrato social composto por indivíduos de
escolaridade superior. Para atingir tal objetivo, ele buscou, e vem buscando, dispor
de material sistematicamente levantado, superar o empirismo na aprendizagem da
língua-padrão, conhecer as normas tradicionais que estão vivas e quais as
superadas, e oferecer dados para que se pudesse corrigir distorções do esquema
tradicional da educação brasileira.
61
O corpus desse projeto é constituído de elocuções formais (EF), formadas
por aulas e conferências, diálogos entre informante e documentador (DID) e diálogos
entre dois informantes (D2). Deveriam fazer parte do corpus também gravações
secretas de diálogos espontâneos (GS), os quais não chegaram a ser realizados. A
duração das gravações varia entre 40 e 80 minutos no total.
Os inquéritos estão classificados segundo o gênero/sexo dos informantes
(masculino e feminino) e em relação à faixa etária (de 25 a 35 anos, de 36 a 55 anos
e acima de 56 anos).
O
projeto
foi
desenvolvido
por
equipes
regionais,
localizadas
na
Universidade Federal da Bahia (NURC/SSA), Universidade Federal de Pernambuco
(NURC/PE), Universidade Federal do Rio de Janeiro (NURC/RJ), Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (NURC/POA) e pelas Universidades de São Paulo e
Estadual de Campinas (NURC/SP).
4.2 PARÂMETROS DE SELEÇÃO DAS OCORRÊNCIAS
As entrevistas, objetos de análise deste estudo, foram realizadas na década
de 90 do século passado e transcritas grafematicamente, o que possibilitou a leitura
dos textos transcritos e digitalizados diretamente na tela de um computador,
descartando a necessidade de audição do material gravado.
A seleção das ocorrências passou por alguns critérios para estabelecer se
elas eram consideradas uma variante das estratégias de indeterminação do sujeito
ou não. Assim, algumas restrições foram necessárias, tais como:
i)
Uso de dois recursos de indeterminação imediatamente um após o outro,
caracterizando uma correção em relação ao item utilizado;
ii)
Recursos apresentados na fala de terceiros, algo como uma citação que
ocorre na escrita;
iii)
Repetições da fala do documentador, o que marca o chamado “efeito gatilho”,
pois o informante foi condicionado pela fala do outro;
iv)
Verbos impessoais, os quais não fazem menção a um sujeito referencial;
62
v)
Em interrupções, marcadas pelo uso das reticências na transcrição, pois não
se sabe ao certo qual foi a intenção do informante, podendo revelar indecisão
quanto ao uso pretendido;
vi)
Estruturas refeitas, inclusive com mudança do verbo e seu tempo;
vii)
O primeiro uso de uma estratégia em estruturas idênticas e subsequentes.
4.3 VARIÁVEL DEPENDENTE
A variável dependente aqui não poderá ser entendida como duas ou mais
maneiras de dizer a mesma coisa, pois, de acordo com Tagliamonte (2006, p. 71,
tradução nossa), “em morfossintaxe, no entanto, a alternância de formas envolve
flexões variáveis, alternância de itens lexicais ou diferenças sintáticas elementares
que surgem no curso de derivação de uma sentença”8. Assim, esta variável será
analisada levando-se em conta as variáveis extralinguísticas ou sociais e as
variáveis linguísticas.
A seguir, será apresentada cada variante que compõe a variável dependente,
seguida dos parâmetros adotados para sua seleção nos corpora citados.
4.3.1 Eu
O pronome pessoal “eu”, empregado para marcar a primeira pessoa do
singular, é abordado por todas as gramáticas tradicionais, contudo não fazem
referência ao seu uso como estratégia de indeterminação.
Freitas (1997a, p. 18), ao tratar dos pronomes pessoais no Brasil, recorre à
classificação dos pronomes em dois grupos de acordo com Émile: “os que
representam as pessoas do diálogo e os que não representam essas pessoas”. A
partir daí, ela esclarece que o pronome “eu”, que também faz parte de “nós” e de “a
gente”, representa o emissor.
8
Texto original em inglês: “In morphosyntax, however, alternation of forms may involve variable
inflections, alternate lexical items or elementary syntactic differences that arise in the course of
sentence derivation”.
63
Em outro trabalho, Freitas (1997b, p. 20, grifo da autora), de maneira didática,
apresenta um texto no qual um estudante observa diálogos travados na televisão,
constatando que há “outros significados em uso na linguagem cotidiana que fogem
ao previsto: o pronome eu, que não representa o emissor, mas um ou qualquer
indivíduo indeterminado, dentro de um dado grupo”.
Contudo, ao pesquisar as estratégias mais utilizadas pelos falantes de
Salvador para marcar a indeterminação do sujeito, tendo em vista outros estudos
realizados nas mais diversas localidades, o uso do pronome “eu” de forma genérica,
embora não muito abundante, apresenta um número significativo de dados ao
comparar seu uso com estratégias tidas como mais tradicionais.
A seguir, verificam-se alguns exemplos extraídos dos corpora analisados:
(19)
Porque a matemática eu acho a mais fácil, porque a matemática você
vai comprar um pão você já vai ali somando tudo, e o português
porque, EU estar ali falando né, é uma coisa bem (...inint...), e a pessoa
sabendo. [PEPP05-F1f]9
(20)
Aquela geografia era a mesma pra todos os anos eu (...inint...) o, EU
tivesse um irmão passasse pra outro ano o livro servia, era igual, tudo
igual. [PEPP11-M4m]
4.3.2 Nós
A primeira pessoa do plural é tradicionalmente marcada pelo pronome
pessoal “nós”, considerado como o “eu ampliado” ou o “eu pluralizado”. De acordo
com a teoria pragmática de Benveniste (ver subseção 3.4), o pronome “nós” não
pode ser concebido como a pluralização do “eu”, uma vez que o “nós” é constituído
de um “eu” e mais o “não-eu”, ou seja, o emissor mais o receptor, não podendo
agregar aí a “não-pessoa”, a enunciação em si, que é o objeto da comunicação.
9
Esses códigos acompanham todos os exemplos extraídos dos corpora analisados. Primeiro,
apresenta qual foi o corpus (se PEPP ou NURC) e o seu número, atraído pelo próprio programa que
o desenvolveu. Em seguida, após o hífen, encontram-se as informações sociais dos informantes: o
gênero/sexo (M – masculino ou F – feminino), faixa etária (1, 2, 3 ou 4) e a escolaridade (f – Ensino
Fundamental, m – Ensino Médio ou s – Ensino Superior).
64
De acordo com Cunha (1993, p. 51), em estudo realizado com o corpus do
NURC/RJ,
as narrativas, nos diálogos que compõem a amostra, versam
normalmente sobre experiências vividas pelos informantes, situandose, pois, no passado e – já que o locutor participou da ação –
apresentam um alto índice de ocorrência do pronome nós.
Na seção seguinte, encontram-se os resultados alcançados, que podem ou
não concordar com essa posição, o que depende das variáveis linguísticas
selecionadas nesta pesquisa.
O pronome “nós” em seu uso genérico constitui uma das variantes que
marcam o sujeito indeterminado, ora apresenta-se preenchendo a posição de
sujeito, ora está eliptico. Para considerá-lo como uma forma elíptica, todo o contexto
e outros enunciados do mesmo informante foram analisados. Por exemplo: se o
falante usava a forma “nós” sempre com o verbo flexionado, então o verbo
flexionado sem sujeito lexical foi considerado como o uso da forma “nós” (ver
exemplos 21 e 22), juntamente com a forma preenchida (ver exemplo 23):
(21)
Pode ser tão inconstante, não em Constância, mas inconstante, (risos),
eh... por ser... por ser inovador, eu acho que sempre a gente precisa
estar vendo o novo, não Ø PODEMOS ficar parado... [NURC010/NM2s]
(22)
Registrada no National Geographic Magazine, que é esta revista
nacional de geografia, não é? Está registrada lá assim. Ultimamente,
por um, por xenofobia qualquer, tem que se explicar isso bem, Ø
PASSAMOS a chamar Cachoeira da Fumaça, né? [NURC012/R-M4s]
(23)
Eles só vivem assim pra negócio de ... pra barzinho. Na minha
adolescência eu não ia pra bar, NÓS íamos passear no porto dos
Tainheiros, passear, ali naquela, naquele porto dos Tainheiros todo,
íamos lá e voltava, assim, ficávamos assim passeando pra lá e pra cá,
nós sentava na balaustrada, ficávamos conversando, dando risada, era
assim. [PEPP01-F4f]
65
4.3.3 A gente
O pronome “a gente” passou a compor o quadro dos pronomes pessoais no
português do brasileiro, em alternância com a tradicional forma de primeira pessoa
do plural “nós”. O verbo que o acompanha não possui a flexão verbal de primeira
pessoa do plural, mas igual ao da terceira pessoa do singular.
Sua origem vem do substantivo “gente”, que no latim significava “grupamento
de família, clã, a casa em sua totalidade, família, povo, raça, geração, prole”
(HOUAISS, 2001), que junto ao artigo definido “a” adquiriu seu uso pronominal.
Embora presente no falar cotidiano, a forma “a gente” ainda é fruto de várias
abordagens nas gramáticas tradicionais. Ora é considerado pronome de tratamento,
como mencionado por Almeida (2005, p. 172, grifos do autor), ao declarar que
chamam-se pronomes de tratamento as palavras e expressões que
substituem a terceira pessoa gramatical: fulano, beltrano, sicrano, a
gente, você, vossa mercê, vossa excelência, vossa senhoria, sua
senhoria, sua majestade,
ora como representação da primeira pessoa, ressalvando que se trata do “colóquio
normal” (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 296, grifo dos autores), como o exemplo dado
pelos autores:
(24)
- Você não calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens.
Todos me olham como se quisessem devorar-me.
Há também o emprego de “a gente” como pronome pessoal na gramática de
Azeredo (2008, p. 175, grifos do autor), considerada mais inovadora e atual:
As palavras gramaticais cuja função referencial é identificar as
pessoas do discurso se chamam pronomes pessoais.
Assim conceituada, a classe dos pronomes pessoais abrange a rigor
os pronomes pessoais em sentido restrito, os pronomes
demonstrativos e os pronomes possessivos, visto que estes três
subtipos fazem referência às pessoas do discurso. De acordo com a
nomenclatura oficial, porém, a expressão “pronomes pessoais” aplicase apenas às formas com que se assinalam:
a) o indivíduo que fala – primeira pessoa do singular (eu),
b) o conjunto de indivíduos em que o eu se inclui – primeira
pessoa do plural (nós / a gente),
66
c) o indivíduo ou indivíduos a que o eu se dirige – segunda
pessoa, do singular ou do plural (tu / vós, você / vocês), e
d) o indivíduo ou coisa a que o eu se refere – terceira pessoa do
singular ou do plural (ele / eles).
Esse mesmo autor, conforme mencionado na seção três, considera a forma “a
gente” como uma das estratégias utilizadas para marcar a indeterminação do sujeito.
Nos dados coletados para esta pesquisa, a forma “a gente” foi o segundo
recurso mais utilizado, tal como os exemplos citados abaixo:
(25)
É bom que as vezes a gente testa força, e as vezes é ruim porque a
gente leva desvantagem quando a gente apanha. [PEPP18-M1f]
(26)
Fiz, aí fiz tudo bem, engraçado que teve pessoas que falou assim,
“olhe, curso de férias é passa burro, passa burro, porque você foi, você
estudou o ano todo e você não aprendeu nada, quando chega no curso
de férias você aprende”, não é bem assim não sabe porque? Porque a
gente só deve ter certeza de uma coisa quando a gente faz mesmo.
[PEPP02-F1m]
(27)
Não, eu ainda não consigo fazer isso, eh... obviamente que eh... a
gente vai assumindo responsabilidades, vai assumindo novas tarefas e
na vida da gente hoje... não é? [NURC010/N-M2s]
4.3.4 Você
Antes de haver o uso de “vossa mercê” na corte portuguesa, já havia o uso da
forma pronominal “vós”, amplamente usada, segundo Sousa (2008, p. 27),
pelos reis, rainhas, nobres para o tratamento com os vassalos e,
concomitantemente, também era a forma utilizada pelos vassalos para
se dirigirem as seus superiores. Além disso, o vós era usado entre os
pares eclesiásticos, plebeus e nobres. Mas, como resultado de uma
desigualdade social, um desequilíbrio linguístico foi desencadeado e a
forma vós, antes usada para fazer referência à figura singular do rei, é
substituída por Vossa Mercê, forma que, nesse período, demonstrava
ter mais expressividade e dignidade de referência ao Rei.
67
A necessidade de representar a dignidade exercida ao rei foi sendo buscada
nas próprias falas dos vassalos, da criadagem, do povo. Nasce do seio popular para
o alto da corte, dos súditos mais próximos aos mais longínquos, de acordo com a
continuação das reflexões de Sousa (2008, p. 28),
A expressão Vossa + N, Vossa Mercê, formada pelo pronome
possessivo vossa adjungido ao nome mercê, teve a sua origem no
item linguístico mercê, sinônimo de graça, de favor, de merecimento,
de generosidade. Era comum as pessoas dirigirem-se ao rei e
solicitarem a ele a “vossa Mercê”. Com esse uso constante e
rotinizado, essa expressão transformou-se na expressão ideal para
referir-se ao Rei.
A forma “vossa mercê”, da mesma forma como surgiu do povo, voltou para o
povo e foi sendo modificada com o passar dos anos, com os diversos usos e
alternâncias fonéticas. Da “vossa mercê” passou para “você”.
O “você” que chegou aos dias atuais está registrado nas gramáticas
tradicionais ainda como um pronome pessoal usado apenas para o tratamento,
como expressam Cunha e Cintra (2001, p. 289, grifos dos autores), dizendo que
“denominam-se
PRONOMES DE TRATAMENTO
certas palavras e locuções que valem por
verdadeiros pronomes pessoais, como: você, o senhor, Vossa Excelência. Em
Rocha Lima (2008, p. 112) não é diferente, pois o gramático afirma que “há alguns
pronomes de segunda pessoa que requerem para o verbo as terminações da
terceira pessoa”, mencionando em seguida a forma “você, vocês” como de
“tratamento familiar”. Cegalla (2008, p. 181), por sua vez, ainda classifica as formas
de tratamento como sendo “cerimonioso” ou “familiar”, como é o caso do “você”, que
depende “da pessoa a quem nos dirigimos, do seu cargo, título, idade, dignidade”.
Dentre as gramáticas analisadas, o item “você” é tratado como pronome
pessoal apenas na gramática de Azeredo (2008, p. 175). Nessa mesma gramática, é
possível encontrá-lo em sua referência genérica, ou seja, como recurso de
indeterminação do sujeito, assim como em Neves (2000, p. 463), conforme visto na
seção três.
Este foi o recurso mais usado para indeterminar o sujeito nos dados
coletados. Abaixo, transcrevem-se alguns trechos:
68
(28)
Vão ... vão ... Se você vê, a missa de seis horas, no Bonfim, se você
chegar seis e quinze, não acha lugar pra sentar. [PEPP01-F4f]
(29)
Isso. Já teve até aqui, tinha as leis né, você não podia pisar na linha,
se fechasse a boca do garrafão e você estivesse dentro ou estivesse
saindo, aí você apanhava, aí tinha que sair correndo pra pegar ele num
determinado lugar, quando pegava ele já estava liberado. [PEPP04M1m]
(30)
Hoje você já concebe livros tecnológicos, mas com linguagens mais
amenas eh... eh... com alguma coisa mais leve para os alunos, não é?
[NURC010/N-M2s]
4.3.5 Eles
Os pronomes, segundo Cunha (1993, p. 20),
têm como funções básicas a anáfora e a deíxis, isto é, são
essencialmente expressões indexadas a um referente. O sistema
pronominal articula-se de forma que:
– pronomes de lª pessoa incluem o falante
– pronomes de 2ª pessoa incluem o ouvinte
– pronomes de 3ª pessoa excluem ambos
e a referência pronominal varia conforme o centro dêitico e o contexto
linguístico.
Assim, o próprio exemplo 31 mencionado por Cunha (1993, p. 20, grifo da
autora) apresenta o uso do pronome “eles” em contexto anafórico, retomando o
sintagma nominal “meus filhos”. Daí o pronome apresentar-se no plural, com o verbo
concordando em número.
(31)
“Levei meus filhos ao posto-médico e eles não tinham nem uma dose
de vacina..”
Esse uso anafórico é abordado por Cunha e Cintra (2001, p. 276, grifos dos
autores) ao tratar das características dos pronomes pessoais, embora não mencione
o termo:
69
2.º) por poderem representar, quando na 3.ª pessoa, uma forma
nominal anteriormente expressa:
Santas virtudes primitivas, ponde
Bênçãos nesta Alma para que ela se uma
A Deus, e vá, sabendo bem por onde...
(A. De Gimaraens, OC, 149.)
Levantaram Dona Rosário, quiseram levantá-la, embora ela se
opusesse, choramingasse um pouco, dissesse que não lhe era
possível fazê-lo.
(M. J. de Carvalho, AV, 137.)
A respeito dos pronomes pessoais de terceira pessoa, Azeredo (2008, p. 175)
informa que esses são os únicos que variam em gênero. Contudo, essa variação, ou
melhor, flexão de gênero se dá à medida que o pronome “ele” de fato exerce a
função anafórica, pois precisa concordar ou representar melhor o nome ou sintagma
nominal que substitui.
Ao tratar aqui da indeterminação do sujeito, o pronome “eles” se manterá
invariável, pois sua função não é anafórica, mas de se marcar uma referência
genérica, de que não se conheça o referente do sujeito, embora marque
exclusivamente a terceira pessoa. Essa será, pois, a característica principal para
delimitar se determinados usos de “eles” são, de fato, um recurso para indeterminar
o sujeito das orações, conforme exemplos a seguir:
(32)
No segundo grau você tem que se virar, eh, fazer o possível pra
procurar livro, pra achar, pra ir pra biblioteca, não tem livro, eles não
dão livro, quer dizer, pelo menos tem biblioteca, se você quiser
pesquisar, agora quem não tiver tempo de ir pra biblioteca tem que ver,
achar qualquer livro. [PEPP02-F1m]
(33)
Por isso é que ELES chamavam aquilo ali de Cachoeira da Fumaça ou
então os garimpeiros chamaram Cachoeira do, da Queima Baeta, que
baeta era uma antiga saia, uma combinação usada pelas mulheres, a
combinação que, que as mulheres usavam por debaixo do, do
vestido.... [NURC012/R-M4s]
Há, segundo Menon (2006, p. 163), uma tendência na língua de
preenchimento do sujeito pronominal nas formas verbais de terceira pessoa do
70
plural, pois, de acordo com o estudo realizado pela pesquisadora, o pronome “eles”
foi mais usado por falantes mais novos do que mais velhos, que optaram, em sua
maioria, pela forma canônica de indeterminação do sujeito Ø+V3PP, ou seja, o verbo
flexionado na terceira pessoa do plural sem sujeito lexicalmente preenchido.
Como neste trabalho as duas formas estão sendo pesquisadas, espera-se
que os resultados finais, embora não conclusivos, revelem se de fato existe essa
tendência no português brasileiro, sobretudo no português falado na cidade de
Salvador, ou são estratégias com peculiaridades diferentes e que a questão do
preenchimento não caracteriza nenhuma alteração em relação aos usos realizados
pelos falantes.
4.3.6 Formas Nominais – FN
O termo “formas nominais”, doravante FN, também denominado de “sintagma
nominal” por Milanez (1982), foi empregado nos estudos realizados por Menon
(1994; 2006), para designar as composições formadas por artigo definido mais
substantivo, como “o camarada, o cara, o cidadão, o homem, o indivíduo, a pessoa,
o público, o sujeito, a turma”.
Nesta pesquisa, além das formas citadas, foram encontradas as formas
“nego” e “neguinho”, que também foram incluídas nesta variante, apesar de não
serem constituídas de artigo definido, mas serem bastante representativas para a
história e cultura baiana, muito presentes em Salvador, capital do Estado.
A forma “a gente” não consta entre as FN por já constituir isoladamente uma
variante, uma vez que deixou de ser sintagma nominal, formado por seu núcleo mais
um artigo definido, gramaticalizando-se em um pronome de primeira pessoa do
plural, bastante utilizado também como uma estratégia de indeterminação do sujeito.
Devido às diversas formas nominais encontradas, caracterizando uma
questão de dificuldade para o desenvolvimento de um trabalho quantitativo que se
pretende aqui, elas foram agrupadas como sendo apenas uma variante, as formas
nominais, e serão tratadas com mais detalhe na seção 6, quando esses dados
também serão apresentados.
71
4.3.7 Verbo na terceira pessoa do plural - Ø+V3PP
Uma das formas tradicionalmente apresentadas pelas gramáticas, como foi
abordado na seção 3 é essa, o verbo na terceira pessoa do plural sem
preenchimento lexical do sujeito - Ø+V3PP, o que já é contemplado no item sobre a
forma “eles”.
O pronome pessoal “eles”, característico da terceira pessoa, pode ser usado
como elemento anafórico e, ao mesmo tempo, serve para indeterminar o sujeito,
isso por abarcar aí, segundo a pragmática, apenas o “não-eu”, deixa de fora o “eu” e
o “não-eu”, respectivamente o emissor e o receptor em um ato de comunicação. O
verbo flexionado não garante por ele mesmo o caráter anafórico, próprio dos
pronomes pessoais; resta, portanto, considerar o Ø+V3PP apenas como a segunda
opção, ou seja, como uma das estratégias para marcar a indeterminação do sujeito,
tal como foi registrado nos dados coletados, conforme exemplos:
(34)
Que eu bati; que eu fui expulso, eh, eu não fiz o dever de casa aí
quando chegou na escola ele começou a me xingar, depois puxou a
minha orelha, ele puxou a minha orelha eu dei um murro nele, aí me Ø
levaram pra diretoria e eu fui expulso. [PEPP18-M1f]
(35)
Hoje é pagode, mas antigamente era sacode, era uma festa, Ø
chamavam sacode, cada um levava um prato, faziam um prato e tudo
pra levar, mas eu ia ver na hora que iam sair. [PEPP01-F4f]
(36)
Total. E qualquer escorregão que você tem já as pernas vão logo
embora. Geralmente a gente usa calça, Ø estão usando muito agora o
tec ... tec ... tel, tectel, material novo que é levezinho, sintético...
[NURC0011/R-F3s]
4.3.8 Verbo mais a partícula “se” - Ø+V+SE
O uso do pronome “se” é mencionado pelas gramáticas mais tradicionais
citadas ainda como pronome apassivador.
72
Almeida (2005, p. 214-217), por exemplo, classifica o pronome “se” em
relação às funções que ele exerce na sentença: reflexibilidade, reciprocidade,
passividade e impessoalidade.
A função de reflexibilidade diz respeito ao papel que o sujeito da oração
assume, assumindo-se agente e recipiente da ação verbal (ALMEIDA, 2005, p. 214).
Já a função de reciprocidade acontece quando “o verbo e o pronome se dizem
recíprocos, e o se é objeto direto ou indireto conforme o verbo, ou regime de
preposição” (ALMEIDA, 2005, p. 216). A função de passividade diz respeito à voz
passiva verbal, a qual “expressa uma ação sofrida, recebida pelo sujeito” (ALMEIDA,
2005, p. 209), que segundo o mesmo autor, é formada a partir do uso dos verbos
auxiliares ser e estar e o particípio dos verbos tidos como “ativos” ou
mediante o pronome se, que então se diz pronome apassivador; este
caso se dá sempre que o sujeito é ente inanimado, conseguintemente
incapaz de praticar a ação verbal, ou quando o sentido da oração
mostra que o sujeito é apenas paciente (ALMEIDA, 2005, p. 210).
A última função apontada por ele é a de impessoalidade, marcada pela voz passiva
com verbos intransitivos e com os verbos transitivos indiretos no singular (ALMEIDA,
2005, p. 217).
Sobre a função que o pronome “se” exerce, Cunha e Cintra (2001, p. 279)
apontam o uso como pronome reflexivo e recíproco, como também pronome
apassivador (2001, p. 385), tendo a mesma posição que Almeida.
Ao tratar da voz passiva verbal, Azeredo (2008, p. 274) aponta o uso do
pronome “se” em construção chamada de “passiva sintética ou pronominal” (ver
exemplo 45) como uma construção de sujeito indeterminado, uma vez que o agente
(referente) do processo verbal não pode ser identificado ou não se tem a intenção de
identificá-lo. Segundo o autor, este tipo de construção só pode ser interpretado como
“a versão passiva” do exemplo 46, ou seja, neste caso o sujeito indeterminado está
bastante evidente, marcado da forma como é apresentado pelas GT: Ø+V3PP.
(37)
“Abandonaram-se estas crianças”.
(38)
“Abandonaram estas crianças”.
73
O pronome “se” vem se mostrando contrário a tudo que foi exposto pelas
gramáticas tradicionais citadas. Cyrino (2007, p. 107), ao tratar sobre o uso do
pronome “se” em textos escritos entre os séculos XVIII e XX, a partir de corpora do
projeto Para a História do Português Brasileiro – PHPB; do Projeto de História do
Português Paulista, subprojeto Mudança Gramatical no Português de São Paulo:
anúncios de jornal, cartas de leitores, cartas pessoais, cartas oficiais e dados de
jornais da imprensa negra paulista; e de dados escritos por portugueses radicados
no Brasil que compõem o corpus do século XVIII, concluiu que, “a partir do século
XIX, todo se pode ser considerado impessoal [...] o se nominativo sempre ocupa a
posição de sujeito”.
Nesse mesmo sentido, Said Ali (2006, p. 164) diz que
a linguagem nos ministra pronome pessoal fixo para evitar repetições
de nome já conhecido pelo discurso, e expressões várias à escolha
quando nos referimos a pessoa ou pessoas que não importa nomear.
No caso do verbo conjugado com o pronome reflexivo se, a
interpretação como voz passiva é falha, já quanto à análise da forma,
pois o elemento reflexivo só poderia reflexivar, já quanto à função,
visto que a mesmíssima linguagem indiscriminadamente se aplica a
verbos intransitivos. O latim itur é forma passiva com função do verbo
ativo. Se adotássemos em português o mesmo processo, diríamos é
ido, e não vai-se [cf. exemplo 02] no estilo literário, a gente vai na
linguagem familiar.
Buscando asseverar que o pronome “se” é uma das marcas de
indeterminação do sujeito utilizada na fala urbana de Salvador, em consonância com
o estudo realizado por Menon (1994; 2006), será considerado o uso do pronome “se”
em estruturas como a tida voz passiva sintética (PASSINT) a fim de verificar a
produtividade da concordância verbal de número, sobretudo nos falantes de nível
superior completo, conforme exemplo a seguir.
(39)
(ruídos) são feitos de couro, de plásticos ainda Ø se usam muito, as
mulheres é que lançaram esse negócio do... do plástico no calçado, né,
hoje até aquele plástico transparente, eu não sei o nome que dão, mas
parece uma fita transparente, né... e que já emigrou disso aí, já está no
sutiã, já está no biquíni, entendeu, já está em todo lugar, quer dizer...
eh... [NURC014/R-M4s]
74
Ressalta-se, portanto, que no presente estudo não há distinção entre uma
forma e outra para marcar a indeterminação do sujeito. Mas buscando atender o
objetivo citado anteriormente, será considerado passiva sintética apenas para os
supostos objetos no plural e com o verbo em concordância com ele, nos demais
casos será interpretado como Ø+V+Se.
(40)
Eu não sei se é amor a primeira, eu não sei se chama-se amor, não
sei se isso é amor, gosto sim, gosto dela, agora gosto mais ainda,
agora depois que a gente teve filho, mas não sei o que é que quer dizer
amor, não sei se é amor a palavra, eu acho que gostar eu gosto, amor
eu não sei. [PEPP09-M2f]
(41)
Olhe, eu ... eu acho que não funciona negócio de apanhar realmente
não, viu, de bater em filho eu acho que não é por aí não. Eu acho que
não ... eu acho que é isso, tem que ter o respeito sem ... sempre se dá
bater né, não, hoje eu sou contra, agora se na conversa não, não
conseguir, aí tem que Ø se apelar pro ...pra ignorância mesmo...
[PEPP10-F3m]
(42)
E foi talvez o meu melhor momento como escola, não só por você ser
adolescente, por você ter o mundo todo diferente para... para... para
buscar, mas pela própria situação que... que Ø vivia-se no momento
no país, a ditadura, vontade de burlar a ditadura, vontade de ser
criativo para burlar isso, não é. eh... ah... tivemos uma geração nessa
época que até hoje é lembrada na escola como a grande geração que
passou na escola. [NURC010/N-M2s]
4.3.9 Verbo na terceira pessoa do singular - Ø+V3PS
A terceira pessoa do singular sem sujeito lexicalmente preenchido - Ø+V3PS
como estratégia de indeterminação do sujeito não é tratada nas gramáticas
tradicionais e descritivas, com exceção de Neves (2000, p. 464) na subseção 3.3.1
desta dissertação, a qual menciona e faz uma ressalva quanto ao uso dessa
estratégia, dizendo que é considerada de uso mais popular.
75
Assim, a investigação dessa estratégia no PEPP e no NURC pode esclarecer
quanto a essa conclusão de Neves, pois a forma foi utilizada por falantes de outros
níveis de escolaridade. Sendo assim, ela pode não se restringir apenas ao uso
popular, mas também se estender ao uso culto da língua (ver exemplo 45).
Ainda sobre essa estratégia, Ferreira (1991, p. 45, grifos da autora) afirma
que
essa construção com forma verbal da chamada 3ª pessoa do singular
com sujeito não explícito sem referente poderia ser interpretada quer
como expressão do conjunto genérico constituído pelo EU mais o
NÃO-EU mais a NÃO-PESSOA – mais uma forma de indeterminação
do sujeito –, quer como a tradicionalmente considerada passiva
sintética, apresentando-se, entretanto, com ausência do se.
Essa estratégia mostrou-se um tanto significativa, registrando-se a seguir
alguns trechos selecionados dos dados coletados.
(43)
Hoje não Ø vê, é muito raro. A gente tinha boneca, fazia batizado.
[PEPP01-F4f]
(44)
Ø Dividia a, a turma, Ø colocava em uma sala e outra, em baixo, ou
se não misturava com outras séries, sabe que é semana de prova né?
[PEPP04-M1m]
(45)
Eu não vi ainda, Ø disse que é uma beleza, que inclusive é baseado
no que eles fizeram das botas pra ... pra andar na guerra, né, que eles
fizeram uma bota pra areia, que a areia não entra na bota, como
fizeram uma pra andar em rio, que Ø diz que a água entra e sai. Essa
daí seria legal pra a gente. [NURC0011/R-F3s]
4.3.10 Verbo no infinitivo impessoal - Ø+VINF
O infinitivo impessoal, ou seja, sem preenchimento do sujeito, também é
considerado aqui como uma das estratégias para marcar a indeterminação. Essa
possibilidade se dá justamente por não haver um item lexical junto à forma, o que
caracteriza o uso genérico, podendo ser qualquer pessoa.
76
Conforme visto na seção 3, dentre as gramáticas normativas apresentadas, a
única que considera essa estratégia como sendo também de indeterminação do
sujeito é a gramática de Cegalla (2008, p. 325).
Menon (1994), Setti (1997) e Godoy (1999) consideraram o infinitivo
impessoal juntamente com Ø+V3PS, afirmando que esse não é marcado
morfologicamente, assim como aquele. Nesta dissertação, será considerado
separadamente por haver outros fatores, sejam linguísticos ou extralinguísticos, que
podem evidenciar sua distinção.
Abaixo, seguem alguns exemplos encontrados nos corpora analisados:
(46)
...as vezes a gente apanhava e chorava e outras vezes não, porque
tem uns que são malvados que bate com, bate forte, tinha outra
brincadeira também, Ø chutar lata, Ø jogar gude, mas a melhor
brincadeira também mesmo era Ø empinar arraia, que até hoje eu
empino né. [PEPP18-M1f]
(47)
Ø EDUCAR, eh, dá trabalho, não é fácil, porque requer um, um, uma
série de, de reuniões, reuniões de comportamentos para, de aquisição
de comportamentos pra que você possa eh, passar para aquela
pessoa, então é uma coisa difícil, mesmo se tratando de, de educação
doméstica, mesmo se tratando de educação doméstica. [NURC015/NM3s]
4.3.11 Voz passiva sem agente - VPSA
As gramáticas de uma forma geral apresentam dois tipos de realizações das
passivas: a sintética, já mencionada anteriormente, compondo aqui uma das
variantes para marcar a indeterminação do sujeito; e a analítica.
Segundo Hauy (1986, p. 171), a passiva analítica é constituída pelos verbos
auxiliares ser, estar e ficar, caracterizando a passiva como de ação, de estado e de
mudança de estado, respectivamente.
A principal diferença existente entre as duas passivas mencionadas, ainda
segundo Hauy (1986, p. 171), é que a passiva analítica “pode apresentar o verbo em
77
qualquer pessoa, enquanto a sintética só se constrói em 3ª pessoa”. A exemplo da
passiva analítica, Hauy (1986, p. 171, grifos nossos) cita:
(48)
Fui procurado por todos.
(49)
Foste procurado por todos.
(50)
Fomos criados por Deus.
A variante denominada de “voz passiva sem agente” é caracterizada com a
ausência do agente da passiva, que no caso das três frases citadas seriam “por
todos” e “por Deus”.
Ao longo da coleta de dados, não foram encontrados usos da voz passiva
analítica sem agente – VPSA, o que não quer dizer que ela não seja empregada
pelos falantes de Salvador, uma vez que a base de dados constitui apenas uma
amostragem.
4.3.12 Voz passiva sintética - VPASSINT
Embora as gramáticas normativas caracterizem a voz passiva sintética como
formada apenas por “um verbo transitivo direto ou transitivo direto e indireto na
terceira pessoa do singular ou do plural (em concordância com o sujeito), seguido do
pronome se, apassivador” (HAUY, 1986, p. 169, grifo do autor), de acordo com o
que foi discutido no item anterior, no presente texto, essa é uma estratégia de sujeito
indeterminado. Segundo a tradição, a distinção realizada para marcar a voz passiva
sintética – VPASSINT seria a marca de plural apresentada pelo verbo em
concordância com o objeto, o que tradicionalmente levaria a considerar o sintagma
nominal seguinte como sujeito da oração.
(51)
Como Ø dividiam-se os povos, pra dizer se, se selvagens, bárbaros,
nada disso eu disse, e eu sabia tudo, mas não disse não. E ela atrás
me dizendo, (...inint...), V... viu, mas eu não repetia, V... saiu me deu
um murro, aí disse, “você está demais”, era muito a minha camarada.
[PEPP25-F4m]
78
4.4 VARIÁVEIS INDEPENDENTES
As variáveis independentes, conforme visto na subseção 2.5, são assim
chamadas por se tomar como hipótese que podem influenciar na variação
linguística, uma vez que não se considera ser ela aleatória, mas condicionada por
esses grupos de fatores de ordem extralinguística (social) ou linguística, podendo
atuar juntos ou não. Cabe ao sociolinguista selecioná-los de acordo com a realidade
que se pretende estudar.
A seguir, serão elencadas as variáveis independentes selecionadas, as quais
foram escolhidas com base nos estudos que antecederam esta pesquisa.
4.4.1 Variáveis Extralinguísticas ou Sociais
4.4.1.1
Gênero/sexo
A realidade linguística vivenciada por homens e mulheres, ao desempenhar
seus papéis sociais, é diferente e, ao mesmo tempo, diversificada, uma vez que
cada fator não age sozinho, mas junto a questões referentes à escolaridade, idade,
rede social, tipo de ocupação, entre outras.
Não é de se estranhar, portanto, que os homens tenham uma maneira
peculiar de utilizar a língua diferentemente das mulheres. Eles se comunicam
diferente, às vezes é possível distinguir se uma fala foi dita por um homem ou por
uma mulher, seja por uma marca lexical ou várias, construções oracionais, entre
outras. Segundo Silva-Corvalán (2001, p. 96, tradução nossa), “é sabido que, em
igualdade de condições e além do tom de voz, a maneira de falar das mulheres é
diferente da dos homens”.
Contudo, essa diferença no falar não é algo marcado por questões biológicas.
Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p. 47), “essas variações entre os repertórios
feminino e masculino são relacionadas aos papéis sociais que [...] são culturalmente
condicionados”. Daí a necessidade de marcar este tipo de variação, como de gênero
(diagenérica) e de sexo (diassexual), não apenas sexo.
Ao analisarem alguns estudos sobre fenômenos fonológicos, Silva e Paiva
(1988, p. 366) apontaram que a variável gênero/sexo apresentou-se bastante
79
relevante, pois “indicou forte tendência das mulheres no uso das formas linguísticas
padronizadas”.
Se, ao analisar a variação no nível fonológico, o gênero/sexo feminino
mostrou-se favorecedor dos padrões linguísticos das línguas que foram observadas,
pretende-se verificar se no nível morfossintático, ao qual se dedica o presente
trabalho, também isso ocorre, ou seja, se o gênero/sexo feminino também opta
pelas formas de prestígio10.
No entanto, de acordo com Paiva (2004, p. 35),
a análise da correlação entre gênero/sexo e a variação linguística tem
de, necessariamente, fazer referência não só ao prestígio atribuído
pela comunidade às variantes linguísticas como também à forma de
organização social de uma dada comunidade de fala.
Acredita-se que essa opção pelas formas consideradas prestigiadas é um
reflexo da sociedade brasileira como um todo, na qual a mulher está passando a
exercer determinadas funções antes desempenhadas pelos homens e a constante
busca pelos altos postos de trabalho. Essa variável foi observada em estudo
realizado sobre o emprego de “onde” na fala urbana de Salvador, no qual Souza
(2009, p. 67, grifo da autora), observou que “os homens possuem um percentual
maior de usos do ONDE Espaço Físico, 85%, em relação às Mulheres, que possuem
78%”. Além disso, ela também observou o emprego de valores abstratos de “onde”,
como tempo, noção e posse. Ao final, a pesquisadora confirma a tendência que vem
sendo revelada na literatura Sociolinguística, de que “as mulheres são sempre
conservadoras em termos de usos, mas quando a mudança não é estigmatizada,
elas facilmente incorporam os novos usos, e passam a ser mais inovadoras do que
os homens” (SOUZA, 2009, p. 67).
10
“O termo prestígio em sociolinguística é usado para se referir ao valor positivo que certas variáveis
linguísticas têm em relação a facilitar a ascensão na escala social e também ao valor que têm as
formas linguísticas padrão, reconhecidas e aceitas pelas gramáticas normativas e geralmente
associadas com a classe média alta culta” (SILVA-CORVALÁN, 2001, p. 99, tradução nossa, grifo da
autora).
80
4.4.1.2
Escolaridade
O papel da escola em relação ao ensino de língua materna sempre foi fruto
de discussões. Votre (2003, p. 52), por exemplo, inicia seu artigo tecendo
comentários a respeito, dizendo que
a observação do dia-a-dia confirma que a escola gera mudanças na
fala e na escrita das pessoas que as frequentam e das comunidades
discursivas. Constata-se, por outro lado, que ela atua como
preservadora de formas de prestígio, face a tendências de mudança
em curso nessas comunidades. Veículo de familiarização com a
literatura nacional, a escola incute gostos, normas, padrões estéticos e
morais em face da conformidade de dizer e de escrever. Compreendese, nesse contexto, a influência da variável nível de escolarização, ou
escolaridade, como correlata aos mecanismos de promoção ou
resistência à mudança.
Assim, de acordo com Silva e Paiva (1998, p. 343), a partir de observações
feitas em relação a alguns estudos no nível fonológico, constatou-se que os falantes
que possuem níveis de escolarização mais altos tendem a usar mais as formas
socialmente aceitas, desfavorecendo os usos que não estão em consonância com o
padrão estabelecido.
No Brasil, em particular, é muito difícil se medir o quanto o status social do
falante pode influenciar em sua fala, uma vez que a distribuição de renda é muito
desigual, o que dificulta classificar os falantes em diversos níveis. Desta forma,
muitos estudiosos da sociolinguística optaram por considerar o nível de escolaridade
como barema para tal classificação, pois, de acordo com Bortoni-Ricardo (2004, p.
48), a qualidade das escolas que os falantes frenquentaram durante a vida e a
própria quantidade de anos dedicada ao processo de escolarização têm influência
em seu repertório sociolinguístico, uma vez que a escolarização e o status
socioeconômico estão diretamente ligados na sociedade brasileira. Assim, verificar o
nível de escolaridade no qual se encontram os falantes é caracterizar uma maior
aproximação ou menor aproximação do que é considerado o padrão de uma língua
em uma sociedade, visto que é a escola que busca cumprir o papel de regulá-lo e
mantê-lo.
Souza (2009, p. 23), ao analisar a concordância do sujeito com o verbo na
fala de Salvador, verificou que quanto mais escolarizado é o falante, mais faz uso da
concordância verbal. Assim, os falantes com nível superior completo, de acordo com
81
essa pesquisadora, apresentaram 92% de frequência de uso da concordância verbal
contra 49% dos falantes do Ensino Fundamental, menor percentual observado.
As formas de indeterminação do sujeito também serão analisadas quanto aos
níveis de ensino a que pertencem os informantes, se do Ensino Fundamental, Médio
ou Superior. A partir dessa observação, acredita-se que os falantes do Ensino
Superior fazem mais uso das formas tidas como cultas, enquanto os falantes do
Ensino Fundamental utilizam as formas menos prestigiadas. Tal hipótese será
analisada a fim de constatar ou refutar as ideias apresentadas.
4.4.1.3
Faixa Etária
As diferenças no uso de uma língua ainda podem ser condicionadas pela
idade, como afirma Bortoni-Ricardo (2004, p. 47), ao dizer que, “no interior da
família, há diferenças sociolinguísticas intergeracionais: os avós falam diferente dos
filhos e dos netos etc. O mesmo ocorre na sociedade como um todo”, notável ao
observar a fala dos mais velhos de uma comunidade linguística e a fala dos mais
jovens, por exemplo.
Em estudos realizados sobre a concordância nominal na fala de Salvador, por
exemplo, Lopes (2009b, p. 44) mostrou, a partir de dados numéricos, que “a faixa
etária mais velha é a mais favorecedora do uso da concordância, pois é a que mais
tende a marcar os elementos do sintagma nominal com o morfema plural”. Assim,
ainda segundo a autora, os falantes mais velhos apresentaram peso relativo .59 de
concordância nominal em relação aos falantes mais novos, que apresentaram peso
relativo .49.
Ao estudar as diferenças linguísticas entre falantes de faixas etárias
diferentes, pode-se perceber também sob dois pontos de vistas distintos, segundo
Silva e Paiva (1998, p. 350), “a relação de estabilidade entre variantes linguísticas –
um fenômeno varia, mas não muda – ou a existência de mudanças na língua”. Já de
acordo com Silva-Corvalán (2001, p. 101, tradução nossa), além da mudança
linguística, há também a situação de “identidade com o grupo etário” e a
“autocorreção por parte dos grupos geracionais mais ativos na vida pública”.
Portanto, há de se observar que formas tendem a ser conservadas pelos
falantes mais velhos, quais as formas de prestígio que são usadas por eles para
82
marcar o sujeito indeterminado e quais as estratégias usadas pelos falantes mais
novos, uma vez que eles tendem a inovar, buscando estratégias mais novas.
Essa hipótese toma por base as palavras de Naro (2003, p. 44), que afirma
que
os falantes adultos tendem a preferir as formas antigas, criando uma
situação estranha, pelo menos à primeira vista: existem pessoas
que, apesar de estarem em interação constante (do tipo pai/filho),
costumam falar de maneira distinta. Entretanto, isso não chega a
comprometer a comunicação, já que ambos os lados são capazes de
utilizar e entender todas as formas. Trata-se apenas de uma tendência
em direção a outra forma. Com o correr do tempo, é provável que a
forma nova seja adotada por todos.
4.4.2 Variáveis Linguísticas
4.4.2.1
Tempo e modo verbal
Ao analisar a variável tempo e modo verbal, Menon (1994; 2006) observou
que certos tempos verbais apresentam-se como favorecedores no emprego de
estratégias que indeterminam o sujeito. A exemplo disso, Menon (2006, p. 138)
percebeu que “é o presente do indicativo o tempo empregado nas construções
hipotéticas”, concluindo, por conseguinte, que é “a presença maciça desse tempo
verbal que indica que ele é uma das características dos enunciados da
indeterminação”.
Assim, será adotada neste trabalho a classificação dos tempos e modos
verbais cunhados pelas gramáticas normativas de maneira geral para tentar verificar
se o uso das variantes está condicionado a uma determinada forma verbal. Seguese a distribuição utilizada:
•
Modo Indicativo:
o Presente;
o Pretérito perfeito;
o Pretérito imperfeito;
o Futuro do presente;
o Futuro do pretérito;
83
•
Modo Subjuntivo:
o Presente;
o Pretérito imperfeito;
o Futuro;
•
Formas nominais:
o Infinitivo;
o Particípio;
o Gerúndio;
•
Imperativo.
As locuções verbais foram entendidas a partir dos verbos auxiliares, uma vez
que “o último dos verbos é que expressa a verdadeira ação, ação que se quer
manifestar, e o outro (ou os outros, quando locução é constituída de mais de dois
verbos) indica o modo, o tempo, a pessoa...” (ALMEIDA, 2005, p. 309).
Cunha e Cintra (2001, p. 121, grifos do autor) explicam ainda mais
detalhadamente que
a LOCUÇÃO VERBAL é o conjunto formado de um VERBO AUXILIAR + UM
VERBO PRINCIPAL. Enquanto o último vem sempre numa FORMA
NOMINAL (INFINITIVO, GERÚNDIO, PARTICÍPIO), o primeiro pode vir:
a) numa FORMA FINITA (INDICATIVO, IMPERATIVO, SUBJUNTIVO):
A viticultura foi-se alargando talvez a partir do terceiro
século.
[...]
b) numa FORMA NOMINAL (INFINITIVO ou GERÚNDIO):
Ah, não poder subir na sombra
Como um ladrão que escala um muro!
4.4.2.2
Tipo de oração
Ao estudar as estratégias pronominais para marcar a indeterminação do
sujeito, Cunha (1993, p. 35) salientou que a inclusão da variável tipo de oração
baseava-se “não em hipótese, mas na necessidade que sentimos de controlar o tipo
84
de oração para mais adiante saber se ele evidencia alguma particularidade do
fenômeno”.
Assim, essa variável aqui será considerada para tentar depreender se há
alguma relação entre ela e as escolhas que os falantes fazem das estratégias de
indeterminação do sujeito.
•
Oração absoluta:
(52)
Mais rápidas, o pessoal tem mais conforto dentro de sua casa.
[PEPP06-M4f]
•
Oração principal:
(53)
O homem inventa algumas coisas que ele não sabe até onde vai dar,
quais são os reflexos. [NURC010/N-M2s]
•
Oração coordenada:
(54)
•
É, se aprofundar e ficar bom demais naquilo. [PEPP11-M4m]
Oração subordinada:
(55)
O outro é a baianitude, a baianitude é esta admirável dádiva de Deus,
que dá aos baianos uma inteligência fantástica, que só A GENTE vê
nos Mangabeiras, né? [NURC012/R-M4s]
4.4.2.3
Tipo de verbo
Assim como as variáveis tempo e modo verbal e tipos de oração, a variável
tipo de verbo também foi classificada a partir do ponto de vista da gramática
tradicional, contudo levando-se em consideração o contexto no qual os verbos foram
empregados, pois sua transitividade, segundo Perini (2004, p. 164, grifos do autor),
85
“deve ser feita em termos de exigência, recusa e aceitação livre de cada uma das
funções relevantes”.
Os verbos foram classificados em transitivos, intransitivos e de ligação. Os
diferentes tipos de verbos transitivos, como diretos e indiretos, foram englobados
como apenas transitivos.
•
Verbo transitivo:
(56)
Hoje não vê, é muito raro. A gente tinha boneca, fazia batizado.
[PEPP01-F4f]
•
Verbo intransitivo:
(57)
Larguei, larguei ele, larguei ele e comecei a trabalhar e tudo mais, lá
vai, lá vai, passou e eu levei um, uma temporada sozinha, um bocado
de ano, depois disso eu disse que não queria mais ninguém, porque a
gente quando acontece um caso desse a gente fica quase com um
trauma, eu não sei o que é. [PEPP31-F3f]
•
Verbo de ligação:
(58)
Não. Ali ele... ele tinha tido um “treco” na escola, porque ai... iria haver
uma reversão grande, não é? E ele sabia que não podia fazer isso. E aí
foi fantástico, não é? foi fantástico, assim, uma hora e meia de poesia,
as pessoas ouvindo, aplaudindo, curtindo, silenciosas, não precisava
pedir silêncio, estavam acostumadas a ouvir, e... [NURC010/N-M2s]
4.4.2.4
Forma antecedente
A hipótese geral para a inserção da variável forma antecedente neste estudo
é de que “marcas tendem a levar a marcas”, segundo Scherre e Naro (2004, p. 152),
ou seja, uma vez utilizada determinada estratégia para marcar a indeterminação do
sujeito, o informante manteria essa mesma forma nas orações subsequentes,
86
“desencadeando uma série de repetições”, chamadas na literatura sociolinguística
de “efeito gatilho”.
Para estabelecer se uma forma seria considerada antecedente ou não, foram
obedecidos alguns critérios apontados por Cunha (1993, p. 39) e Santana (2006, p.
83):
a) Foi analisado apenas um turno de fala do informante por vez, sem a
interferência do documentador (ou interlocutor);
b) As estratégias analisadas deviam fazer parte do mesmo conteúdo ainda
no mesmo turno;
c) O período de transcrição não podia ultrapassar o limite de dez linhas de
transcrição;
d) Quando o informante mudou de conteúdo dentro do mesmo turno ou se
ele ultrapassou o limite das dez linhas, a estrutura foi considerada como a
primeira de uma nova série ou como uma estrutura isolada, não sendo
considerada para fins quantitativos.
A partir do exposto, as formas antecedentes foram assim distribuídas:
•
Forma precedida de a gente explícito:
(59)
É bom que as vezes a gente testa força, e as vezes é ruim porque a
gente leva desvantagem quando a gente apanha. [PEPP18-M1f]
•
Forma precedida de a gente implícito:
(60)
Lá eu brincava na escola Rui Barbosa, e a diretora deixava de vez em
quando aí a gente armava tudo lá dentro do colégio, Ø fazia a bagunça
da gente depois a gente limpava e ia embora pra casa, mas era
divertido. [PEPP18-M1f]
•
Forma precedida de eles explícito:
(61)
Eu acho que eles não deviam exigir assim, Ø cobrando muito, a
pessoa não tem calça, não tem calça né, não poder ir com a saia
87
comprida, umas coisas que ele, que eles exige que a gente não, as
vezes a gente nem tem... [PEPP05-F1f]
•
Forma precedida de eles implícito:
(62)
Foi que o segurança achou que a gente estava procurando briga, aí eu,
não foi eu que estava procurando, foi meus colegas que eles dizem
que estava procurando, aí eu tive que me meter, aí foi paulada,
garrafada, chute, aí botaram a gente pra fora, chegou cá fora a gente
ficou esperando o pessoal sair, aí quando saiu como a gente mora em
Nazaré a gente aí tirou os paus de, da barraca de capeta e começou
dar de ferro nos outros, pauladas, depois chamaram a polícia a gente
ainda estava no local ainda, chamaram a polícia a gente aí teve que
partir pra casa, correr.. [PEPP18-M1f]
•
Forma precedida de eu explícito11:
(63)
Eu acho que não tenho assim hoje uma idéia fixa, ou seja, tem que
mudar, eu acho que não é isso, eu acho que é um processo, e que
dentro do processo quando pintar a oportunidade eu vou modificar, eu
vou propor a modificação, não é? [NURC010/N-M2s]
•
Forma precedida de FN explícito:
(64)
É meio assustador, mas não se preocupe porque ninguém hipnotiza
ninguém se a pessoa não quer, porque quando ela não quer ela forma
uma barreira, e essa barreira exatamente evita a invasão de estímulos,
que as pessoas também tem medo de que, por exemplo, quando a
pessoa está hipnotizada não vai mais acordar, isso também é mentira...
[NURC015/N-M3s]
•
11
Forma precedida de FN implícito:
A forma precedida de eu implícito (eu como sujeito indeterminado) não foi encontrada nos dados
analisados.
88
(65)
Talvez agora as pessoas tenham, tenham buscado mais esse lado,
teve uma época que eu acho que as pessoas ficaram meio, meia
doidonas. Que Ø entravam muito numa, numa de, de meio de “réuris”, eu
chamo assim, que Ø entravam numa, numa, numa educação que eu não,
eu não consigo ver ganho nisso daí. [NURC013/N-F2s]
•
Forma precedida de nós explícito:
(66)
Bom, brincadeiras eu sempre gostei muito de jogar bola, a não ser isso
eu ia pra praia que era perto lá de onde eu morava, bem pertinho, nós
ia muito pra praia, jogava, Ø jogava uma, uma, uma tábua, não sei se
vocês já viram... [PEPP09-M2f]
•
Forma precedida de nós implícito:
(67)
Eles só vivem assim pra negócio de ... pra barzinho. Na minha
adolescência eu não ia pra bar, nós íamos passear no porto dos
Tainheiros, passear, ali naquela, naquele porto dos Tainheiros todo, Ø
íamos lá e Ø voltava, assim, Ø ficávamos assim passeando pra lá e pra
cá, nós sentava na balaustrada, ficávamos conversando, dando risada,
era assim. [PEPP01-F4f]
•
Forma precedida de você explícito:
(68)
Você não vê hoje uma menina assim disposta a, dentro de casa, ajudar
a mãe, a cooperar. Olhe, eu criei meus filhos, meus filhos sabem fazer
tudo. Sabem cozinhar, sabem lavar, sabem passar, mas hoje você vê
muita moça que não sabe fazer um café. [PEPP01-F4f]
•
Forma precedida de você implícito:
(69)
Eu tive professoras mesmo no ginásio, na quinta série que você ia pro
quadro, ela mandava você ir pro quadro né Ø fazer exercício, Ø errava
89
ela pegava a, um negocinho né, tipo uma anteninha que era, “abra a
mão”, aí batia, dava aqui... [PEPP04-M1m]
•
Forma precedida de Ø+V+SE:
(70)
[...] E foi talvez o meu melhor momento como escola, não só por você
ser adolescente, por você ter o mundo todo diferente para... para...
para buscar, mas pela própria situação que... que vivia-se no momento
no país, a ditadura, vontade de Ø BURLAR a ditadura, vontade de ser
criativo para burlar isso, não é. eh... ah... tivemos uma geração nessa
época que até hoje é lembrada na escola como a grande geração que
passou na escola. [NURC010/N-M2s]
•
Forma precedida de Ø+V3PP:
(71)
Ø Dizem que estudar né, eu posso estudar, tomar cursos, mas eu acho
que se a pessoa também não tiver um bom conhecimento não adianta
porque como eu tem aqui pessoas aqui bem instruídas, tem, tem até
profissão aqui também onde eu estou trabalhando e não, está fazendo
o mesmo trabalho que eu
•
Forma precedida de Ø+V3PS:
(72)
... Eu não vi ainda, Ø disse que é uma beleza, que inclusive é baseado
no que eles fizeram das botas pra... pra andar na guerra, né, que eles
fizeram uma bota pra areia, que a areia não entra na bota, como
fizeram uma pra andar em rio, que Ø diz que a água entra e sai. Essa
daí seria legal pra a gente. [NURC0011/R-F3s]
•
Forma precedida de Ø+VINF:
(73)
A do retorno, e não, Ø descer na Rodoviária também, porque ninguém
vai entender se você descer, na Rodoviária, suja do jeito que a gente
vai na caminhada, aí ... [NURC0011/R-F3s]
90
•
Forma precedida de PASSINT:
(74)
Como dividiam-se os povos, pra Ø dizer se, se selvagens, bárbaros,
nada disso eu disse, e eu sabia tudo, mas não disse não. E ela atrás
me dizendo, (...inint...), V... viu, mas eu não repetia, V... saiu me deu
um murro, aí disse, “você está demais”, era muito a minha camarada.
[PEPP25-F4m]
4.4.2.5
Mudança / manutenção do referente
De acordo com Cunha (1993, p. 38), a hipótese de se analisar a variável
mudança/manutenção do referente é de que “a mudança de referente levaria à
mudança de forma”, e é justamente isso que se analisa neste trabalho.
Santana (2006, p. 85) informou que essa variável foi abordada em outros
trabalhos sobre o presente tema conjugada com a variável forma antecedente, mas
aqui é considerada isoladamente, englobando os seguintes fatores:
•
referente igual à estrutura imediatamente anterior na série discursiva;
•
referente diferente da estrutura imediatamente anterior na série discursiva.
Como se pode prever, nesta variável não foram consideradas as formas
isoladas ou a primeira de uma série discursiva.
4.4.2.6
Preenchimento do sujeito
A variável preenchimento do sujeito é formada apenas pelas estratégias
pronominais utilizadas para marcar a indeterminação do sujeito: a gente, eles, eu,
nós e você. Os demais casos não foram considerados, uma vez que são estratégias
sem sujeito preenchido ou então não permitem a inclusão do sujeito implícito, como
é o caso das formas nominais.
91
Tendo em vista a possibilidade de as orações poderem possuir um sujeito
pronominal explícito e implícito, os fatores estabelecidos para tal classificação foram:
•
Sujeito pronominal explícito – a posição de sujeito é preenchida por um dos
pronomes analisados como estratégias de indeterminação do sujeito:
(75)
...agora eu não tenho bem certeza, ele coloca que a grande mudança
da humanidade é quando você deixa de subordinar o tempo, não é?
[NURC010/N-M2s]
•
Sujeito pronominal implícito – a posição de sujeito não é preenchida por um dos
pronomes analisados, contudo, através do contexto, sabe-se que ele está oculto:
(76)
Foi que o segurança achou que a gente estava procurando briga, aí eu,
não foi eu que estava procurando, foi meus colegas que eles dizem
que estava procurando, aí eu tive que me meter, aí foi paulada,
garrafada, chute, aí Ø botaram a gente pra fora, chegou cá fora a
gente ficou esperando o pessoal sair, aí quando saiu como a gente
mora em Nazaré a gente aí tirou os paus de, da barraca de capeta e
começou dar de ferro nos outros, pauladas, depois chamaram a polícia
a gente ainda estava no local ainda, chamaram a polícia a gente aí
teve que partir pra casa, correr. [[PEPP18-M1f]]
No exemplo 77, a estrutura antecedente caracteriza que há menção a um
sujeito plural, que possivelmente é o próprio “eles”, uma vez que há flexão verbal
idêntica ao verbo anterior (dizem).
4.4.2.7
Grau de indeterminação
Na seção 3.4, foi discutida a questão do envolvimento das pessoas no
discurso, podendo haver maior ou menor inclusão delas. A depender desse papel
desempenhado durante a interação, a indeterminação do sujeito pode ser
categorizada de acordo com o seu grau.
92
A delimitação da variável grau de indeterminação levou em consideração os
estudos desenvolvidos por Cunha (1993, p. 37) e Santana (2006, p. 89), as quais
classificaram em:
•
Indeterminação completa – quando o referente não pode ser depreendido de
forma alguma dentro do contexto no qual a estratégia está inserida:
(77)
Larguei, larguei ele, larguei ele e comecei a trabalhar e tudo mais, lá
vai, lá vai, passou e eu levei um, uma temporada sozinha, um bocado
de ano, depois disso eu disse que não queria mais ninguém, porque a
gente quando acontece um caso desse a gente fica quase com um
trauma, eu não sei o que é. [PEPP31-F3f]
•
Indeterminação parcial com referência implícita no contexto – o referente não se
encontra visível no texto, mas, por inferência, se pode depreendê-lo:
(78)
É, (...inint...), estão a mesma coisa, e os livros quando a gente não
podia comprar, naquela, naquela época a gente ia pra biblioteca
pública, eu cansei de ir, e tinha matérias como história universal que eu
estudava lá com A ..., o famoso M... [PEPP11-M4m]
•
Indeterminação parcial com referência explícita no contexto – há a possibilidade
de depreender o referente, por meio de inferência, a partir de algum elemento
presente no texto que possibilite sua interpretação:
(79)
Na especialização ... na própria especialização o fato de ser baiana,
nordestina, é uma onda pra paulista, então constantemente era dando
tacadas em cima de você, que você era muito inteligente pra ser
baiana, aí você, aí eu pegava as frases de Nizan Guanaes: o problema
que eu estou aqui, é porque lá eu era mais uma, e aqui eu faço a
diferença, aí quando Ø dizia alguma coisa de festa, porque aqui a
gente sempre foi muito festeiro, que a gente só estava ensaiando, aqui
quando não estava ensaiando era tempo de festa, eu digo graças a
Deus porque aqui, lá a gente, a gente se diverte enquanto os bestas
93
trabalham do lado de cá, então era sempre uma guerra na sala de aula
por causa disso... [NURC013/N-F2s]
4.5 O SUPORTE QUANTITATIVO
Definidos os corpora, as variantes linguísticas, as variáveis extralinguísticas e
linguísticas, torna-se necessário definir o suporte quantitativo que dará conta de
fazer com que os dados linguísticos sejam processados e obtenham-se os dados
numéricos estatístico-probabilísticos importantes para a análise qualitativa.
A quantificação dos dados e o cruzamento das variáveis são importantes para
os estudos da variação linguística porque permitem ao pesquisador, segundo Guy e
Zilles (2007, p.73) “apreender sua sistematicidade, seu encaixamento linguístico e
social e sua eventual relação com a mudança linguística.”.
Para realizar tal procedimento, o pesquisador se utiliza do Varbrul (do inglês
Variable Rules), que é um pacote ou conjunto de programas computacionais que
realiza a análise multivariada, especialmente elaborado para tratar de dados
relativos à variação linguística.
A análise multivariada, ainda segundo Guy e Zilles (2007, p.105), “permite
investigar situações em que a variável linguística em estudo é influenciada por vários
elementos do contexto, ou seja, múltiplas variáveis independentes.”.
O pacote de programas Varbrul, em sua versão conhecida como Varbrul 2S,
possui uma versão mais atualizada e inovadora que constitui em apenas um
programa, chamado GoldVarb X, o qual desenvolve praticamente o mesmo trabalho
de sua versão inicial, com exceção de análises ternárias e eneárias de até cinco
variantes na variável dependente.
Obviamente, o programa (ou pacote de programas) precisa que o
pesquisador em sociolinguística estabeleça códigos para cada fator das variáveis
dependente e independentes. Assim, ele processará os códigos informados, o que
permitirá cruzar todas as variáveis e estabelecerá a definição dos grupos de fatores
que influenciam ou não influenciam nas seleções das variantes linguísticas.
Para esta dissertação, foram atribuídos códigos distintos para cada fator de
cada grupo, conforme lista abaixo:
94
•
Variável dependente: A gente (g), Eles (l), Eu (e), Formas Nominais (@), Nós
(n), Você (v), Ø+V+SE ($), Ø+V3PP (#), Ø+V3PS (&), Ø+VINF (i), VPSA (s) e
VPASSINT (a);
•
Variáveis independentes:
o Variável gênero/sexo: Masculino (M) e Feminino (F);
o Variável faixa etária: Faixa etária 1 (1), Faixa etária 2 (2), Faixa etária 3
(3) e Faixa etária (4);
o Variável escolaridade: Ensino Fundamental (f), Ensino Médio (m) e
Ensino Superior (s);
o Variável tempo e modo verbal: Presente do Indicativo (h), Pretérito
Perfeito (d), Pretérito Imperfeito do Indicativo (i), Futuro do Presente (f),
Futuro do Pretérito (c), Presente do Subjuntivo (j), Pretérito Imperfeito do
Subjuntivo (e), Futuro do Subjuntivo (u), Infinitivo (n), Particípio (p),
Gerúndio (g) e Imperativo (m);
o Variável forma antecedente: Forma precedida de a gente explícito (g),
Forma precedida de a gente implícito (G), Forma precedida de eles
explícito (l), Forma precedida de eles implícito (L), Forma precedida de eu
explícito (e), Forma precedida de eu implícito (E), Forma precedida de FN
explícito (@), Forma precedida de FN implícito (A), Forma precedida de
nós explícito (n), Forma precedida de nós implícito (N), Forma precedida
de você explícito (v), Forma precedida de você implícito (V), Forma
precedida de Ø+V+SE ($), Forma precedida de Ø+V3PP (#), Forma
precedida de Ø+V3PS (&), Forma precedida de Ø+VINF (i), Forma
precedida de VPSA (s) e Forma precedida de VPASSINT (a);
o Variável mudança/manutenção do referente: Referente igual à estrutura
imediatamente anterior na série discursiva (I) e Referente diferente da
estrutura imediatamente anterior na série discursiva (D);
o Variável preenchimento do sujeito: Sujeito pronominal explícito (e),
Sujeito pronominal implícito (i) e as demais formas não pronominais
receberam o código não se aplica (/);
o Variável tipo de verbo: Ligação (L), Transitivo (T) e Intransitivo (I);
o Variável grau de indeterminação: Parcial (p) e Completa (c); e
o Variável tipo de oração: absoluta (A), coordenada (C), subordinada (S) e
principal (P).
95
Após o estabelecimento dos códigos, o pesquisador passa a analisar cada
dado encontrado no corpus estudado. Os programas do pacote Varbrul ou o próprio
GoldVarb X farão o processamento estatístico a partir da leitura dos códigos
atribuídos.
No trecho a seguir, por exemplo, extraído do inquérito 18 do PEPP, será
analisado o emprego da forma indeterminadora do sujeito “a gente”. Inicialmente,
coloca-se a abertura do parêntese “(“ para informar ao programa que se trata de
uma cadeia de códigos que ele deverá ler; é como se fosse um diálogo entre o
pesquisador e o programa, a fim de garantir o processamento estatístico. Em
seguida, colocam-se os códigos referentes aos grupos de fatores selecionados.
Exemplo:
(gM1fhgIeTcC
Sempre tem, na Fonte Nova também sempre teve, e agora está
tendo sobre o boxe, a gente troca a nota e A GENTE vai assistir.
A ordem de colocação dos códigos deve ser obedecida rigorosamente para
cada dado que for analisado, para não misturar as informações e prejudicar toda a
análise. No exemplo, logo após o “(“, encontra-se o “g” informando ao programa que
a variante que está sendo observada é o “a gente” destacado no trecho. Os três
códigos seguintes dizem respeito às variáveis sociais: M (masculino), 1 (faixa etária)
e f (Ensino Fundamental). Depois, continua-se com os demais códigos relativos às
outras variáveis estabelecidas neste trabalho, conforme mencionado anteriormente.
Depois de obtido toda codificação dos dados, processam-se as informações
diretamente nos programas. O resultado será apresentado primeiramente através de
número e porcentagens de ocorrências e, depois, nas chamadas rodadas binárias
(ternárias ou eneárias, de acordo com a versão do programa utilizada e a
quantidade de variantes linguísticas), serão fornecidos os pesos relativos, tomando
como base o intercruzamento de todas as variáveis informadas.
De posse de todos os resultados, o sociolinguística passará a interpretar os
dados estatístico-probabilísticos, a fim de justificar os usos linguísticos que foram
escolhidos como objeto de estudo.
96
5
ANALISARAM-SE OS DADOS
Nesta seção, serão apresentados os dados numéricos obtidos a partir da
quantificação das ocorrências das estratégias utilizadas pelos falantes de Salvador
para marcar a indeterminação do sujeito das orações. Os números que serão
apresentados passaram por diversos processamentos estatístico-probabilísticos a
fim de encontrar os melhores resultados que pudessem dar conta da explicação
possível para a variação linguística do fenômeno citado.
As análises estatísticas serão chamadas de rodadas, uma vez que os
programas utilizados fazem leituras das informações de cima para baixo e de baixo
para cima, cruzando ou não todos os grupos de fatores extralinguísticos e
linguísticos selecionados para o desenvolvimento desta pesquisa.
Inicialmente, buscou-se a frequência das ocorrências encontradas nas 44
entrevistas do tipo DID – Diálogo entre Informante e Documentador, as quais
perfizeram um total de 2595 dados, distribuídos entre as 11 variantes selecionadas.
A tabela 1, a seguir, mostra o número de casos trabalhados, como também sua
porcentagem em relação ao total.
VARIANTES
Você
A gente
Formas Nominais
Ø+V3PS
Ø+VINF
Nós
Ø+V+SE
Ø+V3PP
Eles
Eu
PASSINT
TOTAL
Nº
%
873
668
338
185
171
115
78
79
68
18
2
2595
33,6
25,7
13,0
7,1
6,6
4,4
3,0
3,0
2,6
0,7
0,1
Tabela 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora.
A fim de ilustrar melhor as informações contidas na tabela apresentada, será
apresentado a seguir um gráfico, no qual se percebe com maior nitidez a frequência
das estratégias “você”, seguida de “a gente” e das “formas nominais”, que se
97
apresentaram como as mais utilizadas pelos falantes de Salvador, perfazendo juntas
uma porcentagem que ultrapassa os 72%.
0,1%
0,7%
2,6%
3,0%
3,0%
4,4%
6,6%
7,1%
13,0%
25,7%
33,6%
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
Você
A gente
Formas Nominais
Ø+V3PS
Ø+VINF
Nós
Ø+V+SE
Ø+V3PP
Eles
Eu
PASSINT
40,0%
Gráfico 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora.
Conforme esperado, os falantes de Salvador utilizam outras estratégias para
marcar o sujeito indeterminado que não as apresentadas tradicionalmente nas
gramáticas mencionadas, como o verbo na terceira pessoa do singular mais a
partícula “se”, o verbo na terceira pessoa do plural ou ainda o verbo no infinitivo.
Essa foi a mesma conclusão a que chegaram as pesquisas realizadas por Milanez
(1982), Cunha (1993), Menon (1994), Setti (1997), Cavalcante (1999), Godoy (1999),
Santana (2006), Faggion (2008) e Ponte (2008) em outras regiões da Bahia e do
Brasil.
5.1 ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS X NÃO-PRONOMINAIS
A fim de perceber melhor como essas estratégias funcionam, tomando como
ponto de partida a grande ocorrência de estratégias pronominais como “você” e “a
98
gente”, os dados foram submetidos a uma rodada binária na qual constam como
variável dependente todas as estratégias pronominais (você, a gente, eu, eles e nós)
e todas as estratégias não-pronominais (Ø+V3PS, Ø+VINF, Ø+V+SE, Ø+V3PP e
PASSINT), incluindo as formas nominais - FN.
Na tabela 4, visualiza-se a frequência das estratégias pronominais com maior
número de ocorrências em relação às não-pronominais. Verifica-se, portanto, que os
falantes de Salvador preferem as estratégias pronominais para marcar o sujeito
indeterminado. Ressalta-se que as estratégias tidas como padrão pelas gramáticas
normativas apresentadas anteriormente fazem parte do grupo das não-pronominais,
cuja frequência foi bem menor em relação às pronominais.
Nº
Estratégias
Pronominais
1743
Estratégias
Não-Pronominais
852
%
67,2
32,8
Total
2595
100
Tabela 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e não-pronominais.
Esses resultados numéricos foram organizados em forma de gráfico (ver
gráfico 2) para melhor visualização da proporção das estratégias pronominais em
relação às demais estratégias.
32,8%
67,2%
Estratégias Pronominais
Estratégias Não-Pronominais
Gráfico 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e não-pronominais.
99
Inicialmente, houve necessidade de excluir o futuro do pretérito da variável
tempo e modo verbal por causar nocaute12 nos resultados obtidos através do
GoldVarb. Outra alteração feita nesse grupo de fatores foi a retirada dos tempos
presente e futuro do subjuntivo, particípio e imperativo, uma vez que seus poucos
dados poderiam escamotear os resultados. Essas exclusões foram mantidas para as
demais rodadas ao longo do trabalho.
Além disso, o grupo de fatores ou variável preenchimento do sujeito também
foi totalmente eliminado, uma vez que se trata do sujeito pronominal explícito e
implícito, dado não presente para as estratégias não-pronominais.
Realizadas as primeiras modificações no arquivo de condições, procedeu-se
com a rodada para obtenção dos dados numéricos. O programa selecionou cinco
grupos de fatores como favorecedores das estratégias pronominais, as quais foram
tidas como fator de aplicação. Na ordem selecionada, seguem forma antecedente,
tempo e modo verbal, grau de indeterminação, escolaridade e mudança/manutenção
do referente.
Assim, o gênero/sexo, faixa etária, tipo de verbo e tipo de oração não foram
selecionados. Contudo, percebeu-se que, em relação a esse último grupo de fatores,
poderia realizar amalgamações, juntando as orações principais com as coordenadas
em contraste com as subordinadas e as absolutas. Além disso, uma vez que os
pesos relativos dos graus de indeterminação parcial explícito e implícito estavam tão
próximos, experimentou-se uni-los em um único fator, em oposição ao grau de
indeterminação completo. Feito isso, realizou-se uma nova rodada e as seleções
permaneceram as mesmas.
A seguir, serão apresentados os grupos de fatores que foram selecionados na
rodada com todas as estratégias pronominais versus todas não-pronominais,
obedecendo a mesma ordem apresentada pelo GoldVarb na última rodada válida.
12
Segundo Guy e Zilles (2007, p. 158), “nocaute, na terminologia de análise do Varbrul, é um fator
que num dado momento da análise, corresponde a uma frequência de 0% ou 100% para um dos
valores da variável dependente”.
100
5.1.1 Forma antecedente
No primeiro grupo de fatores selecionado pelo GoldVarb, a forma antecedente
revelou, como já citado por Scherre e Nato (2004, p. 152), que “marcas tendem a
levar a marcas”, ou seja, o uso de uma determinada estratégia tende a ser utilizada
nas orações que a seguem.
Forma antecedente
Apl./T
Significância = 0.008
Estratégias pronominais
192/214
implícitas
Estratégias pronominais
836/940
explícitas
Estratégias não132/463
pronominais
TOTAL 1160/1617
%
P.R.
89,7
0.744
88,9
0.693
28,5
0.105
Tabela 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável forma antecedente.
Segundo Santana (2006, p. 100), esse grupo de fatores, tendo em vista
outros
trabalhos
lidos
pela
autora,
vem
conjugado
com
a
variável
mudança/manutenção do referente, acreditando que “com a mudança de referente
há uma mudança da forma utilizada pelo falante”.
Assim, fazendo uso do recurso Cross Tabulation13, as duas variáveis foram
cruzadas, permitindo observar os dados de cada forma antecedente e se há
condicionamento na realização da forma subsequente.
Manutenção/mudança
do referente
Forma
antecedente
Significância = 0.000
Estratégias
pronominais implícitas
Estratégias
pronominais explícitas
Estratégias
não-pronominais
Igual
Diferente
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
185/202
91,6
0.780
7/12
58,3
0.240
811/889
91,2
0.719
24/47
51,1
0.217
106/417
25,4
0.084
21/34
61,8
0.344
Tabela 4: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em
relação à aplicação das estratégias pronominais.
13
O termo “cross tabulation” empregado na nova versão do GoldVarb, intitulada de “X”, é um recurso
que faz o cruzamento das tabulações existentes na rodada, na qual o pesquisador seleciona os
grupos de fatores que serão cruzados.
101
Observando os pesos relativos alcançados (ver tabela 4), pode-se inferir que
há de fato uma relação entre a forma antecedente e a manutenção/mudança do
referente, ou seja, há uma tendência, de maneira geral, a preservar a estratégia
utilizada sempre que se mantém o mesmo referente. Quando há uma mudança dele,
as estratégias subsequentes mudam, principalmente as pronominais implícitas ou
explícitas.
5.1.2 Tempo e modo verbal
O grupo de fatores tempo e modo verbal foi o segundo selecionado pelo
programa. De acordo com Menon (1994), Setti (1997), Godoy (1999) e Santana
(2006), esperava-se que o tempo presente do modo indicativo fosse o mais
empregado dentre os demais tradicionalmente apresentados pelas gramáticas de
maneira geral, principalmente por ser, segundo Menon (2006, p. 138), “o tempo
empregado nas construções hipotéticas”, quando não há necessidade de se marcar
um sujeito, fazendo uso de recursos de indeterminação para marcar que qualquer
um poderia estar envolvido na situação relatada.
Ao analisar a tabela 5, verifica-se que o tempo/modo verbal mais empregado
foi futuro do presente do indicativo, diferenciando-se dos resultados encontrados
pelas pesquisadoras citadas. Daí, a necessidade de observar isoladamente cada
estratégia pronominal para tentar verificar se esse resultado se mantém ou haverá
consonância com o que foi encontrado em outros trabalhos. Isso será realizado mais
adiante.
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.008
Futuro do Presente do Ind.
Presente do Ind.
Pretérito Imperfeito do Ind.
Pretérito Imperfeito do Subj.
Gerúndio
Infinitivo
Pretérito Perfeito do Ind.
Apl./T
%
P.R.
69/78
805/1104
462/653
28/40
63/97
208/405
52/136
88,5
72,9
70,8
70,0
64,9
51,4
38,2
0.795
0.571
0.530
0.484
0.440
0.322
0.220
TOTAL 1687/2513
Tabela 5: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável tempo e modo verbal.
102
5.1.3 Grau de indeterminação
O terceiro grupo de fatores selecionado foi o grau de indeterminação, no qual
se acreditava que as estratégias seriam mais utilizadas quando não houvesse
marcas explícitas ou implícitas no contexto que fizessem com que o sujeito fosse
identificado por meio de inferências. Nesse caso, seria a indeterminação completa,
quando qualquer um poderia ser o sujeito extralinguístico da oração, não podendo,
dessa forma, identificar-se o autor da ação verbal.
A tabela 6 apresenta os dados numéricos obtidos, nos quais se percebe que
as estratégias pronominais foram mais utilizadas quando havia referência explícita
ou implícita no contexto, sendo sua indeterminação considerada parcial, pois um dos
referentes poderia ser determinado por meio de inferência.
Grau de indeterminação
Apl./T
%
P.R.
Indeterminação Parcial
1122/1584
70,8
0.558
Indeterminação Completa
621/1011
61,4
0.409
Significância = 0.008
TOTAL 1743/2595
Tabela 6: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável grau de indeterminação.
No exemplo 80, depreende-se da forma pronominal “a gente”, de acordo com
o contexto geral, ao menos o falante, o emissor da mensagem, por isso ela é
classificada como indeterminação parcial.
(80)
É, tiraram, aí fizeram um ginásio, aí a única escola que tem é a
Adventista, mas pra gente fazer alguma atividade lá a gente tem que
pagar. [PEPP18-M1f]
De forma contrária, no exemplo 81, o pronome “você” não faz referência a
alguém específico, como o interlocutor, mas a qualquer pessoa que vivencia ou
pode vivenciar a situação comentada, caracterizando-se como indeterminação
completa.
103
(81)
Aquela ladeira que hoje nem de dia você, você se arrisca a descer,
nesse ponto existia pobreza não miséria, a verdade é essa. Tinha
muita... você ainda alcançou naquele tempo, eu alcancei de cara, de
um, de um esmolé vim todo sábado naquele ponto certo pra pedir.
Minha mãe dava farinha, dava um pedaço de pão, dinheiro nunca se
deu e ele saiu satisfeito. Hoje se for dar farinha a um cara desse ele
joga na sua cara, entendeu bem? Mas foi tudo bom pra mim, eu acho,
na minha opinião, eu fui o pior deles, eu fui o levado... [PEPP06-M4f]
Os resultados estão em consonância com o esperado, uma vez que as
formas pronominais podem ser facilmente relacionadas com uma das partes da
interação verbal, como o próprio emissor ou interlocutor.
5.1.4 Escolaridade
O quarto grupo de fator selecionado foi a escolaridade. Esperava-se que os
falantes com maior nível de escolaridade fariam uso das estratégias consideradas
padrão, as quais estão incluídas no grupo das não-pronominais. Contudo, o
resultado encontrado, vislumbrado na tabela 7, mostra que justamente esse nível de
escolaridade apresentou maior peso relativo em relação às estratégias pronominais.
Escolaridade
Significância = 0.008
Apl./T
Ensino Fundamental
435/676
Ensino Médio
580/957
Ensino Superior
728/962
TOTAL 1743/2595
%
P.R.
64,3
60,6
75,7
0.460
0.441
0.586
Tabela 7: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável escolaridade.
Esses dados foram organizados em forma de gráfico para melhor visualização
desse único fator extralinguístico selecionado nesta rodada.
104
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável escolaridade.
Para tentar compreender quem é o falante do Ensino Superior que faz mais
uso das estratégias pronominais, cruzou-se a variável Escolaridade com as demais
variáveis sociais, ou seja, gênero/sexo e faixa etária. Os resultados desse
cruzamento estão contemplados na tabela a seguir.
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Masculino
Feminino
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
1
77/112
68,8
0.506
117/182
64,3
0.456
xxx
2
61/84
72,6
0.552
118/164
72,0
0.544
3
37/63
58,7
0.398
84/143
58,7
4
47/77
61,0
0.421
71/122
1
68/105
64,8
0.461
2
45/65
69,2
3
35/71
4
65/99
%
P.R.
xxx
xxx
69/104
66,3
0.478
0.398
95/128
74,2
0.572
58,2
0.393
41/90
45,6
0.280
48/74
64,9
0.462
xxx
xxx
xxx
0.511
45/88
51,1
0.327
185/227
81,5
0.672
49,3
0.311
57/102
55,9
0.371
256/302
84,8
0.721
65,7
0.471
40/82
48,8
0.307
82/111
73,9
0.568
14
Tabela 8: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo
em relação à aplicação das estratégias pronominais.
Nota-se que não é qualquer falante do Ensino Superior que mais faz uso das
estratégias pronominais. São os falantes do gênero/sexo feminino, das faixas etárias
3 e 2 respectivamente. Pode-se incluir também a faixa etária 4 logo em seguida, pois
14
O símbolo “xxx” está sendo aplicado para informar que não há informantes da faixa etária 1 com
Ensino Superior, conforme mencionado na metodologia desta dissertação.
105
ela está um pouco abaixo do falante masculino, faixa etária 3 do mesmo nível de
escolaridade, o Ensino Superior.
5.1.5 Mudança/manutenção do referente
Esse grupo de fatores foi o quinto selecionado e já foi apresentado na
subseção 5.1.1 juntamente com a variável forma antecedente. Aqui, será
apresentado isoladamente através da tabela 9.
Mudança/Manutenção
do Referente
Nº Apl./T
%
P.R.
Igual
Diferente
1105/1512
53/96
73,1
55,2
0.512
0.326
Significância = 0.029
TOTAL 1158/1608
Tabela 9: Aplicação das estratégias pronominais em relação à
variável mudança/manutenção do referente.
Os falantes, conforme visto nessa tabela, tendem a manter as estratégias
pronominais à medida que há manutenção do referente. Quando o referente muda,
consequentemente ele muda a estratégia utilizada.
5.2 ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS
A
subseção
anteriormente
apresentada
revelou
que
as
estratégias
pronominais foram as mais utilizadas em detrimento das não-pronominais. Assim,
tornou-se necessário apresentar os dados de cada variante que compõem esses
recursos.
Para obtenção dos dados numéricos, foi utilizada a versão anterior ao
GoldVarb chamada de Varbrul 2S, por ser um pacote de programas, cuja função de
um deles, o MVarb, é fazer uma análise eneária de até cinco variantes na variável
dependente. Isso possibilitou o encontro dos seus respectivos pesos relativos.
106
O arquivo de condições sofreu algumas alterações após análise inicial, pois
alguns nocautes foram encontrados, o que impediria a rodada eneária e a não
obtenção dos respectivos pesos relativos.
Assim, a variante “eu” foi excluída devido aos poucos dados encontrados nos
corpora analisados, como também alguns tempos verbais, conforme foi realizado
nas rodadas anteriores, incluindo para esta análise a exclusão do pretérito imperfeito
do subjuntivo. As amalgamações realizadas com grupo de fatores forma
antecedente foi mantida, mesmo assim, foi necessário excluir os fatores “nós” e “eu”.
Realizadas as devidas modificações no arquivo de condições, a análise
eneária foi processada, cujos inputs15 foram dados e apresentados na tabela a
seguir.
Input
A gente
.467
Você
.353
Nós
.105
Eles
.075
Tabela 10: Input de cada variante pronominal em análise eneária com o MVarb.
Os valores numéricos apresentados nessa tabela revelam qual é a estratégia
pronominal mais utilizada pelos falantes de Salvador, diferindo da porcentagem
inicialmente apresentada. Primeiramente, a forma “a gente” com .467, seguida da
forma “você” com .353. Esse resultado foi semelhante ao apontado por Milanez
(1982) e Santana (2006).
A seguir, serão apresentados os dados dos grupos de fatores que fizeram
parte dessa rodada eneária. Como o MVarb não faz seleção dos grupos de fatores
favorecedores e não-favorecedores, as variáveis serão apresentadas na ordem em
que aparecem no programa, que tem a ver com a cadeia de codificação inserida no
momento da coleta de dados.
5.2.1 Gênero/sexo
Ao analisar os dados obtidos em relação à variável gênero/sexo, a estratégia
mais utilizada foi “você”, seguida de “a gente”, com 51% e 39% respectivamente. Ao
15
O termo “input” é utilizado na estatística e foi empregado pelo pacote de programas Varbrul e seus
sucessores para representar “o nível geral de uso de determinado valor da variável dependente”
(GUY; ZILLES, 2007, p. 238).
107
analisar estratégia por estratégia em relação aos gênero/sexo dos falantes, obtêm
diferenças significativas.
Nº
Masculino %
P.R.
Nº
Feminino
%
P.R.
Nº
Total
%
A gente
307
38
.185
361
39
.300
668
39
Você
379
47
.217
493
54
.256
872
51
Nós
88
11
.418
27
3
.133
115
7
Eles
28
3
.180
40
4
.310
68
4
TOTAL
802
921
1723
Tabela 11: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável gênero/sexo.
A forma “nós” é a única estratégia mais utilizada pelos falantes do
gênero/sexo masculino, com peso relativo .418. Enquanto que as demais
estratégias, “a gente”, “você” e “eles” são da preferência dos falantes do
gênero/sexo feminino, com peso relativo .300, .256 e 310 nessa ordem, embora haja
uma aproximação em relação à forma “você”.
O gráfico a seguir mostrará de maneira mais ilustrativa o resultado do peso
relativo para cada estratégia de indeterminação do sujeito em relação à variável
gênero/sexo.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
A gente
Você
Masculino
Nós
Eles
Feminino
Gráfico 4: As estratégias pronominais em relação à variável gênero/sexo.
108
5.2.2 Faixa etária
A faixa etária 1, a mais nova, faz mais uso das estratégias “você” e “eles, com
o mesmo peso relativo de .306. As outras faixas etárias, a 2, 3 e 4 optam em usar
mais a forma “nós”, cujos pesos relativos são .351, .275 e .300.
Faixa
Etária 1
Faixa
Etária 2
Faixa
Etária 3
Faixa
Etária 4
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
133
43
.270
234
45
.274
172
31
.242
129
38
.192
142
46
.306
234
45
.201.
327
59
.266
169
50
.210
9
3
.119
41
8
.351
40
7
.275
25
7
.300
25
8
.306
11
2
.174
16
3
.217
16
5
.298
309
Nº
%
668
39
872
51
115
7
68
4
1723
Total
520
555
339
Tabela 12: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável faixa etária.
Observando os dados de maneira geral, aparentemente, há uma uniformidade
nos usos das estratégias de indeterminação em relação às faixas etárias. As
especificidades
aparecerão
mais
adiante,
quando
elas
serão
analisadas
isoladamente.
5.2.3 Escolaridade
Os três níveis de ensino analisados, Fundamental, Médio e Superior, de
acordo com seus pesos relativos, que tomam como base o input inicialmente
apresentado para cada variante, preferem as formas “eles”, “você” e “nós”, cujos
pesos relativos são, respectivamente, .331, .390 e .438.
109
Ensino
Fundamental
Ensino
Médio
Ensino
Superior
Total
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
264
61
.252
226
39
.280
178
25
.160
87
20
.111
321
56
.390
464
65
.262
39
9
.306
13
2
.084
63
9
.438
40
9
.331
16
3
.245
12
2
.140
430
Nº
%
668
39
872
51
115
7
68
4
576
717
1723
Tabela 13: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável escolaridade.
Em relação às formas “a gente” e “eles”, há um decréscimo do Ensino
Fundamental para o Ensino Superior, ou seja, quanto mais escolarizado é o falante,
menos faz uso dessas estratégias. O contrário ocorre com os itens “você” e “nós”,
mais utilizados por falantes com nível superior completo.
Uma vez apresentados os pesos relativos para cada variante em relação aos
níveis de escolaridade, cabe apresentar um gráfico das estratégias pronominais
analisadas tendo como ponto de referência seus pesos relativos.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
A gente
Você
Ensino Fundamental
Nós
Ensino Médio
Eles
Ensino Superior
Gráfico 5: As estratégias pronominais em relação à variável escolaridade.
110
5.2.4 Tempo e modo verbal
O tempo presente do modo indicativo mostrou-se como o mais empregado
em relação à quantidade de dados obtidos, contudo os pesos relativos referentes a
cada estratégia pronominal mostrou outra realidade. Os tempos verbais pretérito
perfeito e futuro do presente, ambos do indicativo, e a forma nominal gerúndio
obtiveram poucos dados. Em relação aos demais tempos verbais mantidos na
rodada, a forma “a gente” apresenta o pretérito imperfeito do indicativo como mais
favorecedor para o seu emprego. O presente do indicativo favorece mais o emprego
de “eles”. O infinitivo impessoal mostrou-se mais proeminente para o emprego de
“você”. Em relação à estratégia “nós”, o maior peso relativo ficou para o futuro do
presente do indicativo, porém há poucos dados, o que pode mascarar os resultados.
Dentre os tempos com maior quantidade de dados, ainda em relação à forma “nós”,
é o presente do indicativo que mais favorece o seu emprego (cf. tabela 14).
Pretérito
Imperfeito do
Ind.
Presente do
Ind.
Gerúndio
Pretérito
Perfeito
Infinitivo
Futuro do
Presente
Total
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
290
63
.416
250
32
.187
26
41
.365
14
27
.079
57
28
.246
10
15
.054
135
29
.161
452
57
.205
34
54
.309
12
24
.036
146
71
.710
38
58
.114
24
5
.203
51
6
.247
1
2
.109
16
31
.290
2
1
.031
15
23
.613
13
3
.220
40
5
.361
2
3
.217
9
18
.595
1
0
.013
2
3
.220
462
Nº
%
647
39
817
50
109
7
67
4
1640
793
63
51
206
65
Tabela 14: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal.
111
5.2.5 Forma antecedente
A forma antecedente também foi um dos grupos de fatores que participaram
da análise eneária. As estratégias “a gente”, “você” e “eles” tiveram suas formas
representadas como antecedentes, revelando maior peso relativo para sua
manutenção.
Devido aos poucos dados, o item “nós” precisou ser excluído desse grupo de
fatores, uma vez que nocautes foram registrados. Para ele, os principais
favorecedores são as estratégias sem sujeito lexicalmente preenchido e as formas
nominais, conforme dados na tabela logo a seguir.
A gente
Eles
Formas sem
sujeito lexical
Formas
Nominais
Você
Total
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
325
88
.822
7
16
.026
17
28
.174
19
27
.168
34
6
.079
31
8
.068
6
14
.015
34
57
.328
39
55
.171
501
92
.835
8
2
.058
2
5
.143
6
10
.413
8
11
.364
3
1
.040
5
1
.052
28
65
.816
3
5
.085
5
7
.297
4
1
.046
369
Nº
402
611
27
45
%
37
56
2
4
43
60
71
542
1085
Tabela 15: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável forma antecedente.
5.2.6 Mudança/Manutenção do referente
Normalmente, a variável mudança/manutenção do referente aparece
agregada à forma antecedente. Essa associação será verificada em outras
112
subseções, quando das rodadas isoladas para cada variante pronominal e nãopronominal.
Analisando a tabela 16, percebe-se que quando há manutenção do referente,
as estratégias que são mais favorecidas são “você” e “nós”, com .272 e .287 de peso
relativo, nessa mesma ordem. Contudo, quando há mudança do referente, as formas
“a gente” e “eles” tendem a ser mais empregadas, com pesos relativos de .289 e
.270 respectivamente.
Igual
Diferente
Total
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
390
36
.213
20
39
.289
602
55
.272
19
37
.226
66
6
.287
3
6
.215
36
3
.228
9
18
.270
51
Nº
410
621
69
45
%
36
54
6
4
1094
1145
Tabela 16: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à
variável mudança/manutenção do referente.
5.2.7 Preenchimento do sujeito
A língua portuguesa permite o preenchimento e o não preenchimento dos
pronomes na posição de sujeito. Quando está preenchido, ou seja, está explícito, as
estratégias que são favorecidas, segundo os dados apresentados na tabela 17 (ver
na página seguinte), são as formas “a gente” e “você”. Contudo, quando o sujeito
está implícito, podendo ser depreendido por meio de inferências no contexto ou
análise morfológica das desinências verbais, as estratégias que são favorecidas são
“nós” e “eles.
113
Explícito
Implícito
Total
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
508
36
.300
157
49
.157
763
55
.420
108
33
.112
73
5
.100
41
13
.471
50
4
.180
17
5
.261
1394
Nº
%
665
39
871
51
114
7
67
4
1717
323
Tabela 17: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à
variável preenchimento do sujeito.
5.2.8 Tipo de verbo
O tipo de verbo também se mostrou bastante significativo em relação aos
usos das estratégias pronominais. A maioria dos verbos ocorridos nos dados
levantados foi de transitivos, e a estratégia que mais foi empregada, diante desses
verbos, foi “você”, com peso relativo .280. O segundo maior foi o grupo dos verbos
intransitivos, cuja estratégia que mais foi utilizada diante deles também foi “você”
com peso relativo .335. A variante “eles” mostrou-se favorecida diante dos verbos de
ligação, com peso relativo .329.
Nº
Transitivo
%
P.R.
Nº
Intransitivo %
P.R.
Nº
Ligação
%
P.R.
Total
Nº
%
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
574
39
.248
50
35
.249
44
44
.238
762
51
.280
68
48
.335
42
42
.157
90
6
.248
17
12
.216
8
8
.275
57
4
.224
6
4
.200
5
5
.329
1483
668
39
872
51
115
7
68
4
1723
141
99
Tabela 18: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal.
114
5.2.9 Grau de Indeterminação
Quando há alguma referência explícita ou implícita no contexto que possa,
por meio de inferência, identificar pelo menos um dos referentes, diz-se que o sujeito
é parcialmente indeterminado, ao contrário de quando não é possível identificar
nenhum dos referentes participantes de uma interação comunicativa.
É justamente a indeterminação parcial que apresenta o maior número das
ocorrências, favorecendo o emprego das estratégias “a gente”, “nós” e “eles, com
pesos relativos de .238, .333 e .296. A indeterminação completa mostrou-se como
mais favorecedora para o uso de “você”, com peso relativo de .417.
Esses
resultados,
incluindo
as
frequências
de
cada
variante,
que
acompanham, de certa forma, os respectivos pesos relativos, podem ser conferidos
na tabela 19.
Indeterminação
Parcial
Indeterminação
Completa
Total
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
A gente
544
49
.238
124
20
.231
668
39
Você
410
37
.132
462
75
.417
872
51
Nós
98
9
.333
17
3
.166
115
7
Eles
58
5
.296
10
2
.186
68
4
TOTAL
1110
613
1723
Tabela 19: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável grau de indeterminação.
5.2.10 Tipo de Oração
Por fim, e não menos importante, a variável tipo de oração, cujos pesos
relativos e as porcentagens de suas frequências se equivalem em relação ao maior
número do tipo de oração e as respectivas variantes.
A forma “a gente” foi mais favorecida em orações principais, com peso relativo
.341. Os usos de “você” e “nós” foram mais empregados em orações coordenadas,
com .310 e .260 de peso relativo respectivamente. Já a estratégia “eles” ocorreu
mais nas orações absolutas, com peso relativo de .437. Todos os resultados
numéricos podem ser conferidos na tabela 20 (ver página seguinte).
115
A gente
Você
Nós
Eles
TOTAL
106
44
.278
452
37
.233
102
43
.341
8
42
.151
102
42
.192
651
53
.310
113
47
.269
6
32
.208
20
8
.248
77
6
.260
16
7
.253
2
11
.204
14
6
.282
43
4
.197
8
3
.137
3
16
.437
242
Nº
668
872
115
68
%
39
51
7
4
Nº
Subordinada %
P.R.
Nº
Coordenada
%
P.R.
Nº
Principal
%
P.R.
Nº
Absoluta
%
P.R.
Total
1223
239
19
1723
Tabela 20: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tipo de oração.
5.3 ESTRATÉGIAS NÃO-PRONOMINAIS
Assim como as estratégias pronominais, algumas mudanças na codificação
foram necessárias para as estratégias não-pronominais. Ressalta-se que não
fizeram parte desta rodada as formas nominais, uma vez que elas também não são
pronominais, mas possuem o sujeito preenchido com alguma forma.
As principais alterações realizadas foram em relação ao grupo de fatores
tempo e modo verbal, no qual restaram apenas o presente e o pretérito imperfeito,
devido aos diversos nocautes causados nos outros tempos verbais. As variáveis
preenchimento do sujeito e tipo de verbo foram excluídas. A primeira por que não há
sujeito lexicalmente preenchido com as estratégias não-pronominais que foram
analisadas nesta rodada e a segunda por ocorrer vários nocautes, e a retirada deles
dos fatores causou o chamado Singleton Group16. A variável forma antecedente
também sofreu algumas retiradas por causa dos nocautes, permitindo, assim, a
rodada eneária através do MVarb.
16
O termo “Singleton Group” também é empregado pelo GoldVarb para especificar um grupo de
fatores formado por apenas um “Token”, ou seja, um único fator. Havendo apenas um fator, não
haveria o que variar, pois para haver variação é necessário, pelo menos, dois fatores.
116
Esse programa forneceu o input para cada variante deste grupo, revelando
quais foram as estratégias não-pronominais mais usadas para indeterminar o sujeito
em Salvador. Esses dados foram organizados e apresentados na tabela 21 abaixo.
Input
Ø+VINF
.326
Ø+V3PS
.272
Ø+V3PP
.220
Ø+V+SE
.182
Tabela 21: Input de cada variante não-pronominal em análise eneária com o MVarb.
Inicialmente, através dos inputs das variantes, percebe-se que a estratégia
mais usada é o verbo no infinitivo sem sujeito lexical (Ø+VINF), justamente uma das
estratégias consideradas padrão pela gramática de Cegalla (2008). A segunda
estratégia mais utilizada foi o verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical
(Ø+V#PS), a que é considerada de uso mais popular, segundo Neves (2000, p. 464).
As estratégias verbo na terceira pessoa do plural e terceira pessoa do plural com a
partícula “se”, ambas sem sujeito preenchido, consideradas padrão por todas as
gramáticas normativas analisadas, foram as menos utilizadas.
Delimitadas as variáveis que foram analisadas e que fizeram parte da rodada
eneária para as variantes citadas, serão apresentados agora os dados numéricos
referentes às suas frequências e pesos relativos, seguindo a mesma ordem
apresentada no arquivo de resultados.
5.3.1 Gênero/sexo
A tabela 22 (ver página seguinte) mostra as estratégias que foram mais
utilizadas pelos falantes dos gêneros/sexos masculino e feminino. O resultado da
análise referente a eles praticamente foi equilibrada, não havendo mais dados para
um ou para outro.
117
Ø+VINF
Nº
Masculino %
P.R.
Nº
Feminino
%
P.R.
Total
Nº
%
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
TOTAL
81
33
.265
90
34
.236
82
34
.241
103
38
.259
40
16
.250
39
15
.250
41
17
.244
36
13
.256
244
171
33
185
36
79
15
77
15
512
268
Tabela 22: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável gênero/sexo.
Mesmo havendo um equilíbrio entre as estratégias para os dois gêneros, há
como verificar qual foi a estratégia mais usada. Para o gênero/sexo masculino foi
Ø+VINF, com peso relativo .265, as estratégias Ø+V3PS e Ø+V+SE foram mais
utilizadas pelos falantes do gênero/sexo feminino, principalmente a Ø+V3PS com
peso relativo .259, maior que as outras formas. Em relação à variante Ø+V3PP, não
houve distinção entre os dois gêneros/sexos, uma vez que o peso relativo foi igual
para os dois, apresentando o valor .250.
Os pesos relativos das variantes, para melhor compreensão neste grupo de
fator, que é social, foram organizados e apresentados através de gráfico, o qual será
vislumbrado a seguir. Nele fica mais evidenciado a aproximação de uso das
estratégias não-pronominais entre os dois gêneros/sexos.
1,000
0,800
0,600
P.R.
0,400
0,200
0,000
Ø+VINF
Ø+V3PS
Masculino
Ø+V3PP
Ø+V+SE
Feminino
Gráfico 6: As estratégias não-pronominais em relação à variável gênero/sexo.
118
5.3.2 Faixa etária
Depreende-se, através da leitura da tabela 23, que a faixa etária 1, a mais
jovem, utiliza mais a estratégia Ø+V3PS, enquanto a faixa etária 4, a mais velha, faz
uso da estratégia Ø+V+SE, como era de se esperar. As faixas etárias intermediárias
2 e 3 fizeram mais uso das formas Ø+V3PP e Ø+VINF respectivamente, ambas
consideradas padrão também.
Ø+VINF
Faixa
Etária 1
Faixa
Etária 2
Faixa
Etária 3
Faixa
Etária 4
Total
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
38
35
.279
35
38
.270
53
37
.279
45
27
.151
53
49
.359
27
29
.215
57
39
.273
48
29
.151
15
14
.247
17
18
.282
18
12
.186
29
17
.246
3
3
.115
13
14
.233
17
12
.263
44
27
.451
Nº
171
185
79
77
%
33
36
15
15
TOTAL
109
92
145
166
512
Tabela 23: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável faixa etária.
Pensando exclusivamente na variante Ø+V+SE, estratégia essa considerada
como uma das formas padrão empregadas pelas gramáticas tradicionais para
indeterminar o sujeito, há uma diminuição de seu uso da Faixa Etária 4 para a Faixa
Etária 1, revelando que há uma mudança em andamento, uma vez que quanto mais
jovem é o falante, menos uso faz dela.
119
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 4
Faixa Etária 3
Faixa Etária 2
Faixa Etária 1
Gráfico 7: Aplicação da variante Ø+V+SE em relação à variável faixa etária.
5.3.3 Escolaridade
O nível de escolaridade no qual se encontram os falantes muitas vezes reflete
o papel que a escola desempenha em uma sociedade. Assim, esperava-se que os
níveis de escolaridade mais altos fizessem mais uso das estratégias consideradas
padrão, enquanto o menor nível de escolaridade fizesse o uso da única estratégia
não-pronominal que não é mencionada nas gramáticas tradicionais analisadas.
Ø+VINF
Ensino
Fundamental
Ensino
Médio
Ensino
Superior
Total
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
54
36
.294
87
36
.267
30
25
.151
67
44
.342
94
39
.282
24
20
.123
20
13
.230
41
17
.290
18
15
.178
11
7
.134
19
8
.161
47
39
.549
152
Nº
%
171
33
185
36
79
15
77
15
512
241
119
Tabela 24: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável escolaridade.
Tendo em vista os dados numéricos apresentados na tabela 24, essa
tendência permaneceu, ou seja, o Ensino Fundamental apresentou maior peso
120
relativo na estratégia tida como não padrão, o verbo na terceira pessoa do singular.
E o Ensino Superior maior peso relativo na variante tida como padrão, o verbo na
terceira pessoa do singular com a partícula “se”. O Ensino Médio apresentou maior
peso relativo para a estratégia verbo na terceira pessoa do plural, também padrão.
Esse resultado pode ser melhor visualizado no gráfico a seguir, estruturado a
partir do peso relativo apresentado na tabela anterior. Nele, percebe-se com mais
clareza que o Ensino Fundamental faz mais uso do verbo na terceira pessoa do
singular, havendo um decréscimo à medida que há o aumento da escolaridade. O
Ensino Médio mantém proximidade nas estratégias verbo no infinitivo, verbo na
terceira pessoa do singular e do plural, com decréscimo bastante acentuado em
relação à estratégia verbo na terceira pessoa do singular com o “se”. O Ensino
Superior mostra-se como conservador, fazendo mais uso do verbo na terceira
pessoa do singular com a partícula “se”, mas em relação às demais formas, manteve
praticamente o mesmo uso, inclusive da forma considerada não padrão, o verbo na
terceira pessoa do singular.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ø+VINF
Ø+V3PS
Ensino Fundamental
Ø+V3PP
Ensino Médio
Ø+V+SE
Ensino Superior
Gráfico 8: As estratégias não-pronominais em relação à variável escolaridade.
5.3.4 Tempo e Modo Verbal
Os dois tempos verbais que permaneceram após a retirada dos nocautes
confirmam a tendência apresentada por Menon (1994) da utilização do presente do
121
indicativo. Por não ter uma referência precisa no tempo, uma vez que se pode falar
do passado ou do futuro hipoteticamente fazendo uso desse tempo verbal; o falante
opta pela maior facilidade de seu emprego com estratégias que marcam a
indeterminação do sujeito em Salvador.
As estratégias tidas como padrão Ø+V3PP e Ø+V+SE por todas as
gramáticas normativas analisadas apareceram mais diante de verbos no presente do
indicativo, enquanto que a outra estratégia foi utilizada com verbos no pretérito
imperfeito também do indicativo.
Esses resultados confirmaram a hipótese inicial em relação ao tempo
presente como maior favorecedor para marcar o tipo de sujeito objeto deste estudo,
com maior peso relativo justamente nas estratégias mais tradicionalmente aceitas
pelas gramáticas normativas.
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
Nº
66
22
37
Presente
%
52
17
29
do Ind.
P.R.
.216
.265
.296
Nº
75
19
23
Pretérito
61
15
19
Imperfeito %
do Ind.
P.R.
.285
.232
.208
Total
Nº
%
141
57
41
16
60
24
TOTAL
126
123
249
Tabela 25: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à
variável tempo e modo verbal.
5.3.5 Forma antecedente
As estratégias sem sujeito lexical foram incluídas em um único fator na
variável forma antecedente. Assim, esperava-se que elas favorecessem todas as
estratégias em questão, mas isso só aconteceu com o verbo no infinitivo.
As formas nominais favoreceram o verbo na terceira pessoa do singular
(exemplo 82) e do plural (exemplo 83), com pesos relativos .386 e .392
respectivamente. Já o verbo com a partícula “se” foi preferido quando a forma
antecedente era “a gente” (exemplo 84).
122
(82)
As vezes as, o pessoal briga porque gosta e as vezes é porque
acontece, tem uns mesmo que vão pro pagode ficam bêbado ou
drogado e aí já vai pra, procurar briga com os outros, tem gente que
tem um temperamento muito alto não aguenta aí Ø começa, aí
começando uma briga, aí vem várias. [PEPP18-M1f]
(83)
...e perdi ano e gente que era pior do que eu é formado, eu já tive
gente grande aí colega meu e tudo, eu não vou citar nome de ninguém
aqui mas e, e Ø passavam não, e eu as veze eu me achava maior,
melhor aluno, uma vez eu encontrei um, um médico que ele foi até
médico lá do, do (...inint...), ele disse, “mas rapaz você era melhor
aluno do que e não se formou e eu fui me embora, porque”, são coisas
da vida... [PEPP11-M4m]
(84)
Isso aí é, é mais um, um mito né, “ah, não vá pra ali que o tubarão
pega, o tubarão está em alto mar”, eu acho que o tubarão não dá em
alto mar, ele dá é mais de, de cinquenta metros pra cá, se a gente for
considerar a parte biológica dele, é um ani, é um fóssil vivo que está
sobrevivendo aí há um tempo né, e tem até um, Ø chama-se mal do
cação, é um, é um, ele não poder receber grandes pressões de, de
profundidade que ele dá, dá problema nele, então ele tem que ficar
num, num lugar que tem cinquenta metros pra ele deitar e dormir.
[PEPP14-M4m]
Formas sem
sujeito lexical
Formas
Nominais
A gente
Você
Total
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Nº
%
Ø+VINF Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
75
86
9
18
40
46
5
10
.376
.339
.095
.190
3
15
8
5
10
48
26
16
.099
.386
.392
.122
9
5
4
6
38
21
17
25
.285
.108
.261
.345
5
5
3
8
24
24
14
38
.240
.180
.263
.317
92
111
24
37
35
42
9
14
TOTAL
188
31
24
21
264
Tabela 26: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável forma antecedente.
123
5.3.6 Mudança/Manutenção do referente
A variável mudança/manutenção do referente apresenta maior quantidade de
dados em relação à manutenção do referente, em detrimento da mudança dele.
Contudo, ao fazer a distribuição por cada estratégia não-pronominal analisada, tanto
a frequência quanto os pesos relativos se tornam diferentes para cada uma delas.
As estratégias verbo no infinitivo e verbo na terceira pessoa do singular,
ambas sem preenchimento do sujeito, foram favorecidas sempre que o referente era
mantido. Em relação às estratégias verbo na terceira pessoa do plural e verbo na
terceira pessoa do singular mais a partícula “se”, os dados obtidos foram poucos, o
que pode mascarar os pesos relativos obtidos, os quais informam que quando há
mudança do referente, essas formas tendem a ser empregadas.
Igual
Diferente
Total
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
Ø+VINF
94
37
.309
3
19
.180
Nº
%
97
36
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
107
22
34
42
9
13
.353
.164
.174
4
4
5
25
25
31
.158
.341
.321
111
41
26
10
39
14
TOTAL
257
16
273
Tabela 27: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável
mudança/manutenção do referente.
5.3.7 Grau de Indeterminação
Assim como as estratégias pronominais, as estratégias não-pronominais
foram mais encontradas, tendo em vista o número total de dados, com
indeterminação parcial, sendo mais usadas as estratégias com o verbo na terceira
pessoa do singular com ou sem a partícula “se”.
Quando a indeterminação era completa, ou seja, não havendo referência
explícita ou implicitamente no contexto, as estratégias mais utilizadas pelos falantes
analisados foram o verbo no infinitivo e o verbo na terceira pessoa do plural.
124
Ø+VINF
Indeterminação
Parcial
Indeterminação
Completa
Total
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
TOTAL
Nº
%
P.R.
Nº
%
P.R.
108
33
.232
63
34
.267
134
41
.296
51
28
.209
44
13
.230
34
19
.269
41
13
.242
35
19
.256
327
Nº
%
171
34
185
36
78
15
76
15
510
183
Tabela 28: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável grau de
indeterminação.
5.3.8 Tipo de Oração
O maior número de orações encontradas foi das coordenadas, cuja única
estratégia que apresentou maior peso relativo para este tipo de oração foi Ø+V3PP,
embora sua frequência percentual seja baixa.
A variante Ø+V3PS apresentou maior peso relativo para as orações
principais. As estratégias Ø+V+SE e Ø+VINF foram mais favorecidas nas orações
subordinadas e absolutas respectivamente.
Ø+VINF
Nº
Principal
%
P.R.
Nº
Coordenada
%
P.R.
Nº
Subordinada %
P.R.
Nº
Absoluta
%
P.R.
Total
Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE
26
38
.341
134
35
.257
7
13
.084
4
44
.361
29
42
.367
139
37
.261
15
29
.166
2
22
.167
6
9
.119
62
16
.320
8
15
.244
2
22
.286
8
12
.173
45
12
.162
22
42
.507
1
11
.187
Nº
171
185
78
76
%
34
36
15
15
TOTAL
69
380
52
9
510
Tabela 29: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável tipo de oração.
125
5.4 RODADAS BINÁRIAS POR ESTRATÉGIAS
Foram realizadas rodadas binárias com o programa GoldVarb para cada
variante contra todas as outras para tentar verificar se há fatores que as influenciam
e quais. A ordem para apresentação será inicialmente com as variantes
pronominais, uma vez que foram as mais utilizadas pelos falantes estudados, e
depois as formas não-pronominais. A variante “formas nominais” também passou por
uma rodada binária, porém será apresentada na próxima seção.
A ordem das variáveis selecionadas nas rodadas binárias para cada variante
estudada foi organizada na tabela 26 para que pudesse ser verificado qual foi a
variável que mais favoreceu o uso das estratégias de indeterminação do sujeito
levantadas ao longo da coleta de dados.
A variável forma antecedente, conforme já observado por Santana (2006), foi
selecionado por praticamente todas as variantes, com exceção da forma “Ø+V3PP”.
Como se não bastasse ter sido selecionada em quase todas as rodadas binárias,
essa variável apresentou-se como mais favorecedora também, uma vez que foi a
primeira a ser selecionada na maioria das análises, aparecendo em quinto lugar
apenas para a estratégia Ø+V+SE.
A segunda variável mais selecionada foi extralinguística, o nível de
escolaridade, cuja seleção só não ocorreu também para a estratégia “Ø+V3PP” e
para as formas nominais.
A variável preenchimento do sujeito também foi selecionada por todas as
variantes pronominais, uma vez que elas não fizeram parte das rodadas das
variantes não-pronominais.
A seguir, será apresentado um quadro com todas as variantes e variáveis
linguísticas e extralinguísticas que passaram pelo processamento estatístico do
GoldVarb X e a ordem de seleção informada por esse programa.
126
Variantes
Variáveis
Gênero/sexo
Faixa Etária
Escolaridade
Tempo e Modo
Verbal
Forma
Antecedente
Mudança/
Manutenção do
Referente
Preenchimento
do Sujeito
Tipo de Verbo
Grau de
Indeterminação
Tipo de Oração
A
gente
Você
Nós
Eles
Ø+
VINF
Ø+
V3PS
Ø+
V3PP
Ø+
V+SE
FN
7
x
5
8
6
5
5
2
4
x
x
4
x
x
3
6
4
3
x
5
x
x
1
2
5
x
x
4
4
3
5
***
x
x
x
3
1
1
1
1
1
1
x
5
1
6
x
x
6
x
5
2
3
4
2
2
2
3
***
***
***
***
x
x
7
x
x
x
2
1
4
7
3
3
6
2
x
x
3
x
2
8
x
x
x
2
7
4
x
Quadro 3: Ordem de seleção das variáveis nas rodadas binárias em relação à cada variante.
6
17
5.4.1 Variantes pronominais
As variantes pronominais serão apresentadas seguindo a ordem de maior
input na rodada eneária realizada e apresentada na subseção 5.2.
5.4.1.1
A gente
A forma “a gente” apresentou maior input e foi a segunda estratégia com
maior número de dados, tendo em vista seu percentual em relação a todos os dados
coletados.
Para a realização dessa rodada binária, algumas modificações tiveram que
ser feitas em seu arquivo de condições para evitar nocautes. Inicialmente,
amalgamaram-se as formas antecedentes explícitas com as implícitas; como os
nocautes se mantiveram com as estratégias “eu” e “VPASSINT”, optou-se por excluir
17
O símbolo “x” indica que a variável não foi selecionada e o uso de “***” corresponde dizer que a
variável não participou da rodada.
127
a forma “eu” e amalgamar todas as estratégias verbais sem sujeito lexical em um
único fator, incluindo a “VPASSINT”.
Realizadas as alterações, procedeu-se com a análise binária, cujos resultados
serão apresentados a seguir, mostrando todas as variáveis que foram selecionadas
como favorecedoras ao uso dessa estratégia na rodada step up do GoldVarb,
seguindo a mesma ordem informada pelo programa.
5.4.1.1.1 Forma antecedente
A variável forma antecedente mostrou-se como bastante favorecedora para o
emprego de a gente, cujo peso relativo em relação às demais estratégias foi de
0.935. A tabela 30 apresenta os resultados em ordem decrescente do peso relativo
para que se perceba de maneira mais clara a atuação dessa variável no uso de “a
gente”.
Forma antecedente
Significância = 0.006
Apl./T
A gente
325/423
Formas nominais
19/194
Formas sem sujeito lexical
17/269
Nós
11/68
Eles
7/45
Você
34/605
TOTAL 413/1604
%
P.R.
76,8
9,8
6,3
16,2
15,6
5,6
0.935
0.525
0.396
0.342
0.250
0.175
Tabela 30: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável forma antecedente.
Conforme anteriormente mencionado, a variável forma antecedente parece
estar condicionada pela manutenção ou mudança do referente, conforme
observaram Cunha (1993), Scherre e Naro (2004) e Santana (2006), que formas
levam a formas.
Assim, procedeu-se com o cruzamento dessas duas variáveis através do
recurso Cross Tabulation, cujos dados apontam que a manutenção do referente
favorece o uso da forma “a gente” sempre que ela é empregada em uma série
oracional. Ressalta-se aqui a necessidade de exclusão da forma antecedente “nós”
128
por gerar nocaute no cruzamento, pois havia dados apenas quando o referente se
mantinha (igual).
Manutenção/mudança
do referente
Igual
Forma
antecedente
Diferente
Nº/T
%
P.R.
Nº/T
%
P.R.
324/397
12/170
2/38
30/580
10/247
81,6
7,1
5,3
5,2
4,0
0.960
0.291
0.231
0.228
0.186
1/25
7/20
5/7
4/23
3/14
4,0
35,0
71,4
17,4
21,4
0.184
0.931
0.931
0.532
0.595
Significância = 0.000
A gente
Formas nominais
Eles
Você
Formas sem sujeito lexical
Tabela 31: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em
relação à aplicação da variante “a gente”.
5.4.1.1.2 Preenchimento do sujeito
A variável preenchimento do sujeito foi o segundo grupo de fatores
selecionado pelo programa estatístico, contudo não apresentou grande diferença
entre o sujeito pronominal explícito e o implícito, cujos pesos relativos estão bastante
próximos 0.510 e 0.458 respectivamente. De maneira pouco saliente, percebe-se a
necessidade que o falante tem de manter expresso na sentença, ou melhor, de
preencher a posição do sujeito, evitando, portanto, o sujeito tido como oculto pelas
gramáticas tradicionais. O resultado desta variável pode ser conferido na tabela 32.
Preenchimento do Sujeito
Significância = 0.006
Apl./T
Sujeito pronominal explícito
508/1411
Sujeito pronominal implícito
157/326
TOTAL 665/1737
%
P.R.
36,0
48,2
0.510
0.458
Tabela 32: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável preenchimento do sujeito.
5.4.1.1.3 Grau de indeterminação
O terceiro grupo de fatores selecionado foi o grau de indeterminação, a qual,
através dos dados apresentados na tabela 33, mostrou que os falantes tendem a
129
indeterminar o sujeito parcialmente quando há alguma referência no contexto, seja
ela explícita ou implícita, apontada a partir do seu peso relativo 0.583.
A forma “a gente” não foi muito contemplada quando há indeterminação
completa, ou seja, quando o sujeito não pode ser recuperado por meio de inferência,
pois não há nada no contexto que possa delimitar essa possibilidade, podendo ser
ele qualquer um dos envolvidos no ato comunicativo, como qualquer pessoa de fora
dessa relação.
Grau de indeterminação
Apl./T
%
P.R.
Indeterminação Parcial
544/1584
34,3
0.583
Indeterminação Completa
124/1011
12,3
0.372
Significância = 0.006
TOTAL
668/2595
Tabela 33: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável grau de indeterminação.
5.4.1.1.4 Tempo e modo verbal
Embora se acredite que o presente do indicativo seja o mais favorecedor para
o uso da indeterminação do sujeito, assim não o foi para a forma “a gente”, cujo uso
maior foi com o pretérito imperfeito do indicativo, o que indica que, em situações de
passado hipotético, são beneficiadores do empregado dessa estratégia.
Houve bastante dados para esse tempo verbal (653) em relação ao todo
coletado, sendo 44,4% das ocorrências (290) para a estratégia em questão. Isso se
refletiu também em seu peso relativo com 0.693.
Assim, a variável tempo e modo verbal, embora selecionada em quarto lugar,
se mostrou bastante favorecedora para o uso de “a gente”, permitindo encontrá-la
empregada com quase todos os tempos verbais selecionados.
Os dados gerais sobre essa variável linguística pode ser conferida a seguir,
na tabela 34 (ver página seguinte), ordenada a partir dos pesos relativos obtidos
através do GoldVarb X.
130
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.006
Pretérito Imperfeito do Ind.
Gerúndio
Presente do Ind.
Pretérito Perfeito do Ind.
Infinitivo
Pretérito Imperfeito do Subj.
Futuro do Presente do Ind.
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
290/653
26/97
250/1104
14/136
57/405
6/40
10/78
653/2513
44,4
26,8
22,6
10,3
14,1
15,0
12,8
0.693
0.594
0.463
0.389
0.365
0.285
0.256
Tabela 34: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tempo e modo verbal.
5.4.1.1.5 Escolaridade
Não sendo o item “a gente” uma das estratégias para indeterminar o sujeito
considerada padrão pelas gramáticas normativas, era de se esperar que falantes
com poucos anos de escolaridade fizessem mais uso. E foi justamente isso que
ocorreu ao analisar a tabela abaixo, cujo maior peso relativo diz respeito aos
falantes que possuem apenas o Ensino Fundamental, com peso relativo de 0.616.
Os outros níveis de escolaridade mantiveram um nível muito próximo de uso, o que
demonstrou que, para essa forma de indeterminação do sujeito, há uma grande
distância em relação ao menor nível de escolaridade apontado como favorecedor.
Escolaridade
Significância = 0.006
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
264/676
226/957
178/962
668/2595
39,1
23,6
18,5
0.616
0.498
0.419
Tabela 35: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade.
Para essa variável social, esboçou-se um gráfico (ver gráfico 9 a seguir) com
o peso relativo de uso da variante “a gente”, o que possibilitou perceber de maneira
mais clara a distância existente em o Ensino Fundamental dos demais níveis de
escolaridade.
131
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
A gente
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 9: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade.
A variável escolaridade foi cruzada com as demais variáveis sociais a fim de
compreender o perfil social dos falantes do Ensino Fundamental que mais fazem uso
da forma “a gente” para indeterminar o sujeito em Salvador.
O resultado desse procedimento pode ser verificado na tabela a seguir,
construída com o número de aplicação em relação ao total, porcentagem e,
principalmente, dos pesos relativos, obtidos numa rodada diferenciada para sua
obtenção.
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Masculino
Feminino
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
1
61/112
54,5
0.809
11/182
6,0
0.186
xxx
xxx
xxx
2
14/84
16,7
0.415
93/164
56,7
0.823
29/104
27,9
0.578
3
18/63
28,6
0.586
4/143
2,8
0.093
20/128
15,6
0.396
4
17/77
22,1
0.501
31/122
25,4
0.547
9/90
10,0
0.282
1
49/105
46,7
0.756
12/74
16,2
0.407
xxx
xxx
xxx
2
32/65
49,2
0.774
24/88
27,3
0.570
42/227
18,5
0.446
3
35/71
49,3
0.775
29/102
28,4
0.584
66/302
21,9
0.498
4
38/99
38,4
0.688
22/82
26,8
0.565
12/111
10,8
0.300
Tabela 36: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo
em relação à aplicação da variante “a gente”.
Analisando a tabela 36, percebe-se que são os falantes do gênero/sexo
feminino do Ensino Fundamental que mais favorecem o emprego de “a gente” para
132
indeterminar o sujeito em Salvador. Esse resultado é indiferente em relação à faixa
etária, cujos pesos relativos estão muito próximos. Percebe-se também que o
gênero/sexo masculino do Ensino Fundamental, faixa etária 1, e Ensino Médio, faixa
etária 2, favorece o emprego dessa estratégia. Ao se observar o gênero/sexo no
Ensino Superior, percebe-se que é a faixa etária 2 que mais emprega o “a gente”
indeterminado.
5.4.1.1.6 Mudança/Manutenção do referente
Quando o referente se mantém o mesmo, a tendência apontada na tabela 37
é de que há a manutenção da variante “a gente”. Esse reflexão está baseada nos
resultados numéricos obtidos, cujo peso relativo para a manutenção do referente é
de 0.506. Isso esclarece que o falante sente a necessidade de preservar a forma
utilizada para marcar a indeterminação do sujeito por se tratar do mesmo referente,
quando há a mudança dele, a forma também muda, deixando de usar a mesma
estratégia.
Mudança/Manutenção
do Referente
Apl./T
%
P.R.
390/1512
20/96
25,8
20,8
0.506
0.413
Significância = 0.006
Igual
Diferente
TOTAL
410/1608
Tabela 37: Aplicação da variante “a gente” em relação à
variável mudança/manutenção do referente.
5.4.1.1.7 Gênero/sexo
A rodada binária tendo como fator de aplicação a forma “a gente” também
selecionou a variável social gênero/sexo como favorecedora do seu emprego.
Conforme já observado na tabela 36, o gênero/sexo feminino mostrou-se
como o grupo que mais faz uso da estratégia ora analisada, perfazendo, de acordo
com a tabela 38, o peso relativo de 0.544. Salienta-se mais uma vez que este grupo
está associado, principalmente, à escolaridade Ensino Fundamental.
133
Gênero/sexo
Apl./T
%
P.R.
361/1326
307/1269
668/2595
27,2
24,2
0.544
0.454
Significância = 0.006
Feminino
Masculino
TOTAL
Tabela 38: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo.
Esses resultados também foram organizados em forma de gráfico (ver gráfico
10) para melhor compreensão a partir da análise da variável gênero/sexo.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Masculino
Feminino
Gráfico 10: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo.
5.4.1.1.8 Tipo de Oração
Depreende-se, a partir dos dados apresentados abaixo, que as orações
principal e subordinada são as principais favorecedoras para aplicação da forma “a
gente” em relação aos demais tipos de oração, com peso relativo de 0.586 e 0.584
respectivamente.
Tipo de oração
Significância = 0.006
Principal
Subordinada
Coordenada
Absoluta
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
102/344
106/381
452/1835
8/35
668/2595
29,7
27,8
24,6
22,9
0.586
0.584
0.469
0.357
Tabela 39: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tipo de oração.
134
5.4.1.2
Você
Em termos de frequência, essa foi a estratégia mais empregada pelos
falantes de Salvador para indeterminar o sujeito (33,6%). Os grupos de fatores que
favorecem o seu uso serão apresentados na mesma ordem com que foram
selecionados pelo programa utilizado para obtenção dos dados numéricos.
Ao iniciar a rodada binária tendo essa estratégia como aplicação, houve
necessidade de amalgamar as formas antecedentes explícitas com as implícitas
para evitar os nocautes.
5.4.1.2.1 Forma antecedente
Assim como para a estratégia anterior, a forma antecedente foi a primeira
variável selecionada como mais favorecedora do item “você”. Tanto sua frequência
quanto seu peso relativo apontaram que quando a forma anterior é “você” o falante
tende a conservá-la.
Forma antecedente
Significância = 0.000
Apl./T
Você
502/605
Formas sem sujeito lexical
34/269
Formas nominais
39/194
Eu
3/13
Eles
6/45
Nós
6/68
A gente
31/423
TOTAL 621/1617
%
P.R.
83,0
12,6
20,1
23,1
13,3
8,8
7,3
0.879
0.469
0.400
0.266
0.211
0.122
0.110
Tabela 40: Aplicação da variante “você” em relação à variável forma antecedente.
Buscando verificar se isso tem algo a ver com a manutenção ou mudança do
referente, foi realizado um cruzamento entre as duas variáveis que dão conta desse
aspecto para tentar perceber. Para que isso fosse possível, houve a necessidade de
excluir a forma antecedente “nós” da rodada, pois houve nocautes.
135
O que se pode verificar na tabela 41 é que quando o referente é igual, a forma
antecedente “você” se mantém. Portanto, ao manter o foco em determinado
referente, os usuários do português em Salvador tendem a preservá-lo, mudando
seu uso apenas quando há mudança do referente como forma de marcar
linguisticamente esse aspecto.
Manutenção/mudança
do referente
Igual
Diferente
Nº/T
%
P.R.
Nº/T
%
P.R.
498/580
2/10
33/170
5/38
32/247
26/397
85,9
20,0
19,4
13,2
13,0
6,5
0.918
0.316
0.308
0.219
0.216
0.115
3/23
1/3
6/20
1/7
2/14
5/25
13,0
33,3
30,0
14,3
14,3
20,0
0.217
0.480
0.442
0.236
0.236
0.316
Forma antecedente
Significância = 0.000
Você
Eu
Formas nominais
Eles
Formas sem sujeito lexical
A gente
Tabela 41: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em
relação à aplicação da variante “você”.
5.4.1.2.2 Preenchimento do sujeito
Em segundo lugar, a variável preenchimento do sujeito, assim como para a
forma “a gente”, o uso de “você” ocorre mais quando está explícito, com peso
relativo 0.536. Sua frequência também aponta para a mesma direção, ou seja, há
maior tendência de preenchimento lexical na posição de sujeito.
Preenchimento do Sujeito
Significância = 0.000
Sujeito pronominal explícito
Sujeito pronominal implícito
Apl./T
%
P.R.
765/1411
108/326
54,2
33,1
0.536
0.349
TOTAL 873/1737
Tabela 42: Aplicação da variante “você” em relação à variável preenchimento do sujeito.
136
5.4.1.2.3 Grau de indeterminação
Em relação ao grau de indeterminação do sujeito, a variante “você” é mais
favorecedora quando não há referência no contexto do qual se possa depreender,
de alguma forma, por meio de inferência, o sujeito referencial. Sua indeterminação é
tida, por isso, como completa, podendo se referir a qualquer um dentro ou fora do
contexto interativo de comunicação. Isso se confirma no alto peso relativo atribuído a
esse fator de 0.643, cuja frequência também aponta para o mesmo sentido, com
45,9% de uso, tudo isso com relação à indeterminação parcial.
Grau de indeterminação
Apl./T
%
P.R.
Indeterminação Completa
464/1011
45,9
0.643
Indeterminação Parcial
410/1584
25,9
0.407
Significância = 0.000
TOTAL
874/2595
Tabela 43: Aplicação da variante “você” em relação à variável grau de indeterminação.
Quando se analisaram as estratégias pronominais como fator de aplicação, a
indeterminação parcial mostrou-se mais favorecedora. Contudo, ao se analisar
isoladamente o item “você”, o resultado foi diferente.
5.4.1.2.4 Tempo e modo verbal
Em oposição ao “a gente”, para o item você, em relação ao peso relativo, o
fator selecionado como mais favorecedor foi o infinitivo. O tempo presente do
indicativo, já mencionado como o que mais favorece a indeterminação, foi o mais
empregado em relação a todos os dados encontrados, sendo 41,1% das ocorrências
em relação ao uso de “você”. Os resultados mais detalhados podem ser conferidos
na tabela 44 (ver página seguinte).
137
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.000
Infinitivo
Pretérito Imperfeito do Subj.
Gerúndio
Presente do Ind.
Futuro do Presente do Ind.
Pretérito Imperfeito do Ind.
Pretérito Perfeito do Ind.
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
146/405
21/40
34/97
454/1104
38/78
135/518
12/136
840/2513
36,0
52,5
35,1
41,1
48,7
20,7
8,8
0.708
0.703
0.544
0.533
0.499
0.368
0.187
Tabela 44: Aplicação da variante “você” em relação à variável tempo e modo verbal.
5.4.1.2.5 Escolaridade
O Ensino Superior mostrou-se como principal favorecedor do uso de “você”
para marcar a indeterminação do sujeito, cujo peso relativo ficou em 0.583. Esse
mesmo resultado foi alcançado por Carvalho (2004) ao analisar a mesma estratégia.
A frequência de uso encontrada para esse mesmo nível de escolaridade está em
consonância com o peso relativo encontrado.
Escolaridade
Significância = 0.000
Ensino Superior
Ensino Médio
Ensino Fundamental
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
466/962
321/957
87/676
874/2595
48,4
33,5
12,9
0.583
0.571
0.292
Tabela 45: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade
Assim, de acordo com os resultados obtidos, interpreta-se que não há
estigma na utilização de “você” para marcar a indeterminação, uma vez que são os
falantes mais escolarizados que o estão empregando mais.
Essa reflexão é melhor compreendida através da observação do gráfico 11
que aponta um decréscimo no emprego de “você”, do nível mais escolarizado para o
menos escolarizado, ou seja, do Ensino Superior para o Ensino Fundamental.
138
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 11: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade.
5.4.1.2.6 Faixa etária
Os falantes mais novos foram os mais favorecedores do uso de “você”, de
acordo com o peso relativo 0.552 obtido na análise estatística e vislumbrado na
tabela 47.
Faixa Etária
Significância = 0.000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
142/473
234/732
327/809
171/581
30,0
32,0
40,4
29,4
0.552
0.435
0.523
0.508
874/2595
Tabela 46: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária.
Esse resultado fica mais claro de ser observado através do gráfico 12, no qual
a faixa etária 1 desponta na frente das demais. Há, praticamente, um decréscimo até
a faixa etária 4, com exceção do rebaixamento da faixa etária 2 em relação às
demais.
139
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Gráfico 12: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária.
Cabe ressaltar que na faixa etária 1 não há falantes do Ensino Superior.
Assim, retomando os dados obtidos na tabela 43, os falantes dessa faixa etária que
favorecem o uso do item em análise são do Ensino Médio, do gênero masculino e
feminino respectivamente.
Analisando as outras faixas etárias, ou seja, as 2, 3 e 4, percebe-se que é a
faixa etária 3 que mais emprega o pronome “você” como marca de indeterminação,
principalmente o gênero feminino.
A rodada binária desta variante selecionou as três variáveis sociais
estabelecidas para este trabalho. Diante dos dados obtidos, houve a necessidade de
cruzar isoladamente os dois grupos de fatores escolaridade e faixa etária, a fim de
entender melhor, através de o gráfico a seguir, como atuam as faixas etárias,
especialmente a 1, que não faz parte do Ensino Superior.
140
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Faixa Etária 1
Ensino Médio
Faixa Etária 2
Ensino Superior
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Gráfico 13: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade.
Agora, de forma clara e ilustrativa, verifica-se que o Ensino Superior faz mais
uso da estratégia “você” para marcar a indeterminação do sujeito em Salvador nas
três faixas etárias em que há informantes (faixas etária 2, 3 e 4). Em relação à faixa
etária 1, presente apenas nos Ensino Fundamental e Médio, é nesse último que há
predominância de uso da forma em questão.
No Brasil, é o nível de escolaridade dos falantes que permite delimitar, em se
tratando de estudos linguísticos, se uma forma é ou não estigmatizada socialmente,
uma vez que quanto mais tempo passa o indivíduo frequentando a escola, mais ele
está
fadado
a
fazer
uso
das
formas
linguísticas
consideradas
padrão,
consequentemente, estará delineando a norma culta brasileira.
No caso da estratégia “você”, empregada como uma das marcas
indeterminadoras do sujeito em Salvador, embora não seja tratada como uma das
formas padrão abordadas pelas GT, pode ser considerada norma culta, uma vez que
são os falantes com Ensino Superior completo que dominam o seu emprego.
O Ensino Superior mostrou-se como fator principal para aplicação da forma
“você” em relação à variável escolaridade. Através do cruzamento desse grupo de
fatores com as outras variáveis sociais, foi possível compreender melhor quem é
esse falante que colaborara para o uso da variante em questão. Os resultados
obtidos encontram-se registrados na tabela 47.
Para que essa tarefa fosse cumprida perfeitamente, foi necessário excluir da
rodada a célula que compreendia os fatores gênero feminino, faixa etária 3 e Ensino
141
Fundamental, uma vez que causou nocautes, o que impediria a obtenção dos pesos
relativos através do programa estatístico utilizado. O motivo do nocaute está
identificado na tabela com resultado zerado e sem, é claro, o respectivo peso
relativo.
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Masculino
Feminino
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
1
8/112
7,1
0.149
96/182
52,7
0.718
xxx
xxx
xxx
2
19/84
22,6
0.400
20/164
12,2
0.241
34/104
32,7
0.526
3
18/63
28,6
0.477
72/143
50,3
0.698
32/128
25,0
0.432
4
22/77
28,6
0.477
38/122
31,1
0.508
20/90
22,2
0.395
1
3/105
2,9
0.063
35/74
47,3
0.672
xxx
xxx
xxx
2
8/65
12,3
0.242
21/88
23,9
0.417
132/227
58,1
0.760
3
0/71
0,0
-
23/102
22,5
0.399
182/302
60,3
0.776
4
9/99
9,1
0.186
16/82
19,5
0.356
66/111
59,5
0.770
Tabela 47: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à
aplicação da variante “você”.
Analisando os resultados apresentados na tabela 47, constata-se que é o
gênero feminino, com nível superior completo, independente da faixa etária, que
mais emprega o pronome “você” em seu uso indeterminado.
5.4.1.2.7 Tipo de verbo
Em relação à variável tipo de verbo, sétima selecionada, o maior peso relativo
foi para verbos intransitivos, com 0.539, embora haja mais verbos transitivos nos
corpora estudados. Os resultados obtidos podem ser conferidos na tabela a seguir.
Tipo de verbo
Significância = 0.000
Intransitivo
Transitivo
Ligação
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
68/187
764/2239
42/169
36,4
34,1
24,9
0.539
0.506
0.379
874/2595
Tabela 48: Aplicação da variante “você” em relação à variável tipo de verbo.
142
5.4.1.2.8 Gênero/sexo
A analisar a variável gênero/sexo isoladamente das demais variáveis sociais,
constata-se que, em relação ao uso de “você”, os pesos relativos de 0.509 e 0.491
respectivamente gêneros/sexos masculino e feminino estão muito próximos, não
caracterizando favorecimento ou desfavorecimento.
Gênero/sexo
Apl./T
%
P.R.
379/1269
495/1326
874/2595
29,9
37,3
0.509
0.491
Significância = 0.000
Masculino
Feminino
TOTAL
Tabela 49: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo.
Ao observar o gráfico 14, verifica-se mais nitidamente a aproximação dos
dados numéricos. Praticamente, há equivalência.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Masculino
Feminino
Gráfico 14: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo.
Para tentar entender melhor o que ocorreu com esse resultado, realizou-se o
cruzamento das variáveis gênero/sexo com a escolaridade, o qual está registrado no
gráfico 15.
143
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Masculino
Ensino Superior
Feminino
Gráfico 15: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e escolaridade
A partir da análise do gráfico apresentado, percebe-se que há um crescimento
no emprego de “você” por falantes do gênero/sexo feminino, partindo do menor grau
de escolaridade ao maior, ou seja, quanto mais escolarizado é o falante, mais faz
uso. Isso tem que ver com o que foi apontado por Silva e Scherre (1998, p. 349),
que “as mulheres são mais sensíveis à escolarização do que os homens no sentido
de apresentarem ou maiores polarizações entre os resultados máximos e mínimos
ou maior regularidade nos resultados”.
Já em relação ao gênero/sexo masculino, há um crescimento do Ensino
Fundamental para o Médio e um decréscimo do Ensino Médio para o Ensino
Superior.
Além desse cruzamento, processou-se também outro com as variáveis
gênero/sexo e faixa etária, cujos resultados encontram-se apresentados no gráfico a
seguir.
144
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Masculino
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Feminino
Gráfico 16: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária.
O gênero/sexo masculino oscila no emprego de “você”. Decresce da faixa
etária 1 para 2, aumenta da 2 para a 3 e torna a diminuir da 3 para a faixa etária 4. O
feminino aumenta da faixa etária 1 para 2 e mantém até a 3, quando decresce para
a faixa etária 4.
5.4.1.3
Eles
O pronome “eles” também é empregado como uma das estratégias para
marcar a indeterminação na fala urbana de Salvador. Ele preserva a tendência já
apontada nas estratégias analisadas de que a forma antecedente é o primeiro grupo
de fator selecionado.
Devido aos poucos dados dessa variante nos corpora analisados, algumas
modificações foram necessárias no arquivo de condições, além das realizadas
anteriormente e que foram mantidas, para que se pudesse processar a rodada
binária, evitando os nocautes apresentados.
Assim, retirou-se do grupo de fatores tempo e modo verbal o pretérito
imperfeito do subjuntivo, como também as estratégias “nós” e “eu” da variável forma
antecedente. Findadas as alterações, processou-se à rodada binária tendo a forma
“eles” como fator de aplicação. Os resultados serão apresentados logo a seguir, de
acordo com os grupos de fatores selecionados e ordenados pelo GoldVarb X.
145
5.4.1.3.1 Forma antecedente
Quando a forma anteriormente empregada é “eles” favorece seu uso nas
orações seguintes, isso é o que aponta o peso relativo de 0.980, bastante alto em
relação às demais formas antecedentes listadas na tabela abaixo.
Forma antecedente
Significância = 0.013
Eles
Formas nominais
Formas sem sujeito lexical
Você
A gente
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
28/45
5/194
3/269
4/605
5/423
45/1536
62,2
2,6
1,1
0,7
1,2
0.988
0.729
0.614
0.379
0.374
Tabela 50: Aplicação da variante “eles” em relação à variável forma antecedente.
Em relação a essa variante, optou-se em não cruzar a forma antecedente
com a variável manutenção ou mudança do referente devido aos poucos dados,
uma vez que na rodada inicial os resultados obtidos pareciam estar mascarados,
com poucos dados e pesos relativos altos, não apresentando confiabilidade.
5.4.1.3.2 Grau de indeterminação
O grupo de fatores grau de indeterminação foi o segundo selecionado pelo
programa estatístico utilizado. De acordo com o peso relativo obtido, depreende-se
que a forma “eles” é mais utilizada quando a indeterminação do sujeito é parcial, ou
seja, quando é possível identificar ao menos um dos envolvidos no discurso por
meio de inferência. O peso relativo para esse fator foi de 0.600, praticamente o
dobro de quando a indeterminação é completa.
146
Grau de indeterminação
Apl./T
%
P.R.
Indeterminação Parcial
58/1584
3,7
0.600
Indeterminação Completa
10/1011
1,0
0.346
Significância = 0.013
TOTAL
68/2595
Tabela 51: Aplicação da variante “eles” em relação à variável grau de indeterminação.
5.4.1.3.3 Preenchimento do sujeito
O sujeito implícito mostrou-se como mais favorecedor para o uso da forma
“eles”, diferentemente das estratégias apresentadas anteriormente. O peso relativo
de 0.594 corresponde aos percentuais encontrados em relação à sua frequência.
Preenchimento do Sujeito
Significância = 0.013
Sujeito pronominal implícito
Sujeito pronominal explícito
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
17/326
50/1411
67/1737
5,2
3,5
0.594
0.478
Tabela 52: Aplicação da variante “eles” em relação à variável preenchimento do sujeito.
5.4.1.3.4 Escolaridade
O nível de escolaridade foi o único grupo de fator extralinguístico selecionado
para a rodada que teve a estratégia “eles” como de aplicação.
Escolaridade
Significância = 0.013
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
40/676
16/957
12/962
68/2595
5,9
1,7
1,2
0.653
0.470
0.420
Tabela 53: Aplicação da variante “eles” em relação à variável escolaridade.
Na análise, obteve maior peso relativo 0.653 o Ensino Fundamental, não
podendo se inferir que “eles” pode ser estigmatizado pelos falantes mais
147
escolarizados devido às poucas ocorrências em relação ao total de estratégias
utilizadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito.
A partir dos dados obtidos, criou-se o gráfico 14 para melhor entendimento
dos resultados alcançados, o qual foi desenvolvido com os pesos relativos dos
fatores.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 17: Frequência da variante “eles” em relação à variável escolaridade.
A partir da análise do gráfico, depreende-se que quanto maior é o nível de
escolaridade, ou seja, quanto mais tempo o falante fica exposto ao processo de
escolarização, mais diminui o emprego dessa estratégia para indeterminar o sujeito.
Assim como as estratégias anteriores, buscou-se cruzar as variáveis sociais
para conhecer melhor quem são os falantes do Ensino Fundamental que mais fazem
uso de “eles”. Devido aos nocautes encontrados nos Ensinos Fundamental e Médio,
algumas células precisaram ser excluídas, as quais se encontram marcadas com
“xxx”, com exceção do Ensino Superior, que não há informantes da Faixa Etária 1.
Após as modificações no arquivo de condições, realizou-se a rodada binária, cujos
resultados foram obtidos e organizados na tabela a seguir.
148
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Masculino
Feminino
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
1
8/112
7,1
0.794
1/182
0,5
0.217
xxx
xxx
xxx
2
4/84
4,8
0.714
3/164
1,8
0.482
1/104
1,0
0.327
3
0/63
0,0
-
5/143
3,5
0.644
1/128
0,8
0.283
4
3/77
3,9
0.670
1/122
0,8
0.293
1/90
1,1
0.360
1
15/105
14,3
0.893
1/74
1,4
0.407
xxx
xxx
xxx
2
0/65
0,0
-
0/88
0,0
-
3/227
1,3
0.401
3
0/71
0,0
-
5/102
4,9
0.720
5/302
1,7
0.457
4
10/99
10,1
0.849
0/82
0,0
-
1/111
0,9
0.313
Tabela 54: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à
aplicação da variante “eles”.
Como se pode observar na tabela 54, há células com dados inexistentes e
outras com frequência baixíssima, o que dificulta qualquer tipo de conclusão,
embora os maiores pesos relativos tenham se configurado no Ensino Fundamental,
em ambos os gêneros/sexo.
5.4.1.3.5 Tempo e modo verbal
Em relação ao tempo e modo verbal, o pretérito perfeito do indicativo
mostrou-se como mais favorecedor ao empregado do item “eles”, com peso relativo
de 0.772. Esse resultado toma como base os poucos dados encontrados para esse
fator. Contudo, ainda é o presente do indicativo que apresenta maior número de
ocorrências diante de “eles” em relação aos demais tempos e modos. Há de se
registrar também que o futuro do presente do indicativo, o gerúndio e o infinitivo
tiveram pouquíssimos dados, os quais poderiam ter sido retirados da rodada, mas
optou-se em mantê-los uma vez que não causou problemas durante o
processamento do GoldVarb X.
149
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.013
Pretérito Perfeito do Ind.
Presente do Ind.
Futuro do Presente do Ind.
Gerúndio
Pretérito Imperfeito do Ind.
Infinitivo
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
9/136
40/1104
2/78
2/97
13/653
1/405
67/2473
6,6
3,6
2,6
2,1
2,0
0,2
0.772
0.681
0.661
0.576
0.462
0.080
Tabela 55: Aplicação da variante “eles” em relação à variável tempo e modo verbal.
5.4.1.3.6 Mudança/Manutenção do referente
A variável mudança ou manutenção do referente apresentou também um
resultado diferenciado para “eles” em relação às outras estratégias apresentadas.
Os falantes preferem empregar esse item quando o referente é diferente, tomando
como base o peso relativo de 0.733.
Mudança/Manutenção
do Referente
Apl./T
%
P.R.
9/96
36/1512
45/1608
9,4
2,4
0.733
0.484
Significância = 0.013
Diferente
Igual
TOTAL
Tabela 56: Aplicação da variante “eles” em relação à variável mudança/manutenção do referente.
5.4.1.4
Nós
Para que fosse possível a obtenção dos dados numéricos através do
programa GoldVarb X, houve necessidade de exclusão do fator pretérito imperfeito
do subjuntivo, além das modificações que foram feitas anteriormente nas rodadas
iniciais.
Realizadas essas alterações no arquivo de condições para evitar o nocaute
apresentado inicialmente, a rodada binária com “nós” como valor de aplicação foi
processada.
150
5.4.1.4.1 Forma antecedente
A aplicação de “nós” como estratégia para indeterminação do sujeito na fala
de Salvador também mostrou a forma antecedente “nós” como a primeira variável
favorecedora do item, com 0.983 de peso relativo para a sua manutenção nas
orações subsequentes.
Forma antecedente
Apl./T
%
P.R.
Nós
Formas nominais
Formas sem sujeito lexical
Eles
A gente
Você
TOTAL
40/68
8/194
6/269
2/45
8/423
3/605
58,8
4,1
2,2
4,4
1,9
0,5
0.983
0.829
0.823
0.523
0.361
0.222
Significância = 0.012
67/1604
Tabela 57: Aplicação da variante “nós” em relação à variável forma antecedente.
Devido aos poucos dados da variante “nós”, o cruzamento da variável forma
antecedente com a mudança/manutenção do referente não foi possível, por que
houve muitos nocautes. A eliminação deles resultou em apenas uma forma
antecedente, as formas nominais. Nem o próprio “nós” pode continuar. Ressalta-se
também que essa variável não foi selecionada pelo programa.
5.4.1.4.2 Preenchimento do sujeito
Assim como a forma “eles”, o emprego de “nós” foi maior implicitamente, com
peso relativo de 0.856, muito maior que a forma explícita. Isso é também
apresentado em relação à sua frequência, cujo percentual é de 12,6%.
Preenchimento do Sujeito
Significância = 0.012
Apl./T
Sujeito pronominal implícito
41/326
Sujeito pronominal explícito
73/1411
TOTAL 114/1737
%
P.R.
12,6
5,2
0.856
0.398
Tabela 58: Aplicação da variante “nós” em relação à variável preenchimento do sujeito.
151
5.4.1.4.3 Tempo e modo verbal
Em relação à variável tempo e modo verbal, o futuro do presente do indicativo
(19,2% - P.R. 0.874) e o pretérito perfeito do indicativo (11,8% - P.R. 0.829)
apresentaram maior frequência e peso relativo no emprego de “nós”, conforme pode
ser verificado a tabela a seguir.
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.012
Futuro do Presente do Ind.
Pretérito Perfeito do Ind.
Presente do Ind.
Pretérito Imperfeito do Ind.
Gerúndio
Imperativo
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
15/78
16/136
51/1104
24/653
1/97
2/405
109/2473
19,2
11,8
4,6
3,7
1,0
0,5
0.874
0.829
0.649
0.498
0.247
0.091
Tabela 59: Aplicação da variante “nós” em relação à variável tempo e modo verbal.
5.4.1.4.4 Escolaridade
A variável extralinguística escolaridade foi a quarta selecionada na análise
realizada. O Ensino Superior (0.682) e o Ensino Fundamental (0.604) mostraram-se
como os mais favorecedores ao emprego de “nós”, revelando que não há distinção
em relação ao uso da forma, tendendo a ser considerada de prestígio, uma vez que
são os falantes do Ensino Superior que mais a empregam.
Escolaridade
Significância = 0.012
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
39/676
13/957
63/962
115/2595
5,8
1,4
6,5
0.604
0.256
0.682
Tabela 60: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade.
Essa tendência também é contemplada ao se analisar o gráfico a seguir,
confirmando o que foi dito.
152
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 18: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade.
Pouca causa dos poucos dados dessa variante, não foi possível realizar o
cruzamento de todas as variáveis para buscar compreender o perfil social dos
informantes e o emprego que fazem da forma “nós”. Provavelmente, este é o motivo
para o baixo peso relativo do Ensino Médio, que também se repetirá no cruzamento
com a variável gênero/sexo a seguir.
5.4.1.4.5 Gênero/sexo
O gênero/sexo masculino mostrou-se como o mais favorecedor, uma vez que
obteve maior peso relativo 0.644, conforme apresentado na tabela 61.
Gênero/sexo
Significância = 0.012
Masculino
Feminino
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
88/1269
27/1326
115/2595
6,9
2,0
0.644
0.361
Tabela 61: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo.
153
Ilustra-se melhor esse resultado através do gráfico 19, quando se percebe a
distância apresentada entre gênero/sexo masculino e o feminino.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Masculino
Feminino
Gráfico 19: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo.
Pensando, justamente, na distância que há entre o peso relativo do
gênero/sexo masculino e do feminino, realizou-se o cruzamento desta variável com
a escolaridade, anteriormente apresentada, cujo resultado encontra-se apresentado
através do gráfico 20.
Em relação ao gênero/sexo masculino, há um decréscimo do Ensino
Fundamental para o Médio e um crescimento ainda maior para o Superior,
ultrapassando o Ensino Fundamental. Já em relação ao gênero/sexo feminino ocorre
algo parecido, há também um decréscimo do Ensino Fundamental para o Médio e
um leve crescimento para o Ensino Superior, não ultrapassando o peso relativo do
Ensino Fundamental.
154
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Masculino
Ensino Superior
Feminino
Gráfico 20: Aplicação da variante “nós” em relação às variáveis gênero/sexo e escolaridade.
O gênero/sexo masculino favorece o uso de “nós” como marca de
indeterminação do sujeito nos Ensinos Fundamental e Superior, principalmente no
Ensino Superior, diferentemente do feminino, que diminui nesse nível de
escolaridade, favorecendo apenas no Ensino Fundamental.
5.4.1.4.6 Grau de indeterminação
Quando a referência está explícita ou implícita no contexto, há maior
favorecimento do emprego do item “nós”, o qual é considerado como indeterminação
parcial, de acordo com a tabela 62. É essa variável que mostra que a
indeterminação do sujeito com o uso de “nós” é parcial, conforme mencionada
anteriormente por Neves (2000), uma vez que um dos referentes pode ser
depreendido, a pessoa quem fala no discurso.
Grau de indeterminação
Apl./T
%
P.R.
Indeterminação Parcial
98/1584
6,2
0.596
Indeterminação Completa
17/1011
1,7
0.352
Significância = 0.012
TOTAL
115/2595
Tabela 62: Aplicação da variante “nós” em relação à variável grau de indeterminação.
155
5.4.1.4.7 Faixa etária
A faixa etária foi o penúltimo grupo de fatores selecionado na rodada binária
tendo a forma pronominal “nós” como aplicação. A faixa etária 2 se revelou
favorecedora dessa estratégia, embora se esperasse que fosse a faixa etária mais
nova, pois se trata de uma inovação na língua.
Faixa Etária
Significância = 0.012
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
9/473
41/732
40/809
25/581
115/2595
1,9
5,6
4,9
4,3
4,4
0.287
0.615
0.478
0.569
Tabela 63: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária.
Esse resultado é melhor evidenciado ao se analisar o gráfico a seguir.
Aparentemente, parece haver um crescimento da faixa etária mais nova para a mais
velha. A diferença está marcada na faixa etária 2 que se apresenta como mais
favorecedora.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Gráfico 21: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária.
A rodada com o cruzamento das variáveis apresentou alguns nocautes,
conforme já foi mencionado, e estes foram eliminados para que se pudessem obter
os pesos relativos. Pensando nisso, a seguir, serão apresentados dois gráficos
apenas com os dados da faixa etária 2 para buscar compreender por que ela é a
mais favorecedora em relação às demais.
156
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 2
Masculino
Feminino
Gráfico 22: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável gênero/sexo.
O gênero/sexo masculino, conforme já havia sido percebido, apresenta o
maior peso relativo em relação ao feminino. O gráfico 22 apresenta de forma clara
essa diferença.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 23: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável escolaridade.
Em relação à faixa etária 2 e escolaridade, o Ensino Médio mantém-se abaixo
dos demais níveis, havendo diferença apenas em relação aos outros dois níveis, dos
quais o Ensino Fundamental encontra-se em destaque sobre o Ensino Superior.
157
5.4.2 Variantes não-pronominais
As
variantes
não-pronominais,
assim
como
as
pronominais,
serão
apresentadas seguindo a ordem de maior input na rodada eneária realizada e
apresentada na subseção 5.3. Não será incluído aqui a variante “Formas Nominais”,
a qual será tratada na seção seguinte, conforme já foi dito. Em relação às variantes
PASSINT – Passiva Sintética e a VPSA – Voz Passiva Sem Agente apresentadas na
metodologia não serão abordadas aqui, por que a primeira foi incluída na variante
Ø+V+SE, uma vez que só foi encontrado um único dado, e da segunda não foi
encontrado dado algum.
A variável preenchimento do sujeito foi excluída de todas as rodadas nãopronominais, uma vez que não há preenchimento lexical do sujeito nas variantes
observadas.
5.4.2.1
Verbo no infinitivo sem sujeito lexical - Ø+VINF
A variante verbo no infinitivo sem sujeito lexical foi estudada após realização
de algumas modificações no arquivo de condições, uma vez que nocautes foram
apresentados inicialmente.
A variável tempo e modo verbal foi totalmente excluída da rodada, por que em
uma rodada inicial, todos os tempos apresentaram nocautes com 0% de aplicação,
com exceção do pretérito imperfeito do indicativo (40,5%) e o infinitivo (0,9%). Sendo
esse último formador da estratégia em análise, poderia favorecer mais o grupo de
fatores. Assim, optou-se em excluir completamente esta variável. Ainda sobre as
modificações no arquivo de condições, o “eu” foi excluído do grupo de fatores forma
antecedente, devido à ausência de dados. Feito isso, a rodada binária foi concluída.
5.4.2.1.1 Forma antecedente
As formas sem sujeito lexical são o fator preferido entre as formas nãopronominais como mais favorecedoras para seu emprego, cujo peso relativo foi de
0.935, conforme dados apresentados na tabela 64.
158
Forma antecedente
Apl./T
%
P.R.
75/269
3/68
2/45
9/423
3/194
5/605
97/1604
27,9
4,4
4,4
2,1
1,5
0,8
0.935
0.689
0.630
0.443
0.398
0.265
Significância = 0.003
Formas sem sujeito lexical
Nós
Eles
A gente
Formas nominais
Você
TOTAL
Tabela 64: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável forma antecedente.
5.4.2.1.2 Tipo de oração
A variável tipo de oração foi a segunda selecionada nesta rodada binária. As
orações absolutas, embora com poucos dados, foram as que se mostraram mais
favorecedoras, com peso relativo de 0.615.
Tipo de oração
Significância = 0.003
Absoluta
Principal
Coordenada
Subordinada
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
4/35
25/344
134/1835
7/381
170/2595
11,4
7,3
7,3
1,8
0.615
0.571
0.546
0.234
Tabela 65: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável tipo de oração.
5.4.2.1.3 Escolaridade
A variável social escolaridade também foi selecionada nessa rodada, na qual
o Ensino Médio revelou-se como mais favorecedor para o emprego do verbo no
infinitivo, seguido do Ensino Fundamental, com pesos relativos 0.580 e 0.545
respectivamente.
159
Escolaridade
Significância = 0.003
Ensino Médio
Ensino Fundamental
Ensino Superior
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
86/957
54/676
30/962
170/2595
9,0
8,0
3,1
0.580
0.545
0.390
Tabela 66: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade.
Percebe-se nitidamente, através do gráfico 24, que são os Ensinos Médio e
Fundamental, seguindo a mesma ordem dos pesos relativos, que mais fazem uso da
estratégia Ø+VINF para marcar a indeterminação do sujeito em Salvador,
caracterizando como de uso mais popular, embora tratado na gramática de Cegalla
(2008) como uma das estratégias padrão.
O número de ocorrências foi baixo dessa estratégia, porém já apresenta uma
tendência entre os falantes observados.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 24: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade.
O perfil dos falantes dos Ensinos Médio e Fundamental que mais fazem uso
da estratégia verbo no infinitivo sem sujeito lexical pode ser verificado na tabela a
seguir. Os informantes do gênero/sexo feminino e do Ensino Médio que mais
aplicam a estratégia estudada são das faixas etárias 1 e 3 respectivamente.
160
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Masculino
Feminino
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
1
8/112
7,1
0.547
12/182
6,6
0.526
xxx
xxx
xxx
2
2/84
2,4
0.277
0/164
0,0
-
14/104
13,5
0.710
3
4/63
6,3
0.516
11/143
7,7
0.567
5/128
3,9
0.390
4
4,77
5,2
0.463
16/122
13,1
0.703
5/90
5,6
0.480
1
6/105
5,7
0.488
11/74
14,9
0.733
xxx
xxx
xxx
2
8/65
12,3
0.688
11/88
12,5
0.692
0/227
0,0
-
3
13/71
18,3
0.779
15/102
14,7
0.730
5/302
1,7
0.209
4
9/99
9,1
0.611
10/82
12,2
0.686
1/111
0,9
0.125
Tabela 67: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à
aplicação da variante “Ø+VINF”.
5.4.2.2
Verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical - Ø+V3PS
A rodada binária tendo a variante Ø+V3PS como fator de aplicação foi
realizada a partir das alterações feitas no arquivo de condições, evitando-se,
portanto, os nocautes apresentados inicialmente.
As únicas alterações que foram realizadas dizem respeito à variável forma
antecedente, cujos itens “eles” e “nós” foram excluídos por causa do motivo citado e
a eliminação dos verbos no infinitivo e no gerúndio da variável tempo e modo verbal.
As modificações feitas no início das rodadas pronominal versus não-pronominal
foram mantidas, como a junção das formas antecedentes explícitas com implícitas e
o agrupamento em um único fator das formas sem sujeito lexical. Finalizadas as
mudanças, a análise foi realizada, apresentando as variáveis selecionadas na
mesma ordem dada pelo programa GoldVarb X.
5.4.2.2.1 Forma antecedente
As formas sem sujeito lexical favorecem o uso do verbo na terceira pessoa do
singular, apresentando maior peso relativo em relação às demais formas, com
0.962. Além disso, essa variante também não possui um sujeito lexicalmente
preenchido, o que possivelmente contribui para o resultado obtido.
161
Cabe ainda ressaltar a única ocorrência de “eu” como forma antecedente, a
qual foi mantida por não ter apresentado nocaute, não impedindo a obtenção do
peso relativo.
Forma antecedente
Apl./T
Significância = 0.018
Formas sem sujeito lexical
86/269
Eu
1/13
Formas nominais
15/194
Você
5/605
A gente
5/423
TOTAL 112/1504
%
P.R.
32,0
7,7
7,7
0,8
1,2
0.962
0.862
0.786
0.252
0.241
Tabela 68: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável forma antecedente.
Buscando perceber se há alguma relação entre a manutenção ou mudança
do referente com o emprego das formas antecedentes apresentadas, fez-se o
cruzamento dessas duas variáveis.
Para que esse procedimento tivesse sido realizado, foi necessário eliminar os
nocautes apresentados durante o cruzamento. Assim, as estratégias “eles”, “nós” e
“eu” foram excluídas da coluna das formas antecedentes.
Assim, percebeu-se que, quando o referente se mantém, é igual, há
manutenção da forma que o antecede, neste caso, o verbo na terceira pessoa do
singular (conferir tabela 69 na página seguinte).
Ressalta-se ainda a baixa frequência de “você” e “a gente” com o verbo na
terceira pessoa do singular sem sujeito lexical como fator de aplicação desta rodada,
o que convém não considerá-los.
Manutenção/mudança
do referente
Forma
antecedente
Igual
Diferente
Nº/T
%
P.R.
Nº/T
%
P.R.
85/247
13/170
4/580
4/397
34,4
7,6
0,7
1,0
0.957
0.778
0.228
0.302
1/14
1/20
1/23
1/25
7,1
5,0
4,3
4,0
0.765
0.690
0.658
0.639
Significância = 0.000
Formas sem sujeito lexical
Formas nominais
Você
A gente
Tabela 69: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em
relação à aplicação da variante “Ø+V3PS”.
162
5.4.2.2.2 Tempo e modo verbal
Todos os tempos que participaram da rodada favoreceram o emprego da
estratégia verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical. Salienta-se o
tempo pretérito imperfeito do subjuntivo que apresentou o maior peso relativo 0.796,
caracterizando-se como o principal favorecedor do emprego da forma em questão.
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.018
Pretérito Imperfeito do Sub.
Pretérito Imperfeito do Ind.
Pretérito Perfeito do Ind.
Futuro do Presente do Ind.
Presente do Ind.
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
4/40
75/653
19/136
4/78
66/1104
179/2513
10,0
11,5
14,0
5,1
6,0
0.796
0.743
0.690
0.652
0.634
Tabela 70: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tempo e modo verbal.
5.4.2.2.3 Escolaridade
Em relação ao nível de escolaridade a que pertencem os informantes dos
corpora analisados, o Ensino Médio mostrou-se como mais favorecedor da forma
Ø+V3PS, com peso relativo de 0.617, seguido do Ensino Fundamental com 0.610.
Isso revela que essa variante pode ser considerada de uso mais popular, como
observou Neves (2000), uma vez que são os usuários que não têm o nível superior
que mais fazem uso dessa estrutura.
Escolaridade
Apl./T
%
P.R.
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
67/676
94/957
24/962
9,9
9,8
2,5
0.610
0.617
0.312
Significância = 0.018
TOTAL
185/2595
Tabela 71: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade.
163
Através da observação dos dados, através da tabela 71 e do gráfico 25, tornase mais claro que o emprego da estratégia Ø+V3PS se dá mais em falantes que não
possuem o Ensino Superior.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 25: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade.
As outras variáveis sociais também foram selecionadas pelo programa
estatístico. Dessa forma, o cruzamento do grupo de fatores escolaridade será
realizado mais adiante.
5.4.2.2.4 Faixa etária
A faixa etária mais nova lidera a posição dos outros fatores em relação ao
emprego da variante verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical para
indeterminar o sujeito em Salvador, cujo peso relativo apresentado é de 0.659.
Faixa Etária
Apl./T
%
P.R.
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
53/473
27/732
57/809
48/581
11,2
3,7
7,0
8,3
0.659
0.369
0.538
0.481
Significância = 0.018
TOTAL
185/2595
Tabela 72: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária.
164
A partir do gráfico 26, percebem-se mais nitidamente os resultados obtidos
para a variável faixa etária (idade). Não há uma relação ascendente ou descendente
que explique de maneira mais aceitável o emprego dessa variante da
indeterminação do sujeito, uma vez que depois da faixa etária 1, que mais fácil uso,
segue as faixas etárias 3, 4 e 2 respectivamente. Acredita-se que cruzando esse
grupo de fatores com outros sociais, haverá uma resposta mais satisfatória.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Gráfico 26: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária.
Assim, como a variável escolaridade já foi apresentada anteriormente por ter
sido selecionada pelo GoldVarb X antes da faixa etária, agora será possível cruzar
esses dois grupos de fatores para traçar-se um perfil dos informantes. Cabe
ressaltar que não há informantes do Ensino Superior na faixa etária 1, conforme
mencionado na metodologia.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Ensino Fundamental
Faixa Etária 3
Ensino Médio
Faixa Etária 4
Ensino Superior
Gráfico 27: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade.
165
Observando o gráfico 27, elaborado a partir dos pesos relativos obtidos no
cruzamento das duas variáveis faixa etária e escolaridade, compreende-se que são
os informantes da faixa etária 3 com Ensino Fundamental que mais fazem uso da
estratégia ora estudada. Em relação aos falantes do Ensino Médio, há praticamente
a manutenção do uso nas três primeiras faixas etárias, com elevação apenas na
faixa etária 4. Já em relação ao Ensino Superior, há um leve salto da faixa etária 2
para 3, mantendo-se quase que constante na faixa etária 4.
5.4.2.2.5 Mudança/Manutenção do Referente
No cruzamento realizado anteriormente com a forma antecedente (ver tabela
69), a variável mudança ou manutenção do referente mostrou-se favorecedora
sempre que o referente é igual, buscando sempre a manutenção da forma escolhida
para marcar a indeterminação do sujeito na fala de Salvador. Observando-se a
tabela 73 (ver na próxima página), chega-se a essa mesma conclusão ao notar o
peso relativo obtido para o fator que mais favorece, que ficou com .520.
Mudança/Manutenção
do Referente
Apl./T
%
P.R.
107/1512
4/96
7,1
4,2
0.520
0.219
Significância = 0.018
Igual
Diferente
TOTAL
111/1608
Tabela 73: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à
variável mudança/manutenção do referente.
5.4.2.2.6 Gênero/sexo
O maior peso relativo em relação à variável gênero/sexo recaiu sobre o
feminino, apontando-o como mais favorecedor no emprego da forma Ø+V3PS com
0.569.
166
Gênero/sexo
Significância = 0.018
Feminino
Masculino
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
103/1326
82/1269
185/2595
7,8
6,5
0.569
0.428
Tabela 74: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável gênero/sexo.
O resultado da aplicação da estratégia Ø+V3PS pode ser conferida no gráfico
a seguir, cujo gênero/sexo feminino apresenta maior peso relativo, favorecendo o
seu emprego. Ressalta-se que, de acordo com a frequência, há uma certa
aproximação entre os resultados.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Masculino
Feminino
Gráfico 28: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária e gênero/sexo.
A tabela 75 e o gráfico 29 apresentam o cruzamento da variável gênero/sexo
com os três níveis de ensino, Fundamental, Médio e Superior. O gênero/sexo
feminino, conforme pode ser notado, faz mais uso da estratégia em questão em
todos os níveis, especialmente nos Ensino Médio e Fundamental, onde se
encontram os maiores pesos relativos. Já o Ensino Superior se encontra bastante
distante dos demais níveis.
Gênero/sexo
Significância = 0.000
Feminino
Masculino
Ensino
Fundamental
0.690
0.593
Ensino
Médio
0.698
0.609
Ensino
Superior
0.362
0.136
Tabela 75: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e escolaridade em relação à
aplicação da variante “Ø+V3PS”.
167
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Masculino
Ensino Superior
Feminino
Gráfico 29: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária.
Em relação ao cruzamento da variável gênero/sexo com faixa etária,
vislumbrado na tabela 76 e no gráfico 24 (conferir na página seguinte), há um
crescimento do uso da estratégia que está sendo observada da faixa etária 2 até a
4, tanto no gênero/sexo feminino, o que mais utilizada a forma Ø+V3PS, quanto do
masculino. Agora, na faixa etária 1 o processo é o inverso, além de ser a que mais
faz uso da estratégia, é a que apresenta o gênero/sexo masculino liderando.
Gênero/sexo
Significância = 0.000
Feminino
Masculino
Faixa
Etária 1
0.616
0.660
Faixa
Etária 2
0.416
0.274
Faixa
Etária 3
0.548
0.478
Faixa
Etária 4
0.622
0.488
Tabela 76: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e faixa etária em relação à
aplicação da variante “Ø+V3PS”
168
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Masculino
Faixa Etária 4
Feminino
Gráfico 30: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária.
5.4.2.2.7 Tipo de oração
A variável tipo de oração foi a última selecionada pelo programa estatístico.
Os resultados revelaram que as orações principais favorecem o uso da forma verbo
na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical para indeterminar o sujeito em
Salvador, cujo peso relativo é de 0.589. Em segundo lugar, estão as orações
coordenadas, com 0.519 de peso relativo. Os demais tipos de orações mantiveram
pesos relativos um pouco distantes das principal e coordenada. Os resultados
podem ser conferidos na tabela 77 na página seguinte.
Tipo de oração
Significância = 0.018
Principal
Coordenada
Subordinada
Absoluta
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
28/344
140/1835
15/381
2/35
185/2595
8,1
7,6
3,9
5,7
0.589
0.519
0.346
0.342
Tabela 77: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tipo de oração.
169
5.4.2.3
Verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical - Ø+V3PP
Não tão diferente que as demais formas não-pronominais, algumas
modificações também foram necessárias para que fosse possível a rodada binária
tendo essa variante como fator de aplicação.
Mantiveram-se na variável tempo e modo verbal o pretérito perfeito, pretérito
imperfeito e o presente do indicativo, como também o gerúndio. Em relação às
formas antecedentes, foram excluídas “eles” e “eu”. O verbo intransitivo foi excluído
também da variável tipo de verbo. Realizadas as alterações necessárias, a análise
binária foi concluída.
5.4.2.3.1 Tempo e modo verbal
O tempo e modo verbal foi a primeira variável selecionada, na qual o tempo
pretérito perfeito do modo indicativo mostrou-se como mais favorecedor do emprego
da forma Ø+V3PP pelos falantes de Salvador, com peso relativo de 0.933. Isso
também se manteve ao analisar sua frequência.
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.018
Pretérito Perfeito do Ind.
Pretérito Imperfeito do Ind.
Presente do Ind.
Gerúndio
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
35/136
19/653
22/1104
1/97
77/1990
25,7
2,9
2,0
1,0
0.933
0.525
0.427
0.270
Tabela 78: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tempo e modo verbal.
5.4.2.3.2 Mudança/Manutenção do Referente
Mudar o referente significa mudar a estratégia de indeterminação de acordo
com os dados obtidos e apresentados na tabela 74, cujo peso relativo foi de 0.701,
tendo como fator de aplicação a forma Ø+V3PP.
170
Mudança/Manutenção
do Referente
Apl./T
%
P.R.
4/96
22/1512
26/1608
4,2
1,5
0.701
0.486
Significância = 0.018
Diferente
Igual
TOTAL
Tabela 79: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à
variável mudança/manutenção do referente.
5.4.2.3.3 Grau de indeterminação
Em relação ao grau de indeterminação do sujeito, o fator que mais contribuiu
para o emprego da estratégia verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical
foi quando não há referência no contexto oracional que possa resgatar, mesmo por
meio de inferências, um dos referente, caracterizando a indeterminação completa. O
peso relativo obtido para esse fator foi 0.597.
Grau de indeterminação
Significância = 0.018
Indeterminação Completa
Indeterminação Parcial
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
35/1011
44/1584
79/2595
3,5
2,8
0.597
0.438
Tabela 80: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável grau de indeterminação.
5.4.2.3.4 Tipo de oração
A variável tipo de oração foi a quarta selecionada, dentre as dez variáveis
linguísticas e extralinguísticas definidas para este trabalho. As orações coordenadas
são o principal fator que favorece o emprego da forma sem sujeito lexical com o
verbo na terceira pessoa do plural, uma das formas considerada padrão para marcar
a indeterminação do sujeito. O peso relativo obtido para esse fator foi de 0.565.
171
Tipo de oração
Apl./T
%
P.R.
63/1835
2/35
8/381
6/344
79/2595
3,4
5,7
2,1
1,7
0.565
0.430
0.375
0.312
Significância = 0.018
Coordenada
Absoluta
Subordinada
Principal
TOTAL
Tabela 81: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tipo de oração.
5.4.2.3.5 Faixa etária
A variável extralinguística ou social faixa etária foi a última selecionada,
mostrando que são os falantes da faixa etária 4 que mais fazem uso da estratégia
observada, com peso relativo de 0.649.
Faixa Etária
Apl./T
%
P.R.
15/473
17/732
18/809
29/581
79/2595
3,2
2,3
2,2
5,0
0.467
0.485
0.423
0.649
Significância = 0.018
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
TOTAL
Tabela 82: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária.
As demais faixas etárias mantiveram pesos relativos relativamente próximos,
conforme pode ser observado nitidamente no gráfico 31.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Gráfico 31: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária.
172
O perfil dos falantes que compõem a faixa etária 4 pode ser verificado na
tabela a seguir, como também mais informações das outras faixas etárias. Nela,
encontram-se cruzadas a faixa etária, gênero/sexo e os níveis de escolaridade.
Para a realização do cruzamento e obtenção dos pesos relativos, houve
necessidade de excluir alguns fatores para evitar os nocautes, cujos dados estão
registrados na tabela a seguir sem os pesos relativos. Ressalta-se mais uma vez
que não há informantes do Ensino Superior na faixa etária 1 dos dois gêneros
(células marcadas com xxx).
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Masculino
Feminino
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
1
5/112
4,5
0.678
1/182
0,5
0.200
xxx
xxx
xxx
2
4/84
4,8
0.693
2/164
1,2
0.358
3/104
2,9
0.573
3
1/63
1,6
0.421
6/143
4,2
0.664
3/128
2,3
0.520
4
2/77
2,6
0.546
9/122
7,4
0.782
4/90
4,4
0.677
1
5/105
4,8
0.693
4/74
5,4
0.721
xxx
xxx
xxx
2
0/65
0,0
-
2/88
2,3
0.512
6/227
2,6
0.551
3
0/71
0,0
-
7/102
6,9
0.769
1/302
0,3
0.131
4
3/99
3,0
0.585
10/82
12,2
0.862
1/111
0,9
0.291
Tabela 83: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à
aplicação da variante “Ø+V3PP”.
A leitura da tabela 83 permite afirmar que os falantes da faixa etária 4 que
favorecem o uso da Ø+V3PP são do Ensino Médio, primeiramente do gênero/sexo
feminino, com peso relativo de 0.862 e depois masculino, com peso relativo de
0.782. Por ser uma das estratégias considerada padrão, esperava-se que os
falantes que possuem Ensino Superior completo empregassem mais a forma.
5.4.2.4
Verbo na terceira pessoa do singular + “se” sem sujeito lexical - Ø+V+SE
O verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se” sem sujeito
lexical também foi observado separadamente por ser abordada pelas gramáticas
tradicionais como padrão para marcar a indeterminação do sujeito. Incluíram-se aqui
173
também a passiva sintética por haver poucos dados e fazer uso dessa mesma
estrutura.
Os tempos verbais pretérito perfeito, pretérito imperfeito e presente, todos do
modo indicativo, como também o pretérito imperfeito do subjuntivo e infinitivo, foram
mantidos na variável tempo e modo verbal, os demais foram excluídos para eliminar
os nocautes. Por causa disso mesmo, excluíram-se as formas antecedentes “eles” e
“eu” do grupo de fatores correspondente e o fator verbo de ligação da variável tipo
de verbo.
A partir dessas modificações, foi possível realizar a rodada binária tendo o
Ø+V+SE como fator de aplicação.
5.4.2.4.1 Faixa etária
Dentre todas as variantes selecionadas para o presente estudo, essa foi a
única vez que uma variável social foi selecionada primeiro pelo programa GoldVarb
X.
A faixa etária 4 foi a que mais favoreceu o emprego da forma canônica verbo
na terceira pessoa do singular mais a partícula “se”, o que era de se esperar, uma
vez que os falantes mais velhos puderam passar por todos os estágios de
escolaridade, como também entrar e sair do mercado de trabalho. Tal fato só poderá
ser constatado a partir do cruzamento dessa variável com a escolaridade, uma vez
que esta também foi selecionada.
Faixa Etária
Apl./T
%
P.R.
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
3/473
13/732
18/809
46/581
0,6
1,8
2,2
7,9
0.306
0.436
0.454
0.777
Significância = 0.005
TOTAL
80/2595
Tabela 84: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária.
A partir dos pesos relativos obtidos, o gráfico 32 apresenta-os de maneira
mais evidente que a faixa etária 4, os falantes mais velhos, é a mais favorecedora no
174
emprego da forma Ø+V+SE em relação às demais faixas etárias, as quais se
encontram com pesos reduzindo proporcionalmente à idade.
Assim, analisando a distância que existe entre os falantes mais novos e os
mais velhos, percebe-se que há uma mudança em progresso, tendendo ao
desaparecimento dessa estratégia padrão aqui observada. À medida que diminui a
idade, também diminui o uso dessa variante.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 4
Faixa Etária 3
Faixa Etária 2
Faixa Etária 1
Gráfico 32: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária.
5.4.2.4.2 Escolaridade
A tendência apresentada ao analisar os dados observados para a variável
faixa etária também se confirma ao analisar o grupo de fatores escolaridade. Quanto
mais escolarizado é o falante, mais faz emprego da forma verbo na terceira pessoa
com a partícula “se”, ou seja, a escola influencia o uso.
Escolaridade
Significância = 0.005
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
11/676
20/957
49/962
80/2595
1,6
2,1
5,1
0.308
0.429
0.701
Tabela 85: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade.
175
O gráfico 33 apresenta os dados em pesos relativos, os quais tornam mais
claro o crescimento que há do Ensino Fundamental ao Ensino Superior em relação
ao uso da variante padrão ora observada.
P.R.
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Gráfico 33: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade.
O cruzamento das variáveis escolaridade com a faixa etária resultou no
gráfico 34, estabelecido a partir da obtenção dos respectivos pesos relativos. Em
relação à faixa etária 1, não há informantes do Ensino Superior e a célula que
compreendia o Ensino Fundamental foi excluída por causa do nocaute apresentado.
O mesmo aconteceu na faixa etária 3. Assim, optou-se em excluir completamente o
Ensino Fundamental.
P.R.
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
Faixa Etária 1
Faixa Etária 2
Ensino Médio
Faixa Etária 3
Faixa Etária 4
Ensino Superior
Gráfico 34: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade.
176
De acordo com o que foi observado ao se analisar apenas a faixa etária, o
que era dedução se tornou um dado concreto, ou seja, é o Ensino Superior da faixa
etária 4 que mais favorece o emprego da forma verbal na terceira pessoa com a
partícula “se”.
5.4.2.4.3 Mudança/Manutenção do Referente
A aplicação da variante Ø+V+SE mostrou-se mais favorecedora quando o
referente é diferente, ou seja, quando há sua mudança, com peso relativo de 0.840.
Mais adiante, essa variável será cruzada com a forma antecedente, a fim de verificar
se com o referente diferente a forma tende a modificar para marcar essa mudança.
Mudança/Manutenção
do Referente
Apl./T
%
P.R.
6/96
34/1512
40/1608
6,2
2,2
0.840
0.474
Significância = 0.005
Diferente
Igual
TOTAL
Tabela 86: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável mudança/manutenção do
referente.
5.4.2.4.4 Tipo de verbo
Os verbos transitivos favorecem o emprego do verbo na terceira pessoa com
a partícula “se”. O peso relativo para o fator verbo transitivo é de 0.537, o qual se
encontra em consonância com o percentual de 3,5% em relação aos verbos
intransitivos.
Tipo de verbo
Significância = 0.005
Transitivo
Intransitivo
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
79/2239
1/187
80/2426
3,5
0,5
0.537
0.146
Tabela 87: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável tipo de verbo.
177
5.4.2.4.5 Forma antecedente
Quando, em uma sequência oracional, emprega-se uma das formas verbais
sem sujeito lexical, essa estratégia tende a se manter, conforme peso relativo obtido
para esse fator, 0.757. Não tão distante se encontram também a forma “nós” (0.654)
e as “formas nominais” (0.525).
Forma antecedente
Significância = 0.005
Formas sem sujeito lexical
Nós
Formas nominais
A gente
Você
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
18/269
3/68
5/194
6/423
9/605
41/1559
6,7
4,4
2,6
1,4
1,5
0.757
0.654
0.525
0.465
0.375
Tabela 88: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável forma antecedente.
Contudo, é importante verificar se essa tendência se mantém ao mudar o
referente. Assim, procedeu-se o cruzamento das duas variáveis forma antecedente
com manutenção ou mudança do referente. Para a obtenção dos pesos relativos,
exclui-se a forma “nós” por ter causado nocaute.
A partir dos resultados apresentados na tabela 89, percebe-se que as formas
sem sujeito lexical são mais empregadas quando há mudança do referente, cujo
peso relativo ficou em 0.894. Essa tendência também ficou caracterizada nas
demais formas antecedentes, pois os pesos relativos maiores ficaram para a
mudança do referente, ou seja, se há mudança do referente, há também a mudança
da forma que o antecede, de acordo com as estratégias selecionadas para essa
variável.
Manutenção/mudança
do referente
Forma
antecedente
Igual
Diferente
Nº/T
%
P.R.
Nº/T
%
P.R.
15/247
3/170
8/580
5/397
6,1
1,8
1,4
1,3
0.765
0.475
0.414
0.392
2/14
2/20
1/23
1/25
14,3
10,0
4,3
4,0
0.894
0.848
0.696
0.677
Significância = 0.001
Formas sem sujeito lexical
Formas nominais
Você
A gente
Tabela 89: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em
relação à aplicação da variante “Ø+V+SE”.
178
6 O PESSOAL TAMBÉM FOI CONTEMPLADO
A variante formas nominais, doravante FN, foi a terceira que mais ocorreu nos
corpora analisados, conforme apresentado na seção anterior, figurando 12,5% do
total de estratégias utilizadas pelos falantes de Salvador para marcar a
indeterminação do referente do sujeito.
Houve necessidade de estudá-las a parte, uma vez que elas não poderiam
ser classificadas como pronominais, pois não exercem essa função, tão pouco
serem
comparadas
com
outras
estratégias
não-pronominais,
formadas
principalmente por um verbo sem sujeito lexical expresso, sendo que elas ocupam a
função de sujeito preenchido.
6.1 DADOS NUMÉRICOS DAS FORMAS NOMINAIS
Assim como todas as variantes da indeterminação do sujeito abordadas na
seção anterior, as FN passaram por um procedimento estatístico-probabilístico,
através do qual foi possível obter sua frequência frente a algumas variáveis
extralinguísticas e linguísticas, como também seu peso relativo referente a cada
fator pertencente a essas variáveis.
Para que fosse realizada a rodada binária, algumas modificações no arquivo
de condições foram necessárias para que os nocautes iniciais fossem eliminados.
Primeiro, excluiu-se a forma “eles” explícito e implícito do grupo de fatores forma
antecedente. Depois, exclusão total da variável preenchimento do sujeito, uma vez
que as FN só ocorreram preenchidas. Por fim, a amalgamação da oração principal
composta por duas coordenadas com a oração coordenada da variável tipo de
oração. Feito isso, o procedimento de obtenção da frequência e pesos relativos foi
efetivado, cujos dados serão apresentados a seguir na mesma ordem de seleção do
programa.
179
6.1.1 Forma antecedente
A forma antecedente foi o primeiro grupo de fatores selecionado para mostrar
o quanto é importante que uma forma nominal seja expressa para que outras
continuem a ser usadas. Isso é evidenciado por ver que o peso relativo foi de 0.872
para as formas nominais antecedendo-as a si mesmas. Esse resultado se manteve
ao verificar o percentual de frequência de 46,9% (conferir tabela 85).
Forma antecedente
Significância = 0.001
Apl./T
Formas nominais
91/194
Formas sem sujeito lexical
21/269
A gente
28/423
Nós
4/68
Você
36/605
Eu
1/13
TOTAL 181/1572
%
P.R.
46,9
7,8
6,6
5,9
6,0
7,7
0.872
0.522
0.472
0.390
0.375
0.302
Tabela 90: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável forma antecedente.
Tentou-se realizar o cruzamento dessa variável com a mudança/manutenção
do referente, contudo ocorreram vários nocautes, que até as formas nominais teriam
que ser excluídas.
6.1.2 Grau de indeterminação
Dentre os outros recursos utilizados pelos falantes de Salvador para marcar a
indeterminação do sujeito, as formas nominais foram uma das poucas estratégias
que apresentaram maior peso relativo para a indeterminação completa, com 0.661
(ver tabela 91 na página seguinte), revelando que elas são mais empregadas
quando de fato não há possibilidade, mesmo por meio de inferências, ter noção
acerca do referente extralinguístico, ou seja, o sujeito referencial, isso por possibilitar
que qualquer pessoa envolvida ou não no discurso possa ser concebida como
sujeito.
180
Grau de indeterminação
Significância = 0.001
Indeterminação Completa
Indeterminação Parcial
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
205/1011
133/1584
338/2595
20,3
8,4
0.661
0.395
Tabela 91: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável grau de indeterminação.
6.1.3 Tempo e modo verbal
O gerúndio e o pretérito imperfeito do subjuntivo mostraram-se como os
principais fatores favorecedores para o emprego das formas nominais, com pesos
relativos de 0.662 e 0.659 respectivamente. Em seguida, não tão distante deles, o
pretérito perfeito do indicativo, com peso relativo de 0.649.
Tempo e Modo Verbal
Significância = 0.001
Gerúndio
Pretérito Imperfeito do Subj.
Pretérito Perfeito do Ind.
Presente do Ind.
Pretérito Imperfeito do Ind.
Futuro do Presente
Infinitivo
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
23/97
7/40
28/136
172/1104
67/653
5/73
20/405
23,7
17,5
20,6
15,6
10,3
6,4
4,9
0.662
0.659
0.649
0.545
0.514
0.331
0.293
322/2513
Tabela 92: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tempo e modo verbal.
6.1.4 Mudança/manutenção do referente
O uso das formas nominais mostrou-se mais proeminente quando o referente
é diferente, com peso relativo de 0.746. Sempre que se muda o referente, a
tendência é mudar a estratégia para marcar essa mudança.
Infelizmente, não foi possível cruzar essa variável com a forma antecedente,
na qual revelou que as formas nominais são preservadas nas cadeias oracionais,
uma forma leva a outra forma.
181
Mudança/Manutenção
do Referente
Apl./T
%
P.R.
26/96
150/1512
176/1608
27,1
9,9
0.746
0.483
Significância = 0.001
Diferente
Igual
TOTAL
Tabela 93: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável mudança/manutenção do
referente.
6.1.5 Gênero/sexo
A variável gênero/sexo foi a única extralinguística selecionada para a
aplicação das formas nominais. Nesse grupo de fatores, há uma leve tendência de
favorecimento do gênero/sexo masculino, com peso relativo de 0.574, não tão
distante do feminino que apresenta o peso de 0.429
Gênero/sexo
Significância = 0.001
Masculino
Feminino
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
207/1269
131/1326
16,3
9,9
0.574
0.429
338/2595
Tabela 94: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável gênero/sexo.
Os resultados obtidos e apresentados na tabela anterior podem ser
verificados de maneira ilustrativa no gráfico a seguir, quando se percebe claramente
a distância existência entre os dois gêneros/sexos.
P.R.
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
Masculino
Feminino
Gráfico 35: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável gênero/sexo.
182
A fim de conhecer melhor o gênero/sexo masculino que mais faz uso das
formas nominais, realizou-se o cruzamento com as demais variáveis sociais, cujos
resultados estão registrados na tabela 95.
Significância = 0.000
Gênero/
Sexo
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Faixa
Etária
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
Apl./T
%
P.R.
1
9/112
8,0
0.396
27/182
14,8
0.567
xxx
xxx
xxx
2
14/84
16,7
0.600
36/164
22,0
0.679
13/104
12,5
0.518
3
13/63
20,6
0.661
32/143
22,4
0.684
23/128
18,0
0.622
4
12/77
15,6
0.581
11/122
9,0
0.427
17/90
18,9
0.636
1
11/105
10,5
0.468
8/74
10,8
0.476
xxx
xxx
xxx
2
9/65
13,8
0.547
17/88
19,3
0.643
28/227
12,3
0.514
3
6/71
8,5
0.409
3/102
2,9
0.186
22/302
7,3
0.371
4
15/99
15,2
0.573
2/82
2,4
0.158
10/111
9,0
0.426
Masculino
Feminino
Tabela 95: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo
em relação à aplicação da variante “Formas Nominais”.
Ao analisar os resultados apresentados nessa tabela, percebe-se que não se
trata de variação influenciada pela escolaridade ou faixa etária, uma vez que os
maiores pesos relativos se encontram no gênero/sexo masculino, quase que
independente dos outros fatores.
6.1.6 Tipo de oração
A sexta variável selecionada foi tipo de oração, com maior peso relativo para
a oração absoluta, seguida da subordinada, com pesos relativos de 0.639 e 0.633
nessa ordem.
Tipo de oração
Significância = 0.001
Absoluta
Subordinada
Coordenada
Principal
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
7/35
85/381
211/1835
35/344
338/2595
20,0
22,3
11,5
10,2
0.639
0.633
0.489
0.395
Tabela 96: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tipo de oração.
183
6.1.7 Tipo de verbo
Neste último grupo de fatores selecionado pela rodada binária com fator de
aplicação “formas nominais”, o verbo de ligação mostrou-se como principal
favorecedor no emprego dessa variante, cujo peso relativo é de 0.693, bem distante
dos demais tipos de verbo, conforme pode ser verificado na tabela 97.
Tipo de verbo
Significância = 0.001
Ligação
Intransitivo
Transitivo
TOTAL
Apl./T
%
P.R.
40/129
19/187
279/2239
169
10,2
12,5
0.693
0.490
0.485
338/2595
Tabela 97: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tipo de verbo.
6.2 CONHECENDO AS FORMAS NOMINAIS
Ao se deter no estudo das formas nominais encontradas nos corpora
observados, formados por falantes de níveis de escolaridade, idade e gênero/sexo
distintos, houve necessidade de buscar entender como essas palavras passaram a
fazer parte do universo da indeterminação do sujeito.
Assim, partindo da noção de gramaticalização (cf. subseção 2.2.1) e de que a
“lexicologia é a ciência que estuda o léxico em todas as suas relações linguísticas,
pragmáticas, discursivas, históricas e culturais” (ABBADE, 2006, p. 219), será
vislumbrado aqui algumas formas nominais que mais ocorreram, a fim de ilustrar
como as palavras ganham novos conceitos e assumem novas funções gramaticais,
cujas significações as gramáticas tradicionais não atualizam e não consideram as
novas abordagens de usos da língua.
Para buscar atingir esse objetivo, foram utilizados quatro dicionários da língua
portuguesa: Machado (1967), Cunha (2007), Houaiss (2001) e Ferreira (2004).
Cabe ainda ressaltar que as formas nominais estudadas foram encontradas
com artigo, como foi o caso de “o pessoal”, ora sem artigo, como “nego”, “neguinho”,
uma vez que a literatura sociolinguística já confirmou que é muito comum a não
colocação do artigo diante de substantivos, de maneira geral, no Nordeste brasileiro.
184
6.2.1 O cara
A palavra de origem grega “kára” e latim tardio “cara” tem como significado
comum o mesmo sentido atribuído a “rosto”, “face”, segundo Machado (1967, p.
537), Ferreira (2004, p. 398), Houaiss (2001) e Cunha (2007).
A ideia de seu emprego como sujeito indeterminado já é encontrado nos
dicionários de Ferreira (2004, p. 398), especificando que se trata de uma “pessoa
que não se conhece”, sinônimo de “indivíduo”, “sujeito”, também uma das formas
analisadas, e do Houaiss (2001), atribuindo-lhe o sentido de “indivíduo qualquer;
sujeito, pessoa”.
Os falantes de Salvador utilizam sempre a expressão “o cara”, com artigo,
para marcar a indeterminação do referente do sujeito, sendo qualquer pessoa capaz
de realizar ou sofrer qualquer ação.
(85)
Eu fiquei admirado outro dia perguntando aí na, na Independência, o
que é Independência do Brasil, o cara não sabia o que era... [PEPP06M4f]
6.2.2 O indivíduo
A palavra “indivíduo”, do latim “individuu” (FERREIRA, 2004, p. 1097)
apresenta-se nos dicionários consultados, além de outras significações, como
“exemplar de uma espécie qualquer”, “ser humano único considerado isoladamente
na coletividade”. Comum também foi seu significado indeterminado (objeto do
presente estudo), atribuindo-se este nome a “uma pessoa qualquer, cujo nome não
se quer dizer“ (FERREIRA, 2004, p. 1097) ou, como informou o Houaiss (2001),
“homem anônimo, indeterminado”.
(86)
E o indivíduo tinha o direito mas aí pagava por fora o médico né, e
nisso os médicos, muitos médicos ganharam muito dinheiro [...]
[NURC013/R-F4s]
185
6.2.3 O sujeito
Ferreira (2004), no item sete, apresenta essa palavra como “indivíduo
indeterminado, ou cujo nome se quer omitir”, justamente a mesma ideia apresentada
pelas gramáticas tradicionais apresentadas anteriormente. Compartilha também
dessa opinião o Houaiss (2001), dizendo que sujeito é a “pessoa indeterminada ou
cujo nome não se enuncia”, mantendo, portanto, a ideia defendida aqui, como algo
que está presente na vida social dos falantes, e não algo representativamente
sintático.
(87)
Amigo a Prova de Bala, porque ele, com aquele, aquele fogo cruzado
todo ele ainda tentou eh, me tirar do, mas não podia, mas aí ele ainda
continu, conseguiu, eh, entrar no bonde já parado, quando o sujeito
estava fugindo e o motorneiro alucinado aí ele me tirou botou num táxi
e me levou em casa, esse foi um, foi um acidente interessante no
bonde, bom, e aí era muito tranquilo porque o Farol da Barra era um
“footing” contínuo NE [...] [NURC013/R-F4s]
6.2.4 Nego
A palavra “nego” é originária de “negro”, como redução fonética negro > nego.
Sendo negro originário do latim niger, nira, nigrum; “diz-se de ou indivíduo de etnia
negra” (CUNHA, 2007). Embora faça referência à etnia negra, seu conteúdo
semântico se expandiu em caráter emocional na Bahia, mais especificamente em
Salvador, sendo empregado também para qualquer pessoa a que se tenha estima
ou então para falar de qualquer pessoa, não determinando quem seja.
(88)
Onde ela mora hoje e ficou um tempão lá de ... nego às vezes fazia de
lixo aí , mas chegou um tempo que ela tomou a tenência de fazer
quarto sala e cozinha, hoje em dia ela fez. [PEPP19-F2f]
(89)
Porque não tá como, o dia de hoje, hoje não, tá tudo uma violência
danada aí, um de, um descontrole danado, um desrespeito,
186
antigamente não era tanto assim, era, mas não era tanto, hoje você
não pode pisar num pé, você dentro de um ônibus pisar num pé aí,
nego já está querendo puxar a arma pra, pra querer, querer, tá
querendo chamar pra mão né, já está querendo tirar a vida da pessoa.
[PEPP30-M3f]
6.2.5 O pessoal, a(s) pessoa(s)
A palavra “pessoa” vem do latim, “persona”, significando o papel
desempenhado pelo ator, personagem (MACHADO, 1967, p. 1808; HOUAISS, 2001;
CUNHA, 2007). As formas como aparecem nos dados coletados não correspondem
exatamente ao uso “pessoa”, mas sempre com emprego do artigo, “a pessoa”, “as
pessoas” ou “o pessoal”. No singular, o usuário demonstra ter em mente quem é o
referente, mas ao utilizar “as pessoas” ou “o pessoal”, expressão que está no
singular, mas que denota ideia plural, ele generaliza, atribuindo a ação verbal a
qualquer pessoa, fazendo do referente um ser completamente genérico.
(90)
As vezes as, o pessoal briga porque gosta e as vezes é porque
acontece, tem uns mesmo que vão pro pagode ficam bêbado ou
drogado e aí já vai pra, procurar briga com os outros, tem gente que
tem um temperamento muito alto não aguenta aí começa, aí
começando uma briga, aí vem várias. [PEPP18-M1f]
(91)
Bom, eu acho que eu aprendi ler, assim, suficiente, escrever o, o
necessário, e minhas professoras graças a Deus eu me dei bem com
todas elas, com a diretora e tudo, eu me dava muito bem com as
pessoas, me dava não, me dou, é uma coisa que, quando a pessoa
toma antipatia por mim também não tem pra onde correr, mas quando
simpatiza, geralmente eu consigo a simpatia das pessoas. [PEPP09M2f]
(92)
As pessoas ainda sentam na porta para conversar, eu acho isso
fantástico, é uma das coisas assim, porque eu não quero sair da
187
Cidade Baixa, eu acho assim um clima que é completamente diferente
do resto da cidade. [NURC010/N-M2s]
6.2.6 O povo
Houaiss (2001) no item 14 apresenta a palavra “povo” como sinônimo de
“turma” e “gente. Já no item 16, ele diz que se trata também de “os seres humanos”,
“a humanidade”. Percebe-se nessas acepções que a expressão “o povo” também é
considerada uma forma genérica, que pode ser atribuída aos falantes de uma forma
geral, sem precisar especificá-los, portanto, uma forma indeterminadora.
(93)
Problema todo ...Inint... botei em cima governo, porque o governo não,
está todo mundo revoltado né, todo mundo revoltado, a maior parte de
gente, do povo tá revoltado, a maior parte do povo né, tá revoltado, não
tem emprego, não tem nada, não tem, não tem salário digno, não tem
educação, não tem a saúde, não tem nada, o povo só tá vivendo
assim mesmo, revoltado, qualquer coisa se revolta. [PEPP30-M3f]
6.2.7 O público
Inicialmente, Houaiss (2001), trata a palavra “público” como um adjetivo
referente a um povo, a coletividade, passando a informar depois outras concepções,
como algo que é destinado às pessoas de maneira geral, algo que pode ser
publicado, sinônimo também de platéia entre outras. O lexicógrafo também coloca a
concepção que se tinha de “público” em 1720, como sendo “o homem comum, do
povo”. Talvez seja essa a ideia que caracteriza essa forma como um item
indeterminador do sujeito.
(94)
Hoje já não é mais realidade, minha mulher, por exemplo, sai às 8 da
manhã, 9, às vezes um pouco mais tarde, porque ela, como é arquiteta,
eh... é trabalha com o público também , que acorda mais tarde, não é?
[NURC010/N-M2s]
188
6.2.8 O homem
O segundo conceito para “homem”, de acordo com Houaiss (2001), é de
“espécie humana, humanidade”, ou seja, um caráter bastante generalizador, como
se confirma no item 15, ao dizer que se trata de um “diacronismo” para designar
“qualquer pessoa”, portanto, o sujeito indeterminado, essa qualquer pessoa que
inventa algumas coisas, conforme o exemplo 91.
(95)
De... de... uma série de questão. Foi... tudo isso está aí, também. O
homem inventa algumas coisas que ele não sabe até onde vai dar,
quais são os reflexos. [NURC010/N-M2s]
6.2.9 Gente
A palavra “gente” foi usada isoladamente sem o artigo nos corpora estudados,
não se confundindo com a forma pronominal “a gente”. Primeiramente, Houaiss
(2001) informa que “gente” tem a mesma ideia de “multidão de pessoas, povo”. No
item 4, ele especifica mais ainda, dizendo que se trata de um “número indeterminado
de pessoas”.
(96)
Camiseta, é, malha de algodão, mas geralmente o que vai é isso, é a
calça e a blusa solta por cima. Tem gente que vai já de short, direto,
porque, hoje em dia, faz, e como é ginástica, não é aula de dança, o
pessoal faz muito aula de short, barriguinha de fora, então você já vai
com aquela roupa de lycra, bota uma blusa em cima, e já vai pronta
assim. E anda na rua, assim mesmo. [NURC0011/R-F3s]
189
7 A GENTE CONSIDEROU FINALMENTE
Conforme proposto desde o início do presente trabalho, buscou-se verificar se
haveria outras estratégias para marcar a indeterminação do sujeito pelos falantes de
Salvador e quais os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos que mais
influenciariam nesses usos.
Depois de realizada a pesquisa, foi constatado que, de fato, há outras formas
de indeterminar o sujeito que não só as formas apresentadas pelas Gramáticas
Tradicionais, como o verbo na terceira pessoa do plural e o verbo na terceira pessoa
do singular com a partícula “se”, ambos sem sujeito lexicalmente preenchido. As
estratégias “você”, “a gente” e as “formas nominais” foram as mais utilizadas nos
corpora estudados, caracterizando-se, assim, a distância entre o que é apresentado
pelas gramáticas normativas e o uso real da língua em Salvador.
Para que os objetivos pretendidos fossem alcançados, realizou-se uma
análise pormenorizada. Partiu-se do que se considerou mais geral, ou seja, a
relação entre as estratégias pronominais e não-pronominais, ao mais específico,
analisando estratégia por estratégia. Esse detalhamento possibilitou diversas
análises a partir das tabelas e gráficos obtidos com os dados numéricos.
Ao analisar as estratégias pronominais em relação às não-pronominais,
constatou-se que há uma preferência pelos falantes de Salvador em usar as
estratégias pronominais, tais como você, a gente, nós, eles e eu. Isso se verificou
através da quantidade de formas encontradas nos inquéritos investigados.
Os dados obtidos através da análise multivariada fizeram com que houvesse
uma consonância como que sinalizou Scherre e Naro (2004), quando disseram que
“marcas tendem a levar a marcas”, e confirmado também com o trabalho
desenvolvido por Santana (2006). Neste trabalho, essa constatação se deu com a
seleção da variável forma antecedente como a mais motivadora para o emprego das
formas pronominais, ou seja, houve uma tendência por parte dos falantes a
empregar estratégias anteriormente utilizadas, principalmente quando o referente
era mantido, resultado do cruzamento dessa variável com a mudança/manutenção
do referente.
Dentre as variáveis extralinguísticas que fizeram parte da rodada binária
tendo as estratégias pronominais como fator de aplicação, somente a escolaridade
foi selecionada pelo programa GoldVarb. O Ensino Superior contribui para que haja
190
o fortalecimento no uso dessas estratégias, ou seja, quanto mais escolaridade tem o
falante, maior é o seu leque de opções linguísticas para marcar a indeterminação do
sujeito em Salvador.
Continuando com o detalhamento da análise, passou-se a analisar todas as
estratégias pronominais e todas as não-pronominais, contrapondo uma com as
outras em duas rodadas eneárias distintas com a versão do Varbrul 2S. Como esse
tipo de rodada não faz seleção dos grupos de fatores que mais favorecem os
empregos das formas observadas, realizou-se em seguida rodadas isoladas, ou
seja, uma forma contra todas as outras.
Na rodada das estratégias pronominais, a forma a gente obteve maior input.
O maior peso relativo foi encontrado na variável forma antecedente para essa forma,
caracterizando esse grupo de fatores ainda como o mais favorecedor.
Ao analisar a rodadas das estratégias não-pronominais, a estratégia infinitivo
impessoal sem sujeito lexicalmente preenchido apresentou maior input. E mais uma
a variável forma antecedente apresentou maior peso relativo para o seu emprego.
As estratégias observadas ao longo deste trabalho foram analisadas
isoladamente,
realizando
tantas
rodadas
quantas
foram
as
formas
de
indeterminação do sujeito analisadas. Ao final, verificou-se que a variável forma
antecedente foi selecionada pelo GoldVarb em praticamente todas as rodadas e em
primeiro lugar, ou seja, como principal grupo de fatores. A exceção se deu para as
estratégias verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical com a partícula
se, que o selecionou em quinto lugar e a estratégia verbo na terceira pessoa do
plural sem sujeito lexical que não o selecionou.
Em muitas rodadas, essa variável veio conjugada com a variável
mudança/manutenção do referente, constatando-se que enquanto se mantém o
referente do sujeito, mantém também a estratégia utilizada anteriormente.
Levando-se em consideração também as variáveis extralinguísticas que
fizeram parte integrante desta pesquisa, a variável escolaridade foi a que mais
contribuiu também para o emprego das estratégias de indeterminação analisadas.
Tal grupo de fatores foi selecionado em praticamente todas as rodadas isoladas,
com exceção das estratégias verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical e
nas formas nominais.
191
A análise das formas nominais em uma seção a parte se deu, conforme foi
mencionado, por elas não fazerem parte das estratégias pronominais e nem das
não-pronominais, essas constituídas por verbos sem sujeito lexical.
Essa separação permitiu perceber que também há influência das formas
antecedentes para que se mantenha o seu emprego, como também perceber que
muitas palavras passaram pelo processo de gramaticalização, ou seja, além de
serem empregadas em sua maioria como substantivo simples ou coletivo, também
são usadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito.
Tendo em vista os resultados obtidos, os quais não se esgotam, abre-se o
caminho para pensar sobre uma revisão profunda e atenta dos conceitos e
exemplos difundidos nos manuais gramaticais a respeito dos estudos sobre a
indeterminação do sujeito. Sabe-se que toda língua é dinâmica por que a sociedade
que dela faz uso exige essa dinamicidade, uma renovação linguística para dar conta
das atuais necessidades comunicativas dos seus falantes, refletindo os usos reais e
concretos, distanciando-se mais do tradicionalismo, marcado, até então, por um nãouso, arcaico e descontextualizado.
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