UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS VALTER DE CARVALHO VOCÊ, A GENTE ET ALIA INDETERMINAM O SUJEITO EM SALVADOR Salvador 2010 VALTER DE CARVALHO VOCÊ, A GENTE ET ALIA INDETERMINAM O SUJEITO EM SALVADOR Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Estudo de Linguagens do Departamento de Ciências Humanas – Campus I da UNEB, como requisito obrigatório para obtenção do grau de Mestre em Letras. Orientadora: Profa. Dra. Norma Lopes Coorientadora: Profa. Dra. Celina Abbade Salvador 2010 FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592 Carvalho, Valter de Você, a gente et alia indeterminam o sujeito em Salvador / Valter de Carvalho. -Salvador, 2010. 197f. Orientadora: Norma da Silva Lopes. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. Campus I. 2010. Contém referências. 1. Sociolinguística – Salvador (BA). 2. Língua portuguesa – Salvador (BA) - Variação. 3. Língua portuguesa - Português falado – Salvador (BA). I. Lopes, Norma da Silva. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas. CDD: 410 VALTER DE CARVALHO VOCÊ, A GENTE ET ALIA INDETERMINAM O SUJEITO EM SALVADOR Dissertação aprovada como requisito parcial e obrigatório para obtenção do grau de Mestre em Letras, Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens do Departamento de Ciências Humanas – Campus I da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Profa. Dra. Norma da Silva Lopes – Orientadora Universidade do Estado da Bahia - UNEB ______________________________________________ Profa. Dra. Jacyra Andrade Mota Universidade Federal da Bahia - UFBA ______________________________________________ Profa. Dra. Lígia Pellon de Lima Bulhões Universidade do Estado da Bahia - UNEB Salvador, 23 de março de 2010. À mainha, pelo amor incondicional, companheirismo, amizade e dedicação. AGRADECIMENTOS A Deus, pela força, saúde e luz, sem as quais não conseguiria chegar até onde cheguei, vencendo todos os obstáculos. À minha mãe, Vitalina de Carvalho, que com seu amor colaborou para os propósitos de Deus em minha vida. À minha orientadora, Norma Lopes, mãe acadêmica que me gerou no seio da Sociolinguística, colega e, sobretudo, amiga. Muito obrigado pela paciência e dedicação antes e durante o mestrado. À minha coorientadora, Celina Abbade, não só por toda colaboração na produção deste trabalho, mas pela amizade, nascida em meio profissional e extrapolada para além fronteiras. Aos grandes amigos que são Lorena Nascimento e Jorge Martins, por me suportar com todo estresse durante a realização do mestrado e me apoiar em todos os momentos. Às minhas eternas amigas Ane e Taís cuja amizade foi construída na graduação, solidificada e mantida com amor ao longo de nossas vidas. A todos os meus colegas do curso de mestrado, especialmente às amigas fantásticas Fabíola, Sandra e Zoraide que compõem o “Quarteto Fantástico”. Os conselhos, incentivos e desabafos foram preciosos para vencer mais uma etapa. Às colegas e amigas Eliéte Oliveira e Marcela Paim, pelo grande incentivo para realização da seleção do mestrado. À Profa. Dra. Odete Menon, pelas valiosas contribuições acerca do tema deste trabalho e pela amizade que nasceu após os encontros nos eventos linguísticos. À amiga Neila Santana, que muito contribuiu para o enriquecimento desta pesquisa, não só enviando sua dissertação, mas também sugerindo algumas leituras. Às Profas. Dras. Jacyra Mota e Suzana Cardoso, que me acolheram no grande lar do Projeto Atlas Linguístico do Brasil – ALiB e também como aluno especial nas disciplinas ministradas no Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal da Bahia. Muito obrigado por ensinar-me os caminhos da Dialetologia e da Sociolinguística e, principalmente, a ser um ser humano melhor a cada dia. Quod abundat non nocet. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens (PPGEL) da Universidade do Estado da Bahia, pelo aprendizado acadêmico e incentivo. Aos funcionários administrativos do PPGEL, Camila e Danilo, que com presteza sempre me apoiaram em todo processo acadêmico. À Denise Silva por revisar o meu abstract com o maior carinho e atenção. À Edilza, minha diretora e amiga, que muito contribuiu para que várias etapas fossem concluídas. A todos os colegas e amigos que compartilham a vida pessoal, acadêmica e profissional nos mais diversos espaços, fazendo com que eu aprenda cada dia mais a construir um mundo melhor para mim e todos que me cercam. “Tentar aprisionar a língua é na verdade tentar cercear o espírito criador do ser humano.” Marta Scherre RESUMO A presente pesquisa investigou as principais estratégias para marcar a indeterminação do sujeito na fala urbana popular e culta de Salvador, registrando-as e descrevendo-as. Buscaram-se não só as formas consideradas canônicas pelas gramáticas tradicionais, tais como as formas verbais sem sujeito lexical expresso, o verbo na 3ª pessoa do plural (Ø+V3PP), o verbo na 3ª pessoa do singular mais o pronome “se” (Ø+V3PS+SE) ou ainda o verbo no infinitivo impessoal (Ø+VINF), mas também outras estratégias como “você”, “a gente”, “nós”, “eles”, “eu”, voz passiva sem a gente (VPSA), voz passiva sintética (VPASSINT) e as “formas nominais”, como, por exemplo, “o cara, o sujeito, o pessoal” entre outras. O trabalho foi desenvolvido de acordo com o enquadramento teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista, buscando identificar os contextos extralinguísticos ou sociais (gênero/sexo, escolaridade e faixa etária) e linguísticos (forma antecedente, mudança/manutenção do referente, tempo e modo verbal, tipo de verbo, preenchimento do sujeito, tipo de oração, grau de indeterminação) que justificassem os usos encontrados. Para a realização desta pesquisa, foram analisados quarenta e quatro inquéritos do tipo DID (Diálogo entre Informante e Documentador) do Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador (PEPP) e do Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta de Salvador (NURC-SSA). Os dados, após sua coleta, foram submetidos à quantificação através do pacote de programa Varbrul 2S e do GoldVarb X. Os resultados mostraram que os falantes de Salvador nos diversos níveis de escolaridade fazem uso de várias estratégias para marcar a indeterminação do sujeito, principalmente das formas pronominais “você” e “a gente”, influenciadas por diversos fatores extralinguísticos e linguísticos. PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística. Variação linguística. Língua Portuguesa. Indeterminação do sujeito. ABSTRACT The present research investigated the main strategies to mark the undetermination of the subject in urban speech popular and cultured of Salvador, registering them and describing them. The forms considered canonic for the traditional grammars, such as the verbal forms without expressed lexical subject, the verb in 3rd person of the plural (Ø+V3PP), the verb in 3rd person singular plus the pronoun “se” (Ø+V3PS+SE), the verb in the impersonal infinitive (Ø+VINF), but also other strategies as “você”, “a gente”, “nós”, “eles”, “eu”, passive voice without subject (VPSA), synthetic passive voice (VPASSINT) and the “nominal forms”, for example, “o cara, o sujeito, o pessoal” among others. The work was developed in accordance with the framing theoretician-methodological of the Variationist Sociolinguístics, having searched to identify to the extralinguistic or social contexts (gender/sex, education and age) and linguistics (antecedent form, change/maintenance of the referring one, verb tenses, verb type, fulfilling of the subject, sentence type, degree of undetermination) that they justified the uses found. For the accomplishment of this research, forty four inquiries of type DID (Dialogue between Informer and Documentor) of the Program of studies on the Popular Portuguese Speech of Salvador (PEPP) and of the Project of study of Cultured Urban Linguistic Norm of Salvador (NURC-SSA). The data, after its collection, were submitted to the quantification through the Varbrul 2S and GoldVarb X program. The results showed that the speakers of Salvador in the various levels of education make use of some strategies to mark the undetermination of the subject, mainly of the pronominal forms “você” and “a gente”, influenced for diverse extralinguistic and linguistics factors. KEY-WORDS: Sociolinguístics. Linguistics Change. Portuguese. Undetermination of the Subject. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora. 96 Tabela 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e nãopronominais. 98 Tabela 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável forma antecedente. 100 Tabela 4: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/ mudança do referente em relação à aplicação das estratégias pronominais. 100 Tabela 5: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável tempo e modo verbal. 101 Tabela 6: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável grau de indeterminação. 102 Tabela 7: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável escolaridade. 103 Tabela 8: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação das estratégias pronominais. 104 Tabela 9: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável mudança/manutenção do referente. 105 Tabela 10: Input de cada variante pronominal em análise eneária com o MVarb. 106 Tabela 11: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável gênero/sexo. 107 Tabela 12: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável faixa etária. 108 Tabela 13: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável escolaridade. 109 Tabela 14: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal. 110 Tabela 15: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável forma antecedente. 111 Tabela 16: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável mudança/manutenção do referente. 112 Tabela 17: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável preenchimento do sujeito. 113 Tabela 18: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal. 113 Tabela 19: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável grau de indeterminação. 114 Tabela 20: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tipo de oração. 115 Tabela 21: Input de cada variante não-pronominal em análise eneária com o MVarb. 116 Tabela 22: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável gênero/sexo. 117 Tabela 23: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável faixa etária. 118 Tabela 24: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável escolaridade. 119 Tabela 25: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal. 121 Tabela 26: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável forma antecedente. 122 Tabela 27: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável mudança/manutenção do referente. 123 Tabela 28: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável grau de indeterminação. 124 Tabela 29: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável tipo de oração. 124 Tabela 30: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável forma antecedente. 127 Tabela 31: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/ mudança do referente em relação à aplicação da variante “a gente”. 128 Tabela 32: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável preenchimento do sujeito. 128 Tabela 33: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável grau de indeterminação. 129 Tabela 34: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tempo e modo verbal. 130 Tabela 35: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade. 130 Tabela 36: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “a gente”. 131 Tabela 37: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 132 Tabela 38: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo. 133 Tabela 39: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tipo de oração. 133 Tabela 40: Aplicação da variante “você” em relação à variável forma antecedente. 134 Tabela 41: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/ mudança do referente em relação à aplicação da variante “você”. 135 Tabela 42: Aplicação da variante “você” em relação à variável preenchimento do sujeito. 135 Tabela 43: Aplicação da variante “você” em relação à variável grau de indeterminação. 136 Tabela 44: Aplicação da variante “você” em relação à variável tempo e modo verbal. 137 Tabela 45: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade 137 Tabela 46: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “você”. 141 Tabela 47: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária. 138 Tabela 48: Aplicação da variante “você” em relação à variável tipo de verbo. 141 Tabela 49: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo. 142 Tabela 50: Aplicação da variante “eles” em relação à variável forma antecedente. 145 Tabela 51: Aplicação da variante “eles” em relação à variável grau de indeterminação. 146 Tabela 52: Aplicação da variante “eles” em relação à variável preenchimento do sujeito. 146 Tabela 53: Aplicação da variante “eles” em relação à variável escolaridade. 146 Tabela 54: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “eles”. 148 Tabela 55: Aplicação da variante “eles” em relação à variável tempo e modo verbal. 149 Tabela 56: Aplicação da variante “eles” em relação à variável mudança/ manutenção do referente. 149 Tabela 57: Aplicação da variante “nós” em relação à variável forma antecedente. 150 Tabela 58: Aplicação da variante “nós” em relação à variável preenchimento do sujeito. 150 Tabela 59: Aplicação da variante “nós” em relação à variável tempo e modo verbal. 151 Tabela 60: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade. 151 Tabela 61: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo. 152 Tabela 62: Aplicação da variante “nós” em relação à variável grau de indeterminação. 154 Tabela 63: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária. 155 Tabela 64: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável forma antecedente. 158 Tabela 65: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável tipo de oração. 158 Tabela 66: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade. 159 Tabela 67: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo. 160 Tabela 68: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável forma antecedente. 161 Tabela 69: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/ mudança do referente em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS”. 161 Tabela 70: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tempo e modo verbal. 162 Tabela 71: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade. 162 Tabela 72: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária. 163 Tabela 73: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 165 Tabela 74: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável gênero/sexo. 166 Tabela 75: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e escolaridade em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS”. 166 Tabela 76: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e faixa etária em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS” 167 Tabela 77: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tipo de oração.168 Tabela 78: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tempo e modo verbal. 169 Tabela 79: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 170 Tabela 80: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável grau de indeterminação. 170 Tabela 81: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tipo de oração.171 Tabela 82: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária. 171 Tabela 83: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Ø+V3PP”. 172 Tabela 84: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária. 173 Tabela 85: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade. 174 Tabela 86: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 176 Tabela 87: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável tipo de verbo. 176 Tabela 88: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável forma antecedente. 177 Tabela 89: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/ mudança do referente em relação à aplicação da variante “Ø+V+SE”. 177 Tabela 90: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável forma antecedente. 179 Tabela 91: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável grau de indeterminação. 180 Tabela 92: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tempo e modo verbal. 180 Tabela 93: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 181 Tabela 94: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável gênero/sexo. 181 Tabela 95: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Formas Nominais”. 182 Tabela 96: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tipo de oração. 182 Tabela 97: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tipo de verbo. 183 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Principais distinções entre indeterminação e indefinição segundo Milanez (1982). 35 Quadro 2: Distribuição dos informantes nas células. 57 Quadro 3: Ordem de seleção das variáveis nas rodadas binárias em relação à cada variante. 126 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora. 97 Gráfico 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e não-pronominais. 98 Gráfico 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável escolaridade. 104 Gráfico 4: As estratégias pronominais em relação à variável gênero/sexo. 107 Gráfico 5: As estratégias pronominais em relação à variável escolaridade. 109 Gráfico 6: As estratégias não-pronominais em relação à variável gênero/sexo. 117 Gráfico 7: Aplicação da variante Ø+V+SE em relação à variável faixa etária. 119 Gráfico 8: As estratégias não-pronominais em relação à variável escolaridade. 120 Gráfico 9: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade. 131 Gráfico 10: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo. 133 Gráfico 11: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade. 138 Gráfico 12: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária. 139 Gráfico 13: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade. 140 Gráfico 14: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo. 142 Gráfico 15: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e escolaridade 143 Gráfico 16: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária. 144 Gráfico 17: Frequência da variante “eles” em relação à variável escolaridade. 147 Gráfico 18: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade. 152 Gráfico 19: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo. 153 Gráfico 20: Aplicação da variante “nós” em relação às variáveis gênero/sexo e escolaridade. 154 Gráfico 21: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária. 155 Gráfico 22: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável gênero/sexo. 156 Gráfico 23: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável escolaridade. 156 Gráfico 24: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade. 159 Gráfico 25: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade. 163 Gráfico 26: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária. 164 Gráfico 27: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade. 164 Gráfico 28: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária e gênero/sexo. 166 Gráfico 29: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/ sexo e faixa etária. 167 Gráfico 30: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/ sexo e faixa etária. 168 Gráfico 31: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária. 171 Gráfico 32: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária. 174 Gráfico 33: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade. 175 Gráfico 34: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade. 175 Gráfico 35: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável gênero/sexo. 181 LISTA DE ABREVIATURAS Apl. Aplicação Cf. Conferir D2 Diálogo entre dois informantes DID Diálogo entre informante e documentador EF Elocução formal FN Formas Nominais GT Gramática(s) Tradicional(is) Ind. Indicativo Nº Número NURC Projeto da Norma Urbana Culta Ø+V+SE Ø+V3PP Verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se” sem sujeito lexical Verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical Ø+V3PS Verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical Ø+VINF Verbo no infinitivo sem sujeito lexical P.R. Peso Relativo PASSINT Voz passiva sintética PEPP Programa de Estudo sobre o Português Popular Falado de Salvador SN Sintagma Nominal Subj. Subjuntivo T Total VARBRUL Variable Rules (Regras Variáveis) VARSUL Projeto Variação Linguística Urbana da Região Sul VARSUL Projeto Variação Linguística Urbana da Região Sul VPSA Voz passiva sem agente SUMÁRIO 1 COMEÇA-SE FALANDO QUE... 24 2 FUNDAMENTOU COM DUAS CORRENTES LINGUÍSTICAS 26 2.1 A SOCIOLINGUÍSTICA 26 2.1.1 A variação linguística 28 2.1.2 A mudança linguística 30 2.2 2.2.1 FUNCIONALISMO Gramaticalização 32 33 3 ESTUDARAM A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO 34 3.1 A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO 35 3.2 O ENFOQUE DAS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO 36 3.2.1 Gramática Metódica da Língua Portuguesa (ALMEIDA, 2005) 36 3.2.2 Gramática Normativa da Língua Portuguesa (ROCHA LIMA, 2008) 37 3.2.3 Nova Gramática do Português Contemporâneo (CUNHA; CINTRA, 2001) 37 3.2.4 Novíssima Gramática da Língua Portuguesa (CEGALLA, 2008) 38 3.2.5 Moderna Gramática Portuguesa (BECHARA, 1966; 2009) 39 3.3 A PERSPECTIVA DAS GRAMÁTICAS DESCRITIVAS 40 3.3.1 Gramática de Usos do Português (NEVES, 2000) 40 3.3.2 Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (AZEREDO, 2008) 42 3.4 O SUJEITO INDETERMINADO SOB O OLHAR DA SEMÂNTICA E DA PRAGMÁTICA 43 3.5 A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO EM OUTROS ESTUDOS 46 3.5.1 Recursos de Indeterminação do Sujeito (MILANEZ, 1982) 47 3.5.2 Os pronomes pessoais sujeito e a indeterminação do sujeito na norma culta de Salvador (ROLLEMBERG, 1991) 48 3.5.3 Indeterminação Pronominal do Sujeito (CUNHA, 1993) 48 3.5.4 Analyse sociolinguistique de l'indetermination du sujet dans le portugais parlé au Bresil, a partir des données du NURC/SP (MENON, 1994) 49 3.5.5 A indeterminação do sujeito nas três capitais do sul do Brasil (SETTI, 1997) 50 3.5.6 A indeterminação do sujeito na escrita padrão: a imprensa carioca nos séculos XIX e XX (CAVALCANTE, 1999) 52 3.5.7 A indeterminação do sujeito no interior paranaense: uma abordagem sociolinguística (GODOY, 1999) 52 3.5.8 A indeterminação do sujeito no português rural do semi-árido baiano (SANTANA, 2006) 54 3.5.9 A indeterminação do sujeito no português popular do interior do estado da Bahia (PONTE, 2008) 55 4 FOI DESENVOLVIDO ASSIM 56 4.1 OS CORPORA 57 4.1.1 Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de 58 Salvador – PEPP 4.1.2 Projeto Norma Urbana Culta – NURC / SSA 60 4.2 PARÂMETROS DE SELEÇÃO DAS OCORRÊNCIAS 61 4.3 VARIÁVEL DEPENDENTE 62 4.3.1 Eu 62 4.3.2 Nós 63 4.3.3 A gente 65 4.3.4 Você 66 4.3.5 Eles 68 4.3.6 Formas Nominais – FN 70 4.3.7 Verbo na terceira pessoa do plural – Ø+V3PP 71 4.3.8 Verbo mais a partícula “se” – Ø+V+SE 71 4.3.9 Verbo na terceira pessoa do singular – Ø+V3PS 74 4.3.10 Verbo no infinitivo impessoal – Ø+VINF 75 4.3.11 Voz passiva sem agente – VPSA 76 4.3.12 Voz passiva sintética – VPASSINT 77 4.4 VARIÁVEIS INDEPENDENTES 78 4.4.1 Variáveis Extralinguísticas ou Sociais 78 4.4.1.1 Gênero/sexo 78 4.4.1.2 Escolaridade 80 4.4.1.3 Faixa Etária 81 4.4.2 Variáveis Linguísticas 82 4.4.2.1 Tempo e modo verbal 82 4.4.2.2 Tipo de oração 83 4.4.2.3 Tipo de verbo 84 4.4.2.4 Forma antecedente 85 4.4.2.5 Mudança / manutenção do referente 90 4.4.2.6 Preenchimento do sujeito 90 4.4.2.7 Grau de indeterminação 91 4.5 O SUPORTE QUANTITATIVO 93 5 ANALISARAM-SE OS DADOS 96 5.1 ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS X NÃO-PRONOMINAIS 97 5.1.1 Forma antecedente 100 5.1.2 Tempo e modo verbal 101 5.1.3 Grau de indeterminação 102 5.1.4 Escolaridade 103 5.1.5 Mudança/manutenção do referente 105 5.2 ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS 105 5.2.1 Gênero/sexo 106 5.2.2 Faixa etária 108 5.2.3 Escolaridade 108 5.2.4 Tempo e modo verbal 110 5.2.5 Forma antecedente 111 5.2.6 Mudança/manutenção do referente 111 5.2.7 Preenchimento do sujeito 112 5.2.8 Tipo de verbo 113 5.2.9 Grau de indeterminação 114 5.2.10 Tipo de oração 114 5.3 ESTRATÉGIAS NÃO-PRONOMINAIS 115 5.3.1 Gênero/sexo 116 5.3.2 Faixa etária 118 5.3.3 Escolaridade 119 5.3.4 Tempo e modo verbal 120 5.3.5 Forma antecedente 121 5.3.6 Mudança/manutenção do referente 123 5.3.7 Grau de indeterminação 123 5.3.8 Tipo de oração 124 5.4 RODADAS BINÁRIAS POR ESTRATÉGIAS 125 5.4.1 Variantes pronominais 126 5.4.1.1 A gente 126 5.4.1.1.1 Forma antecedente 127 5.4.1.1.2 Preenchimento do sujeito 128 5.4.1.1.3 Grau de indeterminação 128 5.4.1.1.4 Tempo e modo verbal 129 5.4.1.1.5 Escolaridade 130 5.4.1.1.6 Mudança/manutenção do referente 132 5.4.1.1.7 Gênero/sexo 132 5.4.1.1.8 Tipo de oração 133 5.4.1.2 Você 134 5.4.1.2.1 Forma antecedente 134 5.4.1.2.2 Preenchimento do sujeito 135 5.4.1.2.3 Grau de indeterminação 136 5.4.1.2.4 Tempo e modo verbal 136 5.4.1.2.5 Escolaridade 137 5.4.1.2.6 Faixa etária 138 5.4.1.2.7 Tipo de verbo 141 5.4.1.2.8 Gênero/sexo 142 5.4.1.3 Eles 144 5.4.1.3.1 Forma antecedente 145 5.4.1.3.2 Grau de indeterminação 145 5.4.1.3.3 Preenchimento do sujeito 146 5.4.1.3.4 Escolaridade 146 5.4.1.3.5 Tempo e modo verbal 148 5.4.1.3.6 Mudança/manutenção do referente 149 5.4.1.4 Nós 149 5.4.1.4.1 Forma antecedente 150 5.4.1.4.2 Preenchimento do sujeito 150 5.4.1.4.3 Tempo e modo verbal 151 5.4.1.4.4 Escolaridade 151 5.4.1.4.5 Gênero/sexo 152 5.4.1.4.6 Grau de indeterminação 154 5.4.1.4.7 Faixa etária 155 5.4.2 Variantes não-pronominais 157 5.4.2.1 Verbo no infinitivo sem sujeito lexical – Ø+VINF 157 5.4.2.1.1 Forma antecedente 157 5.4.2.1.2 Tipo de oração 158 5.4.2.1.3 Escolaridade 158 5.4.2.2 Verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical – Ø+V3PS 160 5.4.2.2.1 Forma antecedente 160 5.4.2.2.2 Tempo e modo verbal 162 5.4.2.2.3 Escolaridade 162 5.4.2.2.4 Faixa etária 163 5.4.2.2.5 Mudança/manutenção do referente 165 5.4.2.2.6 Gênero/sexo 165 5.4.2.2.7 Tipo de oração 168 5.4.2.3 Verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical – Ø+V3PP 169 5.4.2.3.1 Tempo e modo verbal 169 5.4.2.3.2 Mudança/manutenção do referente 169 5.4.2.3.3 Grau de indeterminação 170 5.4.2.3.4 Tipo de oração 170 5.4.2.3.5 Faixa etária 171 5.4.2.4 Verbo na terceira pessoa do singular + se sem sujeito lexical – 172 Ø+V+SE 5.4.2.4.1 Faixa etária 173 5.4.2.4.2 Escolaridade 174 5.4.2.4.3 Mudança/manutenção do referente 176 5.4.2.4.4 Tipo de verbo 176 5.4.2.4.5 Forma antecedente 177 6 O PESSOAL TAMBÉM FOI CONTEMPLADO 178 6.1 DADOS NUMÉRICOS DAS FORMAS NOMINAIS 178 6.1.1 Forma antecedente 179 6.1.2 Grau de indeterminação 179 6.1.3 Tempo e modo verbal 180 6.1.4 Mudança/manutenção do referente 180 6.1.5 Gênero/sexo 181 6.1.6 Tipo de oração 182 6.1.7 Tipo de verbo 183 6.2 CONHECENDO AS FORMAS NOMINAIS 183 6.2.1 O cara 184 6.2.2 O indivíduo 184 6.2.3 O sujeito 185 6.2.4 Nego 185 6.2.5 O pessoal, a(s) pessoa(s) 186 6.2.6 O povo 187 6.2.7 O público 187 6.2.8 O homem 188 6.2.9 Gente 188 7 A GENTE CONSIDEROU FINALMENTE 189 REFERÊNCIAS 24 1 COMEÇA-SE FALANDO QUE... ...ao longo deste trabalho, as estratégias “você”, “a gente” e outras formas também indeterminam o sujeito em Salvador, não só as estruturas sem sujeito lexical com o verbo intransitivo ou transitivo direto acompanhado da partícula “se” ou o verbo na terceira pessoa do plural, conforme encontradas em várias gramáticas tradicionais, doravante GT. A indeterminação do sujeito ocorre de diversas maneiras na língua falada, principalmente quando o falante relata experiências vividas. Por exemplo, o uso do pronome “você” destacado neste trecho extraído de um dos inquéritos do Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador (PEPP), “se você vê a missa de seis horas, no Bonfim, se você chegar seis e quinze, não acha lugar pra sentar”. O item salientado faz referência a qualquer pessoa que chega à Igreja do Bonfim, as seis e quinze, não determinando quem é essa pessoa, ou seja, o sujeito, o referente extralinguístico. Do mesmo modo, a expressão “a gente”, que atualmente alterna no uso com o pronome pessoal de primeira pessoa plural “nós”, apresenta-se como marca da indeterminação do sujeito, como nesta frase do Projeto Norma Urbana Culta de Salvador, NURC/SSA, “[...] vinha pelo litoral norte da Bahia 36 léguas de terra, a começar na Praça da Ponte que a gente chama da Mariquita aqui em Salvador...”. A leitura de alguns trabalhos sobre o objeto desta pesquisa (cf. MILANEZ, 1982; ROLLEMBERG, 1991; CUNHA, 1993; MENON, 1994; SETTI, 1997; CAVALCANTE, 1999; GODOY, 1999; SANTANA 2006; FAGGION, 2008; PONTE, 2008) fez com que os objetivos fossem estabelecidos, as variantes fossem selecionadas e a metodologia traçada. Assim, tendo como ponto inicial a conceituação semântica de sujeito, este trabalho investigou se havia e quais seriam as outras estratégias usadas pelos falantes para marcar a indeterminação do sujeito na fala urbana popular e culta de Salvador e quais seriam condicionamentos extralinguísticos (ou sociais) e linguísticos que motivariam os usos encontrados, a partir do enquadramento teóricometodológico da Sociolinguística Quantitativa. 25 Buscando atender aos objetivos propostos nesta introdução, este trabalho foi desenvolvido em mais cinco seções, cujos títulos apresentam algumas das estratégias apontadas e que foram encontradas ao longo do seu desenvolvimento. A seção Fundamentou com duas correntes linguísticas aborda os pressupostos teóricos da Sociolinguística Quantitativa, principalmente em relação à definição da variação e da mudança linguística, como também sobre o Funcionalismo, especialmente sobre o processo de gramaticalização que, na interpretação dada por este trabalho, contribuiu para a transformação de alguns itens em um elemento com função de indeterminação. Em seguida, na seção intitulada Estudaram a indeterminação do sujeito, são apresentadas as abordagens acerca desse tema em algumas gramáticas normativas e descritivas, além de expor pesquisas realizadas sobre o objeto em questão, nas modalidades oral e escrita da língua portuguesa no Brasil. A metodologia empregada para dar conta dos objetivos pretendidos é descrita em Foi desenvolvido assim, quando são apresentados os corpora utilizados, os parâmetros de seleção das ocorrências, a descrição das variantes encontradas e as variáveis extralinguísticas e linguísticas contempladas. Após coleta de dados e sua quantificação realizada através do pacote de programas VARBRUL e do GoldVarb X, foi possível a obtenção de dados numéricos para proceder à análise feita em Analisaram-se os dados, apresentando os gráficos e tabelas com os resultados alcançados e devidamente comentados, a fim de buscar justificativas para os usos linguísticos encontrados ao longo de todo desenvolvimento do trabalho em relação à fala de Salvador. As formas nominais (ou sintagmas nominais) ganharam destaque, não só pela quantidade de usos encontrada, mas pela distinção das demais formas, uma vez que as outras são pronominais ou verbais sem preenchimento do sujeito. Assim, na seção O pessoal também foi contemplado, partindo de dados quantitativos, fazse uma análise do ponto de vista lexicológico e da gramaticalização, levantando as significações das lexias encontradas em alguns dicionários até chegar à indeterminação do sujeito, significação dada neste trabalho. Por fim, A gente considerou finalmente apresenta as considerações finais, as quais não se encerram e nem finalizam a pesquisa, apenas resumem os principais resultados obtidos ao longo do desenvolvimento deste trabalho e apontam possíveis encaminhamentos. 26 2 FUNDAMENTOU COM DUAS CORRENTES LINGUÍSTICAS “É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e entendimento de si própria e do mundo que a cerca.” (LEITE; CALLOU, 2004, p. 7) Nesta seção, traz-se à baila a definição da Sociolinguística, área da Linguística que busca compreender a relação entre língua e sociedade a partir dos usos reais de seus falantes, os quais fazem uso da linguagem para expressar seus conhecimentos e tentar entender a si mesmos e a sociedade na qual vivem. Como também o Funcionalismo, principalmente no que diz respeito à Gramaticalização, noção que será necessária para entendimento de algumas estratégias de indeterminação. 2.1 A SOCIOLINGUÍSTICA Um dos ramos da Linguística que surgiu para estudar os usos reais e concretos da língua foi a Sociolinguística, cujo termo foi fixado em 1964, em um congresso organizado por William Bright, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Neste evento, participaram diversos estudiosos que já percebiam e estudavam a relação existente entre linguagem e sociedade, tais como John Gumperz, Einar Haugen, William Labov, Dell Hymes, John Fisher e José Pedro Rona. Os trabalhos apresentados nesse congresso foram publicados, em 1966, sob o título “Sociolinguistics”, cujo capítulo introdutório “As dimensões da Sociolinguística”, escrito por Bright, definiu e caracterizou este novo ramo dos estudos linguísticos, estabelecendo a diversidade linguística como seu objeto de estudo (ALKMIM, 2005, p. 28). O termo sociolinguística foi cunhado naquela época por não terem encontrado outro que pudesse dar conta das intenções reais propostas por aqueles estudiosos. Inclusive o próprio Labov ([1972] 2008, p. 13) declarou: “por vários anos, resisti ao termo sociolinguística, já que ele implica que pode haver uma teoria ou prática linguística bem-sucedida que não é social”, pois toda prática linguística é também social. Daí, Calvet (2002, p. 12) afirmar que “se a língua é um fato social, a 27 linguística então só pode ser uma ciência social, isto significa dizer que a sociolinguística é a linguística”. De uma maneira mais ampla e esclarecedora, Cezario e Votre (2008, p. 142) dizem que a Sociolinguística é uma área que estuda língua em seu uso real, levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da produção linguística. Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação. Ao se estudar a diversidade linguística, torna-se claro que para os estudiosos supracitados a língua não é homogênea, mas heterogênea. Ela apresenta “diversas alternativas de dizer ‘a mesma’ coisa” (LABOV, [1972] 2008, p. 221), caracterizando assim a variação linguística. A Sociolinguística “é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso” (ALKMIN, 2005, p. 31), ocupando-se, portanto, de estudar a variação linguística, conforme definido acima, buscando “analisar e aprender a sistematizar variantes linguísticas usadas por uma mesma comunidade de fala” (TARALLO, 2003, p. 6) ou “comunidade linguística” (ALKMIN, 2005, p. 31). Em uma mesma cidade, bairro ou rua haveria tantas formas diferentes de uso de uma língua quanto seria a quantidade de falantes. Assim, uma “comunidade de fala”, como define Fernández (1998, p. 19, tradução nossa), é formada por um conjunto de falantes que compartilham efetivamente, pelo menos, uma língua, porém que, além disso, compartilham um conjunto de normas e valores de natureza sociolinguística: compartilham as mesmas atitudes linguísticas, as mesmas regras de uso, o mesmo critério quanto à avaliação dos fatos linguísticos, os mesmos padrões sociolinguísticos. O modelo de análise linguística elaborado por Labov serviu de base para vários estudiosos até os dias atuais, os quais convencionaram chamar de “modelo teórico-metodológico”, isso por que se trata de uma teoria que explica as diferentes formas de os falantes fazerem uso de sua língua, e utiliza-se de uma metodologia para coleta e análise de dados. Em seus estudos iniciais, Labov se concentrou no inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, em Massachusetts-EUA, em 1963, e 28 outros posteriores, tais como os estudos sobre a estratificação social do inglês falado na cidade de Nova Iorque e o estudo sobre o inglês falado por adolescentes negros do Harlem, também em Nova Iorque. Esse modelo de estudo também é conhecido como Sociolinguística Quantitativa, por fazer uso de dados numéricos, instituídos a partir dos dados coletados e quantificados, buscando dar um caráter mais preciso e objetivo aos estudos linguísticos, pois, segundo Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006, p. 107), não basta apontar a existência ou a importância da variabilidade: é necessário lidar com os fatos de variabilidade com precisão suficiente para nos permitir incorporá-los em nossas análises da estrutura linguística. Atualmente, emprega-se também a nomenclatura Sociolinguística Laboviana, fazendo menção ao seu precursor. Ao linguista variacionista importa estudar características linguísticas comuns de uma comunidade de falantes, pois é vivendo em grupo que há ou não a manutenção linguística das características dessa comunidade. Por exemplo, dentro de uma comunidade de fala haverá pessoas mais escolarizadas, e elas tentarão preservar a variante tida como padrão; sendo assim, o condicionante dessa variante não será uma delimitação geográfica, mas, nesse caso, social. Porém isso não implica que um determinado falante dessa mesma comunidade não possa fazer uso de uma variante menos prestigiada. A Sociolinguística surge diante da necessidade de tentar entender essa relação entre língua e sociedade. Sendo ela uma área da ciência da linguagem, buscará “verificar de que modo fatores de natureza linguística e extralinguística estão correlacionados ao uso de variantes nos diferentes níveis da gramática da língua – a fonética, a morfologia e a sintaxe” (BELINE, 2003, p. 125). 2.1.1 A variação linguística A variação linguística é um fenômeno intrínseco a toda e qualquer língua, contudo ela “não é aleatória, mas sim governada por restrições linguísticas e não linguísticas” (SILVA; SCHERRE, 1998, p. 39). Os falantes modificam seus 29 comportamentos diante da sociedade, e sua fala irá refletir esses posicionamentos. Assim, as formas alternativas utilizadas por esses usuários da língua para tratar mais ou menos da mesma coisa denominam-se variantes linguísticas, as quais serão tratadas como um conjunto denominado de variável dependente, ou seja, uma variável é concebida como dependente no sentido que o emprego das variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores (ou variáveis independentes) de natureza social ou estrutural (MOLLICA, 2004, p.11). As nomenclaturas de variável dependente e variáveis independentes foram emprestadas da estatística, por fazer uso das técnicas numéricas empregadas por essa ciência exata. A variável dependente diz respeito à forma linguística que está em variação, ou seja, que está fazendo parte do repertório linguístico dos falantes, os quais fazem escolhas quanto ao uso de uma ou outra forma. Vale ressaltar que essas escolhas, normalmente, são inconscientes. Os dados que são coletados para os estudos sociolinguísticos são, em sua maioria, de contextos naturais de uso, quando a fala não é tão monitorada, assim os falantes utilizam a língua com espontaneidade, sem sofrer qualquer tipo de pressão imposta por regras estruturais dos estilos formais de fala. Contudo essa escolha não é aleatória, depende dos fatores externos (ou sociais) à língua e dos fatores internos ou linguísticos, uma vez que a própria língua pode condicionar determinados usos. Diversos são os fatores externos à língua que podem determinar essas escolhas, entre eles o status social do falante, a influência da mídia, rede social, entre outros. Além desses, há também a possibilidade de se verificar a influência do nível de escolaridade, gênero/sexo e faixa etária (idade), os quais serão abordados na seção 4 juntamente com os fatores linguísticos selecionados para este trabalho. Diante do exposto, cabe ao sociolinguista, segundo Silva e Scherre (1998, p. 43), identificar os fenômenos linguísticos variáveis de uma dada língua, inventariar suas variantes, definindo as variáveis dependentes, levantar hipóteses que dêem conta das tendências sistemáticas da variação linguística, operacionalizar as hipóteses através de variáveis independentes ou grupos de fatores de natureza linguística e não linguística, identificar, levantar e codificar os dados relevantes, 30 submetê-los a tratamento estatístico adequado e interpretar os resultados obtidos à luz das hipóteses levantadas. 2.1.2 A mudança linguística Pensar em mudança linguística é, também, pensar em variação, pois, apesar de que “nem tudo o que varia sofre mudança; toda mudança linguística, no entanto, pressupõe variação. Variação, portanto, não implica mudança; mudança, sim, implica sempre variação” (TARALLO, 2003, p. 63). Cabe retomar a ideia de variação linguística para entender de uma maneira mais clara o que é a mudança linguística. Quando duas ou mais formas alternativas de se dizer mais ou menos a mesma coisa estão sendo empregadas em uma comunidade de fala, diz-se que elas estão em variação, ou seja, estão coocorrendo. Se um dia na história dessa comunidade uma das formas deixar de ser utilizada pelos falantes, será caracterizada a mudança linguística, pois uma das formas não faz mais parte do repertório linguístico, não está “na boca do povo”. A mudança linguística não se dá de maneira aleatória, assim como a variação; ela sofre influência de diversos fatores, sejam linguísticos ou extralinguísticos. Daí Weinreich, Herzog e Labov ([1968] 2006, p. 122) afirmarem que a mudança linguística não deve ser identificada com deriva aleatória procedente da variação inerente na fala. A mudança linguística começa quando a generalização de uma alternância particular num dado subgrupo da comunidade de fala toma uma direção e assume o caráter de uma diferenciação ordenada. A língua, principal ferramenta de comunicação dos membros de uma sociedade, também passa por mudanças para atender às necessidades de seus usuários. E isso se dá tanto na língua falada quanto na língua escrita. Em relação à falada, há uma adaptação mais rápida às alterações sofridas nos hábitos dos indivíduos. Contrariamente, a escrita tende a ser mais resistente às inovações linguísticas. Uma das técnicas empregadas pela Sociolinguística para buscar compreender se determinadas formas linguísticas estão em processo de mudança 31 ou já estão estabelecidas é o trabalho desenvolvido com falantes de diferentes faixas etárias em uma mesma época (estudo da mudança em tempo aparente). Há também o estudo da mudança em tempo real, quando, em sincronias diferentes, se observa um mesmo falante (estudo em painel) ou outros falantes que compartilham as mesmas características dos falantes já registrados (estudo de tendência). O estudo em tempo real é um tanto difícil de se realizar quando se trata do mesmo informante, pois ele com quarenta anos de idade, por exemplo, poderá não estar mais vivo depois de dez, vinte anos, ou até mesmo, poderá mudar de endereço e não ser mais encontrado pelos pesquisadores. Trabalhos na perspectiva do tempo real estão sendo desenvolvidos a partir de dados do Projeto da Norma Urbana Culta – NURC de Salvador, cujas entrevistas foram realizadas na década de 70 e os mesmos informantes que ainda se encontravam vivos foram recontactados na década de 90 do século passado. No caso de não haver contato com os antigos informantes, foram incluídos novo informantes com as mesmas características dos informantes anteriores. Há dados coletados em língua portuguesa em duas épocas diferentes e com os mesmos informantes ou informantes com as mesmas características. O recurso de análise em tempo aparente permite ao sociolinguista obter informações sobre a mudança linguística em uma mesma sincronia com falantes diferentes em idades diferentes. Por exemplo, a observação será realizada com dois falantes no ano de 2009. O falante “A” tem quarenta anos e o “B” vinte anos. Tendo em vista a análise em tempo aparente, acredita-se que o falante “A” representa a fala de um jovem de vinte anos em 1989, ou seja, vinte anos antes do falante “B”. De acordo com Mattos e Silva (1996, p. 27), o recurso de trabalhar com gerações conviventes permitiu à Sociolinguística apreender mudanças em curso ou em processo, ou seja, permitiu captar o processo de difusão da mudança na estrutura da língua e na comunidade de fala, o que até então não tinha sido alcançado porque, em geral, as teorias da mudança trabalhavam com a mudança no tempo histórico real. Conforme dito anteriormente, realizar uma pesquisa sociolinguística incluindo a variável idade permitirá ao estudioso observar a mudança ocorrida nas formas linguísticas que estão sendo investigadas, levantar hipóteses e obter resultados que permitam uma melhor compreensão dos usos que os falantes fazem de sua língua, 32 nos mais variados níveis, seja fonológico, morfológico, sintático, semântico, entre outros. Ao estudar a mudança linguística, o pesquisador poderá saber se ela está em progresso, por vias de concretização da mudança, ou se está consolidada. Somente o estudo em tempo real poderá confirmar se há de fato mudança. 2.2 FUNCIONALISMO Inicialmente, para se definir o que é o Funcionalismo, faz-se necessário compreender o que seja “funcional”, uma vez que essa palavra pode remeter a diversas ideias ligadas à linguística ou não. Para Martinet (apud NEVES, 1997, p. 5, grifo da autora), “o termo funcional só tem sentido para os linguistas ‘em referência ao papel que a língua desempenha para os homens, na comunicação de sua experiência uns aos outros.’” Daí, o funcionalismo ser sempre mencionado pelos pesquisadores como uma corrente oposta ao formalismo. O formalismo linguístico concebe a língua como um sistema autônomo, fechado em si mesmo. Estuda a língua em si mesma, as suas estruturas, o que pode ser regular. O funcionalismo, por sua vez, “privilegia a função comunicativa como papel predominante das línguas” (REGO, 2009, p. 53). Cunha (2008, p. 158), de uma maneira mais ampla e clara, define o funcionalismo como uma corrente linguística que se preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas. Assim, a abordagem funcionalista apresenta não apenas propostas teóricas distintas acerca da natureza geral da linguagem, mas diferentes concepções no que diz respeito aos objetivos da análise linguística, aos métodos nela utilizados e ao tipo dos dados utilizados como evidência empírica. Essa é uma noção geral sobre o funcionalismo, uma vez que ele apresenta diversas vertentes que dão conta de vários objetivos pretendidos ao se estudar a linguagem. Evidentemente, há uma base comum nessa corrente para classificar os mais diversos estudos como pertencentes a ela, a interação social, ou seja, “a 33 consideração metodológica de que o componente discursivo desempenha um papel preponderante na gramática de uma língua” (PEZATTI, 2004, p. 176). Dentre as diversas possibilidades de estudos funcionalistas, para este trabalho, importa tratar do processo de gramaticalização, uma vez que está intimamente ligado à mudança linguística. 2.2.1 Gramaticalização Dentre as possibilidades de estudos da mudança, a gramaticalização é uma “constante renovação do sistema linguístico – percebida, sobretudo, pelo surgimento de novas funções para formas já existentes e de novas formas para funções já existentes” (GONÇALVES et al., 2007, p. 15). Diante disso, entende-se por gramaticalização, segundo Castilho (1997, p. 31), o trajeto empreendido por uma forma, ao longo do qual, ela muda de categoria sintática, recebe propriedades funcionais na sentença, sofre alterações semânticas e fonológicas, deixa de ser uma forma livre e até desaparece como consequência de uma cristalização extrema. Pode-se, portanto, exemplificar esse processo através do item “você”, que já foi considerado, ao menos no Brasil, pronome de tratamento, passando a pronome pessoal de referência a segunda pessoa e atesta-se hoje também como uma das estratégias para indeterminar o sujeito na interação verbal (cf. subseção 4.3.4). O mesmo pode-se dizer da forma “a gente”, outrora considerado um substantivo simples mais o artigo definido feminino e, atualmente, sendo empregado como um pronome pessoal na mesma categoria que o “nós”, além, é claro, de ser empregado como uma das estratégias para marcar a indeterminação do sujeito. Esse mesmo fenômeno ocorre com outros substantivos, tais como “o cara”, “o indivíduo”, “o homem” entre outras formas que também estão sendo empregadas como marca de indeterminação do sujeito, conforme pode ser verificado na seção 6. 34 3 ESTUDARAM A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO Pensar no uso do termo indeterminação é questionar o que vem a ser o seu oposto, a determinação. Além disso, faz-se necessário pensar também na indefinição e impessoalização, termos abundantemente empregados que, muitas vezes, são confundidos. A determinação, segundo Milanez (1982, p. 26), ocorre quando os interlocutores especificam e identificam uma das três pessoas do discurso, ao contrário da indeterminação, cujas pessoas não são especificadas e identificadas, podendo abranger qualquer uma delas indistintamente. É o que se chama de generalização. O sujeito determinado é conceituado por Rocha Lima (2008, p. 235) quando é “identificável na oração – explícita ou implicitamente”, não havendo exemplificação a fim de tornar mais clara sua afirmação. Cunha e Cintra (2001, p. 127) citam o termo determinado atribuído ao sujeito quando da classificação de sujeito oculto, dizendo que “é aquele que não está materialmente expresso na oração, mas pode ser identificado”. Vê-se aí que é justamente a questão da identificação do sujeito que o classifica em determinado ou indeterminado. Em relação à indefinição, as gramáticas normativas a tratam em relação aos pronomes ditos como indefinidos, de acordo com Santana (2006, p. 43, grifos da autora) ao dizer que na indefinição a referência diz respeito exclusivamente a formas lexicais de terceira pessoa: tudo, nada, alguém, ninguém etc., enquanto na indeterminação a generalização é essencial, podendo envolver qualquer pessoa (primeira, segunda e terceira) de forma isolada ou simultânea. Assim, Milanez (1982, p. 38-42) propõe alguns aspectos que devem ser observados para a distinção entre a indeterminação e a indefinição, os quais serão elencados no quadro a seguir: 35 Indeterminação Restringe-se apenas aos seres humanos. Indefinição Não se restringe apenas aos seres humanos, pois pode se referir também aos não-humanos. Apresenta recursos sintaticamente distintos entre si, referindo-se a qualquer pessoa do discurso, independente de sua marca pertencer a uma das três pessoas. Envolve formas lexicais exclusivas de terceira pessoa, tal como alguém, algo, todo, nada etc., não podendo se remeter a outras pessoas do discurso. A generalização é uma condição essencial para que a indeterminação ocorra. A generalização é apenas uma possibilidade. A quantificação não importa, pois tanto o singular quanto o plural tem referência genérica. A quantificação é importante para diferenciar a indefinição da definição. Depende do contexto para sua interpretação. Pode ser interpretado no nível frasal. Não é possível identificar de modo preciso as pessoas do discurso. Está no campo da determinação, uma vez que é possível identificar uma das pessoas do discurso. Quadro 1: Principais distinções entre indeterminação e indefinição segundo Milanez (1982). Por fim, a impessoalização que, segundo Milanez (1982, p. 48, grifo da autora), é “uma propriedade de certos verbos que, por sua própria natureza, não atribuem a seus SN-sujeitos nenhuma função referencial”, como é o caso do infinitivo tido como impessoal, por não haver um sujeito que faça referência. 3.1 A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO Diferenciados os termos determinado, indeterminado e impessoalização, cabe agora adentrar no tema do presente estudo: a indeterminação do sujeito, termo empregado pelas Gramáticas Tradicionais, que aqui é entendido como a indeterminação do referente, ou seja, o agente da ação verbal que se encontra em um contexto externo ao linguístico, compartilhando do mesmo mundo concreto que os falantes participantes da interação verbal no ato de comunicação. Nota-se que não há uma explicação aceitável no contexto sintático para o uso do termo “indeterminado”, uma das classificações atribuídas ao sujeito. Inicialmente, 36 dever-se-ia tornar claro o que seria um sujeito “determinado” em oposição ao “indeterminado”. Ao observar as outras classificações do sujeito apresentadas pelas GT, tal como “oculto”, “simples”, “composto” entre outras, verifica-se que elas fazem referência à forma, em oposição à classificação de sujeito “indeterminado” que é semântica (MILANEZ, 1982, p. 11). Dessa forma, faz-se necessário trazer à baila as abordagens que algumas gramáticas tidas como tradicionais e descritivas fazem sobre esse objeto de estudo. Aqui, serão apresentadas algumas das mais conhecidas, selecionadas a partir do fácil acesso que se obteve ao longo do desenvolvimento da pesquisa. 3.2 O ENFOQUE DAS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO As gramáticas tradicionais que serão apresentadas a seguir, em relação ao tratamento dado ao sujeito indeterminado, foram ordenadas de acordo com o ano de publicação. Os dois últimos, respectivamente Cegalla e Bechara, lançaram uma nova edição de seus manuais, incluindo o Novo Acordo Ortográfico de 1990, em vigor no Brasil desde 2008. 3.2.1 Gramática Metódica da Língua Portuguesa (ALMEIDA, 2005) Almeida (2005, p. 414), em sua “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”, diz que “o sujeito é indeterminado quando de impossível identificação”, podendo ser empregado com verbos tidos como “ativos, acidentalmente impessoalizados na 3ª pessoa do plural”, conforme exemplo 01, ou com verbos “acidentalmente impessoalizados na passiva”, como o exemplo 02: (01) “Dizem que ele vem.” (02) “Assim se vai aos céus.” 37 3.2.2 Gramática Normativa da Língua Portuguesa (ROCHA LIMA, 2008) Rocha Lima (2008, p. 235, grifos do autor), mantendo o mesmo postulado que o gramático anterior, diz que é sujeito indeterminado “se não pudermos ou não quisermos especificá-lo”. O gramático completa sua definição dizendo que Vale-se a língua de um dos dois expedientes: 1) Empregar o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência anterior ao pronome eles ou elas, e a substantivo no plural [cf. exemplos 03 e 04]; 2) Usá-lo na 3ª pessoa do singular acompanhado da partícula se, desde que o verbo seja intransitivo, ou traga complemento preposicional [cf. exemplos 05 e 06]. Há ainda exemplos citados por Rocha Lima (2008, p. 235) para elucidar melhor sua explicação: (03) “Falam mal daquela moça.” (04) “Mataram um guarda.” (05) “Vive-se bem aqui.” (06) “Precisa-se de professores.” 3.2.3 Nova Gramática do Português Contemporâneo (CUNHA; CINTRA, 2001) A caracterização do sujeito indeterminado na visão de Cunha e Cintra (2001, p. 128) não é diferente do que já foi exposto, definindo-se quando “algumas vezes, o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem executa a ação, ou por não haver interesse no seu conhecimento”. Após essa definição, esses gramáticos dizem que só há duas possibilidades de marcar esse tipo de sujeito (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 128, grifos dos autores): colocando o verbo na “3ª pessoa do plural” (ver exemplos 07 e 08) ou na “3ª pessoa do singular, com o pronome se”: 38 (07) “- Contaram-me, quando eu era pequenina, a história duns náufragos, como nós.” (08) “Reputavam-no o maior comilão da cidade.” (09) “Ainda se vivia num mundo de certezas.” (10) “Precisa-se do carvalho; não se precisa do caniço.” 3.2.4 Novíssima Gramática da Língua Portuguesa (CEGALLA, 2008) De forma bem sucinta, Cegalla (2008, p. 325, grifos do autor) afirma que o sujeito indeterminado é “quando não se indica o agente da ação verbal”. Para marcá-lo, o gramático apresenta três possibilidades, diferenciando-se dos gramáticos citados anteriormente: Em português, assinala-se a indeterminação do sujeito de três modos: a) usando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente já expresso nas orações anteriores. Exemplos: Na rua olhavam-no com admiração. “Bateram palmas no portãozinho da frente.” (Josué Guimarães) “De qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.” (Rubem Braga) b) com um verbo ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. Exemplos: Aqui se vive bem. Devagar se vai ao longe. Quando se é jovem, a memória é mais vivaz. Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar. “E passou-se a falar em internacionalização da Amazônia.” (Tiago de Melo) [...] c) deixando-se o verbo no infinitivo impessoal. Exemplos: Era penoso carregar aqueles fardos enormes. É triste assistir a estas cenas repulsivas. 39 3.2.5 Moderna Gramática Portuguesa (BECHARA, 1966; 2009) A abordagem de Bechara acerca da indeterminação do sujeito mudou ao longo de quarenta e três anos, período que distancia a décima edição (1966) da trigésima sétima edição (2009) de sua Moderna Gramática Portuguesa. Em sua edição mais antiga, Bechara (1966, p. 247, grifos do autor) define o sujeito indeterminado como o “que não se nomeia ou por não se querer ou por não se saber fazê-lo”, indicando que a língua portuguesa se vale de duas maneiras distintas para marcá-lo: a) pondo o verbo da oração (ou o auxiliar, se houver locução verbal) na 3ª pessoa do singular ou, mais frequentemente, do plural, sem referência a pessoa determinada: Diz que eles são bem (diz = dizem) Dizem que eles vão bem Estão chamando o vizinho b) empregando o pronome se junto a verbo de modo que a oração passe a equivaler a outra que tem por sujeito alguém, a gente ou expressão sinônima: Vive-se bem aqui Precisa-se de bons empregados O pronome se nesta aplicação sintática recebe o nome de índice de indeterminação do sujeito. Atualmente, esse tipo de sujeito não é abordado por esse gramático, talvez por definir de forma diferenciada o que vem a ser sujeito. Para o gramático, o sujeito é uma noção gramatical, e não semântica, isto é, uma referência à realidade designada, como ocorre com as noções de agente e paciente. Assim, o sujeito não é necessariamente o agente do processo designado pelo núcleo verbal (BECHARA, 2009, p. 410, grifos do autor). Portanto, o sujeito indeterminado está no campo da referência, no mundo extralinguístico, fora dos domínios textuais. Essa perspectiva também foi registrada por Hauy (1986, p. 58, grifos do autor) em relação à “Gramática da língua portuguesa” de Carlos Góis e Herbert Palhano: 40 Nota – Quando o sujeito da oração é um indefinido, há apenas indeterminação psicológica. Na análise sintática de – “Alguém terminou o trabalho” – por exemplo, devemos declarar: sujeito simples, representado pelo pronome indefinido alguém. Não podemos esquecer que a análise sintática se fundamenta na sintaxe, que é uma das partes em que se divide a Gramática. A partir dessa postura sobre o tipo de sujeito em questão, cabe mencionar outras gramáticas de língua portuguesa que compreendem essa noção de maneira mais inovadora e menos tradicional, conforme será visto a seguir. 3.3 A PERSPECTIVA DAS GRAMÁTICAS DESCRITIVAS As gramáticas descritivas que serão apresentadas a seguir foram ordenadas de acordo com o ano de publicação. Há de se manter o conceito de sujeito indeterminado apresentado pelas GT supracitadas, mas com a concepção de “referente extralinguístico” apontado por Menon (2006, p. 129): Para mim, indeterminação do sujeito concerne os casos em que não se pode ou não se quer nomear o sujeito, na acepção de ‘referente extralinguístico’. No entanto, o referente é conhecido pelo locutor (e em certos casos, também do interlocutor, o que torna possível a compreensão mútua) e se ele quisesse ou se isso lhe fosse conveniente ou interessante, ele poderia nomeá-lo ou descrevê-lo. Nesse sentido, o referente pode ser recuperado pelo locutor a qualquer hora. Trata-se, antes de tudo, de uma maneira de escamotear o sujeito extralinguístico por meio de uma forma de expressão linguística, em função da situação de comunicação. 3.3.1 Gramática de Usos do Português (NEVES, 2000) Em sua “Gramática de usos do português”, Neves (2000, p. 463-465) apresenta outras formas tidas como mais inovadoras1 para marcar o sujeito indeterminado, inclusive lexicalmente preenchido, conforme os exemplos 11, 12 e 1 Aqui, inovador é todo recurso utilizado para marcar a indeterminação do sujeito que não sejam as formas canônicas apontadas pelas GT. 41 13, sendo que esse último ela considera como indeterminação parcial, uma vez que ele “só abrange o universo das terceiras pessoas”: (11) “VOCÊ vai lá, fica dois dias fazendo curso, eles te catequizam, fazem VOCÊ comprar uma tonelada de sabão e abrir o seu negócio. (OMT)” (12) “EU vou lá, fico dois dias fazendo curso, eles ME catequizam, ME fazem comprar uma tonelada de sabão e abrir o meu negócio.” (13) “Sabe como é, quando a gente se acostuma com uma coisa, ELES inventam outra. (E)” Além disso, Neves também apresenta outros exemplos nos quais o sujeito não está lexicalmente preenchido. Os exemplos 14 e 15 estão em consonância com os ditames tradicionais da gramática, vislumbrados na seção anterior, enquanto os exemplos 16 e 17 caracterizam-se como mais inovadores, uma vez que não são contemplados nas gramáticas normativas. Inclusive a autora faz menção ao exemplo 16 como sendo “menos comum e de registro mais popular”. Já o exemplo 17 é classificado como marca de indeterminação parcial, pois “pelo menos uma referência é determinada, porque sempre está incluído o falante (o eu)”: (14) “Jogaram alguém na piscina; a velha cena da festinha em que todo mundo cai na piscina. (BL)” (15) “Falava-SE de Pedro. (A)” (16) “Lá tira título de eleitor, documento. (HO)” (17) “NÓS, todos NÓS, o ser humano não suporta o sucesso de outro ser humano, NÓS odiamos o Pelé. (OMT)” 42 3.3.2 Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (AZEREDO, 2008) Uma visão mais inovadora sobre a indeterminação do sujeito, que inclusive é apontada por alguns trabalhos sobre esse objeto, já é encontrada na gramática de Azeredo (2008, p. 225), elaborada em homenagem ao filólogo Antônio Houaiss: Orações de sujeito indeterminado são empregadas por motivos cognitivos ou discursivos variados, e a língua oferece a seus usuários diferentes meios para indeterminar, dissimular ou mesmo ocultar a identidade do ser humano a quem o sujeito da oração se refere. A razão cognitiva óbvia é o desconhecimento da identidade do ser de que se fala. As razões discursivas, por sua vez, são variadas: a conveniência ou oportunidade da omissão da identidade do sujeito é uma delas, o registro de linguagem empregado ou o gênero de texto produzido é outra. Esse autor cita os processos mais tradicionais apontados pelos autores anteriormente citados (verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical Ø+V3PP e verbo intransitivo ou transitivo direto com a partícula “se” sem sujeito lexical - Ø+V+SE), mas não deixa de incluir também outras formas para marcar a indeterminação do sujeito, além das formas canônicas apresentadas. Contudo, ele faz uma ressalva que essas outras formas fazem parte de uma “interação mais espontânea”, como o verbo na terceira pessoa do singular sem o “se” (Ø+V3PS) e sintagmas nominais com significação genérica ou indeterminadora, tal como “a gente, muita gente, todo mundo no papel de sujeito simples”. Sobre essa fala mais “espontânea”, Said Ali (2006, p. 162) já dizia que o falar coloquial não se opõe obstinadamente ao que está em uso na linguagem literária e entre as pessoas cultas. Tanto se serve da expressão a gente, como do verbo acompanhado do pronome se para dar a entender que o sujeito psicológico do verbo é pessoa ou são pessoas indeterminadas. Embora as inovações linguísticas em relação à indeterminação do sujeito tenham sido citadas apenas pelas gramáticas descritivas abordadas aqui, Hauy (1986, p. 58) já mencionava outras obras que apresentavam algumas das inovações levantadas, além, é claro, dos padrões apontados na subseção 2.2. Há, por exemplo, registro do uso da forma “a gente” na “Gramática fundamental da língua portuguesa” de Gladstone Chaves de Melo, na qual o gramático cita um trecho do 43 livro “Três romances” de Raquel de Queiroz como exemplo de marcação do sujeito indeterminado, tal como as gramáticas consideradas mais tradicionais fazem uso dos grandes escritores da língua portuguesa tidos como clássicos: (18) “Passando num meio-dia quente, ao trote penoso do cavalo, a gente pára ali...” (HAUY, 1986, p. 58 apud MELO, 1970, p. 194, grifo do autor) 3.4 O SUJEITO INDETERMINADO SOB O OLHAR DA SEMÂNTICA E DA PRAGMÁTICA A função de sujeito indeterminado apresentada pelas gramáticas tradicionais, entendida neste estudo como a indeterminação do referente do sujeito, parte do uso do verbo mais uma estratégia de indeterminação pronominal (nós, a gente, você, nós, eu ou eles), nominal (formas nominais – FN, tal como “o pessoal”, “o indivíduo” etc.) ou ausência de sujeito lexical (verbo na terceira pessoa do singular com ou sem a partícula “se” - respectivamente Ø+V+SE e Ø+V3PS - ou verbo na terceira pessoa do plural - Ø+V3PP). Essas estratégias fazem parte do repertório linguístico dos falantes brasileiros conforme apontado por Milanez (1982), Rollemberg (1991), Menon (1994), Setti (1997), Cavalcante (1999), Godoy (1999), Santana (2006) e Ponte (2008). Segundo Benveniste ([1966] 2005, p. 247), “em todas as línguas que possuem um verbo, classificam-se as formas da conjugação segundo a sua referência à pessoa, constituindo a enumeração das pessoas propriamente a conjugação”, ou seja, estabelecendo os papéis dos interlocutores em momentos de interação comunicativa: a primeira pessoa (o emissor), caracterizada por esse autor de EU e a segunda pessoa (o receptor), o NÃO-EU. Nesse posicionamento não inclui a terceira pessoa, a NÃO-PESSOA, uma vez que a preocupação na interação verbal está nas pessoas envolvidas no discurso, quem fala e quem ouve. A NÃOPESSOA diz respeito ao próprio objeto da enunciação, o enunciado em si (LOPES; RUMEU, 2007, p. 423). Tradicionalmente, as três pessoas discursivas são “eu”, “tu” e “ele”, respectivamente quem fala, quem ouve e de quem se fala. Contudo, segundo 44 Benveniste ([1966] 2005, p. 248, grifo do autor) essas “denominações não nos informam nem sobre a necessidade da categoria, nem sobre o conteúdo que ela implica nem sobre as relações que reúnem as diferentes pessoas”. De acordo com a gramática tradicional, as formas “nós, vós” e “eles” são tidas como plural de “eu, tu e ele”. Tal afirmação é negada por Benveniste ([1966] 2005, p. 256), que defende que não se pode caracterizá-las como apenas em um processo de pluralização, pois se não pode haver vários “eu” concebidos pelo próprio “eu” que fala, é porque “nós” não é uma multiplicação de objetos idênticos mas uma junção entre o “eu” e o “não-eu”, seja qual for o conteúdo desse “nãoeu”. Essa junção forma uma totalidade nova e de um tipo totalmente particular, no qual os componentes não se equivalem: em “nós” é sempre “eu” que predomina, uma vez que só há “nós” a partir de “eu” e esse “eu” sujeita o elemento “não-eu” pela sua qualidade transcendente. A presença do “eu” é constitutiva de “nós”. Essa relação também se aplica aos outros pronomes, uma vez que “nós” pode ser formado também a partir do “eu” + “eles”. Por isso não se pode compreender o “nós” como “um ‘eu’ quantificado ou multiplicado, é um ‘eu’ dilatado além da pessoa estrita, ao mesmo tempo acrescido de contornos vagos” (BENVENISTE, [1966] 2005, p. 258). Para tentar perceber as diferenças existentes entre as formas de indeterminação do sujeito, faz-se necessário refletir sobre a categoria de pessoa proposta por Benveniste (BENVENISTE, [1966] 2005, p. 250), quando afirma que nas duas primeiras pessoas, há ao mesmo tempo uma pessoa implicada e um discurso sobre essa pessoa. Eu designa aquele que fala e implica ao mesmo tempo um enunciado sobre o “eu”: dizendo eu, não posso deixar de falar de mim. Na segunda pessoa, “tu” é necessariamente designado por eu e não pode ser pensado fora de uma situação proposta a partir do “eu”; e, ao mesmo tempo, eu enuncia algo como um predicado de “tu”. Da terceira pessoa, porém, um predicado é bem enunciado somente fora do “eu-tu”; essa forma é assim exceptuada da relação pela qual “eu” e “tu” se especificam. Daí, ser questionável a legitimidade dessa forma como “pessoa”. Benveniste completa essa reflexão dizendo que “a forma dita de terceira pessoa comporta realmente uma indicação de enunciado sobre alguém ou alguma coisa, mas não referida a uma ‘pessoa’ específica”, logo essa pessoa se mencionada no discurso é indeterminada. Assim sendo, “a ‘terceira pessoa’ não é 45 uma ‘pessoa’; é inclusive a forma verbal que tem por função exprimir a ‘não-pessoa’” (BENVENISTE, [1966] 2005, p. 251). Lopes e Rumeu (2007, p. 423) explicam que “a dita ‘não-pessoa’ combina-se com verbos que, nas línguas do mundo, em geral, levam desinência zero, confirmando a sua impessoalidade”, ou seja, ausência de uma marca que leve a considerá-la dessa ou daquela pessoa. Nessa relação “eu-tu”, identificadas como “pessoa”, opõe-se à forma “ele” como a “não-pessoa”. Portanto, as formas de indeterminação do sujeito que fizer referência a “não-pessoa” estarão apresentando um maior grau de indeterminação em relação às demais formas. Isso também é colocado por Benveniste ([1966] 2005, p. 258) quando diz que quanto à não-pessoa (terceira pessoa), a pluralização verbal, quando não é o predicado gramaticalmente regular de um sujeito plural, cumpre a mesma função que nas formas “pessoais”: exprime a generalidade indecisa do on (tipo dicunt, they say [= “dizem”]. É a própria não-pessoa que, estendida e ilimitada pela sua expressão, exprime o conjunto indefinido dos seres não pessoais. Milanez (1982, p. 80) classifica as estratégias de indeterminação quanto ao grau, tomando como base essas noções semântico-pragmáticas e as formas lexicais dos recursos. Sendo assim, as estratégias “Ø+V+SE” e “Ø+V3PS”, além da forma “Ø+VINF” (verbo no infinitivo sem sujeito lexical) que não foi mencionada anteriormente, são consideradas por Milanez (1982, p. 80) com o mais alto grau de indeterminação do sujeito por que “distanciam-se de referências específicas a qualquer das três pessoas do discurso, uma vez que são marcadas quanto à pessoa”. Contrariamente às formas despronominalizadas citadas, os pronomes “a gente, você, eu, nós” não apresentam um caráter tão genérico porque, ainda que “envolvam pessoas não determinadas pelo contexto, ainda mantêm referências específicas aos protagonistas da situação dialogal” (MILANEZ, 1982, p. 81, grifo da autora). Observando-se o uso de eu ou a gente percebe-se que há a possibilidade de incluir no contexto a primeira pessoa (o emissor, EU) ou o uso de “você” que pode incluir a segunda pessoa (o receptor, NÃO-EU). Milanez (1982, p. 81, grifos da autora) ainda chama a atenção para a aplicabilidade de “a gente” que é diferente de “você” e “eu”, pois se apresentam com distinção em relação às pessoas envolvidas na interação comunicativa, dizendo que 46 enquanto que o primeiro inclui a 1ª pessoa de uma forma real, os dois últimos envolvem os interlocutores apenas hipoteticamente, uma vez que a circunstância relatada com esses pronomes nada tem a ver, necessariamente, com a situação pessoal do falante ou do ouvinte. Em menor grau de indeterminação aparecem as formas “Ø+V3PP” e o pronome “eles”, segundo Milanez (1982, p. 81), fazendo questão de frisar que essa última estratégia é a que apresenta menor grau de todas as apontadas anteriormente, pois além de ser exclusivo de 3ª pessoa (como a forma Ø + 3ªp. pl.), ainda ocorre normalmente antecedido por uma referência a um grupo social a que o agente verbal pertence, o que restringe ainda mais o seu campo de abrangência. Em relação ao recurso de indeterminação “Ø+V3PP”, há ainda de se considerar sua relação com a outra estratégia pronominal “eles”, uma vez que são compatíveis, pois segundo Lopes e Rumeu (2007, p.419, grifos das autoras), “os estudos linguísticos mostram que o português do Brasil estaria passando de uma língua de sujeito nulo para uma língua de sujeito pleno”. 3.5 INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO EM OUTROS ESTUDOS2 Ao iniciar os estudos sobre a indeterminação do sujeito na fala urbana culta e popular da cidade de Salvador, buscaram-se pesquisas já realizadas sobre o fato linguístico em questão, os quais auxiliaram na fixação da metodologia que foi utilizada para a definição das variantes levantadas, coleta e quantificação dos dados. A ordenação de trabalhos levou em consideração o ano de defesa e/ou publicação. Cabe ainda ressaltar que o que será mostrado diz respeito aos resultados obtidos pelos pesquisadores em suas dissertações e teses, visto que alguns deles foram citados anteriormente sob o ponto de vista conceitual. 2 As gramáticas normativas e descritivas apresentadas são consideradas também estudos acadêmicos sobre a língua portuguesa. Daí chamar as dissertações e teses sobre a indeterminação do sujeito como “outros estudos”. 47 3.5.1 Recursos de indeterminação do sujeito (MILANEZ, 1982) Numa perspectiva gerativista transformacional, considerando também aspectos dos estudos pragmáticos de Benveniste, Milanez faz uma análise dos recursos de indeterminação do sujeito, a partir de dados obtidos nos inquéritos do Projeto NURC/São Paulo, classificando-os tanto à ausência de sujeito lexical (como o verbo na terceira pessoa do singular e do plural, construções com a partícula “se” e o infinitivo), quanto ao preenchimento com o sujeito lexical (como as formas “a gente”, “você” e “eles”). Milanez (1982, p. 135, grifos da autora) concluiu que a indeterminação do sujeito só é passível de explicação no nível semântico-pragmático, uma vez que o reconhecimento de seus recursos não se fez exclusivamente pela forma lexical dos mesmos, mas sobretudo pelo significado generalizador abrangente às três pessoas do discurso, de que este podem estar revestidos, numa determinada situação linguística. Neste sentido, a indeterminação se revela como um fenômeno dependente de contexto para sua interpretação. Além de tecer esse comentário sobre a caracterização de seu objeto de estudo, Milanez (1982, p. 136) chama a atenção para a “alienação da gramática tradicional em relação à realidade linguística nacional”, pois sua fonte de dados para o desenvolvimento da pesquisa consta de entrevistas realizadas por falantes com nível superior completo, o que demonstra que eles fazem parte do grupo que compõe a variante culta da língua portuguesa no Brasil e os compêndios normativistas não dão conta dessa atual situação linguística. Em relação ao uso dos verbos na terceira pessoa do singular, a pesquisadora afirmou que parece que se trata de um processo independente do apagamento do preenchimento lexical do sujeito ou de construções parecidas com o uso de indefinidos, isso por ter sido usado por falantes mais escolarizados e por menos escolarizados, como apresentado por Neves (ver 3.3.1). Sobre o uso do “se”, Milanez (1982, p. 137) atribui certa dificuldade em estabelecê-lo como recurso de indeterminação ou forma passiva, porque foram encontrados argumentos sintáticos, semânticos, como também de ordem contextual e suas características estarem próximas do processo de indefinição. 48 As outras formas sem sujeito lexical (infinitivo e verbo na terceira pessoa do singular e do plural) foram reconhecidas por Milanez (1982, p. 137) como uma homogeneidade sintática, à luz da teoria da Gramática Gerativa Transformacional. 3.5.2 Os pronomes pessoais sujeito e a indeterminação do sujeito na norma culta de Salvador (ROLLEMBERG, 1991) A pesquisa desenvolvida por Rollemberg (1991), em cooperação com suas alunas bolsistas, serviu de base para alguns estudos que foram desenvolvidos sobre a indeterminação do sujeito. O trabalho foi desenvolvido com base nos dados obtidos pelo Projeto NURC/SSA, coletados na década de 70, com falantes com o Ensino Superior completo. Inicialmente, buscou-se compreender como a indeterminação do sujeito se dava nas gramáticas tradicionais, para, então, tentar entender, com vistas à teoria da enunciação de Benveniste e os resultados alcançados por Milanez (1982), como os pronomes pessoas eram utilizados como recursos para a marcação desse tipo de sujeito. Os dados obtidos foram classificados em relação à “categoria de texto”, se se tratavam de “elocuções formais” (EF) ou “diálogo entre informante e documentador” (DID), como também em relação às faixas etárias dos informantes (Faixa 1 – 25 a 35 anos e Faixa 3 – 56 anos em diante). O desenvolvimento do trabalho revelou na época que o pronome “você” era o mais utilizado pelos falantes, sendo mais empregado nos diálogos entre informante e documentador e única e exclusivamente pela faixa 1, ou seja, os falantes mais novos. 3.5.3 Indeterminação pronominal do sujeito (CUNHA, 1993) O trabalho desenvolvido por Cunha (1993) faz uma análise acerca das estratégias pronominais para marcar a indeterminação do sujeito por falantes cultos na cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa segue dois caminhos: uma abordagem 49 chamada de qualitativa, analisando o fenômeno quanto ao papel desempenhado pelos pronomes (anáfora e dêixis) e os conceitos da indeterminação, que perpassam o campo da determinação, diversos graus e funções diferenciadas; e outra tida como quantitativa, valendo-se dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Quantitativa, analisando o fenômeno a partir de dez variáveis tidas como gramaticais (tipos de oração e tempo verbal), discursivas (tipo de elocução, gêneros discursivos, grau de indeterminação, tamanho do grupo, mudança de referente e forma antecedente) e sociais (gênero/sexo e faixa etária). Após o levantamento e análise das ocorrências, Cunha (1993) realizou um tratamento numérico com os dados obtidos, realizando análises ternárias e binárias, fazendo cruzamentos entre as variáveis quando foi possível. Feito isso, a pesquisadora chegou às conclusões de que as variantes pronominais “nós”, “você” e “a gente” são sensíveis aos condicionamentos linguísticos, especialmente as formas antecedentes, e sociais, como a faixa etária. 3.5.4 Analyse sociolinguistique de l'indetermination du sujet dans le portugais parlé au Bresil, a partir des données du NURC/SP (MENON, 1994) Menon (1994), em tese defendida na Universidade de Paris VII, estudou a indeterminação do sujeito na fala urbana de São Paulo, a partir dos dados do projeto NURC, cuja abordagem teórico-metodológica foi da Sociolinguística Quantitativa. A variável dependente estudada era composta por doze variantes (a gente, eles, eu, formas nominais, nós, se, você, vocês, voz passiva sem agente, voz passiva sintética, verbo na terceira pessoa do singular e verbo na terceira pessoa do plural). Os dados coletados foram distribuídos conforme as variáveis extralinguísticas selecionadas: gênero/sexo (masculino e feminino), tipos de entrevistas do NURC/São Paulo (EF – elocuções formais, DID – diálogo entre informante e documentador e D2 – diálogo entre dois informantes) e ainda a faixa etária (dos 25 aos 35 anos, dos 36 aos 55 anos e dos 56 em diante). Para realização das rodadas binárias, como era previsto pelo pacote de programas estatísticos VARBRUL, a autora concebeu como variável dependente, 50 apenas para a obtenção dos resultados numéricos, a variável sexo, formada por apenas dois fatores. Menon (1994) elaborou alguns aspectos metodológicos para a obtenção dos dados. O primeiro deles foi intitulado de “intercambialidade das formas”, considerando que os falantes utilizariam vários recursos de indeterminação no mesmo turno de fala. Após, fazendo o empréstimo de um termo da fonologia, os “pares mínimos”, que consistia no uso de duas formas distintas em contextos idênticos. Em seguida, os “tempos verbais”, através dos quais o presente do indicativo mostrou-se como favorecedor no emprego das estratégias de indeterminação e que, colocando o verbo no pretérito perfeito, segundo a autora, alguns enunciados perdem o caráter indeterminado, passando a, no mínimo, ambíguo. Outra estratégia utilizada foi o levantamento de “ditados, verdades gerais ou eternas, perguntas retóricas”, consistindo como um fator que mais faz uso do presente do indicativo, por ser considerado “atemporal”, não sendo, obviamente, um dos fatores mais numerosos. A “mudança de tempo verbal” também foi outro aspecto observado, pois os informantes costumavam mudar o tempo verbal quando queriam mencionar sua opinião ou experiência sobre o fato narrado, distanciando-se daquilo que contavam. Os “advérbios, localizadores espácio-temporais e preposições” também foram tomados como barema para identificação das variantes no corpus estudado. Além desses, foram analisadas também as “completivas (subordinadas substantivas)”, “destaque do locutor” e, por fim, o “distanciamento no tempo; construções hipotéticas”. Menon (1994) chegou à conclusão de que há mais recursos para indeterminação do sujeito que aqueles ensinados e cobrados pela escola, e que, já nos anos setenta, as estratégias estudadas já eram utilizadas pela camada mais escolarizada. A variante “a gente” foi a mais empregada pelos falantes do NURC/São Paulo. 3.5.5 A indeterminação do sujeito nas três capitais do Sul do Brasil (SETTI, 1997) Setti (1997) utilizou a mesma metodologia utilizada por Menon (1994) para estabelecer as variantes linguísticas: “a gente, eles, eu, formas nominais, nós, se, tu, 51 você(s), voz passiva sem agente, voz passiva sintética, verbo na terceira pessoa do singular e verbo na terceira pessoa do plural”. Nesse trabalho, ela inclui a variante “tu” por ser utilizada nas cidades de Porto Alegre e Florianópolis, diferentemente de Menon, uma vez que os falantes de São Paulo, registrados pelo NURC/SP, não fizeram uso desse pronome. A amostra utilizada por Setti (1997) era constituída por 72 entrevistas que compõem o banco de dados do Projeto Variação Linguística Urbana da Região Sul – VARSUL, contemplando as três capitais da região Sul: Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. As entrevistas foram equitativamente distribuídas: 24 por cada capital, sendo 08 informantes de cada nível de escolaridade (Primário, Ginásio e 2º grau), 12 por cada gênero/sexo (masculino e feminino) e 12 por cada faixa etária (de 25 a 50 anos e mais de 50 anos). Definido seu corpus de análise, Setti (1997) levantou as hipóteses que buscou confirmar ou refutar ao longo do trabalho de pesquisa: verificou se havia mais possibilidades para marcar a indeterminação do sujeito do que as formas apresentadas pelas Gramáticas Tradicionais; se os tempos e modos verbais e os grupos de fatores sociais idade, gênero/sexo, escolaridade e localidade poderiam atuar como condicionadores na escolha das variantes encontradas no corpus. Após a análise dos dados, Setti (1997) concluiu que de fato há mais variantes sendo usadas do que as preconizadas pelas GT; além disso, que os tempos e modos verbais contribuem para o uso de mecanismos de indeterminação do sujeito, como é o caso do presente do indicativo, que muito colabora para a criação de situações genéricas, seguido do pretérito imperfeito do indicativo, do infinitivo e pretérito perfeito do indicativo. Sobre cada variável social, Setti aponta as conclusões: a escolaridade mostrou-se como influenciadora da variante Ø+V3PP, uma das formas abordadas pelas GT e os falantes do primário e ginasial estão preenchendo mais a casa do sujeito do que os do 2º grau; em relação ao sexo, as mulheres se apresentaram como mais conservadoras3, utilizando menos os recursos de indeterminação do sujeito em relação aos homens; a faixa etária menor de 50 anos apresentou maior uso da forma “você”; ao tratar das três capitais do Sul, a 3 Setti (1999, p.87) classifica como conservadoras as formas mais utilizadas por falantes acima de 50 anos (nós e Voz Passiva sem agente - VPSA) e inovadoras as formas não empregadas pela GT e com menor uso por falantes mais velhos (você e Formas Nominais - FN). 52 frequência de uso apontou para o uso das formas “Ø+V3PS”, “a gente”, “você” e, de maneira predominante em Porto Alegre e Florianópolis, de “tu”. 3.5.6 A indeterminação do sujeito na escrita padrão: a imprensa carioca nos séculos XIX e XX (CAVALCANTE, 1999) O trabalho que foi desenvolvido por Cavalcante (1999) tomou como pressupostos teórico-metodológicos a Sociolinguística Quantitativa, a mesma utilizada neste trabalho, e a Teoria de Princípios e Parâmetros. O objeto de análise era composto por textos considerados padrão na imprensa carioca nos séculos XIX e XX, cujo período foi dividido em cinco, considerando uma margem de tempo de 20 anos, começando no ano de 1848 e terminando em 1998. Os textos selecionados foram classificados como mais formais (editoriais e opinião) e menos formais (crônicas). Os grupos de fatores que foram escolhidos para a análise quantitativa foram o período de tempo, tipo de texto, formas finitas e não-finitas, estratégias de indeterminação, representação nula e plena das formas pronominais, concordância entre verbo transitivo direto e argumento interno no plural e, por fim, uso de “se” com infinitivo. Após obtenção dos dados numéricos, apresentação e análise através de tabelas e gráficos, Cavalcante (1999), chegou a algumas conclusões: há mais estratégias de indeterminação em sentenças finitas do que as consideradas pelas GT; em relação aos tipos de texto, ficou esclarecido que os editoriais eram mais conservadores, a partir do período entre 1935 e 1942, em relação ao uso de “se”; e que nos fins do século XX já era perceptível a “infiltração” (1999, p. 105) das formas pronominais “a gente” e “você”. 3.5.7 A indeterminação do sujeito no interior paranaense: uma abordagem sociolinguística (GODOY, 1999) Godoy (1999), por sua vez, estudou três cidades do interior paranaense para buscar as formas de indeterminação do sujeito mais empregadas, também 53 pertencentes ao Projeto VARSUL anteriormente citado: Irati, de colonização eslava, Londrina, colonizada predominante por paulistas e mineiros, e Pato Branco, colonizada por gaúchos e catarinenses descendentes de gaúchos. As hipóteses levantadas por Godoy (1999, p. 63) são iguais às de Setti (1997), diferenciando apenas no corpus, pois tratam de localidades diferentes. Godoy (1999, p. 66) levou em conta os mesmos condicionamentos linguísticos apontados por Menon (1996) para a seleção dos dados: a intercambialidade de formas; pares mínimos; tempos verbais; os ditados e as verdades gerais ou eternas; a mudança de tempo verbal no discurso; determinados advérbios e preposições; completivas (subordinadas substantivas); o distanciamento do falante em relação a algo que está dizendo; e o afastamento no tempo ou discurso hipotético. Apresentar os casos que foram excluídos das análises tornou-se um diferencial no trabalho de Godoy (1999, p. 76), pois foram casos que apresentaram, em sua maioria, ambiguidade. Além disso, ela inclui também um tópico para tratar da codificação dos dados: os códigos, os critérios para classificação das ocorrências duvidosas, tais como o uso da categoria Ø, se se trata de anáfora ou catáfora de uma expressão indeterminadora já utilizada ou não entre outros. A seção é concluída apresentando as variantes linguísticas que foram observadas: “a gente; eles; eu; FNs (formas nominais); nós; se; tu; você; VPSA (voz passiva sem agente); Ø+V3PS (verbo na terceira pessoa do singular desacompanhado de pronome); Ø+V3PP (verbo na terceira pessoa do plural desacompanhado de pronome)” (GODOY, 1999, p. 84). As conclusões a que chegou Godoy (1999, p. 142) revelaram que os homens mais velhos, como também os falantes mais escolarizados, fazem maior uso das formas “se, nós e VPSA”. A forma “a gente” apresenta maior grau de informalidade em relação às formas anteriores e é mais empregada pelas mulheres. Os falantes da cidade de Irati tendem a utilizar em maior número as formas consideradas padrão, como o Ø+V3PP e o “se”. A autora também atestou que, quanto maior a escolaridade, maior o uso das formas canônicas vislumbradas pelas GT. 54 3.5.8 A indeterminação do sujeito no português rural do semi-árido baiano (SANTANA, 2006) O trabalho desenvolvido por Santana (2006) sobre as estratégias de indeterminação do sujeito fez uso do banco de dados do projeto “A língua portuguesa no semi-árido baiano”. Os dados que foram coletados foram classificados de acordo com as variáveis linguísticas e extralinguísticas selecionadas, com vista a buscar compreender como se proceder à indeterminação do sujeito em duas localidades que compõem o projeto anteriormente citado: Piabas e Bananal/Barra dos Negros4. Com vistas ao tratamento teórico-metodológico da Sociolinguística Quantitativa, inicialmente foi classificada as variantes que faziam parte da variável dependente, Ø+V3PP, Ø+V+SE, Ø+V3PS, Ø+VINF, nós, a gente, você e eles. Depois, estabeleceram-se extralinguísticas. As as primeiras, variáveis independentes compostas pela forma linguísticas e antecedente, mudança/manutenção do referente, tempo e modo verbal, tipo de oração, tipo de verbo, preenchimento do sujeito e grau de indeterminação. As segundas, formadas pelo gênero/sexo, faixa etária e localidade. Após a realização do levantamento das ocorrências e classificação quanto às variáveis dependentes e independentes, procedeu à obtenção dos dados numéricos para posterior análise. Por fim, Santana (2006, p. 143) chegou à conclusão de que as variáveis forma antecedente e mudança/manutenção do referente são as que mais favorecem o uso das formas mais utilizadas pelos falantes das localidades estudadas, a forma pronominal “a gente” e Ø+V3PS. 4 A pesquisadora considera Bananal e Barra dos Negros como sendo uma única comunidade do município de Rio de Contas, uma vez que elas apresentam características sócio-históricas semelhantes e a distância entre elas não ultrapassa 2 km. Além disso, os dados coletados não foram diferenciados uma da outra. 55 3.5.9 A indeterminação do sujeito no português popular do interior do estado da Bahia (PONTE, 2008) A pesquisa que foi desenvolvida por Ponte (2008) sobre a indeterminação do sujeito no português popular nas comunidades afro-brasileiras de Helvécia, Rio de Contas, Sapé e Cinzento e na cidade de Santo Antônio de Jesus teve como variável dependente as estratégias “a gente”, “nós”, “você”, “eles”, “verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical”, “verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical” e a partícula “se”. Definidas as variantes, a pesquisa buscou verificar quais seriam, dentre as variáveis independentes linguísticas (realização fonética do sujeito indeterminado, desinência verbal, tipo de verbo, tipo de frase, nível de referencialidade, modo verbal, inclusão do falante e forma antecedente) e extralinguísticas (localidade, gênero, faixa etária, estada fora da comunidade e escolaridade) estudadas as que favoreciam o uso das formas selecionadas. Ponte (2008) concluiu que a estratégia “a gente” foi a mais utilizada, seguida da variante “verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical”. A forma antecedente foi a principal variável favorecedora do emprego de todas as estratégias observadas, sempre sendo selecionada em primeiro ou segundo lugar. Cabe ressaltar que a forma antecedente também é formada pelas estratégias de indeterminação do sujeito. Dentre as variáveis sociais, destacou-se a localidade do informante, que foi a selecionada também por todas as formas. 56 4 FOI DESENVOLVIDO ASSIM A pesquisa apresentada nesta dissertação foi realizada de acordo com o enquadramento teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista ou Laboviana, com base nas formulações de Labov (1994), buscando identificar os contextos linguísticos e extralinguísticos (ou sociais) que justificam os usos encontrados acerca do sujeito indeterminado, objeto do presente estudo. Conforme explicitado na segunda seção, os estudos da Sociolinguística Variacionista têm como base o vernáculo, ou seja, a língua falada em contextos reais de uso, sinalizando as diferentes formas linguísticas que os falantes utilizam para expressar seus pensamentos, ideias, que se correspondem de alguma forma, caracterizando-as como variantes linguísticas; dito isso de outra maneira, as formas diferentes para tratar mais ou menos da mesma coisa. As variantes foram estabelecidas a partir de estudos prévios realizados (CARVALHO, 2009a; 2009b) e também por observação de outros trabalhos existentes sobre o sujeito indeterminado (MILANEZ, 1982; ROLLEMBERG, 1991; CUNHA, 1993; MENON, 1994; SETTI, 1997; CAVALCANTE, 1999; GODOY, 1999; SANTANA 2006; FAGGION, 2008; PONTE, 2008). Fazendo uma análise comparativa entre eles, foi possível se depreender doze variantes, classificadas em dois grupos: com sujeito lexical (a gente, eles, eu, formas nominais, nós e você) e sem sujeito lexical (Ø+V+SE – verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se”, Ø+V3PS – verbo na terceira pessoa do singular, Ø+V3PP – verbo na terceira pessoa do plural, Ø+VINF – verbo no infinitivo, VPSA – voz passiva sem agente e VPASSINT – passiva sintética). Essas variantes foram analisadas sob os pontos de vista sociais e linguísticos. Verificou-se se os fatores sociais gênero/sexo, escolaridade e faixa etária afetaram as escolhas de uso de uma ou de outra forma por parte dos falantes. A mesma observação foi tida com as variáveis linguísticas forma antecedente, mudança / manutenção do referente, tempo e modo verbais, tipo de oração, tipo de verbo, preenchimento do sujeito e grau de indeterminação, buscando perceber se haveria algum influência desses fatores nos usos encontrados. 57 4.1 OS CORPORA Os dados para o presente estudo foram coletados a partir de quarenta e quatro (44) inquéritos: trinta e dois (32) do PEPP Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador e doze (12) do NURC/SSA Projeto Norma Urbana Culta de Salvador. Os corpora se organizam de acordo com cada variação social que foi estudada, conforme citada anteriormente. Para a variável escolaridade foram considerados o Ensino Fundamental e Médio (com os inquéritos do PEPP) e o Ensino Superior (com os inquéritos do NURC). Em relação ao gênero/sexo, foram considerados o masculino e o feminino5. E, por fim, a variável faixa etária que foram estabelecidas em número de quatro faixas etárias: faixa etária 1 ou F1 (dos 15 aos 24 anos), faixa etária 2 ou F2 (dos 25 aos 35 anos); faixa etária 3 ou F3 (dos 45 aos 55 anos) e faixa etária 4 ou F4 a partir dos 56 anos6. Tendo em vista o exposto, os informantes foram equitativamente distribuídos em vinte e duas células, contendo dois informantes cada uma, conforme pode ser verificado no quadro logo a seguir: ENSINO FUNDAMENTAL (PEPP) Masculino Feminino ENSINO MÉDIO (PEPP) ENSINO SUPERIOR (NURC) Masculino Feminino Masculino Feminino F1 (15 – 24 anos) 2 2 2 2 - - F2 (25- 35 anos) 2 2 2 2 2 2 F3 (45 – 55 anos) 2 2 2 2 2 2 F4 (mais de 56 anos) 2 2 2 2 2 2 Quadro 2: Distribuição dos informantes nas células. 5 Embora os inquéritos originalmente tratem de “homem” e “mulher” para se referir à variável gênero/sexo, aqui foi adotada essa nomenclatura para não fazer menção ao caráter biológico dos seres, mas, sim, aos papéis sociais desempenhados por eles. 6 A nomenclatura adotada para as faixas etárias (F1, F2, F3 e F4) foi adaptada, modificando a classificação original do NURC, uma vez que esse projeto não contempla a primeira faixa etária, devido aos poucos informantes encontrados, e englobando as classificações adotadas pelo PEPP. Além disso, o NURC preenche a F4 com informantes acima de 56 anos, enquanto o PEPP com informantes acima de 65 anos. Dessa forma, manteve-se a informação “mais de 56 anos” por contemplar os dois corpora. 58 4.1.1 Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador PEPP O Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador, doravante PEPP, surgiu a partir de comentários da Profa. Dra. Rosa Virgínia Mattos e Silva sobre a necessidade da realização de um estudo sobre a concordância verbal e nominal na fala de Salvador, a partir de novos dados coletados para esse fim, tomando como ponto de partida a experiência vivida pelos membros do Projeto Norma Urbana Culta de Salvador, o NURC/SSA, o qual será comentado mais adiante. Assim, a Profa. Dra. Norma da Silva Lopes, em regime de Dedicação Exclusiva na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, juntamente com as Profas. Dras. Constância Maria Borges de Souza e Emília Helena Portella Monteiro de Souza, na época doutorandas da Universidade Federal da Bahia – UFBA, resolveram levar a cabo o PEPP, sob a orientação da Profa. Dra. Myrian Barbosa Silva. O Projeto NURC buscava, e até hoje busca, estudar o português falado por falantes com o Nível Superior completo, daí a necessidade apontada por Lopes (2009a, p. 13) de preencher uma lacuna quanto à possibilidade de estudo de uma amostra com outros níveis de escolaridade. Com o PEPP, pois, pretende-se, além de fornecer material mais recente, suprir a falta de dados sobre o português falado pelos não-universitários. Tendo definido a sua meta principal e fundadora, o PEPP passou a ser constituído, com falantes com níveis de escolaridade Fundamental (até a antiga 5ª série ou atual 6 ano) e Médio, e moradores, em sua maioria, de bairros mais distantes do centro da cidade, tidos como de maior concentração de pessoas de baixa renda, com raras exceções, caracterizando, portanto, o termo “popular” empregado em sua denominação, . Após a conclusão da obtenção dos dados, o programa passou a ter quarenta e oito gravações de entrevista do tipo DID, diálogos entre informante e documentador, com cerca de quarenta minutos cada, distribuídas em quatro faixas etárias, dois gêneros/sexo (masculino e feminino) e os dois níveis de escolaridade 59 citados, os quais preenchem dezoito células, conforme pode ser visualizado no quadro 2 apresentado no item 4.1, com três informantes cada7. Segundo Lopes (2009a, p. 17), o PEPP adotou os mesmos critérios do NURC/SSA para seleção de informantes, uma vez que seria possível fazer um estudo comparativo entre os níveis de escolaridade de ambos os projetos, que se completam, tendo em vista a classificação de escolaridade estabelecida no Brasil. Assim, em relação aos informantes, exigiu-se que eles fossem naturais de Salvador e, além disso, que tivessem permanecido nesta cidade a maior parte de suas vidas. Para excluir a interferência de outros dialetos, seus pais também deveriam ser de Salvador, ou que tivessem vindo para esta cidade ainda muito pequenos. As entrevistas foram realizadas em diversos locais que pudessem manter um determinado nível de tranquilidade, para evitar ruídos e interferências que pudessem comprometer a qualidade das gravações, além de contribuir para uma melhor fluidez do informante, deixando o ambiente mais informal possível, quando haveria menos monitoramento da fala, possibilitando a gravação do vernáculo. Buscando minimizar a preocupação dos informantes quanto à gravação, pois eles sabiam que estavam sendo gravados, temas como a educação do passado e do presente, os castigos, a relações dos pais e filhos foram escolhidos para tentar deixar a situação o mais informal possível. Algumas adaptações aos roteiros das perguntas foram realizadas para dar conta de falantes mais novos, uma vez que seria difícil falar, por exemplo, da relação entre pais e filhos, uma vez que os informantes poderiam não ter filhos. De acordo com Lopes (2009a, p. 15), no início das entrevistas, houve maior preocupação com a linguagem, como eles iriam falar, mas à medida que os assuntos foram sendo abordados, os informantes “deram indícios de terem esquecido a postura inicial e ficaram mais à vontade”, possibilitando atingir os fins pretendidos, com uma “amostra mais próxima do vernáculo”. 7 O quadro 2 citado no item 4.1 está preenchido com a quantidade de informantes que foram observados na realização deste trabalho, incluindo também o Ensino Superior. As células do PEPP correspondem exclusivamente às colunas relativas aos Ensinos Fundamental e Médio, com dois informantes cada. 60 4.1.2 Projeto Norma Urbana Culta de Salvador – NURC/SSA Em 1964, o professor Juan M. Lope Blanch, da Universidade Nacional Autônoma do México, apresentou o projeto internacional intitulado “Proyecto de Estudio Coordinado del Español Hablado en las Principales Ciudades de América” e foi aprovado para ser desenvolvido em Buenos Aires, Santiago do Chile, Lima, Caracas, Havana, San Juan de Porto Rico e México, que mais tarde foi ampliado, abarcando a cidade de Madri, Granada e Santo Domenico, e se tornando o “Proyecto de Estudio Coordinado de la Norma Linguística Oral Culta de las Principales Ciudades de Iberoamérica y de La Península Ibérica”. Nesse projeto, somente as capitais fizeram parte. Esse projeto serviu de motivação para o Prof. Nelson Rossi que já investigava os falares existentes no Brasil. Como a situação linguística do Brasil é um tanto diferente da exposta anteriormente, pois se trata de um único país, com uma grande dimensão geográfica, Rossi argumentou que havia um policentrismo cultural no país e que outras regiões precisavam ser investigadas, não mais se detendo no Rio de Janeiro, uma vez que o centro brasileiro voltou-se para Brasília, capital fundada na década de 60 do século passado (MENON, 1994). Nesse mesmo período, Rossi decidiu estudar a língua culta falada no Brasil, estabelecendo alguns critérios para as escolhas das capitais: a cidade deveria possuir mais de 1 milhão de habitantes em 1969 ou, pelo menos, mais de cem anos de existência, pois isso permitiria encontrar quatro gerações completas. Daí, foram selecionados Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. Belo Horizonte não foi incluída por não atender o segundo critério. Salvador, por sua vez, ainda não possuía a quantidade de habitantes informada, mas ultrapassava a meta do segundo critério, com uma grande tradição e legado histórico, por ter sido a primeira capital do país. O principal objetivo do Projeto NURC era descrever os padrões reais de uso na comunicação oral adotados pelo estrato social composto por indivíduos de escolaridade superior. Para atingir tal objetivo, ele buscou, e vem buscando, dispor de material sistematicamente levantado, superar o empirismo na aprendizagem da língua-padrão, conhecer as normas tradicionais que estão vivas e quais as superadas, e oferecer dados para que se pudesse corrigir distorções do esquema tradicional da educação brasileira. 61 O corpus desse projeto é constituído de elocuções formais (EF), formadas por aulas e conferências, diálogos entre informante e documentador (DID) e diálogos entre dois informantes (D2). Deveriam fazer parte do corpus também gravações secretas de diálogos espontâneos (GS), os quais não chegaram a ser realizados. A duração das gravações varia entre 40 e 80 minutos no total. Os inquéritos estão classificados segundo o gênero/sexo dos informantes (masculino e feminino) e em relação à faixa etária (de 25 a 35 anos, de 36 a 55 anos e acima de 56 anos). O projeto foi desenvolvido por equipes regionais, localizadas na Universidade Federal da Bahia (NURC/SSA), Universidade Federal de Pernambuco (NURC/PE), Universidade Federal do Rio de Janeiro (NURC/RJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NURC/POA) e pelas Universidades de São Paulo e Estadual de Campinas (NURC/SP). 4.2 PARÂMETROS DE SELEÇÃO DAS OCORRÊNCIAS As entrevistas, objetos de análise deste estudo, foram realizadas na década de 90 do século passado e transcritas grafematicamente, o que possibilitou a leitura dos textos transcritos e digitalizados diretamente na tela de um computador, descartando a necessidade de audição do material gravado. A seleção das ocorrências passou por alguns critérios para estabelecer se elas eram consideradas uma variante das estratégias de indeterminação do sujeito ou não. Assim, algumas restrições foram necessárias, tais como: i) Uso de dois recursos de indeterminação imediatamente um após o outro, caracterizando uma correção em relação ao item utilizado; ii) Recursos apresentados na fala de terceiros, algo como uma citação que ocorre na escrita; iii) Repetições da fala do documentador, o que marca o chamado “efeito gatilho”, pois o informante foi condicionado pela fala do outro; iv) Verbos impessoais, os quais não fazem menção a um sujeito referencial; 62 v) Em interrupções, marcadas pelo uso das reticências na transcrição, pois não se sabe ao certo qual foi a intenção do informante, podendo revelar indecisão quanto ao uso pretendido; vi) Estruturas refeitas, inclusive com mudança do verbo e seu tempo; vii) O primeiro uso de uma estratégia em estruturas idênticas e subsequentes. 4.3 VARIÁVEL DEPENDENTE A variável dependente aqui não poderá ser entendida como duas ou mais maneiras de dizer a mesma coisa, pois, de acordo com Tagliamonte (2006, p. 71, tradução nossa), “em morfossintaxe, no entanto, a alternância de formas envolve flexões variáveis, alternância de itens lexicais ou diferenças sintáticas elementares que surgem no curso de derivação de uma sentença”8. Assim, esta variável será analisada levando-se em conta as variáveis extralinguísticas ou sociais e as variáveis linguísticas. A seguir, será apresentada cada variante que compõe a variável dependente, seguida dos parâmetros adotados para sua seleção nos corpora citados. 4.3.1 Eu O pronome pessoal “eu”, empregado para marcar a primeira pessoa do singular, é abordado por todas as gramáticas tradicionais, contudo não fazem referência ao seu uso como estratégia de indeterminação. Freitas (1997a, p. 18), ao tratar dos pronomes pessoais no Brasil, recorre à classificação dos pronomes em dois grupos de acordo com Émile: “os que representam as pessoas do diálogo e os que não representam essas pessoas”. A partir daí, ela esclarece que o pronome “eu”, que também faz parte de “nós” e de “a gente”, representa o emissor. 8 Texto original em inglês: “In morphosyntax, however, alternation of forms may involve variable inflections, alternate lexical items or elementary syntactic differences that arise in the course of sentence derivation”. 63 Em outro trabalho, Freitas (1997b, p. 20, grifo da autora), de maneira didática, apresenta um texto no qual um estudante observa diálogos travados na televisão, constatando que há “outros significados em uso na linguagem cotidiana que fogem ao previsto: o pronome eu, que não representa o emissor, mas um ou qualquer indivíduo indeterminado, dentro de um dado grupo”. Contudo, ao pesquisar as estratégias mais utilizadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito, tendo em vista outros estudos realizados nas mais diversas localidades, o uso do pronome “eu” de forma genérica, embora não muito abundante, apresenta um número significativo de dados ao comparar seu uso com estratégias tidas como mais tradicionais. A seguir, verificam-se alguns exemplos extraídos dos corpora analisados: (19) Porque a matemática eu acho a mais fácil, porque a matemática você vai comprar um pão você já vai ali somando tudo, e o português porque, EU estar ali falando né, é uma coisa bem (...inint...), e a pessoa sabendo. [PEPP05-F1f]9 (20) Aquela geografia era a mesma pra todos os anos eu (...inint...) o, EU tivesse um irmão passasse pra outro ano o livro servia, era igual, tudo igual. [PEPP11-M4m] 4.3.2 Nós A primeira pessoa do plural é tradicionalmente marcada pelo pronome pessoal “nós”, considerado como o “eu ampliado” ou o “eu pluralizado”. De acordo com a teoria pragmática de Benveniste (ver subseção 3.4), o pronome “nós” não pode ser concebido como a pluralização do “eu”, uma vez que o “nós” é constituído de um “eu” e mais o “não-eu”, ou seja, o emissor mais o receptor, não podendo agregar aí a “não-pessoa”, a enunciação em si, que é o objeto da comunicação. 9 Esses códigos acompanham todos os exemplos extraídos dos corpora analisados. Primeiro, apresenta qual foi o corpus (se PEPP ou NURC) e o seu número, atraído pelo próprio programa que o desenvolveu. Em seguida, após o hífen, encontram-se as informações sociais dos informantes: o gênero/sexo (M – masculino ou F – feminino), faixa etária (1, 2, 3 ou 4) e a escolaridade (f – Ensino Fundamental, m – Ensino Médio ou s – Ensino Superior). 64 De acordo com Cunha (1993, p. 51), em estudo realizado com o corpus do NURC/RJ, as narrativas, nos diálogos que compõem a amostra, versam normalmente sobre experiências vividas pelos informantes, situandose, pois, no passado e – já que o locutor participou da ação – apresentam um alto índice de ocorrência do pronome nós. Na seção seguinte, encontram-se os resultados alcançados, que podem ou não concordar com essa posição, o que depende das variáveis linguísticas selecionadas nesta pesquisa. O pronome “nós” em seu uso genérico constitui uma das variantes que marcam o sujeito indeterminado, ora apresenta-se preenchendo a posição de sujeito, ora está eliptico. Para considerá-lo como uma forma elíptica, todo o contexto e outros enunciados do mesmo informante foram analisados. Por exemplo: se o falante usava a forma “nós” sempre com o verbo flexionado, então o verbo flexionado sem sujeito lexical foi considerado como o uso da forma “nós” (ver exemplos 21 e 22), juntamente com a forma preenchida (ver exemplo 23): (21) Pode ser tão inconstante, não em Constância, mas inconstante, (risos), eh... por ser... por ser inovador, eu acho que sempre a gente precisa estar vendo o novo, não Ø PODEMOS ficar parado... [NURC010/NM2s] (22) Registrada no National Geographic Magazine, que é esta revista nacional de geografia, não é? Está registrada lá assim. Ultimamente, por um, por xenofobia qualquer, tem que se explicar isso bem, Ø PASSAMOS a chamar Cachoeira da Fumaça, né? [NURC012/R-M4s] (23) Eles só vivem assim pra negócio de ... pra barzinho. Na minha adolescência eu não ia pra bar, NÓS íamos passear no porto dos Tainheiros, passear, ali naquela, naquele porto dos Tainheiros todo, íamos lá e voltava, assim, ficávamos assim passeando pra lá e pra cá, nós sentava na balaustrada, ficávamos conversando, dando risada, era assim. [PEPP01-F4f] 65 4.3.3 A gente O pronome “a gente” passou a compor o quadro dos pronomes pessoais no português do brasileiro, em alternância com a tradicional forma de primeira pessoa do plural “nós”. O verbo que o acompanha não possui a flexão verbal de primeira pessoa do plural, mas igual ao da terceira pessoa do singular. Sua origem vem do substantivo “gente”, que no latim significava “grupamento de família, clã, a casa em sua totalidade, família, povo, raça, geração, prole” (HOUAISS, 2001), que junto ao artigo definido “a” adquiriu seu uso pronominal. Embora presente no falar cotidiano, a forma “a gente” ainda é fruto de várias abordagens nas gramáticas tradicionais. Ora é considerado pronome de tratamento, como mencionado por Almeida (2005, p. 172, grifos do autor), ao declarar que chamam-se pronomes de tratamento as palavras e expressões que substituem a terceira pessoa gramatical: fulano, beltrano, sicrano, a gente, você, vossa mercê, vossa excelência, vossa senhoria, sua senhoria, sua majestade, ora como representação da primeira pessoa, ressalvando que se trata do “colóquio normal” (CUNHA; CINTRA, 2001, p. 296, grifo dos autores), como o exemplo dado pelos autores: (24) - Você não calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens. Todos me olham como se quisessem devorar-me. Há também o emprego de “a gente” como pronome pessoal na gramática de Azeredo (2008, p. 175, grifos do autor), considerada mais inovadora e atual: As palavras gramaticais cuja função referencial é identificar as pessoas do discurso se chamam pronomes pessoais. Assim conceituada, a classe dos pronomes pessoais abrange a rigor os pronomes pessoais em sentido restrito, os pronomes demonstrativos e os pronomes possessivos, visto que estes três subtipos fazem referência às pessoas do discurso. De acordo com a nomenclatura oficial, porém, a expressão “pronomes pessoais” aplicase apenas às formas com que se assinalam: a) o indivíduo que fala – primeira pessoa do singular (eu), b) o conjunto de indivíduos em que o eu se inclui – primeira pessoa do plural (nós / a gente), 66 c) o indivíduo ou indivíduos a que o eu se dirige – segunda pessoa, do singular ou do plural (tu / vós, você / vocês), e d) o indivíduo ou coisa a que o eu se refere – terceira pessoa do singular ou do plural (ele / eles). Esse mesmo autor, conforme mencionado na seção três, considera a forma “a gente” como uma das estratégias utilizadas para marcar a indeterminação do sujeito. Nos dados coletados para esta pesquisa, a forma “a gente” foi o segundo recurso mais utilizado, tal como os exemplos citados abaixo: (25) É bom que as vezes a gente testa força, e as vezes é ruim porque a gente leva desvantagem quando a gente apanha. [PEPP18-M1f] (26) Fiz, aí fiz tudo bem, engraçado que teve pessoas que falou assim, “olhe, curso de férias é passa burro, passa burro, porque você foi, você estudou o ano todo e você não aprendeu nada, quando chega no curso de férias você aprende”, não é bem assim não sabe porque? Porque a gente só deve ter certeza de uma coisa quando a gente faz mesmo. [PEPP02-F1m] (27) Não, eu ainda não consigo fazer isso, eh... obviamente que eh... a gente vai assumindo responsabilidades, vai assumindo novas tarefas e na vida da gente hoje... não é? [NURC010/N-M2s] 4.3.4 Você Antes de haver o uso de “vossa mercê” na corte portuguesa, já havia o uso da forma pronominal “vós”, amplamente usada, segundo Sousa (2008, p. 27), pelos reis, rainhas, nobres para o tratamento com os vassalos e, concomitantemente, também era a forma utilizada pelos vassalos para se dirigirem as seus superiores. Além disso, o vós era usado entre os pares eclesiásticos, plebeus e nobres. Mas, como resultado de uma desigualdade social, um desequilíbrio linguístico foi desencadeado e a forma vós, antes usada para fazer referência à figura singular do rei, é substituída por Vossa Mercê, forma que, nesse período, demonstrava ter mais expressividade e dignidade de referência ao Rei. 67 A necessidade de representar a dignidade exercida ao rei foi sendo buscada nas próprias falas dos vassalos, da criadagem, do povo. Nasce do seio popular para o alto da corte, dos súditos mais próximos aos mais longínquos, de acordo com a continuação das reflexões de Sousa (2008, p. 28), A expressão Vossa + N, Vossa Mercê, formada pelo pronome possessivo vossa adjungido ao nome mercê, teve a sua origem no item linguístico mercê, sinônimo de graça, de favor, de merecimento, de generosidade. Era comum as pessoas dirigirem-se ao rei e solicitarem a ele a “vossa Mercê”. Com esse uso constante e rotinizado, essa expressão transformou-se na expressão ideal para referir-se ao Rei. A forma “vossa mercê”, da mesma forma como surgiu do povo, voltou para o povo e foi sendo modificada com o passar dos anos, com os diversos usos e alternâncias fonéticas. Da “vossa mercê” passou para “você”. O “você” que chegou aos dias atuais está registrado nas gramáticas tradicionais ainda como um pronome pessoal usado apenas para o tratamento, como expressam Cunha e Cintra (2001, p. 289, grifos dos autores), dizendo que “denominam-se PRONOMES DE TRATAMENTO certas palavras e locuções que valem por verdadeiros pronomes pessoais, como: você, o senhor, Vossa Excelência. Em Rocha Lima (2008, p. 112) não é diferente, pois o gramático afirma que “há alguns pronomes de segunda pessoa que requerem para o verbo as terminações da terceira pessoa”, mencionando em seguida a forma “você, vocês” como de “tratamento familiar”. Cegalla (2008, p. 181), por sua vez, ainda classifica as formas de tratamento como sendo “cerimonioso” ou “familiar”, como é o caso do “você”, que depende “da pessoa a quem nos dirigimos, do seu cargo, título, idade, dignidade”. Dentre as gramáticas analisadas, o item “você” é tratado como pronome pessoal apenas na gramática de Azeredo (2008, p. 175). Nessa mesma gramática, é possível encontrá-lo em sua referência genérica, ou seja, como recurso de indeterminação do sujeito, assim como em Neves (2000, p. 463), conforme visto na seção três. Este foi o recurso mais usado para indeterminar o sujeito nos dados coletados. Abaixo, transcrevem-se alguns trechos: 68 (28) Vão ... vão ... Se você vê, a missa de seis horas, no Bonfim, se você chegar seis e quinze, não acha lugar pra sentar. [PEPP01-F4f] (29) Isso. Já teve até aqui, tinha as leis né, você não podia pisar na linha, se fechasse a boca do garrafão e você estivesse dentro ou estivesse saindo, aí você apanhava, aí tinha que sair correndo pra pegar ele num determinado lugar, quando pegava ele já estava liberado. [PEPP04M1m] (30) Hoje você já concebe livros tecnológicos, mas com linguagens mais amenas eh... eh... com alguma coisa mais leve para os alunos, não é? [NURC010/N-M2s] 4.3.5 Eles Os pronomes, segundo Cunha (1993, p. 20), têm como funções básicas a anáfora e a deíxis, isto é, são essencialmente expressões indexadas a um referente. O sistema pronominal articula-se de forma que: – pronomes de lª pessoa incluem o falante – pronomes de 2ª pessoa incluem o ouvinte – pronomes de 3ª pessoa excluem ambos e a referência pronominal varia conforme o centro dêitico e o contexto linguístico. Assim, o próprio exemplo 31 mencionado por Cunha (1993, p. 20, grifo da autora) apresenta o uso do pronome “eles” em contexto anafórico, retomando o sintagma nominal “meus filhos”. Daí o pronome apresentar-se no plural, com o verbo concordando em número. (31) “Levei meus filhos ao posto-médico e eles não tinham nem uma dose de vacina..” Esse uso anafórico é abordado por Cunha e Cintra (2001, p. 276, grifos dos autores) ao tratar das características dos pronomes pessoais, embora não mencione o termo: 69 2.º) por poderem representar, quando na 3.ª pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa: Santas virtudes primitivas, ponde Bênçãos nesta Alma para que ela se uma A Deus, e vá, sabendo bem por onde... (A. De Gimaraens, OC, 149.) Levantaram Dona Rosário, quiseram levantá-la, embora ela se opusesse, choramingasse um pouco, dissesse que não lhe era possível fazê-lo. (M. J. de Carvalho, AV, 137.) A respeito dos pronomes pessoais de terceira pessoa, Azeredo (2008, p. 175) informa que esses são os únicos que variam em gênero. Contudo, essa variação, ou melhor, flexão de gênero se dá à medida que o pronome “ele” de fato exerce a função anafórica, pois precisa concordar ou representar melhor o nome ou sintagma nominal que substitui. Ao tratar aqui da indeterminação do sujeito, o pronome “eles” se manterá invariável, pois sua função não é anafórica, mas de se marcar uma referência genérica, de que não se conheça o referente do sujeito, embora marque exclusivamente a terceira pessoa. Essa será, pois, a característica principal para delimitar se determinados usos de “eles” são, de fato, um recurso para indeterminar o sujeito das orações, conforme exemplos a seguir: (32) No segundo grau você tem que se virar, eh, fazer o possível pra procurar livro, pra achar, pra ir pra biblioteca, não tem livro, eles não dão livro, quer dizer, pelo menos tem biblioteca, se você quiser pesquisar, agora quem não tiver tempo de ir pra biblioteca tem que ver, achar qualquer livro. [PEPP02-F1m] (33) Por isso é que ELES chamavam aquilo ali de Cachoeira da Fumaça ou então os garimpeiros chamaram Cachoeira do, da Queima Baeta, que baeta era uma antiga saia, uma combinação usada pelas mulheres, a combinação que, que as mulheres usavam por debaixo do, do vestido.... [NURC012/R-M4s] Há, segundo Menon (2006, p. 163), uma tendência na língua de preenchimento do sujeito pronominal nas formas verbais de terceira pessoa do 70 plural, pois, de acordo com o estudo realizado pela pesquisadora, o pronome “eles” foi mais usado por falantes mais novos do que mais velhos, que optaram, em sua maioria, pela forma canônica de indeterminação do sujeito Ø+V3PP, ou seja, o verbo flexionado na terceira pessoa do plural sem sujeito lexicalmente preenchido. Como neste trabalho as duas formas estão sendo pesquisadas, espera-se que os resultados finais, embora não conclusivos, revelem se de fato existe essa tendência no português brasileiro, sobretudo no português falado na cidade de Salvador, ou são estratégias com peculiaridades diferentes e que a questão do preenchimento não caracteriza nenhuma alteração em relação aos usos realizados pelos falantes. 4.3.6 Formas Nominais – FN O termo “formas nominais”, doravante FN, também denominado de “sintagma nominal” por Milanez (1982), foi empregado nos estudos realizados por Menon (1994; 2006), para designar as composições formadas por artigo definido mais substantivo, como “o camarada, o cara, o cidadão, o homem, o indivíduo, a pessoa, o público, o sujeito, a turma”. Nesta pesquisa, além das formas citadas, foram encontradas as formas “nego” e “neguinho”, que também foram incluídas nesta variante, apesar de não serem constituídas de artigo definido, mas serem bastante representativas para a história e cultura baiana, muito presentes em Salvador, capital do Estado. A forma “a gente” não consta entre as FN por já constituir isoladamente uma variante, uma vez que deixou de ser sintagma nominal, formado por seu núcleo mais um artigo definido, gramaticalizando-se em um pronome de primeira pessoa do plural, bastante utilizado também como uma estratégia de indeterminação do sujeito. Devido às diversas formas nominais encontradas, caracterizando uma questão de dificuldade para o desenvolvimento de um trabalho quantitativo que se pretende aqui, elas foram agrupadas como sendo apenas uma variante, as formas nominais, e serão tratadas com mais detalhe na seção 6, quando esses dados também serão apresentados. 71 4.3.7 Verbo na terceira pessoa do plural - Ø+V3PP Uma das formas tradicionalmente apresentadas pelas gramáticas, como foi abordado na seção 3 é essa, o verbo na terceira pessoa do plural sem preenchimento lexical do sujeito - Ø+V3PP, o que já é contemplado no item sobre a forma “eles”. O pronome pessoal “eles”, característico da terceira pessoa, pode ser usado como elemento anafórico e, ao mesmo tempo, serve para indeterminar o sujeito, isso por abarcar aí, segundo a pragmática, apenas o “não-eu”, deixa de fora o “eu” e o “não-eu”, respectivamente o emissor e o receptor em um ato de comunicação. O verbo flexionado não garante por ele mesmo o caráter anafórico, próprio dos pronomes pessoais; resta, portanto, considerar o Ø+V3PP apenas como a segunda opção, ou seja, como uma das estratégias para marcar a indeterminação do sujeito, tal como foi registrado nos dados coletados, conforme exemplos: (34) Que eu bati; que eu fui expulso, eh, eu não fiz o dever de casa aí quando chegou na escola ele começou a me xingar, depois puxou a minha orelha, ele puxou a minha orelha eu dei um murro nele, aí me Ø levaram pra diretoria e eu fui expulso. [PEPP18-M1f] (35) Hoje é pagode, mas antigamente era sacode, era uma festa, Ø chamavam sacode, cada um levava um prato, faziam um prato e tudo pra levar, mas eu ia ver na hora que iam sair. [PEPP01-F4f] (36) Total. E qualquer escorregão que você tem já as pernas vão logo embora. Geralmente a gente usa calça, Ø estão usando muito agora o tec ... tec ... tel, tectel, material novo que é levezinho, sintético... [NURC0011/R-F3s] 4.3.8 Verbo mais a partícula “se” - Ø+V+SE O uso do pronome “se” é mencionado pelas gramáticas mais tradicionais citadas ainda como pronome apassivador. 72 Almeida (2005, p. 214-217), por exemplo, classifica o pronome “se” em relação às funções que ele exerce na sentença: reflexibilidade, reciprocidade, passividade e impessoalidade. A função de reflexibilidade diz respeito ao papel que o sujeito da oração assume, assumindo-se agente e recipiente da ação verbal (ALMEIDA, 2005, p. 214). Já a função de reciprocidade acontece quando “o verbo e o pronome se dizem recíprocos, e o se é objeto direto ou indireto conforme o verbo, ou regime de preposição” (ALMEIDA, 2005, p. 216). A função de passividade diz respeito à voz passiva verbal, a qual “expressa uma ação sofrida, recebida pelo sujeito” (ALMEIDA, 2005, p. 209), que segundo o mesmo autor, é formada a partir do uso dos verbos auxiliares ser e estar e o particípio dos verbos tidos como “ativos” ou mediante o pronome se, que então se diz pronome apassivador; este caso se dá sempre que o sujeito é ente inanimado, conseguintemente incapaz de praticar a ação verbal, ou quando o sentido da oração mostra que o sujeito é apenas paciente (ALMEIDA, 2005, p. 210). A última função apontada por ele é a de impessoalidade, marcada pela voz passiva com verbos intransitivos e com os verbos transitivos indiretos no singular (ALMEIDA, 2005, p. 217). Sobre a função que o pronome “se” exerce, Cunha e Cintra (2001, p. 279) apontam o uso como pronome reflexivo e recíproco, como também pronome apassivador (2001, p. 385), tendo a mesma posição que Almeida. Ao tratar da voz passiva verbal, Azeredo (2008, p. 274) aponta o uso do pronome “se” em construção chamada de “passiva sintética ou pronominal” (ver exemplo 45) como uma construção de sujeito indeterminado, uma vez que o agente (referente) do processo verbal não pode ser identificado ou não se tem a intenção de identificá-lo. Segundo o autor, este tipo de construção só pode ser interpretado como “a versão passiva” do exemplo 46, ou seja, neste caso o sujeito indeterminado está bastante evidente, marcado da forma como é apresentado pelas GT: Ø+V3PP. (37) “Abandonaram-se estas crianças”. (38) “Abandonaram estas crianças”. 73 O pronome “se” vem se mostrando contrário a tudo que foi exposto pelas gramáticas tradicionais citadas. Cyrino (2007, p. 107), ao tratar sobre o uso do pronome “se” em textos escritos entre os séculos XVIII e XX, a partir de corpora do projeto Para a História do Português Brasileiro – PHPB; do Projeto de História do Português Paulista, subprojeto Mudança Gramatical no Português de São Paulo: anúncios de jornal, cartas de leitores, cartas pessoais, cartas oficiais e dados de jornais da imprensa negra paulista; e de dados escritos por portugueses radicados no Brasil que compõem o corpus do século XVIII, concluiu que, “a partir do século XIX, todo se pode ser considerado impessoal [...] o se nominativo sempre ocupa a posição de sujeito”. Nesse mesmo sentido, Said Ali (2006, p. 164) diz que a linguagem nos ministra pronome pessoal fixo para evitar repetições de nome já conhecido pelo discurso, e expressões várias à escolha quando nos referimos a pessoa ou pessoas que não importa nomear. No caso do verbo conjugado com o pronome reflexivo se, a interpretação como voz passiva é falha, já quanto à análise da forma, pois o elemento reflexivo só poderia reflexivar, já quanto à função, visto que a mesmíssima linguagem indiscriminadamente se aplica a verbos intransitivos. O latim itur é forma passiva com função do verbo ativo. Se adotássemos em português o mesmo processo, diríamos é ido, e não vai-se [cf. exemplo 02] no estilo literário, a gente vai na linguagem familiar. Buscando asseverar que o pronome “se” é uma das marcas de indeterminação do sujeito utilizada na fala urbana de Salvador, em consonância com o estudo realizado por Menon (1994; 2006), será considerado o uso do pronome “se” em estruturas como a tida voz passiva sintética (PASSINT) a fim de verificar a produtividade da concordância verbal de número, sobretudo nos falantes de nível superior completo, conforme exemplo a seguir. (39) (ruídos) são feitos de couro, de plásticos ainda Ø se usam muito, as mulheres é que lançaram esse negócio do... do plástico no calçado, né, hoje até aquele plástico transparente, eu não sei o nome que dão, mas parece uma fita transparente, né... e que já emigrou disso aí, já está no sutiã, já está no biquíni, entendeu, já está em todo lugar, quer dizer... eh... [NURC014/R-M4s] 74 Ressalta-se, portanto, que no presente estudo não há distinção entre uma forma e outra para marcar a indeterminação do sujeito. Mas buscando atender o objetivo citado anteriormente, será considerado passiva sintética apenas para os supostos objetos no plural e com o verbo em concordância com ele, nos demais casos será interpretado como Ø+V+Se. (40) Eu não sei se é amor a primeira, eu não sei se chama-se amor, não sei se isso é amor, gosto sim, gosto dela, agora gosto mais ainda, agora depois que a gente teve filho, mas não sei o que é que quer dizer amor, não sei se é amor a palavra, eu acho que gostar eu gosto, amor eu não sei. [PEPP09-M2f] (41) Olhe, eu ... eu acho que não funciona negócio de apanhar realmente não, viu, de bater em filho eu acho que não é por aí não. Eu acho que não ... eu acho que é isso, tem que ter o respeito sem ... sempre se dá bater né, não, hoje eu sou contra, agora se na conversa não, não conseguir, aí tem que Ø se apelar pro ...pra ignorância mesmo... [PEPP10-F3m] (42) E foi talvez o meu melhor momento como escola, não só por você ser adolescente, por você ter o mundo todo diferente para... para... para buscar, mas pela própria situação que... que Ø vivia-se no momento no país, a ditadura, vontade de burlar a ditadura, vontade de ser criativo para burlar isso, não é. eh... ah... tivemos uma geração nessa época que até hoje é lembrada na escola como a grande geração que passou na escola. [NURC010/N-M2s] 4.3.9 Verbo na terceira pessoa do singular - Ø+V3PS A terceira pessoa do singular sem sujeito lexicalmente preenchido - Ø+V3PS como estratégia de indeterminação do sujeito não é tratada nas gramáticas tradicionais e descritivas, com exceção de Neves (2000, p. 464) na subseção 3.3.1 desta dissertação, a qual menciona e faz uma ressalva quanto ao uso dessa estratégia, dizendo que é considerada de uso mais popular. 75 Assim, a investigação dessa estratégia no PEPP e no NURC pode esclarecer quanto a essa conclusão de Neves, pois a forma foi utilizada por falantes de outros níveis de escolaridade. Sendo assim, ela pode não se restringir apenas ao uso popular, mas também se estender ao uso culto da língua (ver exemplo 45). Ainda sobre essa estratégia, Ferreira (1991, p. 45, grifos da autora) afirma que essa construção com forma verbal da chamada 3ª pessoa do singular com sujeito não explícito sem referente poderia ser interpretada quer como expressão do conjunto genérico constituído pelo EU mais o NÃO-EU mais a NÃO-PESSOA – mais uma forma de indeterminação do sujeito –, quer como a tradicionalmente considerada passiva sintética, apresentando-se, entretanto, com ausência do se. Essa estratégia mostrou-se um tanto significativa, registrando-se a seguir alguns trechos selecionados dos dados coletados. (43) Hoje não Ø vê, é muito raro. A gente tinha boneca, fazia batizado. [PEPP01-F4f] (44) Ø Dividia a, a turma, Ø colocava em uma sala e outra, em baixo, ou se não misturava com outras séries, sabe que é semana de prova né? [PEPP04-M1m] (45) Eu não vi ainda, Ø disse que é uma beleza, que inclusive é baseado no que eles fizeram das botas pra ... pra andar na guerra, né, que eles fizeram uma bota pra areia, que a areia não entra na bota, como fizeram uma pra andar em rio, que Ø diz que a água entra e sai. Essa daí seria legal pra a gente. [NURC0011/R-F3s] 4.3.10 Verbo no infinitivo impessoal - Ø+VINF O infinitivo impessoal, ou seja, sem preenchimento do sujeito, também é considerado aqui como uma das estratégias para marcar a indeterminação. Essa possibilidade se dá justamente por não haver um item lexical junto à forma, o que caracteriza o uso genérico, podendo ser qualquer pessoa. 76 Conforme visto na seção 3, dentre as gramáticas normativas apresentadas, a única que considera essa estratégia como sendo também de indeterminação do sujeito é a gramática de Cegalla (2008, p. 325). Menon (1994), Setti (1997) e Godoy (1999) consideraram o infinitivo impessoal juntamente com Ø+V3PS, afirmando que esse não é marcado morfologicamente, assim como aquele. Nesta dissertação, será considerado separadamente por haver outros fatores, sejam linguísticos ou extralinguísticos, que podem evidenciar sua distinção. Abaixo, seguem alguns exemplos encontrados nos corpora analisados: (46) ...as vezes a gente apanhava e chorava e outras vezes não, porque tem uns que são malvados que bate com, bate forte, tinha outra brincadeira também, Ø chutar lata, Ø jogar gude, mas a melhor brincadeira também mesmo era Ø empinar arraia, que até hoje eu empino né. [PEPP18-M1f] (47) Ø EDUCAR, eh, dá trabalho, não é fácil, porque requer um, um, uma série de, de reuniões, reuniões de comportamentos para, de aquisição de comportamentos pra que você possa eh, passar para aquela pessoa, então é uma coisa difícil, mesmo se tratando de, de educação doméstica, mesmo se tratando de educação doméstica. [NURC015/NM3s] 4.3.11 Voz passiva sem agente - VPSA As gramáticas de uma forma geral apresentam dois tipos de realizações das passivas: a sintética, já mencionada anteriormente, compondo aqui uma das variantes para marcar a indeterminação do sujeito; e a analítica. Segundo Hauy (1986, p. 171), a passiva analítica é constituída pelos verbos auxiliares ser, estar e ficar, caracterizando a passiva como de ação, de estado e de mudança de estado, respectivamente. A principal diferença existente entre as duas passivas mencionadas, ainda segundo Hauy (1986, p. 171), é que a passiva analítica “pode apresentar o verbo em 77 qualquer pessoa, enquanto a sintética só se constrói em 3ª pessoa”. A exemplo da passiva analítica, Hauy (1986, p. 171, grifos nossos) cita: (48) Fui procurado por todos. (49) Foste procurado por todos. (50) Fomos criados por Deus. A variante denominada de “voz passiva sem agente” é caracterizada com a ausência do agente da passiva, que no caso das três frases citadas seriam “por todos” e “por Deus”. Ao longo da coleta de dados, não foram encontrados usos da voz passiva analítica sem agente – VPSA, o que não quer dizer que ela não seja empregada pelos falantes de Salvador, uma vez que a base de dados constitui apenas uma amostragem. 4.3.12 Voz passiva sintética - VPASSINT Embora as gramáticas normativas caracterizem a voz passiva sintética como formada apenas por “um verbo transitivo direto ou transitivo direto e indireto na terceira pessoa do singular ou do plural (em concordância com o sujeito), seguido do pronome se, apassivador” (HAUY, 1986, p. 169, grifo do autor), de acordo com o que foi discutido no item anterior, no presente texto, essa é uma estratégia de sujeito indeterminado. Segundo a tradição, a distinção realizada para marcar a voz passiva sintética – VPASSINT seria a marca de plural apresentada pelo verbo em concordância com o objeto, o que tradicionalmente levaria a considerar o sintagma nominal seguinte como sujeito da oração. (51) Como Ø dividiam-se os povos, pra dizer se, se selvagens, bárbaros, nada disso eu disse, e eu sabia tudo, mas não disse não. E ela atrás me dizendo, (...inint...), V... viu, mas eu não repetia, V... saiu me deu um murro, aí disse, “você está demais”, era muito a minha camarada. [PEPP25-F4m] 78 4.4 VARIÁVEIS INDEPENDENTES As variáveis independentes, conforme visto na subseção 2.5, são assim chamadas por se tomar como hipótese que podem influenciar na variação linguística, uma vez que não se considera ser ela aleatória, mas condicionada por esses grupos de fatores de ordem extralinguística (social) ou linguística, podendo atuar juntos ou não. Cabe ao sociolinguista selecioná-los de acordo com a realidade que se pretende estudar. A seguir, serão elencadas as variáveis independentes selecionadas, as quais foram escolhidas com base nos estudos que antecederam esta pesquisa. 4.4.1 Variáveis Extralinguísticas ou Sociais 4.4.1.1 Gênero/sexo A realidade linguística vivenciada por homens e mulheres, ao desempenhar seus papéis sociais, é diferente e, ao mesmo tempo, diversificada, uma vez que cada fator não age sozinho, mas junto a questões referentes à escolaridade, idade, rede social, tipo de ocupação, entre outras. Não é de se estranhar, portanto, que os homens tenham uma maneira peculiar de utilizar a língua diferentemente das mulheres. Eles se comunicam diferente, às vezes é possível distinguir se uma fala foi dita por um homem ou por uma mulher, seja por uma marca lexical ou várias, construções oracionais, entre outras. Segundo Silva-Corvalán (2001, p. 96, tradução nossa), “é sabido que, em igualdade de condições e além do tom de voz, a maneira de falar das mulheres é diferente da dos homens”. Contudo, essa diferença no falar não é algo marcado por questões biológicas. Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p. 47), “essas variações entre os repertórios feminino e masculino são relacionadas aos papéis sociais que [...] são culturalmente condicionados”. Daí a necessidade de marcar este tipo de variação, como de gênero (diagenérica) e de sexo (diassexual), não apenas sexo. Ao analisarem alguns estudos sobre fenômenos fonológicos, Silva e Paiva (1988, p. 366) apontaram que a variável gênero/sexo apresentou-se bastante 79 relevante, pois “indicou forte tendência das mulheres no uso das formas linguísticas padronizadas”. Se, ao analisar a variação no nível fonológico, o gênero/sexo feminino mostrou-se favorecedor dos padrões linguísticos das línguas que foram observadas, pretende-se verificar se no nível morfossintático, ao qual se dedica o presente trabalho, também isso ocorre, ou seja, se o gênero/sexo feminino também opta pelas formas de prestígio10. No entanto, de acordo com Paiva (2004, p. 35), a análise da correlação entre gênero/sexo e a variação linguística tem de, necessariamente, fazer referência não só ao prestígio atribuído pela comunidade às variantes linguísticas como também à forma de organização social de uma dada comunidade de fala. Acredita-se que essa opção pelas formas consideradas prestigiadas é um reflexo da sociedade brasileira como um todo, na qual a mulher está passando a exercer determinadas funções antes desempenhadas pelos homens e a constante busca pelos altos postos de trabalho. Essa variável foi observada em estudo realizado sobre o emprego de “onde” na fala urbana de Salvador, no qual Souza (2009, p. 67, grifo da autora), observou que “os homens possuem um percentual maior de usos do ONDE Espaço Físico, 85%, em relação às Mulheres, que possuem 78%”. Além disso, ela também observou o emprego de valores abstratos de “onde”, como tempo, noção e posse. Ao final, a pesquisadora confirma a tendência que vem sendo revelada na literatura Sociolinguística, de que “as mulheres são sempre conservadoras em termos de usos, mas quando a mudança não é estigmatizada, elas facilmente incorporam os novos usos, e passam a ser mais inovadoras do que os homens” (SOUZA, 2009, p. 67). 10 “O termo prestígio em sociolinguística é usado para se referir ao valor positivo que certas variáveis linguísticas têm em relação a facilitar a ascensão na escala social e também ao valor que têm as formas linguísticas padrão, reconhecidas e aceitas pelas gramáticas normativas e geralmente associadas com a classe média alta culta” (SILVA-CORVALÁN, 2001, p. 99, tradução nossa, grifo da autora). 80 4.4.1.2 Escolaridade O papel da escola em relação ao ensino de língua materna sempre foi fruto de discussões. Votre (2003, p. 52), por exemplo, inicia seu artigo tecendo comentários a respeito, dizendo que a observação do dia-a-dia confirma que a escola gera mudanças na fala e na escrita das pessoas que as frequentam e das comunidades discursivas. Constata-se, por outro lado, que ela atua como preservadora de formas de prestígio, face a tendências de mudança em curso nessas comunidades. Veículo de familiarização com a literatura nacional, a escola incute gostos, normas, padrões estéticos e morais em face da conformidade de dizer e de escrever. Compreendese, nesse contexto, a influência da variável nível de escolarização, ou escolaridade, como correlata aos mecanismos de promoção ou resistência à mudança. Assim, de acordo com Silva e Paiva (1998, p. 343), a partir de observações feitas em relação a alguns estudos no nível fonológico, constatou-se que os falantes que possuem níveis de escolarização mais altos tendem a usar mais as formas socialmente aceitas, desfavorecendo os usos que não estão em consonância com o padrão estabelecido. No Brasil, em particular, é muito difícil se medir o quanto o status social do falante pode influenciar em sua fala, uma vez que a distribuição de renda é muito desigual, o que dificulta classificar os falantes em diversos níveis. Desta forma, muitos estudiosos da sociolinguística optaram por considerar o nível de escolaridade como barema para tal classificação, pois, de acordo com Bortoni-Ricardo (2004, p. 48), a qualidade das escolas que os falantes frenquentaram durante a vida e a própria quantidade de anos dedicada ao processo de escolarização têm influência em seu repertório sociolinguístico, uma vez que a escolarização e o status socioeconômico estão diretamente ligados na sociedade brasileira. Assim, verificar o nível de escolaridade no qual se encontram os falantes é caracterizar uma maior aproximação ou menor aproximação do que é considerado o padrão de uma língua em uma sociedade, visto que é a escola que busca cumprir o papel de regulá-lo e mantê-lo. Souza (2009, p. 23), ao analisar a concordância do sujeito com o verbo na fala de Salvador, verificou que quanto mais escolarizado é o falante, mais faz uso da concordância verbal. Assim, os falantes com nível superior completo, de acordo com 81 essa pesquisadora, apresentaram 92% de frequência de uso da concordância verbal contra 49% dos falantes do Ensino Fundamental, menor percentual observado. As formas de indeterminação do sujeito também serão analisadas quanto aos níveis de ensino a que pertencem os informantes, se do Ensino Fundamental, Médio ou Superior. A partir dessa observação, acredita-se que os falantes do Ensino Superior fazem mais uso das formas tidas como cultas, enquanto os falantes do Ensino Fundamental utilizam as formas menos prestigiadas. Tal hipótese será analisada a fim de constatar ou refutar as ideias apresentadas. 4.4.1.3 Faixa Etária As diferenças no uso de uma língua ainda podem ser condicionadas pela idade, como afirma Bortoni-Ricardo (2004, p. 47), ao dizer que, “no interior da família, há diferenças sociolinguísticas intergeracionais: os avós falam diferente dos filhos e dos netos etc. O mesmo ocorre na sociedade como um todo”, notável ao observar a fala dos mais velhos de uma comunidade linguística e a fala dos mais jovens, por exemplo. Em estudos realizados sobre a concordância nominal na fala de Salvador, por exemplo, Lopes (2009b, p. 44) mostrou, a partir de dados numéricos, que “a faixa etária mais velha é a mais favorecedora do uso da concordância, pois é a que mais tende a marcar os elementos do sintagma nominal com o morfema plural”. Assim, ainda segundo a autora, os falantes mais velhos apresentaram peso relativo .59 de concordância nominal em relação aos falantes mais novos, que apresentaram peso relativo .49. Ao estudar as diferenças linguísticas entre falantes de faixas etárias diferentes, pode-se perceber também sob dois pontos de vistas distintos, segundo Silva e Paiva (1998, p. 350), “a relação de estabilidade entre variantes linguísticas – um fenômeno varia, mas não muda – ou a existência de mudanças na língua”. Já de acordo com Silva-Corvalán (2001, p. 101, tradução nossa), além da mudança linguística, há também a situação de “identidade com o grupo etário” e a “autocorreção por parte dos grupos geracionais mais ativos na vida pública”. Portanto, há de se observar que formas tendem a ser conservadas pelos falantes mais velhos, quais as formas de prestígio que são usadas por eles para 82 marcar o sujeito indeterminado e quais as estratégias usadas pelos falantes mais novos, uma vez que eles tendem a inovar, buscando estratégias mais novas. Essa hipótese toma por base as palavras de Naro (2003, p. 44), que afirma que os falantes adultos tendem a preferir as formas antigas, criando uma situação estranha, pelo menos à primeira vista: existem pessoas que, apesar de estarem em interação constante (do tipo pai/filho), costumam falar de maneira distinta. Entretanto, isso não chega a comprometer a comunicação, já que ambos os lados são capazes de utilizar e entender todas as formas. Trata-se apenas de uma tendência em direção a outra forma. Com o correr do tempo, é provável que a forma nova seja adotada por todos. 4.4.2 Variáveis Linguísticas 4.4.2.1 Tempo e modo verbal Ao analisar a variável tempo e modo verbal, Menon (1994; 2006) observou que certos tempos verbais apresentam-se como favorecedores no emprego de estratégias que indeterminam o sujeito. A exemplo disso, Menon (2006, p. 138) percebeu que “é o presente do indicativo o tempo empregado nas construções hipotéticas”, concluindo, por conseguinte, que é “a presença maciça desse tempo verbal que indica que ele é uma das características dos enunciados da indeterminação”. Assim, será adotada neste trabalho a classificação dos tempos e modos verbais cunhados pelas gramáticas normativas de maneira geral para tentar verificar se o uso das variantes está condicionado a uma determinada forma verbal. Seguese a distribuição utilizada: • Modo Indicativo: o Presente; o Pretérito perfeito; o Pretérito imperfeito; o Futuro do presente; o Futuro do pretérito; 83 • Modo Subjuntivo: o Presente; o Pretérito imperfeito; o Futuro; • Formas nominais: o Infinitivo; o Particípio; o Gerúndio; • Imperativo. As locuções verbais foram entendidas a partir dos verbos auxiliares, uma vez que “o último dos verbos é que expressa a verdadeira ação, ação que se quer manifestar, e o outro (ou os outros, quando locução é constituída de mais de dois verbos) indica o modo, o tempo, a pessoa...” (ALMEIDA, 2005, p. 309). Cunha e Cintra (2001, p. 121, grifos do autor) explicam ainda mais detalhadamente que a LOCUÇÃO VERBAL é o conjunto formado de um VERBO AUXILIAR + UM VERBO PRINCIPAL. Enquanto o último vem sempre numa FORMA NOMINAL (INFINITIVO, GERÚNDIO, PARTICÍPIO), o primeiro pode vir: a) numa FORMA FINITA (INDICATIVO, IMPERATIVO, SUBJUNTIVO): A viticultura foi-se alargando talvez a partir do terceiro século. [...] b) numa FORMA NOMINAL (INFINITIVO ou GERÚNDIO): Ah, não poder subir na sombra Como um ladrão que escala um muro! 4.4.2.2 Tipo de oração Ao estudar as estratégias pronominais para marcar a indeterminação do sujeito, Cunha (1993, p. 35) salientou que a inclusão da variável tipo de oração baseava-se “não em hipótese, mas na necessidade que sentimos de controlar o tipo 84 de oração para mais adiante saber se ele evidencia alguma particularidade do fenômeno”. Assim, essa variável aqui será considerada para tentar depreender se há alguma relação entre ela e as escolhas que os falantes fazem das estratégias de indeterminação do sujeito. • Oração absoluta: (52) Mais rápidas, o pessoal tem mais conforto dentro de sua casa. [PEPP06-M4f] • Oração principal: (53) O homem inventa algumas coisas que ele não sabe até onde vai dar, quais são os reflexos. [NURC010/N-M2s] • Oração coordenada: (54) • É, se aprofundar e ficar bom demais naquilo. [PEPP11-M4m] Oração subordinada: (55) O outro é a baianitude, a baianitude é esta admirável dádiva de Deus, que dá aos baianos uma inteligência fantástica, que só A GENTE vê nos Mangabeiras, né? [NURC012/R-M4s] 4.4.2.3 Tipo de verbo Assim como as variáveis tempo e modo verbal e tipos de oração, a variável tipo de verbo também foi classificada a partir do ponto de vista da gramática tradicional, contudo levando-se em consideração o contexto no qual os verbos foram empregados, pois sua transitividade, segundo Perini (2004, p. 164, grifos do autor), 85 “deve ser feita em termos de exigência, recusa e aceitação livre de cada uma das funções relevantes”. Os verbos foram classificados em transitivos, intransitivos e de ligação. Os diferentes tipos de verbos transitivos, como diretos e indiretos, foram englobados como apenas transitivos. • Verbo transitivo: (56) Hoje não vê, é muito raro. A gente tinha boneca, fazia batizado. [PEPP01-F4f] • Verbo intransitivo: (57) Larguei, larguei ele, larguei ele e comecei a trabalhar e tudo mais, lá vai, lá vai, passou e eu levei um, uma temporada sozinha, um bocado de ano, depois disso eu disse que não queria mais ninguém, porque a gente quando acontece um caso desse a gente fica quase com um trauma, eu não sei o que é. [PEPP31-F3f] • Verbo de ligação: (58) Não. Ali ele... ele tinha tido um “treco” na escola, porque ai... iria haver uma reversão grande, não é? E ele sabia que não podia fazer isso. E aí foi fantástico, não é? foi fantástico, assim, uma hora e meia de poesia, as pessoas ouvindo, aplaudindo, curtindo, silenciosas, não precisava pedir silêncio, estavam acostumadas a ouvir, e... [NURC010/N-M2s] 4.4.2.4 Forma antecedente A hipótese geral para a inserção da variável forma antecedente neste estudo é de que “marcas tendem a levar a marcas”, segundo Scherre e Naro (2004, p. 152), ou seja, uma vez utilizada determinada estratégia para marcar a indeterminação do sujeito, o informante manteria essa mesma forma nas orações subsequentes, 86 “desencadeando uma série de repetições”, chamadas na literatura sociolinguística de “efeito gatilho”. Para estabelecer se uma forma seria considerada antecedente ou não, foram obedecidos alguns critérios apontados por Cunha (1993, p. 39) e Santana (2006, p. 83): a) Foi analisado apenas um turno de fala do informante por vez, sem a interferência do documentador (ou interlocutor); b) As estratégias analisadas deviam fazer parte do mesmo conteúdo ainda no mesmo turno; c) O período de transcrição não podia ultrapassar o limite de dez linhas de transcrição; d) Quando o informante mudou de conteúdo dentro do mesmo turno ou se ele ultrapassou o limite das dez linhas, a estrutura foi considerada como a primeira de uma nova série ou como uma estrutura isolada, não sendo considerada para fins quantitativos. A partir do exposto, as formas antecedentes foram assim distribuídas: • Forma precedida de a gente explícito: (59) É bom que as vezes a gente testa força, e as vezes é ruim porque a gente leva desvantagem quando a gente apanha. [PEPP18-M1f] • Forma precedida de a gente implícito: (60) Lá eu brincava na escola Rui Barbosa, e a diretora deixava de vez em quando aí a gente armava tudo lá dentro do colégio, Ø fazia a bagunça da gente depois a gente limpava e ia embora pra casa, mas era divertido. [PEPP18-M1f] • Forma precedida de eles explícito: (61) Eu acho que eles não deviam exigir assim, Ø cobrando muito, a pessoa não tem calça, não tem calça né, não poder ir com a saia 87 comprida, umas coisas que ele, que eles exige que a gente não, as vezes a gente nem tem... [PEPP05-F1f] • Forma precedida de eles implícito: (62) Foi que o segurança achou que a gente estava procurando briga, aí eu, não foi eu que estava procurando, foi meus colegas que eles dizem que estava procurando, aí eu tive que me meter, aí foi paulada, garrafada, chute, aí botaram a gente pra fora, chegou cá fora a gente ficou esperando o pessoal sair, aí quando saiu como a gente mora em Nazaré a gente aí tirou os paus de, da barraca de capeta e começou dar de ferro nos outros, pauladas, depois chamaram a polícia a gente ainda estava no local ainda, chamaram a polícia a gente aí teve que partir pra casa, correr.. [PEPP18-M1f] • Forma precedida de eu explícito11: (63) Eu acho que não tenho assim hoje uma idéia fixa, ou seja, tem que mudar, eu acho que não é isso, eu acho que é um processo, e que dentro do processo quando pintar a oportunidade eu vou modificar, eu vou propor a modificação, não é? [NURC010/N-M2s] • Forma precedida de FN explícito: (64) É meio assustador, mas não se preocupe porque ninguém hipnotiza ninguém se a pessoa não quer, porque quando ela não quer ela forma uma barreira, e essa barreira exatamente evita a invasão de estímulos, que as pessoas também tem medo de que, por exemplo, quando a pessoa está hipnotizada não vai mais acordar, isso também é mentira... [NURC015/N-M3s] • 11 Forma precedida de FN implícito: A forma precedida de eu implícito (eu como sujeito indeterminado) não foi encontrada nos dados analisados. 88 (65) Talvez agora as pessoas tenham, tenham buscado mais esse lado, teve uma época que eu acho que as pessoas ficaram meio, meia doidonas. Que Ø entravam muito numa, numa de, de meio de “réuris”, eu chamo assim, que Ø entravam numa, numa, numa educação que eu não, eu não consigo ver ganho nisso daí. [NURC013/N-F2s] • Forma precedida de nós explícito: (66) Bom, brincadeiras eu sempre gostei muito de jogar bola, a não ser isso eu ia pra praia que era perto lá de onde eu morava, bem pertinho, nós ia muito pra praia, jogava, Ø jogava uma, uma, uma tábua, não sei se vocês já viram... [PEPP09-M2f] • Forma precedida de nós implícito: (67) Eles só vivem assim pra negócio de ... pra barzinho. Na minha adolescência eu não ia pra bar, nós íamos passear no porto dos Tainheiros, passear, ali naquela, naquele porto dos Tainheiros todo, Ø íamos lá e Ø voltava, assim, Ø ficávamos assim passeando pra lá e pra cá, nós sentava na balaustrada, ficávamos conversando, dando risada, era assim. [PEPP01-F4f] • Forma precedida de você explícito: (68) Você não vê hoje uma menina assim disposta a, dentro de casa, ajudar a mãe, a cooperar. Olhe, eu criei meus filhos, meus filhos sabem fazer tudo. Sabem cozinhar, sabem lavar, sabem passar, mas hoje você vê muita moça que não sabe fazer um café. [PEPP01-F4f] • Forma precedida de você implícito: (69) Eu tive professoras mesmo no ginásio, na quinta série que você ia pro quadro, ela mandava você ir pro quadro né Ø fazer exercício, Ø errava 89 ela pegava a, um negocinho né, tipo uma anteninha que era, “abra a mão”, aí batia, dava aqui... [PEPP04-M1m] • Forma precedida de Ø+V+SE: (70) [...] E foi talvez o meu melhor momento como escola, não só por você ser adolescente, por você ter o mundo todo diferente para... para... para buscar, mas pela própria situação que... que vivia-se no momento no país, a ditadura, vontade de Ø BURLAR a ditadura, vontade de ser criativo para burlar isso, não é. eh... ah... tivemos uma geração nessa época que até hoje é lembrada na escola como a grande geração que passou na escola. [NURC010/N-M2s] • Forma precedida de Ø+V3PP: (71) Ø Dizem que estudar né, eu posso estudar, tomar cursos, mas eu acho que se a pessoa também não tiver um bom conhecimento não adianta porque como eu tem aqui pessoas aqui bem instruídas, tem, tem até profissão aqui também onde eu estou trabalhando e não, está fazendo o mesmo trabalho que eu • Forma precedida de Ø+V3PS: (72) ... Eu não vi ainda, Ø disse que é uma beleza, que inclusive é baseado no que eles fizeram das botas pra... pra andar na guerra, né, que eles fizeram uma bota pra areia, que a areia não entra na bota, como fizeram uma pra andar em rio, que Ø diz que a água entra e sai. Essa daí seria legal pra a gente. [NURC0011/R-F3s] • Forma precedida de Ø+VINF: (73) A do retorno, e não, Ø descer na Rodoviária também, porque ninguém vai entender se você descer, na Rodoviária, suja do jeito que a gente vai na caminhada, aí ... [NURC0011/R-F3s] 90 • Forma precedida de PASSINT: (74) Como dividiam-se os povos, pra Ø dizer se, se selvagens, bárbaros, nada disso eu disse, e eu sabia tudo, mas não disse não. E ela atrás me dizendo, (...inint...), V... viu, mas eu não repetia, V... saiu me deu um murro, aí disse, “você está demais”, era muito a minha camarada. [PEPP25-F4m] 4.4.2.5 Mudança / manutenção do referente De acordo com Cunha (1993, p. 38), a hipótese de se analisar a variável mudança/manutenção do referente é de que “a mudança de referente levaria à mudança de forma”, e é justamente isso que se analisa neste trabalho. Santana (2006, p. 85) informou que essa variável foi abordada em outros trabalhos sobre o presente tema conjugada com a variável forma antecedente, mas aqui é considerada isoladamente, englobando os seguintes fatores: • referente igual à estrutura imediatamente anterior na série discursiva; • referente diferente da estrutura imediatamente anterior na série discursiva. Como se pode prever, nesta variável não foram consideradas as formas isoladas ou a primeira de uma série discursiva. 4.4.2.6 Preenchimento do sujeito A variável preenchimento do sujeito é formada apenas pelas estratégias pronominais utilizadas para marcar a indeterminação do sujeito: a gente, eles, eu, nós e você. Os demais casos não foram considerados, uma vez que são estratégias sem sujeito preenchido ou então não permitem a inclusão do sujeito implícito, como é o caso das formas nominais. 91 Tendo em vista a possibilidade de as orações poderem possuir um sujeito pronominal explícito e implícito, os fatores estabelecidos para tal classificação foram: • Sujeito pronominal explícito – a posição de sujeito é preenchida por um dos pronomes analisados como estratégias de indeterminação do sujeito: (75) ...agora eu não tenho bem certeza, ele coloca que a grande mudança da humanidade é quando você deixa de subordinar o tempo, não é? [NURC010/N-M2s] • Sujeito pronominal implícito – a posição de sujeito não é preenchida por um dos pronomes analisados, contudo, através do contexto, sabe-se que ele está oculto: (76) Foi que o segurança achou que a gente estava procurando briga, aí eu, não foi eu que estava procurando, foi meus colegas que eles dizem que estava procurando, aí eu tive que me meter, aí foi paulada, garrafada, chute, aí Ø botaram a gente pra fora, chegou cá fora a gente ficou esperando o pessoal sair, aí quando saiu como a gente mora em Nazaré a gente aí tirou os paus de, da barraca de capeta e começou dar de ferro nos outros, pauladas, depois chamaram a polícia a gente ainda estava no local ainda, chamaram a polícia a gente aí teve que partir pra casa, correr. [[PEPP18-M1f]] No exemplo 77, a estrutura antecedente caracteriza que há menção a um sujeito plural, que possivelmente é o próprio “eles”, uma vez que há flexão verbal idêntica ao verbo anterior (dizem). 4.4.2.7 Grau de indeterminação Na seção 3.4, foi discutida a questão do envolvimento das pessoas no discurso, podendo haver maior ou menor inclusão delas. A depender desse papel desempenhado durante a interação, a indeterminação do sujeito pode ser categorizada de acordo com o seu grau. 92 A delimitação da variável grau de indeterminação levou em consideração os estudos desenvolvidos por Cunha (1993, p. 37) e Santana (2006, p. 89), as quais classificaram em: • Indeterminação completa – quando o referente não pode ser depreendido de forma alguma dentro do contexto no qual a estratégia está inserida: (77) Larguei, larguei ele, larguei ele e comecei a trabalhar e tudo mais, lá vai, lá vai, passou e eu levei um, uma temporada sozinha, um bocado de ano, depois disso eu disse que não queria mais ninguém, porque a gente quando acontece um caso desse a gente fica quase com um trauma, eu não sei o que é. [PEPP31-F3f] • Indeterminação parcial com referência implícita no contexto – o referente não se encontra visível no texto, mas, por inferência, se pode depreendê-lo: (78) É, (...inint...), estão a mesma coisa, e os livros quando a gente não podia comprar, naquela, naquela época a gente ia pra biblioteca pública, eu cansei de ir, e tinha matérias como história universal que eu estudava lá com A ..., o famoso M... [PEPP11-M4m] • Indeterminação parcial com referência explícita no contexto – há a possibilidade de depreender o referente, por meio de inferência, a partir de algum elemento presente no texto que possibilite sua interpretação: (79) Na especialização ... na própria especialização o fato de ser baiana, nordestina, é uma onda pra paulista, então constantemente era dando tacadas em cima de você, que você era muito inteligente pra ser baiana, aí você, aí eu pegava as frases de Nizan Guanaes: o problema que eu estou aqui, é porque lá eu era mais uma, e aqui eu faço a diferença, aí quando Ø dizia alguma coisa de festa, porque aqui a gente sempre foi muito festeiro, que a gente só estava ensaiando, aqui quando não estava ensaiando era tempo de festa, eu digo graças a Deus porque aqui, lá a gente, a gente se diverte enquanto os bestas 93 trabalham do lado de cá, então era sempre uma guerra na sala de aula por causa disso... [NURC013/N-F2s] 4.5 O SUPORTE QUANTITATIVO Definidos os corpora, as variantes linguísticas, as variáveis extralinguísticas e linguísticas, torna-se necessário definir o suporte quantitativo que dará conta de fazer com que os dados linguísticos sejam processados e obtenham-se os dados numéricos estatístico-probabilísticos importantes para a análise qualitativa. A quantificação dos dados e o cruzamento das variáveis são importantes para os estudos da variação linguística porque permitem ao pesquisador, segundo Guy e Zilles (2007, p.73) “apreender sua sistematicidade, seu encaixamento linguístico e social e sua eventual relação com a mudança linguística.”. Para realizar tal procedimento, o pesquisador se utiliza do Varbrul (do inglês Variable Rules), que é um pacote ou conjunto de programas computacionais que realiza a análise multivariada, especialmente elaborado para tratar de dados relativos à variação linguística. A análise multivariada, ainda segundo Guy e Zilles (2007, p.105), “permite investigar situações em que a variável linguística em estudo é influenciada por vários elementos do contexto, ou seja, múltiplas variáveis independentes.”. O pacote de programas Varbrul, em sua versão conhecida como Varbrul 2S, possui uma versão mais atualizada e inovadora que constitui em apenas um programa, chamado GoldVarb X, o qual desenvolve praticamente o mesmo trabalho de sua versão inicial, com exceção de análises ternárias e eneárias de até cinco variantes na variável dependente. Obviamente, o programa (ou pacote de programas) precisa que o pesquisador em sociolinguística estabeleça códigos para cada fator das variáveis dependente e independentes. Assim, ele processará os códigos informados, o que permitirá cruzar todas as variáveis e estabelecerá a definição dos grupos de fatores que influenciam ou não influenciam nas seleções das variantes linguísticas. Para esta dissertação, foram atribuídos códigos distintos para cada fator de cada grupo, conforme lista abaixo: 94 • Variável dependente: A gente (g), Eles (l), Eu (e), Formas Nominais (@), Nós (n), Você (v), Ø+V+SE ($), Ø+V3PP (#), Ø+V3PS (&), Ø+VINF (i), VPSA (s) e VPASSINT (a); • Variáveis independentes: o Variável gênero/sexo: Masculino (M) e Feminino (F); o Variável faixa etária: Faixa etária 1 (1), Faixa etária 2 (2), Faixa etária 3 (3) e Faixa etária (4); o Variável escolaridade: Ensino Fundamental (f), Ensino Médio (m) e Ensino Superior (s); o Variável tempo e modo verbal: Presente do Indicativo (h), Pretérito Perfeito (d), Pretérito Imperfeito do Indicativo (i), Futuro do Presente (f), Futuro do Pretérito (c), Presente do Subjuntivo (j), Pretérito Imperfeito do Subjuntivo (e), Futuro do Subjuntivo (u), Infinitivo (n), Particípio (p), Gerúndio (g) e Imperativo (m); o Variável forma antecedente: Forma precedida de a gente explícito (g), Forma precedida de a gente implícito (G), Forma precedida de eles explícito (l), Forma precedida de eles implícito (L), Forma precedida de eu explícito (e), Forma precedida de eu implícito (E), Forma precedida de FN explícito (@), Forma precedida de FN implícito (A), Forma precedida de nós explícito (n), Forma precedida de nós implícito (N), Forma precedida de você explícito (v), Forma precedida de você implícito (V), Forma precedida de Ø+V+SE ($), Forma precedida de Ø+V3PP (#), Forma precedida de Ø+V3PS (&), Forma precedida de Ø+VINF (i), Forma precedida de VPSA (s) e Forma precedida de VPASSINT (a); o Variável mudança/manutenção do referente: Referente igual à estrutura imediatamente anterior na série discursiva (I) e Referente diferente da estrutura imediatamente anterior na série discursiva (D); o Variável preenchimento do sujeito: Sujeito pronominal explícito (e), Sujeito pronominal implícito (i) e as demais formas não pronominais receberam o código não se aplica (/); o Variável tipo de verbo: Ligação (L), Transitivo (T) e Intransitivo (I); o Variável grau de indeterminação: Parcial (p) e Completa (c); e o Variável tipo de oração: absoluta (A), coordenada (C), subordinada (S) e principal (P). 95 Após o estabelecimento dos códigos, o pesquisador passa a analisar cada dado encontrado no corpus estudado. Os programas do pacote Varbrul ou o próprio GoldVarb X farão o processamento estatístico a partir da leitura dos códigos atribuídos. No trecho a seguir, por exemplo, extraído do inquérito 18 do PEPP, será analisado o emprego da forma indeterminadora do sujeito “a gente”. Inicialmente, coloca-se a abertura do parêntese “(“ para informar ao programa que se trata de uma cadeia de códigos que ele deverá ler; é como se fosse um diálogo entre o pesquisador e o programa, a fim de garantir o processamento estatístico. Em seguida, colocam-se os códigos referentes aos grupos de fatores selecionados. Exemplo: (gM1fhgIeTcC Sempre tem, na Fonte Nova também sempre teve, e agora está tendo sobre o boxe, a gente troca a nota e A GENTE vai assistir. A ordem de colocação dos códigos deve ser obedecida rigorosamente para cada dado que for analisado, para não misturar as informações e prejudicar toda a análise. No exemplo, logo após o “(“, encontra-se o “g” informando ao programa que a variante que está sendo observada é o “a gente” destacado no trecho. Os três códigos seguintes dizem respeito às variáveis sociais: M (masculino), 1 (faixa etária) e f (Ensino Fundamental). Depois, continua-se com os demais códigos relativos às outras variáveis estabelecidas neste trabalho, conforme mencionado anteriormente. Depois de obtido toda codificação dos dados, processam-se as informações diretamente nos programas. O resultado será apresentado primeiramente através de número e porcentagens de ocorrências e, depois, nas chamadas rodadas binárias (ternárias ou eneárias, de acordo com a versão do programa utilizada e a quantidade de variantes linguísticas), serão fornecidos os pesos relativos, tomando como base o intercruzamento de todas as variáveis informadas. De posse de todos os resultados, o sociolinguística passará a interpretar os dados estatístico-probabilísticos, a fim de justificar os usos linguísticos que foram escolhidos como objeto de estudo. 96 5 ANALISARAM-SE OS DADOS Nesta seção, serão apresentados os dados numéricos obtidos a partir da quantificação das ocorrências das estratégias utilizadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito das orações. Os números que serão apresentados passaram por diversos processamentos estatístico-probabilísticos a fim de encontrar os melhores resultados que pudessem dar conta da explicação possível para a variação linguística do fenômeno citado. As análises estatísticas serão chamadas de rodadas, uma vez que os programas utilizados fazem leituras das informações de cima para baixo e de baixo para cima, cruzando ou não todos os grupos de fatores extralinguísticos e linguísticos selecionados para o desenvolvimento desta pesquisa. Inicialmente, buscou-se a frequência das ocorrências encontradas nas 44 entrevistas do tipo DID – Diálogo entre Informante e Documentador, as quais perfizeram um total de 2595 dados, distribuídos entre as 11 variantes selecionadas. A tabela 1, a seguir, mostra o número de casos trabalhados, como também sua porcentagem em relação ao total. VARIANTES Você A gente Formas Nominais Ø+V3PS Ø+VINF Nós Ø+V+SE Ø+V3PP Eles Eu PASSINT TOTAL Nº % 873 668 338 185 171 115 78 79 68 18 2 2595 33,6 25,7 13,0 7,1 6,6 4,4 3,0 3,0 2,6 0,7 0,1 Tabela 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora. A fim de ilustrar melhor as informações contidas na tabela apresentada, será apresentado a seguir um gráfico, no qual se percebe com maior nitidez a frequência das estratégias “você”, seguida de “a gente” e das “formas nominais”, que se 97 apresentaram como as mais utilizadas pelos falantes de Salvador, perfazendo juntas uma porcentagem que ultrapassa os 72%. 0,1% 0,7% 2,6% 3,0% 3,0% 4,4% 6,6% 7,1% 13,0% 25,7% 33,6% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% Você A gente Formas Nominais Ø+V3PS Ø+VINF Nós Ø+V+SE Ø+V3PP Eles Eu PASSINT 40,0% Gráfico 1: Frequência dos recursos de indeterminação levantados nos corpora. Conforme esperado, os falantes de Salvador utilizam outras estratégias para marcar o sujeito indeterminado que não as apresentadas tradicionalmente nas gramáticas mencionadas, como o verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se”, o verbo na terceira pessoa do plural ou ainda o verbo no infinitivo. Essa foi a mesma conclusão a que chegaram as pesquisas realizadas por Milanez (1982), Cunha (1993), Menon (1994), Setti (1997), Cavalcante (1999), Godoy (1999), Santana (2006), Faggion (2008) e Ponte (2008) em outras regiões da Bahia e do Brasil. 5.1 ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS X NÃO-PRONOMINAIS A fim de perceber melhor como essas estratégias funcionam, tomando como ponto de partida a grande ocorrência de estratégias pronominais como “você” e “a 98 gente”, os dados foram submetidos a uma rodada binária na qual constam como variável dependente todas as estratégias pronominais (você, a gente, eu, eles e nós) e todas as estratégias não-pronominais (Ø+V3PS, Ø+VINF, Ø+V+SE, Ø+V3PP e PASSINT), incluindo as formas nominais - FN. Na tabela 4, visualiza-se a frequência das estratégias pronominais com maior número de ocorrências em relação às não-pronominais. Verifica-se, portanto, que os falantes de Salvador preferem as estratégias pronominais para marcar o sujeito indeterminado. Ressalta-se que as estratégias tidas como padrão pelas gramáticas normativas apresentadas anteriormente fazem parte do grupo das não-pronominais, cuja frequência foi bem menor em relação às pronominais. Nº Estratégias Pronominais 1743 Estratégias Não-Pronominais 852 % 67,2 32,8 Total 2595 100 Tabela 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e não-pronominais. Esses resultados numéricos foram organizados em forma de gráfico (ver gráfico 2) para melhor visualização da proporção das estratégias pronominais em relação às demais estratégias. 32,8% 67,2% Estratégias Pronominais Estratégias Não-Pronominais Gráfico 2: Frequência das estratégias classificadas em pronominais e não-pronominais. 99 Inicialmente, houve necessidade de excluir o futuro do pretérito da variável tempo e modo verbal por causar nocaute12 nos resultados obtidos através do GoldVarb. Outra alteração feita nesse grupo de fatores foi a retirada dos tempos presente e futuro do subjuntivo, particípio e imperativo, uma vez que seus poucos dados poderiam escamotear os resultados. Essas exclusões foram mantidas para as demais rodadas ao longo do trabalho. Além disso, o grupo de fatores ou variável preenchimento do sujeito também foi totalmente eliminado, uma vez que se trata do sujeito pronominal explícito e implícito, dado não presente para as estratégias não-pronominais. Realizadas as primeiras modificações no arquivo de condições, procedeu-se com a rodada para obtenção dos dados numéricos. O programa selecionou cinco grupos de fatores como favorecedores das estratégias pronominais, as quais foram tidas como fator de aplicação. Na ordem selecionada, seguem forma antecedente, tempo e modo verbal, grau de indeterminação, escolaridade e mudança/manutenção do referente. Assim, o gênero/sexo, faixa etária, tipo de verbo e tipo de oração não foram selecionados. Contudo, percebeu-se que, em relação a esse último grupo de fatores, poderia realizar amalgamações, juntando as orações principais com as coordenadas em contraste com as subordinadas e as absolutas. Além disso, uma vez que os pesos relativos dos graus de indeterminação parcial explícito e implícito estavam tão próximos, experimentou-se uni-los em um único fator, em oposição ao grau de indeterminação completo. Feito isso, realizou-se uma nova rodada e as seleções permaneceram as mesmas. A seguir, serão apresentados os grupos de fatores que foram selecionados na rodada com todas as estratégias pronominais versus todas não-pronominais, obedecendo a mesma ordem apresentada pelo GoldVarb na última rodada válida. 12 Segundo Guy e Zilles (2007, p. 158), “nocaute, na terminologia de análise do Varbrul, é um fator que num dado momento da análise, corresponde a uma frequência de 0% ou 100% para um dos valores da variável dependente”. 100 5.1.1 Forma antecedente No primeiro grupo de fatores selecionado pelo GoldVarb, a forma antecedente revelou, como já citado por Scherre e Nato (2004, p. 152), que “marcas tendem a levar a marcas”, ou seja, o uso de uma determinada estratégia tende a ser utilizada nas orações que a seguem. Forma antecedente Apl./T Significância = 0.008 Estratégias pronominais 192/214 implícitas Estratégias pronominais 836/940 explícitas Estratégias não132/463 pronominais TOTAL 1160/1617 % P.R. 89,7 0.744 88,9 0.693 28,5 0.105 Tabela 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável forma antecedente. Segundo Santana (2006, p. 100), esse grupo de fatores, tendo em vista outros trabalhos lidos pela autora, vem conjugado com a variável mudança/manutenção do referente, acreditando que “com a mudança de referente há uma mudança da forma utilizada pelo falante”. Assim, fazendo uso do recurso Cross Tabulation13, as duas variáveis foram cruzadas, permitindo observar os dados de cada forma antecedente e se há condicionamento na realização da forma subsequente. Manutenção/mudança do referente Forma antecedente Significância = 0.000 Estratégias pronominais implícitas Estratégias pronominais explícitas Estratégias não-pronominais Igual Diferente Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 185/202 91,6 0.780 7/12 58,3 0.240 811/889 91,2 0.719 24/47 51,1 0.217 106/417 25,4 0.084 21/34 61,8 0.344 Tabela 4: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em relação à aplicação das estratégias pronominais. 13 O termo “cross tabulation” empregado na nova versão do GoldVarb, intitulada de “X”, é um recurso que faz o cruzamento das tabulações existentes na rodada, na qual o pesquisador seleciona os grupos de fatores que serão cruzados. 101 Observando os pesos relativos alcançados (ver tabela 4), pode-se inferir que há de fato uma relação entre a forma antecedente e a manutenção/mudança do referente, ou seja, há uma tendência, de maneira geral, a preservar a estratégia utilizada sempre que se mantém o mesmo referente. Quando há uma mudança dele, as estratégias subsequentes mudam, principalmente as pronominais implícitas ou explícitas. 5.1.2 Tempo e modo verbal O grupo de fatores tempo e modo verbal foi o segundo selecionado pelo programa. De acordo com Menon (1994), Setti (1997), Godoy (1999) e Santana (2006), esperava-se que o tempo presente do modo indicativo fosse o mais empregado dentre os demais tradicionalmente apresentados pelas gramáticas de maneira geral, principalmente por ser, segundo Menon (2006, p. 138), “o tempo empregado nas construções hipotéticas”, quando não há necessidade de se marcar um sujeito, fazendo uso de recursos de indeterminação para marcar que qualquer um poderia estar envolvido na situação relatada. Ao analisar a tabela 5, verifica-se que o tempo/modo verbal mais empregado foi futuro do presente do indicativo, diferenciando-se dos resultados encontrados pelas pesquisadoras citadas. Daí, a necessidade de observar isoladamente cada estratégia pronominal para tentar verificar se esse resultado se mantém ou haverá consonância com o que foi encontrado em outros trabalhos. Isso será realizado mais adiante. Tempo e Modo Verbal Significância = 0.008 Futuro do Presente do Ind. Presente do Ind. Pretérito Imperfeito do Ind. Pretérito Imperfeito do Subj. Gerúndio Infinitivo Pretérito Perfeito do Ind. Apl./T % P.R. 69/78 805/1104 462/653 28/40 63/97 208/405 52/136 88,5 72,9 70,8 70,0 64,9 51,4 38,2 0.795 0.571 0.530 0.484 0.440 0.322 0.220 TOTAL 1687/2513 Tabela 5: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável tempo e modo verbal. 102 5.1.3 Grau de indeterminação O terceiro grupo de fatores selecionado foi o grau de indeterminação, no qual se acreditava que as estratégias seriam mais utilizadas quando não houvesse marcas explícitas ou implícitas no contexto que fizessem com que o sujeito fosse identificado por meio de inferências. Nesse caso, seria a indeterminação completa, quando qualquer um poderia ser o sujeito extralinguístico da oração, não podendo, dessa forma, identificar-se o autor da ação verbal. A tabela 6 apresenta os dados numéricos obtidos, nos quais se percebe que as estratégias pronominais foram mais utilizadas quando havia referência explícita ou implícita no contexto, sendo sua indeterminação considerada parcial, pois um dos referentes poderia ser determinado por meio de inferência. Grau de indeterminação Apl./T % P.R. Indeterminação Parcial 1122/1584 70,8 0.558 Indeterminação Completa 621/1011 61,4 0.409 Significância = 0.008 TOTAL 1743/2595 Tabela 6: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável grau de indeterminação. No exemplo 80, depreende-se da forma pronominal “a gente”, de acordo com o contexto geral, ao menos o falante, o emissor da mensagem, por isso ela é classificada como indeterminação parcial. (80) É, tiraram, aí fizeram um ginásio, aí a única escola que tem é a Adventista, mas pra gente fazer alguma atividade lá a gente tem que pagar. [PEPP18-M1f] De forma contrária, no exemplo 81, o pronome “você” não faz referência a alguém específico, como o interlocutor, mas a qualquer pessoa que vivencia ou pode vivenciar a situação comentada, caracterizando-se como indeterminação completa. 103 (81) Aquela ladeira que hoje nem de dia você, você se arrisca a descer, nesse ponto existia pobreza não miséria, a verdade é essa. Tinha muita... você ainda alcançou naquele tempo, eu alcancei de cara, de um, de um esmolé vim todo sábado naquele ponto certo pra pedir. Minha mãe dava farinha, dava um pedaço de pão, dinheiro nunca se deu e ele saiu satisfeito. Hoje se for dar farinha a um cara desse ele joga na sua cara, entendeu bem? Mas foi tudo bom pra mim, eu acho, na minha opinião, eu fui o pior deles, eu fui o levado... [PEPP06-M4f] Os resultados estão em consonância com o esperado, uma vez que as formas pronominais podem ser facilmente relacionadas com uma das partes da interação verbal, como o próprio emissor ou interlocutor. 5.1.4 Escolaridade O quarto grupo de fator selecionado foi a escolaridade. Esperava-se que os falantes com maior nível de escolaridade fariam uso das estratégias consideradas padrão, as quais estão incluídas no grupo das não-pronominais. Contudo, o resultado encontrado, vislumbrado na tabela 7, mostra que justamente esse nível de escolaridade apresentou maior peso relativo em relação às estratégias pronominais. Escolaridade Significância = 0.008 Apl./T Ensino Fundamental 435/676 Ensino Médio 580/957 Ensino Superior 728/962 TOTAL 1743/2595 % P.R. 64,3 60,6 75,7 0.460 0.441 0.586 Tabela 7: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável escolaridade. Esses dados foram organizados em forma de gráfico para melhor visualização desse único fator extralinguístico selecionado nesta rodada. 104 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 3: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável escolaridade. Para tentar compreender quem é o falante do Ensino Superior que faz mais uso das estratégias pronominais, cruzou-se a variável Escolaridade com as demais variáveis sociais, ou seja, gênero/sexo e faixa etária. Os resultados desse cruzamento estão contemplados na tabela a seguir. Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Masculino Feminino Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T 1 77/112 68,8 0.506 117/182 64,3 0.456 xxx 2 61/84 72,6 0.552 118/164 72,0 0.544 3 37/63 58,7 0.398 84/143 58,7 4 47/77 61,0 0.421 71/122 1 68/105 64,8 0.461 2 45/65 69,2 3 35/71 4 65/99 % P.R. xxx xxx 69/104 66,3 0.478 0.398 95/128 74,2 0.572 58,2 0.393 41/90 45,6 0.280 48/74 64,9 0.462 xxx xxx xxx 0.511 45/88 51,1 0.327 185/227 81,5 0.672 49,3 0.311 57/102 55,9 0.371 256/302 84,8 0.721 65,7 0.471 40/82 48,8 0.307 82/111 73,9 0.568 14 Tabela 8: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação das estratégias pronominais. Nota-se que não é qualquer falante do Ensino Superior que mais faz uso das estratégias pronominais. São os falantes do gênero/sexo feminino, das faixas etárias 3 e 2 respectivamente. Pode-se incluir também a faixa etária 4 logo em seguida, pois 14 O símbolo “xxx” está sendo aplicado para informar que não há informantes da faixa etária 1 com Ensino Superior, conforme mencionado na metodologia desta dissertação. 105 ela está um pouco abaixo do falante masculino, faixa etária 3 do mesmo nível de escolaridade, o Ensino Superior. 5.1.5 Mudança/manutenção do referente Esse grupo de fatores foi o quinto selecionado e já foi apresentado na subseção 5.1.1 juntamente com a variável forma antecedente. Aqui, será apresentado isoladamente através da tabela 9. Mudança/Manutenção do Referente Nº Apl./T % P.R. Igual Diferente 1105/1512 53/96 73,1 55,2 0.512 0.326 Significância = 0.029 TOTAL 1158/1608 Tabela 9: Aplicação das estratégias pronominais em relação à variável mudança/manutenção do referente. Os falantes, conforme visto nessa tabela, tendem a manter as estratégias pronominais à medida que há manutenção do referente. Quando o referente muda, consequentemente ele muda a estratégia utilizada. 5.2 ESTRATÉGIAS PRONOMINAIS A subseção anteriormente apresentada revelou que as estratégias pronominais foram as mais utilizadas em detrimento das não-pronominais. Assim, tornou-se necessário apresentar os dados de cada variante que compõem esses recursos. Para obtenção dos dados numéricos, foi utilizada a versão anterior ao GoldVarb chamada de Varbrul 2S, por ser um pacote de programas, cuja função de um deles, o MVarb, é fazer uma análise eneária de até cinco variantes na variável dependente. Isso possibilitou o encontro dos seus respectivos pesos relativos. 106 O arquivo de condições sofreu algumas alterações após análise inicial, pois alguns nocautes foram encontrados, o que impediria a rodada eneária e a não obtenção dos respectivos pesos relativos. Assim, a variante “eu” foi excluída devido aos poucos dados encontrados nos corpora analisados, como também alguns tempos verbais, conforme foi realizado nas rodadas anteriores, incluindo para esta análise a exclusão do pretérito imperfeito do subjuntivo. As amalgamações realizadas com grupo de fatores forma antecedente foi mantida, mesmo assim, foi necessário excluir os fatores “nós” e “eu”. Realizadas as devidas modificações no arquivo de condições, a análise eneária foi processada, cujos inputs15 foram dados e apresentados na tabela a seguir. Input A gente .467 Você .353 Nós .105 Eles .075 Tabela 10: Input de cada variante pronominal em análise eneária com o MVarb. Os valores numéricos apresentados nessa tabela revelam qual é a estratégia pronominal mais utilizada pelos falantes de Salvador, diferindo da porcentagem inicialmente apresentada. Primeiramente, a forma “a gente” com .467, seguida da forma “você” com .353. Esse resultado foi semelhante ao apontado por Milanez (1982) e Santana (2006). A seguir, serão apresentados os dados dos grupos de fatores que fizeram parte dessa rodada eneária. Como o MVarb não faz seleção dos grupos de fatores favorecedores e não-favorecedores, as variáveis serão apresentadas na ordem em que aparecem no programa, que tem a ver com a cadeia de codificação inserida no momento da coleta de dados. 5.2.1 Gênero/sexo Ao analisar os dados obtidos em relação à variável gênero/sexo, a estratégia mais utilizada foi “você”, seguida de “a gente”, com 51% e 39% respectivamente. Ao 15 O termo “input” é utilizado na estatística e foi empregado pelo pacote de programas Varbrul e seus sucessores para representar “o nível geral de uso de determinado valor da variável dependente” (GUY; ZILLES, 2007, p. 238). 107 analisar estratégia por estratégia em relação aos gênero/sexo dos falantes, obtêm diferenças significativas. Nº Masculino % P.R. Nº Feminino % P.R. Nº Total % A gente 307 38 .185 361 39 .300 668 39 Você 379 47 .217 493 54 .256 872 51 Nós 88 11 .418 27 3 .133 115 7 Eles 28 3 .180 40 4 .310 68 4 TOTAL 802 921 1723 Tabela 11: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável gênero/sexo. A forma “nós” é a única estratégia mais utilizada pelos falantes do gênero/sexo masculino, com peso relativo .418. Enquanto que as demais estratégias, “a gente”, “você” e “eles” são da preferência dos falantes do gênero/sexo feminino, com peso relativo .300, .256 e 310 nessa ordem, embora haja uma aproximação em relação à forma “você”. O gráfico a seguir mostrará de maneira mais ilustrativa o resultado do peso relativo para cada estratégia de indeterminação do sujeito em relação à variável gênero/sexo. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 A gente Você Masculino Nós Eles Feminino Gráfico 4: As estratégias pronominais em relação à variável gênero/sexo. 108 5.2.2 Faixa etária A faixa etária 1, a mais nova, faz mais uso das estratégias “você” e “eles, com o mesmo peso relativo de .306. As outras faixas etárias, a 2, 3 e 4 optam em usar mais a forma “nós”, cujos pesos relativos são .351, .275 e .300. Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 A gente Você Nós Eles TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. 133 43 .270 234 45 .274 172 31 .242 129 38 .192 142 46 .306 234 45 .201. 327 59 .266 169 50 .210 9 3 .119 41 8 .351 40 7 .275 25 7 .300 25 8 .306 11 2 .174 16 3 .217 16 5 .298 309 Nº % 668 39 872 51 115 7 68 4 1723 Total 520 555 339 Tabela 12: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável faixa etária. Observando os dados de maneira geral, aparentemente, há uma uniformidade nos usos das estratégias de indeterminação em relação às faixas etárias. As especificidades aparecerão mais adiante, quando elas serão analisadas isoladamente. 5.2.3 Escolaridade Os três níveis de ensino analisados, Fundamental, Médio e Superior, de acordo com seus pesos relativos, que tomam como base o input inicialmente apresentado para cada variante, preferem as formas “eles”, “você” e “nós”, cujos pesos relativos são, respectivamente, .331, .390 e .438. 109 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Total A gente Você Nós Eles TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. 264 61 .252 226 39 .280 178 25 .160 87 20 .111 321 56 .390 464 65 .262 39 9 .306 13 2 .084 63 9 .438 40 9 .331 16 3 .245 12 2 .140 430 Nº % 668 39 872 51 115 7 68 4 576 717 1723 Tabela 13: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável escolaridade. Em relação às formas “a gente” e “eles”, há um decréscimo do Ensino Fundamental para o Ensino Superior, ou seja, quanto mais escolarizado é o falante, menos faz uso dessas estratégias. O contrário ocorre com os itens “você” e “nós”, mais utilizados por falantes com nível superior completo. Uma vez apresentados os pesos relativos para cada variante em relação aos níveis de escolaridade, cabe apresentar um gráfico das estratégias pronominais analisadas tendo como ponto de referência seus pesos relativos. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 A gente Você Ensino Fundamental Nós Ensino Médio Eles Ensino Superior Gráfico 5: As estratégias pronominais em relação à variável escolaridade. 110 5.2.4 Tempo e modo verbal O tempo presente do modo indicativo mostrou-se como o mais empregado em relação à quantidade de dados obtidos, contudo os pesos relativos referentes a cada estratégia pronominal mostrou outra realidade. Os tempos verbais pretérito perfeito e futuro do presente, ambos do indicativo, e a forma nominal gerúndio obtiveram poucos dados. Em relação aos demais tempos verbais mantidos na rodada, a forma “a gente” apresenta o pretérito imperfeito do indicativo como mais favorecedor para o seu emprego. O presente do indicativo favorece mais o emprego de “eles”. O infinitivo impessoal mostrou-se mais proeminente para o emprego de “você”. Em relação à estratégia “nós”, o maior peso relativo ficou para o futuro do presente do indicativo, porém há poucos dados, o que pode mascarar os resultados. Dentre os tempos com maior quantidade de dados, ainda em relação à forma “nós”, é o presente do indicativo que mais favorece o seu emprego (cf. tabela 14). Pretérito Imperfeito do Ind. Presente do Ind. Gerúndio Pretérito Perfeito Infinitivo Futuro do Presente Total A gente Você Nós Eles TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. 290 63 .416 250 32 .187 26 41 .365 14 27 .079 57 28 .246 10 15 .054 135 29 .161 452 57 .205 34 54 .309 12 24 .036 146 71 .710 38 58 .114 24 5 .203 51 6 .247 1 2 .109 16 31 .290 2 1 .031 15 23 .613 13 3 .220 40 5 .361 2 3 .217 9 18 .595 1 0 .013 2 3 .220 462 Nº % 647 39 817 50 109 7 67 4 1640 793 63 51 206 65 Tabela 14: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal. 111 5.2.5 Forma antecedente A forma antecedente também foi um dos grupos de fatores que participaram da análise eneária. As estratégias “a gente”, “você” e “eles” tiveram suas formas representadas como antecedentes, revelando maior peso relativo para sua manutenção. Devido aos poucos dados, o item “nós” precisou ser excluído desse grupo de fatores, uma vez que nocautes foram registrados. Para ele, os principais favorecedores são as estratégias sem sujeito lexicalmente preenchido e as formas nominais, conforme dados na tabela logo a seguir. A gente Eles Formas sem sujeito lexical Formas Nominais Você Total A gente Você Nós Eles TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. 325 88 .822 7 16 .026 17 28 .174 19 27 .168 34 6 .079 31 8 .068 6 14 .015 34 57 .328 39 55 .171 501 92 .835 8 2 .058 2 5 .143 6 10 .413 8 11 .364 3 1 .040 5 1 .052 28 65 .816 3 5 .085 5 7 .297 4 1 .046 369 Nº 402 611 27 45 % 37 56 2 4 43 60 71 542 1085 Tabela 15: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável forma antecedente. 5.2.6 Mudança/Manutenção do referente Normalmente, a variável mudança/manutenção do referente aparece agregada à forma antecedente. Essa associação será verificada em outras 112 subseções, quando das rodadas isoladas para cada variante pronominal e nãopronominal. Analisando a tabela 16, percebe-se que quando há manutenção do referente, as estratégias que são mais favorecidas são “você” e “nós”, com .272 e .287 de peso relativo, nessa mesma ordem. Contudo, quando há mudança do referente, as formas “a gente” e “eles” tendem a ser mais empregadas, com pesos relativos de .289 e .270 respectivamente. Igual Diferente Total A gente Você Nós Eles TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. 390 36 .213 20 39 .289 602 55 .272 19 37 .226 66 6 .287 3 6 .215 36 3 .228 9 18 .270 51 Nº 410 621 69 45 % 36 54 6 4 1094 1145 Tabela 16: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.2.7 Preenchimento do sujeito A língua portuguesa permite o preenchimento e o não preenchimento dos pronomes na posição de sujeito. Quando está preenchido, ou seja, está explícito, as estratégias que são favorecidas, segundo os dados apresentados na tabela 17 (ver na página seguinte), são as formas “a gente” e “você”. Contudo, quando o sujeito está implícito, podendo ser depreendido por meio de inferências no contexto ou análise morfológica das desinências verbais, as estratégias que são favorecidas são “nós” e “eles. 113 Explícito Implícito Total A gente Você Nós Eles TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. 508 36 .300 157 49 .157 763 55 .420 108 33 .112 73 5 .100 41 13 .471 50 4 .180 17 5 .261 1394 Nº % 665 39 871 51 114 7 67 4 1717 323 Tabela 17: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável preenchimento do sujeito. 5.2.8 Tipo de verbo O tipo de verbo também se mostrou bastante significativo em relação aos usos das estratégias pronominais. A maioria dos verbos ocorridos nos dados levantados foi de transitivos, e a estratégia que mais foi empregada, diante desses verbos, foi “você”, com peso relativo .280. O segundo maior foi o grupo dos verbos intransitivos, cuja estratégia que mais foi utilizada diante deles também foi “você” com peso relativo .335. A variante “eles” mostrou-se favorecida diante dos verbos de ligação, com peso relativo .329. Nº Transitivo % P.R. Nº Intransitivo % P.R. Nº Ligação % P.R. Total Nº % A gente Você Nós Eles TOTAL 574 39 .248 50 35 .249 44 44 .238 762 51 .280 68 48 .335 42 42 .157 90 6 .248 17 12 .216 8 8 .275 57 4 .224 6 4 .200 5 5 .329 1483 668 39 872 51 115 7 68 4 1723 141 99 Tabela 18: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal. 114 5.2.9 Grau de Indeterminação Quando há alguma referência explícita ou implícita no contexto que possa, por meio de inferência, identificar pelo menos um dos referentes, diz-se que o sujeito é parcialmente indeterminado, ao contrário de quando não é possível identificar nenhum dos referentes participantes de uma interação comunicativa. É justamente a indeterminação parcial que apresenta o maior número das ocorrências, favorecendo o emprego das estratégias “a gente”, “nós” e “eles, com pesos relativos de .238, .333 e .296. A indeterminação completa mostrou-se como mais favorecedora para o uso de “você”, com peso relativo de .417. Esses resultados, incluindo as frequências de cada variante, que acompanham, de certa forma, os respectivos pesos relativos, podem ser conferidos na tabela 19. Indeterminação Parcial Indeterminação Completa Total Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % A gente 544 49 .238 124 20 .231 668 39 Você 410 37 .132 462 75 .417 872 51 Nós 98 9 .333 17 3 .166 115 7 Eles 58 5 .296 10 2 .186 68 4 TOTAL 1110 613 1723 Tabela 19: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável grau de indeterminação. 5.2.10 Tipo de Oração Por fim, e não menos importante, a variável tipo de oração, cujos pesos relativos e as porcentagens de suas frequências se equivalem em relação ao maior número do tipo de oração e as respectivas variantes. A forma “a gente” foi mais favorecida em orações principais, com peso relativo .341. Os usos de “você” e “nós” foram mais empregados em orações coordenadas, com .310 e .260 de peso relativo respectivamente. Já a estratégia “eles” ocorreu mais nas orações absolutas, com peso relativo de .437. Todos os resultados numéricos podem ser conferidos na tabela 20 (ver página seguinte). 115 A gente Você Nós Eles TOTAL 106 44 .278 452 37 .233 102 43 .341 8 42 .151 102 42 .192 651 53 .310 113 47 .269 6 32 .208 20 8 .248 77 6 .260 16 7 .253 2 11 .204 14 6 .282 43 4 .197 8 3 .137 3 16 .437 242 Nº 668 872 115 68 % 39 51 7 4 Nº Subordinada % P.R. Nº Coordenada % P.R. Nº Principal % P.R. Nº Absoluta % P.R. Total 1223 239 19 1723 Tabela 20: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável tipo de oração. 5.3 ESTRATÉGIAS NÃO-PRONOMINAIS Assim como as estratégias pronominais, algumas mudanças na codificação foram necessárias para as estratégias não-pronominais. Ressalta-se que não fizeram parte desta rodada as formas nominais, uma vez que elas também não são pronominais, mas possuem o sujeito preenchido com alguma forma. As principais alterações realizadas foram em relação ao grupo de fatores tempo e modo verbal, no qual restaram apenas o presente e o pretérito imperfeito, devido aos diversos nocautes causados nos outros tempos verbais. As variáveis preenchimento do sujeito e tipo de verbo foram excluídas. A primeira por que não há sujeito lexicalmente preenchido com as estratégias não-pronominais que foram analisadas nesta rodada e a segunda por ocorrer vários nocautes, e a retirada deles dos fatores causou o chamado Singleton Group16. A variável forma antecedente também sofreu algumas retiradas por causa dos nocautes, permitindo, assim, a rodada eneária através do MVarb. 16 O termo “Singleton Group” também é empregado pelo GoldVarb para especificar um grupo de fatores formado por apenas um “Token”, ou seja, um único fator. Havendo apenas um fator, não haveria o que variar, pois para haver variação é necessário, pelo menos, dois fatores. 116 Esse programa forneceu o input para cada variante deste grupo, revelando quais foram as estratégias não-pronominais mais usadas para indeterminar o sujeito em Salvador. Esses dados foram organizados e apresentados na tabela 21 abaixo. Input Ø+VINF .326 Ø+V3PS .272 Ø+V3PP .220 Ø+V+SE .182 Tabela 21: Input de cada variante não-pronominal em análise eneária com o MVarb. Inicialmente, através dos inputs das variantes, percebe-se que a estratégia mais usada é o verbo no infinitivo sem sujeito lexical (Ø+VINF), justamente uma das estratégias consideradas padrão pela gramática de Cegalla (2008). A segunda estratégia mais utilizada foi o verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical (Ø+V#PS), a que é considerada de uso mais popular, segundo Neves (2000, p. 464). As estratégias verbo na terceira pessoa do plural e terceira pessoa do plural com a partícula “se”, ambas sem sujeito preenchido, consideradas padrão por todas as gramáticas normativas analisadas, foram as menos utilizadas. Delimitadas as variáveis que foram analisadas e que fizeram parte da rodada eneária para as variantes citadas, serão apresentados agora os dados numéricos referentes às suas frequências e pesos relativos, seguindo a mesma ordem apresentada no arquivo de resultados. 5.3.1 Gênero/sexo A tabela 22 (ver página seguinte) mostra as estratégias que foram mais utilizadas pelos falantes dos gêneros/sexos masculino e feminino. O resultado da análise referente a eles praticamente foi equilibrada, não havendo mais dados para um ou para outro. 117 Ø+VINF Nº Masculino % P.R. Nº Feminino % P.R. Total Nº % Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE TOTAL 81 33 .265 90 34 .236 82 34 .241 103 38 .259 40 16 .250 39 15 .250 41 17 .244 36 13 .256 244 171 33 185 36 79 15 77 15 512 268 Tabela 22: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável gênero/sexo. Mesmo havendo um equilíbrio entre as estratégias para os dois gêneros, há como verificar qual foi a estratégia mais usada. Para o gênero/sexo masculino foi Ø+VINF, com peso relativo .265, as estratégias Ø+V3PS e Ø+V+SE foram mais utilizadas pelos falantes do gênero/sexo feminino, principalmente a Ø+V3PS com peso relativo .259, maior que as outras formas. Em relação à variante Ø+V3PP, não houve distinção entre os dois gêneros/sexos, uma vez que o peso relativo foi igual para os dois, apresentando o valor .250. Os pesos relativos das variantes, para melhor compreensão neste grupo de fator, que é social, foram organizados e apresentados através de gráfico, o qual será vislumbrado a seguir. Nele fica mais evidenciado a aproximação de uso das estratégias não-pronominais entre os dois gêneros/sexos. 1,000 0,800 0,600 P.R. 0,400 0,200 0,000 Ø+VINF Ø+V3PS Masculino Ø+V3PP Ø+V+SE Feminino Gráfico 6: As estratégias não-pronominais em relação à variável gênero/sexo. 118 5.3.2 Faixa etária Depreende-se, através da leitura da tabela 23, que a faixa etária 1, a mais jovem, utiliza mais a estratégia Ø+V3PS, enquanto a faixa etária 4, a mais velha, faz uso da estratégia Ø+V+SE, como era de se esperar. As faixas etárias intermediárias 2 e 3 fizeram mais uso das formas Ø+V3PP e Ø+VINF respectivamente, ambas consideradas padrão também. Ø+VINF Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Total Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. 38 35 .279 35 38 .270 53 37 .279 45 27 .151 53 49 .359 27 29 .215 57 39 .273 48 29 .151 15 14 .247 17 18 .282 18 12 .186 29 17 .246 3 3 .115 13 14 .233 17 12 .263 44 27 .451 Nº 171 185 79 77 % 33 36 15 15 TOTAL 109 92 145 166 512 Tabela 23: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável faixa etária. Pensando exclusivamente na variante Ø+V+SE, estratégia essa considerada como uma das formas padrão empregadas pelas gramáticas tradicionais para indeterminar o sujeito, há uma diminuição de seu uso da Faixa Etária 4 para a Faixa Etária 1, revelando que há uma mudança em andamento, uma vez que quanto mais jovem é o falante, menos uso faz dela. 119 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 4 Faixa Etária 3 Faixa Etária 2 Faixa Etária 1 Gráfico 7: Aplicação da variante Ø+V+SE em relação à variável faixa etária. 5.3.3 Escolaridade O nível de escolaridade no qual se encontram os falantes muitas vezes reflete o papel que a escola desempenha em uma sociedade. Assim, esperava-se que os níveis de escolaridade mais altos fizessem mais uso das estratégias consideradas padrão, enquanto o menor nível de escolaridade fizesse o uso da única estratégia não-pronominal que não é mencionada nas gramáticas tradicionais analisadas. Ø+VINF Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Total Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. 54 36 .294 87 36 .267 30 25 .151 67 44 .342 94 39 .282 24 20 .123 20 13 .230 41 17 .290 18 15 .178 11 7 .134 19 8 .161 47 39 .549 152 Nº % 171 33 185 36 79 15 77 15 512 241 119 Tabela 24: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável escolaridade. Tendo em vista os dados numéricos apresentados na tabela 24, essa tendência permaneceu, ou seja, o Ensino Fundamental apresentou maior peso 120 relativo na estratégia tida como não padrão, o verbo na terceira pessoa do singular. E o Ensino Superior maior peso relativo na variante tida como padrão, o verbo na terceira pessoa do singular com a partícula “se”. O Ensino Médio apresentou maior peso relativo para a estratégia verbo na terceira pessoa do plural, também padrão. Esse resultado pode ser melhor visualizado no gráfico a seguir, estruturado a partir do peso relativo apresentado na tabela anterior. Nele, percebe-se com mais clareza que o Ensino Fundamental faz mais uso do verbo na terceira pessoa do singular, havendo um decréscimo à medida que há o aumento da escolaridade. O Ensino Médio mantém proximidade nas estratégias verbo no infinitivo, verbo na terceira pessoa do singular e do plural, com decréscimo bastante acentuado em relação à estratégia verbo na terceira pessoa do singular com o “se”. O Ensino Superior mostra-se como conservador, fazendo mais uso do verbo na terceira pessoa do singular com a partícula “se”, mas em relação às demais formas, manteve praticamente o mesmo uso, inclusive da forma considerada não padrão, o verbo na terceira pessoa do singular. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ø+VINF Ø+V3PS Ensino Fundamental Ø+V3PP Ensino Médio Ø+V+SE Ensino Superior Gráfico 8: As estratégias não-pronominais em relação à variável escolaridade. 5.3.4 Tempo e Modo Verbal Os dois tempos verbais que permaneceram após a retirada dos nocautes confirmam a tendência apresentada por Menon (1994) da utilização do presente do 121 indicativo. Por não ter uma referência precisa no tempo, uma vez que se pode falar do passado ou do futuro hipoteticamente fazendo uso desse tempo verbal; o falante opta pela maior facilidade de seu emprego com estratégias que marcam a indeterminação do sujeito em Salvador. As estratégias tidas como padrão Ø+V3PP e Ø+V+SE por todas as gramáticas normativas analisadas apareceram mais diante de verbos no presente do indicativo, enquanto que a outra estratégia foi utilizada com verbos no pretérito imperfeito também do indicativo. Esses resultados confirmaram a hipótese inicial em relação ao tempo presente como maior favorecedor para marcar o tipo de sujeito objeto deste estudo, com maior peso relativo justamente nas estratégias mais tradicionalmente aceitas pelas gramáticas normativas. Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE Nº 66 22 37 Presente % 52 17 29 do Ind. P.R. .216 .265 .296 Nº 75 19 23 Pretérito 61 15 19 Imperfeito % do Ind. P.R. .285 .232 .208 Total Nº % 141 57 41 16 60 24 TOTAL 126 123 249 Tabela 25: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável tempo e modo verbal. 5.3.5 Forma antecedente As estratégias sem sujeito lexical foram incluídas em um único fator na variável forma antecedente. Assim, esperava-se que elas favorecessem todas as estratégias em questão, mas isso só aconteceu com o verbo no infinitivo. As formas nominais favoreceram o verbo na terceira pessoa do singular (exemplo 82) e do plural (exemplo 83), com pesos relativos .386 e .392 respectivamente. Já o verbo com a partícula “se” foi preferido quando a forma antecedente era “a gente” (exemplo 84). 122 (82) As vezes as, o pessoal briga porque gosta e as vezes é porque acontece, tem uns mesmo que vão pro pagode ficam bêbado ou drogado e aí já vai pra, procurar briga com os outros, tem gente que tem um temperamento muito alto não aguenta aí Ø começa, aí começando uma briga, aí vem várias. [PEPP18-M1f] (83) ...e perdi ano e gente que era pior do que eu é formado, eu já tive gente grande aí colega meu e tudo, eu não vou citar nome de ninguém aqui mas e, e Ø passavam não, e eu as veze eu me achava maior, melhor aluno, uma vez eu encontrei um, um médico que ele foi até médico lá do, do (...inint...), ele disse, “mas rapaz você era melhor aluno do que e não se formou e eu fui me embora, porque”, são coisas da vida... [PEPP11-M4m] (84) Isso aí é, é mais um, um mito né, “ah, não vá pra ali que o tubarão pega, o tubarão está em alto mar”, eu acho que o tubarão não dá em alto mar, ele dá é mais de, de cinquenta metros pra cá, se a gente for considerar a parte biológica dele, é um ani, é um fóssil vivo que está sobrevivendo aí há um tempo né, e tem até um, Ø chama-se mal do cação, é um, é um, ele não poder receber grandes pressões de, de profundidade que ele dá, dá problema nele, então ele tem que ficar num, num lugar que tem cinquenta metros pra ele deitar e dormir. [PEPP14-M4m] Formas sem sujeito lexical Formas Nominais A gente Você Total Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % P.R. Nº % Ø+VINF Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE 75 86 9 18 40 46 5 10 .376 .339 .095 .190 3 15 8 5 10 48 26 16 .099 .386 .392 .122 9 5 4 6 38 21 17 25 .285 .108 .261 .345 5 5 3 8 24 24 14 38 .240 .180 .263 .317 92 111 24 37 35 42 9 14 TOTAL 188 31 24 21 264 Tabela 26: As variantes pronominais e sua distribuição em relação à variável forma antecedente. 123 5.3.6 Mudança/Manutenção do referente A variável mudança/manutenção do referente apresenta maior quantidade de dados em relação à manutenção do referente, em detrimento da mudança dele. Contudo, ao fazer a distribuição por cada estratégia não-pronominal analisada, tanto a frequência quanto os pesos relativos se tornam diferentes para cada uma delas. As estratégias verbo no infinitivo e verbo na terceira pessoa do singular, ambas sem preenchimento do sujeito, foram favorecidas sempre que o referente era mantido. Em relação às estratégias verbo na terceira pessoa do plural e verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se”, os dados obtidos foram poucos, o que pode mascarar os pesos relativos obtidos, os quais informam que quando há mudança do referente, essas formas tendem a ser empregadas. Igual Diferente Total Nº % P.R. Nº % P.R. Ø+VINF 94 37 .309 3 19 .180 Nº % 97 36 Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE 107 22 34 42 9 13 .353 .164 .174 4 4 5 25 25 31 .158 .341 .321 111 41 26 10 39 14 TOTAL 257 16 273 Tabela 27: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.3.7 Grau de Indeterminação Assim como as estratégias pronominais, as estratégias não-pronominais foram mais encontradas, tendo em vista o número total de dados, com indeterminação parcial, sendo mais usadas as estratégias com o verbo na terceira pessoa do singular com ou sem a partícula “se”. Quando a indeterminação era completa, ou seja, não havendo referência explícita ou implicitamente no contexto, as estratégias mais utilizadas pelos falantes analisados foram o verbo no infinitivo e o verbo na terceira pessoa do plural. 124 Ø+VINF Indeterminação Parcial Indeterminação Completa Total Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE TOTAL Nº % P.R. Nº % P.R. 108 33 .232 63 34 .267 134 41 .296 51 28 .209 44 13 .230 34 19 .269 41 13 .242 35 19 .256 327 Nº % 171 34 185 36 78 15 76 15 510 183 Tabela 28: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável grau de indeterminação. 5.3.8 Tipo de Oração O maior número de orações encontradas foi das coordenadas, cuja única estratégia que apresentou maior peso relativo para este tipo de oração foi Ø+V3PP, embora sua frequência percentual seja baixa. A variante Ø+V3PS apresentou maior peso relativo para as orações principais. As estratégias Ø+V+SE e Ø+VINF foram mais favorecidas nas orações subordinadas e absolutas respectivamente. Ø+VINF Nº Principal % P.R. Nº Coordenada % P.R. Nº Subordinada % P.R. Nº Absoluta % P.R. Total Ø+V3PS Ø+V3PP Ø+V+SE 26 38 .341 134 35 .257 7 13 .084 4 44 .361 29 42 .367 139 37 .261 15 29 .166 2 22 .167 6 9 .119 62 16 .320 8 15 .244 2 22 .286 8 12 .173 45 12 .162 22 42 .507 1 11 .187 Nº 171 185 78 76 % 34 36 15 15 TOTAL 69 380 52 9 510 Tabela 29: As variantes não-pronominais e sua distribuição em relação à variável tipo de oração. 125 5.4 RODADAS BINÁRIAS POR ESTRATÉGIAS Foram realizadas rodadas binárias com o programa GoldVarb para cada variante contra todas as outras para tentar verificar se há fatores que as influenciam e quais. A ordem para apresentação será inicialmente com as variantes pronominais, uma vez que foram as mais utilizadas pelos falantes estudados, e depois as formas não-pronominais. A variante “formas nominais” também passou por uma rodada binária, porém será apresentada na próxima seção. A ordem das variáveis selecionadas nas rodadas binárias para cada variante estudada foi organizada na tabela 26 para que pudesse ser verificado qual foi a variável que mais favoreceu o uso das estratégias de indeterminação do sujeito levantadas ao longo da coleta de dados. A variável forma antecedente, conforme já observado por Santana (2006), foi selecionado por praticamente todas as variantes, com exceção da forma “Ø+V3PP”. Como se não bastasse ter sido selecionada em quase todas as rodadas binárias, essa variável apresentou-se como mais favorecedora também, uma vez que foi a primeira a ser selecionada na maioria das análises, aparecendo em quinto lugar apenas para a estratégia Ø+V+SE. A segunda variável mais selecionada foi extralinguística, o nível de escolaridade, cuja seleção só não ocorreu também para a estratégia “Ø+V3PP” e para as formas nominais. A variável preenchimento do sujeito também foi selecionada por todas as variantes pronominais, uma vez que elas não fizeram parte das rodadas das variantes não-pronominais. A seguir, será apresentado um quadro com todas as variantes e variáveis linguísticas e extralinguísticas que passaram pelo processamento estatístico do GoldVarb X e a ordem de seleção informada por esse programa. 126 Variantes Variáveis Gênero/sexo Faixa Etária Escolaridade Tempo e Modo Verbal Forma Antecedente Mudança/ Manutenção do Referente Preenchimento do Sujeito Tipo de Verbo Grau de Indeterminação Tipo de Oração A gente Você Nós Eles Ø+ VINF Ø+ V3PS Ø+ V3PP Ø+ V+SE FN 7 x 5 8 6 5 5 2 4 x x 4 x x 3 6 4 3 x 5 x x 1 2 5 x x 4 4 3 5 *** x x x 3 1 1 1 1 1 1 x 5 1 6 x x 6 x 5 2 3 4 2 2 2 3 *** *** *** *** x x 7 x x x 2 1 4 7 3 3 6 2 x x 3 x 2 8 x x x 2 7 4 x Quadro 3: Ordem de seleção das variáveis nas rodadas binárias em relação à cada variante. 6 17 5.4.1 Variantes pronominais As variantes pronominais serão apresentadas seguindo a ordem de maior input na rodada eneária realizada e apresentada na subseção 5.2. 5.4.1.1 A gente A forma “a gente” apresentou maior input e foi a segunda estratégia com maior número de dados, tendo em vista seu percentual em relação a todos os dados coletados. Para a realização dessa rodada binária, algumas modificações tiveram que ser feitas em seu arquivo de condições para evitar nocautes. Inicialmente, amalgamaram-se as formas antecedentes explícitas com as implícitas; como os nocautes se mantiveram com as estratégias “eu” e “VPASSINT”, optou-se por excluir 17 O símbolo “x” indica que a variável não foi selecionada e o uso de “***” corresponde dizer que a variável não participou da rodada. 127 a forma “eu” e amalgamar todas as estratégias verbais sem sujeito lexical em um único fator, incluindo a “VPASSINT”. Realizadas as alterações, procedeu-se com a análise binária, cujos resultados serão apresentados a seguir, mostrando todas as variáveis que foram selecionadas como favorecedoras ao uso dessa estratégia na rodada step up do GoldVarb, seguindo a mesma ordem informada pelo programa. 5.4.1.1.1 Forma antecedente A variável forma antecedente mostrou-se como bastante favorecedora para o emprego de a gente, cujo peso relativo em relação às demais estratégias foi de 0.935. A tabela 30 apresenta os resultados em ordem decrescente do peso relativo para que se perceba de maneira mais clara a atuação dessa variável no uso de “a gente”. Forma antecedente Significância = 0.006 Apl./T A gente 325/423 Formas nominais 19/194 Formas sem sujeito lexical 17/269 Nós 11/68 Eles 7/45 Você 34/605 TOTAL 413/1604 % P.R. 76,8 9,8 6,3 16,2 15,6 5,6 0.935 0.525 0.396 0.342 0.250 0.175 Tabela 30: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável forma antecedente. Conforme anteriormente mencionado, a variável forma antecedente parece estar condicionada pela manutenção ou mudança do referente, conforme observaram Cunha (1993), Scherre e Naro (2004) e Santana (2006), que formas levam a formas. Assim, procedeu-se com o cruzamento dessas duas variáveis através do recurso Cross Tabulation, cujos dados apontam que a manutenção do referente favorece o uso da forma “a gente” sempre que ela é empregada em uma série oracional. Ressalta-se aqui a necessidade de exclusão da forma antecedente “nós” 128 por gerar nocaute no cruzamento, pois havia dados apenas quando o referente se mantinha (igual). Manutenção/mudança do referente Igual Forma antecedente Diferente Nº/T % P.R. Nº/T % P.R. 324/397 12/170 2/38 30/580 10/247 81,6 7,1 5,3 5,2 4,0 0.960 0.291 0.231 0.228 0.186 1/25 7/20 5/7 4/23 3/14 4,0 35,0 71,4 17,4 21,4 0.184 0.931 0.931 0.532 0.595 Significância = 0.000 A gente Formas nominais Eles Você Formas sem sujeito lexical Tabela 31: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em relação à aplicação da variante “a gente”. 5.4.1.1.2 Preenchimento do sujeito A variável preenchimento do sujeito foi o segundo grupo de fatores selecionado pelo programa estatístico, contudo não apresentou grande diferença entre o sujeito pronominal explícito e o implícito, cujos pesos relativos estão bastante próximos 0.510 e 0.458 respectivamente. De maneira pouco saliente, percebe-se a necessidade que o falante tem de manter expresso na sentença, ou melhor, de preencher a posição do sujeito, evitando, portanto, o sujeito tido como oculto pelas gramáticas tradicionais. O resultado desta variável pode ser conferido na tabela 32. Preenchimento do Sujeito Significância = 0.006 Apl./T Sujeito pronominal explícito 508/1411 Sujeito pronominal implícito 157/326 TOTAL 665/1737 % P.R. 36,0 48,2 0.510 0.458 Tabela 32: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável preenchimento do sujeito. 5.4.1.1.3 Grau de indeterminação O terceiro grupo de fatores selecionado foi o grau de indeterminação, a qual, através dos dados apresentados na tabela 33, mostrou que os falantes tendem a 129 indeterminar o sujeito parcialmente quando há alguma referência no contexto, seja ela explícita ou implícita, apontada a partir do seu peso relativo 0.583. A forma “a gente” não foi muito contemplada quando há indeterminação completa, ou seja, quando o sujeito não pode ser recuperado por meio de inferência, pois não há nada no contexto que possa delimitar essa possibilidade, podendo ser ele qualquer um dos envolvidos no ato comunicativo, como qualquer pessoa de fora dessa relação. Grau de indeterminação Apl./T % P.R. Indeterminação Parcial 544/1584 34,3 0.583 Indeterminação Completa 124/1011 12,3 0.372 Significância = 0.006 TOTAL 668/2595 Tabela 33: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável grau de indeterminação. 5.4.1.1.4 Tempo e modo verbal Embora se acredite que o presente do indicativo seja o mais favorecedor para o uso da indeterminação do sujeito, assim não o foi para a forma “a gente”, cujo uso maior foi com o pretérito imperfeito do indicativo, o que indica que, em situações de passado hipotético, são beneficiadores do empregado dessa estratégia. Houve bastante dados para esse tempo verbal (653) em relação ao todo coletado, sendo 44,4% das ocorrências (290) para a estratégia em questão. Isso se refletiu também em seu peso relativo com 0.693. Assim, a variável tempo e modo verbal, embora selecionada em quarto lugar, se mostrou bastante favorecedora para o uso de “a gente”, permitindo encontrá-la empregada com quase todos os tempos verbais selecionados. Os dados gerais sobre essa variável linguística pode ser conferida a seguir, na tabela 34 (ver página seguinte), ordenada a partir dos pesos relativos obtidos através do GoldVarb X. 130 Tempo e Modo Verbal Significância = 0.006 Pretérito Imperfeito do Ind. Gerúndio Presente do Ind. Pretérito Perfeito do Ind. Infinitivo Pretérito Imperfeito do Subj. Futuro do Presente do Ind. TOTAL Apl./T % P.R. 290/653 26/97 250/1104 14/136 57/405 6/40 10/78 653/2513 44,4 26,8 22,6 10,3 14,1 15,0 12,8 0.693 0.594 0.463 0.389 0.365 0.285 0.256 Tabela 34: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tempo e modo verbal. 5.4.1.1.5 Escolaridade Não sendo o item “a gente” uma das estratégias para indeterminar o sujeito considerada padrão pelas gramáticas normativas, era de se esperar que falantes com poucos anos de escolaridade fizessem mais uso. E foi justamente isso que ocorreu ao analisar a tabela abaixo, cujo maior peso relativo diz respeito aos falantes que possuem apenas o Ensino Fundamental, com peso relativo de 0.616. Os outros níveis de escolaridade mantiveram um nível muito próximo de uso, o que demonstrou que, para essa forma de indeterminação do sujeito, há uma grande distância em relação ao menor nível de escolaridade apontado como favorecedor. Escolaridade Significância = 0.006 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior TOTAL Apl./T % P.R. 264/676 226/957 178/962 668/2595 39,1 23,6 18,5 0.616 0.498 0.419 Tabela 35: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade. Para essa variável social, esboçou-se um gráfico (ver gráfico 9 a seguir) com o peso relativo de uso da variante “a gente”, o que possibilitou perceber de maneira mais clara a distância existente em o Ensino Fundamental dos demais níveis de escolaridade. 131 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 A gente Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 9: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável escolaridade. A variável escolaridade foi cruzada com as demais variáveis sociais a fim de compreender o perfil social dos falantes do Ensino Fundamental que mais fazem uso da forma “a gente” para indeterminar o sujeito em Salvador. O resultado desse procedimento pode ser verificado na tabela a seguir, construída com o número de aplicação em relação ao total, porcentagem e, principalmente, dos pesos relativos, obtidos numa rodada diferenciada para sua obtenção. Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Masculino Feminino Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 1 61/112 54,5 0.809 11/182 6,0 0.186 xxx xxx xxx 2 14/84 16,7 0.415 93/164 56,7 0.823 29/104 27,9 0.578 3 18/63 28,6 0.586 4/143 2,8 0.093 20/128 15,6 0.396 4 17/77 22,1 0.501 31/122 25,4 0.547 9/90 10,0 0.282 1 49/105 46,7 0.756 12/74 16,2 0.407 xxx xxx xxx 2 32/65 49,2 0.774 24/88 27,3 0.570 42/227 18,5 0.446 3 35/71 49,3 0.775 29/102 28,4 0.584 66/302 21,9 0.498 4 38/99 38,4 0.688 22/82 26,8 0.565 12/111 10,8 0.300 Tabela 36: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “a gente”. Analisando a tabela 36, percebe-se que são os falantes do gênero/sexo feminino do Ensino Fundamental que mais favorecem o emprego de “a gente” para 132 indeterminar o sujeito em Salvador. Esse resultado é indiferente em relação à faixa etária, cujos pesos relativos estão muito próximos. Percebe-se também que o gênero/sexo masculino do Ensino Fundamental, faixa etária 1, e Ensino Médio, faixa etária 2, favorece o emprego dessa estratégia. Ao se observar o gênero/sexo no Ensino Superior, percebe-se que é a faixa etária 2 que mais emprega o “a gente” indeterminado. 5.4.1.1.6 Mudança/Manutenção do referente Quando o referente se mantém o mesmo, a tendência apontada na tabela 37 é de que há a manutenção da variante “a gente”. Esse reflexão está baseada nos resultados numéricos obtidos, cujo peso relativo para a manutenção do referente é de 0.506. Isso esclarece que o falante sente a necessidade de preservar a forma utilizada para marcar a indeterminação do sujeito por se tratar do mesmo referente, quando há a mudança dele, a forma também muda, deixando de usar a mesma estratégia. Mudança/Manutenção do Referente Apl./T % P.R. 390/1512 20/96 25,8 20,8 0.506 0.413 Significância = 0.006 Igual Diferente TOTAL 410/1608 Tabela 37: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.4.1.1.7 Gênero/sexo A rodada binária tendo como fator de aplicação a forma “a gente” também selecionou a variável social gênero/sexo como favorecedora do seu emprego. Conforme já observado na tabela 36, o gênero/sexo feminino mostrou-se como o grupo que mais faz uso da estratégia ora analisada, perfazendo, de acordo com a tabela 38, o peso relativo de 0.544. Salienta-se mais uma vez que este grupo está associado, principalmente, à escolaridade Ensino Fundamental. 133 Gênero/sexo Apl./T % P.R. 361/1326 307/1269 668/2595 27,2 24,2 0.544 0.454 Significância = 0.006 Feminino Masculino TOTAL Tabela 38: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo. Esses resultados também foram organizados em forma de gráfico (ver gráfico 10) para melhor compreensão a partir da análise da variável gênero/sexo. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Masculino Feminino Gráfico 10: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável gênero/sexo. 5.4.1.1.8 Tipo de Oração Depreende-se, a partir dos dados apresentados abaixo, que as orações principal e subordinada são as principais favorecedoras para aplicação da forma “a gente” em relação aos demais tipos de oração, com peso relativo de 0.586 e 0.584 respectivamente. Tipo de oração Significância = 0.006 Principal Subordinada Coordenada Absoluta TOTAL Apl./T % P.R. 102/344 106/381 452/1835 8/35 668/2595 29,7 27,8 24,6 22,9 0.586 0.584 0.469 0.357 Tabela 39: Aplicação da variante “a gente” em relação à variável tipo de oração. 134 5.4.1.2 Você Em termos de frequência, essa foi a estratégia mais empregada pelos falantes de Salvador para indeterminar o sujeito (33,6%). Os grupos de fatores que favorecem o seu uso serão apresentados na mesma ordem com que foram selecionados pelo programa utilizado para obtenção dos dados numéricos. Ao iniciar a rodada binária tendo essa estratégia como aplicação, houve necessidade de amalgamar as formas antecedentes explícitas com as implícitas para evitar os nocautes. 5.4.1.2.1 Forma antecedente Assim como para a estratégia anterior, a forma antecedente foi a primeira variável selecionada como mais favorecedora do item “você”. Tanto sua frequência quanto seu peso relativo apontaram que quando a forma anterior é “você” o falante tende a conservá-la. Forma antecedente Significância = 0.000 Apl./T Você 502/605 Formas sem sujeito lexical 34/269 Formas nominais 39/194 Eu 3/13 Eles 6/45 Nós 6/68 A gente 31/423 TOTAL 621/1617 % P.R. 83,0 12,6 20,1 23,1 13,3 8,8 7,3 0.879 0.469 0.400 0.266 0.211 0.122 0.110 Tabela 40: Aplicação da variante “você” em relação à variável forma antecedente. Buscando verificar se isso tem algo a ver com a manutenção ou mudança do referente, foi realizado um cruzamento entre as duas variáveis que dão conta desse aspecto para tentar perceber. Para que isso fosse possível, houve a necessidade de excluir a forma antecedente “nós” da rodada, pois houve nocautes. 135 O que se pode verificar na tabela 41 é que quando o referente é igual, a forma antecedente “você” se mantém. Portanto, ao manter o foco em determinado referente, os usuários do português em Salvador tendem a preservá-lo, mudando seu uso apenas quando há mudança do referente como forma de marcar linguisticamente esse aspecto. Manutenção/mudança do referente Igual Diferente Nº/T % P.R. Nº/T % P.R. 498/580 2/10 33/170 5/38 32/247 26/397 85,9 20,0 19,4 13,2 13,0 6,5 0.918 0.316 0.308 0.219 0.216 0.115 3/23 1/3 6/20 1/7 2/14 5/25 13,0 33,3 30,0 14,3 14,3 20,0 0.217 0.480 0.442 0.236 0.236 0.316 Forma antecedente Significância = 0.000 Você Eu Formas nominais Eles Formas sem sujeito lexical A gente Tabela 41: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em relação à aplicação da variante “você”. 5.4.1.2.2 Preenchimento do sujeito Em segundo lugar, a variável preenchimento do sujeito, assim como para a forma “a gente”, o uso de “você” ocorre mais quando está explícito, com peso relativo 0.536. Sua frequência também aponta para a mesma direção, ou seja, há maior tendência de preenchimento lexical na posição de sujeito. Preenchimento do Sujeito Significância = 0.000 Sujeito pronominal explícito Sujeito pronominal implícito Apl./T % P.R. 765/1411 108/326 54,2 33,1 0.536 0.349 TOTAL 873/1737 Tabela 42: Aplicação da variante “você” em relação à variável preenchimento do sujeito. 136 5.4.1.2.3 Grau de indeterminação Em relação ao grau de indeterminação do sujeito, a variante “você” é mais favorecedora quando não há referência no contexto do qual se possa depreender, de alguma forma, por meio de inferência, o sujeito referencial. Sua indeterminação é tida, por isso, como completa, podendo se referir a qualquer um dentro ou fora do contexto interativo de comunicação. Isso se confirma no alto peso relativo atribuído a esse fator de 0.643, cuja frequência também aponta para o mesmo sentido, com 45,9% de uso, tudo isso com relação à indeterminação parcial. Grau de indeterminação Apl./T % P.R. Indeterminação Completa 464/1011 45,9 0.643 Indeterminação Parcial 410/1584 25,9 0.407 Significância = 0.000 TOTAL 874/2595 Tabela 43: Aplicação da variante “você” em relação à variável grau de indeterminação. Quando se analisaram as estratégias pronominais como fator de aplicação, a indeterminação parcial mostrou-se mais favorecedora. Contudo, ao se analisar isoladamente o item “você”, o resultado foi diferente. 5.4.1.2.4 Tempo e modo verbal Em oposição ao “a gente”, para o item você, em relação ao peso relativo, o fator selecionado como mais favorecedor foi o infinitivo. O tempo presente do indicativo, já mencionado como o que mais favorece a indeterminação, foi o mais empregado em relação a todos os dados encontrados, sendo 41,1% das ocorrências em relação ao uso de “você”. Os resultados mais detalhados podem ser conferidos na tabela 44 (ver página seguinte). 137 Tempo e Modo Verbal Significância = 0.000 Infinitivo Pretérito Imperfeito do Subj. Gerúndio Presente do Ind. Futuro do Presente do Ind. Pretérito Imperfeito do Ind. Pretérito Perfeito do Ind. TOTAL Apl./T % P.R. 146/405 21/40 34/97 454/1104 38/78 135/518 12/136 840/2513 36,0 52,5 35,1 41,1 48,7 20,7 8,8 0.708 0.703 0.544 0.533 0.499 0.368 0.187 Tabela 44: Aplicação da variante “você” em relação à variável tempo e modo verbal. 5.4.1.2.5 Escolaridade O Ensino Superior mostrou-se como principal favorecedor do uso de “você” para marcar a indeterminação do sujeito, cujo peso relativo ficou em 0.583. Esse mesmo resultado foi alcançado por Carvalho (2004) ao analisar a mesma estratégia. A frequência de uso encontrada para esse mesmo nível de escolaridade está em consonância com o peso relativo encontrado. Escolaridade Significância = 0.000 Ensino Superior Ensino Médio Ensino Fundamental TOTAL Apl./T % P.R. 466/962 321/957 87/676 874/2595 48,4 33,5 12,9 0.583 0.571 0.292 Tabela 45: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade Assim, de acordo com os resultados obtidos, interpreta-se que não há estigma na utilização de “você” para marcar a indeterminação, uma vez que são os falantes mais escolarizados que o estão empregando mais. Essa reflexão é melhor compreendida através da observação do gráfico 11 que aponta um decréscimo no emprego de “você”, do nível mais escolarizado para o menos escolarizado, ou seja, do Ensino Superior para o Ensino Fundamental. 138 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 11: Aplicação da variante “você” em relação à variável escolaridade. 5.4.1.2.6 Faixa etária Os falantes mais novos foram os mais favorecedores do uso de “você”, de acordo com o peso relativo 0.552 obtido na análise estatística e vislumbrado na tabela 47. Faixa Etária Significância = 0.000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 TOTAL Apl./T % P.R. 142/473 234/732 327/809 171/581 30,0 32,0 40,4 29,4 0.552 0.435 0.523 0.508 874/2595 Tabela 46: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária. Esse resultado fica mais claro de ser observado através do gráfico 12, no qual a faixa etária 1 desponta na frente das demais. Há, praticamente, um decréscimo até a faixa etária 4, com exceção do rebaixamento da faixa etária 2 em relação às demais. 139 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Gráfico 12: Aplicação da variante “você” em relação à variável faixa etária. Cabe ressaltar que na faixa etária 1 não há falantes do Ensino Superior. Assim, retomando os dados obtidos na tabela 43, os falantes dessa faixa etária que favorecem o uso do item em análise são do Ensino Médio, do gênero masculino e feminino respectivamente. Analisando as outras faixas etárias, ou seja, as 2, 3 e 4, percebe-se que é a faixa etária 3 que mais emprega o pronome “você” como marca de indeterminação, principalmente o gênero feminino. A rodada binária desta variante selecionou as três variáveis sociais estabelecidas para este trabalho. Diante dos dados obtidos, houve a necessidade de cruzar isoladamente os dois grupos de fatores escolaridade e faixa etária, a fim de entender melhor, através de o gráfico a seguir, como atuam as faixas etárias, especialmente a 1, que não faz parte do Ensino Superior. 140 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Faixa Etária 1 Ensino Médio Faixa Etária 2 Ensino Superior Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Gráfico 13: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade. Agora, de forma clara e ilustrativa, verifica-se que o Ensino Superior faz mais uso da estratégia “você” para marcar a indeterminação do sujeito em Salvador nas três faixas etárias em que há informantes (faixas etária 2, 3 e 4). Em relação à faixa etária 1, presente apenas nos Ensino Fundamental e Médio, é nesse último que há predominância de uso da forma em questão. No Brasil, é o nível de escolaridade dos falantes que permite delimitar, em se tratando de estudos linguísticos, se uma forma é ou não estigmatizada socialmente, uma vez que quanto mais tempo passa o indivíduo frequentando a escola, mais ele está fadado a fazer uso das formas linguísticas consideradas padrão, consequentemente, estará delineando a norma culta brasileira. No caso da estratégia “você”, empregada como uma das marcas indeterminadoras do sujeito em Salvador, embora não seja tratada como uma das formas padrão abordadas pelas GT, pode ser considerada norma culta, uma vez que são os falantes com Ensino Superior completo que dominam o seu emprego. O Ensino Superior mostrou-se como fator principal para aplicação da forma “você” em relação à variável escolaridade. Através do cruzamento desse grupo de fatores com as outras variáveis sociais, foi possível compreender melhor quem é esse falante que colaborara para o uso da variante em questão. Os resultados obtidos encontram-se registrados na tabela 47. Para que essa tarefa fosse cumprida perfeitamente, foi necessário excluir da rodada a célula que compreendia os fatores gênero feminino, faixa etária 3 e Ensino 141 Fundamental, uma vez que causou nocautes, o que impediria a obtenção dos pesos relativos através do programa estatístico utilizado. O motivo do nocaute está identificado na tabela com resultado zerado e sem, é claro, o respectivo peso relativo. Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Masculino Feminino Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 1 8/112 7,1 0.149 96/182 52,7 0.718 xxx xxx xxx 2 19/84 22,6 0.400 20/164 12,2 0.241 34/104 32,7 0.526 3 18/63 28,6 0.477 72/143 50,3 0.698 32/128 25,0 0.432 4 22/77 28,6 0.477 38/122 31,1 0.508 20/90 22,2 0.395 1 3/105 2,9 0.063 35/74 47,3 0.672 xxx xxx xxx 2 8/65 12,3 0.242 21/88 23,9 0.417 132/227 58,1 0.760 3 0/71 0,0 - 23/102 22,5 0.399 182/302 60,3 0.776 4 9/99 9,1 0.186 16/82 19,5 0.356 66/111 59,5 0.770 Tabela 47: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “você”. Analisando os resultados apresentados na tabela 47, constata-se que é o gênero feminino, com nível superior completo, independente da faixa etária, que mais emprega o pronome “você” em seu uso indeterminado. 5.4.1.2.7 Tipo de verbo Em relação à variável tipo de verbo, sétima selecionada, o maior peso relativo foi para verbos intransitivos, com 0.539, embora haja mais verbos transitivos nos corpora estudados. Os resultados obtidos podem ser conferidos na tabela a seguir. Tipo de verbo Significância = 0.000 Intransitivo Transitivo Ligação TOTAL Apl./T % P.R. 68/187 764/2239 42/169 36,4 34,1 24,9 0.539 0.506 0.379 874/2595 Tabela 48: Aplicação da variante “você” em relação à variável tipo de verbo. 142 5.4.1.2.8 Gênero/sexo A analisar a variável gênero/sexo isoladamente das demais variáveis sociais, constata-se que, em relação ao uso de “você”, os pesos relativos de 0.509 e 0.491 respectivamente gêneros/sexos masculino e feminino estão muito próximos, não caracterizando favorecimento ou desfavorecimento. Gênero/sexo Apl./T % P.R. 379/1269 495/1326 874/2595 29,9 37,3 0.509 0.491 Significância = 0.000 Masculino Feminino TOTAL Tabela 49: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo. Ao observar o gráfico 14, verifica-se mais nitidamente a aproximação dos dados numéricos. Praticamente, há equivalência. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Masculino Feminino Gráfico 14: Aplicação da variante “você” em relação à variável gênero/sexo. Para tentar entender melhor o que ocorreu com esse resultado, realizou-se o cruzamento das variáveis gênero/sexo com a escolaridade, o qual está registrado no gráfico 15. 143 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Masculino Ensino Superior Feminino Gráfico 15: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e escolaridade A partir da análise do gráfico apresentado, percebe-se que há um crescimento no emprego de “você” por falantes do gênero/sexo feminino, partindo do menor grau de escolaridade ao maior, ou seja, quanto mais escolarizado é o falante, mais faz uso. Isso tem que ver com o que foi apontado por Silva e Scherre (1998, p. 349), que “as mulheres são mais sensíveis à escolarização do que os homens no sentido de apresentarem ou maiores polarizações entre os resultados máximos e mínimos ou maior regularidade nos resultados”. Já em relação ao gênero/sexo masculino, há um crescimento do Ensino Fundamental para o Médio e um decréscimo do Ensino Médio para o Ensino Superior. Além desse cruzamento, processou-se também outro com as variáveis gênero/sexo e faixa etária, cujos resultados encontram-se apresentados no gráfico a seguir. 144 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Masculino Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Feminino Gráfico 16: Aplicação da variante “você” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária. O gênero/sexo masculino oscila no emprego de “você”. Decresce da faixa etária 1 para 2, aumenta da 2 para a 3 e torna a diminuir da 3 para a faixa etária 4. O feminino aumenta da faixa etária 1 para 2 e mantém até a 3, quando decresce para a faixa etária 4. 5.4.1.3 Eles O pronome “eles” também é empregado como uma das estratégias para marcar a indeterminação na fala urbana de Salvador. Ele preserva a tendência já apontada nas estratégias analisadas de que a forma antecedente é o primeiro grupo de fator selecionado. Devido aos poucos dados dessa variante nos corpora analisados, algumas modificações foram necessárias no arquivo de condições, além das realizadas anteriormente e que foram mantidas, para que se pudesse processar a rodada binária, evitando os nocautes apresentados. Assim, retirou-se do grupo de fatores tempo e modo verbal o pretérito imperfeito do subjuntivo, como também as estratégias “nós” e “eu” da variável forma antecedente. Findadas as alterações, processou-se à rodada binária tendo a forma “eles” como fator de aplicação. Os resultados serão apresentados logo a seguir, de acordo com os grupos de fatores selecionados e ordenados pelo GoldVarb X. 145 5.4.1.3.1 Forma antecedente Quando a forma anteriormente empregada é “eles” favorece seu uso nas orações seguintes, isso é o que aponta o peso relativo de 0.980, bastante alto em relação às demais formas antecedentes listadas na tabela abaixo. Forma antecedente Significância = 0.013 Eles Formas nominais Formas sem sujeito lexical Você A gente TOTAL Apl./T % P.R. 28/45 5/194 3/269 4/605 5/423 45/1536 62,2 2,6 1,1 0,7 1,2 0.988 0.729 0.614 0.379 0.374 Tabela 50: Aplicação da variante “eles” em relação à variável forma antecedente. Em relação a essa variante, optou-se em não cruzar a forma antecedente com a variável manutenção ou mudança do referente devido aos poucos dados, uma vez que na rodada inicial os resultados obtidos pareciam estar mascarados, com poucos dados e pesos relativos altos, não apresentando confiabilidade. 5.4.1.3.2 Grau de indeterminação O grupo de fatores grau de indeterminação foi o segundo selecionado pelo programa estatístico utilizado. De acordo com o peso relativo obtido, depreende-se que a forma “eles” é mais utilizada quando a indeterminação do sujeito é parcial, ou seja, quando é possível identificar ao menos um dos envolvidos no discurso por meio de inferência. O peso relativo para esse fator foi de 0.600, praticamente o dobro de quando a indeterminação é completa. 146 Grau de indeterminação Apl./T % P.R. Indeterminação Parcial 58/1584 3,7 0.600 Indeterminação Completa 10/1011 1,0 0.346 Significância = 0.013 TOTAL 68/2595 Tabela 51: Aplicação da variante “eles” em relação à variável grau de indeterminação. 5.4.1.3.3 Preenchimento do sujeito O sujeito implícito mostrou-se como mais favorecedor para o uso da forma “eles”, diferentemente das estratégias apresentadas anteriormente. O peso relativo de 0.594 corresponde aos percentuais encontrados em relação à sua frequência. Preenchimento do Sujeito Significância = 0.013 Sujeito pronominal implícito Sujeito pronominal explícito TOTAL Apl./T % P.R. 17/326 50/1411 67/1737 5,2 3,5 0.594 0.478 Tabela 52: Aplicação da variante “eles” em relação à variável preenchimento do sujeito. 5.4.1.3.4 Escolaridade O nível de escolaridade foi o único grupo de fator extralinguístico selecionado para a rodada que teve a estratégia “eles” como de aplicação. Escolaridade Significância = 0.013 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior TOTAL Apl./T % P.R. 40/676 16/957 12/962 68/2595 5,9 1,7 1,2 0.653 0.470 0.420 Tabela 53: Aplicação da variante “eles” em relação à variável escolaridade. Na análise, obteve maior peso relativo 0.653 o Ensino Fundamental, não podendo se inferir que “eles” pode ser estigmatizado pelos falantes mais 147 escolarizados devido às poucas ocorrências em relação ao total de estratégias utilizadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito. A partir dos dados obtidos, criou-se o gráfico 14 para melhor entendimento dos resultados alcançados, o qual foi desenvolvido com os pesos relativos dos fatores. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 17: Frequência da variante “eles” em relação à variável escolaridade. A partir da análise do gráfico, depreende-se que quanto maior é o nível de escolaridade, ou seja, quanto mais tempo o falante fica exposto ao processo de escolarização, mais diminui o emprego dessa estratégia para indeterminar o sujeito. Assim como as estratégias anteriores, buscou-se cruzar as variáveis sociais para conhecer melhor quem são os falantes do Ensino Fundamental que mais fazem uso de “eles”. Devido aos nocautes encontrados nos Ensinos Fundamental e Médio, algumas células precisaram ser excluídas, as quais se encontram marcadas com “xxx”, com exceção do Ensino Superior, que não há informantes da Faixa Etária 1. Após as modificações no arquivo de condições, realizou-se a rodada binária, cujos resultados foram obtidos e organizados na tabela a seguir. 148 Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Masculino Feminino Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 1 8/112 7,1 0.794 1/182 0,5 0.217 xxx xxx xxx 2 4/84 4,8 0.714 3/164 1,8 0.482 1/104 1,0 0.327 3 0/63 0,0 - 5/143 3,5 0.644 1/128 0,8 0.283 4 3/77 3,9 0.670 1/122 0,8 0.293 1/90 1,1 0.360 1 15/105 14,3 0.893 1/74 1,4 0.407 xxx xxx xxx 2 0/65 0,0 - 0/88 0,0 - 3/227 1,3 0.401 3 0/71 0,0 - 5/102 4,9 0.720 5/302 1,7 0.457 4 10/99 10,1 0.849 0/82 0,0 - 1/111 0,9 0.313 Tabela 54: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “eles”. Como se pode observar na tabela 54, há células com dados inexistentes e outras com frequência baixíssima, o que dificulta qualquer tipo de conclusão, embora os maiores pesos relativos tenham se configurado no Ensino Fundamental, em ambos os gêneros/sexo. 5.4.1.3.5 Tempo e modo verbal Em relação ao tempo e modo verbal, o pretérito perfeito do indicativo mostrou-se como mais favorecedor ao empregado do item “eles”, com peso relativo de 0.772. Esse resultado toma como base os poucos dados encontrados para esse fator. Contudo, ainda é o presente do indicativo que apresenta maior número de ocorrências diante de “eles” em relação aos demais tempos e modos. Há de se registrar também que o futuro do presente do indicativo, o gerúndio e o infinitivo tiveram pouquíssimos dados, os quais poderiam ter sido retirados da rodada, mas optou-se em mantê-los uma vez que não causou problemas durante o processamento do GoldVarb X. 149 Tempo e Modo Verbal Significância = 0.013 Pretérito Perfeito do Ind. Presente do Ind. Futuro do Presente do Ind. Gerúndio Pretérito Imperfeito do Ind. Infinitivo TOTAL Apl./T % P.R. 9/136 40/1104 2/78 2/97 13/653 1/405 67/2473 6,6 3,6 2,6 2,1 2,0 0,2 0.772 0.681 0.661 0.576 0.462 0.080 Tabela 55: Aplicação da variante “eles” em relação à variável tempo e modo verbal. 5.4.1.3.6 Mudança/Manutenção do referente A variável mudança ou manutenção do referente apresentou também um resultado diferenciado para “eles” em relação às outras estratégias apresentadas. Os falantes preferem empregar esse item quando o referente é diferente, tomando como base o peso relativo de 0.733. Mudança/Manutenção do Referente Apl./T % P.R. 9/96 36/1512 45/1608 9,4 2,4 0.733 0.484 Significância = 0.013 Diferente Igual TOTAL Tabela 56: Aplicação da variante “eles” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.4.1.4 Nós Para que fosse possível a obtenção dos dados numéricos através do programa GoldVarb X, houve necessidade de exclusão do fator pretérito imperfeito do subjuntivo, além das modificações que foram feitas anteriormente nas rodadas iniciais. Realizadas essas alterações no arquivo de condições para evitar o nocaute apresentado inicialmente, a rodada binária com “nós” como valor de aplicação foi processada. 150 5.4.1.4.1 Forma antecedente A aplicação de “nós” como estratégia para indeterminação do sujeito na fala de Salvador também mostrou a forma antecedente “nós” como a primeira variável favorecedora do item, com 0.983 de peso relativo para a sua manutenção nas orações subsequentes. Forma antecedente Apl./T % P.R. Nós Formas nominais Formas sem sujeito lexical Eles A gente Você TOTAL 40/68 8/194 6/269 2/45 8/423 3/605 58,8 4,1 2,2 4,4 1,9 0,5 0.983 0.829 0.823 0.523 0.361 0.222 Significância = 0.012 67/1604 Tabela 57: Aplicação da variante “nós” em relação à variável forma antecedente. Devido aos poucos dados da variante “nós”, o cruzamento da variável forma antecedente com a mudança/manutenção do referente não foi possível, por que houve muitos nocautes. A eliminação deles resultou em apenas uma forma antecedente, as formas nominais. Nem o próprio “nós” pode continuar. Ressalta-se também que essa variável não foi selecionada pelo programa. 5.4.1.4.2 Preenchimento do sujeito Assim como a forma “eles”, o emprego de “nós” foi maior implicitamente, com peso relativo de 0.856, muito maior que a forma explícita. Isso é também apresentado em relação à sua frequência, cujo percentual é de 12,6%. Preenchimento do Sujeito Significância = 0.012 Apl./T Sujeito pronominal implícito 41/326 Sujeito pronominal explícito 73/1411 TOTAL 114/1737 % P.R. 12,6 5,2 0.856 0.398 Tabela 58: Aplicação da variante “nós” em relação à variável preenchimento do sujeito. 151 5.4.1.4.3 Tempo e modo verbal Em relação à variável tempo e modo verbal, o futuro do presente do indicativo (19,2% - P.R. 0.874) e o pretérito perfeito do indicativo (11,8% - P.R. 0.829) apresentaram maior frequência e peso relativo no emprego de “nós”, conforme pode ser verificado a tabela a seguir. Tempo e Modo Verbal Significância = 0.012 Futuro do Presente do Ind. Pretérito Perfeito do Ind. Presente do Ind. Pretérito Imperfeito do Ind. Gerúndio Imperativo TOTAL Apl./T % P.R. 15/78 16/136 51/1104 24/653 1/97 2/405 109/2473 19,2 11,8 4,6 3,7 1,0 0,5 0.874 0.829 0.649 0.498 0.247 0.091 Tabela 59: Aplicação da variante “nós” em relação à variável tempo e modo verbal. 5.4.1.4.4 Escolaridade A variável extralinguística escolaridade foi a quarta selecionada na análise realizada. O Ensino Superior (0.682) e o Ensino Fundamental (0.604) mostraram-se como os mais favorecedores ao emprego de “nós”, revelando que não há distinção em relação ao uso da forma, tendendo a ser considerada de prestígio, uma vez que são os falantes do Ensino Superior que mais a empregam. Escolaridade Significância = 0.012 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior TOTAL Apl./T % P.R. 39/676 13/957 63/962 115/2595 5,8 1,4 6,5 0.604 0.256 0.682 Tabela 60: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade. Essa tendência também é contemplada ao se analisar o gráfico a seguir, confirmando o que foi dito. 152 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 18: Aplicação da variante “nós” em relação à variável escolaridade. Pouca causa dos poucos dados dessa variante, não foi possível realizar o cruzamento de todas as variáveis para buscar compreender o perfil social dos informantes e o emprego que fazem da forma “nós”. Provavelmente, este é o motivo para o baixo peso relativo do Ensino Médio, que também se repetirá no cruzamento com a variável gênero/sexo a seguir. 5.4.1.4.5 Gênero/sexo O gênero/sexo masculino mostrou-se como o mais favorecedor, uma vez que obteve maior peso relativo 0.644, conforme apresentado na tabela 61. Gênero/sexo Significância = 0.012 Masculino Feminino TOTAL Apl./T % P.R. 88/1269 27/1326 115/2595 6,9 2,0 0.644 0.361 Tabela 61: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo. 153 Ilustra-se melhor esse resultado através do gráfico 19, quando se percebe a distância apresentada entre gênero/sexo masculino e o feminino. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Masculino Feminino Gráfico 19: Aplicação da variante “nós” em relação à variável gênero/sexo. Pensando, justamente, na distância que há entre o peso relativo do gênero/sexo masculino e do feminino, realizou-se o cruzamento desta variável com a escolaridade, anteriormente apresentada, cujo resultado encontra-se apresentado através do gráfico 20. Em relação ao gênero/sexo masculino, há um decréscimo do Ensino Fundamental para o Médio e um crescimento ainda maior para o Superior, ultrapassando o Ensino Fundamental. Já em relação ao gênero/sexo feminino ocorre algo parecido, há também um decréscimo do Ensino Fundamental para o Médio e um leve crescimento para o Ensino Superior, não ultrapassando o peso relativo do Ensino Fundamental. 154 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Masculino Ensino Superior Feminino Gráfico 20: Aplicação da variante “nós” em relação às variáveis gênero/sexo e escolaridade. O gênero/sexo masculino favorece o uso de “nós” como marca de indeterminação do sujeito nos Ensinos Fundamental e Superior, principalmente no Ensino Superior, diferentemente do feminino, que diminui nesse nível de escolaridade, favorecendo apenas no Ensino Fundamental. 5.4.1.4.6 Grau de indeterminação Quando a referência está explícita ou implícita no contexto, há maior favorecimento do emprego do item “nós”, o qual é considerado como indeterminação parcial, de acordo com a tabela 62. É essa variável que mostra que a indeterminação do sujeito com o uso de “nós” é parcial, conforme mencionada anteriormente por Neves (2000), uma vez que um dos referentes pode ser depreendido, a pessoa quem fala no discurso. Grau de indeterminação Apl./T % P.R. Indeterminação Parcial 98/1584 6,2 0.596 Indeterminação Completa 17/1011 1,7 0.352 Significância = 0.012 TOTAL 115/2595 Tabela 62: Aplicação da variante “nós” em relação à variável grau de indeterminação. 155 5.4.1.4.7 Faixa etária A faixa etária foi o penúltimo grupo de fatores selecionado na rodada binária tendo a forma pronominal “nós” como aplicação. A faixa etária 2 se revelou favorecedora dessa estratégia, embora se esperasse que fosse a faixa etária mais nova, pois se trata de uma inovação na língua. Faixa Etária Significância = 0.012 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 TOTAL Apl./T % P.R. 9/473 41/732 40/809 25/581 115/2595 1,9 5,6 4,9 4,3 4,4 0.287 0.615 0.478 0.569 Tabela 63: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária. Esse resultado é melhor evidenciado ao se analisar o gráfico a seguir. Aparentemente, parece haver um crescimento da faixa etária mais nova para a mais velha. A diferença está marcada na faixa etária 2 que se apresenta como mais favorecedora. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Gráfico 21: Aplicação da variante “nós” em relação à variável faixa etária. A rodada com o cruzamento das variáveis apresentou alguns nocautes, conforme já foi mencionado, e estes foram eliminados para que se pudessem obter os pesos relativos. Pensando nisso, a seguir, serão apresentados dois gráficos apenas com os dados da faixa etária 2 para buscar compreender por que ela é a mais favorecedora em relação às demais. 156 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 2 Masculino Feminino Gráfico 22: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável gênero/sexo. O gênero/sexo masculino, conforme já havia sido percebido, apresenta o maior peso relativo em relação ao feminino. O gráfico 22 apresenta de forma clara essa diferença. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 23: Aplicação da variante “nós” em relação à faixa etária 2 e a variável escolaridade. Em relação à faixa etária 2 e escolaridade, o Ensino Médio mantém-se abaixo dos demais níveis, havendo diferença apenas em relação aos outros dois níveis, dos quais o Ensino Fundamental encontra-se em destaque sobre o Ensino Superior. 157 5.4.2 Variantes não-pronominais As variantes não-pronominais, assim como as pronominais, serão apresentadas seguindo a ordem de maior input na rodada eneária realizada e apresentada na subseção 5.3. Não será incluído aqui a variante “Formas Nominais”, a qual será tratada na seção seguinte, conforme já foi dito. Em relação às variantes PASSINT – Passiva Sintética e a VPSA – Voz Passiva Sem Agente apresentadas na metodologia não serão abordadas aqui, por que a primeira foi incluída na variante Ø+V+SE, uma vez que só foi encontrado um único dado, e da segunda não foi encontrado dado algum. A variável preenchimento do sujeito foi excluída de todas as rodadas nãopronominais, uma vez que não há preenchimento lexical do sujeito nas variantes observadas. 5.4.2.1 Verbo no infinitivo sem sujeito lexical - Ø+VINF A variante verbo no infinitivo sem sujeito lexical foi estudada após realização de algumas modificações no arquivo de condições, uma vez que nocautes foram apresentados inicialmente. A variável tempo e modo verbal foi totalmente excluída da rodada, por que em uma rodada inicial, todos os tempos apresentaram nocautes com 0% de aplicação, com exceção do pretérito imperfeito do indicativo (40,5%) e o infinitivo (0,9%). Sendo esse último formador da estratégia em análise, poderia favorecer mais o grupo de fatores. Assim, optou-se em excluir completamente esta variável. Ainda sobre as modificações no arquivo de condições, o “eu” foi excluído do grupo de fatores forma antecedente, devido à ausência de dados. Feito isso, a rodada binária foi concluída. 5.4.2.1.1 Forma antecedente As formas sem sujeito lexical são o fator preferido entre as formas nãopronominais como mais favorecedoras para seu emprego, cujo peso relativo foi de 0.935, conforme dados apresentados na tabela 64. 158 Forma antecedente Apl./T % P.R. 75/269 3/68 2/45 9/423 3/194 5/605 97/1604 27,9 4,4 4,4 2,1 1,5 0,8 0.935 0.689 0.630 0.443 0.398 0.265 Significância = 0.003 Formas sem sujeito lexical Nós Eles A gente Formas nominais Você TOTAL Tabela 64: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável forma antecedente. 5.4.2.1.2 Tipo de oração A variável tipo de oração foi a segunda selecionada nesta rodada binária. As orações absolutas, embora com poucos dados, foram as que se mostraram mais favorecedoras, com peso relativo de 0.615. Tipo de oração Significância = 0.003 Absoluta Principal Coordenada Subordinada TOTAL Apl./T % P.R. 4/35 25/344 134/1835 7/381 170/2595 11,4 7,3 7,3 1,8 0.615 0.571 0.546 0.234 Tabela 65: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável tipo de oração. 5.4.2.1.3 Escolaridade A variável social escolaridade também foi selecionada nessa rodada, na qual o Ensino Médio revelou-se como mais favorecedor para o emprego do verbo no infinitivo, seguido do Ensino Fundamental, com pesos relativos 0.580 e 0.545 respectivamente. 159 Escolaridade Significância = 0.003 Ensino Médio Ensino Fundamental Ensino Superior TOTAL Apl./T % P.R. 86/957 54/676 30/962 170/2595 9,0 8,0 3,1 0.580 0.545 0.390 Tabela 66: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade. Percebe-se nitidamente, através do gráfico 24, que são os Ensinos Médio e Fundamental, seguindo a mesma ordem dos pesos relativos, que mais fazem uso da estratégia Ø+VINF para marcar a indeterminação do sujeito em Salvador, caracterizando como de uso mais popular, embora tratado na gramática de Cegalla (2008) como uma das estratégias padrão. O número de ocorrências foi baixo dessa estratégia, porém já apresenta uma tendência entre os falantes observados. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 24: Aplicação da variante “Ø+VINF” em relação à variável escolaridade. O perfil dos falantes dos Ensinos Médio e Fundamental que mais fazem uso da estratégia verbo no infinitivo sem sujeito lexical pode ser verificado na tabela a seguir. Os informantes do gênero/sexo feminino e do Ensino Médio que mais aplicam a estratégia estudada são das faixas etárias 1 e 3 respectivamente. 160 Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Masculino Feminino Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 1 8/112 7,1 0.547 12/182 6,6 0.526 xxx xxx xxx 2 2/84 2,4 0.277 0/164 0,0 - 14/104 13,5 0.710 3 4/63 6,3 0.516 11/143 7,7 0.567 5/128 3,9 0.390 4 4,77 5,2 0.463 16/122 13,1 0.703 5/90 5,6 0.480 1 6/105 5,7 0.488 11/74 14,9 0.733 xxx xxx xxx 2 8/65 12,3 0.688 11/88 12,5 0.692 0/227 0,0 - 3 13/71 18,3 0.779 15/102 14,7 0.730 5/302 1,7 0.209 4 9/99 9,1 0.611 10/82 12,2 0.686 1/111 0,9 0.125 Tabela 67: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Ø+VINF”. 5.4.2.2 Verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical - Ø+V3PS A rodada binária tendo a variante Ø+V3PS como fator de aplicação foi realizada a partir das alterações feitas no arquivo de condições, evitando-se, portanto, os nocautes apresentados inicialmente. As únicas alterações que foram realizadas dizem respeito à variável forma antecedente, cujos itens “eles” e “nós” foram excluídos por causa do motivo citado e a eliminação dos verbos no infinitivo e no gerúndio da variável tempo e modo verbal. As modificações feitas no início das rodadas pronominal versus não-pronominal foram mantidas, como a junção das formas antecedentes explícitas com implícitas e o agrupamento em um único fator das formas sem sujeito lexical. Finalizadas as mudanças, a análise foi realizada, apresentando as variáveis selecionadas na mesma ordem dada pelo programa GoldVarb X. 5.4.2.2.1 Forma antecedente As formas sem sujeito lexical favorecem o uso do verbo na terceira pessoa do singular, apresentando maior peso relativo em relação às demais formas, com 0.962. Além disso, essa variante também não possui um sujeito lexicalmente preenchido, o que possivelmente contribui para o resultado obtido. 161 Cabe ainda ressaltar a única ocorrência de “eu” como forma antecedente, a qual foi mantida por não ter apresentado nocaute, não impedindo a obtenção do peso relativo. Forma antecedente Apl./T Significância = 0.018 Formas sem sujeito lexical 86/269 Eu 1/13 Formas nominais 15/194 Você 5/605 A gente 5/423 TOTAL 112/1504 % P.R. 32,0 7,7 7,7 0,8 1,2 0.962 0.862 0.786 0.252 0.241 Tabela 68: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável forma antecedente. Buscando perceber se há alguma relação entre a manutenção ou mudança do referente com o emprego das formas antecedentes apresentadas, fez-se o cruzamento dessas duas variáveis. Para que esse procedimento tivesse sido realizado, foi necessário eliminar os nocautes apresentados durante o cruzamento. Assim, as estratégias “eles”, “nós” e “eu” foram excluídas da coluna das formas antecedentes. Assim, percebeu-se que, quando o referente se mantém, é igual, há manutenção da forma que o antecede, neste caso, o verbo na terceira pessoa do singular (conferir tabela 69 na página seguinte). Ressalta-se ainda a baixa frequência de “você” e “a gente” com o verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical como fator de aplicação desta rodada, o que convém não considerá-los. Manutenção/mudança do referente Forma antecedente Igual Diferente Nº/T % P.R. Nº/T % P.R. 85/247 13/170 4/580 4/397 34,4 7,6 0,7 1,0 0.957 0.778 0.228 0.302 1/14 1/20 1/23 1/25 7,1 5,0 4,3 4,0 0.765 0.690 0.658 0.639 Significância = 0.000 Formas sem sujeito lexical Formas nominais Você A gente Tabela 69: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS”. 162 5.4.2.2.2 Tempo e modo verbal Todos os tempos que participaram da rodada favoreceram o emprego da estratégia verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical. Salienta-se o tempo pretérito imperfeito do subjuntivo que apresentou o maior peso relativo 0.796, caracterizando-se como o principal favorecedor do emprego da forma em questão. Tempo e Modo Verbal Significância = 0.018 Pretérito Imperfeito do Sub. Pretérito Imperfeito do Ind. Pretérito Perfeito do Ind. Futuro do Presente do Ind. Presente do Ind. TOTAL Apl./T % P.R. 4/40 75/653 19/136 4/78 66/1104 179/2513 10,0 11,5 14,0 5,1 6,0 0.796 0.743 0.690 0.652 0.634 Tabela 70: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tempo e modo verbal. 5.4.2.2.3 Escolaridade Em relação ao nível de escolaridade a que pertencem os informantes dos corpora analisados, o Ensino Médio mostrou-se como mais favorecedor da forma Ø+V3PS, com peso relativo de 0.617, seguido do Ensino Fundamental com 0.610. Isso revela que essa variante pode ser considerada de uso mais popular, como observou Neves (2000), uma vez que são os usuários que não têm o nível superior que mais fazem uso dessa estrutura. Escolaridade Apl./T % P.R. Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior 67/676 94/957 24/962 9,9 9,8 2,5 0.610 0.617 0.312 Significância = 0.018 TOTAL 185/2595 Tabela 71: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade. 163 Através da observação dos dados, através da tabela 71 e do gráfico 25, tornase mais claro que o emprego da estratégia Ø+V3PS se dá mais em falantes que não possuem o Ensino Superior. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 25: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável escolaridade. As outras variáveis sociais também foram selecionadas pelo programa estatístico. Dessa forma, o cruzamento do grupo de fatores escolaridade será realizado mais adiante. 5.4.2.2.4 Faixa etária A faixa etária mais nova lidera a posição dos outros fatores em relação ao emprego da variante verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical para indeterminar o sujeito em Salvador, cujo peso relativo apresentado é de 0.659. Faixa Etária Apl./T % P.R. Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 53/473 27/732 57/809 48/581 11,2 3,7 7,0 8,3 0.659 0.369 0.538 0.481 Significância = 0.018 TOTAL 185/2595 Tabela 72: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária. 164 A partir do gráfico 26, percebem-se mais nitidamente os resultados obtidos para a variável faixa etária (idade). Não há uma relação ascendente ou descendente que explique de maneira mais aceitável o emprego dessa variante da indeterminação do sujeito, uma vez que depois da faixa etária 1, que mais fácil uso, segue as faixas etárias 3, 4 e 2 respectivamente. Acredita-se que cruzando esse grupo de fatores com outros sociais, haverá uma resposta mais satisfatória. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Gráfico 26: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável faixa etária. Assim, como a variável escolaridade já foi apresentada anteriormente por ter sido selecionada pelo GoldVarb X antes da faixa etária, agora será possível cruzar esses dois grupos de fatores para traçar-se um perfil dos informantes. Cabe ressaltar que não há informantes do Ensino Superior na faixa etária 1, conforme mencionado na metodologia. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Ensino Fundamental Faixa Etária 3 Ensino Médio Faixa Etária 4 Ensino Superior Gráfico 27: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade. 165 Observando o gráfico 27, elaborado a partir dos pesos relativos obtidos no cruzamento das duas variáveis faixa etária e escolaridade, compreende-se que são os informantes da faixa etária 3 com Ensino Fundamental que mais fazem uso da estratégia ora estudada. Em relação aos falantes do Ensino Médio, há praticamente a manutenção do uso nas três primeiras faixas etárias, com elevação apenas na faixa etária 4. Já em relação ao Ensino Superior, há um leve salto da faixa etária 2 para 3, mantendo-se quase que constante na faixa etária 4. 5.4.2.2.5 Mudança/Manutenção do Referente No cruzamento realizado anteriormente com a forma antecedente (ver tabela 69), a variável mudança ou manutenção do referente mostrou-se favorecedora sempre que o referente é igual, buscando sempre a manutenção da forma escolhida para marcar a indeterminação do sujeito na fala de Salvador. Observando-se a tabela 73 (ver na próxima página), chega-se a essa mesma conclusão ao notar o peso relativo obtido para o fator que mais favorece, que ficou com .520. Mudança/Manutenção do Referente Apl./T % P.R. 107/1512 4/96 7,1 4,2 0.520 0.219 Significância = 0.018 Igual Diferente TOTAL 111/1608 Tabela 73: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.4.2.2.6 Gênero/sexo O maior peso relativo em relação à variável gênero/sexo recaiu sobre o feminino, apontando-o como mais favorecedor no emprego da forma Ø+V3PS com 0.569. 166 Gênero/sexo Significância = 0.018 Feminino Masculino TOTAL Apl./T % P.R. 103/1326 82/1269 185/2595 7,8 6,5 0.569 0.428 Tabela 74: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável gênero/sexo. O resultado da aplicação da estratégia Ø+V3PS pode ser conferida no gráfico a seguir, cujo gênero/sexo feminino apresenta maior peso relativo, favorecendo o seu emprego. Ressalta-se que, de acordo com a frequência, há uma certa aproximação entre os resultados. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Masculino Feminino Gráfico 28: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis faixa etária e gênero/sexo. A tabela 75 e o gráfico 29 apresentam o cruzamento da variável gênero/sexo com os três níveis de ensino, Fundamental, Médio e Superior. O gênero/sexo feminino, conforme pode ser notado, faz mais uso da estratégia em questão em todos os níveis, especialmente nos Ensino Médio e Fundamental, onde se encontram os maiores pesos relativos. Já o Ensino Superior se encontra bastante distante dos demais níveis. Gênero/sexo Significância = 0.000 Feminino Masculino Ensino Fundamental 0.690 0.593 Ensino Médio 0.698 0.609 Ensino Superior 0.362 0.136 Tabela 75: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e escolaridade em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS”. 167 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Masculino Ensino Superior Feminino Gráfico 29: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária. Em relação ao cruzamento da variável gênero/sexo com faixa etária, vislumbrado na tabela 76 e no gráfico 24 (conferir na página seguinte), há um crescimento do uso da estratégia que está sendo observada da faixa etária 2 até a 4, tanto no gênero/sexo feminino, o que mais utilizada a forma Ø+V3PS, quanto do masculino. Agora, na faixa etária 1 o processo é o inverso, além de ser a que mais faz uso da estratégia, é a que apresenta o gênero/sexo masculino liderando. Gênero/sexo Significância = 0.000 Feminino Masculino Faixa Etária 1 0.616 0.660 Faixa Etária 2 0.416 0.274 Faixa Etária 3 0.548 0.478 Faixa Etária 4 0.622 0.488 Tabela 76: Cruzamento das variáveis gênero/sexo e faixa etária em relação à aplicação da variante “Ø+V3PS” 168 P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Masculino Faixa Etária 4 Feminino Gráfico 30: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação às variáveis gênero/sexo e faixa etária. 5.4.2.2.7 Tipo de oração A variável tipo de oração foi a última selecionada pelo programa estatístico. Os resultados revelaram que as orações principais favorecem o uso da forma verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical para indeterminar o sujeito em Salvador, cujo peso relativo é de 0.589. Em segundo lugar, estão as orações coordenadas, com 0.519 de peso relativo. Os demais tipos de orações mantiveram pesos relativos um pouco distantes das principal e coordenada. Os resultados podem ser conferidos na tabela 77 na página seguinte. Tipo de oração Significância = 0.018 Principal Coordenada Subordinada Absoluta TOTAL Apl./T % P.R. 28/344 140/1835 15/381 2/35 185/2595 8,1 7,6 3,9 5,7 0.589 0.519 0.346 0.342 Tabela 77: Aplicação da variante “Ø+V3PS” em relação à variável tipo de oração. 169 5.4.2.3 Verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical - Ø+V3PP Não tão diferente que as demais formas não-pronominais, algumas modificações também foram necessárias para que fosse possível a rodada binária tendo essa variante como fator de aplicação. Mantiveram-se na variável tempo e modo verbal o pretérito perfeito, pretérito imperfeito e o presente do indicativo, como também o gerúndio. Em relação às formas antecedentes, foram excluídas “eles” e “eu”. O verbo intransitivo foi excluído também da variável tipo de verbo. Realizadas as alterações necessárias, a análise binária foi concluída. 5.4.2.3.1 Tempo e modo verbal O tempo e modo verbal foi a primeira variável selecionada, na qual o tempo pretérito perfeito do modo indicativo mostrou-se como mais favorecedor do emprego da forma Ø+V3PP pelos falantes de Salvador, com peso relativo de 0.933. Isso também se manteve ao analisar sua frequência. Tempo e Modo Verbal Significância = 0.018 Pretérito Perfeito do Ind. Pretérito Imperfeito do Ind. Presente do Ind. Gerúndio TOTAL Apl./T % P.R. 35/136 19/653 22/1104 1/97 77/1990 25,7 2,9 2,0 1,0 0.933 0.525 0.427 0.270 Tabela 78: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tempo e modo verbal. 5.4.2.3.2 Mudança/Manutenção do Referente Mudar o referente significa mudar a estratégia de indeterminação de acordo com os dados obtidos e apresentados na tabela 74, cujo peso relativo foi de 0.701, tendo como fator de aplicação a forma Ø+V3PP. 170 Mudança/Manutenção do Referente Apl./T % P.R. 4/96 22/1512 26/1608 4,2 1,5 0.701 0.486 Significância = 0.018 Diferente Igual TOTAL Tabela 79: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.4.2.3.3 Grau de indeterminação Em relação ao grau de indeterminação do sujeito, o fator que mais contribuiu para o emprego da estratégia verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical foi quando não há referência no contexto oracional que possa resgatar, mesmo por meio de inferências, um dos referente, caracterizando a indeterminação completa. O peso relativo obtido para esse fator foi 0.597. Grau de indeterminação Significância = 0.018 Indeterminação Completa Indeterminação Parcial TOTAL Apl./T % P.R. 35/1011 44/1584 79/2595 3,5 2,8 0.597 0.438 Tabela 80: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável grau de indeterminação. 5.4.2.3.4 Tipo de oração A variável tipo de oração foi a quarta selecionada, dentre as dez variáveis linguísticas e extralinguísticas definidas para este trabalho. As orações coordenadas são o principal fator que favorece o emprego da forma sem sujeito lexical com o verbo na terceira pessoa do plural, uma das formas considerada padrão para marcar a indeterminação do sujeito. O peso relativo obtido para esse fator foi de 0.565. 171 Tipo de oração Apl./T % P.R. 63/1835 2/35 8/381 6/344 79/2595 3,4 5,7 2,1 1,7 0.565 0.430 0.375 0.312 Significância = 0.018 Coordenada Absoluta Subordinada Principal TOTAL Tabela 81: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável tipo de oração. 5.4.2.3.5 Faixa etária A variável extralinguística ou social faixa etária foi a última selecionada, mostrando que são os falantes da faixa etária 4 que mais fazem uso da estratégia observada, com peso relativo de 0.649. Faixa Etária Apl./T % P.R. 15/473 17/732 18/809 29/581 79/2595 3,2 2,3 2,2 5,0 0.467 0.485 0.423 0.649 Significância = 0.018 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 TOTAL Tabela 82: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária. As demais faixas etárias mantiveram pesos relativos relativamente próximos, conforme pode ser observado nitidamente no gráfico 31. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Gráfico 31: Aplicação da variante “Ø+V3PP” em relação à variável faixa etária. 172 O perfil dos falantes que compõem a faixa etária 4 pode ser verificado na tabela a seguir, como também mais informações das outras faixas etárias. Nela, encontram-se cruzadas a faixa etária, gênero/sexo e os níveis de escolaridade. Para a realização do cruzamento e obtenção dos pesos relativos, houve necessidade de excluir alguns fatores para evitar os nocautes, cujos dados estão registrados na tabela a seguir sem os pesos relativos. Ressalta-se mais uma vez que não há informantes do Ensino Superior na faixa etária 1 dos dois gêneros (células marcadas com xxx). Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Masculino Feminino Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 1 5/112 4,5 0.678 1/182 0,5 0.200 xxx xxx xxx 2 4/84 4,8 0.693 2/164 1,2 0.358 3/104 2,9 0.573 3 1/63 1,6 0.421 6/143 4,2 0.664 3/128 2,3 0.520 4 2/77 2,6 0.546 9/122 7,4 0.782 4/90 4,4 0.677 1 5/105 4,8 0.693 4/74 5,4 0.721 xxx xxx xxx 2 0/65 0,0 - 2/88 2,3 0.512 6/227 2,6 0.551 3 0/71 0,0 - 7/102 6,9 0.769 1/302 0,3 0.131 4 3/99 3,0 0.585 10/82 12,2 0.862 1/111 0,9 0.291 Tabela 83: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Ø+V3PP”. A leitura da tabela 83 permite afirmar que os falantes da faixa etária 4 que favorecem o uso da Ø+V3PP são do Ensino Médio, primeiramente do gênero/sexo feminino, com peso relativo de 0.862 e depois masculino, com peso relativo de 0.782. Por ser uma das estratégias considerada padrão, esperava-se que os falantes que possuem Ensino Superior completo empregassem mais a forma. 5.4.2.4 Verbo na terceira pessoa do singular + “se” sem sujeito lexical - Ø+V+SE O verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se” sem sujeito lexical também foi observado separadamente por ser abordada pelas gramáticas tradicionais como padrão para marcar a indeterminação do sujeito. Incluíram-se aqui 173 também a passiva sintética por haver poucos dados e fazer uso dessa mesma estrutura. Os tempos verbais pretérito perfeito, pretérito imperfeito e presente, todos do modo indicativo, como também o pretérito imperfeito do subjuntivo e infinitivo, foram mantidos na variável tempo e modo verbal, os demais foram excluídos para eliminar os nocautes. Por causa disso mesmo, excluíram-se as formas antecedentes “eles” e “eu” do grupo de fatores correspondente e o fator verbo de ligação da variável tipo de verbo. A partir dessas modificações, foi possível realizar a rodada binária tendo o Ø+V+SE como fator de aplicação. 5.4.2.4.1 Faixa etária Dentre todas as variantes selecionadas para o presente estudo, essa foi a única vez que uma variável social foi selecionada primeiro pelo programa GoldVarb X. A faixa etária 4 foi a que mais favoreceu o emprego da forma canônica verbo na terceira pessoa do singular mais a partícula “se”, o que era de se esperar, uma vez que os falantes mais velhos puderam passar por todos os estágios de escolaridade, como também entrar e sair do mercado de trabalho. Tal fato só poderá ser constatado a partir do cruzamento dessa variável com a escolaridade, uma vez que esta também foi selecionada. Faixa Etária Apl./T % P.R. Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 3/473 13/732 18/809 46/581 0,6 1,8 2,2 7,9 0.306 0.436 0.454 0.777 Significância = 0.005 TOTAL 80/2595 Tabela 84: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária. A partir dos pesos relativos obtidos, o gráfico 32 apresenta-os de maneira mais evidente que a faixa etária 4, os falantes mais velhos, é a mais favorecedora no 174 emprego da forma Ø+V+SE em relação às demais faixas etárias, as quais se encontram com pesos reduzindo proporcionalmente à idade. Assim, analisando a distância que existe entre os falantes mais novos e os mais velhos, percebe-se que há uma mudança em progresso, tendendo ao desaparecimento dessa estratégia padrão aqui observada. À medida que diminui a idade, também diminui o uso dessa variante. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 4 Faixa Etária 3 Faixa Etária 2 Faixa Etária 1 Gráfico 32: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável faixa etária. 5.4.2.4.2 Escolaridade A tendência apresentada ao analisar os dados observados para a variável faixa etária também se confirma ao analisar o grupo de fatores escolaridade. Quanto mais escolarizado é o falante, mais faz emprego da forma verbo na terceira pessoa com a partícula “se”, ou seja, a escola influencia o uso. Escolaridade Significância = 0.005 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior TOTAL Apl./T % P.R. 11/676 20/957 49/962 80/2595 1,6 2,1 5,1 0.308 0.429 0.701 Tabela 85: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade. 175 O gráfico 33 apresenta os dados em pesos relativos, os quais tornam mais claro o crescimento que há do Ensino Fundamental ao Ensino Superior em relação ao uso da variante padrão ora observada. P.R. 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Gráfico 33: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável escolaridade. O cruzamento das variáveis escolaridade com a faixa etária resultou no gráfico 34, estabelecido a partir da obtenção dos respectivos pesos relativos. Em relação à faixa etária 1, não há informantes do Ensino Superior e a célula que compreendia o Ensino Fundamental foi excluída por causa do nocaute apresentado. O mesmo aconteceu na faixa etária 3. Assim, optou-se em excluir completamente o Ensino Fundamental. P.R. 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 Faixa Etária 1 Faixa Etária 2 Ensino Médio Faixa Etária 3 Faixa Etária 4 Ensino Superior Gráfico 34: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação às variáveis faixa etária e escolaridade. 176 De acordo com o que foi observado ao se analisar apenas a faixa etária, o que era dedução se tornou um dado concreto, ou seja, é o Ensino Superior da faixa etária 4 que mais favorece o emprego da forma verbal na terceira pessoa com a partícula “se”. 5.4.2.4.3 Mudança/Manutenção do Referente A aplicação da variante Ø+V+SE mostrou-se mais favorecedora quando o referente é diferente, ou seja, quando há sua mudança, com peso relativo de 0.840. Mais adiante, essa variável será cruzada com a forma antecedente, a fim de verificar se com o referente diferente a forma tende a modificar para marcar essa mudança. Mudança/Manutenção do Referente Apl./T % P.R. 6/96 34/1512 40/1608 6,2 2,2 0.840 0.474 Significância = 0.005 Diferente Igual TOTAL Tabela 86: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 5.4.2.4.4 Tipo de verbo Os verbos transitivos favorecem o emprego do verbo na terceira pessoa com a partícula “se”. O peso relativo para o fator verbo transitivo é de 0.537, o qual se encontra em consonância com o percentual de 3,5% em relação aos verbos intransitivos. Tipo de verbo Significância = 0.005 Transitivo Intransitivo TOTAL Apl./T % P.R. 79/2239 1/187 80/2426 3,5 0,5 0.537 0.146 Tabela 87: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável tipo de verbo. 177 5.4.2.4.5 Forma antecedente Quando, em uma sequência oracional, emprega-se uma das formas verbais sem sujeito lexical, essa estratégia tende a se manter, conforme peso relativo obtido para esse fator, 0.757. Não tão distante se encontram também a forma “nós” (0.654) e as “formas nominais” (0.525). Forma antecedente Significância = 0.005 Formas sem sujeito lexical Nós Formas nominais A gente Você TOTAL Apl./T % P.R. 18/269 3/68 5/194 6/423 9/605 41/1559 6,7 4,4 2,6 1,4 1,5 0.757 0.654 0.525 0.465 0.375 Tabela 88: Aplicação da variante “Ø+V+SE” em relação à variável forma antecedente. Contudo, é importante verificar se essa tendência se mantém ao mudar o referente. Assim, procedeu-se o cruzamento das duas variáveis forma antecedente com manutenção ou mudança do referente. Para a obtenção dos pesos relativos, exclui-se a forma “nós” por ter causado nocaute. A partir dos resultados apresentados na tabela 89, percebe-se que as formas sem sujeito lexical são mais empregadas quando há mudança do referente, cujo peso relativo ficou em 0.894. Essa tendência também ficou caracterizada nas demais formas antecedentes, pois os pesos relativos maiores ficaram para a mudança do referente, ou seja, se há mudança do referente, há também a mudança da forma que o antecede, de acordo com as estratégias selecionadas para essa variável. Manutenção/mudança do referente Forma antecedente Igual Diferente Nº/T % P.R. Nº/T % P.R. 15/247 3/170 8/580 5/397 6,1 1,8 1,4 1,3 0.765 0.475 0.414 0.392 2/14 2/20 1/23 1/25 14,3 10,0 4,3 4,0 0.894 0.848 0.696 0.677 Significância = 0.001 Formas sem sujeito lexical Formas nominais Você A gente Tabela 89: Cruzamento das variáveis forma antecedente e manutenção/mudança do referente em relação à aplicação da variante “Ø+V+SE”. 178 6 O PESSOAL TAMBÉM FOI CONTEMPLADO A variante formas nominais, doravante FN, foi a terceira que mais ocorreu nos corpora analisados, conforme apresentado na seção anterior, figurando 12,5% do total de estratégias utilizadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do referente do sujeito. Houve necessidade de estudá-las a parte, uma vez que elas não poderiam ser classificadas como pronominais, pois não exercem essa função, tão pouco serem comparadas com outras estratégias não-pronominais, formadas principalmente por um verbo sem sujeito lexical expresso, sendo que elas ocupam a função de sujeito preenchido. 6.1 DADOS NUMÉRICOS DAS FORMAS NOMINAIS Assim como todas as variantes da indeterminação do sujeito abordadas na seção anterior, as FN passaram por um procedimento estatístico-probabilístico, através do qual foi possível obter sua frequência frente a algumas variáveis extralinguísticas e linguísticas, como também seu peso relativo referente a cada fator pertencente a essas variáveis. Para que fosse realizada a rodada binária, algumas modificações no arquivo de condições foram necessárias para que os nocautes iniciais fossem eliminados. Primeiro, excluiu-se a forma “eles” explícito e implícito do grupo de fatores forma antecedente. Depois, exclusão total da variável preenchimento do sujeito, uma vez que as FN só ocorreram preenchidas. Por fim, a amalgamação da oração principal composta por duas coordenadas com a oração coordenada da variável tipo de oração. Feito isso, o procedimento de obtenção da frequência e pesos relativos foi efetivado, cujos dados serão apresentados a seguir na mesma ordem de seleção do programa. 179 6.1.1 Forma antecedente A forma antecedente foi o primeiro grupo de fatores selecionado para mostrar o quanto é importante que uma forma nominal seja expressa para que outras continuem a ser usadas. Isso é evidenciado por ver que o peso relativo foi de 0.872 para as formas nominais antecedendo-as a si mesmas. Esse resultado se manteve ao verificar o percentual de frequência de 46,9% (conferir tabela 85). Forma antecedente Significância = 0.001 Apl./T Formas nominais 91/194 Formas sem sujeito lexical 21/269 A gente 28/423 Nós 4/68 Você 36/605 Eu 1/13 TOTAL 181/1572 % P.R. 46,9 7,8 6,6 5,9 6,0 7,7 0.872 0.522 0.472 0.390 0.375 0.302 Tabela 90: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável forma antecedente. Tentou-se realizar o cruzamento dessa variável com a mudança/manutenção do referente, contudo ocorreram vários nocautes, que até as formas nominais teriam que ser excluídas. 6.1.2 Grau de indeterminação Dentre os outros recursos utilizados pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito, as formas nominais foram uma das poucas estratégias que apresentaram maior peso relativo para a indeterminação completa, com 0.661 (ver tabela 91 na página seguinte), revelando que elas são mais empregadas quando de fato não há possibilidade, mesmo por meio de inferências, ter noção acerca do referente extralinguístico, ou seja, o sujeito referencial, isso por possibilitar que qualquer pessoa envolvida ou não no discurso possa ser concebida como sujeito. 180 Grau de indeterminação Significância = 0.001 Indeterminação Completa Indeterminação Parcial TOTAL Apl./T % P.R. 205/1011 133/1584 338/2595 20,3 8,4 0.661 0.395 Tabela 91: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável grau de indeterminação. 6.1.3 Tempo e modo verbal O gerúndio e o pretérito imperfeito do subjuntivo mostraram-se como os principais fatores favorecedores para o emprego das formas nominais, com pesos relativos de 0.662 e 0.659 respectivamente. Em seguida, não tão distante deles, o pretérito perfeito do indicativo, com peso relativo de 0.649. Tempo e Modo Verbal Significância = 0.001 Gerúndio Pretérito Imperfeito do Subj. Pretérito Perfeito do Ind. Presente do Ind. Pretérito Imperfeito do Ind. Futuro do Presente Infinitivo TOTAL Apl./T % P.R. 23/97 7/40 28/136 172/1104 67/653 5/73 20/405 23,7 17,5 20,6 15,6 10,3 6,4 4,9 0.662 0.659 0.649 0.545 0.514 0.331 0.293 322/2513 Tabela 92: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tempo e modo verbal. 6.1.4 Mudança/manutenção do referente O uso das formas nominais mostrou-se mais proeminente quando o referente é diferente, com peso relativo de 0.746. Sempre que se muda o referente, a tendência é mudar a estratégia para marcar essa mudança. Infelizmente, não foi possível cruzar essa variável com a forma antecedente, na qual revelou que as formas nominais são preservadas nas cadeias oracionais, uma forma leva a outra forma. 181 Mudança/Manutenção do Referente Apl./T % P.R. 26/96 150/1512 176/1608 27,1 9,9 0.746 0.483 Significância = 0.001 Diferente Igual TOTAL Tabela 93: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável mudança/manutenção do referente. 6.1.5 Gênero/sexo A variável gênero/sexo foi a única extralinguística selecionada para a aplicação das formas nominais. Nesse grupo de fatores, há uma leve tendência de favorecimento do gênero/sexo masculino, com peso relativo de 0.574, não tão distante do feminino que apresenta o peso de 0.429 Gênero/sexo Significância = 0.001 Masculino Feminino TOTAL Apl./T % P.R. 207/1269 131/1326 16,3 9,9 0.574 0.429 338/2595 Tabela 94: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável gênero/sexo. Os resultados obtidos e apresentados na tabela anterior podem ser verificados de maneira ilustrativa no gráfico a seguir, quando se percebe claramente a distância existência entre os dois gêneros/sexos. P.R. 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Masculino Feminino Gráfico 35: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável gênero/sexo. 182 A fim de conhecer melhor o gênero/sexo masculino que mais faz uso das formas nominais, realizou-se o cruzamento com as demais variáveis sociais, cujos resultados estão registrados na tabela 95. Significância = 0.000 Gênero/ Sexo Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Faixa Etária Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. Apl./T % P.R. 1 9/112 8,0 0.396 27/182 14,8 0.567 xxx xxx xxx 2 14/84 16,7 0.600 36/164 22,0 0.679 13/104 12,5 0.518 3 13/63 20,6 0.661 32/143 22,4 0.684 23/128 18,0 0.622 4 12/77 15,6 0.581 11/122 9,0 0.427 17/90 18,9 0.636 1 11/105 10,5 0.468 8/74 10,8 0.476 xxx xxx xxx 2 9/65 13,8 0.547 17/88 19,3 0.643 28/227 12,3 0.514 3 6/71 8,5 0.409 3/102 2,9 0.186 22/302 7,3 0.371 4 15/99 15,2 0.573 2/82 2,4 0.158 10/111 9,0 0.426 Masculino Feminino Tabela 95: Cruzamento das variáveis sociais escolaridade, faixa etária e gênero/sexo em relação à aplicação da variante “Formas Nominais”. Ao analisar os resultados apresentados nessa tabela, percebe-se que não se trata de variação influenciada pela escolaridade ou faixa etária, uma vez que os maiores pesos relativos se encontram no gênero/sexo masculino, quase que independente dos outros fatores. 6.1.6 Tipo de oração A sexta variável selecionada foi tipo de oração, com maior peso relativo para a oração absoluta, seguida da subordinada, com pesos relativos de 0.639 e 0.633 nessa ordem. Tipo de oração Significância = 0.001 Absoluta Subordinada Coordenada Principal TOTAL Apl./T % P.R. 7/35 85/381 211/1835 35/344 338/2595 20,0 22,3 11,5 10,2 0.639 0.633 0.489 0.395 Tabela 96: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tipo de oração. 183 6.1.7 Tipo de verbo Neste último grupo de fatores selecionado pela rodada binária com fator de aplicação “formas nominais”, o verbo de ligação mostrou-se como principal favorecedor no emprego dessa variante, cujo peso relativo é de 0.693, bem distante dos demais tipos de verbo, conforme pode ser verificado na tabela 97. Tipo de verbo Significância = 0.001 Ligação Intransitivo Transitivo TOTAL Apl./T % P.R. 40/129 19/187 279/2239 169 10,2 12,5 0.693 0.490 0.485 338/2595 Tabela 97: Aplicação da variante “Formas Nominais” em relação à variável tipo de verbo. 6.2 CONHECENDO AS FORMAS NOMINAIS Ao se deter no estudo das formas nominais encontradas nos corpora observados, formados por falantes de níveis de escolaridade, idade e gênero/sexo distintos, houve necessidade de buscar entender como essas palavras passaram a fazer parte do universo da indeterminação do sujeito. Assim, partindo da noção de gramaticalização (cf. subseção 2.2.1) e de que a “lexicologia é a ciência que estuda o léxico em todas as suas relações linguísticas, pragmáticas, discursivas, históricas e culturais” (ABBADE, 2006, p. 219), será vislumbrado aqui algumas formas nominais que mais ocorreram, a fim de ilustrar como as palavras ganham novos conceitos e assumem novas funções gramaticais, cujas significações as gramáticas tradicionais não atualizam e não consideram as novas abordagens de usos da língua. Para buscar atingir esse objetivo, foram utilizados quatro dicionários da língua portuguesa: Machado (1967), Cunha (2007), Houaiss (2001) e Ferreira (2004). Cabe ainda ressaltar que as formas nominais estudadas foram encontradas com artigo, como foi o caso de “o pessoal”, ora sem artigo, como “nego”, “neguinho”, uma vez que a literatura sociolinguística já confirmou que é muito comum a não colocação do artigo diante de substantivos, de maneira geral, no Nordeste brasileiro. 184 6.2.1 O cara A palavra de origem grega “kára” e latim tardio “cara” tem como significado comum o mesmo sentido atribuído a “rosto”, “face”, segundo Machado (1967, p. 537), Ferreira (2004, p. 398), Houaiss (2001) e Cunha (2007). A ideia de seu emprego como sujeito indeterminado já é encontrado nos dicionários de Ferreira (2004, p. 398), especificando que se trata de uma “pessoa que não se conhece”, sinônimo de “indivíduo”, “sujeito”, também uma das formas analisadas, e do Houaiss (2001), atribuindo-lhe o sentido de “indivíduo qualquer; sujeito, pessoa”. Os falantes de Salvador utilizam sempre a expressão “o cara”, com artigo, para marcar a indeterminação do referente do sujeito, sendo qualquer pessoa capaz de realizar ou sofrer qualquer ação. (85) Eu fiquei admirado outro dia perguntando aí na, na Independência, o que é Independência do Brasil, o cara não sabia o que era... [PEPP06M4f] 6.2.2 O indivíduo A palavra “indivíduo”, do latim “individuu” (FERREIRA, 2004, p. 1097) apresenta-se nos dicionários consultados, além de outras significações, como “exemplar de uma espécie qualquer”, “ser humano único considerado isoladamente na coletividade”. Comum também foi seu significado indeterminado (objeto do presente estudo), atribuindo-se este nome a “uma pessoa qualquer, cujo nome não se quer dizer“ (FERREIRA, 2004, p. 1097) ou, como informou o Houaiss (2001), “homem anônimo, indeterminado”. (86) E o indivíduo tinha o direito mas aí pagava por fora o médico né, e nisso os médicos, muitos médicos ganharam muito dinheiro [...] [NURC013/R-F4s] 185 6.2.3 O sujeito Ferreira (2004), no item sete, apresenta essa palavra como “indivíduo indeterminado, ou cujo nome se quer omitir”, justamente a mesma ideia apresentada pelas gramáticas tradicionais apresentadas anteriormente. Compartilha também dessa opinião o Houaiss (2001), dizendo que sujeito é a “pessoa indeterminada ou cujo nome não se enuncia”, mantendo, portanto, a ideia defendida aqui, como algo que está presente na vida social dos falantes, e não algo representativamente sintático. (87) Amigo a Prova de Bala, porque ele, com aquele, aquele fogo cruzado todo ele ainda tentou eh, me tirar do, mas não podia, mas aí ele ainda continu, conseguiu, eh, entrar no bonde já parado, quando o sujeito estava fugindo e o motorneiro alucinado aí ele me tirou botou num táxi e me levou em casa, esse foi um, foi um acidente interessante no bonde, bom, e aí era muito tranquilo porque o Farol da Barra era um “footing” contínuo NE [...] [NURC013/R-F4s] 6.2.4 Nego A palavra “nego” é originária de “negro”, como redução fonética negro > nego. Sendo negro originário do latim niger, nira, nigrum; “diz-se de ou indivíduo de etnia negra” (CUNHA, 2007). Embora faça referência à etnia negra, seu conteúdo semântico se expandiu em caráter emocional na Bahia, mais especificamente em Salvador, sendo empregado também para qualquer pessoa a que se tenha estima ou então para falar de qualquer pessoa, não determinando quem seja. (88) Onde ela mora hoje e ficou um tempão lá de ... nego às vezes fazia de lixo aí , mas chegou um tempo que ela tomou a tenência de fazer quarto sala e cozinha, hoje em dia ela fez. [PEPP19-F2f] (89) Porque não tá como, o dia de hoje, hoje não, tá tudo uma violência danada aí, um de, um descontrole danado, um desrespeito, 186 antigamente não era tanto assim, era, mas não era tanto, hoje você não pode pisar num pé, você dentro de um ônibus pisar num pé aí, nego já está querendo puxar a arma pra, pra querer, querer, tá querendo chamar pra mão né, já está querendo tirar a vida da pessoa. [PEPP30-M3f] 6.2.5 O pessoal, a(s) pessoa(s) A palavra “pessoa” vem do latim, “persona”, significando o papel desempenhado pelo ator, personagem (MACHADO, 1967, p. 1808; HOUAISS, 2001; CUNHA, 2007). As formas como aparecem nos dados coletados não correspondem exatamente ao uso “pessoa”, mas sempre com emprego do artigo, “a pessoa”, “as pessoas” ou “o pessoal”. No singular, o usuário demonstra ter em mente quem é o referente, mas ao utilizar “as pessoas” ou “o pessoal”, expressão que está no singular, mas que denota ideia plural, ele generaliza, atribuindo a ação verbal a qualquer pessoa, fazendo do referente um ser completamente genérico. (90) As vezes as, o pessoal briga porque gosta e as vezes é porque acontece, tem uns mesmo que vão pro pagode ficam bêbado ou drogado e aí já vai pra, procurar briga com os outros, tem gente que tem um temperamento muito alto não aguenta aí começa, aí começando uma briga, aí vem várias. [PEPP18-M1f] (91) Bom, eu acho que eu aprendi ler, assim, suficiente, escrever o, o necessário, e minhas professoras graças a Deus eu me dei bem com todas elas, com a diretora e tudo, eu me dava muito bem com as pessoas, me dava não, me dou, é uma coisa que, quando a pessoa toma antipatia por mim também não tem pra onde correr, mas quando simpatiza, geralmente eu consigo a simpatia das pessoas. [PEPP09M2f] (92) As pessoas ainda sentam na porta para conversar, eu acho isso fantástico, é uma das coisas assim, porque eu não quero sair da 187 Cidade Baixa, eu acho assim um clima que é completamente diferente do resto da cidade. [NURC010/N-M2s] 6.2.6 O povo Houaiss (2001) no item 14 apresenta a palavra “povo” como sinônimo de “turma” e “gente. Já no item 16, ele diz que se trata também de “os seres humanos”, “a humanidade”. Percebe-se nessas acepções que a expressão “o povo” também é considerada uma forma genérica, que pode ser atribuída aos falantes de uma forma geral, sem precisar especificá-los, portanto, uma forma indeterminadora. (93) Problema todo ...Inint... botei em cima governo, porque o governo não, está todo mundo revoltado né, todo mundo revoltado, a maior parte de gente, do povo tá revoltado, a maior parte do povo né, tá revoltado, não tem emprego, não tem nada, não tem, não tem salário digno, não tem educação, não tem a saúde, não tem nada, o povo só tá vivendo assim mesmo, revoltado, qualquer coisa se revolta. [PEPP30-M3f] 6.2.7 O público Inicialmente, Houaiss (2001), trata a palavra “público” como um adjetivo referente a um povo, a coletividade, passando a informar depois outras concepções, como algo que é destinado às pessoas de maneira geral, algo que pode ser publicado, sinônimo também de platéia entre outras. O lexicógrafo também coloca a concepção que se tinha de “público” em 1720, como sendo “o homem comum, do povo”. Talvez seja essa a ideia que caracteriza essa forma como um item indeterminador do sujeito. (94) Hoje já não é mais realidade, minha mulher, por exemplo, sai às 8 da manhã, 9, às vezes um pouco mais tarde, porque ela, como é arquiteta, eh... é trabalha com o público também , que acorda mais tarde, não é? [NURC010/N-M2s] 188 6.2.8 O homem O segundo conceito para “homem”, de acordo com Houaiss (2001), é de “espécie humana, humanidade”, ou seja, um caráter bastante generalizador, como se confirma no item 15, ao dizer que se trata de um “diacronismo” para designar “qualquer pessoa”, portanto, o sujeito indeterminado, essa qualquer pessoa que inventa algumas coisas, conforme o exemplo 91. (95) De... de... uma série de questão. Foi... tudo isso está aí, também. O homem inventa algumas coisas que ele não sabe até onde vai dar, quais são os reflexos. [NURC010/N-M2s] 6.2.9 Gente A palavra “gente” foi usada isoladamente sem o artigo nos corpora estudados, não se confundindo com a forma pronominal “a gente”. Primeiramente, Houaiss (2001) informa que “gente” tem a mesma ideia de “multidão de pessoas, povo”. No item 4, ele especifica mais ainda, dizendo que se trata de um “número indeterminado de pessoas”. (96) Camiseta, é, malha de algodão, mas geralmente o que vai é isso, é a calça e a blusa solta por cima. Tem gente que vai já de short, direto, porque, hoje em dia, faz, e como é ginástica, não é aula de dança, o pessoal faz muito aula de short, barriguinha de fora, então você já vai com aquela roupa de lycra, bota uma blusa em cima, e já vai pronta assim. E anda na rua, assim mesmo. [NURC0011/R-F3s] 189 7 A GENTE CONSIDEROU FINALMENTE Conforme proposto desde o início do presente trabalho, buscou-se verificar se haveria outras estratégias para marcar a indeterminação do sujeito pelos falantes de Salvador e quais os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos que mais influenciariam nesses usos. Depois de realizada a pesquisa, foi constatado que, de fato, há outras formas de indeterminar o sujeito que não só as formas apresentadas pelas Gramáticas Tradicionais, como o verbo na terceira pessoa do plural e o verbo na terceira pessoa do singular com a partícula “se”, ambos sem sujeito lexicalmente preenchido. As estratégias “você”, “a gente” e as “formas nominais” foram as mais utilizadas nos corpora estudados, caracterizando-se, assim, a distância entre o que é apresentado pelas gramáticas normativas e o uso real da língua em Salvador. Para que os objetivos pretendidos fossem alcançados, realizou-se uma análise pormenorizada. Partiu-se do que se considerou mais geral, ou seja, a relação entre as estratégias pronominais e não-pronominais, ao mais específico, analisando estratégia por estratégia. Esse detalhamento possibilitou diversas análises a partir das tabelas e gráficos obtidos com os dados numéricos. Ao analisar as estratégias pronominais em relação às não-pronominais, constatou-se que há uma preferência pelos falantes de Salvador em usar as estratégias pronominais, tais como você, a gente, nós, eles e eu. Isso se verificou através da quantidade de formas encontradas nos inquéritos investigados. Os dados obtidos através da análise multivariada fizeram com que houvesse uma consonância como que sinalizou Scherre e Naro (2004), quando disseram que “marcas tendem a levar a marcas”, e confirmado também com o trabalho desenvolvido por Santana (2006). Neste trabalho, essa constatação se deu com a seleção da variável forma antecedente como a mais motivadora para o emprego das formas pronominais, ou seja, houve uma tendência por parte dos falantes a empregar estratégias anteriormente utilizadas, principalmente quando o referente era mantido, resultado do cruzamento dessa variável com a mudança/manutenção do referente. Dentre as variáveis extralinguísticas que fizeram parte da rodada binária tendo as estratégias pronominais como fator de aplicação, somente a escolaridade foi selecionada pelo programa GoldVarb. O Ensino Superior contribui para que haja 190 o fortalecimento no uso dessas estratégias, ou seja, quanto mais escolaridade tem o falante, maior é o seu leque de opções linguísticas para marcar a indeterminação do sujeito em Salvador. Continuando com o detalhamento da análise, passou-se a analisar todas as estratégias pronominais e todas as não-pronominais, contrapondo uma com as outras em duas rodadas eneárias distintas com a versão do Varbrul 2S. Como esse tipo de rodada não faz seleção dos grupos de fatores que mais favorecem os empregos das formas observadas, realizou-se em seguida rodadas isoladas, ou seja, uma forma contra todas as outras. Na rodada das estratégias pronominais, a forma a gente obteve maior input. O maior peso relativo foi encontrado na variável forma antecedente para essa forma, caracterizando esse grupo de fatores ainda como o mais favorecedor. Ao analisar a rodadas das estratégias não-pronominais, a estratégia infinitivo impessoal sem sujeito lexicalmente preenchido apresentou maior input. E mais uma a variável forma antecedente apresentou maior peso relativo para o seu emprego. As estratégias observadas ao longo deste trabalho foram analisadas isoladamente, realizando tantas rodadas quantas foram as formas de indeterminação do sujeito analisadas. Ao final, verificou-se que a variável forma antecedente foi selecionada pelo GoldVarb em praticamente todas as rodadas e em primeiro lugar, ou seja, como principal grupo de fatores. A exceção se deu para as estratégias verbo na terceira pessoa do singular sem sujeito lexical com a partícula se, que o selecionou em quinto lugar e a estratégia verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical que não o selecionou. Em muitas rodadas, essa variável veio conjugada com a variável mudança/manutenção do referente, constatando-se que enquanto se mantém o referente do sujeito, mantém também a estratégia utilizada anteriormente. Levando-se em consideração também as variáveis extralinguísticas que fizeram parte integrante desta pesquisa, a variável escolaridade foi a que mais contribuiu também para o emprego das estratégias de indeterminação analisadas. Tal grupo de fatores foi selecionado em praticamente todas as rodadas isoladas, com exceção das estratégias verbo na terceira pessoa do plural sem sujeito lexical e nas formas nominais. 191 A análise das formas nominais em uma seção a parte se deu, conforme foi mencionado, por elas não fazerem parte das estratégias pronominais e nem das não-pronominais, essas constituídas por verbos sem sujeito lexical. Essa separação permitiu perceber que também há influência das formas antecedentes para que se mantenha o seu emprego, como também perceber que muitas palavras passaram pelo processo de gramaticalização, ou seja, além de serem empregadas em sua maioria como substantivo simples ou coletivo, também são usadas pelos falantes de Salvador para marcar a indeterminação do sujeito. Tendo em vista os resultados obtidos, os quais não se esgotam, abre-se o caminho para pensar sobre uma revisão profunda e atenta dos conceitos e exemplos difundidos nos manuais gramaticais a respeito dos estudos sobre a indeterminação do sujeito. Sabe-se que toda língua é dinâmica por que a sociedade que dela faz uso exige essa dinamicidade, uma renovação linguística para dar conta das atuais necessidades comunicativas dos seus falantes, refletindo os usos reais e concretos, distanciando-se mais do tradicionalismo, marcado, até então, por um nãouso, arcaico e descontextualizado. 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