insuficiência cardíaca - Unimed-BH

Propaganda
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Julho de 2016
 SUMÁRIO
1. CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................... 3
2. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS ........................................................................................... 3
3. FISIOPATOLOGIA ........................................................................................................... 3
4. AVALIAÇÃO CLÍNICA E DIAGNÓSTICO ........................................................................... 6
5. CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................. 8
6. OPÇÕES DE TRATAMENTO .......................................................................................... 11
7. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ............................................................................... 11
8. AGENTES QUE MODIFICAM O CURSO DA DOENÇA ................................................... 12
8.1 Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) .............................. 12
8.2
Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) ................................. 12
8.3
Betabloqueadores .......................................................................................... 12
8.4
Antagonistas da aldosterona .......................................................................... 12
8.5
Associação de hidralazina e nitrato ................................................................ 13
9. DISPOSITIVOS .............................................................................................................. 13
9.1 Cardiodesfibriladores implantáveis ( CDI) ...................................................... 13
9.2
Marca-passo mulitissítio: terapia de ressincronização cardíaca (TRC) .......... 13
9.3
Transplante cardíaco ...................................................................................... 13
9.4
Suporte circulatório mecânico ....................................................................... 13
10. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 15
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 15
 1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Embora a incidência de muitas doenças humanas tenha se reduzido em decorrência de terapias
modernas, diagnóstico e tratamento precoces e da implementação das estratégias de prevenção, a
insuficiência cardíaca (IC) permanece com uma das poucas doenças humanas que está aumentando
em incidência. Esse fato tem sido atribuído a vários fatores, como o envelhecimento da população,
melhor sobrevida após o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o tratamento agressivo da doença
coronariana (DAC). Entretanto, é importante lembrar que a disfunção miocárdica não é exclusiva da
doença coronariana, a qual responde por dois terços dos casos de IC.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o diabetes também são fatores importantes. Vários
estudos têm demonstrado que a IC pode ser familiar ou genética em uma proporção bem mais
elevada do que se pensava. Além do mais, não se pode menosprezar a importância dos agentes
infecciosos como infecções virais prévias, agentes tóxicos, incluindo o álcool e agentes
quimioterápicos, que contribuem para o aumento da incidência da doença. No nosso meio a
doença de Chagas ainda é causa importante de IC1,2,3.
 2. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
Aproximadamente 1 a 2% da população dos países desenvolvidos tem IC, com a prevalência
aumentando para 10% entre as pessoas acima de 70 anos. Pelo menos metade dos pacientes com
IC tem a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) reduzida, ou seja, < 40%. A outra metade
tem FEVE normal ou preservada, a qual é prevalente entre os idosos. No Brasil, a IC constitui a
terceira causa de hospitalização e a primeira entre as doenças cardiovasculares1,2,3,4.
 3. FISIOPATOLOGIA
Ao longo dos anos, vários paradigmas têm norteado a compreensão do processo fisiopatológico da
IC e guiado o tratamento. O modelo neuro-hormonal reconhece que um evento inicial, tal como o
IAM ou a HAS, resulta em queda da FEVE e do débito cardíaco (DC), dando início à síndrome da IC.
O desenvolvimento da IC resulta na ativação de vários sistemas neuro-hormonais importantes,
como o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) e o sistema nervoso simpático (SNS)
desempenhando o papel central. Esses sistemas ativados são responsáveis pelo caráter
progressivo da doença e pela alta mortalidade dos pacientes.
Os neuro-hormônios implicados na fisiopatologia da IC incluem a angiotensina II, norepinefrina,
aldosterona, peptídeos natriuréticos, vassopressina e endotelina. Os resultados dos grandes
ensaios clínicos com novos fármacos tais como os inibidores da enzima conversora da
angiotensina (IECA), os bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) e os betabloqueadores
3
têm demonstrado claramente que o bloqueio desses neuro-hormônios reduz significativamente os
sintomas da IC e prolonga a sobrevida.
Entretanto, os níveis aumentados de neuro-hormônios circulantes constituem-se apenas em uma
parte da resposta a uma agressão inicial ao miocárdio. O remodelamento ventricular é outro tipo
de resposta ocasionado por fatores mecânicos, neuro-hormonais e genéticos, sendo caracterizado
por alterações estruturais e funcionais do coração, cursando com hipertrofia, perda de miócitos e
fibrose intersticial.
Vários ensaios clínicos têm demonstrado o beneficio dos IECAs, dos betabloqueadores e da terapia
de ressincronização cardíaca no remodelamento reverso. O processo de remodelamento reverso
no qual a terapia promove o retorno da forma e tamanho ventricular para mais próximo do
normal tem sido um objetivo terapêutico da síndrome da IC.
O bloqueio do ramo esquerdo (BRE) é comum na IC e é preditor de morte súbita. Sua presença
afeta adversamente a dinâmica do ciclo cardíaco, ocasionando ativação e contração ventricular
anormal, dessincronia ventricular, alterações na abertura e fechamento da valva aórtica e mitral e
disfunção diastólica. A sequela hemodinâmica inclui redução da FEVE, queda no DC e pressão
arterial, aumento do volume do ventrículo esquerdo e regurgitação mitral.
A ativação sustentada desses sistemas pode causar lesão ventricular secundária com
remodelamento adverso e subsequente descompensação cardíaca, como pode ser visto na Figura
1 2,3,4. A partir desse ponto, os pacientes fazem a transição da forma assintomática para a
síndrome clínica manifesta da IC 2,3,4.
4
FIGURA 1. Sequência de eventos levando à IC
AGRESSÃO MIOCÁRDICA
Ativação do SNS
Ativação do sistema
renina angiotensina
Ativação de outros
sistemas neuro-hormonais
EXPRESSÃO GÊNICA CARDÍACA
Remodelação
Membranas cardíacas
Miofibrilas
HIPERTROFIA CARDÍACA
DISFUNÇÃO CARDÍACA
IC
SNS: sistema nervoso simpático; IC: insuficiência cardíaca
Fonte: McMurray (2010)2; Mann (1999)3; Jessup et al. (2003)4.
5
Matriz extracelular
 4. AVALIAÇÃO CLÍNICA E DIAGNÓSTICO
A avaliação de um paciente com IC deve incluir a identificação de sua causa e a possibilidade de
sua correção e avaliação da gravidade da disfunção ventricular. A segunda etapa consiste em
estabelecer o prognóstico e delinear o protocolo terapêutico. Cerca de metade dos pacientes com
IC tem FE normal ou preservada. Embora esses corações se contraiam normalmente, o
relaxamento (diástole) é anormal, sendo que o DC é limitado pelo enchimento ventricular
anormal. As pressões ventriculares são elevadas, levando a congestão pulmonar, dispneia e sinais
congestivos idênticos aos de pacientes com IC sistólica.
Essa afecção acomete principalmente as mulheres idosas, frequentemente com HAS e diabetes. As
taxas de morbidade e mortalidade são semelhantes às da IC sistólica. O diagnóstico dessa afecção
é baseado em sinais e sintomas de IC com FE normal ou preservada. O exame
ecodopplercardiográfico pode ser importante na identificação e caracterização das anormalidades
do enchimento ventricular. O Quadro 1 compara as características da IC com fração de ejeção
reduzida ou sistólica e com FE preservada2,4.
Quadro 1. Características de pacientes com IC e fração de ejeção preservada (ICFEP) e com IC
sistólica
Características
IC Sistólica
ICFEP
Todas as idades,
Frequentemente mulheres
predomínio em homens
idosas
+++
+
HAS
++
+++
Diabetes
++
+++
++++
-
++
+++
+++
+
++++
+
+++
+
História Clínica
Idade e sexo
IAM prévio
Doença valvar
Obesidade
Exame físico
Cardiomegalia
Bulhas abafadas
Galope de B3
6
Galope de B4
+
+++
++
++++
+++
+
++
++
+++
+
+++
+
Cardiomegalia
+++
+
Congestão pulmonar
+++
+++
HVE
++
++++
Ondas Q patológicas
++
+
Baixa voltagem
+++
-
BRE 3o grau
+++
+
+
++++
++
-
Reduzida < 40%
Normal > 40%
HAS
Insuficiência mitral
Estertores pulmonares
Edema membros
inferiores
Pressão venosa
elevada
Rx de tórax
ECG
Ecocardiograma
HVE
Dilatação do VE
FEVE
IAM: Infarto agudo do miocárdio; HAS: Hipertensão arterial sistêmica; HVE: Hipertrofia do
ventrículo esquerdo; FEVE: Fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Fonte: McMurray (2010)2; Jessup et al. (2003)4.
Os sintomas e sinais cardinais de IC, tais como dispneia, fadiga e edema não são específicos e
devem ser avaliados à luz da história, exame físico e exames complementares. Sintomas como
ortopneia, dispneia paroxística noturna, distensão de veias jugulares, aumento cardíaco e terceira
bulha têm especificidade para o diagnóstico entre 70 e 90%, mas sensibilidade de 11 a 55%.
7
Após a entrevista e exame físico bem-feito, são necessários exames hematológicos, bioquímica de
sangue, sorologia para doença de Chagas se a epidemiologia for positiva, ECG e radiografia do
tórax. Esses exames também são pouco específicos. Por exemplo, a disfunção ventricular pode
estar presente sem cardiomegalia na radiografia de tórax. Mas podem contribuir com informações
úteis tais como: evidência de congestão, derrame pleural e aumento de área cardíaca à radiografia
de tórax; o ECG pode revelar sinais da cardiopatia de base, arritmias cardíacas, bloqueios e
duração do QRS, que podem ter impacto na decisão terapêutica5,6.
O hemograma, níveis de glicose, creatinina, potássio, sódio, ácido úrico e hormônios tireoidianos
também influenciam a decisão terapêutica. Em algumas situações, a medida do peptídeo
natriurético do tipo B (BNP ou pró-BNP) pode ser útil no diagnóstico diferencial. Níveis elevados
estão presentes na IC e são relacionados a pior prognóstico, sendo que níveis normais
praticamente excluem o diagnóstico de IC.
O ecocardiograma é importante para avaliação da morfologia e do grau de disfunção ventricular e
deve ser recomendado para todos os pacientes com IC.
A ressonância magnética cardíaca pode ser uma alternativa ao ecocardiograma em casos difíceis
(qualidade ruim da ultrassonografia ou em casos que necessitem de caracterização tecidual tal
como na suspeita de miocardite e doenças infiltrativas do miocárdio 6.
A cintilografia miocárdica de perfusão pode ser útil para detectar isquemia e viabilidade
miocárdica, no entanto, constitui-se em um exame de sensibilidade e especificidade baixas para a
pesquisa de miocardite.
A biópsia endomiocárdica é o padrão-ouro para o diagnóstico de miocardite, sendo recomendada
em pacientes com IC de início há menos de duas semanas e com comprometimento
hemodinâmico ou com sintomas nos últimos três meses, mas com arritmias importantes e/ou
bloqueios atrioventriculares avançados ou falta de resposta à terapêutica adequada. Tem como
limitação a necessidade de tecnologia envolvendo técnicas de biologia molecular para acurácia do
diagnóstico6.
A cinecoronariografia está indicada em pacientes com disfunção ventricular com ou sem angina,
se existe a probabilidade de doença coronária, que é a causa mais comum da síndrome de IC 6.
 5. CLASSIFICAÇÃO
Embora a IC seja um problema de saúde pública, não existe uma estratégia nacional para
diagnóstico e tratamento precoce da doença, como se faz para o câncer de mama e próstata.
Recentemente, uma nova classificação de IC (sistema ABCD) vem sendo incorporada pelas
diretrizes de sociedades internacionais e pela FDA e com implicação na prevenção e tratamento da
IC. Essa classificação é clinicamente orientada e permite ao médico focar um alvo terapêutico para
um paciente específico6.
8
A classificação tradicional da New York Heart Association utiliza o grau de limitação funcional. Essa
nova classificação baseada em estágios promove um paralelo da IC com o estadiamento do câncerrastreamento e identificação dos pacientes de alto risco, com doença in situ, com doença clinicamente
manifesta e com doença generalizada (refratários), o que pode ser visto no Quadro 2 4,6.
Quadro 2. Classificação clínica da gravidade da insuficiência cardíaca
Classificação clínica de gravidade da Insuficiência cardíaca
Estágios ACC-AHA da
insuficiência cardíaca
Classificação funcional NYHA
Nenhuma limitação da
Alto risco de insuficiência
atividade física; a atividade
Classe I
física habitual não causa
Estágio A
fadiga, dispneia ou palpitação
estrutural ou funcional; sem
sinais ou sintomas.
desproporcionais.
Classe II
cardíaca; sem anormalidade
Discreta limitação da atividade
Doença cardíaca estrutural
física; confortável em
desenvolvida, fortemente
repouso; a atividade física
Estágio B
associada à insuficiência
habitual resulta em fadiga,
cardíaca, mas sem sinais e
dispneia ou palpitação.
sintomas.
Limitação acentuada da
atividade física; confortável
Classe III
em repouso; menos atividade
física que o habitual resulta
Insuficiência cardíaca
Estágio C
sintomática associada à doença
cardíaca estrutural subjacente.
em fadiga, dispneia ou
palpitação.
Incapacidade de executar
Doença cardíaca estrutural
qualquer da atividade física
Classe IV
sem desconforto; sintomas em
repouso; qualquer atividade
avançada e sintomas
Estágio D
acentuados de insuficiência
cardíaca em repouso, apesar de
física corresponde a aumento
terapêutica máxima.
do desconforto.
Fonte: The American College of Cardiology (ACC); American Heart Association (AHA); The New
York Heart Association NYHA-20136.
9
Recentemente, uma nova definição da IC baseada na FEVE e capacidade de recuperação foi
proposta, descrita no Quadro 3 6.
Quadro 3. Definição de insuficiência cardíaca
Definição de Insuficiência cardíaca
Fração
de
ejeção
Classificação
I. Insuficiência cardíaca com
fração de ejeção reduzida
(ICFEr).
Descrição
Insuficiência
≤40%
clínicos
cardíaca
arrolaram
sistólica.
Os
principalmente
estudos
pacientes
desta categoria e somente neles as terapias
eficazes foram demonstradas até o momento.
II. Insuficiência cardíaca com
fração
de
preservada (ICFEp).
Insuficiência cardíaca diastólica, definida por
ejeção
vários
≥50%
critérios
diferentes.
Diagnóstico
desafiador (devem ser excluídas causas não
cardíacas).
Terapias
eficazes
ainda
não
identificadas.
Grupo
a. ICFEp limítrofe
41-49%
intermediário/limítrofe,
cujas
características, tratamentos-padrão e evoluções
parecem semelhantes àqueles de pacientes com
ICFEp.
Um subgrupo de pacientes com ICFEp, que
tinha antes ICFEr e poderia ser clinicamente
b. ICFEp melhorada
>40%
distinto daqueles com ICFEp persistente. A
melhor caracterização deste subgrupo merece
mais investigações.
Fonte: Fonte: Yanci et al. (2013)6
Apesar do tratamento clínico otimizado, alguns pacientes persistem muito sintomáticos e são
considerados portadores de IC avançada. O Quadro 4 descreve os critérios de IC avançada6.
10
Quadro 4. Critérios de IC avançada
Duas ou mais hospitalizações nos últimos 12 meses
Piora progressiva da função renal (ex. aumento de ureia e creatinina)
Perda de peso sem causa aparente (ex. caquexia cardíaca)
Intolerância à IECA devida à hipotensão e/ou piora da função renal
Intolerância aos betabloqueadores devida à piora da IC ou da função renal
Pressão arterial sistólica <90 mmHg
Dispneia persistente para se vestir ou tomar banho
Incapacidade para caminhar uma quadra no plano, devido à dispneia/fadiga
Necessidade de aumento progressivo das doses dos diuréticos, furosemida diária >160 mg
e/ou uso de hidroclorotiazida associada
Queda progressiva do sódio sérico, <133 mEq/L
Disparos frequentes do CDI
Fonte: Yancy et al. (2013)6.
 6. OPÇÕES DE TRATAMENTO
Todos os pacientes, independentemente da gravidade da disfunção sistólica e dos sintomas, se
beneficiarão da correção das causas de base - isquemia miocárdica, lesões valvares, fatores
agravantes e intervenções não farmacológicas. Finalmente, após identificação e correção de todas
as causas reversíveis de IC, o próximo passo consiste na otimização do tratamento clínico2,5,6,7
 7. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Os objetivos do tratamento constituem-se em redução dos sintomas, da progressão da doença,
das taxas de hospitalização e da mortalidade. A pedra fundamental é constituída pelo tratamento
farmacológico com agentes que aliviam os sintomas (diuréticos) e aqueles que modificam o curso
da doença (IECA, BRA, betabloqueadores, antagonistas da aldosterona e hidralazina associada a
nitratos). Terapias avançadas tais como dispositivos implantáveis e transplante cardíaco, podem
11
ser necessárias em casos selecionados que não respondem satisfatoriamente ao tratamento
clínico otimizado.
Os diuréticos proporcionam rápido alivio dos sintomas de dispneia e congestão. Nos casos mais
graves pode ser necessária a associação de diurético de alça com um tiazídico para bloqueio
sequencial do néfron. Nos casos refratários é necessária a administração de diuréticos venosos em
bolus ou em infusão contínua2,5,6,7.
 8. AGENTES QUE MODIFICAM O CURSO DA DOENÇA
8.1
Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA)
Os IECAs constituem-se na primeira linha no tratamento da IC sistólica. Foram testados em vários
estudos os quais demonstraram que são eficazes nas classes funcionais da IC de I a IV. Aliviam os
sintomas, reduzem o tamanho ventricular e aumentam a FEVE modestamente. Além disso,
reduzem as hospitalizações, diminuem a mortalidade em taxas que variaram de 16 a 40% e
minimizam o risco de IAM. São superiores à combinação de hidralazina com nitrato em termos de
redução de mortalidade (18 % X 25%). Portanto, estão recomendados para todas as classes
funcionais de IC, em doses máximas toleradas2,5,6,7.
8.2
Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA)
A eficácia desses agentes é semelhante a dos IECAs, os quais constituem uma alternativa,
principalmente nos casos de tosse por IECA. Podem ser utilizados adicionalmente em pacientes
que persistem sintomáticos a despeito do uso de IECA e betabloqueadores2,5,6,7.
8.3
Betabloqueadores
Constituem agentes de primeira linha juntamente com os IECAs para tratamento de pacientes com
IC sistólica. O succinato de metoprolol, carvedilol e bisoprolol foram testados juntamente com
IECA em grandes estudos e demonstraram serem eficazes na redução dos sintomas, taxas de
hospitalização, progressão da doença e taxas de mortalidade da ordem de 34%. Seu uso está
indicado nas classes I a IV de IC2,5,6,7.
8.4
Antagonistas da aldosterona
Em pacientes com IC classe III e IV, esses agentes, juntamente com IECA, diurético e digoxina,
comprovaram serem eficazes na redução de sintomas, hospitalizações e mortalidade da ordem de
30%. Portanto, são recomendados para pacientes que permanecem em classe III e IV a despeito
12
do uso de IECA, diuréticos e betabloqueadores. O potássio sérico deve ser monitorado, pelo risco
de hiperpotassemia2,5,6 ,7.
8.5
Associação de hidralazina e nitrato
Dois estudos mostraram que esses agentes são eficazes em reduzir sintomas,
hospitalizações e mortalidade em pacientes com IC, entretanto, foram inferiores ao enalapril. Os
pacientes da raça negra respondem melhor a essa associação quando comparada com IECA 2,5,6,7.
 9. DISPOSITIVOS
9.1
Cardiodesfibriladores implantáveis ( CDI)
Metade das mortes dos pacientes com IC sistólica é atribuída a arritmias. O implante de CDI reduz
esse risco e, portanto, está indicado como prevenção secundária para pacientes com IC sistólica
que sobreviveram à taquicardia ventricular/ fibrilação ventricular espontânea e como prevenção
primária nos casos de pacientes em classe II ou III, FEVE ≤ 35% apesar do tratamento clínico ótimo,
cuja expectativa de vida seja superior a um ano e com boa qualidade de vida2,5,6,7.
9.2
Marca-passo mulitissítio: terapia de ressincronização cardíaca (TRC)
O BRE ocorre em cerca de 30% dos pacientes com IC sistólica, causando dessincronia cardíaca.
Grandes TRIALS evidenciaram que essa terapia reduz sintomas, progressão da doença, hospitalizações
e as taxas de mortalidade. Essa terapia está recomendada para pacientes com IC sistólica, presença de
BRE com duração de QRS > 120 ms, classe III e IV ambulatorial, FEVE ≤ 35%, apesar do tratamento
clínico otimizado; pacientes em classe II, mas com FEVE ≤ 30% e duração do QRS ≥ 150 ms2,5,6,7.
9.3
Transplante cardíaco
Procedimento indicado para pacientes com IC classe III ou IV refratários, apesar do tratamento
clínico ótimo e sem alternativas de tratamento2,5,6,7.
9.4
Suporte circulatório mecânico
Considerando que os doadores são escassos e que a fila de transplante é longa, em pacientes
muito selecionados podem-se considerar os dispositivos de assistência ventricular como ponte
para transplante ou como terapia de destino. Deve-se levar em consideração que o procedimento
é muito dispendioso e exige profissionais e instituições altamente especializados e experientes
para realizar o procedimento e manejar as complicações, que não são desprezíveis2,5,6,7.
13
A Figura 2 representa um algoritmo para o tratamento farmacológico e terapias avançadas da IC
sistólica2,6.
FIGURA 2. Algoritmo para o tratamento farmacológico e terapias avançadas da IC sistólica
Diuréticos +IECA (ou BRA)
Ajustar até estabilidade clínica
Betabloqueadores
Sinais/sintomas
persistentes?
SIM
NÃO
Acrescentar antagonistas da aldosterona ou BRA
Em negros: considerar hidralazina+dinitrato de
isosorbida
Sinais/sintomas
persistentes?
NÃO
SIM
FEVE ≤ 35%
QRS >120
mseg
SIM
Considerar
TRC-P ou TRC-D
SIM
NÃO
Considerar
CDI
Considerar digoxina,
DAVE ou Tx
NÃO
Nenhum outro
tratamento
IECA=inibidores da enzima de conversão da angiotensina; BRA= bloqueadores dos receptores da
angiotensina; TRC= terapia de ressincronização cardíaca (P=com marca-passo; D= com marca-passo e
cardioversor/desfibrilador); CDI = cardiodesfibrilador implantável; DAVE = dispositivo de assistência
ventricular esquerda; TX = transplante cardíaco; FEVE= fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Fonte: McMurray (2010)2; Yancy et al. (2013)6.
14
 10. CONCLUSÃO
A IC é uma síndrome de alto risco, que requer diagnóstico precoce e tratamento otimizado. O
diagnóstico baseado apenas em dados clínicos é impreciso e requer escolha apropriada de exames
complementares para estabelecimento do diagnóstico, prognóstico e formulação de estratégias
terapêuticas apropriadas. O tratamento farmacológico constitui a pedra fundamental e deve
conter os agentes que mudam a história natural do paciente, sempre em doses máximas
toleradas. Mesmo os pacientes com IC avançada têm potencial para melhora e recuperação da
função cardíaca. A FEVE deve ser reavaliada em três a seis meses. Se o paciente se mantém em
classe II, III ou IV estável, a FEVE persistir ≤ 35% a despeito do tratamento otimizado e na vigência
de BRE, deve-se considerar a TRC. O transplante e dispositivos de assistência ventricular
constituem-se nos últimos recursos.
 REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). 2014
2. McMurray JJV. Systolic Heart Failure. N Engl J of Med. 2010; 362:228-38.
3. Mann D. Mechanisms and models in heart failure: a combinatorial approach. Circulation
1999;100:999-1008
4. Jessup M, Brozena S. Heart Failure. N Engl J of Med. 2003;348: 2007-18
5. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohd LE, Oliveira WA, Almeida DR et al.
Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica.
Arq Bras Cardiol 2009; 93(1 supl.1): 1-71
6. Yancy C W, Jessup M, Bozkurt B, Masoudi FA, Butler J , McBride P E, et. al. 2013
ACCF/AHA Guideline for the Management of Heart Failure. Circulation. 2013;128: 240-327
7. McMurray JJV, Adamopoulos S, Anker SD, Auricchio A, Bo¨hm M , Dickstein K et. al. ESC
Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J.
2012; 33: 1787–1847
15
Download