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O ENFOQUE DA FONOAUDIOLOGIA EM UNIDADES DE INTERNAÇÃO
Tereza Loffredo Bilton, Juliana Paula Venites, Luciane Teixeira Soares
Tereza Loffredo Bilton
Fonoaudióloga, doutora em Radiologia clínica pela UNIFESP, professora associada da
PUC-SP, presidente da comissão do concurso para título de especialista em Gerontologia
da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Nacional.
Juliana Paula Venites
Fonoaudióloga. Especialista em Gerontologia pela UNIFESP-EPM e em
Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia. Gerontóloga pela
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Mestre em Ciências pela
UNIFESP-EPM. Docente da Universidade Nove de Julho.
Luciane Teixeira Soares
Juliana Paula Venites
Fonoaudióloga. Especialista em Gerontologia pela UNIFESP-EPM e em
Motricidade Orofacial e Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia.
Gerontóloga pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Mestre em
Ciências pela UNIFESP-EPM. Docente da Universidade Nove de Julho.
INTRODUÇÃO
O fonoaudiólogo é um dos profissionais que integra a equipe de saúde que atende
nas unidades de internação. A inserção da Fonoaudiologia, nesse contexto, é recente
mas não menos necessária, visto que o fonoaudiólogo é um dos profissionais que
contribui na definição de diagnósticos e condutas terapêuticas que propiciem melhor
qualidade
de
tratamento
dos
indivíduos
internados.
Atualmente,
o
trabalho
fonoaudiológico em hospitais está se ampliando com a percepção de sua importância por
parte de outros profissionais da saúde e dos gestores hospitalares.
O
atendimento
fonoaudiológico
hospitalar
pode
ser
realizado
tanto
ambulatoriamente quanto a beira do leito e em diversos setores como nas unidades de
tratamento intensivo neonatal, pediátrica e de adultos, na maternidade, na cardiologia, na
oncologia, na neurologia, na otorrinolaringologia, audiologia, geriatria, entre outros.
Este capítulo abordará as possibilidades de atuação do fonoaudiólogo junto a
indivíduos idosos em unidades de internação. O enfoque será dado na abordagem das
disfagias.
FONOAUDIOLOGIA HOSPITALAR
A história da Fonoaudiologia Hospitalar no Brasil difere bastante da dos países
desenvolvidos. Enquanto no Brasil este conhecimento especializado vem sendo adquirido
pelo esforço individual do profissional fonoaudiólogo que pouco pode contar com sua
formação acadêmica, na Inglaterra, por exemplo, a Fonoaudiologia já tem seu espaço
definido e valorizado nos hospitais. (PELEGRINI, 1999)
A inserção do fonoaudiólogo na área hospitalar, de um modo geral, iniciou-se em
Hospitais Universitários responsáveis pelos cursos de graduação e pudemos observar
principalmente na última década, a ampliação deste campo de trabalho. (FURIA, 2003).
A atuação fonoaudiológica hospitalar tem a finalidade de:
(LUZ,1999),
(PELEGRINI,1999)
Prevenir e eliminar fatores que interfiram na aquisição e desenvolvimento da
comunicação, na suposição de que essas alterações possam se desenvolver em
estágios progressivos de severidade; evitar e/ou minimizar seqüelas nos processos de
comunicação em patologias-base, ainda em evolução.
Proporcionar a máxima competência comunicativa para o portador de patologias
fonoaudiológicas (tratamento especializado para diversas patologias); conduzir através
de avaliações específicas (de acordo com o sintoma) o paciente com alterações de
comunicação.
Realizar avaliação e intervenção terapêutica de linguagem: casos de afasia pós AVC e
alterações da articulação, voz e audição.
Atuar precoce e preventivamente através da triagem, avaliação, orientação e tratamento.
Realizar diagnóstico, intervenção e tratamento precoces bem com desenvolver
programas de orientação, incentivo e conscientização da importância deste atendimento.
Retornar à alimentação por via oral, restabelecendo funções vitais de sucção,
mastigação, deglutição e fala, diminuindo o tempo de hospitalização e evitando
reinternações por infecções respiratórias; avaliação e intervenção dos casos de disfagia,
participação na decisão do tipo de dieta, tipo de sonda a ser utilizada quando necessário,
adequação de funções para retirada de sonda com segurança, controle no risco de
broncoaspiração.
Realizar encaminhamentos dos casos que necessitem de exames especializados.
Participar de equipe multiprofissional efetivamente traçando e atuando em condutas
terapêuticas que levem ao bom prognóstico, assessoria fonoaudiológica, apoio ao
diagnóstico médico, discussão de casos.
Participar da prevenção e do controle das infecções hospitalares.
Estimular e agilizar a alta hospitalar clínica, com os menores danos possíveis ao
indivíduo no seu retorno à sociedade, diminuindo inclusive os custos da hospitalização.
O objetivo da Fonoaudiologia Hospitalar é apoiar o diagnóstico do médico no que
diz respeito a informações precisas sobre a aquisição e desenvolvimento dos padrões de
articulação, fluência, linguagem (oral e escrita), voz e audição.
O atendimento fonoaudiológico ao paciente internado é emergencial: deve ser
rápido e intensivo.
O fonoaudiólogo no âmbito hospitalar integra a equipe de saúde atuando em forma
multi ou interdisciplinar. Esta atuação é caracterizada com objetivos de prevenção,
diagnóstico funcional e reabilitação propriamente dita. Objetiva assim, a redução e
prevenção de complicações como a pneumonia aspirativa, e o restabelecimento da
alimentação via oral e da comunicação AMORIM, 2008).
As formas de ação do fonoaudiólogo no âmbito hospitalar são descritas na
tabela1: (LUZ, 1999)
Formas de ação
Descrição
Precoce
A intervenção fonoaudiológica inicia-se tão logo os sinais vitais do
paciente estejam restabelecidos pela equipe médica que o assiste.
Preventiva
atuação que dificulta, evita ou minimiza as possíveis seqüelas de
comunicação.
Intensiva
o atendimento hospitalar é realizado sem horário determinado e o
maior número de vezes diariamente.
Pré-cirúrgica
avaliação do estado geral do paciente e seus sintomas antes do ato
cirúrgico, observando-se principalmente linguagem e motricidade oral.
Pós-cirúrgica
participação quando possível no ato cirúrgico, verificando estruturas
que estão sendo manipuladas pelo cirurgião, prováveis seqüelas e
acompanhamento fonoaudiológico no Centro de Tratamento Intensivo
(CTI), na Unidade de Internação (UI) ou no repouso pós-cirúrgico.
No ambiente hospitalar, uma das principais causas da solicitação do profissional
fonoaudiólogo é no atendimento ao paciente disfágico. A atuação nesta especialidade é
recente no País e deve, portanto, ser elemento constante de estudo, pesquisa e
esclarecimento perante profissionais da saúde, pacientes e familiares.
ASPECTOS BÁSICOS EM DISFAGIA
A deglutição é o processo pelo qual o alimento é transportado da boca até o
estômago. É um processo bastante complexo que envolve uma série de músculos e
nervos e que devem funcionar de forma coordenada e rápida. Compreende três fases:
oral (preparatória e transporte), faríngea e esofágica; e ocorre em relação a vários
processos como a alimentação, mastigação e respiração (KIDD, 1993).
Durante o envelhecimento podemos encontrar juntos os isoladamente os seguintes
fatores: (AKHTAR, SHAIKH, FUNNYE, 2002)
-
Problemas de mastigação por deficiência da arcada dentária ou por próteses
inadequadas;
-
Diminuição do volume de saliva por uso de medicações e doenças associadas;
-
Diminuição da força máxima da língua;
-
Diminuição da pressão da parte oral da faringe;
-
Redução do limiar de excitabilidade de deglutição;
-
Presença de penetração no vestíbulo laríngeo;
-
Diminuição dos reflexos protetivos;
-
Aumento da incidência de refluxo gastroesofágico;
-
Denervação senil do esôfago;
-
Presença de afecções associadas que comprometem a atividade motora visceral
(neuropatias, miopatias e diabetes);
-
Uso de medicamentos que potencialmente podem comprometer a atividade
muscular dos órgãos envolvidos na deglutição.
As mudanças que ocorrem no mecanismo da deglutição devido os efeitos do
processo de envelhecimento, geralmente, de forma isolada, não levam à disfagia, porém
podem trazem um distúrbio de deglutição.
Entende-se por disfagia um sintoma de uma síndrome de base que se caracteriza
por qualquer alteração no trânsito do alimento da boca até o estômago, colocando o
indivíduo em risco de aspiração pulmonar, desnutrição e/ou desidratação. Além disso,
pode tornar um hábito agradável num desprazer, tornar indivíduos dependentes de outras
pessoas para a alimentação e afetar severamente a qualidade de vida.
O distúrbio de deglutição também se caracteriza como um sintoma de uma
síndrome de base que se caracteriza por qualquer alteração no trânsito do alimento da
boca até o estômago, porém não expõe o indivíduo em nenhum risco de aspiração
pulmonar, desnutrição e/ou desidratação.
A prática clínica nos mostra que o idoso portador de distúrbio de deglutição
poderá, diante de um quadro de fragilização ou descompensação evoluir para a disfagia.
Mais de 10% dos indivíduos com mais de 50 anos relataram algum distúrbio de
deglutição. É uma queixa comum em idosos hospitalizados, cujas causas mais comuns
são demências e acidentes vasculares encefálicos (AVE), principalmente em fase aguda
(SCHELP, 2004) ,Doença de Parkinson, Doenças sistêmicas (cardiopatias, hepatopatias,
pneumopatias),
Estado
confusional
agudo,
traumatismo
crânio-encefálico
e
medicamentos. (TUBERO, 1998)
Episódios de aspiração são freqüentes entre idosos internados e cursam com
conseqüências graves, aumentando o tempo de internação, sendo considerado uma das
maiores causas de morbi-mortalidade nesta população. (LANGMORE, 1998)
Após uma anamnese direcionada a história pregressa do distúrbio de deglutição e
a investigação dos hábitos alimentares atuais e remotos do paciente, a avaliação
fonoaudiológica deve ser realizada no momento da internação e consta das seguintes
etapas: (EKBERG , 1998)
AVALIAÇÃO
FONOAUDIOLÓGICA
CLÍNICA
OBJETIVA
ESTRUTURAL
FUNCIONAL
A etapa da avaliação clínica estruturas envolve o exame físico da cavidade oral,
faringe e laringe e a verificação da mobilidade e tonicidade das estruturas envolvidas na
deglutição: essencialmente lábios, língua e bochechas.
Na avaliação clínica funcional ocorre a testagem de diferentes consistências
alimentares:
 Líquidos finos
 Líquidos engrossados
 Pastosos/ purês
 Pastosos/ pedaços moles
 Sólidos macios
 Sólidos secos
Recursos instrumentais podem ser utilizados durante a abordagem clínica, como
ausculta cervical e o oxímetro de pulso. Na ausculta cervical, coloca-se o estetoscópio em
um dos lados da cartilagem tireóide e ausculta-se os sons de passagem do ar e da
deglutição. A oximetria de pulso mede a saturação de oxigênio na hemoglobina funcional
e pode auxiliar no monitoramento de pacientes que desaturam oxigênio em conseqüência
da aspiração traqueal. MACEDO, GOMES e FURKIM (2000)
Diante da dúvida clínica, o fonoaudiólogo pode lançar mão de exames de imagem
para concluir seu diagnóstico. Os principais exames utilizados são a endoscópica da
deglutição e a videofluoroscopia da deglutição.
Ainda utilizado em menor escala, a endoscopia da deglutição permite: a avaliação
da contensão do alimento na cavidade oral, a presença de escape nasal, o fechamento
velofaríngeo, o tempo da deglutição, presença de penetração e ou aspiração laríngeas.
Com o paciente sentado, procedemos inicialmente a fibronasofaringolaringoscopia e com
o aparelho em posição de modo a visualizar a faringe e a laringe, são oferecidos
alimentos (coloridos artificialmente) com várias consistências: sólidos, líquidos e pastosos.
O exame pode ser gravado para análise posterior.
A videofluoroscopia da deglutição tem sido apontada como o exame de maior
utilidade na investigação diagnóstica da disfagia. Tal método, quando precedido de
anamnese clínica adequada, consegue caracterizar convenientemente o grau de
disfunção e, freqüentemente, identificar a causa da anomalia com grande precisão, por
isso é considerado o método objetivo gold standart utilizado com maior freqüência. Além
de englobar os objetivos citados na endoscopia, realiza também importante investigação
da anatomia e fisiologia esofágica. É utilizado um aparelho de escopia, podendo
acomodar o paciente sentado ou em pé, em vistas anterior e lateral. São oferecidos
alimentos com contraste de bário nas consistências: liquida, pastosa e sólida. Também
pode ser gravado para análise posterior.
Em muitas instituições no território nacional, ainda não existe um fonoaudiólogo
nas equipes hospitalares e equipes gerontológicas. Assim, é dúvida de muitos
profissionais da saúde o momento de solicitar a avaliação fonoaudiológica, desta forma
abaixo se listou as principais características dos idosos disfágicos: (VENITES, SOARES E
PELEGRINI, 2005)
ANTES DA ALIMENTAÇÃO
DURANTE ALIMENTAÇÃO
APÓS DEGLUTIÇÃO
- Pacientes com histórias de
- Dificuldade de mastigar;
- Grande quantidade
desidratação,
- Escape do alimento pela de resíduo alimentar
e/ou
desnutrição
pneumonias
de
cavidade oral;
na cavidade oral;
repetição;
- Dificuldade do controle do - Fadiga;
- Alterações dos níveis de
alimento na cavidade oral
consciência como atenção,
- Alteração da formação do - Pigarro;
percepção e alerta;
bolo alimentar;
-
Dependência
- Tosse;
-
Alteração
da
na - Movimentos repetitivos da qualidade
vocal
alimentação;
língua e mandíbula durante (rouca/molhada);
- Indisposição para comer;
mastigação;
- Ausência de dentes;
- Dificuldade em vedar os positiva (com ruído);
-
Ausculta
cervical
- Má adaptação de próteses
lábios ao deglutir;
dentárias;
- Ausência e/ou diminuição do desconhecida
-
Ineficiente
controle
de
-
- Diminuição da elevação
cavidade oral;
laríngea;
- Engasgo com a saliva;
-
Grande
quantidade
de
secreção endotraqueal;
de
causa
reflexo de deglutição;
saliva ou escape desta pela
-
Febre
Tosse
e/ou
engasgos
freqüentes;
- Pigarro e dor ao deglutir;
-
Fadiga
durante
a
alimentação;
- Asfixia;
- Refluxo nasal do alimento;
A freqüência e a duração dos atendimentos variam de acordo com os dados
levantados na avaliação e o acompanhamento geralmente é realizado diariamente.
MACEDO, GOMES e FURKIM (2000)
Diante do diagnóstico de disfagia, dois focos devem ser priorizados nas condutas
fonoaudiológicas:
Foco na
alimentação
CONDUTAS FONOAUDIOLÓGICAS:
FOCO NA ALIMENTAÇÃO:
1-) Determinação da via alimentar
Foco no
cuidado
Os dados da avaliação fonoaudiológica fornecerão condições para que o
fonoaudiólogo determine a via alimentar do paciente, podendo ser:
- oral;
-enteral: sonda naso-enteral ou gastrostomia
- mista: utilização de ambas as vias quando existe ingestão insuficiente ou durante o inicio
da reabilitação (MACEDO FILHO, FURKIM, 2000)
Sempre que possível a utilização da via oral deve ser priorizada, devido ao
importante aspecto de socialização e prazer pessoal por ela oferecida. Diante da
necessidade da utilização da via enteral por mais de um mês recomenda-se a realização
da gastrostomia, procedimento simples e rápido realizado por via endoscópica, fisiológica
e esteticamente mais adequado.
2-) Determinação da consistência da dieta:
Ao optar-se pela via oral ou mista, deve-se, em seguida determinar-se a
consistência da dieta a ser oferecida diante de seu desempenho na avaliação clínica
funcional. Na maioria das instituições hospitalares, é possível contar com os seguintes
tipos de dieta:
 Dieta geral: alimentos em todas as consistências, com grande demanda
mastigatória;
 Dieta branda: alimentos mais amolecidos, com demanda mastigatória
moderada;
 Dieta pastosa: alimentos bastante amolecidos e bem cozidos, com pouca
demanda mastigatória;
 Dieta pastosa geriátrica: alimentos em consistência de purê, sem demanda
mastigatória;
 Dieta liquida: geralmente usada em preparo de exames ou pré-pós
operatório, são oferecidos apenas líquidos.
FOCO NO CUIDADO:
São condutas auxiliares que completam a atuação fonoaudiológica junto a idosos
disfágicos. Envolvem os aspectos organizacionais e cognitivos (necessidade de
comandos verbais, por exemplo) da alimentação. São elas:
1-) Posicionamento para receber a dieta: deve ser sentado (cadeira ou leito) à 90 graus.
Para tanto, o paciente necessita de:

Auxílio total;
 Auxílio parcial;
 Nenhum auxílio
2-) Dependência alimentar:
 Alimentação com assistência total: não leva o alimento a boca, o mesmo
precisa ser oferecido;
 Alimentação com assistência parcial: necessita apenas que sirvam a mesa.
Consegue separar o bocado e leva-lo a boca;
 Alimentação sem assistência: não necessita de nenhum auxílio
3-) Higiene oral: evita infecção por colonização de bactérias como também a aspiração de
partículas de alimentos
 Higiene realizada pelo próprio paciente, sem nenhum auxílio;
 Higiene realizada pelo próprio paciente com auxílio de um cuidador ou
profissional;
 Higiene realizada pelo cuidador ou profissional. O paciente não tem
nenhuma participação
4-)Terapia fonoaudiológica:
 Realização de exercícios miofaciais, faríngeos e laríngeos: trabalho
muscular com enfoque nos achados alterados da avaliação clínica
 Testagem e utilização de manobras posturais
 Monitoramento da alimentação
Em resumo, as condutas fonoaudiológicas junto ao idoso disfágico envolvem:
CONDUTAS
FOCO NA
ALIMENTAÇÃO
Via alimentar
Consistência
da dieta
FOCO NO
CUIDADO
Dependência
alimentar
Higiene
Oral
Posicionamento
Terapia
Utilizando-se destes dois focos, foram estudados 63 pacientes em uma enfermaria
geriátrica, com acompanhamento diário e observação do estado geral, ingestão alimentar
e nível de consciência. No momento da internação, 3,2% apresentavam pneumonia
aspirativa, contudo nenhum aspirou durante a internação. (VENITES, 2001)
A literatura da pesquisada na área confirma que apenas a indicação da
alimentação enteral não evita a broncoaspiração e garante que o acompanhamento
fonoaudiológico constante possibilita uma internação mais rápida e com maior qualidade.
(FEINBERG ET AL, 1996, PATERSON, 1999, ROSENVINGE, 2005).
ALGUMAS SITUAÇÕES ESPECÍFICAS QUE PODEM LEVAR A DISFAGIA:
ENTUBAÇÃO:
Alterações podem ser decorrentes da presença do tubo endotraqueal, que pode
determinar lesões, causando a diminuição da motricidade e da sensibilidade da cavidade
oral, laringe e faringe. Além disso, as funções relacionadas a essas estruturas, como a
respiração, a fala e a deglutição, não são realizadas durante a instituição da entubação
orotraqueal, propiciando diminuição da função laríngea e conseqüente inatividade da
musculatura no período de sua utilização (COLICE ,1989). Estudo realizado por TOLEP,
1996; realizado mostrou que pacientes submetidos à entubação orotraqueal com e sem
alteração neurológica apresentaram, como maior comprometimento da fase oral, a
redução do controle da língua.
DECANULAÇÃO:
Considera-se desmame da traqueostomia o momento quando se inicia o desinsuflar do
cuff, passando pela troca da cânula plástica para metálica (sem o cuff), até a retirada da
cânula de traqueostomia e realização do curativo oclusivo do estoma.
A decisão de quando iniciar o desmame da traqueostomia é um trabalho de equipe, cujos
fatores preditores de insucesso precisam estar ausentes. As razões que levaram a
indicação de uma traqueostomia precisam ser consideradas antes de se iniciar o
processo de desmame (GODWING JE, 1991)
Alguns outros fatores preditores de sucesso na decanulação incluem a estabilidade do
paciente, a ausência de secreções em quantidades que possam comprometer o padrão
respiratório, o desmame total do respirador, a capacidade de deglutição na ausência do
cuff sem sinais de broncoaspiração.
Na presença de quaisquer sinais clínicos de aspiração, tais como tosse ou engasgos
freqüentes com o cuff desinsuflado, que sugere entrada de saliva ou alimentos na via
respiratória, alteração nos valores de oximetria de pulso e voz com presença de secreção
(SHAPIRO 2003 [CITED 2006]),
Esta avaliação também pode ser realizada precocemente, ainda durante o
desmame dos parâmetros do respirador. Neste momento, o fonoaudiólogo tem como
objetivos que o paciente consiga uma deglutição efetiva da saliva, coordenação da
deglutição e respiração e, se possível, início de fala – aspectos que podem estar
alterados pela presença da traqueostomia ou pela doença do paciente. PANNUNZIO
1996.
Em estudo realizado MENDES, 2008, 42,9% dos pacientes apresentaram
complicações durante o desmame. Dessas complicações, quatro casos foram por
disfagia, dois casos apresentaram piora do quadro clínico e evoluíram com dependência
total da ventilação mecânica e três casos retardaram o desmame e decanulação (um por
necessidade de cirurgia, outro pela presença de edema de face e o terceiro por
rebaixamento do nível de consciência e cirurgia). Dos quatro pacientes que apresentaram
disfagia, dois tiveram sucesso na decanulação e dois não tiveram.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Fica evidente que o acompanhamento fonoaudiológico é fator primordial para o
gerenciamento das disfagias. Contudo outros dois fatores devem ser considerados.
O apoio à família é fundamental em função do grau de insegurança e ansiedade
que a disfagia por sua dimensão psíquica e social provoca. Orientar no sentido de
oferecer suporte, enfatizar a importância do envolvimento familiar, dar condições para
uma melhor atuação destes com o paciente, são aspectos tão importantes quanto o uso
da técnica específica empregada na reabilitação do paciente. Assim pode-se dizer que o
atendimento hospitalar abrange tanto a intervenção ao paciente quanto o apoio dado à
família.
A interdisciplinaridade no atendimento do paciente disfágico é de fundamental
importância, processando-se tanto durante a avaliação quanto durante o tratamento do
paciente. Essa interdisciplinaridade se justifica pelas várias causas das disfagias e pelas
conseqüências e impactos destas no estado clínico do paciente.
Desta maneira, uma importante tríade se forma no gerenciamento das disfagias
em idosos:
ACOMPANHAMENTO
FONOAUDIOLÓGICO
CONSTANTE
ORIENTAÇÃO A FAMÍLIA
E/ OU CUIDADOR
TRABALHO E
ORIENTAÇÃO DA
EQUIPE
INTERPROFISSI
ONAL
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