literaturizando o corpo humano: proposta de projeto

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LITERATURIZANDO O CORPO HUMANO: PROPOSTA DE PROJETO
PEDAGÓGICO COMO RECURSO PARA A PRÁXIS DOCENTE.
Juliana Fatima Serraglio Pasini 1
Karina Inês Paludo 2
Introdução
Apresentar-se-á, nesta oportunidade, uma proposta de trabalho desenvolvida
numa escola municipal da cidade de Foz do Iguaçu, com alunos de 1º à 3º ano do ensino
fundamenta, envolvendo as disciplinas de artes, dicionário, literatura, matemática e
ciências, o que oportunizou o trabalho interdisciplinar entre os professores de áreas
diferentes.
Esta, por sua vez, justificou-se pela necessidade de se trabalhar o conteúdo
estimado, sendo este, o Corpo Humano e, pela ânsia em oferecer atividades diferentes as
que comumente são encontradas no ensino regular, visando distanciar-se da reprodução
e ausência de criticidade por parte dos educandos.
Para tanto, propôs-se o desenvolvimento de um projeto pedagógico concernente
à temática referida, por acreditar-se que:
[...] a prática de construir projetos interdisciplinares permite, de um
lado, rejeitar uma cisão de meros implementadores de programas e
estratégias desenvolvidas externamente e, por outro, a negociação
entre os diferentes saberes disciplinares para a construção coletiva de
conhecimento sobre a realidade permite desenvolver competências,
como
perceber
diferenças
e
singularidades,
vislumbrar
complementaridades, experimentar satisfações, como iniciar uma
aventura ou elaborar o impensado, que podem se tornar referência
motivadora para a futura vida docente (PIERSON apud PIMENTA,
pg.194, 2010)
Como o trabalho teve como pressuposto a interdisciplinaridade entre outras
1
Formada em Pedagogia pela União Dinâmica de Faculdades Cataratas. Professora da rede municipal de
Foz do Iguaçu/PR.
2
Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. Pesquisadora do
Grupo de Pesquisas em Práticas Educativas – Mediar. Professora da rede municipal de Foz do Iguaçu/PR.
áreas do conhecimento, apresentou-se a conceituação do corpo humano por meio de
literaturas, fazendo o fechamento deste, com o conhecimento acerca de obras de arte.
Desenvolvimento
Para concretização do projeto, dividiu-se este por etapas, assim, como primeira
etapa, apresentou-se aos alunos a literatura intitulada “Corpo de Gente e Corpo de
Bicho”, de Mick Manning e Brita Granstrom..
Por meio desta, apresentou-se aos alunos a conceituação de corpo humano, bem
como suas partes e sistemas.
Utilizou-se como recurso didático, o esqueleto do corpo humano, bem como
próteses com os sistemas, o que instigou uma interessante discussão acerca do esqueleto
humano, já que alguns alunos tinham medo deste e outros diziam não ter esqueleto em
si.
Aproveitou-se esta oportunidade também para explanar acerca da diferença entre
corpo humano e animal.
Para internalização dos conceitos, desenvolveu-se atividades práticas através de
canções além de exercícios no caderno, produção de cartazes e pesquisas em diversos
gêneros textuais.
Na segunda etapa, apresentou-se a literatura “Para olhar e olhar de novo”, de
Eliana Pougy. Com esta, fez-se a conceituação de arte e obra de arte e introdução de
técnicas de desenho. Fez-se uso também do dicionário.
Organizou-se em uma sala, sem carteiras e apenas dispunha de uma mesa ao
centro com materiais diversos, para serem utilizados pelos alunos para a confecção do
seu autorretrato, foi disponibilizado à eles cola, canetinhas, retalhos de EVA, papel
dobradura de várias cores, tesouras, giz de cera, lápis de cor, tinta guache, cola colorida,
entre outros, para que ficassem livre e criassem o seu autorretrato.
Cabe ressaltar que, algumas crianças desenharam-se com muita facilidade e
outras com muita dificuldade, tendo a necessidade de olhar-se no espelho muitas vezes.
Em alguns trabalhos percebeu-se que as crianças preocupam-se consigo e colocam
adereços nos desenhos de como elas gostariam de ser, outras o que gostariam de ter,
percebe-se também, crianças de bem com a vida e amando o seu corpo, por exemplo, a
aluna gordinha que se desenha gordinha e bela, e não uma aluna gordinha que se
desenha magra e infeliz.
Através desta atividade analisou-se que as crianças expressam seus sentimentos
e estado emocional, e cabe ao professor estar atento a estes sinais, para, quando
necessário, trabalhá-los junto a ele ou com a ajuda de outros profissionais.
Como terceira etapa, levou-se aos alunos o livro “Encontro com Tarsila”, de
Cecília Aranha e Rosane Acedo.
Com esta obra, discutiu-se a conceituação de artista, biografia, bibliografia e
auto-retrato.
Apresentou-se o auto-retrato feito por Tarsila e, solicitou-se que os educandos o
fizessem também, objetivando assim, o autoconhecimento e auto-observação (através
do espelho), do seu corpo.
Para finalizar o projeto, ofereceu-se uma exposição das obras mais conhecidas
de Tarsila.
Com base nestas, os alunos fizeram a reprodução de uma delas, com o intuito de
desenvolver a coordenação motora, já que alguns precisam muito, atenção e medidas de
proporção.
Após esse trabalho, expôs-se as produções para a escola em forma de murais
informativos.
Com a realização do projeto descrito, averiguou-se que ao sair da rotina habitual
em que os alunos estavam acostumados, estes se interessaram mais nas aulas, além da
percepção da mudança de comportamento, pois ao desenvolver atividades manuais e
artísticas nas turmas mais indisciplinadas os alunos canalizaram sua energia e
participaram ativamente.
Mudar não apenas o planejamento, mas a rotina da sala é uma sugestão para que
esta se concretize disponibilizar as carteiras de formas diferentes, sejam duplas, tríades,
semicírculo, permitir que os alunos utilizem o chão para sentar e apreciar uma história
ou realizar alguma atividade proposta que não exija postura em sua cadeira, mas que
possa estar relaxado e aproveitar o momento proposto.
A prática de projetos na escola motiva os alunos à disciplina de forma que estes
possam contemplar movimentos, interesse e participação na realização das atividades
propostas, o que propicia o entendimento do processo de ensino-aprendizagem e
respeito ao professor e colegas.
A prática diferenciada, por meio de atividades prazerosas, possibilitou que o
conteúdo tivesse significação para o aluno.
Diante desse contexto, caber destacar como excelente recurso didático, o uso do
lúdico, da contação de história, por exemplo, para introdução de qualquer conteúdo.
O lúdico possibilita a construção, descontração e a reconstrução do
conhecimento. É de suma importância a brincadeira para o desenvolvimento
psicológico, social e cognitivo da criança, pois é através dela que a criança consegue
expressar seus sentimentos em relação ao mundo social.
As atividades lúdicas preparam a criança para o desempenho de papéis sociais,
para a compreensão do funcionamento do mundo, para demonstrar e vivenciar emoções.
Quanto mais a criança brinca, mais ela se desenvolve sob os mais variados aspectos,
desde os afetivo-emocionais, motor, cognitivo, até o corporal.
Por meio de atividades livres a criança tem a oportunidade viver e reconhecer a
sua realidade. Segundo Alicia Fernández 2001, tudo gira em torno da cultura lúdica,
pois a brincadeira torna-se possível quando apodera elementos da cultura para
internalizá-los e criar uma situação imaginária de reprodução da realidade. É através da
brincadeira que a criança consegue adquirir conhecimento, superar limitações e
desenvolver-se com indivíduo.
Segundo Winnicott 1993, imaginação, apresentação, simulação, as atividades
com jogos e histórias são considerados como estratégia didática, facilitadora da
aprendizagem, quando as situações são planejadas e orientadas por profissionais ou
adultos, visando aprender, isto é, proporcionar à criança a construção de algum tipo de
conhecimento, alguma relação ou desenvolvimento de alguma habilidade.
No contexto educacional o professor que utiliza o jogo e outros recursos no seu
planejamento diário ou semanal possibilita que o educando experimente sentimentos
múltiplos e generalize a experiência educativa para situações do seu cotidiano.
Somando a este aspecto o educador permite ao educando conhecer suas
habilidades, superar suas limitações, expectativas além de desenvolver valores e
considerar individualidades respeitando a si e ao outro.
Para a realização de atividades lúdicas no programa pedagógico o professor deve
considerar a essência suprema do ato de brincar com o ato de aprender, sendo
fundamental, este conhecer o perfil de seus alunos ao qual está desenvolvendo o seu
trabalho pedagógico, tendo claros seus objetivos com os mesmos.
Através do desenvolvimento de projetos interdisciplinares a escola, a família do
aluno, ele próprio, os professores, são todos integrantes de um sistema que formam uma
unidade e tendem para a manutenção de um equilíbrio. Ao olhar esses subsistemas de
forma circular, estar-se-á responsabilizando a todos os envolvidos, no processo de
aprendizagem e nas possíveis rupturas que possam aí surgir.
O trabalho desenvolvido através de projetos pedagógicos e interdisciplinares
compõe-se de expressão corporal, gestual, facial e verbal, pensamento, linguagem, ação,
reflexão,
relaxamento,
atenção
e
concentração,
memorização,
improvisação,
criatividade, imaginação e expressão de conhecimentos, sentimentos e emoções.
Cabe ao professor indicar pistas, aprofundar determinadas idéias, apoiar
determinados movimentos do sujeito, supervisionar o processo criativo e operativo de
modo a apontar caminhos e possibilidades.
Estas oportunizarão ao professor perceber as dificuldades do aluno, sendo um
facilitador no desenvolvimento de novas habilidades, deve-se ter cuidado, pois ao
trabalhar com projetos pedagógicos interdisciplinares de caráter artístico, lúdico, textual
e outros, não se deve perder o foco de se ter um ambiente onde haja a construção e
elaboração do conhecimento, sendo este um espaço de aprendizagem.
Trabalhar com projetos interdisciplinares representa oferecer às crianças a
possibilidade de se expressarem, aperfeiçoarem habilidades manuais, desenvolverem as
funções psicomotoras e mentais superiores, desenvolverem a concentração, o senso
estético e a criatividade, descobrirem-se hábeis, criativas e capazes de realizar algo.
A criança é um sujeito de direitos e a educação um de seus direitos fundamentais.
É preciso superar o entendimento tradicional que se tem do ato de aprender e de ensinar
predominante nos períodos de escolarização, propondo-se um currículo que oportunize
atividades pedagógicas que envolvam múltiplas linguagens: música, desenho, pintura,
dança, contos, teatros, movimentos, escrever, ler e ouvir, dentre outras envolvendo
todas as disciplinas e áreas do conhecimento.
Ao professor cabe ouvir, orientar, incentivar e oportunizar para que seu aluno
processe a aprendizagem, tendo visível que a vida adulta é decorrente da vida infantil,
sendo a vida adulta sequência da infância vivida.
Visca 1987 coloca a escola como responsável pela sistematização da
aprendizagem, isto é, aquela que se opera no interior da instituição educativa, mediadora
da sociedade, órgão especializado em transmitir conhecimentos, atitudes e destrezas que
a sociedade estima necessárias para a sobrevivência, capazes de manter uma relação
equilibrada entre a identidade e a mudança.
Conclusão
Diante da concretização da proposta de trabalho explanada, conclui-se que os
projetos devem fazer parte do cotidiano pedagógico. Tornando assim as aulas
prazerosas e menos fragmentas assim ao aluno se permite interligar os conhecimentos
aprendidos aos assuntos trabalhados para que tenha um significado, e não seja apenas o
aprender por aprender, reproduzir para passar de ano, mas que ele realmente adquira o
conhecimento.
A prática pedagógica através de projetos no permite identificar caminhos novos
para a ação dos docentes, identificar alternativas pedagógicas que auxiliem os
professores a possibilitar aos alunos aulas mais dinâmicas, despertando o interesse e o
envolvimentos dos mesmos no processo de aprendizagem.
Os resultados são positivos, pois os alunos percebem que há uma conexão entre
as disciplinas e conseguem interagir e interligar os conteúdos em aulas de disciplinas
diferentes possibilitando que a aprendizagem realimente aconteça.
O trabalho realizado através de projetos interdisciplinares permite aos
professores a troca de experiências realizadas e com resultados que possam estar
auxiliando-os no processo de ensino-aprendizagem. Para a realização dos mesmos não
há uma ordem ou receita a ser seguida, mas a definição do mesmo é feita através da
necessidade e interesse dos alunos, envolvendo os conteúdos a serem trabalhados de
maneira que os professores utilizem diversos recursos disponíveis a pratica pedagógica.
Em síntese esta pratica motiva os alunos a realizarem leituras novas e de
variados assuntos, a ter um olhar diferenciado do cotidiano escolar, a buscarem novas
soluções aos problemas, superar suas dificuldades, conhecer seus limites e perceber
novas possibilidades.
Referências Bibliográficas
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2002.
FERNÁNDEZ, A. O saber em jogo: a Psicopedagogia propiciando autorias de
pensamento. Trad. Neusa Kern Hickel. Porto Alegre: Artmed, 2001.
MANNING, M; GRANSTROM, B. Corpo de Gente e Corpo de Bicho. São Paulo:
Ática, 2009.
MINICOTTI, M.C.O. Leitura e Escrita: como aprender com êxito por meio da
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PIMENTA, S.G; GHENDIN,E. (Orgs.). Professor Reflexivo no Brasil: Gênese e
crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2010.
POUGY, Eliana. Para olhar e olhar de novo. São Paulo: Moderna, 2005.
VISCA, J. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987
WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: IMAGO, 1993.
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