Introdução à Astrofísica Lição 2 – Começando a observar o céu Estamos afastados do centro da cidade. Estamos afastados de qualquer coisa que possa ofuscar nossos olhos. Não há carros aqui. Não há casas. Não há barulho. Estamos num completo silêncio observando o céu. Podemos sentir uma leve brisa soprando em nossas faces. Acima de nós, um véu de estrelas se estende de um ponto a outro do céu. Como uma faixa muito brilhante de estrelas. O que estamos vendo é a Via-Láctea, nossa galáxia, nossa casa. Existem inúmeras outras estrelas que se distribuem fora desse lindo véu. Cada estrela faz parte da Via-Láctea. Se olharmos com atenção iremos notar que algumas estrelas brilham mais do que outras estrelas. Iremos notar que algumas são vermelhas enquanto que outras são azuis. A magnitude de uma estrela está relacionada com seu brilho (da mesma maneira, a magnitude de qualquer corpo no espaço, como galáxias e nebulosas). Quanto maior a magnitude, mais difícil é observar determinado corpo. Se olharmos com atenção, iremos perceber que existem muito mais coisas no céu do que estrelas. Podemos notar a presença de objetos com aspectos muito nebulosos, como um aglomerado de poeira brilhante. Podemos ver objetos se movendo a grandes velocidades no céu (e nesse caso não são aviões). Se prestarmos atenção iremos ver que algumas estrelas apresentam um brilho contínuo, diferente das outras estrelas. O céu é fascinante e iremos mergulhar nesse vasto oceano de descobertas. Hoje em dia, para observamos um céu limpo é necessário ir até um lugar afastado da poluição da cidade (um dos melhores lugares do mundo é o deserto do Chile). Mas vamos voltar no tempo, quando não existiam grandes construções e muito menos poluição luminosa. Vamos voltar para o tempo das cavernas. Quero lhe apresentar Steve (esse foi o melhor nome que pude arrumar). Steve não é um nome muito comum para dar à um homem das cavernas, mas aqui podemos fazer o que quisermos. Somos livres para imaginarmos o que quisermos. Steve, um ancestral nosso, não representa apenas um único sujeito. Ele representa todo um grupo, que não sabe muita coisa sobre o lugar em que está. Vamos caminhar com nosso amigo ancestral e observar suas ações. A Lua está brilhando intensamente no céu, clareando a noite. Steve a observa, e não sabe o que ela é. As florestas são escuras, mas os raios de luz passam por entre as folhas e ajudam a visualizar alguma coisa. É possível ouvir sons vindos da floresta. Steve sabe que esses sons são produzidos por aquilo que ele está procurando: sua janta. Cuidadosamente, Steve faz sua caçada. Mas ás vezes, um som muito mais alto vinha das regiões mais profundas da floresta. Regiões negras, onde a luz da lua não iluminava. Nosso amigo corre para sua casa antes que o som fique mais alto. Embora não saiba o que é, Steve simplesmente corre guiado pela luta natural de sobrevivência. Aos poucos a lua vai mudando sua posição no céu. Seria a lua algo vivo? A medida que a lua vai caminhando acima de sua cabeça, Steve percebe que o céu vai ficando mais claro. Então, eis que aparece algo muito mais poderoso que a lua. O Sol, tão poderoso que é impossível olhar para diretamente e se ficar muito tempo abaixo dele uma sensação muito ruim toma conta da gente. Steve sente que muito tempo em baixo do Sol é como passar um tempo próximo a uma fogueira. Porém, mesmo com o calor do dia a caçada era bem mais favorável. Por vezes, o Sol diminuía seu brilho, e dava lugar a nuvens negras no céu que faziam cair água na terra. Steve não entendia nada, muitas vezes ficava apavorado com clarões no céu parecidos com raízes de árvores, seguidos de um som muito ensurdecedor. E assim, os dias de Steve iam passando e o mesmo tentava entender as coisas a sua volta. Embora possamos tentar explicar para ele o que são raios, ele não entenderia nossa língua. Algo estranho acontecia com a lua no céu. Ela parecia perder pedaços com o passar dos dias, até que ela sumia. Sem lua, não havia iluminação para a caça. Certo dia um companheiro de Steve saiu numa noite sem lua e nunca mais voltou. Apenas ouviram-se gritos vindos da floresta. Não havia lua no céu. Mas havia incontáveis pontos luminosos, pontos que não iluminavam tanto a ponto de fazer uma caçada. Muitas vezes, alguns pontos pareciam se mover rapidamente no céu e desaparecer no horizonte. Embora a Lua desaparecesse, o Sol sempre surgia. E a medida que ele ia surgindo, os inúmeros pontos brilhantes deixavam de ser visíveis. Passavam mais alguns dias, e a lua começa a aparecer novamente no céu. Era como se ela começasse, aos poucos, juntar seus pedaços. Steve sabia que muitos animais o temiam, os animais corriam dele e dos outros caçadores. Steve se sentia superior a eles. Steve aprendeu a dominar o fogo, e isso auxiliava nas caçadas noturnas. O fogo também espantava grandes feras, dava um gosto melhor ao alimento e aquecia nas noites frias. Porém, obter o fogo não era uma tarefa muito fácil. Mas pelo fato de conseguir produzir o mesmo, Steve sabia que era superior. Mas, o que dizer sobre o Sol, que aparentava ser como o fogo? Ou o que dizer sobre a Lua, que parecia controlar as noites de caça? E os raios? Steve começou a perceber que não tinha controle sobre os céus. Não podia controlar o desaparecimento da Lua. Ele percebeu que enquanto se esforçava para criar o fogo, um simples raio caia numa árvore e o criava, facilmente. A ausência do Sol provocava frio. Por vezes, algo assustador acontecia. O Sol se tornava, aos poucos, negro e o dia ficava escuro como a noite ou os céus ficavam como sangue. Os sons que o céu produzia, e as coisas que ele fazia, eram tão assustadoras quanto as feras que se escondiam por entre as florestas. E assim, Steve começou a temer o céu. Um temor tanto no sentido de medo, quanto no sentido de respeito. Todos ao redor passaram a respeitar o céu. Com o tempo, perceberam que o mesmo mudava, e não apenas em relação à Lua e ao Sol, mas também com relação aos infinitos pontos brilhantes. Por vezes, um enorme ponto brilhante surgia seguido por uma cauda brilhante. Embora não sabia o que se passava lá em cima, Steve tinha uma certeza: é mais forte do que nós. E foi assim, que Steve e seu povo foram criando uma crença nos céus. Com o passar dos anos, o legado de Steve foi sendo transmitido para outras gerações. As pessoas observavam o céu e como não sabiam explicar o que se passava lá em cima, atribuíam tudo à seres mais poderosos que nós. Assim como nós temos um domínio sobre os animais, o céu tem um domínio sobre tudo. Percebemos que o céu nos mostrava o tempo certo para plantar. O céu nos mostrava as mudanças das estações. O céu nos assustava e nos maravilhava. E foi no céu, que nós colocamos a morada dos seres que acreditávamos fazer tudo isso. Para nossa sorte, civilizações antigas não se contentaram em apenas adorar o céu. Mesmo acreditando que o mesmo era a morada de deuses, povos antepassados passaram a estudar o firmamento com um pouco mais de cuidado. Há cerca de 4.000 anos tivemos o surgimento dos primeiros astrônomos. Povos que habitavam a região da Mesopotâmia foram os primeiros a dividir o céu em várias regiões, e cada uma dessas regiões possuía certo grupo de estrelas. Essas regiões formavam as primeiras constelações. Primeiras constelações, pois elas eram muito diferentes das que temos em nossos dias. Passamos a estudar o céu e a escrever sobre o mesmo. Textos antigos nos mostram como era a visão do universo para os antigos povos. O mais antigo texto que diz respeito às constelações foi escrito por Aratus no terceiro século antes de Cristo. No texto, intitulado Phaenomena, existem cerca de 43 constelações descritas. Em 1603 temos um dos mais importantes atlas celestes de todos os tempos. Johann Bayer criou um atlas que serviria de base para os muitos posteriores. O chamado Uranometria apresentava 51 cartas estelares e muitas outras constelações. A figura a seguir é a representação da constelação de Touro descrita nesse atlas. Johann Bayer também passou a associar as estrelas de uma constelação com letras gregas. Em ordem alfabética, as letras representavam a ordem de brilho das estrelas. Por exemplo, a estrela alpha seria a mais brilhante da constelação, a estrela beta a segunda mais brilhante e assim sucessivamente. Embora as constelações pareçam formar desenhos no céu (muitas das vezes é preciso ter muita imaginação para ver algo), elas são simplesmente áreas do céu com estrelas em determinadas posições. Por mais que uma constelação apresente estrelas, galáxias e nebulosas, esses objetos não estão necessariamente associados. As estrelas de uma constelação podem estar a milhões de anos-luz de distância umas das outras. Constelações são apenas figuras aparentes. Com o passar dos anos, as estrelas vão se movimentando pelo céu e assim vão alterando a forma das constelações. Cada cultura associa as constelações com suas lendas e histórias. Assim, para culturas diferentes temos constelações diferentes e logicamente nomes diferentes. Hoje, tudo está priorizado de acordo com a União Astronômica Internacional. Temos 88 constelações oficiais, e cada objeto, estrela, galáxia ou nebulosa, está associada a apenas uma constelação. Aqui, deixo a minha constelação preferida: Órion, o caçador: