ESTRATÉGIAS DE MANEJO DO MILHO Bt EM CONDIÇÕES DE

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ESTRATÉGIAS DE MANEJO DO MILHO Bt EM
CONDIÇÕES DE SAFRINHA
Ivan Cruz1
1. Introdução
A produtividade obtida para a cultura de milho cultivado na segunda safra vem
consistentemente crescendo com o passar dos anos. Em todas as principais regiões
produtoras, pode ser observado um aumento significativo na produtividade com o
passar dos anos (Figura 1), com maiores ganhos nos estados do Paraná e de Mato
Grosso, onde a produtividade média já se encontra no patamar de 4.000 kg/hectare.
O aumento significativo na produtividade do milho safrinha é consequência do
maior conhecimento e do uso, pelos agricultores, de tecnologias mais apropriadas e
necessárias para se obter boa produtividade. Além do uso das tecnologias adequadas,
fatores favoráveis relacionados ao clima contribuíram para o aumento da produtividade.
O milho safrinha deve ser semeado imediatamente após a colheita da soja. O sucesso
da lavoura depende da data de plantio, pois, dependendo da época, o cultivo é
inviabilizado devido à falta de chuva ou à coincidência com baixas temperaturas
(Ceccon & Ximenes, 2006).
Pesquisador, bolsista do CNPq, Embrapa Milho e Sorgo, Caixa postal 151, Sete Lagoas, MG, CEP 35700970, [email protected]
1
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FIGURA 1. Reta ajustada para produtividade de milho na safrinha em função
do ano de cultivo em diferentes regiões (dados obtidos da Conab,
2009)
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2. Insetos-praga
As mesmas pragas da safra de verão podem atacar o milho na safrinha. Porém,
podem ocorrer com intensidade diferente, isto é, pragas consideradas secundárias
na safra de verão podem constituir pragas-chave no milho safrinha e vice-versa.
De modo geral, tem sido verificada maior severidade de danos de insetos-praga na
safrinha (Gassen, 1999; Cruz & Bianco, 2001).
Tanto na primeira como na segunda safra (safrinha) de milho, seja no sistema
convencional de plantio ou no plantio direto, a lagarta-do-cartucho, Spodoptera
frugiperda, pelas suas características, no que diz respeito à sua ocorrência em
todos os anos de cultivo e em praticamente todas as fases de desenvolvimento
da planta e especialmente pelo aspecto deixado após sua alimentação, é a praga
de maior importância no Brasil. No entanto, várias outras espécies de insetos são
também igualmente importantes e, em certas condições, até mais severas do que a
lagarta-do-cartucho. Por exemplo, as pragas de hábito subterrâneo que constituem
um complexo podem ser severas na safrinha de milho; porém, muitas vezes nem
mesmo são percebidas pelo agricultor. São, geralmente, de ciclo longo e podem
estar presentes na área de cultivo deste a safra anterior, seja na soja ou no próprio
milho. O percevejo castanho (Scaptocoris castanea), o coró-do-milho (Liogenys
sp) e a larva-alfinete (Diabrotica speciosa) são considerados as principais pragas
que vivem no solo e se alimentam das raízes do milho no Centro-Oeste (Ceccon
& Ximenes, 2006). Outras pragas subterrâneas também importantes na safrinha
incluem a larva-arame (várias espécies), outras espécies de corós, larva-angorá
e larva-arame (Cruz & Bianco, 2001). Mais recentemente, tem sido observada a
presença da cochonilha-da-raiz (Pseudococcus sp) atacando o milho safrinha, o que
é pouco comum.
As pragas que atacam o milho na safrinha, logo após a emergência da planta,
também estão em evidência, dentre elas os insetos mastigadores, como a lagartado-cartucho, Spodoptera frugiperda, a lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus,
e várias espécies de insetos sugadores, como o percevejo barriga-verde, Dichelops
furcatus, o tripes, Frankliniella williansi, a cigarrinha-verde, Dalbulus maidis
e a cigarrinha-das-pastagens, Deois flavopicta, sendo esta última espécie
particularmente importante na safrinha, quando é utilizado o sistema integrado
milho/braquiária.
3. Descrição das pragas
As informações a seguir são uma compilação do trabalho de Cruz (2008) e Cruz
et al (2008) e descrevem alguns aspectos bioecológicos das principais pragas do milho
safrinha:
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
Pragas da semente e/ou das raízes
Cupins - Cornitermes, Procornitermes e Syntermes (Isoptera, Termitidae)
Esses insetos atacam as sementes do milho plantado, destruindo-as antes da
germinação e, como consequência, acarretam falhas na cultura. Atacam também
as raízes de plantas novas e fazem o descortiçamento total da raiz axial, deixando
intacta a parte lenhosa. A presença de restos da cultura sobre o solo aumenta muito sua
população. Os sintomas são notados quando a planta começa a ressentir-se do ataque,
mudando de coloração e murchando as folhas, até sua morte completa.
Percevejo-castanho - Scaptocoris castanea Perty, 1830 (Hemiptera, Heteroptera,
Cydnidae)
Causa prejuízos em soja, milho, algodão e pastagens. No Brasil, sua distribuição
é generalizada, embora com registros de ataque mais na região Centro-Sul do Brasil.
A espécie tem sido observada com maior frequência e intensidade, em ataques às
plantas no sentido da linha de plantio, nem sempre formando reboleiras típicas.
Na fase adulta, tem de 7 a 9 mm de comprimento e de quatro a cinco milímetros
de maior largura. As pernas anteriores são destinadas a escavação e as posteriores
possuem fortes cerdas e espinhos. As formas jovens são de coloração marrom-clara.
Durante a noite, podem voar para outras localidades; os ovos são postos no solo. O
percevejo-castanho é facilmente reconhecível, no momento da abertura dos sulcos,
pelo cheiro desagradável que exala. Nas épocas mais secas, aprofunda-se no solo à
procura de regiões mais úmidas, retornando à superfície durante as chuvas. As plantas
atacadas têm as suas raízes sugadas por ninfas e adultos, tornando-se raquíticas; o
desenvolvimento é reduzido e há posterior morte da planta. Estes sintomas podem ser
confundidos com deficiência nutricional, sendo diferenciados facilmente quando as
plantas são arrancadas do solo, pois exalam um odor típico e oriundo das glândulas
odoríferas do inseto.
Larva-alfinete: Diabrotica speciosa (Germar 1824) (Coleoptera, Chrysomelidae)
Os adultos de D. speciosa são muito conhecidos, especialmente pela coloração
verde-amarela, recebendo, às vezes, a denominação de “nacional” ou “patriota”,
medindo cerca de 6 mm de comprimento. Os adultos alimentam-se das folhas do
milho e os seus danos, às vezes, são confundidos com os ocasionados pela lagartado-cartucho, quando raspam as folhas. Os ovos são colocados no solo, próximo à
planta hospedeira. A larva é cilíndrica e, quando completamente desenvolvida, atinge
o tamanho máximo de 10 a 12 mm, com cerca de 1 mm de diâmetro. É de coloração
geral esbranquiçada, sobressaindo a cabeça e o ápice do abdome, que são de coloração
preta. Alimenta-se da região da raiz e podem atingir o ponto de crescimento, matando
as plantas recém-germinadas. Com o desenvolvimento da planta e também das larvas,
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
é comum verificar seu ataque nas raízes adventícias, prejudicando o desenvolvimento
normal da planta. Em ataques intensos, é comum o desenvolvimento de raízes nos nós
da planta. A planta desenvolve-se de maneira irregular, apresentando-se recurvada.
O ciclo biológico total do inseto dura em média 53 dias, sendo de 13, 23 e 17 dias os
períodos de incubação, larval e pupal, respectivamente.
Nos últimos anos, com o incremento da área de safrinha, as larvas vêm causando
consideráveis danos ao sistema radicular do milho, especialmente em sistemas de
plantio direto. Existe uma relação positiva e significativa entre a densidade de larvas
de D. speciosa no sistema radicular de milho e o dano na raiz e a redução do peso seco
da parte aérea da planta.
Larva-angorá ou peludinha, Astylus spp.(Coleoptera, Dasytidae)
Os adultos do gênero Astylus são polenófagos e comumente encontrados em
flores de plantas nativas e plantas cultivadas, podendo acarretar danos mecânicos
aos órgãos florais. As larvas são densamente cobertas por longos pelos marrons,
recebendo, por isso, o nome comum de larva-angorá. O adulto é um inseto pequeno de
aproximadamente 7 a 8 mm. Os élitros são de coloração amarela, com cinco manchas
negras. A espécie é univoltina, com uma duração de cerca de 360 dias para o seu
ciclo biológico e de aproximadamente 300 dias para a fase larval. A larva, quando
totalmente desenvolvida, mede cerca de 14 mm, apresenta coloração cinza-escura e
seu corpo totalmente coberto por longos pelos. A pupa é de cor alaranjada, com cerdas
escuras distribuídas em partes distintas do corpo. Cada fêmea coloca no solo uma
média de 90 ovos. O período de incubação varia em função da temperatura, sendo, em
média, de 9 a 13 dias. O período larval é longo, podendo demorar até quase um ano.
O período pupal dura de 9 a 16 dias, com média de 11 dias.
Bicho-bolo ou coró, Phyllophaga spp., Cyclocephala spp. Diloboderus abderus
Sturm, 1826 (Coleoptera, Scarabaeidae) e Lyogenys sp (Coleoptera, Melolonthidae)
Os corós podem ter um ciclo de vida de dois a quatro anos, embora seja mais
comum o ciclo de três anos. Normalmente, colocam os ovos em gramíneas nativas.
As larvas recém-nascidas iniciam sua alimentação próximo à superfície do solo. As
plantas de milho podem ser severamente danificadas ou “enfezadas” pela alimentação
das larvas nas raízes. Em infestações pesadas, a planta pode morrer e, naquelas
mais leves, pode ocorrer o tombamento das plantas, em função do enfraquecimento
do sistema radicular. Os danos geralmente são localizados, isto é, em reboleiras.
Pequenas áreas podem ser totalmente destruídas, enquanto outras permanecem
intactas. Essa variação reflete a preferência dos adultos por oviposição em certos tipos
de solo. Mesmo pequenas variações na textura do solo, aparentemente, podem afetar
a preferência pela oviposição.
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
Larva-arame - Agriotes, Conoderus e Melanotus (Coleoptera, Elateridae)
Os insetos denominados larva-arame são considerados pragas de grande
importância para muitas plantas cultivadas em vários países do mundo. A importância
das espécies do gênero Agriotes e Conoderus é mencionada danificando raízes e a
base do caule de plantas, principalmente gramíneas. Algumas espécies do gênero
Melanotus também são citadas como pragas de milho.
Os adultos desses insetos variam de 6 a 19 mm de comprimento, possuem coloração
marrom ou mesmo mais escura e têm forma alongada, afunilando nas extremidades.
Depositam seus ovos no solo, entre as raízes de gramíneas. As larvas alimentam-se das
raízes de milho e de outras gramíneas, sendo que as recém-nascidas são de coloração
esbranquiçada. As larvas, quando completamente desenvolvidas, adquirem coloração
marrom-amarelada e o corpo alongado torna-se bastante esclerotinizado, medindo
entre 18 e 22 mm quando completamente desenvolvida. O estádio larval dura entre 3 e
7 anos. Apresenta o abdome com muitos segmentos e com uma reentrância no final do
ultimo segmento. Findo esse período, a larva forma uma célula no solo, transformase numa pupa rígida e de coloração branca a marrom brilhante e mede entre 12 e 15
mm de comprimento, permanecendo nesse estádio por um curto período de tempo,
findo o qual emergem os adultos. Os ovos dessa espécie (brancos e esféricos) são
depositados no solo, em massas, sendo que cada uma delas pode conter entre 20 e
40 ovos, medindo em média 0,5 mm cada um. Durante sua vida, uma fêmea pode
depositar entre 200 e 1.400 ovos.
4. Pragas do colmo
Lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848) (Lepidoptera,
Pyralidae)
A mariposa de E. lignosellus mede cerca de 20 mm de envergadura, de coloração
escura, sendo, às vezes, notada na plântula ou mesmo no solo. Os adultos são ativos
à noite e as condições ideais para o acasalamento e a oviposição ocorrem com baixa
velocidade do vento, baixa umidade relativa do ar, temperatura ao redor de 27oC e
completa escuridão. Medem cerca de 20 mm de envergadura. As asas anteriores são
escuras nas fêmeas, enquanto, nos machos, são claras, na parte central, possuindo
as margens escuras. As fêmeas depositam, em média, de 100 a 120 ovos durante
o período de vida. As mariposas vivem de 8 a 40 dias, dependendo do sexo e do
acasalamento.
Os ovos, na maioria das vezes, são colocados no solo, individualmente,
concentrados nos 30 cm ao redor da planta, tornando difícil sua observação. A lagarta
eclode, em média, aos três dias após a oviposição. Inicialmente, alimenta-se das folhas
e, em seguida, desce para o colmo da planta, logo abaixo do nível do solo, penetrando
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
em seu interior, onde se alimenta. A coloração da lagarta, quando completamente
desenvolvida, é esverdeada, com anéis e listras de coloração vermelho-escura e mede
cerca de 16 mm. A lagarta, geralmente, fica associada à planta hospedeira, construindo
um casulo, na parte externa, com restos vegetais, terra e teia, dentro do qual se abriga.
Findo o período larval (média de 14 a 20 dias, dependendo das condições ambientais),
a lagarta transforma-se em crisálida, no solo, próximo da haste da planta e, após
aproximadamente oito dias, emerge o adulto.
Os maiores prejuízos para a cultura do milho são causados nos primeiros 20 dias
após a germinação da planta. Portanto, para se identificar a presença da lagarta-elasmo
no campo, deve-se proceder ao levantamento, considerando a fase de risco. Quando
o ataque ocorre em plantas recém-emergidas, às vezes não se tem tempo de perceber
o ataque da praga, devido ao secamento de toda a planta e à sua remoção por ação do
vento. No entanto, em plantas mais desenvolvidas é comum se verificar o sintoma de
dano conhecido como “coração morto”, ou seja, folhas centrais mortas, facilmente
destacáveis e folhas externas ainda verdes.
Broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis (Fabricius, 1794) (Lepidoptera,
Pyralidae)
O inseto conhecido vulgarmente como broca da cana-de-açúcar é, hoje, uma
grande preocupação na cultura do milho. A mariposa é de coloração amarelo-palha,
com aproximadamente 20 mm de envergadura. Os ovos de cor branca a amarela são
colocados de maneira sobreposta, tomando um aspecto semelhante a “escamas” nas
folhas e no colmo do milho e, num intervalo de quatro a nove dias, ocorre a eclosão
das lagartas, que, inicialmente, alimentam-se da folha. Posteriormente, dirigemse para a bainha e penetram no colmo, fazendo galerias ascendentes. A lagarta
apresenta a cabeça marrom e o corpo esbranquiçado, com inúmeros pontos escuros.
O período larval médio é de 44 dias. Quando atinge o completo desenvolvimento, a
lagarta constrói uma câmara, alargando a própria galeria até o colmo, onde corta uma
seção circular, que fica presa com fios de seda e serragem e transforma-se em pupa,
permanecendo nesse estádio por um período variável de 9 a 14 dias até emergir o
adulto.
As lagartas de D. saccharalis ocasionam, no milho, danos semelhantes aos
vistos em cana-de-açúcar, como coração morto, quebra de colmos, decréscimo do
desenvolvimento da planta, redução no número de colmo e tamanho das espigas. A
queda no rendimento de milho devido ao ataque da praga tem sido relacionada com
a diminuição no número e no tamanho de espigas. Os prejuízos diretos causados pela
lagarta, através da penetração e da alimentação no interior do colmo, aparentemente
não são importantes quando o ataque ocorre em plantas mais desenvolvidas, pois a
planta atacada produz normalmente, mesmo sob condições de forte infestação natural.
No entanto, através das galerias, a broca torna a planta bastante suscetível à queda por
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
ação do vento, prejudicando a colheita mecânica das espigas ou o corte mecânico da
silagem e causando prejuízos indiretos elevados, pois, quando a planta cai, os grãos,
em contato com o solo, sofrem ataques de microrganismos ou iniciam a germinação.
Quando o ataque ocorre logo no inicio da implantação da cultura, os prejuízos são
altos devido ao perfilhamento ou ao tombamento ou ainda pela morte das plântulas.
5. Pragas da parte aérea (fase vegetativa)
Mastigadores
Lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera,
Noctuidae)
A lagarta-do-cartucho é a principal praga da cultura do milho por sua ocorrência
generalizada e por atacar todos os estágios de desenvolvimento da planta. A redução
nos rendimentos de grãos devido ao ataque dessa praga varia de 17,7 a 55,6%, de acordo
com o estágio de desenvolvimento e dos genótipos de milho. A mariposa coloca seus
ovos agrupados, formando uma massa que pode conter mais de 300 ovos. O período
de incubação varia de acordo com a temperatura, mas, nos meses de verão, ocorre em
torno de três dias. As larvas recém-eclodidas iniciam sua alimentação pelas partes
mais tenras das folhas, deixando um sintoma de dano característico, pois se alimentam
apenas da parte verde, sem, no entanto, ocasionar furos nas folhas, ou seja, “raspam” a
folha, deixando apenas a epiderme membranosa. As plantas que estão sendo atacadas
são, portanto, facilmente reconhecidas pelas inúmeras pontuações transparentes.
Quando a lagarta passa para o segundo instar, ela começa a furar as folhas, indo
em direção ao cartucho da planta, local onde permanece ate próximo ao estágio de
pupa. Durante o período larval, em torno de 18 a 20 dias, a lagarta consome grande
quantidade de área foliar, geralmente alimentando-se das folhas mais tenras. A lagarta
pode também penetrar no colmo, através do cartucho, fazendo galerias descendentes,
até danificar o ponto de crescimento, ocasionando o sintoma denominado coração
morto. Outro dano provocado pela lagarta-do-cartucho é através do seccionamento
na base do colmo, que pode ser parcial ou total; nesse caso, com a morte da planta. O
ponto de inserção da espiga pode ser também atacado, sendo, nesse caso, com perda
total da produção da planta atacada, devido à não formação de grãos ou pela queda da
espiga com grãos ainda em formação. São também comuns os danos diretamente no
grão em formação dentro da espiga, ocasionando danos diretos, pela alimentação, ou
indiretos, por facilitar a penetração de microrganismos, tais como fungos e bactérias.
Nesse caso, a perda em qualidade do grão e, consequentemente, da própria silagem
é reduzida. A lagarta completamente desenvolvida sai da planta e dirige-se ao solo,
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
penetrando alguns centímetros, onde constrói uma célula, transformando-se, em
seguida, em pré-pupa, com duração de cerca de um dia, findo o qual se transforma em
pupa. O período pupal dura cerca de onze dias.
6. Sugadores
Pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis Fitch, 1856 (Homoptera, Aphididae)
O pulgão-do-milho é uma praga de distribuição cosmopolita. É um inseto sugador
de seiva, que se alimenta pela introdução de seu aparelho bucal nas folhas novas
das plantas. Sua reprodução se processa por partenogênese. Tanto as formas ápteras
quanto as aladas são constituídas de fêmeas larvíparas. O adulto apresenta coloração
geral verde-azulada e as formas ápteras medem cerca de 1,5 mm de comprimento.
As formas aladas são menores e apresentam as asas hialinas transparentes. Tanto
os imaturos quanto os adultos alimentam-se de maneira contínua, extraindo grande
quantidade de seiva. Em baixas populações, o inseto fica confinado em colônias,
geralmente dentro do cartucho da planta. À medida em que a população aumenta,
o inseto ataca praticamente todas as partes da planta. É comum o pendão ficar todo
infestado pela praga. Sua presença ocasiona o desenvolvimento de fungos de coloração
escura (fumagina) sobre os seus dejetos, ricos em aminoácidos, que prejudicam a
atividade fotossintética da planta. Embora seja abundante no campo, muito ainda
precisa ser estudado em relação a algumas fases do ciclo biológico do pulgão. Períodos
secos parecem favorecer aumentos em número da praga e, consequentemente, o dano
à planta hospedeira. Condições de seca causam estresses à planta hospedeira e evitam
o desenvolvimento de fungos entomopatogênicos, que geralmente infectam e matam
os pulgões em condições de alta umidade.
Cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis (Delong & Wolcott, 1923) (Homoptera,
Cicadellidae)
Dalbulus maidis é a cigarrinha mais importante da cultura do milho na América
Latina. Essa espécie, no Brasil, ainda é de importância relativamente pequena
devido aos danos diretos ocasionados através da sucção de seiva. No entanto, por ser
transmissora eficaz de doenças, tem recebido muita atenção dos pesquisadores, pois a
alta incidência das doenças transmitidas pode limitar a produção do milho. A fêmea,
medindo cerca de 5 mm, coloca seus ovos alongados, incrustados na nervura principal,
geralmente no interior do cartucho. Tanto as ninfas como os adultos são sugadores de
seiva. No processo de alimentação em uma planta doente e posteriormente em uma
sadia, ocorre a transmissão e a infecção da doença que, de forma generalizada, pode
ocasionar perdas elevadas nos rendimentos.
Entre as principais doenças transmitidas pela cigarrinha, estão os enfezamentos,
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
que são doenças sistêmicas associadas à presença de microorganismos procariontes,
pertencentes à classe Molicutes (espiroplasma e fitoplasma) no floema das plantas.
Os enfezamentos reduzem significativamente a quantidade absorvida de nutrientes
pelas plantas de milho, com consequente redução na produção, sendo esse efeito
influenciado pela susceptibilidade da cultivar, pela época de infecção das plantas e
pela temperatura ambiente.
Percevejo barriga verde, Dichelops spp. e percevejo verde, Nezara viridula
Linnaeu 1758 (Hemiptera, Pentatomidae)
Em anos recentes e em algumas regiões do país, tem se verificado a ocorrência
dos percevejos Dichelops e Nezara, especialmente em plantas jovens de milho. Os
gêneros são facilmente separáveis, pois o Nezara é totalmente verde e de maior
dimensão, enquanto o Dichelops apresenta o dorso marrom.
Tais insetos geralmente migram da cultura da soja para se alimentar de plântulas
de milho, podendo causar redução do número de plantas por unidade de área. Quando
o ataque ocorre em plantas mais desenvolvidas e a planta não morre, é comum o
aparecimento de perfilhos improdutivos. Além disso, a planta atacada apresenta um
crescimento retardado. Geralmente, tem se verificado apenas a presença de adultos
atacando a planta. No entanto, quando a fêmea coloca seus ovos na plântula, as formas
jovens também se alimentam e danificam a planta. Plantas de milho entre 25 e 30 cm,
quando atacadas por N. viridula, mostram graus distintos de danos, variando desde um
leve murchamento das folhas centrais até a morte da planta. Quando a planta é atacada
na fase de formação de grãos, as espigas se deformam e não há o desenvolvimento
dos grãos ou os mesmos ficam ressecados. Quando o grão é atacado no estádio leitoso
ou pastoso, ele é completamente destruído ou apresenta-se manchado na maturidade.
Outras consequências advindas do ataque na espiga ou nos grãos em formação incluem
a perda na qualidade (diminuição nos teores de óleo, proteína etc.), na estética do
produto “in natura”, industrializado, e redução na germinação da semente.
Cigarrinha-das-pastagens Deois flavopicta (Stall, 1954) (Homoptera, Cercopidae)
A cigarrinha-das-pastagens, D. flavopicta, uma praga-chave na agropecuária
brasileira por causar elevados danos nas pastagens, principalmente em braquiárias,
pode atacar e causar também prejuízos na cultura de milho, embora, nesta, somente os
adultos causem danos. Normalmente, ocorrem três picos populacionais de cigarrinha,
que se sobrepõem de outubro a abril. O primeiro, e maior, ocorre geralmente em
novembro; o segundo, em fins de janeiro e inicio de fevereiro; e o terceiro, em março/
abril. Os ovos que são colocados em março/abril e atravessam o inverno dão origem
ao pico de novembro, que é o mais severo. Tanto nas pastagens quanto no milho, a
cigarrinha prejudica as plantas por sugá-las e injetar uma toxina que bloqueia e impede
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
a circulação da seiva. Plantas de até dez dias de idade são altamente sensíveis e uma
infestação de três a quatro cigarrinhas/planta provoca severos danos, com os sintomas
de ataque e morte da planta sendo verificados dois e quatro dias após a infestação,
respectivamente. Plantas acima de 17 dias de idade toleram bem a sua presença até
os níveis mais altos da infestação. De maneira geral, a capacidade de recuperação das
plantas sobreviventes é grande, isto é, todas as folhas que surgem depois de suspensa
a infestação são normais.
Tripes, Frankliniella williamsi Hood 1915 (Thysanoptera, Tripidae)
A ocorrência de tripes na cultura do milho é relativamente comum, especialmente
nas espigas sem danos econômicos aparentes. No entanto, nos últimos anos a sua
incidência logo após a emergência das plantas tem causado danos significativos, por
provocar sua morte. Muito ainda precisa ser pesquisado em relação a esse inseto;
no entanto, por afetar diretamente o número de plantas na colheita, é um inseto que
deve ser considerado nas estratégias de manejo. Normalmente, a distribuição regular
de chuvas nos dias seguidos ao plantio e a emergência do milho logo em seguida
têm desfavorecido o inseto. Porém, períodos secos muitas vezes obrigam ao uso de
medidas de controle.
7. Cultivares transgênicas
Existem hoje disponívis no mercado brasileiro 104 cultivares de milho
transgênico, resultantes de três eventos básicos para o controle de lagartas, sendo:
56 cultivares contendo o evento MON 810, marca registrada “YieldGard”; 24 com
o evento TC 1507 marca “Herculex I” e 12 apresentando o Agrisure TL, conhecido
como Bt 11; e um evento básico de marca registrada “Roundup Ready 2”, que confere
resistência ao herbicida glifosato aplicado em pós-emergência (12 cultivares). Todas
as versões transgênicas são também comercializadas na versão convencional, são as
mais apropriadas para uso em áreas de refúgio e, obviamente, apresentam as mesmas
características agronômicas, diferindo apenas na característica que lhe é conferida
pelo evento transgênico.
No caso do milho Bt, as pragas-alvo são aquelas dentro da ordem Lepidoptera,
sendo dois eventos expressando a toxina Cry 1A(b) (MON 810 e Bt11) e um evento
expressando a toxina Cry 1F (Herculex). Especificamente, o milho Bt visa ao controle
da lagarta-do-cartucho do milho, S. frugiperda, da lagarta-da-espiga Helicoverpa
zea (Boddie) e da broca da cana-de-açúcar, D. saccharalis (Fabricius). Informações
finalísticas sobre o efeito dos milhos Bt sobre a lagarta-elasmo, Elasmopalpus
lignosellus (Zeller), ainda são necessárias.
Conforme salientado por Lourenção et al. (2009), como toda a tecnologia, os
benefícios econômicos do uso do milho Bt serão alcançados somente se for aplicada
de maneira adequada, seguindo-se as recomendações de órgãos de pesquisa e empresas
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
detentoras das sementes e respeitando-se as diretrizes legislativas que tangem sua
utilização. O uso correto da tecnologia implica em evitar a evolução das pragas para
resistência no sentido de mantê-la eficiente ao longo do tempo, reduzir as aplicações
de inseticidas, evitar contaminações ambientais e, principalmente, melhorar a
rentabilidade do sistema, utilizando-a com o máximo de eficiência.
Lourenção et al. (2009), avaliando a eficiência de híbridos convencional e Bt
(AG7000, AG7000YG, DKB350, DKB350YG, DKB390, DKB390YG, AG8088,
AG8088YG, AS1551, AS1551YG, P30F80, P30F80YG, IMPACTO e IMPACTOTL)
no controle de S. frugiperda, obtiveram diferenças quanto à eficiência de controle
entre os híbridos Bt, além de observar a presença da lagarta-do-cartucho, inclusive
de terceiro instar, em algumas plantas de milho Bt, o que indica que a tecnologia não
elimina a população da praga e que, em altas infestações desta, pode haver prejuízos
econômicos. Resultados promissores foram observados em relação à broca da canade-açúcar. Os autores salientaram também que os híbridos com a tecnologia Bt não
exercem controle sobre corós, larva-alfinete, lagarta-elasmo, percevejos, cigarrinhas,
tripes e pulgões, sendo necessário o tratamento de sementes com inseticidas e/ou
aplicações foliares para controle de algumas destas pragas.
Para a utilização do milho Bt, o produtor deve seguir duas regras básicas: a
da coexistência, exigida por lei, e a do Manejo da Resistência de Inseto (MRI),
recomendada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
Coexistência - A regra exige o uso de uma bordadura de 100 m isolando
as lavouras de milho transgênico daquelas de milho que se deseja manter sem
contaminação. Alternativamente, pode-se usar uma bordadura de 20 m, desde que
sejam semeadas 10 fileiras de milho não-transgênico (igual porte e ciclo do milho
transgênico) isolando a área de milho transgênico.
Manejo da Resistência - a recomendação da Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança para evitar ou retardar o desenvolvimento de população da
praga resistente ao milho Bt é utilizar uma área de plantio denominada “área
de refúgio”. Esta recomendação se baseia no fato de que o cultivo do milho Bt
em grandes áreas resultará na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às
toxinas do Bt.
No Brasil, a área de refúgio deve ser de 10% da área cultivada com milho
Bt, utilizando híbridos não Bt, de iguais porte e ciclo, de preferência os seus
isogênicos. A área de refúgio não deve estar a mais de 800 m de distância das
plantas transgênicas, em função da distância máxima verificada pela dispersão dos
adultos de S. frugiperda no campo. Tal recomendação é para haver sincronismo
de cruzamento entre possíveis adultos sobreviventes na área de milho Bt com
adultos susceptíveis emergidos na área de refúgio. Na área de refúgio, é permitida
a utilização de outros métodos de controle, desde que não sejam utilizados
165
X Seminário Nacional de Milho Safrinha
bioinseticidas à base de Bt.
8. Estratégias de manejo com o milho Bt
Na agricultura mundial, constantemente ocorrem introduções de novas
tecnologias visando aumento da produtividade, diminuição de custo, diminuição de
riscos ambientais etc.. Tais inovações, aliadas a clima favorável, levam a um aumento
de produtividade do milho safrinha, ao longo dos anos, como indicado na Figura
1. Mesmo assim, pode ser percebido na figura que o ganho em produtividade tem
sido variável de região para região, sendo nos últimos dois anos atingiram-se médias
ao redor de 60 sacos por hectare, sendo maior no Centro-Oeste e menor na região
Sul. Estimativa do custo de produção da cultura do milho safrinha 2009 (custeio)
em sistema de plantio direto no município de Maracaju-MS chegou ao equivalente
a 54,71 sacos para uma produtividade esperada de 80 sacos por hectare (Broch &
Pedroso, 2009). Se tal custo de produção representar o custo médio da safrinha, a
margem de lucro para o produtor é pequena.
Apesar das inovações utilizadas, ainda assim os insetos-praga continuam a ser
fator limitante para se obter produtividades ainda maiores. A aplicação dos resultados
de pesquisas desenvolvidas no Brasil permite reduzir os prejuízos ocasionados pelas
pragas, desde que sejam, de fato, utilizadas adequadamente. As espécies de pragas
de milho que ocorrem na safrinha, de maneira geral, são as mesmas que ocorrem
no milho semeado na safra. No entanto, dependendo do manejo utilizado nesta, os
problemas podem ser maiores ou menores na safrinha. Outro agravante diz respeito ao
conhecimento ou ao reconhecimento das espécies que, de fato, são ou serão problema
na área de milho. São três os grupos de insetos de maior importância para o milho
safrinha.
O grupo de maior destaque tem sido aquele representado pelas lagartas
desfolhadoras, notadamente a lagarta-do-cartucho. Essa praga, descoberta como tal em
1797, causa prejuízos econômicos tanto na safra como na safrinha e, de fato, demanda
medidas de controle. A grande dificuldade no seu manejo diz respeito à época de
entrada com as medidas de controle, até então baseada quase que exclusivamente em
produtos químicos. De maneira geral, o controle é realizado; porém, sem nenhum
critério técnico. Dessa forma, além de não se evitar as perdas, há acréscimo no custo
de produção pelo gasto com inseticidas. O uso contínuo de técnicas inadequadas de
manejo da lagarta-do-cartucho favorece o desenvolvimento de populações resistentes
aos inseticidas, além de causar um grande desequilíbrio no agroecossistema no que
diz respeito aos agentes de controle biológico natural.
A disponibilidade comercial de um kit para monitoramento da praga (armadilha
com ferormônio sexual sintético) propiciou um grande aperfeiçoamento no controle
da praga, evitando perdas, reduzindo custos e garantindo produtividade. O uso e
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
a durabilidade de tal inovação, como muitas outras, depende do conhecimento do
agricultor. Muitas vezes, o agricultor prefere uma inovação que não dependa muito
de seu conhecimento. A tecnologia dos transgênicos é, aparentemente, uma destas
inovações. O controle da praga já vem embutido na semente. Não há mudanças radicais
na rotina do produtor. Muito pelo contrário: não há envolvimento de equipamentos
de aplicação, de segurança individual, não envolve uso de agroquímicos, não gasta
água etc.. Portanto, uma inovação apropriada tanto para a safra como para a safrinha
do milho. No entanto, mesmo com todas as expectativas do produtor rural, a inovação
dos transgênicos precisa ser cuidadosamente utilizada.
Nos últimos anos, o volume de informações, especialmente na mídia, é muito
grande, enaltecendo a nova tecnologia. No entanto, resultados de pesquisas e
principalmente de uso em áreas comerciais ainda são carentes no Brasil, especialmente
no que diz respeito à safrinha de milho. Conforme já salientado, embora baseados
em apenas três eventos, já estão disponíveis no mercado brasileiro 104 cultivares. E,
como demonstrado por Waquil et al. (2004), baseando-se na biomassa das lagartas
sobreviventes de S. frugiperda, há variabilidade entre cultivares transgênicas, sendo
consideradas imunes cultivares com a toxina Cry 1F; altamente resistentes cultivares
com a toxina Cry 1A(b); moderadamente resistentes cultivares com as toxinas Cry
1A(b) e Cry 1A(c); e suscetíveis cultivares com as toxinas Cry 1A(c) e Cry 9C. Notase que, dependendo do genótipo onde os genes do Bt são incorporados, as toxinas
podem produzir diferentes respostas. Por exemplo, em uma cultivar com a toxina Cry
1A(b) obteve-se alta resistência e em outra cultivar com a mesma toxina a resistência
foi moderada. Portanto, não basta a escolha de uma cultivar de milho Bt. O agricultor
deve procurar por aquelas cultivares que proporcionem melhor custo/benefício.
Logicamente, devem ser levados em conta também o valor econômico da cultivar na
composição do custo de produção e a expectativa de produtividade.
Além da lagarta-do-cartucho, que é o foco atual das cultivares transgênicas, deve
ser considerada a necessidade de medidas de controle contra as pragas subterrâneas
e mesmo contra as pragas da parte área, atacando as plântulas. De maneira geral, o
milho Bt não tem ação eficaz sobre tais pragas. Como a semente do milho transgênico,
no momento, é de custo mais elevado do que a semente convencional, sua proteção
contra fatores adversos será necessária. Assim sendo, o tratamento da semente com
inseticida sistêmico, escolhido de acordo com a predominância das pragas na região
onde o milho será cultivado, é uma prática recomendada. Tal tratamento também
deverá ser utilizado na área de refúgio. O retorno econômico do tratamento de
sementes com inseticidas no milho safrinha, de modo geral, é compensador, conforme
demonstrado por Ceccon et al. (2004).
Atualmente, tem sido verificada uma infestação crescente da broca da canade-açúcar em milho, especialmente na safrinha. É um inseto cuja fase imatura,
167
X Seminário Nacional de Milho Safrinha
conhecida por “broca”, passa a maior parte do seu ciclo no interior do colmo da
planta, alimentando-se dos tecidos e provocando galerias. Quanto maior o tamanho da
galeria, menor será o rendimento da planta. O problema é identificar a praga em tempo
suficiente para entrar com medida de controle, pois uma vez dentro do colmo não há
mais o que fazer em termos de controle convencional. O uso de armadilha colante
contendo fêmeas da praga como atraente tem sido muito útil no monitoramento da
espécie. Levantamentos realizados pela Embrapa através da coleta de insetos adultos
durante a fase de desenvolvimento da planta sugerem que a praga é mais importante
do que se pensa, ocorrendo tanto em áreas próximas ou distantes da cana-de-açúcar,
um hospedeiro preferencial da praga.
Resultados obtidos na Embrapa e em outras instituições têm demonstrado a
efetividade do milho transgênico na supressão do inseto. Portanto, monitoramento da
praga pode indicar a viabilidade ou a necessidade do uso de uma cultivar de milho Bt
como medida de controle da praga. Na realidade, ao se optar pelo uso do milho Bt no
milho safrinha, o agricultor deve ter em mente que a tecnologia não é uma tecnologia
simples e de baixo custo. Muito pelo contrário. Para que se tenha aproveitamento
máximo, há necessidade de se conhecer e de se praticar as recomendações de uso da
cultivar de milho Bt. Inclusive, será necessária uma vigilância maior na área cultivada.
Deve ser lembrado sempre que, ao se mudar de uma prática agrícola para outra, no
caso específico: do uso do milho Bt para o controle da lagarta-do-cartucho, outros
problemas poderão surgir. E, em função dessa premissa, o agricultor precisa estar
alerta. É o caso, por exemplo, da possibilidade de aumento da população de insetos
sugadores, muitas vezes controlados conjuntamente com a lagarta-do-cartucho através
das pulverizações dirigidas à espécie.
9. Considerações finais
A disponibilidade comercial de plantas de milho Bt agrega uma importante
inovação no sistema produtivo, tanto do milho cultivado na safra como na safrinha.
No entanto, seu uso exclusivo não é ainda suficiente para eliminar os prejuízos
causados pelo ataque de pragas, seja nas sementes, nas raízes ou na parte aérea.
Existem opções de manejo de pragas no cultivo de milho convencional,
dependendo apenas de maior conhecimento por parte dos agricultores. Algumas
dessas opções na realidade são necessárias, tanto para plantio de milho convencional
como para o plantio de milho transgênico, como aquelas utilizadas no controle de
pragas de hábito subterrâneo ou de pragas da parte área, notadamente os insetos
sugadores. Especificamente no caso da broca da cana-de-açúcar, aparentemente
existem vantagens comparativas com o uso do milho Bt.
A utilização de armadilha contendo atraente sexual para captura dos adultos de
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X Seminário Nacional de Milho Safrinha
S. frugiperda e de D. saccharalis pode ser uma ferramenta muito importante para
detectar quebra de resistência da planta transgênica
TABELA 1. Efeito de diferentes inseticidas via tratamento de sementes sobre o
rendimento de grãos de milho na safrinha
Tratamentos
kg/ha
%
kg+
Thiamethoxan
5.664
134
1.440
Carbofuran
5.347
127
1.123
Imidaclorprid + carbofuran
5.334
126
1.110
Fipronil
5.343
94126
1.119
Thiodicarb
5.379
127
1.155
Testemunha
4.224
100

Fonte: Ceccon et al. (2004)
10. REFERÊNCIAS
BROCH, D.L.; PEDROSO, R.S. Custo de produção do milho safrinha. In: Fundação
MS: Tecnologia e Produção: Milho Safrinha e Culturas de Inverno 2009. www.
fundacaoms.org.br (acesso em 14 de outubro de 2009)
CECCON, G.; RAGA , A.; DUARTE , A.P.; SILOTO , R.C. Efeito de inseticidas na
semeadura sobre pragas iniciais e produtividade de milho safrinha em plantio direto.
Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004
CECCON, G.; XIMENES, A.C.A. Sistemas de produção de milho safrinha em
Mato Grosso do Sul. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.
infobibos.com/Artigos/2006_3/SisSafrinha/index.htm>. Acesso em: 12/10/2009
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CRUZ, I.; BIANCO, R. Manejo de pragas na cultura de milho safrinha. In:
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20.
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