Contexto socioambiental do bairro Vila Lobo no município do Crato

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VI Seminário Latino Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Contexto socioambiental do bairro Vila Lobo no município do Crato,
Ceará - Brasil.
AUTORES: SOUSA, Claire Anne Viana (1); TELES, Maria do Socorro Lopes (2)
INSTITUIÇÃO(ÕES): (1) Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH); (2)
Universidade Regional do Cariri - URCA
Email dos AUTORES: [email protected] , [email protected];
RESUMO
A área de estudo é o bairro Vila Lobo localizado na parte urbana da cidade do Crato,
sul do Estado do Ceará – Brasil. O bairro situa-se num platô entre os vales dos Rios
Saco e Lobo e do Riacho Constantino. Constituí-se de um núcleo próximo à rodovia
Pinto Madeira, CE-386, que liga o Crato à localidade de Arajara no município de
Barbalha. Destaca-se no centro comunitário: igreja, escola, quadra de esportes, clube e
posto de saúde e, mais afastado deste núcleo, um conjunto habitacional construído no
início da década de 90, com 214 unidades e uma creche. Verificam-se ocupações nas
proximidades das linhas dos talvegues, onde já ocorrem preocupantes voçorocas. O
objetivo deste trabalho foi mostrar os tipos de área de risco presentes, seguindo
alguns critérios: falta de vegetação; drenagem; declividade do terreno; inclinação de
árvores e postes; trinca nos muros; moradia próxima a córregos, entre outros. Na
metodologia utilizou-se consulta bibliográfica, visitas de campo com GPS, registro
fotográfico, questionários para entrevistas com os lideres locais, seguida de
organização e analise dos dados. O bairro é ocupado basicamente por famílias de
baixa renda e baixo nível de escolaridade, não dispõem de quase nenhuma estrutura
de saneamento básico, poucas ruas são pavimentadas, e os esgotos são a céu aberto.
Dentre os resultados obtidos detectou-se que o destino do esgoto primário
geralmente são as fossas, e estas quando cheias extravasam juntando-se com o esgoto
secundário e são lançadas a céu aberto, normalmente na via pública. Esta situação,
comum em todo o bairro, propicia além dos problemas inerentes à saúde, o
crescimento do mato, o mau cheiro, a proliferação de insetos e o prejuízo ao aspecto
visual do logradouro. A ausência de drenagem de águas pluviais ocasiona, mesmo com
precipitações de baixa intensidade, o agravamento das erosões tantos nos
calçamentos como nas voçorocas, podendo-se observar cicatrizes erosivas em várias
áreas do bairro.
Palavras-chave: erosão urbana; uso-ocupação do solo; planejamento territorial
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
INTRODUÇÃO
O bairro Vila Lobo localiza-se na cidade do Crato – CE, Brasil, pertence à micro bacia
do Rio Saco/Lobo, que inclui ainda os bairros: Alto da Penha, Pinto Madeira, Mutirão,
São Miguel, Mirandão, Granjeiro e Muriti. Todas essas comunidades têm feito uso do
rio como deposito de efluentes diversos embora somente nos primeiros 4 km ele seja
perene.
O bairro em foco situa-se num platô entre os vales dos Rios Saco e Lobo e do Riacho
Constantino. Constituí-se de um núcleo próximo à rodovia Pinto Madeira, CE-386, que
liga o Crato à localidade de Arajara no município de Barbalha. (Figura 01).
Figura 01: Localização do bairro Vila Lobo – Crato Ceará - Brasil
O processo de urbanização da microbacia deu-se principalmente pela ocupação de
áreas desprovida de infra-estrutura urbana, formação de pequenos loteamentos
clandestinos e invasões de áreas públicas e particulares.
O bairro Vila Lobo foi escolhido para esta pesquisa por se tratar de um bairro
pequeno e bem delimitado, praticamente isolado da cidade do Crato, separado do
restante da área urbana pelo vale do Rio Saco e Lobo e da área rural pelo Riacho do
Constantino.
Constituí-se de um núcleo de 400 casas próximas à rodovia Pinto Madeira onde se
localizam os principais equipamentos comunitários: igreja, escola, quadra de esportes,
clube e posto de saúde e, mais afastado deste núcleo, um conjunto habitacional
construído no início da década de 90, com 214 unidades e uma creche. Possui muitas
áreas ainda não ocupadas, deste modo a densidade habitacional do bairro é baixa, mas
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a presença de resíduos sólidos nas áreas desabitadas é marcante. Destacam-se as
ocupações nas proximidades das linhas dos talvegues, onde já ocorrem voçorocas.
O objetivo deste trabalho foi mostrar os tipos de área de risco presentes na área,
seguindo alguns critérios: falta de vegetação; ausência de drenagem; declividade do
terreno; inclinação de árvores e postes; trinca nos muros; moradia próxima a córregos,
entre outros. Na metodologia utilizou-se consulta bibliográfica, visitas de campo com
GPS, registro fotográfico, questionários para entrevistas com os lideres locais, seguida
de organização e analise dos dados.
“É crescente a demanda para pesquisar os impactos ambientais urbanos, na qual é
fundamental a compreensão da cidade moderna (novas mudanças na forma de
produção, função, estrutura, dinâmica e infra-estrutura), como movimento, e as
relações entre a sociedade e a natureza. O mapeamento de impactos ambientais
certamente guardará estreita relação com a espacialização diferencial das classes
sociais na cidade, peculiar a cada momento de sua história social e política” (GUERRA
& CUNHA, 1996).
O resultado final mostrou que o processo de urbanização no bairro Vila Lobo
suprimiu a vegetação natural dos talvegues, isso contribuiu para o início e/ou a
aceleração de processos erosivos, e que as ações antrópicas atuais são responsáveis
pela continuidade destes eventos.
OBJETIVOS
“A realidade de um espaço urbano é representativa de um estágio histórico dos
movimentos de mudanças sociais e ecológicas (particulares e gerais) combinadas, que
modificam permanentemente o espaço em questão..." (COELHO, 2001). É neste
contexto que o presente trabalho retrata seus principais objetivos, aparado por dois
elementos fundamentais para compreensão do espaço urbano: a sociedade e o meio
físico. No caso do meio físico as erosões estão associadas às porções susceptíveis do
relevo local, e ocorrem também, induzidos pelas ações antrópicas. o Exemplo disto são
os eventos induzidos por desmatamentos e cortes nas encostas para implantação de
moradias, ruas e estradas, bem como a disposição final do lixo e dos esgotos, com
saneamento incipiente ou ausente. Este cenário contribui para manter um quadro de
erosão com formação de ravinas e voçorocas, refletindo as formas impróprias de
ocupação do relevo e uso do solo com ausência de técnicas conservacionistas e
planejamento urbano adequado.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
MATERIAIS E METODOS
A área em estudo está localizada no sopé da Chapada do Araripe numa altitude
média de 460m em terrenos da Bacia Sedimentar do Araripe. No platô onde ocorre a
urbanização aflora a Formação Rio da Batatateira, constituída de areia fina com
coloração avermelhada, e predominância de solos frágeis. Na metodologia utilizou-se
consulta bibliográfica, visitas de campo com GPS, registro fotográfico, questionários
para entrevistas com os lideres locais, seguida de organização e analise dos dados.
RESULTADOS
No aspecto da infra-estrutura o bairro possui 70% das ruas pavimentadas com
pedra tosca, entretanto, as calçadas são escassas, há acúmulo de lixo, mato e a
presença constante de águas servidas nas coxias dificultam o trânsito dos pedestres.
Segundo dados do Sistema de Informação de Atenção Básica – DATASUS/MS a coleta
de lixo tem uma cobertura de 75,27% das residências (SIAB/2006), mas os moradores
reclamam da pontualidade (não há horário preestabelecido para a coleta) e às vezes
da freqüência, o que tem provocado o aumento de lixo em terrenos baldios, nos
talvegues e no espalhamento do mesmo pelos animais e pelos ventos. (Figura 02 e 03).
Figura 02 – Rua Antonio Antuerpio Gonzaga Figura 03 – Terreno sem habitação usado
de Melo, esgoto à céu aberto.
para colocação de lixo.
A rede de distribuição de água atende 93,99% das unidades conforme dados do
SIAB – DATASUS/MS, porém a água captada de dois poços profundos não é tratada e
há reclamação de irregularidade no seu fornecimento durante o período seco devido à
baixa capacidade da bomba. O programa de cloração das águas dos poços que
abastecem os domicílios foi interrompido por falta de material.
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Já a energia elétrica atende a 94,17% das habitações (SIAB/2006), embora em
alguns pontos haja deficiência da iluminação pública.
O fator mais agravante é que não há sistema de esgotamento sanitário no bairro. O
destino do esgoto primário (vaso sanitário) geralmente são as fossas, e estas quando
cheias extravasam juntando-se com o esgoto secundário (lavanderia, chuveiro, pia e
lavatório) e são lançadas a céu aberto, normalmente na via pública. Esta situação,
comum em todo o bairro, propicia além dos problemas inerentes à saúde, o
crescimento do mato, o mau cheiro, a proliferação de insetos e o prejuízo ao aspecto
visual do logradouro. Em especial contribuem para o escoamento superficial e o
avanço do processo erosivo, mesmo em período de estiagem (Figuras 04 e 05).
Figura 04 – Rua sem calçamento com Figura 05 – Terreno no entorno da Creche
processo de formação de ravinas.
com ravinas provocadas pelo escoamento de
esgotos do Conjunto Habitacional.
A maioria das casas da Vila Lobo são de alvenaria (80,92%) segundo dados da
SIAB/2006, entretanto, são moradias simples, algumas em estado precário, e refletem
as condições socioeconômicas dos moradores da Vila. Há também a presença
significativa de casas de taipa (18,37%) geralmente nas encostas e próximas às linhas
dos talvegues.
O bairro conta com um clube, uma escola pública municipal, uma igreja católica,
uma associação de moradores, um posto de saúde, uma quadra coberta, uma área que
serve de campo de futebol. O comércio local é incipiente, limitando-se a pequenos
bares e vendas de mantimentos. Outro aspecto precário é o sistema de transporte
público. A maioria da população utiliza-se do serviço de mototáxis para deslocar-se ao
centro.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
O bairro possui uma equipe do Programa de Saúde da Família - PSF e três agentes
comunitárias de saúde que cobrem as 566 habitações, onde reside uma população de
2.246 pessoas.
O agravo maior para eventos de erosão é que a drenagem das ruas é do tipo
superficial, ou seja, através do escoamento pelas sarjetas. Não há galerias de águas
pluviais nem bocas de lobo, constituindo um dos grandes problemas do bairro, pois as
águas das chuvas provocam erosões nos terrenos mais baixos, principalmente àqueles
localizados nos finais das ruas do Conjunto Novo Horizonte e nas áreas dos talvegues,
onde preocupantes voçorocas já se instalaram. A inexistência de drenagem ocasiona
mesmo com precipitações de baixa intensidade o agravamento das erosões tantos nos
calçamentos como nas voçorocas (Figuras 06 e 07).
Figuras 06 e 07 – Voçoroca desenvolvida na margem da Rodovia Pinto Madeira,
comprometendo casas e poste de iluminação publica.
Portanto o bairro em foco é uma área ocupada basicamente por famílias de baixa
renda, que não dispõem de quase nenhuma estrutura de saneamento básico, poucas
ruas pavimentadas, esgotos a céu aberto e baixo nível de escolaridade.
No entorno do bairro as ações antrópicas são visíveis basicamente no campo de
desmatamentos periféricos para ampliação da urbanização e plantações de
monoculturas de subsistência (Figuras 08 e 09).
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Figura 08 – Água poluída e retirada da Mata Figura 09 – Desmatamento para loteamento
Ciliar do Rio Saco para plantio de subsistência. urbano.
A pesquisa mostrou que as áreas de risco estão distribuídas em todo bairro, seja
com relação à intensificação dos riscos de erosão natural devido a presença de ravinas
e voçorocas, que são aceleradas no período da quadra chuvosa (de fevereiro a maio),
ou risco de contaminação publica devido ao lixo acumulado nas ruas e terrenos
baldios, mas principalmente devido a ausência de drenagem urbana e captação dos
esgotos domésticos, que são lançados a céu aberto e contribuem ainda para manter e
evoluir gradativamente o cenário das erosões nas ruas.
AGRADECIMENTOS
Expressamos nossos sinceros agradecimentos aos profissionais que trabalham no
Posto de Saúde Mons. Raimundo Augusto A. Lima (Equipe do PSF e Agentes de Saúde)
e ainda a Associação de Moradores da Vila Lobo Prof Pedro Teles, que contribuíram
com informações relevantes para esta pesquisa.
REFERÊNCIAS
COELHO, Maria Célia Nunes. 2001. Impactos Ambientais em Área Urbanas - Teorias,
Conceitos e Métodos de Pesquisa. In: CUNHA, S. B.da (org), GUERRA, A.J.T.(org).
Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, p.19-45.
GUERRA,A.J.T.(org) CUNHA, S.B.da (org). 1996. Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio
de Janeiro: Bertand Brasil.
SIAB, 2006 – SITE: http://siab.datasus.gov.br/SIAB/index.php. Acesso em 02/04/2007.
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