Controlo de Movimento Modelação de motores de corrente contínua Modelação de máquinas CC 1 1 Introdução • Historicamente, o motor CC foi utilizado de modo universal no controlo de velocidade, até ao desenvolvimento, sustentado, dos inversores de tensão, baseados em semicondutores de potência (tirístores, inicialmente, e GTOs e IGBTs mais recentemente) associados aos motores CA • O sistema conhecido como Ward-Leonard foi utilizado durante largo tempo em accionamentos de elevado desempenho – Ver Anexo • Ainda hoje, uma parte importante dos accionamentos controlados é uma versão electrónica do sistema Ward-Leonard Modelação de máquinas CC 2 2 O motor de corrente contínua (revisão). Estrutura e circuitos • O motor de corrente contínua contém dois circuitos: – O do campo, que se situa na parte fixa do motor e consiste em enrolamentos colocados à volta dos polos magnéticos do estator, ou em ímanes permanentes – O da armadura, ou induzido, que se situa no rotor Estrutura (corte) e circuitos de um motor de corrente contínua Modelação de máquinas CC 3 3 Estrutura e circuitos • O número de polos é par e os enrolamentos são percorridos pela mesma corrente – O objectivo do circuito indutor é magnetizar os polos do motor, criando um fluxo magnético no entreferro, entre o estator e o rotor – O circuito indutor não será necessário se forem utilizados ímanes permanentes no estator • O circuito de potência de um motor CC é a armadura, e está situado no rotor – Consiste em enrolamentos colocados em ranhuras – Se metade de um enrolamento está sob um polo norte, a outra metade estará sob o polo sul adjacente Modelação de máquinas CC 4 4 Estrutura e circuitos • Quando circula corrente num enrolamento, as forças devidas à interacção entre a corrente e o fluxo serão iguais e opostas nos dois lados do enrolamento. Juntas produzem o binário com que o enrolamento contribui para o binário total • Os enrolamentos são ligados em série formando um circuito fechado • A armadura dispõe, ainda, de um comutador (colector) constituído por um conjunto de lâminas isoladas umas das outras – Os terminais final de uma bobina e inicial da bobina adjacente são ligados à mesma lâmina – O comutador está fixo ao rotor e roda com ele. A corrente chega às bobinas através de um par de escovas de grafite que contactam com as lâminas do colector. Garante-se, assim, uma corrente constante sob um polo do estator, independentemente do movimento do rotor Modelação de máquinas CC 5 5 Estrutura e circuitos • Os circuitos magnéticos do campo indutor e da armadura estão mutuamente desacoplados – O fluxo criado pelo indutor não liga com os enrolamentos da armadura • A rápida variação da corrente da armadura, em caso de perturbação dinâmica, pode ser obtida sem haver interacção do fluxo indutor Modelação de máquinas CC Orientações espaciais do fluxo indutor e da f.m.m. da armadura num motor CC 6 6 Estrutura e circuitos • O conjunto comutador-escovas permite transformar uma fonte de corrente contínua numa corrente alternada, a que circula nas bobinas – Este conjunto é, no entanto, uma desvantagem dos motores CC aumentando o seu custo e, fundamentalmente, a sua manutenção – As escovas e, mais lentamente, as lâminas do colector, deterioram-se com o tempo – Também, a imperfeição da rotação implica a ocorrência de arcos eléctricos, impedindo a utilização deste motor em ambientes perigosos • Apesar da excelente regulação e controlabilidade do motor CC, este tem perdido muitos campos de aplicação, nos accionamentos controlados – Para o motor assíncrono – Para os “novos” motores síncronos Modelação de máquinas CC 7 7 F.e.m. induzida • Considerando uma máquina com P polos, Z condutores na armadura, um fluxo por polo Φf e uma velocidade de rotação nr: e=Z dΦ f =Z Φf dt t t é o intervalo de tempo que os condutores demoram a cortar Φf linhas de fluxo 1 1 t= = P n 2 × freq. 2 r 2 60 Substituindo obtém-se e= Modelação de máquinas CC ZΦ f Pnr 60 8 8 F.e.m. induzida • Se os condutores da armadura estiverem divididos em a percursos paralelos resulta ZΦ f Pnr e= 60a a depende do tipo de enrolamento • Habitualmente: e = K Φ f ωm com ωm = 2πnr / 60; K = ( P / a ) Z (1 / 2π) • Se o fluxo indutor for constante, a f.e.m. induzida é proporcional à velocidade e a constante de proporcionalidade designada por constante de f.e.m., Kb e = K b ωm K b = Kφ f Modelação de máquinas CC 9 9 F.e.m. induzida • Sendo Nf o número de espiras, if a corrente de campo e Rm a relutância do circuito de fluxo mútuo, o fluxo indutor é obtido a partir de: N f if Φf = ℜm • O fluxo mútuo é o resultante dos fluxos da armadura e de campo. Substituindo em Kb: KN f i f Kb = = Mi f ℜm • M é a indutância mútua fictícia entre os enrolamentos da armadura e do campo dada por: M= Modelação de máquinas CC KN f ℜm = P Z Nf π 2a ℜ m 10 10 Saturação do motor • Z/(2a) é o número de espiras da armadura por caminho paralelo e, juntamente com o produto pelo número de espiras do circuito de campo Nf, resulta na definição de indutância mútua – O factor P/π torna-a uma indutância fictícia. Substituindo pode obter-se: e = Mi f ωm • A indutância mútua depende da relutância do circuito magnético – Sendo linear numa zona alargada de corrente, satura para valores mais elevados Curva de magnetização de um motor CC Modelação de máquinas CC 11 11 Circuito equivalente e binário • A evolução das correntes nos dois circuitos é dada por: dia + Raia + e dt di f vf = Lf + Rf if dt • Em regime permanente: va = La Va = Ra I a + E Vf = Rf I f Circuitos equivalentes do campo e da armadura de um motor CC • A potência absorvida pela armadura: Va I a = Ea I a + Ra I a 2 Modelação de máquinas CC 12 12 Circuito equivalente e binário • A potência electromagnética no entreferro, Pa, é dada por: Pa = ωmTe = Ea I a • O binário: E I Te = a a ωm • Substituindo a f.e.m., Ea=Kbωm , obtém-se: Te = K b I a – As constantes de binário e f.e.m. são iguais (se expressas em unidades S.I.) Modelação de máquinas CC 13 13 Modelação electromecânica • Modelando a carga como uma inércia, um coeficiente de atrito e uma constante: dω J m + B1ωm = Te − T1 = Ta dt • Em espaço de estados obtém-se: dia − Ra dt La d ωm = K b dt J Ou: K 1 − b i La a + La B1 ωm 0 − J 0 v a 1 T − 1 J ⋅ X = AX + BU Modelação de máquinas CC 14 14 Modelação electromecânica X = [ia Ra − A = La Kb J ωm ]T ; U = [va T1 ]T ; K 1 − b La ; B = La B 0 − 1 J 0 . 1 − J • Os valores próprios apresentam sempre parte real negativa – O motor é estável em malha aberta λ1, λ 2 = R B − a + 1 ± La J 2 R B K 2 Ra B1 + − 4 a 1 + b JLa JLa La J . 2 Modelação de máquinas CC 15 15 Diagramas de blocos e Funções de transferência • A partir da transformada de Laplace, obtém-se para Ia(s) e ωm(s): V ( s) − Kb ωm ( s) I a ( s) = a Ra + sLa ωm ( s ) = K b I a ( s ) − T1 ( s ) B1 + sJ • Em diagrama de blocos: Diagrama de blocos de um motor de excitação separada Modelação de máquinas CC 16 16 Diagramas de blocos e Funções de transferência • As funções de transferência para ω são: ω (s) GωV ( s ) = m Va ( s ) = T1 ( s ) = 0 Kb s ( JLa ) + s ( B1La + JRa ) + ( B1Ra + K b 2 ) 2 ω ( s) − ( Ra + sLa ) Gω1 ( s ) = m = T1 ( s ) V ( s ) =0 s 2 ( JLa ) + s ( B1La + JRa ) + ( B1Ra + K b 2 ) a • A velocidade depende das duas variáveis actuantes no motor: a tensão da armadura e o binário resistente ω( s) = GωV ( s)V ( s) + Gω1( s)T1 ( s) • A transformada inversa de Laplace permite obter a resposta temporal Modelação de máquinas CC 17 17 Métodos de excitação do motor • Os circuitos da armadura e do campo podem ser colocados: – Em separado: motor de excitação separada – Em paralelo: motor shunt – Em série: motor de excitação série • O fluxo no motor depende da f.m.m. criada (NI). O mesmo fluxo pode ser obtido com: – Poucas espiras e corrente elevada (motor série), ou – Muitas espiras e corrente pequena (motor shunt e de excitação separada) • Naturalmente, a excitação separada permite uma maior flexibilidade sendo utilizada na maior parte dos accionamentos – Apenas no domínio da (antiga) tracção eléctrica existem os motores série Modelação de máquinas CC 18 18 Motor shunt • O motor de excitação shunt não necessita de uma fonte para o campo indutor – Bom para accionamentos a velocidade fixa Circuito equivalente e característica velocidade-binário de um motor de excitação shunt Modelação de máquinas CC 19 19 Motor série • No motor de excitação série, não há independência entre os valores da corrente de excitação e da corrente da armadura – O binário é proporcional ao quadrado da corrente Circuito equivalente e característica velocidade-binário de um motor de excitação série Modelação de máquinas CC 20 20 Motor série • Para a f.e.m. e a tensão na armadura 1500 Volts DC 25 kV, 50 Hz K b = Kφ f = KK1i f = K ' ia va = Raia + Rseia + K ' ia ωm • Para o binário Te = K bia = K ' ia 2 Te = K ' ia 2 = K ' Modelação de máquinas CC va 2 (Ra + Rse + K ' ωm )2 Característica velocidade-binário de um motor de excitação série 21 21 Referências • R. Krishnan, “Electric Motor Drives. Modeling, Analysis and Control”, Prentice-Hall, 2001 • N. Mohan, “Electric Drives. An Integrative Approach”, MNPERE, Minneapolis, 2001 Modelação de máquinas CC 22 22 Referências • R. Krishnan, “Electric Motor Drives. Modeling, Analysis and Control”, Prentice-Hall, 2001 • N. Mohan, “Electric Drives. An Integrative Approach”, MNPERE, Minneapolis, 2001 Modelação de máquinas CC 23 23 Anexo O sistema Ward-Leonard Controlo de campo do gerador 5 + 1 Motor CA 3 Excitatriz 2 Gerador CC - Conjunto Ward-Leonard Carga accionada - 4 Motor controlado + 6 Controlo de campo do motor Diagrama de controlo de um sistema Ward-Leonard para um motor CC Modelação de máquinas CC 24 24 O sistema Ward-Leonard Funcionamento 1. No arranque, a excitação do gerador é aproximadamente nula, garantindo uma tensão no induzido perto de zero 1. Esta tensão é aplicada ao motor controlado 2. A tensão de excitação do motor é colocada no seu valor máximo (o nominal) 2. O aumento da tensão de excitação aumenta a tensão aplicada ao motor, garantindo-se, também, controlo da polaridade 3. O controlo de velocidade do motor é obtido a partir do controlo da excitação do gerador 4. O sistema possibilita a frenagem regenerativa bastando, para isso, diminuir a tensão no induzido do motor 1. A corrente inverte-se e o gerador passa a funcionar como motor 2. O motor CA, por seu lado, passa a funcionar como gerador devolvendo energia à rede Modelação de máquinas CC 25 25 O sistema Ward-Leonard Gama de velocidades • A manutenção do campo indutor do motor constante, no seu valor máximo, permite obter o máximo binário em função da corrente – No entanto, a máxima velocidade possível é atingida com a máxima tensão na armadura, que é função do valor máximo do campo do gerador. Esta velocidade máxima toma a designação de velocidade base do motor • No entanto, os motores são projectados para operar a velocidades superiores a esta velocidade base, até 2 a 3 vezes • A redução da tensão de excitação aplicada ao motor (enfraquecimento de campo), diminui a f.e.m., permitindo que a velocidade suba • Nesta zona de operação, o binário disponível diminui, já que é proporcional quer à corrente na armadura quer ao fluxo – Trata-se de uma operação a potência constante Modelação de máquinas CC 26 26 O sistema Ward-Leonard. Características • A utilização de conversores estáticos de potência substituíu o sistema Ward-Leonard rotativo que, tendo um bom comportamento dinâmico, apresenta algumas desvantagens – O custo do sistema (com diversas máquinas rotativas), a manutenção, e o dimensionamento são as principais • O motor e o gerador do sistema devem ter um dimensionamento em potência superior ao do motor – O espaço ocupado e a manutenção (especialmente do gerador CC colector e escovas), são desvantagens importantes • O ruído e a vibração gerados por este sistema são desvantagens que não existem no sistema estático Modelação de máquinas CC 27 27