o espírito do abismo: pós-modernidade e educação

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O ESPÍRITO DO ABISMO: PÓS-MODERNIDADE E EDUCAÇÃO
SOARES*, Genipo - UEL
[email protected]
VOLPATO**, Rosangela - UEL
[email protected]
Resumo
A designação do presente texto encera em si o resgate da discussão sobre a emergência de
uma nova racionalidade, que pode se intitular como pós-modernidade, se justificando como
um primeiro momento de uma proposta de pesquisa que visa tecer os liames possíveis entre
esta nova configuração e a compreensão sobre a educação e o educador, em suas concepções
e perspectivas. Assim, o referente artigo busca configurar a passagem da racionalidade
moderna para uma racionalidade pós-moderna, na qual o homem parece ensaiar não o
abandono da ilha de previsibilidade da ciência moderna, mas à integração, também, do
indômito, que se encontra, não só na encosta desta ilha, mas, também dentro de nós. Ou seja,
o que se ensaia neste texto, igualmente é a configuração deste “homem peninsular”, que não
ignora o mar, pois sabe que a dilaceração imposta pelo conhecimento moderno apesar de lhe
ter encaminhado até a “beira do abismo”, deve dar lugar a integração. Em suma, o leitor
encontrará neste artigo um ensaio sobre aonde o método (caminho) moderno nos trouxe
(posição esta que optou pela disjunção que não mais traduz a eloqüência de nossa realidade) e
para onde está caminhando a nova configuração, que emerge diante da exaustão de um antigo
modelo que se pretendia como síntese universal e consistente. Deste modo, igualmente, a
condição pós-moderna denota uma expectativa frente ao horizonte aberto ou devastado.
Conseqüentemente e, por fim, tal analise, também, se justifica como uma tentativa de
compreensão de nossa contemporaneidade, a fim de vislumbrar uma nova linguagem que
traduza o nosso mundo e, quem sabe, novas ações educativas.
Palavras-chave: Educação; Pós-modernidade; Modernidade; Nietzsche; Complexidade.
O título faz alusão ao quadro Der wanderer über dem nebelmeer de Caspar David
Friedrich, no qual um homem se equilibra a beira de um abismo, diante de um tempestuoso
mar. A imagem parece ser perfeita ao tema que nos propomos. Isto porque resgata uma
metáfora cara à era moderna1 e parece ilustrar uma perspectiva que vem tomando fulgurações
cada vez mais nítidas na atualidade, estabelecendo-se como a insígnia de uma nova era.
*
Graduado em filosofia (UEL), Mestrando do Programa de Mestrado em Educação Escolar (UEL) e
participante do grupo de pesquisa: Complexidade e Educação.
**
Professora/Orientadora do Programa de Mestrado em Educação Escolar e coordenadora do grupo de pesquisa:
Complexidade e Educação.
1
Segundo a distinção de Hannah Arendt, se compreende a era moderna como o período que se inicia no séc.
XVII, com um repúdio a um deus que é pai e uma natureza que é mãe, e termina no limiar do séc. XX, enquanto
que o mundo moderno surge “com as primeiras explosões nucleares atômicas”(ARENDT, 1993, p. 14).
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O mar, por seu caráter misterioso, que coaduna em si a tempestade e a calmaria diante
de seu “tramar alternante”, tem se substanciado como uma figura perfeita à aventura éticaestética-epistemológica do homem cognoscente. O que fez com que poetas como Goethe e
filósofos como Nietzsche recorressem a esta imagem em suas obras.
Contudo, a imagem parece ganhar um atestado de força quando constatamos que até
mesmo Emmanuel Kant, com toda a sua “cientificidade”, em sua árida “Crítica da Razão
Pura” não resistiu ao encanto desta metáfora:
[...] agora não apenas viajamos pelo país da razão pura [...] mas também o medimos,
e determinamos a cada coisa nele o seu lugar. Mas esse país é uma ilha [...]
rodeada de um vasto oceano tempestuoso, [...] onde muitos bancos de nevoeiro e
muito gelo logo derretido fingem ser novas terras, e na medida em que
incessantemente ilude com esperanças vazias o marinheiro anelante por novas
descobertas, enreda-o em aventuras das quais ela não poderá mais sair, mas que
jamais consegue levar a cabo (KANT apud SAFRANKI, 2001, p. 68, grifo nosso).
Assim, com essa surpreendente imagem, por surgir de um eminente iluminista, Kant
dá a essência do que pode se considerar como a insígnia da era moderna: a medição e a
determinação das coisas; em uma palavra, a previsibilidade, em detrimento do ilusório que
deve ser simplesmente ignorado. Do mesmo modo, o posto fragmento, revela que Kant
estava cônscio dos limites de uma explicação racional do mundo. Tal posição explica a
crítica de Nietzsche, que propõe a rejeição, na doutrina moral kantiana, bem como em toda a
filosofia de Kant, das idéias de autonomia, rigorismo e formalismo, por consistirem, segundo
sua apreciação, numa artimanha de um espírito que chegou a “beira do abismo”, visualizou o
oceano tempestuoso e indeterminado do Ser e sentiu, posto a covardia, a necessidade de se
refugiar novamente numa “jaula”2.
Igualmente, é interessante notar que Nietzsche, também ressaltando o caráter
indômito do mar, num sentido ontológico, em sua obra “Gaia Ciência” parece responder
diretamente à Kant, ao mesmo tempo em que expõe a alegria trágica de sua filosofia:
Finalmente nossos navios podem partir de novo, para todos os perigos, é novamente
permitida toda a audácia do cognoscente, o mar, o nosso mar, está outra vez aberto,
talvez nunca tenha havido um “mar tão aberto” (NIETZSCHE apud SAFRANSKI,
2001, p.69).
2
No aforismo 335 da Gaia Ciência Nietzsche fala de Kant como uma raposa que se extravia e volta para a jaula
depois de té-la arrombado com “sua força e esperteza”. Desta forma, Nietzsche faz alusão a inicial e louvável
critica de Kant, a metafísica, na busca de uma moral autônoma. Contudo, Nietzsche também constata que, a
inicial pretensão acaba por se perder quando culmina no imperativo categórico; reavivando, desta maneira, as
pretensões universalistas.
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Deste modo, O espírito do Abismo tem o intuito de frisar este embate histórico entre a
perspectiva dramática (que aponta para um futuro frente a uma busca de uma solução, posto a
essência diretiva e evolutiva desta perspectiva) e a perspectiva trágica (que se orienta para o
instante presente sem uma definição, visto seu caráter aporiaco), o qual tem ganhado força
diante dos eventos sociais, políticos e científicos do século XX.
Assim, temos em vista com tal trabalho, inicialmente, configurar a passagem da
racionalidade moderna para uma racionalidade pós-moderna, na qual o homem parece
ensaiar não o abandono da ilha kantiana da previsibilidade, mas à integração, também, do
indômito, que se encontra, não só na encosta desta ilha, mas, também dentro de nós. Ou seja,
o que se ensaia aqui, igualmente é a configuração deste “homem peninsular”, que não ignora
o mar, pois sabe que a dilaceração imposta pelo conhecimento moderno apesar de lhe ter
encaminhado até a “beira do abismo”, deve dar lugar a integração.
Igualmente, buscamos, mesmo que tangencialmente, oferecer um horizonte, ainda que
esmaecido, das possibilidades de emergência de uma nova compreensão sobre a educação,
bem como sobre o educador, diante dos caminhos que se apresentam com a gestação de uma
nova racionalidade.
Contudo, dado o caracter inicial da nossa trajetória investigativa, o presente texto se
resume a caracterização dos conceitos de moderno e pós-moderno.
Sendo deste modo, consideremos o que é o moderno e, consequentemente ou
interpenetradamente, o que é o pós-moderno, já que o prefixo deste conceito depreende uma
espécie de ultrapassamento ou, mais precisamente, uma “emergência”, ou um maior grau de
“complexidade”. Desta maneira, uma primeira consideração sobre a relação entre o moderno
e pós-moderno é que a “origem” do pós-moderno é o moderno. Considerando que o termo
“origem” deve expressar apenas uma marca da relação entre os conceitos, tal como um
determinado rio pode dar vazão a novos afluentes, sem com isso se esquecer de que o rio
anterior já teve “origem” noutro rio ou nascente, que por sua vez foi alimentado por galerias
subterrâneas ou resíduos pluviais ou fluviais. Logo, o conceito de “origem” não demarca, a
não ser idealmente, um ponto zero.
Justificado a retomada do conceito de moderno, guardemos esta metáfora e
consideremos brevemente a era moderna, destacando aonde o método (caminho) nos trouxe.
O campo maçado da era moderna, a despeito de seus formosos frutos dentre os quais,
além da maximização do conforto, podemos citar “o duplo vôo da terra para o universo e do
mundo para dentro do homem” (ARENDT, 1993, p. 14), culminou no estéril campo do
niilismo, no qual o homem se encontra alienado de sua natureza integral, ou seja, não só
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como sujeito capaz de prever. Do mesmo modo, o homem “assistiu” no decorrer da era
moderna o alijamento de suas condições básicas de existência, reduzindo-se a mero
trabalhador, como fabricador de artifícios. Ou ainda, dentro da perspectiva da indústria
cultural, como empregado/consumidor, no qual o homem, tal como o personagem de Chaplin
em “Tempos Modernos”, diante de uma sociedade administrada é tomado simplesmente
como objeto/engrenagem de um sistema que não compreende.
De outro lado, além da sujeição do homem a uma condição de reificação, o século
XX ainda foi palco de um processo de desligitimação da racionalidade moderna frente a
novas linguagens e eventos científicos, que aceleraram o processo de corrosão dos
dispositivos modernos de especulação e emancipação:
Da segunda lei da termodinâmica à teoria da catástrofe, de René Thom do
simbolismo químico às lógicas não denotativas, da teoria dos quanta à física pósquântica; do uso do paradigma cibernético-informática no estudo do código genético
ao ressurgimento da cosmologia de observação; da crise da Weltanschawng
newtoniana à recuperação da noção de “acontecimento”, “acaso” na física, na
biologia, na história, o que temos é a crise de uma noção central nos dispositivos de
legitimação e no imaginário modernos: a noção de ordem. E com ela assistimos à
rediscussão da noção de “desordem”, o que por sua vez torna impossível submeter
todos os discursos (ou jogos de linguagens) à autoridade de um metadiscurso que se
pretende a síntese do significante, do significado e da própria significação, isto é,
universal e consistente (BARBOSA, 1986, p. X-XI).
Assim, o homem do século passado se deparou com a dificuldade, já prenunciada por
Nietzsche em Verdade e Mentira no Sentido Extramoral, de permanecer no interior de
conceitos claros e distintos, pois, diferente do que a racionalidade moderna enunciou em
posse do conceito chave de “previsibilidade”, a “natureza” guardou uma última surpresa: a
idéia de que o equilíbrio a-priori, a idéia de previsibilidade e a busca da solução moderna
não bastam e não dão conta dos conceitos de ciência, mundo e homem, bem como de sua
relação; eis a cisma que anuncia e clama por uma nova racionalidade, um novo paradigma.
Diante desta conjuntura de esvaziamento da racionalidade moderna e do conseqüente
conceito de homem neste contexto, devemos aceitar que “... existe um entrosamento entre o
gênero de linguagem que se chama ciência e o que se denomina ética e política: um e outro
procedem de uma mesma opção, e esta chama-se Ocidente” (LYOTARD, 1986, p. 13).
Posição esta que optou pela disjunção que não mais traduz a eloquência de nossa
realidade. Daí, a crítica da modernidade como esquema de caracter totalitário que buscou
isolar por via de “cordões sanitários” tudo aquilo que sugerisse o efêmero, o sombrio, o
equívoco, o subjetivo, em uma palavra, o erro. Da exclusão do incerto, do imprevisível, do
desordenado, do trágico, em suma, do não-racional, temos o ideal moderno de endogomia,
que conspira para o silêncio, alheio as novas tendências.
3433
Cabe-nos frisar aqui o conceito de niilismo, como produto da mentalidade moderna.
O niilismo pode ser caracterizado como uma disjunção entre a linguagem e o mundo, se
estabelecendo como uma crise moral-metafísica diante dos hábitos e tradições, em suma,
como expressa Ansell-Pearson (1997, p. 48), o niilismo é “uma condição em que há uma
disjunção entre nossa experiência do mundo e o aparato conceitual de que podemos dispor e
que herdamos, para interpretá-la”.
Contudo, Nietzsche já via a racionalidade moderna como um modo de pensar datado
e fadado a uma autoimplosão. Consideremos o diagnóstico de Nietzsche sobre a moral. Para
tanto, consideremos que o cristianismo, com seu ideal de verdade, gestou uma “vontade de
verdade” que, mesmo com o enfraquecimento do cristianismo institucional, encontrou na
ciência um novo hospedeiro, na figura de uma consciência intelectual expressa na pesquisa
cientifica, que por sua vez possibilitou o inquérito sobre os fundamentos do cristianismo,
ocasionando, desta maneira, um momento de crise na qual a solução de Procusto nem sempre
é a melhor via. Em alguns momentos é impossível ignorar o que se sabe, o auto-engano
falha, e torna-se necessário, ver no niilismo a “oportunidade de uma revolução na linguagem
e no conhecimento, que envolve tanto uma reavaliação dos antigos valores como a criação de
novo” (ANSELL-PERSON, 1997, p. 48).
É, nesta trilha, ao considerarmos a análise e o prognóstico nietzscheano sobre o
niilismo, que nos propomos a olhar para nossa contemporaneidade, a fim de vislumbrar uma
nova linguagem que traduza o nosso mundo.
Assim a condição pós-moderna denota uma expectativa3 frente ao horizonte aberto ou
devastado: “[...] expectativa de finalidade. Essa expectativa é o estado pós-moderno do
pensamento, o que atualmente se convencionou chamar sua crise, seu mal-estar ou sua
melancolia (LYOTARD, 1996, p. 97).
Como explicita Lyotard (1996), o pós-moderno também tem uma conotação de
convalescência, talvez de um velho homem: “Pós-moderno não significa recente, significa
como se situa a escritura, no sentido mais amplo do pensamento e ação, depois de ter sofrido
o contágio da modernidade e de ter tentado se curar dele” (LYOTARD, 1996, p. 93).
Posto isso, podemos dizer que o pós-moderno é a condição cultural atual de
incredulidade “perante o metadiscurso filosófico-metafísico, com suas pretensões
atemporais e universalizantes” (BARBOSA, 1986, p.VIII, grifo nosso). Condição que
sugere uma nova legitimação, um novo dispositivo que não vise, ao contrário da lógica
3
Expectativa que não deve ser confundida com uma esperança, o que denotaria um recuo à modernidade.
3434
moderna, a verdade, como no método cartesiano, nem a emancipação, como o visado na
filosofia de Kant.
Nesta ordem, dissertando a favor de um novo paradigma que não opere a disjunção
como forma de conhecimento, Michel Maffesoli tece um elogio ao que pode ser enunciado
como a condição inerentemente trágica do homem, que por ora exige seu lugar de direito.
O Bárbaro não está mais às nossas portas ultrapassou nossos muros, está em cada
um de nós. Portanto, de nada serve julgá-lo, ou mesmo negá-lo. Sua força é tamanha
que ele seria capaz de tudo submergir. Assim, como foi o caso em outras épocas, é
melhor compreendê-lo, quando mais não seja para poder integrar ainda que
homeopaticamente, o inegável dinamismo de que é portador (MAFFESOLI, 1998, p.
11).
Edgar Morin utiliza-se da mesma metáfora ao enunciar a necessidade de integração na
confecção de um novo paradigma:
[...] estamos ainda numa época de barbárie das idéias, de barbárie do espírito. É por
isso que eu digo que estamos na pré-história do espírito humano. Sofremos de
assustadoras doenças do espírito (...) A grande doença da razão é a racionalização
que encerra o real num sistema lógico coerente, coerente ao preço de terríveis
mutilações (MORIN, s/d, p. 32).
Desta maneira, estes autores sugerem a necessidade de novas balizas que
“encaminhem” o homem à pós-modernidade. “Isso implica que se saiba lavrar os campos já
tão maçados do pensamento moderno” (MAFFESOLI, 1998, p. 13), a fim de se dissolver as
disjunções
operadas
pela
modernidade,
ocasionando
um
jogo
complexo
de
complementaridade entre o claro e distinto e o obscuro e vago.
Do mesmo modo, os dois autores parecem sugerir um paradigma em eterna
reconstrução na medida em que o trágico é a “configuração” do inconciliável, posto que tão
logo apareça ou torne possível uma acomodação, ele, o trágico, desaparece. Deste modo,
como sentencia Morin (2003, p. 39): “o único conhecimento válido é o que se alimenta de
incerteza e o único pensamento que vive é o que se mantém na temperatura de sua própria
destruição”, ou seja, a saída enunciada por este autor, sugere, frente aos diagnósticos de
fracasso da modernidade, a implantação de um paradigma que considere uma realidade viva
(auto-organizativa), menos mutilada, ou sinestésica4.
Neste sentido, o paradigma emergente se estabelece como um caminho não
circunscrito, como um sistema aberto, que tende a computar o todo em espírito de
complementaridade. É, em certo sentido, um sistema “impuro”, que se justifica como tal à
proporção que a própria “vida alimenta-se das impurezas, ou melhor, a realização e o
4
Vocábulo que diz respeito ao corpo em boa saúde e ao fato de haver vários órgãos funcionando em sintonia
com todos os seus fluídos que conseguem se entender (BULIK, 2002. p.13).
3435
desenvolvimento da ciência, da lógica e do pensamento têm necessidade destas impurezas”
(MORIN, s/d, p. 34).
Contudo, em virtude dos fatos aqui expostos, acredito que este paradigma em
construção, ao se balizar numa nova lógica, nos possibilita, considerando as críticas à
modernidade, dar vazão a um novo horizonte ético, que considere o homem em sua
integridade, como “sujeito peninsular” e não, como sonhava a modernidade, como “sujeito
insular”, tido como ser sobrenatural, desenraizado do corpo e da natureza. Possibilitando uma
nova compreensão sobre a educação e o educador, superando a relação de ordem moderna
que, via de regra, restringiu a educação a um modelo mecânico, no qual a técnica e a
metodologia, como conjunto de procedimentos, imperaram.
Assim, do mesmo modo, convém, no campo da educação, ir além da velha pergunta,
oriunda do modelo cientifico moderno, sobre “o como funciona”, que lega ao professor a
irrefletida tarefa de seguir o receituário metodológico balizado na estrutura moderna de causa
e efeito.
Igualmente, a questão em voga, sobre a busca de um professor autônomo e reflexivo,
esbarra naturalmente no modelo moderno de mundo que, ao dicotomizar a “ação” em teoria e
prática, resume a educação a uma mera metodologia; se esquecendo, mais uma vez, que a
educação não se restringe ao molde moderno, tal como expressa Severino: na educação
prevalece “a causa final e não a causa primeira [...] o telos e não a arché [...]” (SEVERINO,
2006, p.189).
Contudo, este liame entre pós-modernidade e educação é um tema que, como já foi
exposto, buscaremos tecer em textos posteriores, como conseqüência natural da continuidade
da pesquisa.
Entretanto fica a “certeza” da urgência deste tema e de que, mais do que nunca, é
necessário integrar o que foi relegado à marginalidade. Se no limiar da modernidade se optou
pelo separar para conhecer, hoje, na exaustão deste modelo, é preciso buscar o caminho da
junção que torne o conhecimento fidedigno.
Todavia, como já foi justificado, este é um caminho não circunscrito e, acrescento,
não é um caminho fácil, mas, todavia, como expõe Maffesoli (1998, p.16):
[...] é preciso passar por ele. Pois mesmo ignorando onde vamos chegar, mesmo
sabendo nos tributários da tormenta ou da calmaria, não é menos certo que estamos
a caminho, e que o antigo mundo está atrás de nós. Uma tal consciência ou quase
consciência coletiva é inegável, é vivida enquanto tal.
3436
REFERÊNCIAS
ANSELL-PEARSON. Keith. Nietzsche como pensador político: uma introdução. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
BARBOSA, Wilmar do Valle. Prefácio: Tempos pós-modernos. In: LYOTARD, JeanFrançois. O pós-moderno. Rio de Janeiro: José Olympo, 1986. p. VII-XIII.
BULIK, Linda. Entrevista com Michel Maffesoli. In: SANTOS, Volnei (Org.). O trágico e os
seus rastros. Londrina: Eduel, 2002. p. 1-14.
HANNAH, Arendt. A Condição Humana. 6. ed. Tradução de Roberto Raposo. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 1993.
LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. Tradução de Ricardo Corêa Barbosa. Rio de
Janeiro: José Olympo, 1986.
MAFFESOLI, Michel. Elogio da Razão Sensível. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
MORIN, Edgar. O método I: a natureza da natureza. 2. ed. Tradução de Ilana Heineberg.
Porto Alegre: Sulina, 2003.
MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. 2. ed. Portugal: Publicações
Europa- América, s/d.
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
SAFRANSKI, Rüdiger. Nietzsche: biografia de uma tragédia. São Paulo: Geração editorial,
2001.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Questões epistemológicas da pesquisa sobre a prática docente.
In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO, 13, 2006, Recife,
PE. Anais do Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Recife: ENDIPE, 2006.
p.183-192.
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