como as aves aquáticas e semi-aquáticas ocupam uma lagoa

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XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
COMO AS AVES AQUÁTICAS E SEMI-AQUÁTICAS OCUPAM
UMA LAGOA URBANA DEGRADADA? ESTUDO DE USO DE
NICHO ESPACIAL PARA ANÁLISE DE UMA PROPÍCIA
ÁREA VERDE DA BAHIA
Fernando César Gonçalves Bomfim² ([email protected]), Joedison dos S. Rocha¹, Poliane Farias Santos² e
Elaine Rios da Silva.
¹Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) - PPG em Ecologia e Conservação da Biodiversidade
²Universidade Estadual da Sudoeste da Bahia (Uesb) – PPG em Genética, Biodiversidade e Conservação.
INTRODUÇÃO
Um dos escopos da Ecologia fundamenta-se em entender as relações das espécies com seus ambientes, sendo que
todos os habitat possuem um gradiente ambiental. Para tanto, informações de história natural para compreender
esses gradientes são ainda escassas (Bibby et al., 1998), mesmo para grupo bem conhecidos como as aves. Essas
informações podem ser úteis para avaliar status de conservação de espécies, predizer distribuições e prever
possíveis conseqüências oriundas de diferentes usos da paisagem (Bibby et al., 1998).
Nas paisagens urbanas, as aves estão sujeitas a diferentes características como, tamanho das cidades e a matriz
circundante das áreas de ocorrência, sendo que algumas espécies são adaptadas a esses ambientes (Jokimäki e
Kaisanlahti-Jokimäki, 2003). Nas cidades, muitas vezes ocorrem corpos d’água que abrigam considerável avifauna,
muitas vezes relacionada com a heterogeneidade desses ecossistemas (Pimenta et al., 2007), ainda que a maioria
sejam degradados. Tilman (1994) aponta que em diferentes grupos biológicos a estrutura espacial tem forte
influência na dinâmica e composição de comunidades. Assim, qualquer ação de manejo e conservação que interfira
nesses ecossistemas aquáticos, deve-se antes conhecer como a comunidade biológica se estabelece e se relaciona
com esses ambientes. Deste modo, o presente estudo visou entender a influência da heterogeneidade de
microhabitats na ocupação de uma lagoa antropizada pelas aves aquáticas e semi-aquáticas, com intuito de fornecer
bases preliminares para um plano de manejo e revitalização da lagoa.
OBJETIVOS
Avaliar a amplitude de uso do nicho espacial, bem como a equitabilidade dos registros de uso e a sobreposição de
nicho entre as espécies de aves aquáticas e semi-aquáticas, entendendo assim suas relações como ambiente em que
ocorrem.
MATERIAL E MÉTODO
Área de estudo - O presente estudo foi conduzido em uma lagoa urbana conhecida localmente como “Lagoa do
Derba” (13°51'56.85"S; 40° 3'35.71"O), no município de Jequié/BA. A área mede cerca de 0,021 km² e está situada
em uma cidade do domínio da Caatinga com áreas de transição com a Mata Atlântica. A área é reconhecida pela
Birdlife International como uma área importante para conservação de aves. Para esse estudo, a lagoa foi dividida
em diferentes tipos de microhabitats espaciais horizontais (ou seja, não considerando profundidade ou altura),
sendo: superfície “aberta” (sem macrófitas), banco de Pistia sp., banco de Salvinia sp., banco de Nympheaceae,
banco de Typha sp., gramíneas aquáticas com poleiros, gramíneas marginais e vegetação arbórea-arbustiva
marginal.
Método - Ao longo das margens da lagoa foram posicionados de forma sistemática, cinco pontos fixos de
observação, dispostos com uma distância mínima entre eles de 100 m. Cada ponto foi amostrado por no mínimo 10
minutos, sendo que nesse período foram feitas as observações ad libitum dos diferentes usos dos microhabitats
considerados acima, focando nos indivíduos mais próximos de cada ponto. As observações transcorreram entre os
meses de fevereiro e abril de 2015, em dias alternados, nos períodos da manhã (7 h- 9h) ou tarde (15 h -18 h).
Contando com um esforço inicial de 12 horas. Análises - A amplitude de nicho foi calculada com o índice de
Shannon-Wiener (H’), enquanto a equitabilidade dos usos de habitat pelo índice de equitabilidade J’ e a
sobreposição de nicho pelo índice de Pianka (Oij). As duas primeiras análises foram feitas no programa Past 3.0.
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Também, foi realizada no ambiente R uma ordenação das espécies nos microhabitats com um NMDS.
RESULTADOS
Foram encontradas sete espécies de aves aquáticas e cinco semi-aquáticas, sendo que Jacana jacana e Butorides
striata umas das aves mais comuns na lagoa. Gallinula chloropus e Porphryrio martinica mostraram maior
amplitude de nicho (H’: 1,92 e 1,75), tendo esse índice variado de 0 – 1,92 e média: 1,14. P. martinica também foi
a espécie que obteve maior valor de equitabilidade de uso (J’: 0,97), esse índice variou de 0 – 0,97 (Média: 0,88).
Por fim, as aves aquáticas que tiveram maior sobreposição de nicho foram Tachybaptus dominicus e G. chloropus
(Oij: 0,83), e para as aves semi-aquáticas, maior sobreposição ocorreu entre Chrysomus ruficapilus e Certhiaxis
cinnamomeus (Oij: 0,76). A sobreposição média para as aves aquáticas foi de 0,40 e de 0,53 para as semi-aquáticas.
O NMDS evidenciou a grande importância dos bancos de macrófitas aquáticas e principalmente da vegetação
marginal, que foi o microhabitat mais utilizado (n=48 registros).
DISCUSSÃO
A comunidade de aves observada parece utilizar amplamente a lagoa, o que foi verificado pelos valores de H’ e de
J’. Deste modo, a maioria das espécies parece ser generalista quanto ao uso espacial, destacando a moderada
sobreposição média de nicho. Os valores maiores do índice de Pianka podem indicar um conflito entre espécies
especialistas, como em espécies típicas de superfícies abertas (e.g: T. dominicus) e de ambientes marginais (e.g: C.
ruficapilus).
Ponço et al. (2013) comentam que em ambientes aquáticos urbanos pode haver maior presença de espécies
especialistas de habitats, diferente do observado nesse estudo. Adicionalmente, o padrão de separação espacial de
generalistas e especialistas proposto por Julliard et al. (2006) parece ocorrer na lagoa, de acordo a informações do
NMDS.
Outros fatores que influenciam a presença de aves nos ambientes aquáticos estão relacionados à heterogeneidade
ambiental, sendo apontada como crucial para manutenção de aves aquáticas (Donatelli et al., 2014). Assim, a forte
heterogeneidade espacial da “Lagoa do Derba” e a separação de nichos observada, parecem explicar a coexistência
de muitas espécies de aves no local. Deste modo, ações de manejo e revitalização devem atentar-se para a
conservação da diversidade de habitat da lagoa sem a exclusão total de um deles. Tendo em vista as amplitudes de
nicho, recomenda-se controlar os bancos de macrófitas mais abundantes e ampliar e preservar principalmente os
ambientes marginais, evitando o despejo de lixo e entulho.
CONCLUSÃO
A “Lagoa do Derba” destaca-se como um importante ecossistema urbano por apresentar alta heterogeneidade
espacial e pela ocorrência das aves estudadas. Dos ambientes estudados, percebe-se grande influência dos
microhabitats marginais, sendo estes, prioritários em ações de manejo.
REFERÊNCIAS
BIBBY, C., JONES, M., MARSDEN, S. 1998. Expedition Field Techniques: Bird Surveys. Expedition Advisory
Centre, Royal Geographical Society: London.
DONATELLI, R.J., POSSO, S.R., TOLEDO, M.C.B. 2014. Distribution, composition and seasonality of aquatic
birds in the Nhecolândia sub-region of South Pantanal, Brazil. Braz. J. Biol. 74(4): 844-853.
JOKIMÄKI, J., KAISANLAHTI-JOKIMÄKI, M.L. 2003. Spatial similarity of urban bird communities: a
multiscale approach. Journal of Biogeography 30, 1183–1193.
JULLIARD, R., CLAVEL, J., DEVICTOR, V., JIGUET, F., COUVET, D. .2006. Spatial segregation of specialists
and generalists in bird communities. Ecology Letters 9: 1237–1244.
PIMENTA, F.E., DRUMMOND, J.C.P., LIMA, A.C. 2007. Aves Aquáticas da Lagoa da Pampulha: Seleção de
hábitats e atividade diurna. Lundiana 8 (2):89-96.
PONÇO, J.V., TAVARES, P.R.A., GIMENES, M.R. 2013. Riqueza, composição,
sazonalidade e distribuição espacial de aves na área urbana de Ivinhema, Mato Grosso do Sul. Atualidades
Ornitológicas On-line 174: 60-67.
TILMAN, D. 1994. Competition and biodiversity in spatially structured habitats. Ecology 75 (1): 2-16.
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