Pediatria em destaque Opinião sobre as ações básicas da saúde da criança e do adolescente e acerca da clínica pediátrica VACINAÇÃO CONTRA HEPATITE B NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE João Cláudio Jacó Pinto Especialista em Pediatria. Diretor Médico da Clínica de Vacinação Núbia Jacó. Mundialmente, estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas já foram infectadas pelo vírus da Hepatite B (VHB) , sendo que mais de 350 milhões dessas pessoas possuem a infecção crônica1. A infecção por este vírus além de ser uma importante causa de cirrose é causa de até 86 % dos carcinomas hepatocelulares1. A maioria dos casos das infecções em adultos evolui para completa remissão do quadro, 5% dos casos evoluem para forma crônica e 1% evolui para forma fulminante. Quando a infecção se dá por transmissão vertical no momento do parto, cerca de 90% dos RN tornam-se cronicamente infectados. Crianças que adquirem a doença entre 1 a 5 anos de idade, cerca de 30 a 50% evoluem para infecção crônica1. Os profissionais de saúde constituem um importante grupo de risco para aquisição de infecção pelo vírus da Hepatite B. Após acidente percutâneo com material contaminado por sangue de paciente contendo antígeno de superfície do VHB (HBsAg) e antígeno “e” do VHB (HBeAg), o risco de desenvolver hepatite clínica é de 22 a 31%2. Se o paciente-fonte for positivo para HBsAg e negativo para HBeAg, o risco de hepatite clínica cai para 1 a 6%2. O trabalhador da área de saúde, em decorrência de seu contato com pacientes e material infectado, está em contínuo risco de adquirir doenças infecciosas, o que causa grande preocupação tanto em relação ao profissional de saúde como indivíduo que tem risco de adoecer e o profissional de saúde como fonte potencial de transmissão de doenças, colocando em risco seus pacientes, seus colegas e a própria comunidade. A vacina contra Hepatite B é altamente segura e eficaz, atingindo níveis de soroconversão (≥10 mUI/ml) em mais de 95% das crianças e adolescentes saudáveis, e em mais de 90% dos adultos saudáveis. Após a idade de 40 anos a eficácia cai para menos de 90%. Após os 60 anos, em torno de 65 a 75% dos vacinados desenvolvem concentrações protetoras de Anti-HBs3. Alguns fatores individuais contribuem para o decréscimo da resposta vacinal, entre eles tabagismo, obesidade, infecção por HIV, fatores genéticos e presença de doença crônica3. A comprovação de soroconversão (dosagem de anti-HBs ≥ 10mUI/ml) é muito importante no profissional de saúde e é recomendado que seja realizada de um a três meses após a última dose do esquema de vacinação. As concentrações de antiRev. Saúde Criança Adolesc. 2010; 2 (2): 31-33 ● 31 A FIISIOTERAPIA PODE INTERVIR PRECOCEMENTE EM BEBÊS DE RISCO? HBs declinam rapidamente durante o primeiro ano após a série de três doses de vacina contra Hepatite B, e mais lentamente nos anos seguintes3. Entre crianças que apresentaram resposta após série de 3 doses de vacina, com concentrações de anti-HBs ≥ 10mUI/ml, 15 a 50% tiveram concentrações baixas ou indetectáveis entre 5 a 15 anos após a vacinação. Entre adultos vacinados, concentrações de anti-HBs declinam para < 10mUI/ml em 7 a 50% após 5 anos e em 30 a 60% após 9 a 11 anos da vacinação3. A elevação rápida dos títulos de anticorpos após uma dose de reforço da vacina contra Hepatite B em pessoas cujos títulos estavam baixos ou indetectáveis, sugere a existência de memória imunológica de células B, que permanece intacta mesmo em pessoas que negativaram seu antiHBs2. Como o período de incubação da doença é longo (2 a 5 meses), a presença de memória imunológica (evidenciada por sorologia positiva prévia) é suficiente para desencadear resposta imune secundária após exposição ao vírus, com elevação dos títulos de anticorpos após alguns dias. Por isso, qualquer pessoa imunocompetente que desenvolveu concentrações de anti-HBs ≥ 10mUI/ ml após vacinação tem virtualmente completa proteção contra infecção aguda ou crônica pelo VHB, mesmo que as concentrações de anti-HBs subsequentemente declinem para < 10mUI/ml3. Fluxograma de imunização contra hepatite B para profissional de saúde. Modificado de Poland (1998)* 32 ● Rev. Saúde Criança Adolesc. 2010; 2 (2): 31-33 Jacó JC Conduta nos verdadeiros não respondedores: A revacinação em pessoas que não responderam à série primária de vacinação, produz reposta adequada em 15 a 25% dos vacinados após uma dose adicional e em 30 a 50% após 3 doses adicionais1. Pessoas que realmente não responderam a um esquema inicial de 3 doses, deveriam completar um segundo esquema vacinal com 3 doses. O esquema de revacinação pode ser o usual (0, 1 e 6 meses) ou pode seu utilizado um esquema acelerado (0, 1 e 4 meses)1. Há estudos que demonstram associação entre títulos de anticorpos mais elevados e vacinação com formulações contendo maiores concentrações de antígeno4. Assim sendo alguns autores propõem o uso de dose dobrada (40ug/dose) na revacinação, em especial nos profissionais de saúde com risco de nãoresposta4. Entretanto, não há estudos comparando a eficácia da re-vacinação do profissional de saúde, utilizando doses habituais para o adulto (20 ug/ dose) ou dose dobrada (40ug/dose)2. Menos de 5% das pessoas que recebem 6 doses de vacina contra hepatite B não desenvolvem anticorpos anti-HBs detectáveis. Uma das causas da persistência da não reposta à vacina contra hepatite B é infecção crônica pelo vírus. Portanto, essas pessoas devem realizar pesquisa de HBsAg. Se a pessoa continua soronegativa após o total de 6 doses de vacina, ela deve ser manuseada como um não respondedor em condutas de profilaxia pós exposição. Nesses casos, muitas vezes, dependendo da exposição será necessário a utilização de imunoglobulina anti-hepatite B5. Algumas promessas existem para o futuro em relação à imunização desses não-respondedores. Dentre elas a utilização de vacinas por via intradérmica ou vacinas contendo diferentes adjuvantes como o AS04 (monofosforil lipídeo + hidróxido de alumínio) ou fator estimulador de colônias de macrófagos (rhGM-CSF)6,7,8. Por enquanto nenhum desses novos produtos ou via de administração se encontra aprovado para uso no Brasil. REFERÊNCIAS 1. Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable Diseases. The Pink Book: Course Textbook. 11th Edition (May 2009) 2. Farhat, Calil Kairalla; Weckx, Lily Yin; Carvalho, Luiza Helena Falleiros R.; Succi, Regina Célia de Menezes; Imunizações – Fundamentos e Prática. 5ª ed. São Paulo: Ateneu; 2008 3. Plotkin, Stanley. Orenstein, Walter. Offit, Paul. Vaccines. Fifth Edition. Saunders Elsevier; 2008. 4. Poland GA. Hepatitis B immunization in health care workers. Dealing with vaccine non-response. Am J Prev Med 1998; 15(1):73-7. 5. Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais, 2006 6. Baldy JL, Elisbão MC, Bonametti AM, Reiche EM, Morimoto HK, Pontello R, et al. Intradermal vaccination of adults with three low doses (2 micrograms) of recombinant hepatitis B vaccine. II. Persistence of immunity and induction of immunologic memory. Mem Int Oswaldo Cruz. 2003;98(8):1109-13. 7. Beran J. The importance of the second generation adjuvanted systems in “new” vaccines. Klin Mikrobiol Infekc Lek. 2008; 14(1):5-12. 8. Chen HX, Wang XY, Wang SQ, He HT, Luo XG, Chen XG, Lin CS. Zhonghua Shi Yan He Lin Chang Bing Du Xue Za Zhi. 2009; 23(3): 177-9. Conflito de Interesse: Não declarado Correspondência: João Claudio Jacó E-mail: [email protected] Rev. Saúde Criança Adolesc. 2010; 2 (2): 31-33 ● 33