Revista HIAS_Jul a Dez 2010

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Pediatria em destaque
Opinião sobre as ações básicas da saúde da criança e do adolescente e acerca da clínica pediátrica
VACINAÇÃO CONTRA HEPATITE B NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
João Cláudio Jacó Pinto
Especialista em Pediatria. Diretor Médico da Clínica de Vacinação Núbia Jacó.
Mundialmente, estima-se que cerca de 2 bilhões de
pessoas já foram infectadas pelo vírus da Hepatite
B (VHB) , sendo que mais de 350 milhões dessas
pessoas possuem a infecção crônica1. A infecção
por este vírus além de ser uma importante causa
de cirrose é causa de até 86 % dos carcinomas
hepatocelulares1.
A maioria dos casos das infecções em adultos
evolui para completa remissão do quadro, 5% dos
casos evoluem para forma crônica e 1% evolui
para forma fulminante. Quando a infecção se dá
por transmissão vertical no momento do parto,
cerca de 90% dos RN tornam-se cronicamente
infectados. Crianças que adquirem a doença entre
1 a 5 anos de idade, cerca de 30 a 50% evoluem
para infecção crônica1.
Os profissionais de saúde constituem um
importante grupo de risco para aquisição de
infecção pelo vírus da Hepatite B. Após acidente
percutâneo com material contaminado por sangue
de paciente contendo antígeno de superfície do VHB
(HBsAg) e antígeno “e” do VHB (HBeAg), o risco de
desenvolver hepatite clínica é de 22 a 31%2. Se o
paciente-fonte for positivo para HBsAg e negativo
para HBeAg, o risco de hepatite clínica cai para 1
a 6%2.
O trabalhador da área de saúde, em decorrência
de seu contato com pacientes e material infectado,
está em contínuo risco de adquirir doenças
infecciosas, o que causa grande preocupação tanto
em relação ao profissional de saúde como indivíduo
que tem risco de adoecer e o profissional de saúde
como fonte potencial de transmissão de doenças,
colocando em risco seus pacientes, seus colegas
e a própria comunidade.
A vacina contra Hepatite B é altamente segura
e eficaz, atingindo níveis de soroconversão
(≥10 mUI/ml) em mais de 95% das crianças e
adolescentes saudáveis, e em mais de 90% dos
adultos saudáveis. Após a idade de 40 anos a
eficácia cai para menos de 90%. Após os 60 anos,
em torno de 65 a 75% dos vacinados desenvolvem
concentrações protetoras de Anti-HBs3. Alguns
fatores individuais contribuem para o decréscimo da
resposta vacinal, entre eles tabagismo, obesidade,
infecção por HIV, fatores genéticos e presença de
doença crônica3.
A comprovação de soroconversão (dosagem de
anti-HBs ≥ 10mUI/ml) é muito importante no
profissional de saúde e é recomendado que seja
realizada de um a três meses após a última dose do
esquema de vacinação. As concentrações de antiRev. Saúde Criança Adolesc. 2010; 2 (2): 31-33 ●
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A FIISIOTERAPIA PODE INTERVIR PRECOCEMENTE EM BEBÊS DE RISCO?
HBs declinam rapidamente durante o primeiro ano
após a série de três doses de vacina contra Hepatite
B, e mais lentamente nos anos seguintes3. Entre
crianças que apresentaram resposta após série de
3 doses de vacina, com concentrações de anti-HBs
≥ 10mUI/ml, 15 a 50% tiveram concentrações
baixas ou indetectáveis entre 5 a 15 anos após a
vacinação. Entre adultos vacinados, concentrações
de anti-HBs declinam para < 10mUI/ml em 7 a
50% após 5 anos e em 30 a 60% após 9 a 11 anos
da vacinação3.
A elevação rápida dos títulos de anticorpos após
uma dose de reforço da vacina contra Hepatite
B em pessoas cujos títulos estavam baixos ou
indetectáveis, sugere a existência de memória
imunológica de células B, que permanece intacta
mesmo em pessoas que negativaram seu antiHBs2. Como o período de incubação da doença
é longo (2 a 5 meses), a presença de memória
imunológica (evidenciada por sorologia positiva
prévia) é suficiente para desencadear resposta
imune secundária após exposição ao vírus, com
elevação dos títulos de anticorpos após alguns dias.
Por isso, qualquer pessoa imunocompetente que
desenvolveu concentrações de anti-HBs ≥ 10mUI/
ml após vacinação tem virtualmente completa
proteção contra infecção aguda ou crônica pelo
VHB, mesmo que as concentrações de anti-HBs
subsequentemente declinem para < 10mUI/ml3.
Fluxograma de imunização contra hepatite B para profissional de saúde. Modificado de Poland (1998)*
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Jacó JC
Conduta nos verdadeiros não respondedores:
A revacinação em pessoas que não responderam
à série primária de vacinação, produz reposta
adequada em 15 a 25% dos vacinados após
uma dose adicional e em 30 a 50% após 3
doses adicionais1. Pessoas que realmente não
responderam a um esquema inicial de 3 doses,
deveriam completar um segundo esquema vacinal
com 3 doses. O esquema de revacinação pode
ser o usual (0, 1 e 6 meses) ou pode seu utilizado
um esquema acelerado (0, 1 e 4 meses)1. Há
estudos que demonstram associação entre títulos
de anticorpos mais elevados e vacinação com
formulações contendo maiores concentrações de
antígeno4.
Assim sendo alguns autores propõem o uso de dose
dobrada (40ug/dose) na revacinação, em especial
nos profissionais de saúde com risco de nãoresposta4. Entretanto, não há estudos comparando
a eficácia da re-vacinação do profissional de saúde,
utilizando doses habituais para o adulto (20 ug/
dose) ou dose dobrada (40ug/dose)2.
Menos de 5% das pessoas que recebem 6 doses
de vacina contra hepatite B não desenvolvem
anticorpos anti-HBs detectáveis. Uma das causas
da persistência da não reposta à vacina contra
hepatite B é infecção crônica pelo vírus. Portanto,
essas pessoas devem realizar pesquisa de HBsAg.
Se a pessoa continua soronegativa após o total
de 6 doses de vacina, ela deve ser manuseada
como um não respondedor em condutas de
profilaxia pós exposição. Nesses casos, muitas
vezes, dependendo da exposição será necessário a
utilização de imunoglobulina anti-hepatite B5.
Algumas promessas existem para o futuro em
relação à imunização desses não-respondedores.
Dentre elas a utilização de vacinas por via
intradérmica ou vacinas contendo diferentes
adjuvantes como o AS04 (monofosforil lipídeo
+ hidróxido de alumínio) ou fator estimulador
de colônias de macrófagos (rhGM-CSF)6,7,8. Por
enquanto nenhum desses novos produtos ou via
de administração se encontra aprovado para uso
no Brasil.
REFERÊNCIAS
1. Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable
Diseases. The Pink Book: Course Textbook. 11th Edition
(May 2009)
2. Farhat, Calil Kairalla; Weckx, Lily Yin; Carvalho, Luiza
Helena Falleiros R.; Succi, Regina Célia de Menezes;
Imunizações – Fundamentos e Prática. 5ª ed. São
Paulo: Ateneu; 2008
3. Plotkin, Stanley. Orenstein, Walter. Offit, Paul. Vaccines.
Fifth Edition. Saunders Elsevier; 2008.
4. Poland GA. Hepatitis B immunization in health care
workers. Dealing with vaccine non-response. Am J
Prev Med 1998; 15(1):73-7.
5. Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos
Especiais, 2006
6. Baldy JL, Elisbão MC, Bonametti AM, Reiche EM,
Morimoto HK, Pontello R, et al. Intradermal vaccination
of adults with three low doses (2 micrograms) of
recombinant hepatitis B vaccine. II. Persistence of
immunity and induction of immunologic memory. Mem
Int Oswaldo Cruz. 2003;98(8):1109-13.
7. Beran J. The importance of the second generation
adjuvanted systems in “new” vaccines. Klin Mikrobiol
Infekc Lek. 2008; 14(1):5-12.
8. Chen HX, Wang XY, Wang SQ, He HT, Luo XG, Chen XG,
Lin CS. Zhonghua Shi Yan He Lin Chang Bing Du Xue Za
Zhi. 2009; 23(3): 177-9.
Conflito de Interesse: Não declarado
Correspondência:
João Claudio Jacó
E-mail: [email protected]
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