ANEXO A: SOW Avaliação do quadro geral sobre Salário Mínimo: desafios e perspectivas. Título: Consultoria para Avaliação do Quadro Geral sobre o Salário Mínimo em Moçambique Perfil dos consultores: 1. Consultor Internacional Economista ou perito em questões laborais; Conhecimentos profundos dos critérios de fixação do salario mínimo; Domínio da realidade Africana. Experiencia na SADC será uma vantagem. 2. Consultor Nacional Especialista em desenvolvimento económico-social; Domínio dos processos da fixação do salario mínimo em Moçambique; Conhecimento dos processos sindicais em Moçambique. Duração: 35 dias (incluindo viagem, facilitação de debates e workshops de apresentação da metodologia, recolha de informação e discussão dos resultados). I. Contexto Em Dezembro de 1990, o Governo de Moçambique introduziu através do decreto 39/90, o princípio da negociação colectiva, descentralizando desta forma o processo de fixação e reajustamento dos salários no País. Porém, dada a necessidade de proteger os trabalhadores com rendimentos baixos, o Governo continuou a fixar o salário mínimo. Antes desta medida, cabia ao Governo fixar todos os salários no âmbito do Decreto 7/80. Com o estabelecimento da Comissão Consultiva do Trabalho (CCT), a fixação de salários mínimos passou a ser tripartido, envolvendo o Governo, os Sindicatos e os Empregadores (CTA). Anualmente o governo fixava 2 (dois) salários mínimos sendo um para os trabalhadores agro-pecuários, o outro para trabalhadores industriais de serviços e outros sectores de actividade. Com excepção da variação por categoria, os salários mínimos não eram diferenciados por qualquer outro critério. Actualmente, o salário mínimo é negociado para 9 (nove) sectores estabelecidos/acordados a cerca de 10 anos. 1 de actividade obedecendo critérios Porém, o actual cenário de desenvolvimento da economia Moçambicana, marcado com o aparecimento de megaprojectos, grandes empresas, e o redimensionamento das actividades económicas, traz consigo a necessidade de revisitar os sectores de actividade em consideração na determinação do salario mínimo. Com efeito, a dinâmica imposta pela indústria extractiva constitui o foco da necessidade de compreender a peculiaridade dos sectores e categorias ligadas a cadeia de valor desta indústria. Esta mudança de cenário requer que se revisite os critérios da fixação do salario mínimo. Surgiram nos últimos anos, subsectores, empresas e mega-projectos, clamando consigo mudanças quer na estrutura empresarial, quer na organização sindical. Os trabalhadores por via dos sindicatos pretendem alcançar níveis salariais mais altos para melhorar o seu bem-estar, enquanto os empregadores pretendem oferecer salários mais baixos para maximizar os seus lucros. Assim, há naturalmente um conflito entre o trabalho e capital. O governo por seu turno justifica a sua intervenção no mercado de trabalho por meio da política de salário mínimo como forma de garantir o bem-estar mínimo da sociedade. Para os empregadores, a actual política de salário mínimo contempla algumas fragilidades, entre elas: a fundamentação técnica em uso para o reajustamento salarial, incluindo questões relacionadas com o factor negocial (delta); os critérios que norteiam a classificação dos sectores e desagregação das categorias; o tratamento uniforme das regiões do país; a conjuntura económica; etc. Por outro lado, há que tomar em consideração as diferenças inerentes aos empregadores (poder negocial, situação financeira, etc); permitindo que haja salários diferentes dentro da mesma indústria ou sector. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), distingue cinco os sistemas de determinação de salário mínimo mais utilizados, nomeadamente: (i) taxa única; (ii) salário mínimo regional; (iii) salário mínimo por ocupação ou por sector de actividade; (iv) salário mínimo juvenil e para adultos; (v) sistemas combinados de salário mínimo. Moçambique utiliza um sistema combinado de taxa única nacional e taxa por categoria (agro- pecuários, operários e empregados). Um estudo comissionado pela CCT à 10 anos alertava que a aplicação do sistema de taxa única era bastante discutível, sobretudo em países como Moçambique devido as assimetrias regionais e sectoriais de desenvolvimento. Segundo o estudo, o estabelecimento da taxa única nacional de salário mínimo pressupõe a existência de condições semelhantes de mão-de-obra (em quantidade e qualidade), de níveis de desenvolvimento equilibrado entre as diferentes regiões, e de desempenho dos sectores da economia (Vide Castel-Branco et al, 2004). 2 Outras preocupações prendem-se com (i) o tratamento homogéneo que atribui ao sector público e ao sector privado. Os factores que influenciam a evolução dos salários em cada um dos sectores são diferentes. (ii) a precedência do Orçamento do Estado em relação ao processo de negociação do salário mínimo no âmbito da CCT. (iii) o papel do Estado como jogador (empregador) e árbitro da negociação entre os trabalhadores e os empregadores. É importante notar que a evolução do salário no sector privado está condicionada a outros factores como crescimento do sector, rentabilidade do sector e, fundamentalmente, a produtividade do factor trabalho. Com o estabelecimento do salário mínimo com base em sectores, esperava-se responder ao estágio de desenvolvimento, a tendência de evolução dos sectores, e acomodar mais facilmente as preocupações e dificuldades dos empregadores, bem como as preocupações dos seus trabalhadores. Porém, os processos que norteiam a definição dos sectores e a plena operacionalização do sistema estão aquém do preceituado, sobretudo quando se considera os actuais níveis de desenvolvimento da economia nacional. É neste contexto que a CTA pretende levar a cabo uma avaliação do quadro geral do salário mínimo para discutir os aspectos a ele relacionados e identificar mecanismos práticos a seguir. II. Objectivos Será objectivo do trabalho avaliar o quadro geral do salário mínimo em vigor em Moçambique, tomando em consideração as práticas internacionais, incluindo a política salarial.Especificamente, pretende-se discutir: 1. Enquadramento da política do salário mínimo em Moçambique 2. Experiência de outros países da região na fixação do salário mínimo; 3. Critérios de determinação do salário mínimo vs contexto actual. Recomenda-se o máximo aproveitamento dos estudos e analises realizadas em ocasiões anteriores. 4. Critérios de reajustamento do salário mínimo; 5. O aparato institucional estabelecido para a negociação/discussão do salário mínimo; 6. Produzir uma síntese de debate e encaminhar aos principais stakeholders. III. Âmbito do trabalho 3 Tendo em conta estes aspectos mencionados, esta análise deverá ser capaz de identificar possíveis ineficiências criadas pelo actual quadro geral do salário mínimo e propor formas de reduzi-las. Neste sentido, o consultor deverá: i. Demonstrar a racionalidade de uma política de salário mínimo no Moçambique actual; ii. Identificar as possíveis imperfeições que esta política pode introduzir na economia e nos beneficiários, particularmente num país que possui grande parte das empresas a operar no limiar da rentabilidade e que menos de 10% da população economicamente activa são trabalhadores assalariados; iii. Re-avaliar/discutir os critérios de fixação de salário mínimo, bem como o seu aparato institucional por forma a apresentar propostas adequadas ao contexto actual de Moçambique; iv. Propor algumas acções por forma a alinhar a política de salário mínimo de Moçambique com a produtividade da mão-de-obra; e v. Orientar duas sessões do grupo de referência (a ser estabelecido) e um workshop final de reflexão sobre o salário mínimo, na base dos resultados preliminares do estudo. IV. Resultados esperados Espera-se que o estudo possa traçar um way forward no que diz respeito ao salário mínimo no País. Na necessidade de definir uma política de salário mínimo alinhado com a variante PIB sectorial e aos processos produtivos em Moçambique, espera-se que o proposto way forward possa incluir a questão de regulamentação do processo de negociação salarial ou outro modelo por forma a conferir maior previsibilidade ao processo. 4