LITERATURA INFANTO-JUVENIL E ESCOLA – UMA

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LITERATURA INFANTO-JUVENIL E ESCOLA – UMA ABORDAGEM HISTÓRICA
A construção da infância e a Literatura Infantil
• Você sabia que na Idade Média não havia infância, tal qual concebemos hoje?
• Você sabia que a família nasce na Idade Moderna, no final do século XVII?
• Vamos compreender qual a relação entre família, infância, escola e Literatura
Infantil na Idade Moderna, quando essas relações começam a ser construídas e
quais suas implicações sociopolíticas e culturais.
Com a ascensão da burguesia, há necessidade de se construir uma nova noção de
família, centrada não mais nas relações de parentesco como na Idade Média, mas
centrada num núcleo unicelular, cuja preocupação era a de estimular o afeto entre
os seus membros e manter a privacidade, de maneira a impedir a intervenção dos
parentes em seus negócios internos. Dessa forma, pretende-se revalorizar a infância
e perceber essa faixa etária como um tempo diferente, bem como exercer controle
sobre o desenvolvimento intelectual da criança e a manipulação de suas emoções.
Para essa nova estruturação social, a Literatura Infantil e a escola serão de
fundamental importância.
Segundo ZILBERMAN (1985), “Estimulada ideologicamente pelo estado absolutista
e, depois, pelo liberalismo burguês, que encontraram neste núcleo o suporte
necessário para centralizar o poder político e contrabalançar a rivalidade da nobreza
feudal, ela recebeu o aval político para irradiar seus principais valores: a primazia da
vida doméstica, fundada no casamento e na educação dos herdeiros; a importância
do afeto e da solidariedade de seus membros; a privacidade e o intimismo enquanto
condições de uma identidade familiar.”(Zilberman,1985:14)
A “infância”, essa faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando
de formação específica, só acontecerá em meio à Idade Moderna.
• Vamos pensar... Os primeiros livros para as crianças foram produzidos, como
já vimos, no final do século XVII e durante o século XVIII.
• Por que antes disso não se escrevia para as crianças?
Quais as implicações desses fatos para a Literatura Infantil?
A Literatura Infantil nasce, então, com a missão de educar e de
transmitir valores, portanto, não é vista como arte e, sim, como um
instrumento didático, para servir à multiplicação da norma em vigor.
Assim, é dever da escola participar do processo de manipulação
da criança, para conduzi-la a acatar a norma vigente, a da classe
dominante, a burguesia.
Aspectos importantes:
• Os primeiros livros para crianças foram produzidos ao final do século 17 e durante
o século 18. Antes disso, não se escrevia para elas, porque não existia a “infância”.
• Na Idade Moderna, vamos ter um novo modelo familiar burguês: a família está
centrada não mais em amplas noções de parentesco, mas num núcleo unicelular.
• Na Idade Média, os principais valores são: a primazia na vida doméstica, fundada
no casamento e na educação dos herdeiros.
• A valorização da infância enquanto faixa etária diferenciada é uma característica
fundamental do modelo familiar burguês.
• Antes da constituição do modelo familiar burguês inexistia uma consideração
especial para com a infância.
• A nova valorização da infância permitiu maior união familiar bem como o controle
do seu desenvolvimento emocional e intelectual.
• Foram as modificações sociais e políticas acontecidas na Idade Moderna e
solidificadas no século XVIII que propiciaram o nascimento da escola.
• Na Idade Média floresce o conceito de estrutura unifamiliar privada.
• Foi a burguesia ascendente dos séculos XVIII e XIX a patrocinadora da expansão e
aperfeiçoamento do sistema escolar.
• A Literatura Infantil foi usada como um instrumento, na Idade Moderna, para a
criança acatar a norma vigente, a da burguesia.
11.1 COMO TRABALHAR HOJE COM A LITERATURA INFANTO–JUVENIL NA
ESCOLA?
Ambas, a Literatura e a Escola, devem trabalhar no sentido de se tornarem espaço
para a criança refletir sobre sua condição pessoal, despertando seu potencial
criador.
De acordo com ZILBERMAM (1985: 25), “... a literatura Infantil deve ser levada a
realizar sua função formadora, que não se confunde com uma missão pedagógica”.
Vejamos, ainda, como o professor deve trabalhar com a Literatura InfantoJuvenil:
“- o professor que se utiliza do livro em sala de aula não pode ser igualmente um
redutor, transformando o sentido do texto num número limitado de observações tidas
como corretas (procedimento que encontra seu limiar nas fichas de leitura, cujas
respostas devem ser uniformizadas, a fim de que possam passar pelo crivo do certo
e do errado);”
“- ao professor cabe o detonar das múltiplas visões que cada criação literária sugere,
enfatizando as variadas interpretações pessoais, porque estas decorrem da
compreensão que o leitor alcançou do objeto artístico, em razão de sua percepção
singular do universo representado.” (ZILBERMAM, 1985: 24)
Como o professor deve trabalhar com o livro infantil em sala de aula, segundo
Zilbermam:
• O professor deve escolher obras apropriadas à criança e ao jovem.
• O professor deverá empregar recursos metodológicos eficazes, que estimulem a
leitura, suscitando a compreensão das obras e a verbalização, pelos alunos, do
sentido apreendido por meio da leitura.
• O professor precisa conhecer um acervo literário representativo.
• O professor deve dominar critérios de julgamento estético, que permitam a seleção
de obras de valor.
• O professor precisa ter conhecimento do conjunto literário destinado às crianças,
considerando-se sua trajetória histórica (origem e evolução), assim como os autores
atuais, nacionais e estrangeiros, mais representativos.
• O professor precisa desenvolver técnicas e métodos que estimulem a criança à
leitura.
• O professor precisa reconhecer que a leitura é uma atividade decisiva na vida dos
alunos, uma vez que permite a eles um discernimento do mundo e um
posicionamento perante a realidade.
• O professor não deve ver o livro como instrumento de transmissão de normas,
sejam elas lingüísticas ou comportamentais. É preciso reconhecer a Literatura
Infanto-Juvenil enquanto arte e não como instrumento pedagógico.
Curiosidades
• Os primeiros livros para criança foram produzidos ao final do século 17 e 18. Antes
disso, não se escrevia para elas, porque não existia a “infância”.
• Os primeiros textos para crianças são escritos por pedagogos e professoras, com
marcante intuito educativo; por isso até hoje a Literatura Infantil permanece como
uma colônia da Pedagogia, o que lhe causa prejuízos.
• Foram as modificações acontecidas na Idade Moderna e solidificadas no século 18
que propiciaram a ascensão de modalidades culturais como a escola com sua
organização atual e o gênero literário dirigido ao jovem.
• A literatura em sala de aula funciona como agente do conhecimento porque
propicia o questionamento dos valores em circulação na sociedade; seu emprego
em aula ou em qualquer outro cenário desencadeia o alargamento dos horizontes
cognitivos do leitor, o que justifica e demanda seu consumo escolar.
• A idéia de que a Literatura Infantil é subliteratura ou um gênero menor é um
preconceito.
• Muitas obras feitas para crianças e ditas de literatura infantil não se desprendem de
uma peculiaridade do discurso pedagógico: a redução da criança, notadamente pela
facilitação artística (puerilidade) e pelo tom moralizador.
• A Literatura Infantil enquanto manifestação artística não é traição ao leitor.
• Traição pode ocorrer no plano do educador, quando este escolhe para impingir à
criança o livro de intenções pedagógicas, e não literário.
Momento de reflexão:
Podemos dizer que na medida em que tivermos diante de nós uma obra de arte,
realizada através de palavras, ela se caracterizará pela abertura, pela possibilidade
de vários níveis de leitura, pelo grau de atenção e consciência a que nos obriga,
pelo fato de ser única, imprevisível-original, enfim, seja no conteúdo, seja na forma.
Portanto, essa obra será marcada pela conotação (plurissignificação) e não poderá
ser pedagógica, no sentido de encaminhar o leitor para um único ponto, uma única
interpretação da vida.
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