ESTUDO DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E TESTE DE ACEITABILIDADE DE PICOLÉS DE LIMÃO COM E SEM ORA-PRONOBIS (PERESKIA ACULEATA MILLER) Marina Silva Mundim1 Graduanda em Nutrição Cassiano Oliveira da Silva 2 Engenheiro de Alimentos, Mestre Débora Santana Alves 3 Graduanda em Nutrição Érika Maria Marcondes Tassi4 Nutricionista e Professora Adjunto I, Doutora Resumo Os alimentos não convencionais caracterizam-se como uma alternativa para diversificar e melhorar a qualidade nutricional da dieta de populações de baixa renda, pois são baratos e podem também ser cultivados em seus domicílios ou em hortas comunitárias. O ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) é uma planta nutritiva e quando adicionada a diferentes preparações pode ser bastante saborosa. Os objetivos deste trabalho foram estudar a composição centesimal da folha da planta e avaliar a aceitação de um picolé elaborado com ora-pro-nobis. Foram elaborados picolés de limão com e sem adição de ora-pro-nobis e realizado o teste de ¹ Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia, Campus Umuarama, Avenida Pará, 1720, Bloco 2U, sala 20, Umuarama, 38405-320, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. [email protected]. 2 Instituto Federal Fluminense, Bom Jesus do Itabapoana, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasil. [email protected]. 3 Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia, Campus Umuarama, Avenida Pará, 1720, Bloco 2U, sala 20, Umuarama, 38405-320, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. [email protected] 4 Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia, Campus Umuarama, Avenida Pará, 1720, Bloco 2U, sala 20, Umuarama, 38405-320, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. [email protected]. aceitabilidade. O ora-pro-nobis apresentou valores de 20,17% de proteínas, 39,65% de fibras e 18,15% de cinzas. O picolé de limão contendo ora-pro-nobis apresentou teores significativamente maiores (p<0,05) de proteínas, fibras e carboidratos em relação ao picolé de limão convencional. No teste de aceitabilidade realizado com crianças, a aceitação do picolé com a adição de ora-pro-nobis foi de 100% e o picolé convencional de 91,17%. Diante dos resultados obtidos, podemos concluir que a adição do ora-pro-nobis na elaboração de alimentos, tal como o picolé, pode contribuir para a melhora do valor nutricional do produto e da alimentação. Palavras chave: alimentos não convencionais, composição química, ora-pro-nobis, picolés, teste de aceitabilidade. Abstract Unconventional foods are an alternative to diversify and improve the nutritional quality of the diet in of low-income populations because they are inexpensive and can also be cultivated in their own residence or in community gardens. Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) is a nutritive plant and when added to different preparations can be quite tasty. The objectives of this work were to study the chemical composition of ora-pro-nobis leaves and to evaluate the acceptance of a popsicle made with this plant. Lemon popsicles were prepared with and without addition of ora-pro-nobis and performed sensory testing. Ora-pro-nobis presented values of 20.17% protein, 39.65% fiber and 18.15% ash. The lemon popsicle containing ora-pro-nobis showed significantly higher levels (p <0.05) of protein, fiber and carbohydrates compared to conventional lemon popsicle. According to sensory evaluation made with children, acceptance of popsicle with the addition of ora-pronobis was 100%, and significantly higher (p <0.05) than conventional one 91.17%. Based on these results, we conclude that the addition of ora-pro-nobis in preparation of foods such as popsicles, may contribute to improvement of the nutritional value and increase product acceptance. Key words: food unconventional, chemical composition, ora-pro-nobis, popsicles, sensory evaluation. 2 Introdução A segurança alimentar deve ser garantida a toda população, isto significa acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidades suficientes, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Os alimentos devem ser nutritivos e saborosos a fim de satisfazer as demandas fisiológicas de cada indivíduo, para que este leve uma vida ativa e saudável. É importante ressaltar que as práticas alimentares promotoras de saúde, devem respeitar à diversidade cultural e devem ser social, econômica e ambientalmente sustentáveis (FAO, 1996; GALLINA et al, 2012; MELÃO, 2012). Na tentativa de manter o acesso regular e permanente de alimentos pela população mais carente, tem-se como opção o consumo de alimentos não convencionais. Estes alimentos caracterizam-se como uma alternativa para diversificar e melhorar a qualidade nutricional da dieta de populações de baixa renda, pois são baratos e podem também ser cultivados em seus domicílios ou em hortas comunitárias. Os alimentos não convencionais, tais como a taioba, ora-pronobis, o maxixe, dentre outros, são nutritivos e adicionados a diferentes preparações podem ser saborosos (PINTO, 1998; BRASIL, 2002). Segundo Knupp & Barros (2008), as frutas e hortaliças não-convencionais geralmente apresentam teores de minerais e proteínas significativamente maiores do que as plantas domesticadas, além de serem mais ricas em fibras e compostos com funções antioxidantes. Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) é uma planta da família das Cactáceas e é originária das Américas, sendo nativa desde a Flórida até o Brasil (BRASIL, 2010). É popularmente conhecido como carne-de-pobre ou carne-denegro, devido aos elevados teores de proteínas apresentados (ROCHA et al., 2008). Suas folhas possuem forma elíptica, com cerca de 7 centímetros de comprimento e 3 centímetros de largura. O pecíolo é curto e pode agrupar de duas a seis folhas em ramos laterais. Como característica da família que o representa, o ora-pro-nobis, possui espinhos axilares (DUARTE & HAYASHI, 2005) e também apresenta pequenas flores de coloração branca e frutos em pequenas bagas amarelas. É uma 3 planta de fácil cultivo, resistente a seca e adapta-se aos diversos tipos de solos, não sendo exigente em fertilidade (BRASIL, 2010). A folha do ora-pro-nobis pode ser usada como complemento nutricional, pois contem valores de proteína, fibras, ferro, cálcio, dentre outros (MERCÊ et al., 2001; ROSA & SOUZA, 2003; DUARTE & HAYASHI, 2005). Essa folha pode ser utilizada em diversas preparações, tais como, saladas, omelete, refogados, massas e também ser adicionada nos alimentos destinados ao público infantil, como picolés. A criança em idade escolar precisa de uma alimentação adequada e equilibrada, por estar em fase de crescimento. Desta forma, as exigências nutricionais devem ser atendidas em todos os parâmetros, tais como energéticos, proteicos, lipídicos, vitamínicos, minerais e de fibra. Muitas crianças se alimentam nas escolas públicas ou creches e veem a alimentação escolar como única refeição diária. A alimentação escolar deve ser programada para fornecer refeições variadas, nutritivas e saborosas, de modo que atenda a 15% das necessidades nutricionais diárias (BRASIL, 2000). Também deve ser de baixo custo, pois é dependente da verba disponível. Com intuito de melhorar a alimentação escolar, a fortificação de alguns alimentos de preferência das crianças pode ser vantajosa. A fortificação deve ser baseada na utilização de alimentos específicos e de uso habitual pela população (FISBERG et al. 2003). Considerando que o picolé é um alimento muito apreciado pelas crianças e que ora-pro-nobis é uma folha de fácil cultivo, os objetivos deste trabalho foram estudar a composição centesimal do Pereskia aculeata Miller e avaliar a aceitação de um picolé elaborado com ora-pro-nobis. Desenvolvimento Material e métodos O presente estudo foi desenvolvido em duas partes: análise química e teste de aceitabilidade. A análise química foi realizada no Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos do Curso de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia e o teste de aceitabilidade na Escola Estadual 4 Presidente Juscelino Kubitschek, localizada no Bairro Aclimação, Uberlândia, Minas Gerais. A justificativa para a realização do estudo na escola se deve ao fato de que ali foi desenvolvido um projeto de extensão da PROEX-UFU – Horta Nossa de Cada Dia Revisitada- na qual, além do cultivo de ora-pro-nobis, entre outras hortaliças, seu uso culinário foi incentivado, por meio de oficinas coletivas que reuniu mães de alunos e a comunidade escolar. Desta forma, as folhas foram coletadas para análise química e posteriormente para a preparação dos picolés de limão com ora-pro-nóbis para aplicação do teste sensorial com os estudantes da instituição. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Uberlândia em 01/12/2012 (CAAE: 02047412.9.0000.5152). Análise química Para a análise da composição nutricional do ora-pro-nobis, foram coletadas 860 gramas de folhas saudáveis. No Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos do Curso de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, estas folhas foram lavadas em água corrente. A análise química do ora-pro-nobis foi realizada em base seca. Foram realizadas quatro repetições em triplicatas. Os picolés foram preparados na Escola Estadual Presidente Juscelino Kubitschek. Foram feitos 150 picolés, sendo 75 de limão e 75 de limão com ora-pronobis. Os ingredientes utilizados para a preparação dos picolés de limão sem orapro-nobis e as respectivas porcentagens de composição foram: 375 ml de suco de limão tahiti (Citrus Aurantifolia) (0,34%); 1,5 litros de água fervida adicionado a 67 gramas de açúcar refinado (63,2%) e 1,5 litros de água filtrada (1,38%). Estes ingredientes foram batidos no liquidificador. Posteriormente foi colocado o suco em copos plásticos descartáveis e levados ao congelador a 24 °C negativo. Assim que o preparado começou a endurecer, os palitos de picolé foram colocados. Após aproximadamente 4 horas o picolé estava pronto. O mesmo procedimento foi utilizado para o picolé de limão com ora-pro-nobis, porém neste caso, foram acrescentadas a mais 38 folhas (35%) jovens da hortaliça no liquidificador já previamente lavadas. Para análise química dos picolés de limão com e sem ora-pro-nobis foram utilizados três picolés de cada sabor. Foram realizadas 4 repetições em triplicatas. 5 Tanto nas folhas quanto nos picolés foram realizadas as seguintes análises: teor de umidade, proteína, carboidrato, lipídios, cinzas e fibras. Os métodos utilizados estão descritos abaixo. Umidade O teor de umidade foi determinado pelo método de secagem em estufa de 10 gramas de amostra em temperatura de 65°C por 72 horas (ZENEBON et al., 2008). Proteína A proteína foi determinada pelo método micro Kjeldahl (AOAC, 1998), utilizando fator de 6,25 para conversão do teor de nitrogênio em proteína. Lipídios Totais O teor de lipídios foi determinado pelo método de extração de Soxhlet, utilizando solvente éter etílico sob refluxo durante 8 horas (ZENEBON et al., 2008). Fibras Totais O teor de fibras alimentares totais foi determinado pelo método nãoenzimático gravimétrico para alimentos com até 2% de amido (LI & CARDOSO, 1994). Cinzas O teor de cinzas foi determinado de acordo com Zebebon et al. (2008). Cadinhos contendo 3,0 gramas de amostra foram calcinados à temperatura de 220°C e posteriormente a amostra foi incinerada em mufla a 550°C por 6-8 horas até obtenção do resíduo mineral fixo. Carboidratos O teor de carboidratos foi determinado pela diferença entre a totalidade do alimento e os teores dos componentes: umidade, lipídios, proteínas, fibras e cinzas (BRASIL, 2003). 6 Teste de aceitabilidade O teste de aceitabilidade foi realizado na Escola Estadual Presidente Juscelino. Os responsáveis pelos alunos que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e tinham a opção de interromper sua participação a qualquer momento. O teste de aceitabilidade foi desenvolvido com 68 alunos da Escola Estadual Presidente Juscelino Kubitscheck, matriculados no quinto ano. Os critérios de inclusão foram: crianças cujos responsáveis autorizaram a participação no projeto. E os critérios de exclusão foram as crianças que se recusaram degustar os picolés e que apresentavam dificuldades no preenchimento da escala por apresentarem deficiência visual grave e dificuldade de compreensão do teste. No momento do teste de aceitabilidades as crianças foram chamadas por classe, pois a escola possui três salas correspondentes ao quinto ano. O local escolhido para aplicação do teste foi o refeitório. A degustação dos picolés foi realizada em dias diferentes, sendo que primeiro foi ofertado os picolés de limão com ora-pro-nobis. Foi selecionado um local separado, um ambiente de individualidade de julgamentos, para as crianças, uma por vez, após consumirem os picolés, preencherem a escala hedônica facial de cinco pontos, adaptada da Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação/ Conselho Deliberativo número 32, de 10 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006), conforme mostra a Figura 1. Figura 1- Ficha para teste de aceitabilidade Escala Hedônica Facial Fonte: Manual para aplicação dos testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, 2010. (Adaptado) 7 Análise Estatística Para a análise estatística, foi utilizado o teste de t de Student ao nível de 5% de probabilidade, através do programa SAEG 9.0 (Universidade Federal de Viçosa, 2007), para identificar diferenças significativas na quantidade dos componentes dos picolés com e sem ora-pro-nobis. A análise do teste de aceitabilidade foi feito de acordo com a Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação/ Conselho Deliberativo número 32, de 10 de agosto de 2006, na qual, determina que para aprovação da preparação o grau de aceitabilidade deve ser igual ou superior a 85%, considerando a somatória das porcentagens de respostas dadas as “carinhas” 4 e 5. Resultados e discussão Analise química da folha do ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) Os resultados da avaliação química (umidade, matéria seca, lipídios, proteína bruta, fibra total, cinza, carboidratos totais) da folha do ora-pro-nobis estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1: Composição química média das folhas do ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) em base úmida e seca. Parâmetros químicos Quantidade g(%) em Quantidade g(%) em avaliados (%) base úmida base seca Umidade 85,91 - Proteína 3,02 20,17 Lipídeos 0,29 2,25 Cinzas 2,54 18,15 Fibra Alimentar 5,58 39,65 Carboidratos 2,66 24,28 Fonte: pesquisa 8 O valor de umidade da folha do ora-pro-nobis foi 85,91%. Este valor encontrado no estudo foi bastante semelhante à pesquisa de Takeiti et al. (2009), na qual obteve 89,5% e na pesquisa de Martinevski et al. (2013), que obteve 86,81%. Como todas as outras folhas, o Pereskia aculeata Miller apresenta elevados teores de água em sua composição. Os teores de proteínas, em amostra seca, (20,17%) foram próximos aos do ora-pro-nobis estudado por Silva et al. (2006), Rocha et al. (2008) e Martinevski et al. (2013) que encontraram teores médios de proteína de 24,73%, 22,93% e 20,10% respectivamente, enquanto Takeiti et al. (2009) e Gonçalves et al. (2014) encontraram 28,49% e 27,79% de proteínas em folhas de ora-pro-nobis, respectivamente. Almeida Filho e Cambria (1974) analisaram alguns vegetais (couve, milho híbrido, alface e espinafre) quanto ao valor de lisina (aminoácido essencial). Dentre as plantas estudadas, ora-pro-nobis obteve maior teor deste aminoácido em sua composição (1,153 gramas de lisina por 100 gramas de massa seca). Portanto, a concentração de lisina do Pereskia aculeata Miller é um dado importante, já que se trata de um aminoácido essencial. Desta forma, esta hortaliça pode ser considerada como uma boa fonte de proteína de origem vegetal, a qual possui tempo de digestão menor que o da proteína animal. Contudo, o processamento da planta pode tanto beneficiar ou prejudicar a qualidade nutricional da proteína, dependendo do tempo de aquecimento, temperatura utilizada e presença ou não de umidade (YOUNG & PELLETT, 1994). A maioria dos vegetais não é boa fonte de lipídeos, assim como o ora-pronobis. O teor de lipídeos encontrado em base seca foi de 2,25%. Este valor é próximo ao encontrado por Rocha et al. (2008) e por Martinevski et al. (2013), na qual ao analisarem o teor de lipídeos do Pereskia aculeata Miller encontraram 3,64% e 2,07% de cinzas em amostra seca, respectivamente . Desta forma, o orapro-nobis possui baixa quantidade de gordura em sua composição. O teor de cinzas diz a respeito à quantidade total de minerais presentes na planta. O ora-pro-nobis apresentou 18,15% de cinzas em amostra seca. Rocha et at. (2008), também encontraram valores de cinzas próximos do presente estudo 9 (18,07%), enquanto Martinevski et al. (2013) encontraram um valor de 13,66%. O Pereskia aculeata Miller quando comparado às outras hortaliças, como, por exemplo, a folha da cenoura (PEREIRA et al., 2003) e o alface (OHSE et al., 2009), 10,25% e 15,86%, possui um maior teor de minerais, respectivamente. Em amostra seca, o ora-pro-nobis apresentou 39,65% de fibra alimentar total, sendo um valor próximo ao encontrado por Martinevski et al. (2013) de 39,27%. Esse valor foi maior ao encontrado por Gondin et al. (2005), que analisaram a composição centesimal de cascas de diferentes frutas, dentre elas a banana, na qual apresentou 18,90% de fibras totais. Isso pode indicar que as plantas não convencionais podem ter um teor de fibras maior do que muitas frutas comumente consumidas pela população. Desta forma, assim como as cascas das frutas são utilizadas para agregar mais fibras em algumas preparações, as folhas do ora-pronobis podem também realizar este mesmo papel, com a vantagem de contribuir mais na composição final de fibras totais. Os teores de carboidratos encontrados em amostra seca na folha do ora-pronobis foi 24,28%. Este valor foi semelhante no achado por Silva et al. (2006) e Martinevski et al. (2013) na qual ambos encontraram 24,80% de carboidratos totais em amostra seca. O Pereskia aculeata Miller não é uma fonte de carboidratos. Análise centesimal dos picolés de limão com e sem ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) Os valores obtidos da análise da composição centesimal do picolé com e sem ora-pro-nobis estão presentes na Tabela 2. Tabela 2 – Composição centesimal de picolés de limão com e sem ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller). p Parâmetros químicos Picolé de limão com ora- Picolé de limão sem ora- avaliados (%) pro-nóbis pro-nóbis Umidade 79,50 ± 0,91 83,69±1,19 0,001* Proteína 0,10±0,01 0,02±0,00 0,0001* Lipídeos 0,21±0,00 0,22±0,01 0,80 10 Cinzas 0,14±0,09 0,12±0,09 0,77 Fibra Alimentar 0,01±0,00 0,00±0,00 0,0007* Carboidratos 20,01±1,00 15,93±1,24 0,002* *Houve diferença significativa entre os picolés avaliados, utilizando o teste t de Student (p<0,05). Fonte: pesquisa O teor de umidade, do picolé de limão sem ora-pro-nobis apresentou valores maiores de água do que o picolé com a adição da planta (83,969% versus 79,5%, respectivamente, p=0,001). Rocha et al. (2008) realizou um estudo na qual desenvolveu um macarrão tipo talharim com adição de 2,0% de ora-pro-nobis e comparou a composição química deste com macarrão convencional. Os autores encontraram maior teor de água no macarrão com ora-pro-nobis, ou seja, resultado oposto ao apresentado neste trabalho. Contudo, formulação deste produto alimentício contém mais complemento do Pereskia aculeata Miller, portanto contém mais fibras, na qual possuem a capacidade de retenção de água. Em relação ao teor de proteína do picolé de limão com ora-pro-nobis (0,10%) é estatisticamente superior (p=0,0001) ao do picolé de limão sem ora-pro-nobis (0,02%). Considerando que as duas preparações foram desenvolvidas a partir de ingredientes adicionados em quantidades iguais, o aumento na quantidade de proteína deve-se a adição do ora-pro-nobis ao picolé. Apesar das fontes proteicas de origem vegetal apresentem baixo valor biológico, segundo Almeida Filho e Cambria (1974) o teor proteico do ora-pro-nobis é de boa qualidade, pois apresenta 85,0% de digestibilidade e elevados teores de aminoácidos essenciais, destacandose a lisina. Neste estudo, os teores de lipídeos do picolé de limão com e sem ora-pronobis não apresentaram diferença significativa (p=0,8). Assim como na pesquisa de Rocha et al. (2008), os valores de lipídeos do macarrão tipo talharim com adição de 2,0% de ora-pro-nobis e do macarrão convencional não apresentarem diferenças estatísticas. Este fato pode ser explicado devido ao fato desta planta possuir em sua composição nutricional baixos teores de lipídeos. No presente estudo, foi encontrado que a folha de ora-pro-nobis possui apenas 0,29% de lipídeos totais em amostra úmida. 11 Embora estudo de Silva et al. (2006) tenha demonstrado que a folha de orapro-nobis contenha valores maiores de magnésio, ferro, cálcio e manganês quando comparado com outras hortaliças não convencionais, como taioba e serralha, neste estudo não se observou diferença significativa (p=0,7) entre os picolés de limão com e sem ora-pro-nobis em relação ao teor de cinzas. O teor de fibra bruta do picolé de limão com ora-pro-nobis apresentou valor significativamente maior (p=0,0007) do que o picolé de limão sem o complemento da planta, Tabela 3. Diante disto, o consumo do picolé com adição do ora-pro-nobis é interessante, pois poderia contribuir para a saúde devido aos benefícios da fibra ao organismo. As fibras desempenham um papel fisiológico no corpo humano, aumentando a saciedade na ingestão de alimentos, o peso e o volume do bolo fecal e regulando o metabolismo e excreção de colesterol (CUPPARI, 2005). Em relação aos teores de carboidratos, o picolé de limão com ora-pro-nobis apresentou valor significativamente maior (p=0,002) que o picolé de limão sem orapro-nobis, 20,01% e 15,93% receptivamente. Considerando que ambos os picolés possuem a mesma quantidade de ingredientes, o aumento significativo de carboidrato se deve a adição da planta ora-pro-nobis. Este resultado é interessante quando é levado em questão de que o consumo deste alimento será feito por escolares, que necessitam de um maior aporte de energético não somente por estarem na fase de crescimento, mas como também por geralmente serem muito ativos. Teste de aceitabilidade Os resultados do teste de aceitabilidade para os picolés de limão com e sem ora-pro-nobis, estão representados na Figura 2 e 3. 12 100% 80% 60% 40% Picolé de limão com ora-pronóbis 20% Picolé de limão sem ora-pronóbis 0% Carinha Carinha Carinha Carinha 1 2 Carinha 3 4 5 Figura 2: Resultados do teste de aceitabilidade dos picolés de limão com e sem ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller). Fonte: pesquisa Índice de Aceitação Índice de Aceitação 100% 91,17% Picolé de limão com orapro-nóbis Picolé de limão sem orapro-nóbis Figura 3: Índice de aceitação dos picolés de limão com e sem ora-pro-nobis. Fonte: pesquisa O picolé de limão com ora-pro-nobis teve boa aceitação pelas crianças. A grande parte das crianças (95,58%) marcou a carinha 5, que representa aceitação máxima do alimento. E 4,42% assinalaram a carinha 4, que correspondente a 13 “gostei”. Desta forma, de acordo com o cálculo de aceitabilidade proposto pela Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação/ Conselho Deliberativo número 32, de 10 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006), o picolé de limão com ora-pro-nobis obteve 100% de aceitação. Este resultado positivo em relação à aceitação de produtos com complemento do ora-pro-nobis, também ocorreu no estudo de Rocha et al. (2008), no qual 98,75% dos julgadores atribuíram notas maiores ou iguais a 4,0 (gostei) para o macarrão com ora-pro-nobis. O picolé de limão sem ora-pro-nobis também obteve a porcentagem necessária de aceitação (91,17%). O picolé por ser um alimento refrescante já possui uma boa aceitação em lugares quentes, como é o caso da cidade onde foi realizado o estudo. Contudo se faz necessário incentivar a utilização de alimentos não convencionais, tal como o Pereskia aculeata Miller, a fim de diversificar e melhorar a qualidade nutricional da dieta, principalmente em locais na qual na condição financeira é precária. Esses alimentos são nutritivos e adicionados à diferentes preparações podem ser saborosos, assim como foi comprovado por meio do teste sensorial deste estudo. A elaboração do picolé de limão com ora-pro-nobis contribuirá com a segurança alimentar das crianças, uma vez que este alimento além de ser saboroso e mais nutritivo que o picolé convencional. Nesse sentido, é importante destacar que por se tratar de uma espécie rústica seu cultivo por práticas agroecológicas, sem uso de agrotóxicos, é bem sucedido, o que confere ao alimento um maior valor biológico e não contamina o ambiente. Além disso, as alternativas de uso paisagístico dessa espécie, como trepadeira ornamental, quer seja, apoiada em cercas e grades ou conduzida em treliças, quer seja, cobrindo pergolados, favorecem sua produção em distintos ambientes urbanos ou rural, proporcionando assim a produção de folhas disponíveis durante todo o ano. Diante da apreciação do picolé de limão com ora-pro-nobis pelas crianças, do seu fácil preparo e do fato de que este é melhor nutricionalmente do que o picolé convencional surge à possibilidade de introduzir este alimento à alimentação escolar. As crianças em idade escolar precisam de uma alimentação adequada e equilibrada, sendo assim é necessário incentivar o consumo de alimentos mais saudáveis, acessíveis e que são preditivos do paladar infantil. 14 Considerações Finais Diante dos resultados obtidos, podemos concluir que a adição do ora-pronobis na elaboração de alimentos, tal como o picolé, pode contribuir para a melhora do valor nutricional do produto e da alimentação. Referências ALMEIDA FILHO. J. & CAMBRAIA, J. Estudo do valor nutritivo do “ora-pro-nobis” (Pereskia aculeata Mill). Revista Ceres, p. 114:105-11, 1974. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALITICAL CHEMISTS. Official Methods of Analysis of the AOAC. 16th ed.Washington, DC, 1998. BRASIL (2000). Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Conselho Deliberativo. Resolução FNDE/CD/Nº 15, de 25 de agosto de 2000. Lex: Diário Oficial da União, Poder Executivo, de 25 de agosto de 2000(b), Brasília. Disponível em: <www.anvisa.gov.br>. 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