Universidade de São Paulo 3° Simpósio Iberoamericano de História

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Universidade de São Paulo
3° Simpósio Iberoamericano de História da Cartografia
Agendas para a História da Cartografia Iberoamericana
São Paulo, abril de 2010
Um Olhar Sobre Teresina a partir da Cartografia Urbana e Evolução dos Mapas
Christiane Carvalho NERES
Acadêmica de Geografia
Universidade Federal do Piauí
Raimundo Lenilde de ARAÚJO
Professor do Departamento de Geografia e História
Universidade Federal do Piauí
RESUMO
A cidade de Teresina foi criada com o objetivo de ser a nova capital da Província do Piauí, na
primeira metade do século XIX. Para isso foram elaborados mapas cartográficos que definiam
as novas delimitações do sítio urbano do território situado à margem direita do rio Parnaíba,
no limite com a Província do Maranhão, e a esquerda do rio Poty, próximo ao encontro com o
rio Parnaíba. Este trabalho visa primordialmente estudar a evolução dos mapas cartográficos
da cidade de Teresina, implantada em 1852, como capital do Estado do Piauí, e com isso
perceber a evolução urbana e caracterização do território. Estudaram-se nesse trabalho
aspectos cartográficos relacionados à criação e evolução cartográfica e urbana da cidade, onde
se identificou o primeiro mapa elaborado em 1855 e ao analisar esses documentos verificouse o traçado típico do período colonial, caracterizado por disposição de ruas em formato de
tabuleiro de xadrez e que permanece até hoje na disposição das ruas da cidade de Teresina.
Para isso, foi realizada revisão bibliográfica sobre cartografia, no que se refere à origem e
evolução, pesquisa de campo no serviço de cartografia e no departamento de imprensa e
publicação da Prefeitura de Teresina, identificação e análise de mapas históricos da cidade de
Teresina e elaboração de texto. O presente estudo proporciona, portanto, uma compreensão
aprofundada, do ponto de vista cartográfico e da organização do território, da evolução urbana
da cidade de Teresina, servindo como fonte de pesquisa para outros trabalhos.
Palavras-chave: Cartografia. História. Mapas. Piauí. Teresina.
INTRODUÇÃO
A cartografia no Brasil, até a chegada da família real, sofria fortes influências das
técnicas e do estilo Europeu. Contudo, com a criação da Real Academia da Marinha e a
Escola da Artilharia e Fortificação em 1808, começou o rompimento da Cartografia LusoBrasileira surgindo uma Cartografia Imperial. Foi somente com a implantação da Imprensa
Régia (1808) que começaram as edições de mapas nacionais e o Real Arquivo Militar (1808)
se responsabilizou, então, pela preservação do acervo, apoiando a impressão de novos mapas,
como por exemplo, a planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e outras.
O território onde seria instalada a cidade de Teresina foi visitado, pela primeira
vez, em 1662 por Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista que chegou à Barra do
Poty e fundou um Arraial. Contudo, somente em 21 de novembro de 1833 é que foi instalada
a Vila do Poty (hoje Bairro Poty Velho em Teresina). Em 1850, José Antônio Conselheiro
Saraiva assume a presidência da Província do Piauí e visita a Vila do Poty. Constatou, no
entanto, tratar-se de local insalubre por estar situado no encontro das águas dos rios Parnaíba
e Poti, segundo a interpretação da época. Porém, em 1842, antes de sua posse, o Conselho
Geral da Província havia autorizado a transferência da Vila do Poty para um local que fosse
mais apropriado.
Saraiva, já em 1851, após sua posse, dirigiu-se à Vila do Poty para as terras da
Fazenda Chapada do Corisco, que era utilizada para a criação de gado. Esse nome deveu-se a
ocorrência de muitas trovoadas e faíscas elétricas na estação chuvosa. Nesse local foram
instaladas a Câmara Municipal e outras repartições públicas, mudando também o nome do
lugar para Vila Nova do Poty.
Em 21 de Julho de 1852, uma resolução No. 315 da Assembléia Provincial eleva a
Vila Nova do Poty à categoria de capital da Província do Piauí. Em 21 de agosto de 1852, o
presidente da província mudou-se de Oeiras, então a primeira capital do Estado do Piauí, para
Teresina. Essa toponímia foi em Homenagem a Imperatriz Teresa Cristina.
Após o pronunciamento da mudança da capital para Teresina, muitos habitantes
da cidade ofereceram casas gratuitamente, por um ou dois anos para instalação de Palácio,
Tesourarias, Correios e outras repartições. Também foram colocadas à nova administração
muitas outras casas para a moradia de funcionários.
No Natal de 1852, o padre Mamede Antonio de Lima, primeiro vigário de
Teresina, em missa solene, declarou transferida a Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, da
capela do Poti para a Igreja de Nossa Senhora do Amparo (de Teresina), elevada à categoria
de matriz em 1853, onde o seu prédio serviu de ponto de referência para o traçado geométrico
da cidade representado no mapa de 1855.
Com o passar do tempo Teresina foi se expandindo e se estruturando. Hoje
Teresina constitui um centro político e de serviços interiorizado, situado na confluência dos
eixos de circulação que ligam as metrópoles do Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza) com a
metrópole Belém, porta de entrada para a Amazônia.
Os fatores que impulsionam sua economia atualmente estão determinados
basicamente por ser: capital do estado, e, portanto centro político-administrativo, sediando
instituições de todos os níveis de governo; entroncamento rodoviário regional e nacional,
tornando a cidade um importante elo na cadeia de distribuição e comercialização de
mercadorias; e submetrópole regional, fornecendo produtos e serviços para a sua área de
influência.
Esta pesquisa objetiva primordialmente a evolução dos mapas cartográficos da
cidade de Teresina, como capital do Estado do Piauí, e com isso perceber a evolução urbana
do território.
Como objetivos específicos pretendem-se analisar os mapas cartográficos de
Teresina desde os primórdios até a atualidade e fazer uma breve descrição da evolução urbana
da cidade através desses mapas.
Utilizaram-se mapas e plantas da cidade que permitiram uma compreensão da
evolução urbana de Teresina. Em seguida, foram realizadas revisões bibliográficas sobre
cartografia, no que se refere à origem e evolução, pesquisa de campo no serviço de cartografia
e no departamento de imprensa e publicação da Prefeitura de Teresina.
Visando mostrar a evolução urbana de Teresina através da evolução dos mapas,
este trabalho, contribui de forma grandiosa na compreensão da configuração atual do espaço
da cidade, do ponto de vista cartográfico e da organização do território, servindo nesse sentido, como
fonte de pesquisa para outros trabalhos.
A cartografia histórica e a evolução urbana de Teresina
O mapa mais antigo de Teresina é datado de 28 de abril de 1855,
aproximadamente três anos após a instalação da cidade, mencionado em uma correspondência
da câmara municipal de Teresina. (Figura 1)
Figura 1
Configuração urbana de Teresina
1855
Fonte: Fundação Monsenhor Chaves, 1992, p.9
Ao analisar-se o referido mapa, percebe-se o modelo de cidade traçado e típico do
período colonial. No centro, próximo à margem direita do Rio Parnaíba, situa-se a Igreja de
Nossa Senhora do Amparo de onde partem as ruas, sempre formando ângulos retos em cujo
traçado já residia, em 1854, 8.000 habitantes aproximadamente. No mapa é possível ver
também, a margem bem caracterizada dos Rios Parnaíba e Poty bem como o sentido de
drenagem dos rios. Nesse primeiro mapa também já aparece o primeiro cemitério da cidade de
Teresina, porém, não há uma definição de escala. Em um segundo mapa é possível ver com
mais detalhes, o traçado típico da cidade e, também a primeira definição de escala, no caso, a
escala escolhida foi de 1:10.000. Nesse mapa aparece apenas, a margem direita do Rio
Parnaíba. (Figura 2)
Figura 2
Fonte: Fundação Monsenhor Chaves, 1992, p.10
O mapa realizado em 1997 retrata a evolução do sitio urbano de Teresina nos anos
de 1800-1940. O que se observa é que Teresina começa a se conduzir para a sua urbanização.
O mapa apresenta entre os rios Poty e Parnaíba o sítio urbano total da cidade dividido por
datas, onde o primeiro sítio urbano é de 1800, pois corresponde a época em que Domingos
Jorge Velho chegou ao Poty e fundou um arraial que em 1833 virou a Vila do Poty. No
segundo, o período de 1850-1900 corresponde ao período de fundação da Vila Nova do Poty.
No terceiro, o período de 1901-1940 corresponde ao período em que Teresina, ao
desempenhar o seu papel de sede administrativa do Estado, atraiu importantes serviços, como
saúde, educação e comunicação, contribuindo assim para a sua expansão urbana na época.
(Figura 3)
Figura 3
N
Fonte: Façanha, 1997, p.60
Figura 4
N
Fonte: Façanha, 1997, p.88
Neste mapa da Figura 4, mostra que o perímetro urbano de Teresina se encontra
ampliado. A área urbanizada no ano de 1995 já era dotada de infra-estrutura e já contava com
as zonas administrativas: Zona Norte, Sul e Leste. Que atualmente se encontra desmembrada
em Zona Leste e Sudeste. Contudo além dessas zonas foi criada outra zona administrativa a
Zona Centro que inclui alguns bairros que eram considerados da zona sul como os Três
Andares, Monte Castelo, Redenção, Tabuleta, Vermelha, Ilhotas, Cristo Rei e Cidade Nova.
Ao todo os bairros que compõem a zona administrativa central de Teresina são de acordo com
o livro da Prefeitura Municipal de Teresina, em 2009, intitulado “Teresina Em Bairros”,
Cabral, Centro, Cidade Nova, Cristo Rei, Frei Serafim, Ilhotas, Macaúba, Mafuá, Marquês,
Matinha, Monte Castelo, Morro da Esperança, Nossa Senhora das Graças, Piçarra, Pio II,
Pirajá, Porenquanto, Redenção, São Pedro, Tabuleta, Três Andares, Vermelha, Vila Operária.
A Zona Norte de Teresina é formada pelos bairros Acarape, Água Mineral,
Aeroporto, Alto Alegre, Alvorada, Aroeiras, Bom Jesus, Buenos Aires, Cidade Industrial,
Embrapa, Itaperu, Mafrense, Matadouro, Memorare, Mocambinho, Nova Brasília, Olarias,
Poty Velho, Primavera, Real Copagre, Santa Rosa, São Francisco e São Joaquim, que
transpõem os limites do encontro dos rios Parnaíba e Poti.
A Zona Sul é composta pelos bairros Angelim, Areias, Bela Vista, Brasilar,
Catarina, Distrito Industrial, Esplanada, Lourival Parente, Morada Nova, Parque Jacinta,
Parque Juliana, Parque Piauí, Parque São João, Promorar, Saci, Santa Cruz, Santa Luzia,
Santo Antonio, São Lourenço, Triunfo.
A Zona Leste é formada pelos bairros Campestre, Fátima, Horto, Ininga, Jóquei,
Morada do Sol, Morros, Noivos, Novo Uruguai, Planalto Uruguai, Pedra Mole, Piçarreira,
Porto do Centro, Recanto das Palmeiras, Semapi, Santa Lia, Santa Isabel, São Cristóvão, São
João, Satélite, Socopos, Tabajaras, Uruguai, Vale do Gavião, Vale Quem Tem, Verde Lar,
Zoobotânico.
A zona administrativa do Sudeste é formada pelos bairros Beira Rio, Bom
Princípio, Colorado, Comprida, Cuidos, Extrema, Gurupi, Itararé, Livramento, Novo
Horizonte, Parque Poti, Redonda, Renascença, Santana, São Raimundo, São Sebastião,
Trancredo Neves, Todos os Santos, Verdecap.
O que se observa em Teresina é que
a organização sócio-espacial da cidade nos primórdios refletia as contradições
sociais presentes no espaço urbano. O traçado da cidade de Teresina foi planejado
com uma clara destinação do uso social do seu espaço, como todas as cidades da
época, ficando reservada a área central às elites, próximo às instalações dos poderes
político-administrativo, econômico e religioso e, aos pobres, a periferia desse centro.
(SILVA, 2003, p.49)
Um dos principais agentes no processo de urbanização de Teresina foi o Estado
que era o responsável pela definição do espaço periférico da cidade. Contudo,
em seu primeiro momento urbanístico, Teresina, teve a definição da estrutura do
sistema viário e o zoneamento urbano baseado na localização das instituições
públicas, dos padrões residenciais das atividades de comércio e serviço especiais
como asilo, cemitério, cadeia pública, etc. (SILVA, 2003, p.49)
Aos poucos Teresina foi se estruturando e recebendo infra-estrutura necessária ao
crescimento da cidade como iluminação pública, rede de água e esgoto, calçamento das ruas,
ajudando na modernização da estética urbana de Teresina, tornando-a o principal centro
econômico do Sertão do Piauí e do Maranhão, registrando-se um notável crescimento da
população.
Apesar de a década de 1990 caracterizar-se pela crise no setor habitacional,
devido a redução das políticas habitacionais na forma e qualidade, inibindo a produção de
habitações populares, Teresina apresentou acelerado crescimento na área urbana, devido,
principalmente, ao crescimento natural dos contingentes de imigrantes para a cidade, oriundos
tanto da zona rural do município, como de várias cidades piauienses, além dos estados do
Maranhão e do Ceará decorrentes de políticas públicas de investimentos em saúde, educação,
energia elétrica, habitação popular e o desenvolvimento da malha viária interligando Teresina
a centros estaduais e nacionais.
CONCLUSÃO
Ao concluir-se este estudo verificou-se que a Cartografia no Brasil, até a chegada
da Família Real, sofria fortes influências das técnicas e do estilo Europeu sendo substituída
posteriormente com a criação da Real Academia da Marinha e da Escola da Artilharia e
Fortificação em 1808 e conseqüente o rompimento da Cartografia Luso-Brasileira e
surgimento de uma Cartografia Imperial beneficiada pela implantação da Imprensa Régia
(1808) que começaram as edições de mapas nacionais e o Real Arquivo Militar (1808) que se
responsabilizou, então, pela preservação do acervo, apoiando a impressão de novos mapas,
como por exemplo, a planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e outras.
Já a cartografia de Teresina e a evolução urbana começaram a se configurar a
partir da visita pioneira, em 1662 de Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista que
chegou à Barra do Poty e fundou um Arraial. Contudo, somente em 21 de novembro de 1833
é que foi instalada a Vila do Poty (hoje Bairro Poty Velho em Teresina). Em 1850, José
Antônio Conselheiro Saraiva assumiu a presidência da Província do Piauí e visitou a Vila do
Poty. Constatou, no entanto, tratar-se de local insalubre por estar situado no encontro das
águas dos rios Parnaíba e Poti, segundo a interpretação da época. Porém, em 1842, antes de
sua posse, o Conselho Geral da Província havia autorizado a transferência da Vila do Poty
para um local que fosse mais apropriado.
Em 21 de Julho de 1852, uma resolução No. 315 da Assembléia Provincial elevou
a Vila Nova do Poty à categoria de capital da Província do Piauí. Em 21 de agosto de 1852, o
presidente da província mudou-se de Oeiras, então a primeira capital do Estado do Piauí, para
Teresina. Essa toponímia foi em Homenagem a Imperatriz Teresa Cristina.
Com o passar do tempo Teresina foi se expandindo e se estruturando. Hoje
Teresina constitui um centro político e de serviços interiorizado, situado na confluência dos
eixos de circulação que ligam as metrópoles do Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza) com a
metrópole Belém, porta de entrada para a Amazônia.
Os fatores que impulsionaram sua evolução relacionaram-se basicamente por ser
capital do estado, e, portanto, centro político-administrativo, sediando instituições de todos os
níveis de governo; entroncamento rodoviário regional e nacional, tornando a cidade um
importante elo na cadeia de distribuição e comercialização de mercadorias; e submetrópole
regional, fornecendo produtos e serviços para a sua área de influência.
A produção do espaço urbano de Teresina foi marcada, inicialmente, pelo
predomínio de forças externas, oriundas da política Nacional. Posteriormente esse espaço
urbano foi produzido especialmente pelas inúmeras transformações sócio-espaciais,
orientadas, por forças internas, como a ocupação do espaço por imigrantes, vindo de outras
cidades para estudarem, tratarem de suas doenças, entre outros.
Segundo FAÇANHA (1998), em relação aos agentes sociais produtores do espaço
urbano de Teresina, inicialmente, foram capazes de mostrar a formação dos agentes
industriais e dos comerciantes e a presença atuante do Estado do Piauí, refletindo em
Teresina. Quanto aos industriais, as suas ações se deram devido à política de industrialização
que ocorria no país, não conseguindo, apesar dessa “onda”, consolidar se no tecido urbano. Já
os comerciantes conseguiram uma maior evolução de suas ações na cidade, resultado do
próprio crescimento da cidade, além de a atividade comercial já ser tradicionalmente o
sustentáculo da economia local. Posteriormente, as novas transformações ocorridas em
Teresina eram oriundas dos cenários nacional, regional e local, fazendo com que os agentes
sociais assumam novos papéis na construção de formas espaciais da cidade.
Nesse estudo preliminar, realizado a partir da revisão bibliográfica, análise dos
mapas e da pesquisa de campo, que a cartografia histórica de Teresina reflete claramente o
processo de evolução urbana, pois o traçado original planejado para a nova cidade e
posteriormente capital, reflete a importância da utilização de estudos cartográficos. Nesse
sentido é de fundamental importância destacar que esse é apenas um estudo preliminar e que
espera-se continuar de forma sistemática para o estudo e compreensão do processo
responsável pela evolução cartográfica e urbana de Teresina.
REFERÊNCIAS
FAÇANHA, Antonio Cardoso. (1998). A evolução urbana de Teresina: agentes, processos e
formas espaciais da cidade. Recife: Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Geografia.
SILVA, Bartira Araújo Da. (2003). A verticalização em Teresina: sonho de muitos e
realidade de poucos. Teresina: Monografia de Especialização em Pesquisa para o Ensino de
Geografia, Universidade Federal do Piauí.
Fundação Monsenhor Chaves. (1992). Theresina Ontem e Hoje. Teresina.
Prefeitura Municipal de Teresina. (2009). Teresina em Bairros. Teresina
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