1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES: Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele. NITERÓI 2014 2 DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES: Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Corpo Docente do Programa de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Enfermeira. . Orientadora: Profª. Drª Vera Maria Sabóia NITERÓI 2014 3 DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES: Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Corpo Docente do Programa de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Enfermeira. Aprovada em 2 de dezembro de 2014. BANCA EXAMINADORA Profª Drª Vera Maria Sabóia (orientadora) UFF- Universidade Federal Fluminense Profª Drª Eliane Ramos Pereira (1º Examinador) UFF- Universidade Federal Fluminense Profª MSc Fabiana Lopes Joaquim (2º Examinador) UFF- Universidade Federal Fluminense NITERÓI 2014 4 Ao primeiro Educador do universo, Criativo e Empoderador; Ao especialista na Arte do Cuidado Ao Mestre dos grandes Mestres, Minha fonte de inspiração, Meu Amigo; Meu Pai; Meu Deus “Porque dEle, por Ele, para Ele são Todas as Coisas”. 5 AGRADECIMENTOS A Deus. Nem todas as páginas deste estudo seriam suficientes para expressar minha gratidão ao que me deu forças pra chegar até aqui. A minha mãe, Por todas as renúncias, cuidado e orações. Por ser meu porto seguro e me encorajar quando pensei em desistir. Ao meu irmão, Por aturar minhas crises em momentos de estresse, me incentivar e me ajudar. Ao Rafael, Meu noivo e melhor amigo, por ser um ombro quando precisei de descanso, ouvidos quando quis desabafar e mãos quando precisei de ajuda; por sonhar os meus sonhos e fazer sua as minhas lutas. Aos meus familiares, Avós,Tios, tias, primos, que sempre oraram por mim, torceram pelo meu sucesso e me incentivaram a lutar pelos meus objetivos. Aos meus amigos, Que entenderam cada “Hoje não dá, tenho que estudar”. Em especial, Alessandra, Jéssica (Bis), Nathalia Bento, Marcela, Jéssica Campos e Rossana por alegrarem meus dias e serem as melhores parceiras de trabalhos, estágios e de vida. As amo! Aos professores, A todos os professores que contribuíram direta e indiretamente para que eu chegasse até aqui e em especial às professoras Vera Sabóia e Eliane Ramos por serem minhas referências como educadoras e profissionais. Aos pescadores, Por me permitir vivenciar essa experiência tão gratificante e enriquecedora; Por nos receber com carinho, dedicando parte de seu tempo de trabalho à pesquisa, compartilhando suas histórias, saberes e crenças e contribuindo com o nosso aprendizado. 6 “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Paulo Freire 7 RESUMO Introdução:Trata-se de um estudo sobre a Educação Popular em Saúde com pescadores da colônia de Jurujuba- Niterói, tendo em vista a prevenção de Neoplasias Cutâneas. Nas últimas décadas, o câncer de pele tem se revelado motivo de preocupação, em termos de saúde pública. Dentre todos os tipos de câncer, as neoplasias cutâneas são as mais frequentes no país, correspondendo a 25% dos tumores malignos registrados.Sabe-se que profissionais que trabalham expostos à intensa radiação solar, assim como os pescadores, têm taxas de incidência de câncer de pele mais elevadas do que a população em geral. Mediante a isto, o estudo se justifica na importância da implementação de ações de Educação Popular em Saúde, queintegrem saberes sobre os cuidados relacionados à prevenção dessa doença, possibilitando a melhoria da qualidade de vida dessa população.Objetivos:Conhecer os saberes de pescadores sobre as neoplasias cutâneas. Verificar indicadores sociodemográficos de pescadores da Colonia de Jurujuba-NiteróiRJ, com foco na neoplasia cutânea; Descrever o conhecimento prévio dos participantes acerca do câncer de pele, suas causas, manifestações e medidas de prevenção e Discutir a prática da Educação Popular em Saúde com os pescadores no que tange ao câncer de pele.Metodologia: Pesquisa de abordagem mista, descritiva e do tipo participante,desenvolvida com pescadores e cultivadores de mexilhões que trabalham e residem na colônia de Jurujuba, Niterói. Para a coleta dos dados utilizou-se a observação participante, o questionário sociodemográfico e a entrevista semi-estruturada. Na análise dos dados, foi realizada a transcrição das entrevistas na íntegra, e o métodoadotado foi o de modalidade de Análise Temática, proposto por Minayo. Resultados: A amostra final foi composta por 30 participantes. Verificou-se o predomínio de pescadores do sexo masculino (73%) em relação ao feminino (27%); A faixa etária de 51 a 60 anos, prevaleceu entre os pescadores, com 30%, seguida por 41 a 50 anos, com 23,33%; 50% dos pescadores trabalham sob constante exposição solar durante oito horas ou mais por dia, enquanto apenas 13,3% estão expostos diariamente à radiação solar por menos de 3 horas. 80% afirmaram não fazer uso do protetor solar em nenhum momento do dia e apenas 20% dizem aplicar o filtro de proteção solar por pelo menos uma vez, sem reaplicação, ou quando lembram. Na identificação do conhecimento dos pescadores acerca do câncer de pele, 60% perceberam a exposição à radiação solar como principal causa e 93,3% identificaram manchas e feridas na pele como principal sintoma da doença. Conclusão: Pelo perfil sociodemográfico encontrado, evidenciou-se que os pescadores da colônia de Jurujuba constituem um importante grupo de risco por apresentar condicionantes socioeconômicos, clínicos e laborais que os tornam mais vulneráveis ao desenvolvimento de neoplasias cutâneas. Notou-se também, que as percepções acerca do câncer de pele, marcadas por saberes prévios, se aproximaram do saber científico no que tange as representações conceituais a respeito do câncer de pele, com suas causas e manifestações. Palavras-chave: Pescadores; Educação Popular; Neoplasias Cutâneas; Enfermagem 8 ABSTRACT Introduction: This is a study about the Popular Education in Health with fishermen colony from Jurujuba, Niterói, in preventing Skin Neoplasms. In recent decades, skin cancer became a concern in terms of public health. Among all types of cancer, the skin cancer are the most common in the country, accounting for 25% of registered malignancies. It is known that professions, such as fishing, that expose the workers to intense solar radiation, have higher incidence of skin cancer rates than the general population. Through this, this study is justified in the importance of implementing participatory educational activities that integrate the knowledge about the care to prevent this disease and therefore resulting in a higher quality of life of this population. Objectives: Know the fishermen of knowledge about skin cancer; to check the impact of sociodemographic indicators of this population to the appearance of skin cancer; Describe the pre-knowledge of the participants about skin cancer, its causes, manifestations and prevention measures and Discuss the practice of Popular Education in Health with fishermen in regard to skin cancer. Methodology: Mixed approach; descriptive and participant type researchs, developed with fishermen and growers of mussels working and living in the colony of Jurujuba, Niteroi. To collect the data, we used participant observation, the socio-demographic questionnaire and semi-structured interview. In the data analysis, the transcription of interviews in full was performed, and the method used was the type of thematic analysis proposed by Minayo. Results: The final sample consisted of 30 participants. There was a predominance of male fishers (73%) compared to women (27%); The age group 51-60 years prevailed among the fishermen, with 30%, followed by 41 to 50 years, with 23.33%; 50% of fishermen works under constant sun exposure for eight hours or more a day, while only 13.3% are daily exposed to sunlight for at least 3 hours. 80% said they did not make use of sunscreen on any time of the day and only 20% say applies the filter of sun protection for at least once, without reapplication, or when remembers. In identifying the knowledge of fishermen about skin cancer, 60% perceived exposure to solar radiation as the main cause and 33.3% identified spots and sores on the skin as the main symptom of the disease. Conclusion: For the sociodemographic profile found, it was observed that the Jurujuba colony of fishermen are a important socioeconomic risk group because of the clinical and working conditions that make them more vulnerable to developing skin cancer. It was also noted that the perceptions of skin cancer characterized by prior knowledge is approximated of scientific knowledge, regarding the conceptual representations of the skin cancer, its causes and manifestations. Keywords: Fisherman; Population Education; Skin Neoplasms; Nursing 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Foto da praia de Jurujuba, Niterói-RJ................................................................................... 28 Figura 2: Foto da verificação da Pressão Arterial de uma participante antes das atividades. .............. 34 Figura 3: Foto de uma das cultivadoras de mexilhões durante o desenvolvimento do Tema I. .......... 35 Figura 4: Foto do desenvolvimento do Tema II na Associação de Pescadores de Jurujuba, Niterói. . 36 Figura 5: Foto de uma participante desenvolvendo a atividade na Rede de Conhecimentos. ............. 36 Figura 6: Foto de um dos pescadores utilizando chapéu no segundo dia do evento Pescando Saúde. 37 Figura 7: Gráfico referente à distribuição dos participantes quanto ao gênero.................................... 38 10 LISTA DE SIGLAS OIT: Organização Internacional do Trabalho OMS: Organização Mundial da Saúde EEAAC: Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa UFF: Universidade Federal Fluminense RUV: Radiação Ultravioleta UV: Ultravioleta UVA: Ultravioleta tipo A UVB: Ultravioleta tipo B UVC: Ultravioleta tipo C CBC: Carcinomas Basocelulares CEC: Carcinomas Espinocelulares DNA: Ácido Desoxirribonucleico FPS: Fator de Proteção Solar EPS: Educação Popular em saúde SUS: Sistema Único de Saúde PIBIC: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica TE: Tecnologia Educacional PROCAD: Programa Nacional de Cooperação Acadêmica MCTI: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO, p.12. 1.1 OBJETO DO ESTUDO, p. 12 1.2 PROBLEMA, p. 12 1.3 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO, p. 14 1.4 RELEVÂNCIA, p. 15 1.5 QUESTÕES NORTEADORAS, p. 16 1.6 OBJETIVOS, p. 16 1.6.1 Objetivo Geral, p.16 1.6.2 Objetivos Específicos, p. 16 2 REVISÃO DE LITERATURA, p. 17 2.1 NEOPLASIAS CUTÂNEAS: TIPO MELANOMA E NÃO MELANOMA, p.17 2.2 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL: AGRAVO RELACIONADO AO TRABALHO, p.19 2.3 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE. p, 21 2.4 TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COM GRUPOS. p.24 3 METODOLOGIA, p. 27 3.1 CENÁRIO DA PESQUISA. p,28 3.2 SUJEITOS DA PESQUISA. p, 28 3.3 ETAPAS DA COLETA DE DADOS. p, 29 3.4 ANÁLISE DOS DADOS. p, 31 3.5 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA. p, 32 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO. p, 33 4.1 A EXPERIÊNCIA DOS CÍRCULOS DE CULTURA. p. 33. 4.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES. p, 37 4.3 O CÂNCER DE PELE NA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES. p, 46 4.2.1 Identificando conhecimentos acerca do câncer de pele p, 46 4.2.2. O Câncer de Pele e as medidas de fotoproteção. p, 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. p, 56 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. p, 58 APÊNDICES, p. 61 ANEXOS, p. 75. 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 OBJETO DO ESTUDO A pesquisa tem por objeto a Educação Popular em Saúde com pescadores da colônia de Jurujuba- Niterói, RJ, tendo em vista a prevenção de Neoplasias Cutâneas. 1.2 PROBLEMA O estudo encontra-se vinculado a um projeto mais abrangente contemplado no do edital Casadinho/ Procad intitulado: “Inovação em Enfermagem no Tratamento de Lesões Tissulares – sistematização, inclusão tecnológica e funcionalidade”, beneficiado na chamada pública MCTI/CNPq/MEC/Capes – Ação Transversal n°6/2011. Esta iniciativa articula o Programa de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS- UFF) com o Programa Consolidado PROESA – USP. Tal pesquisa também está relacionada à dissertação de mestrado intitulada “Risco e Prevenção de Neoplasias Cutâneas Não-Melanoma: educação popular com pescadores”, em desenvolvimento no MACCS, ao Núcleo de Estudos em Fundamentos de Enfermagem (NEFE), da EEAAC/UFF e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica CNPq/ UFF. A problemática que se estabelece acerca do câncer no mundo passou a ser motivo de preocupação pelo perfil epidemiológico que essa doença tem apresentado. Segundo estimativas mundiais, a incidência de câncer aumentou cerca de 20% na última década. Para o ano de 2014, espera-se 576 mil novos casos no Brasil. (BRASIL, 2014) De acordo com um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de pele do tipo não melanoma, deve ser o mais diagnosticado na população, com previsão de surgimento de 182 mil novos casos, seguidos de tumores na próstata (69 mil) no caso de homens e câncer de mama (57 mil) no caso de mulheres. (Ibidem, 2014) Dentre os principais tipos de neoplasias, encontra-se o câncer de pele, que pode se apresentar em duas categorias: tipo melanoma e não melanoma. O primeiro representa cerca de 4,0% dos tumores malignos cutâneos, enquanto o tipo não melanoma é a forma mais comum no Brasil; esta costuma ser de fácil diagnóstico, com possibilidade de cura superior a 95% quando tratados precoce e corretamente. (BORSATO & NUNES, 2009) Estudos comprovam que o tipo melanoma está fortemente relacionado a episódios intensos de exposição solar aguda resultando em queimadura solar, enquanto 90,0% dos 13 cânceres de pele não melanoma podem ser atribuídos à exposição solar associada à sua característica cumulativa. (DERGHAM et al, 2004) De acordo com uma pesquisa sobre a frequência de câncer de pele não melanoma em trabalhadores atendidos no Hospital do Câncer de Londrina (HCL), as profissões em que os trabalhadores são mais acometidos de neoplasia de pele não melanoma segundo a ocupação são as dos ramos da agricultura, construção civil, mineração a céu aberto e pesca, formas de trabalho fortemente associadas à exposição diária excessiva à radiação solar durante vários anos da vida, reafirmando a característica cumulativa dos efeitos do sol. (BORSATO & NUNES, 2009) Além dos riscos relacionados à frequente e intensa exposição à radiação actínica, a atividade informal desenvolvida pelos pescadores se apresenta de modo extremamente precário, deixando-os totalmente desprotegido. Eles estão sujeitos a riscos de acidentes e doenças, devido ao grande esforço físico a que se submetem, variações climáticas, prolongada exposição ao sol e contato com agentes patológicos num ambiente sem saneamento. (ROSA & MATTOS, 2010) Ante a magnitude desse problema, nota-se a importância da implementação de medidas de promoção à saúde que incluem ações educativas participativas, de modo a integrar saberes sobre fatores de risco associados ao meio de trabalho, os tipos de neoplasias de pele, suas formas de apresentação e os cuidados relacionados à prevenção da doença, que resultam na melhoria da qualidade de vida dessa população. Neste estudo, elegeu-se a Educação Popular e as Tecnologias Educacionais, como procedimento sócio interativo e educativo, originado a partir de vivências entre sujeitos em que conhecimentos são gerados e compartilhados, tendo como ponto de partida saberes prévios produzidos no cotidiano social e local relacionados com as necessidades da comunidade. (SABÓIA et al, 2013) O enfoque da Educação Popular não é o processo de transmissão de conhecimento, mas a ampliação dos espaços de interação cultural e negociação entre os diversos atores envolvidos em determinado problema social. Seu objetivo não é difundir conceitos e comportamentos considerados corretos; antes procura problematizar, em uma discussão aberta, o que está incomodando. (VASCONCELOS & CRUZ, 2013) Segundo Martins et al (2010), durante a pratica educativa em saúde, a tecnologia se constitui como saber indispensável e deve ser utilizada de modo a favorecer a participação dos sujeitos no processo educativo, contribuindo na construção da cidadania e aumento 14 daautonomia dos indivíduos. Portanto, devem explorar significados que vão ao encontro do contexto cultural dos usuários. 1.3- MOTIVAÇÃO DO ESTUDO Ao longo do meu processo de formação no Curso de Enfermagem e Licenciatura,participei de diversas atividades educacionais com os mais variados grupos populacionais. Nos primeiros períodos planejei e executei ações educativas com crianças no contexto escolar. Até então, não compreendia a dimensão do potencial Educador que o Enfermeiro exerce em todos os cenários de sua prática profissional. Daí por diante, acada nova experiência relacionada com a educação em saúde, percebia que meus conceitos se reformulavam e, no final, tudo o que eu me propus a compartilhar parecia muito pequeno comparado à grandiosidade do que eu aprendia. Em cada vivência, uma troca; uma aprendizagem de conhecimentos que não foram reproduzidos de livros ou baseados em pesquisas científicas, antes foram construídos com histórias de vida, cada qual com riquezas escondidas em sua singularidade. Enquanto monitora da disciplina Fundamentos de Enfermagem I, tive a oportunidade de explorar um universo dialógico e cooperativo em que se procurava desenvolver a prática educativa, utilizando recursos contemporâneos e facilitadores no ambiente de aprendizagem. Assim, nos apropriamos de uma Tecnologia Educacional conhecida com WebQuest, que tem como objetivo principal a utilização criteriosa de sites referenciados para executar um conjunto de atividades sobre determinado tema, neste caso, Consulta de Enfermagem com pessoas que vivem com Hipertensão Arterial Sistêmica E/ou Diabetes Mellitus. Durante a pesquisa em desenvolvimento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/ CNPq), percebemos que a região da Baía de Guanabara, no município de Niterói, concentra uma intensa atividade pesqueira com trabalhadores em situação precária e, por isso, se destacou em nossas observações justificando nossa aproximação com este cenário e sujeitos. Somando-se a isso, durante a graduação, não são muitas as oportunidades deatuamos no cuidado de pessoas que convivem com o diagnóstico de neoplasia. No geral, as neoplasias são pouco discutidas no plano curricular. Assim, no desenvolvimento do Projeto PIBIC percebi uma oportunidade para aprofundar o conhecimento teórico-prático em relação aos aspectos de promoção e prevenção deste agravo, por intermédio da educação popular em saúde com um grupo de pescadores expostos a agravantes ocupacionais de risco. Esse grupo 15 populacional específico tem pouco ou nenhum acesso às informações sobre neoplasias e não frequenta regularmente os serviços de saúde por inúmeras razões. Não pretendo aqui esgotar todos os aspectos que cercam esta temática, visto que se trata de um assunto amplo diante da complexidade dos inúmeros fatores envolvidos no cotidiano dos pescadores que se expõe ao câncer de pele e a outros agravos relacionados à atividade laboral. 1.4 RELEVÂNCIA A lei estadual nº 5.833/10 instituiu o Programa Estadual de Combate e Prevenção ao Câncer de Pele para Pescadores Profissionais, e chama a atenção para a vulnerabilidade da atividade: “A exposição direta e constante ao sol e ao mar tem provocado nos pescadores doenças de visão, problemas na coluna, envelhecimento precoce e câncer de pele, além de diminuir o tempo de vida útil na atividade”. (SABINO, 2010) Esta lei previa consultas com especialistas e acesso aos exames necessários, palestras, exposições e dinâmicas de grupo sobre o assunto, além de autorizar o Poder Executivo a firmar convênio com instituições para elaboração de campanha publicitária de divulgação e esclarecimentos aos pescadores e seus familiares, sobre o surgimento da doença e seu tratamento. Entretanto, desta lei restou somente o artigo que prevê campanhas de divulgação e esclarecimentos sobre o tratamento da doença. Seu art. 2º, o mais concreto, que dispunha sobre a organização do programa, sob responsabilidade de órgãos estatais ligados a saúde e pesca, promovendo palestras e a promoção de “consulta a especialistas e o acesso aos exames necessários” foi vetado integralmente pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro (RABELLO, 2010) A pesquisa em tela contribuiu para a ampliação do conhecimento destes pescadores sobre o câncer de pele, seus fatores de risco e medidas preventivas, assim como por meio da divulgação dos resultados obtidos, irá fomentar a discussão sobre a relação do câncer de pele e a exposição excessiva ao sol, bem como o uso da educação popular como estratégia de promoção da saúde. Além disso, ajudará a promover a articulação necessária entre Universidade e a comunidade gerando um campo de práticas de pesquisa que se constitui na cultura e valorização dos saberes da população locale favorece mudanças nas práticas de saúde. Dessa forma, fica clara a pertinência social deste estudo. Em relação à pertinência científica, esta pesquisa ressaltou a importância de se desenvolver mais estudos com a população de pescadores que discutam os riscos 16 ocupacionais e cuidados em saúde para esse grupo ainda pouco visado nas pesquisas no campo da Enfermagem e da saúde. O estudo também incentivará a atuação de enfermeiros e demais profissionais de saúde em outros cenários, com outros sujeitos e não somente naqueles já estabelecidos formalmente. Dessa forma estará favorecendo maior destaque á grupos populacionais considerados “invisíveis” pela população em geral. 1.5 QUESTÕES NORTEADORAS 1- Qual o impacto dos indicadores sociodemográficos sobre o risco para o aparecimento de neoplasias cutâneas nesses pescadores? 2- Qual o conhecimento prévio dos pescadores participantes a respeito do câncer de pele? 3- Como foram desenvolvidos os temas geradores, evidenciados na observação participante, noscírculos de cultura? 1.6 OBJETIVOS DA PESQUISA 1.6.1 Objetivo Geral: Conhecer os saberes de pescadores sobre as neoplasias cutâneas. 1.6.2 Objetivos Específicos: • Verificar indicadores sociodemográficos de pescadores da Colonia de JurujubaNiterói-RJ, com foco na neoplasia cutânea. • Descrever o conhecimento prévio dos participantes acerca do câncer de pele, suas causas, manifestações e medidas de prevenção. • Discutir a prática da Educação Popular em Saúde com os pescadores no que tange ao câncer de pele. 17 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 NEOPLASIAS CUTÂNEAS: TIPO MELANOMA E NÃO MELANOMA O Câncer de Pele se apresenta sob a forma de duas variantes: melanoma e não melanoma. O tipo mais frequente de câncer de pele na população brasileira é o não melanoma, sob a forma de carcinoma basocelular – que se formam em células basais da epiderme – ou carcinoma epidermóide – desenvolvido em células escamosas, que formam a superfície da pele – perfazendo um total de 70% e 25 % dos casos, respectivamente. Ainda é responsável por, aproximadamente 1/5 dos casos novos de câncer, porém, como são diagnosticados precocemente, o índice de cura é elevado. (POPIM et al, 2008). Segundo Oliveira, Glauss & Palma (2011), o Carcinoma Epidermóide apresenta uma elevada capacidade de invasão local e de metastatização, que sofre variação de acordo com a lesão de origem (mucosa, semimucosa ou pele, em ordem de gravidade). As áreas mais afetadas são as mais expostas ao Sol, como face e dorso das mãos. Ainda se apresenta sob a forma de lesão vegetante e propensa a ulceração e infiltração dos tecidos profundos. (INCA, 2008). Já o Carcinoma Basocelular (CBC) é a neoplasia maligna de melhor prognóstico, uma vez que apresenta crescimento muito lento, com capacidade invasiva localizada, sem originar metástases. A localização preferencial é a região cefálica, sendo 27% desses casos na região nasal, seguida do tronco e, posteriormente, dos membros. A lesão mais característica do CBC é a pérola, ou seja, lesão papulosa translúcida e brilhante de coloração amarelo-palha; podendo sangrar e formar crosta, ou como uma placa seca, áspera e que descama constantemente, sem cicatrizar. (Ibidem, 2008). O melanoma representa 4% do total dos cânceres cutâneos, sendo menos frequente que os carcinomas basocelular e epidermoide. Entretanto, apesar de ter uma incidência relativamente baixa, assume grande importância devido ao seu elevado potencial de gerar metástases e a sua letalidade. Acomete ambos os sexos em igual proporção, sendo no homem mais comum no dorso e, na mulher, nos membros inferiores. Apresenta-se com maior frequência em pessoas de pele clara, afetando principalmente a faixa etária dos 30 aos 60 anos.Forma-se a partir da transformação maligna dos melanócitos, células produtoras de melanina. Seu desenvolvimento é resultante de múltiplas e progressivas alterações no DNA celular, que podem ser causadas por ativação de proto-oncogenes, por mutações ou deleções de genes supressores tumorais ou por alteração estrutural dos cromossomas. Vários fatores 18 têm sido atribuídos como riscopara o desenvolvimento dessas neoplasias, taiscomo: os fototipos I e II de Fitzpatrick, ou seja, indivíduos que apresentam pele, cabelos e olhos claros e se queimam facilmente ao invés de se bronzear e horário e tempo de exposiçãoao sol, residir em um país tropical, fazer uso deimunossupressão crônica (BRASIL, 2014) Nota-se que nos dois casos, entre os principais fatores de risco encontra-se a exposição excessiva ao Sol, principalmente, à radiação ultravioleta (UV). Nesse contexto, Popim et al (2008) expõe em seu estudo que radiação ultravioleta é subdividido em três bandas: UVA, UVB e UVC, de acordo com o comprimento de onda. Os raios UVAapresentam o comprimento de onda mais longo (315-400nm), indutora de processos oxidativos. A banda UVB (280-315nm) é responsável por danos diretos ao DNA, foto-imunossupressão, eritema, espessamento do estrato córneo e melanogênese. Os raios UVC (100-280nm) são carcinogênicos e contêm o pico de absorção pelo DNA puro. Devido à destruição da camada de ozônio, a incidência de raios UVB, intrinsecamente relacionados ao câncer de pele, vem aumentando progressivamente, permitindo, inclusive, que raios UVC se aproximem mais da atmosfera terrestre.Já a incidência dos raios UVA independe dacamada de ozônio e, portanto, causa câncer depele em indivíduos que se expõem ao sol, sobretudoem horários de alta incidência, continuamentee durante muitos anos. Por esta razão, a fotoproteção desempenha um papel indispensável nas medidas de prevenção de cânceres de pele. Segundo recomendações da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD),a Fotoproteção é entendida como um “conjunto de medidas direcionadas a reduzir à exposição ao sol e a prevenir o desenvolvimento do dano actínico e crônico.”(SCHALKA & STEINER, 2013, p.9) Os autores consideram como medidas fotoprotetoras: a educação em fotoproteção, proteção através de coberturas, proteção através do uso de roupas e acessórios, fotoprotetores tópicos e orais. Cabe destacar aqui as observações sobre a Educação em Fotoproteção do Consenso Brasileiro de Fotoproteção em que estão contidas as recomendações acima citadas. A fotoeducação se define como: Conjunto de ações de caráter educativo desenvolvido para conscientizar determinado grupo populacional sobre os riscos da exposição inadvertida ao sol e orientar condutas saudáveis em fotoproteção (...) As ações em fotoeducação devem ser divididas em quatro grandes grupos: Crianças e Adolescentes, Adultos, Trabalhadores Externos e Ações em Mídia (...) Ações para os trabalhadores externos: a. Desenvolver projetos de educação em fotoproteção para apresentar em empresas que empregam trabalhadores cuja a atuação ocorra em ar livre; b. Desenvolver projetos para avaliar de forma mais adequada métodos capazes de mensurar o nível de exposição à radiação solar a que são submetidos os trabalhadores em função externa (...) (Ibidem, 2013, p.19) 19 Portanto, as medidas fotoprotetoras são importantes e devem fazer parte da rotina diária de toda a população sem distinção de sexo, idade ou tipo de pele, pois além de se constituir um importante fator na prevenção do câncer cutâneo, é eficaz no cuidado para a prevenção do envelhecimento da pele, tratamento. A aplicação do protetor solar na forma e quantidade adequada é extremamente relevante para garantir o efeito total de proteção desejada. Além da aplicação na quantidade adequada, a reaplicação garante uma melhor fotoproteção. O tempo de reaplicação depende do protetor solar utilizado, do tipo e da intensidade de exposição, do contato com a água é suor na área de aplicação e exposição. De forma geral, recomenda-se a reaplicação a cada 2 a 3 horas ou após longos períodos de imersão na água. (SCHALKA & STEINER, 2013) Em relação aos sinais e sintomas, destacam-se as queixas mais comuns relacionadas ao câncer da pele, que são as manchas que coçam, doem, sangram ou descamam; feridas que não cicatrizam em 4 semanas; sinal que muda de cor textura, tamanho, espessura ou contornos; elevação ou nódulo circunscrito e adquirido da pele que aumenta de tamanho e tem aparência perolada, translúcida, avermelhada ou escura. Por tais evidências é possível a rápida detecção por meio do autoexame ou exame clínico. Indivíduos com lesões suspeitas devem ser imediatamente encaminhados à consulta especializada em centros de referência para realização dos procedimentos diagnósticos necessários. Requer devida atenção, a transformação de um "sinal" em melanoma pelo índice (ABCD): Assimetria: uma metade diferente da outra; Bordas irregulares: contorno mal definido; Cor variável: várias cores (preta, castanha, branca, avermelhada ou azul) numa mesma lesão; Diâmetro: maior que 6 milímetros. (INCA, 2003) 2.2 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL: UM AGRAVO RELACIONADO AO TRABALHO O câncer ocupacional é definido como “aquele causado pela exposição, durante a vida laboral, a agentes cancerígenos presentes nos ambientes de trabalho. Os fatores de risco de câncer podem ser externos (ambientais) ou endógenos (hereditários), estando ambos interrelacionados.” (BRASIL, 2008, p. 169) As neoplasias provocadas por exposições ocupacionais geralmente atingem regiões do corpo que estão em contato direto com fatores cancerígenos, seja durante a fase de absorção (pele, aparelho respiratório) ou de excreção (aparelho urinário), o que explica maior frequência de câncer de pulmão, de pele e bexiga nesse tipo de exposição. 20 A falta de conhecimento sobre os riscos para a saúde e de informação políticoeconômicasque não priorizam o ser humano e sua preservação são fatores fundamentais para o aparecimento de câncer ocupacional. (INCA, 2008) Neste estudo, é abordado o fator de risco da exposição excessiva/crônica solar em pescadores. Portanto, há de se concluir que a realização de atividades pesqueiras sob a exposição solar aumenta o risco de câncer de pele entre estes trabalhadores. Nesse sentido, os profissionais que trabalham em atividades ao ar livre (outdoors workers) e, portanto, muito expostos ao Sol, como os pescadores, agricultores e salva-vidas, apresentam elevado risco de desenvolver câncer de pele. A exposição de forma intermitente é um fator importante nos tipos melanoma e CBC, diferentemente do CEC, cuja exposição continuada é mais relevante. Contudo, tem sido considerado que a exposição cumulativa e excessiva durante os primeiros 10 A 20 anos de vida aumenta muito o risco de câncer de pele. (OLIVEIRA, GLAUSS & PALMA, 2011) Nos textos da OIT (Organização Internacional do Trabalho), citados por Parmeggianni (1989), já se apontavam várias enfermidades relativas ao trabalho com a pesca, como bursites, tenossinovites, doenças do aparelho digestivo, tensão nervosa, excesso de consumo de álcool e/ou fumo, provocando enfermidades respiratórias, sinusites, cáries dentárias, dermatites originadas pelo contato com óleo diesel e perda de audição, provocada pela exposição a níveis de ruído excessivos. Nessa perspectiva, Otal et al (2012) corroboram com observações em seu estudo, relativas ao cotidiano de trabalho dos pescadores, que demonstram a realidade da atividade pesqueira no Brasil: sequelas causadas por acidentes na atividade profissional, família numerosa para sustentar, alto índice de analfabetismo ou pouca escolaridade, intensa jornada de trabalho com baixa remuneração salarial, dificuldade de comercialização do produto, profissão passada de pai para filho e percebida como única possibilidade de sustento e estilo de vida, falta de tecnologia e informação sobre a saúde. Diante a grandeza deste problema, e a importância do meio de trabalho como uma das formas de se expor a fatores de risco, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 777/2004, instituiu o câncer ocupacional como um dos agravos de notificação obrigatória. (BORSATO & NUNES, 2009) Porém, Ferreira, Nascimento e Rotta (2011) explicam que, embora os dados epidemiológicos evidenciem esta neoplasia como a de maior incidência no Brasil, ainda existe uma reconhecida subnotificação reconhecida pelo próprio Ministério da Saúde, constituindo como um grave problema de saúde pública, visto que, apesar da baixa 21 letalidade, em alguns casos pode levar a deformidades físicas e ulcerações graves, consequentemente, onerando os serviços de saúde. Barboza, Giacon, Trovó et al (2008) explicam que os trabalhadores ao ar livre, que se expõem ao sol durante grande parte do dia, possuem aproximadamente 20 vezes mais probabilidade para desenvolver problemas ou doenças na pele, em relação às pessoas que evitam essa exposição prolongada. O uso de medidas fotoprotetoras é a principal forma de prevenção desta doença. Diante disso, fica evidente a importância de realizar atividades educativas-participativas com informações e orientações a esses trabalhadores, reforçando que sempre que possível a cabeça deve ser protegida por bonés ou chapéus e óculos escuros com proteção UV, e o corpo coberto com roupas confortáveis e leves, com mangas longas. (BARBOZA, GIACON, TROVÓ et al, 2008) Desta forma, entende-se ser de fundamental importância estudos para descrição do nível de conhecimento e comportamentos protetores contra os raios ultravioletas e o câncer de pele deste grupo de trabalhadores “outdoor workers”. Entende-se que o enfermeiro, que tem como uma de suas funções a educação em saúde, deve buscar orientar este grupo populacional específico a fim de minimizar tais riscos. Neste sentido, o enfermeiro deve buscar aprimorar a sua qualificação e aprofundar o seu conhecimento sobre os diferentes tipos de câncer de pele, melanoma e não melanoma, assim como manifestações clínicas e medidas preventivas, visto que este conteúdo é pouco enfatizado durante os cursos de graduação de enfermagem. 2.3 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE A educação popular em saúde constitui-se no espaço de produção crítica de saberes e práticas onde os conhecimentos em Saúde Pública, em suas várias vertentes teóricas, são construídos no diálogo teórico e metodológico com outras áreas, buscando alicerces na Educação, Ciências Sociais, Psicologia entre outras áreas que dizem respeito à saúde humana. (OLIVEIRA, 2007) No Brasil, as iniciativas de educação popular e saúde iniciam-se na década de 1970, quando a educação popular, sob influência freireana, começa ser posta em prática em outros cenários além do escolar. Após o corte brusco do Golpe Militar, se inicia na década de 70 um renascimento do programa de educação popular com novos rostos e roupagens. Nesse momento, são os próprios movimentos sociais populares que convocam os educadores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, artistas, entre outros. Tornou-se mais crítico o olhar para os serviços de saúde a partir dessa convivência. Percebeu-se uma lacuna entre os serviços 22 de saúde e a população e, a partir de então, novos foram pensados e experimentados, dialogando com a cultura e interesses populares. (STOTZ, DAVID, WONG UN, 2005). A característica que dá singularidade a educação popular é a opção que se faz pelas classes populares e sua cultura; não no sentido vertical, mas horizontal, em que todos ampliam sua concepção de mundo no processo educativo e juntos vão dando forma e conteúdo (crítico) a um mundo mais justo. (OLIVEIRA, 2007) Aeducação se faz na práxis, na reflexão e na ação, pois como nos alerta Freire, a reflexão sem ação é “blá blá blá” e a ação sem reflexão é basismo. (FREIRE, 1987) Hurtado (1993) se refere à Educação Popular como: (...) A teoria a partir da prática e não a teoria ‘sobre’ a prática. Assim, uma prática de educação popular, não é o mesmo que ‘dar’ cursos de políticas para a base, nem fazer ler textos complicados, nem tirar os participantes por muito tempo de suas práticas, para formá-los, sem tomar a própria realidade (e a prática transformadora dessa realidade) como fonte de reconhecimentos, como ponto de partida e de chegada permanentes, percorrendo dialeticamente o caminho entre a prática e sua compreensão sistemática, histórica, global e científica sobre esta relação entre ‘teoria e prática’ (HURTADO, 1993, p. 44-45). Entendendo a Educação Popular como um diálogo, Oliveira (2003) ressalta que, para que este ocorra, são necessárias motivações existenciais, afetividade, gostar de estar na comunidade, somadas a outro elemento-chave: “o convívio”. Conviver é estar junto, olhar nos olhos, conversar frente a frente. Conviver é mais do que visitar; e não é algo que possa ser delegado, requer envolvimento pessoal, observando, perguntando e conversando. Com a convivência será possível perceber o que cotidianamente aflige as pessoas, repensando o trabalho coletivo e elaborando conjuntamente politicas públicas mais condizentes com o cotidiano. (OLIVEIRA, 2003) Uma educação que busca o diálogo pressupõe a visão do outro como sujeito, a compreensão de que os saberes da população são elaborados através de experiências concretas, sobre vivências distintas das que os profissionais possuem. (VALLA, 1998) Tratase de reconhecer que os saberes são construídos diferentemente e quando da interação entre os sujeitos, estes possam ser compartilhados e não hierarquizados. (CARVALHO, ACIOLI e STOTZ, 2001). Esta horizontalidade na construção de um saber é extremamente importante, pois vai contra ao que propõem o “ensino bancário”, onde se transforma o educando em ‘vasilhas vazias’, recipientes sem conteúdos, que nada têm a acrescentar e necessitam ser cheios pelo 23 educador, e os conteúdos acabam por ser retalhos da realidade, desconectados da totalidade em que se engendram, sem significação para os educandos. (FREIRE, 1987) Sobre o método, Vasconcelos (2004), explica que o elemento primordial se baseia no processo pedagógicoque considera o saber prévio do educando. Cada indivíduo possui um saber prévio e um entendimento adquirido através do seu trabalho, da vida social, da luta pela sobrevivência e pela transformação da realidade. Esse conhecimento fragmentado e pouco elaborado consiste na matéria-prima da Educação Popular. A valorização do saber e valores do educando permitem que ele se sinta a vontade e não perca sua iniciativa. Neste sentido, não se reproduz a passividade usual dos processos pedagógicos tradicionais. (VASCONCELOS, 2004) Tal visão apoia-se na prática problematizadora da pedagogia libertadora de Paulo Freire, que propõe aos homens sua situação como problema com a finalidade de reforçar a mudança, enquanto a concepção “bancária” dá ênfase à submissão e ao conformismo. Enquanto, na concepção “bancária” o educador vai “enchendo” os educandos de falso saber, conteúdos impostos; na prática problematizadora, os educandos vão desenvolvendo o seu poder de captação e de compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo. A tendência, então, tanto do educador-educando como dos educandos-educadores é estabelecerem uma forma autêntica de pensar e atuar. Pensar-se a si mesmos e ao mundo, simultaneamente, sem dicotomizar este pensar da ação. (FREIRE, 1987) Entretanto, cabe-nos analisar criticamente a operacionalização da participação popular no contexto dialógico da educação. “Participar nessa perspectiva, não é fazer o que outros decidem que cabe a mim, e muito menos responder burocraticamente ou apenas formalmente pela participação, é ser sujeito desta participação” (OLIVEIRA, 2003) Compreende-se, portanto, que se movimentar em direção à cultura popular não é reduzi-la a estratégia pedagógica, no seu sentido mais estreito; o grande desafio é torna-la uma estratégia política. Como exemplo, Oliveira (2013) destaca a situação de quando nos valemos de elementos da cultura popular como a roda (para debatermos nos conselhos locais ou fazermos sala-de-espera) no intuito de dar uma conotação popular ao serviço e podermos assim ter acesso aos populares e seu conhecimento para inseri-lo no sistema de saúde. “Importante fazer a roda e ter o participante, porém é necessário ir além”. Trata-se de investigar a cultura popular e entender como os processos ali desenvolvidos, desencadeados, 24 construídos, podem ampliar a compreensão de saúde e humanizar as práticas no serviço e na formulação, gestão e avaliação das políticas de saúde. 2.4 TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COM GRUPOS No contexto atual, o conceito de tecnologia tem sido explorado de forma exaustiva e enfática devido às constantes inovações tecnológicas que refletem a modernização nos mais diversos ambientes da sociedade, inclusive no processo de ensino-aprendizagem relacionado ao cuidar em saúde. Entretanto, nota-se ainda uma percepção equivocada no que diz respeito à associação restrita do termo tecnologia a equipamentos e recursos técnicos de operação. Mehry et al (2003) ampliam essa concepção quando afirmam que a tecnologia abrange os saberes constituídos destinados a geração e utilização de produtos, bem como para organização das relações humanas. O autor ainda agrupa as tecnologias utilizadas no cuidado em saúde em três categorias que podem também ser vistas no âmbito educativo. São elas: Tecnologia dura, que tem sua representação através do material concreto como equipamentos, mobiliário do tipo permanente ou de consumo; Tecnologia leve-dura, que inclui os saberes estruturados representados pelas disciplinas que operam em saúde, a exemplo da clínica médica, epidemiológica, entre outras e Tecnologia leve, expressa como o processo de produção da comunicação, das relações, de vínculos estabelecidos. Este conceito é enfatizado por Nietsche et al. (2005), uma vez que ressaltam que a tecnologia, enquanto equipamento é essencial como instrumento de trabalho, porém não se restringe somente a isso. Ela se direciona para a organização lógica e sistemática das atividades, de forma que possam ser observadas, compreendidas e transmitidas. Segundo os autores, a tecnologia aplicada a educação deve ser compreendida como “um conjunto sistemático de procedimentos que tornem possível o planejamento, a execução, o controle e o acompanhamento do sistema educacional.” Nota-se desse modo, que as tecnologias não são vistas como os sujeitos das práticas, mas são apenas impulsionadoras e potencializadoras das mesmas, na medida em que usa os artefatos tecnológicos como uma ponte de aproximação dos indivíduos com o conhecimento, estabelecendo uma relação dialógica que cria as condições para a própria prática holística em que se constitui o sujeito. Tais concepções vão de acordo com o conceito de Tecnologia Educacional (TE) estabelecido entre o período de transição do final dos anos 70 e início dos anos 80. Nessa época, discutia-se uma abordagem mais crítica e mais ampla, que fosse além da ideia de 25 utilização de meios, abrangendo a TE como instrumento facilitador entre o homem e o mundo, o homem e a educação, de forma a proporcionar ao educando/sujeito um saber que favorece a construção e a reconstrução do conhecimento. (Ibidem, p.4). Sabóia et al (2013) acrescenta que os processos educativos podem ser individuais ou em grupo, mediados pelo uso de tecnologias educacionais, e são uma maneira de intensificar o processo de viver/conviver em comunidade, que contribui para o educar-cuidar com autonomia. As tecnologias educacionais têm a finalidade de contribuir com atividades de ensino-aprendizagem e mediar práticas educativas em comunidade e/ou com tipos específicos de usuários. O enfoque deste capítulo são as TE desenvolvidas nas atividades grupais. Sobre isto, Silva (2003) relata que trabalhar com grupos tem sido uma prática cada vez mais valorizada e frequente. Em grupo tem se conseguido avançar, aprofundar discussões, ampliar conhecimentos e melhor conduzir o processo de educação em saúde. Tal prática favorece a superação das dificuldades, obtenção de maior autonomia e a promoção de um viver mais saudável (SILVA, 2003). Além do mais, Pereira et al (2009) afirmam que as atividades em grupo, além de educativas, também se apresentam como momentos importantes de troca de experiências e apoio, além de serem momentos de descontração e lazer. Nos encontros grupais por meio da interação intersubjetiva as pessoas aprendem umas com as outras a enfrentar os conflitos da vida cotidiana tornando-se mais seguras, aprimorando sua identidade, aprendendo a tomar decisões e construir novos projetos de vida (ZAMANILLO, 2008). As tecnologias educacionais que são utilizadas nas atividades educativas em saúde em grupo devem ser exercidas junto à população buscando principalmente a promoção à saúde, na medida em que se estimula a autonomia dos sujeitos com recursos que vão de encontro aos significados culturais e sociais presentes em seu contexto. Nota-se que ainda há poucos estudos na área de Tecnologias para Educação em Saúde com a comunidade. Em uma análise de 5.875 resumos apresentados no CBEn, somente 8 se enquadraram em eventos ou artifícios categorizados como Tecnologia Instrucional, ou seja, aqueles que propunham novas estratégias de ensino aprendizagem, voltadas para educação de grupos ou de clientelas específicas. (MENDES et al, 2002) Nesse sentido, Saboia; Teixeira & Viana (2013) contribuem com um relato de experiência sobre um trabalho educativo-participativo com um grupo de Diabéticos, no setor 26 de ambulatórios do Hospital Universitário da Universidade Federal Fluminense - UFF, no município de Niterói, RJ. Em seu capítulo, as autoras descrevem a experiência da tecnologia denominada “aula-passeio” com os participantes do grupo, que aceitaram de imediato a inciativa e realizaram passeios no Jardim Botânico, na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, no Forte Rio Branco, na Florália, no Campo de São Bento, na Praia de Icaraí e nas Praias Oceânicas em Niterói, entre outros lugares. Ao retornarem, faziam um resumo do que havia acontecido durante aqueles momentos. Os participantes comentavam, observavam e criticavam sobre o ocorrido. Dessa forma relações entre profissionais, estudantes e clientela se fortaleciam, a cada encontro, fundamentadas na horizontalidade, nas trocas e no aprendizado mútuo. Em outro estudo, três alunas do curso de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC) relatam a experiência da utilização da literatura de cordel na prática educativa em saúde. Os temas foram selecionados de acordo com os princípios do SUS e as diretrizes da promoção à saúde. Estes foram: “autonomia, empoderamento, integralidade, intersetorialidade, comunidade, saúde, entre outros.” O desenvolvimento ocorreu através de estrofes com rimas que desencadearam a convergência de ideias. O cordel consta de 15 estrofes, classificadas como sextilha, principal modalidade do cordel, em que são rimados entre si os versos pares, ou seja, o segundo com o quarto e com o sexto, enquanto o primeiro, o terceiro e o quinto são livres. Procurou-se adequá-lo às técnicas do cordel, respeitando a rima, a métrica e os elementos oracionais em cada estrofe. (MARTINS et al. 2011, p.3) Nos resultados desse relato, as autoras apresentam cada categoria adotada para confecção do cordel intitulado “Promoção da saúde nos diversos cenários da enfermagem” e discute uma a uma demonstrando as estrofes correspondentes. O instrumento educativo foi apresentado aos docentes e discentes do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC e obteve uma boa aceitação pela criatividade apresentação inédita do exposto. 27 3 METODOLOGIA Considerando a natureza da investigação, trata-se de uma pesquisa de abordagem mista, descritiva e do tipo participante. De acordo com um dos objetivos proposto, esta pesquisa se classifica como descritiva, pois segundo Gil (2008), as pesquisas descritivas visam, primordialmente, a descrição das características de uma determinada população, fenômenos ou até mesmo a relação entre as variáveis. O estudo de método misto, segundo Driessnack, Sousa e Mendes (2007), confere o tipo de pesquisa que engloba, em um único estudo, estratégias mistas para responder às questões de pesquisa e/ou testar hipóteses, ou seja, aborda a pesquisa qualitativa e quantitativa concomitantemente ou sequencialmente. Chizzotti 1 (2000) apud Dyniewicz (2009), p.91 explica que “a pesquisa quantitativa prevê a mensuração de variáveis preestabelecidas para verificar e explicar sua influência e correlações estatísticas”. Desta forma buscou-se utilizar o método misto já que este irá possibilitar mensurar uma pesquisa de caráter eminentemente qualitativo Segundo Minayo (2007), a pesquisa qualitativa responde à questões muito particulares, e se ocupa nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado, uma vez que trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Bogdan e Bicklen (1982) apud Lüdke 2 e André (1986, p.13), explicam que a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada e enfatiza mais o processo do que o produto, se ocupando em retratar a perspectiva dos participantes. Sobre a pesquisa participante, Borda (1979) a descreve como uma ação voltada para as necessidades básicas de cada indivíduo, respondendo especialmente ás necessidades de populações que compreendem as classes menos favorecidas nas estruturas sociais contemporâneas, levando em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. Um trabalho dessa natureza tem como objetivo propiciar aos grupos populares entendimento de seus problemas para que eles possam percebê-los e levantar alternativas que vão ao encontro de seus interesses. Desse modo está se caminhando em direção ao envolvimento destes grupos como sujeitos do conhecimento. (ROCHA, 2004) 1 2 CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 2082. BOGDAN, Robert. e BIKLEN, Sari.K. Qualitative Research for Education. Boston, Allyn and Bacon, Inc., 1984 28 3.1 CENÁRIO DA PESQUISA O cenário escolhido foi a colônia de pescadores de Jurujuba, próximo à Baía de Guanabara. Jurujuba é um bairro histórico da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil, cujo nome deriva do tupi ‘Aju(r)-juba’, que significa ‘papagaios amarelos’. O atual bairro é predominantemente ocupado por antigos moradores e possui uma vila de pescadores, considerada uma das mais tradicionais do estado. Sua localização encontra-se no meio do caminho para o Complexo dos Fortes, antiga área de defesa da entrada da Baía de Guanabara contra invasores no Brasil Colônia, tendo como destaque a Fortaleza de Santa Cruz - ponto de interesse turístico da cidade. (AGENDA 21 NITERÓI) O município de Niterói pertence à região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo considerado de grande porte, e possui como principal atividade econômica o setor terciário de prestação de serviços. (IBGE, 2010). Figura 1: Foto da praia de Jurujuba, Niterói-RJ Fonte: Panoramio: Google imagens. 3.2 SUJEITOS DA PESQUISA Os sujeitos da pesquisa foram 30 trabalhadores da pesca que residem nesta colônia. Os critérios deinclusão foram: pescadores e cultivadores de mexilhões de ambos os sexos; ativos na profissão; que pesquem durante o dia, se expondo a radiação solar rotineiramente e tenham a pesca como fonte de renda principal ou secundária; com idade entre 18 e 65 anos. Os 29 critérios de exclusãoforam: pescadores que não estavam em condições físicas e mentais de participarem do estudo; que não estavam em seu ambiente de trabalho ou que não aceitaram participar da pesquisa. 3.3 ETAPAS DA COLETA DE DADOS Neste estudo para executar a ações de educação popular em saúde aproximando-se ao máximo dos pensamentos de Paulo Freire, optou-se por fazer uma adaptação do seu método de alfabetização para adultos narrado por Brandão (1981). Geralmente métodos de alfabetização têm um material pronto, como cartazes, cartilhas, cadernos de exercício. Desta forma, quanto mais o alfabetizador acredita que aprender é “enfiar o saber-de-quem-sabe no suposto vazio-de-quem-não-sabe, tanto mais tudo é feito de longe e chega pronto, previsto”. Paulo Freire pensou que um método de educação construído em cima da ideia de um diálogo entre educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro, não poderia começar com o educador trazendo pronto, do seu mundo, do seu saber, o seu método e o material da fala dele. Um dos pressupostos do método é a ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. (BRANDÃO, 1981) Segundo Paulo Freire, a ideia de uma ação dialogal entre educadores e educandos deve começar com uma prática de ação comum entre as pessoas participantes da pesquisa e as da comunidade. Dessa forma, inicialmente foi realizada uma visita ao local para apresentação da equipe de pesquisa a direção da unidade de saúde próxima e em seguida e agendado um encontro com o presidente da associação de pescadores local. Após uma breve explanação da proposta da pesquisa e o consentimento para a ocorrência do estudo no local, bem como a aceitação dos pescadores em envolver-se com a investigação. A tarefa inicialfoi um breve levantamento sobre a realidade local, ou seja, o lugar imediato onde os pescadores vivem. Esta primeira etapa pedagógica de construção do método foi chamada por Paulo Freire de “levantamento do universo vocabular” ou “investigação do universo temático”. (Ibidem,1981) De acordo com Freire, esse primeiro passo ocorre por meio da observação livre e registro em forma de diário de campo. Os pesquisadores irão misturar-se com as pessoas “da comunidade”. Habitarão o cenário de pesquisa sem molestar o seu cotidiano. Nesse momento não existirá questionários nem roteiros predeterminados para a pesquisa. A proposta é que a partir da observação, perguntas sobre a vida, sobre os hábitos, sobre casos acontecidos, sobre o trabalho, sobre modos de ver e compreender o mundo possam emergir de uma vivência que começa a acontecer ali. O levantamento do universo temático deve ser conduzido de tal forma 30 que reduza sempre a diferença entre pesquisador e pesquisado. O próprio tato de que se está fazendo uma primeira etapa do método, com o levantamento, deve ser anunciado claramente. (BRANDÃO,1981) Este levantamento do universo temático possibilitou uma aproximação das pesquisadoras com a realidade dos pescadores e forneceu à pesquisa informações relevantes que auxiliaram nas atividades de aplicação da educação popular em saúde que foram desenvolvidas posteriormente. Também auxiliou no estreitamento das relações entre pesquisadores e sujeitos. As informações colhidas por meio da investigação do universo temático serviram de ponto de partida para o planejamento e elaboração de uma tecnologia de educação popular baseada nos “Círculos de Cultura”, visto que este estudo vai contra ao que propõe o “ensino bancário”, onde se transmite conteúdos prontos e impostos, desconectados com a realidade dos educandos. Também foi utilizada como forma de coleta de dados, durante todo o processo, a observação participante que, segundo Brandão (1987), neste tipo de observação a lógica não deve ser do pesquisador, nem da sua ciência, mas o da própria cultura que investiga, tal como a expressam os próprios sujeitos que a vivem. Em resumo, as etapas de coleta de dados foram: 1. Investigação do universo temático: Neste momento, ocorreu ainvestigação do universo vocabular e estudo dos modos de vida na localidade. Para Freire (1992), esse levantamento não se limita à simples coleta de dados e fatos, mas deve, acima de tudo, perceber como o educando sente sua própria realidade superando a simples constatação dos fatos; isso numa atitude de constante investigação, por meio da qual o educador poderá emergir com um conhecimento maior de seu grupo-classe, tendo condições de interagir no processo ajudando-o a definir seu ponto de partida, que irá traduzir-se no Tema Gerador. 2. Aplicação do questionário sócio clínico demográfico e entrevista semiestruturada: Nesta etapa, os pescadores foram convidados a responder um questionário sócio demográfico e de saúde (Apêndice A), aplicado pelas pesquisadoras, que abordam questões como: carga horária de trabalho, renda familiar, tempo de exposição diária ao sol, nível educacional, entre outros; com o objetivo de ampliar a visibilidade da população em foco.Logo após, realizamos a entrevista semiestruturada (Apêndice C) elucidando questões 31 que buscavam conhecer os saberes prévios dos pescadores a respeito das causas, manifestações e formas de prevenção das neoplasias cutâneas. 3. Realização dos círculos de cultura. Os “círculos de cultura”, enquanto TE adaptada do modelo pedagógico proposto por Freire (que assim o denominava por sua forma de organização, onde os pesquisadores e participantes se alocam em círculos para favorecer uma relação horizontal; e de cultura, pois muito mais que o aprendizado individual, o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários, e coletivos de se pensar)foram o momento onde ocorreu de fato a educação popular em saúde sobre o câncer de pele não melanoma. Não havia quantitativos pré-estabelecidos em relação à ocorrência, pois dependíamos da demanda dos participantes. A educação ocorreu de forma autêntica, não de “A” para “B” ou de “A” sobre “B”, mas de “A” com “B”, mediatizados pelo mundo, mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. (FREIRE, 1987.) 3.4 ANÁLISE DOS DADOS Na análise dos dados foi feita a transcrição das entrevistas na íntegra realizadas durante a investigação do universo temático. Optou-se pela modalidade Análise Temática visto que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado. (MINAYO, 2007) A análise temática ocorrerá em três etapas propostas por Minayo (2007): a primeira etapa é a de pré-análise, composta por leitura flutuante, constituição do corpus, formulação e reformulação de hipóteses e objetivos, visando determinar: a unidade de registro, a unidade de contexto, os recortes, a categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos mais gerais; a segunda etapa é a de exploração do material, que consiste em uma operação classificatória que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto, busca-se encontrar as categorias, que são expressões ou palavras significativas em função das quais os conteúdos de uma fala serão organizados; a terceira e última etapa é a de tratamento dos resultados obtidos e interpretação, que consiste em análise estatística simples (porcentagens) dos resultados brutos, visando colocar em relevo as informações obtidas, para propor inferências e realizar interpretações, inter-relacionando-as com o quadro teórico desenhado inicialmente. 32 3.5 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA Visando atender legalmente às exigências da Resolução nº446/12 do Conselho Nacional de Saúde, que busca em suas disposições assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado, para prosseguimento da pesquisa, este projeto foi aprovado na apreciação do Comitê de Ética do Hospital Universitário Antonio Pedro - CEP/CMM/HUAP e se apresenta sob o número 2685213.0.0000.5243. Foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento e Livre Esclarecido – TCLE (Apêndice E), no qual constou o esclarecimento dos objetivos desse estudo e o detalhamento dos métodos a serem utilizados bem como a garantia de confidencialidade das informações prestadas, privacidade do participante, o reconhecimento da não gratificação e liberdade de aceitação ou não desse estudo, sem qualquer prejuízo na relação com a pesquisadora ou instituição. 33 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 A EXPERIÊNCIA DOS CÍRCULOS DE CULTURA A partir dos temas geradores levantados durante a investigação do universo temático, elaboramos um planejamento de ensino baseado nas Tecnologias Educacionais desenvolvidas através dos Círculos de Cultura, segundo o modelo pedagógico de Paulo Freire. Como primeira etapa, planejamos o evento intitulado “Pescando Saúde e Tecendo Conhecimentos” desenvolvendo, inicialmente, um cronograma e roteiro das atividades (Apêndice F) de acordo com a disposição do local de trabalho em que se encontram os pescadores, pensando em facilitar o acesso e interferir minimamente no tempo de serviço cedido por eles para participar do evento. Após isso, iniciamos a divulgação com convites que foram distribuídos na Associação de Marisqueiros, na vila onde trabalham os Cultivadores de Mexilhões, na Policlínica Regional e no Cais - local que concentra a maior parte dos pescadores, que rotineiramente descarregam suas embarcações ao longo do dia. Os círculos de cultura foram desenvolvidos na Associação de Marisqueiros e no Cais, totalizando quatro encontros.Ao todo, participaram 15 pescadores, que trabalham e moram com suas famílias na vila residencial ao lado da Associação. Contamos também com a colaboração de acadêmicas do 8º período do Curso de Enfermagem da UFF em estágio na Policlínica Regional de Jurujuba, que participaram como voluntárias no desenvolvimento das atividades. O Pescando Saúde e Tecendo Conhecimentos começou com a apresentação do projeto aos pescadores participantes. Ressaltamos os objetivos e destacamos que as atividades educativas foram geradas com base nas informações colhidas na entrevista feita anteriormente. Muitos se mostraram surpresos quanto ao nosso retorno, relatando que já participaram de inúmeras pesquisas em que não receberam respostas e que não trouxeram benefícios pra população. Assim, iniciamos as atividades com a aferição da Pressão Arterial como ponto de partida para um rápido diálogo acerca da construção do conhecimento sobre doenças como Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus, bem como hábitos de vida saudável; adesão ao tratamento e busca pelo serviço de saúde, pois durante a observação participante, percebemos a necessidade de discutir tais assuntos, uma vez que as condições de trabalho 34 deste grupo populacional, associadas à falta de informação e dificuldade de acesso às Redes de Atenção em Saúde favorecem a ocorrência de agravos relacionados a essas patologias. Além disso, este diálogo inicial permitiu uma maior aproximação entre os pesquisadores e participantes. Figura 2: Foto da verificação da Pressão Arterial de uma participante antes das atividades. Fonte: Fotografia da autora Logo após, iniciamos os Círculos de Cultura com os Temas Geradores, definidos a partir das frases dos pescadores registradas durante o levantamento do universo temático. O Tema I:Mitos e Verdades sobre o câncer de pele foi desenvolvido com base em 11 afirmações (retiradas das respostas dos participantes ao roteiro da 1ª entrevista - Apêndice C) dispostas no verso da foto de peixes de espécies diferentes, comuns do pescado dos participantes. Assim, cada peixe continha uma afirmativa sobre neoplasias cutâneas que poderia ser mito ou verdade. Com a intenção de nos apropriarmos de recursos relacionados ao cotidiano destes pescadores, utilizamos uma rede de pesca, cedida pelos próprios participantes, como painel para expor os peixes. Dessa forma, solicitamos que cada um escolhesse uma espécie na rede para, então, discutirmos se a afirmação do verso era mito ou verdade. 35 Figura 3: Foto de uma das cultivadoras de mexilhões durante o desenvolvimento do Tema I. Fonte: Fotografia da autora No Tema II: O câncer de pele – Fotos em foco, trouxemos assuntos relacionados a patologia em questão, como: conceitos, sinais e sintomas, causas do câncer de pele: Radiação UV e como prevenir por meio de demonstração de fotos e imagens que facilitaram o entendimento e possibilitaram a relação do assunto com a realidade. A utilização das imagens na discussão viabilizou a problematização do tema junto aos pescadores, o que, segundo Freire (1992), significa procurar novas compreensões de novos desafios. 36 Figura 4: Foto do desenvolvimento do Tema II na Associação de Pescadores de Jurujuba, Niterói. Fonte: Fotografia da autora O Tema III: Rede de Conhecimentos foi desenvolvido com os participantes a fim de ampliar a construção do pensamento crítico-reflexivo já trabalhada ao longo das atividades. Apresentamos diversas figuras relacionadas ou não com o câncer de pele e pedimos que eles separassem as imagens de acordo com os assuntos discutidos (Fatores de risco, Sinais e Sintomas e Prevenção) e, assim, pregassem na rede nos respectivos espaços destinados a tais assuntos, como mostra a figura. Figura 5: Foto de uma participante desenvolvendo a atividade na Rede de Conhecimentos. Fonte: Fotografia da autora 37 Ao final das atividades, foi realizada uma avaliação do conteúdo proposto (Apêndice D), através de perguntas, às quais o grupo respondeu. Notou-se que o grupo conseguiu construir conhecimentos acerca das neoplasias cutâneas, identificar a causa e os diferentes tipos de câncer de pele, relatar as principais manifestações, bem como os modos de prevenção. Após os círculos de cultura, o grupo considerou adotar medidas de proteção e 17% dos participantes passaram usar protetor solar ou chapéu. Figura 6: Foto de um dos pescadores utilizando chapéu no segundo dia do evento Pescando Saúde. Fonte: Fotografia da autora 4.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES A amostra final da pesquisa foi composta por 30 participantes, contemplando pescadores e cultivadores de mexilhões. A distribuição dos participantes foi feita de acordo com a caracterização da população com relação ao seu perfil (sexo, idade, raça e escolaridade). A primeira variável analisada diz respeito à distribuição dos participantes quanto ao gênero (Figura 1). De acordo com os dados coletados, verificou-se o predomínio de pescadores do sexo masculino (73%) em relação ao feminino (27%). Tal proporção confirma os dados encontrados no Boletim de Pesca e Agricultura referentes ao registro de pescadores da Região Sudeste, que no ano de 2010 apresentou 74.925 pescadores profissionais registrados, sendo que 74,5% são homens, e apenas 25,5% são mulheres. Seguindo uma análise comparativa, em termos regionais, o Nordeste apresentou a proporção mais igualitária entre os gêneros, com 172.327 mulheres, representando 46,3% do total, contra 200.460 homens, referente a 53,7%. (BRASIL, 2010) 38 Tal situação decorre pelo fato da pesca ser tradicionalmente entendida como uma atividade masculina, com raízes históricas pautadas na segregação de gênero no processo de trabalho. Entretanto, vale ressaltar, que apesar da preponderância masculina, a presença da figura feminina no cenário pesqueiro tem sido cada vez mais observada e discutida em movimentos, como a recém-instituída Articulação Nacional de Pescadoras no Brasil (ANP), que busca o reconhecimento do estatuto destas trabalhadoras, diminuição das desigualdades de gênero e criação de políticas que assegurem direitos sociais igualitários. (MANESCHY & ÁLVARES, 2010) Nesse sentido, Santos (2013) afirma que as pescadoras têm fundamental importância na preservação de saberes e práticas transmitidas através de gerações; na produção de alimentos e na geração de renda e ainda enfrentam longas jornadas de trabalho que inclui a pesca e os afazeres domésticos, porém, mesmo diante da importância social e cultural do trabalho destas mulheres e maior participação nas atividades pesqueiras, elas permanecem socialmente invisíveis. Figura 7: Gráfico referente à distribuição dos participantes quanto ao gênero. Sexo 27% 73% Masculino Feminino Fonte: Elaboração própria. 39 Segundo o Instituto Nacional do Câncer – INCA, a estimativa é de 98.420 novos casos de câncer de pele não melanoma nos homens e 83.710 nas mulheres para 2014. Esses valores correspondem a um risco estimado de 100.75 casos novos a cada 100 mil homens e 82.24 a cada 100 mil mulheres. O câncer de pele não melanoma é o mais incidente em homens nas regiões Sul (159.51/100 mil), Sudeste (133. 48/100 mil) e Centro-Oeste (110.94/100 mil). (INCA, 2014) Estes indicadores, somados aos riscos ocupacionais, em que os homens estão mais expostos por ser o gênero dominante entre os pescadores, demonstram que os indivíduos do sexo masculino estão mais propensos a desenvolver o câncer de pele e isso pode ser agravado pelo fato de que ainda há uma baixa procura pelos serviços de saúde por parte deste gênero, sobretudo no caso destes pescadores que enfrentam uma ampla jornada de trabalho que reflete na falta de tempo para desenvolver ações de promoção à saúde e autocuidado. A variável idade foi distribuída de acordo coma faixa etária dos pescadores entrevistados. Como mostra os dados da Tabela 1, predominou a faixa de 51 a 60 anos, com 30%, seguida por 41 a 50 anos, com 23,33%. Sobre esse aspecto, Souza et al (2009)observou em seu estudo com pescadores de Guarujá (SP) que as faixas etárias de 36-45 e 46-55 anos, seguem proporção similar, com 34% cada uma. Tabela 1. Distribuição dos pescadores da Colônia de Jurujuba segundo a faixa etária Faixa etária (anos) Frequência % <30 2 06,66 30 a 40 6 20,00 41 a 50 7 23,33 51 a 60 9 30,00 >60 6 20,00 Total 30 100% Fonte: Elaboração própria. A baixa frequência de pescadores com menos de 30 anos também foi notória no Paraná, onde somente 13% dos pescadores apresentaram essa faixa etária. (VASCONCELLOS et al, 2005) Tal fato pode se relacionar ao pouco envolvimento dos filhos dos pescadores nesta atividade. O número reduzido de filhos envolvidos pode resultar do melhor nível de escolaridade dos jovens, que buscam, geralmente, por empregos fora da 40 comunidade, onde há possibilidade de renda fixa e benefícios como registro em carteira, plano de saúde e condições menos árduas de trabalho. (SOUZA et al, 2009) Por outro lado, isso pode refletir futuramente no desaparecimento da atividade pesqueira tradicional. A partir da constatação deste fato, programas de manejo nas comunidades tradicionais de pescadores no Rio Paraná foram desenvolvidos, visando o resgate e a transmissão de valores familiares e culturais, bem como a utilização adequada dos recursos. (CARVALHO, 2004) As faixas etárias predominantes destacam a relevância da pesquisa, visto que demonstram que a maior parte dos pescadores que participaram do estudo constitui grupo de risco de contrair o câncer de peletambém por apresentar idade maior que 40 anos, sob exposição constante e prolongada à radiação solar sem proteção, considerando que os danos provocados por tal ação tem caráter cumulativo e costumam se manifestar nessa fase da vida, como mostra alguns estudos. (INCA, 2010) A Tabela 2 evidencia a caracterização da amostra de acordo com escolaridade, renda e raça. Tabela 1: Distribuição dos participantes de acordo com escolaridade, renda e raça. ESCOLARIDADE Frequência % Fundamental Incompleto 15 50% Fundamental Completo 4 13,3% Ensino Médio Incompleto 6 20% Ensino Médio Completo 5 16,6% Frequência % <1 salário mínimo 1 3,3% De 1 a 3 salários mínimos 21 70% De 3 a 5 salários mínimos 6 20% De 5 a 10 salários mínimos 2 6,6% RENDA FAMILIAR COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA requência % 41 Sim 12 40% Não 18 60% RAÇA Frequência % Branca 6 20% Parda 19 63,3% Negra 5 16,7% Fonte: Elaboração própria Com relação à escolaridade, o percentual apurado demonstrou quemetade dos pescadores (50 %) não concluiu o ensino fundamental. Em âmbito nacional, de acordo com o relatório da SEAP (2006), 74,5 % de pescadores dedicados à pesca de pequeno porte no Brasil também apresentam ensino fundamental incompleto. Este mesmo relatório revelou para o Estado de São Paulo o seguinte: 3,2% de pescadores analfabetos (A); 67,1% com Ensino Fundamental incompleto (EFI); 11,4% com Ensino Fundamental completo (EFC); 5,9% com Ensino Médio incompleto (EMI) e 10,6% com Ensino Médio completo (EMC). Nota-se ainda que uma quantidade considerável de pescadores da Colônia de Jurujuba, Niterói (20%) concluiu o Ensino Médio, enquanto, no Estado de São Paulo, quase metade desse percentual (10,6%) atingiu esse nível de escolaridade. No entanto, nos dois casos, o número de pescadores com Ensino Médio completo foi maior que o dos que não concluíram esse ciclo escolar. Tais resultados corroboram com a observação de DIAS-NETO e MARRUL-FILHO (2003), que percebem a pesca como uma atividade capaz de absorver mais mão-de-obra com baixa escolaridade, seja de origem urbana ou rural. Em alguns casos ainda é a única oportunidade de trabalho para indivíduos nessa condição. Diegues (1983), porém, comenta que, independente do grau de formação, o domínio da arte exige qualidades físicas e intelectuais dos pescadores, que vão sendo aprimoradas no exercício da atividade. Um baixo nível de escolaridade é ainda um fator relevante no que concerne ao indivíduo apresentar condições de exercer o autocuidado. Quanto mais elevado o nível de instrução, melhor será a capacidade de construir conhecimentos sobre os fatores que interferem no seu processo saúde-doença e qualidade de vida e, a partir de então, aplicar tais saberes em seu cotidiano. No que tange ao câncer de pele, o conhecimento acercada 42 patologia- suas causas, manifestações e medidas de prevenção- foi melhor apresentado pelos pescadores que possuem maior nível de escolaridade. Sobre a Renda Familiar, os dados da Tabela 2 demonstram que 70% dos pescadores apresentam renda mensal de 1 a 3 salários mínimos, 20% vivem com 3 a 5 salários mínimos e 6,6 % recebem de 5 a 10 salários mínimos. Dentre estes, 40% alcançam suas rendas com atividades complementares à pesca, normalmente relacionadas ao comércio, aluguel de casas e, no caso das mulheres, prestação de serviços domésticos nos dias de folga e venda de cosméticos. Fuzetti & Correa (2009) constataram que a renda média de pescadores da Ilha do Mel, no Paraná que apenas pescam é de R$ 425,00 e a dos que pescam e trabalham com outros serviços R$ 585,00, o que demonstra uma diferença pouco significativa entre os primeiros e os últimos, contrariando o observado entre os pescadores da Colônia de Jurujuba, Niterói. A baixa renda dos pescadores se deve, em parte, a característica de sazonalidade que o produto pesqueiro impõe, gerando irregularidade na renda recebida por esta atividade. Neste contexto, as atividades alternativas, durante épocas de entressafra da pesca, fazem parte da estratégia desobrevivência destes trabalhadores. Os pescadores da Colônia afirmam haver uma grande variação de renda ao longo do ano por consequência da disponibilidade do pescado. Ainda sobre este aspecto, pode-se estabelecer uma relação bi-causal entre a renda e a saúde. Ao refletirmos sobre o conceito de saúde defendido atualmente, percebemos a fundamental relação de causalidade entre as duas dimensões. Em primeira hipótese, a renda interfere na saúde, uma vez que um maior nível de renda permite gozar de melhor status de saúde. Essa relação pode ser entendida pelo uso da renda na aquisição de bens e serviços de saúde, acesso aos serviços de saúde, condições de moradia e da educação. Em direção oposta, a saúde também afeta a renda, na medida em que o capital humano é um insumo associado com a capacidade da força de trabalho, assim, a saúde impacta diretamente sobre a produtividade e oferta de trabalho afetando o crescimento econômico. (SANTOS et al, 2012) De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (1999), há uma relação tênue entre os indicadores sócio econômicos e os fatores de risco para o desenvolvimento do Câncer. Dá-se um exemplo do que se observa entre o grau de alcance escolar e fatores de risco de doenças, existindo uma relação diretamente proporcional: quanto maior o grau escolar, menor a prevalência do risco. O estágio avançado, muitas vezes intratável, em que os casos chegam aos hospitais, bem indica a organização e o acesso ao tratamento.O diagnóstico precoce seria 43 possível se essas pessoas em vulnerabilidade social tivessem melhor instrução e maior acesso à assistência médica. Torna-se necessário ressaltar que o câncer não diferencia classes sociais, mas ele se desenvolve diferentemente entre os grupos sociais, porque eles têm diferentes expectativas de vida e apresentam ou se submetem a diferentes fatores de risco de adoecimentos e morte. Logo, é de fundamental importância que haja maior atenção junto à Vigilância em Saúde e maior incentivo às práticas educativas e preventivas do câncer de pele na atenção básica no Sistema Único de Saúde (SUS); maior divulgação de esclarecimentos sobre filtro de proteção solar e a necessidade de sua utilização; bem como redução dos seus valores para que grande, senão toda parcela da população tenha acesso de forma igualitária; e que as campanhas de prevenção ao câncer de pele disponibilizem exames, sobretudo para população com maior vulnerabilidade socioambiental e laboral e que haja ainda maior sensibilização nas redes de ensino, com incentivo a projetos de educação em saúde, principalmente, desde as seres iniciais. (OLIVEIRA, 2013) A última variável da Tabela 2 demonstra a distribuição dos pescadores quanto à raça. De acordo com os dados coletados, 63,3% dos profissionais entrevistados são pardos, 20% são brancos e apenas 16,7% são negros. O que difere do encontrado entre os pescadores do Sul do País, onde 75% se classificaram como sendo de raça branca, enquanto 25% se declararam negros. Pode-se explicar tal discrepância pelo fato da região Sudeste concentrar grande parte da população parda do país (32,7%), perdendo apenas para região Nordeste, com 42,4% de indivíduos com tal identificação racial. (IBGE, 2007) Estudos demonstram que a fotoproteção conferida pela melanina da pele mais pigmentada faz com que os cânceres de pele sejam menos frequentes entre negros e pardos. No Brasil, a análise de dados das campanhas de prevenção ao câncer de pele, promovidas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, de 1999 a 2005, evidenciou 17.980 casos (8,7%) de diferentes tipos de câncer da pele em meio aos 205.869 indivíduos examinados. A proporção de câncer nos indivíduos negros foi de 5% (1,6% nos pretos e 3,4% nos pardos) versus 3,2% nos amarelos e 12,7% nos brancos. No entanto, apesar do menor risco na população parda comparada aos brancos, os indivíduos pardos ou negrosque desenvolvem câncer da pele são confrontados com o aumento da morbidade e mortalidade, resultado de um diagnóstico tardio. (EID & ALCHORNI, 2011) 44 A Tabela 3 demonstra a distribuição dos participantes de acordo com dados relacionados ao trabalho, como o tempo de profissão em anos, tempo de exposição solar diária em horas e utilização de protetor solar. Tabela 3: Aspectos relacionados ao trabalho e a saúde. TEMPO DE PROFISSÃO (em anos) Frequência % <10 anos 3 10% 10 a 20 anos 8 26,6% 21 a 30 anos 5 16,6% 31 a 40 anos 10 33,3% >41 anos 4 13,3% UTILIZAÇÃO DE PROTETOR SOLAR Frequência % Sim 6 20% Não 24 80% TEMPO DE EXPOSIÇÃO SOLAR DIÁRIA (em horas) Frequência 1a3 4 4a7 11 8 ou mais 15 % 13,3% 36,7% 50% Fonte: Elaboração própria A primeira variável apresentada na Tabela 3 diz respeito ao tempo de profissão. De acordo com os dados observados, predominaram os pescadores com grande experiência na profissão, 33,3% com 31 a 40 anos de profissão, seguidos de 26,6% com 10 a 20 anos na função. Nota-se que poucos têm experiência de pesca inferior a 10 anos (10%), assim como o observado entre os pescadores do Perequê, em São Paulo, onde apenas 6% possuíam menos de cinco anos de experiência, mostrando que a dinâmica de renovação é lenta. (FUZETTI & CORRÊA, 2009) Observa-se que há um “envelhecimento” na atividade pesqueira, ou seja, sem uma importante renovação de profissionais. A maioria dos pescadores permanece na profissão por 45 não ter outras oportunidades nos demais setores do mercado de trabalho e necessitar da renda proveniente do pescado para manter a renda da família, já que muitos não conseguem a aposentadoria por tempo de serviço pela informalidade conferida à profissão e falta de comprovação pela assinatura na carteira de trabalho. Outro fato a ser considerado, são os riscos a saúde em que estes trabalhadores permanecem expostos durante todo esse tempo de serviço. Além das condições insalubres que apresentam os barcos onde esses pescadores passam a maior parte do tempo, a exposição solar prolongada representa mais um agravante à saúde que se faz presente na rotina desses trabalhadores ao longo dos anos. Como mostra a Tabela 3, 50% dos pescadores trabalham sob constante exposição solar durante oito horas ou mais por dia, enquanto apenas 13,3% estão expostos diariamente à radiação solar por menos 3 horas. Esta apuração demonstra que a jornada de trabalho extensa durante o dia, confere maior vulnerabilidade às variações climáticas e aos efeitos nocivos dos raios solares a maior parte dos pescadores entrevistados. Contrapondo-se a isto, Schwartz (2005) levanta a hipótese que supõe a existência de adaptação da pele à exposição crônica e prolongada ao sol. Isso sugere que o organismo cria mecanismos protetores contra a radiação solar, do que deriva em um dano menor do que o encontrado em indivíduos que se expõe esporadicamente ao sol. Este autor estudou o efeito da Radiação Ultravioleta em indivíduos caucasianos, mas concluiu que a afirmação deveria ser confirmada por futuros estudos. Quanto à utilização do protetor solar, 80% afirmaram não fazer uso do mesmo em nenhum momento do dia e apenas 20%, ou seja, 6 de 30 pescadores entrevistados, dizem aplicar o filtro de proteção solar por pelo menos uma vez, sem reaplicação, ou quando lembram. Quando questionados sobre o motivo para não utilizar o protetor solar, as respostas se relacionavam ao esquecimento, falta de tempo, alto custo do produto e não reconhecimento de sua importância na prevenção do câncer de pele. Portanto, são necessárias novas medidas de políticas públicas no campo da saúde do trabalhador, visando contemplar estes profissionais, que,geralmente, exercem suas atividades de maneira autônoma, sem vínculo a empresas e, por isso, são desfavorecidos em relação a seguridade de seus direitos e na vigilância do cumprimento do que prediz o artigo 7º da Constituição Federal, que assegura aos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Logo, o não fornecimento de protetores solar a estes trabalhadores, bem como a falta de instrução sobre a importância do mesmo, viola a referida norma constitucional. 46 4.3 O CÂNCER DE PELE NA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES A partir dos dados coletados, transcrição das entrevistas na íntegra e leitura exaustiva visando alcançar os núcleos de compreensão do texto, foram estabelecidas duas categorias, elencadas segundo as fases propostas pela análise temática descrita por Minayo (2007), sendo estas “Identificando conhecimentos acerca do câncer de pele” e o “Câncer de Pele e as medidas de fotoproteção”. 4.3.1 Identificando conhecimentos acerca do Câncer de Pele. O universo dialógico em que se estabelece a Educação Popular em Saúde (EPS) demanda práticas que se constituem por meio da apropriação e interpretação do mundo pelas classes populares, contemplando a escuta ao saber do outro, sobretudo com o reconhecimento de suas crenças, valores, conhecimentos, desejos e temores. (BRASIL, 2012) Buscando alcançar os objetivos da EPS, procuramos descrever nesta seção, o conhecimento prévio dos participantes em relação ao que de fato significava para eles o câncer de pele, suas principais causas e os sinais e sintomas esperados para esta patologia. As informações obtidas por meio da entrevista semiestruturada foram devidamente registradas em sua total fidedignidade e também fomentaram o desenvolvimento dos Temas Geradores durante os Círculos de Cultura. Na análise das entrevistas, os primeiros achados relacionavam-se às representações conceituais a respeito das neoplasias cutâneas. Ao serem questionados sobre tal aspecto, 20% relataram não saber nada sobre o câncer de pele; 93,3% relacionaram o aparecimento de manchas e feridas na pele aos principais sinais e sintomas da doença; 6,6% entenderam como lepra e 6,6% afirmaram que o câncer de pele é o único câncer que não é contagioso. Por meio destas constatações, percebemos a importância de primeiramente identificar os saberes e crenças do público alvo de intervenções educativas, buscando reconhecer onde se encontram as possíveis lacunas de conhecimento, relacionando a influência de fatores socioculturais nos modos de interpretar o mundo e construir conhecimentos pelo acesso à informação no cenário em que vivem. Entre alguns pescadores envolvidos na pesquisa, notou-se que as crenças a respeito do câncer de pele estão firmadas em dúvidas e desconhecimentos evidenciados nas falas a seguir: 47 P3: “Realmente nunca ouvi falar nada.” [Ao ser questionado sobre o que ele sabia sobre o câncer de pele] P14: “Não sei nada, nunca estudei sobre isso”. Atualmente, o câncer de pele é o câncer de maior incidência no Brasil. Os números alarmantes da doença no país geraram uma preocupação que culminou na criação do Programa Nacional do Controle do Câncer de Pele (PNCCP) pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Desde então, campanhas de prevenção e combate ao câncer de pele buscam levar informação, diagnóstico e tratamento a população, gratuitamente (SBD, 2013). No entanto, em termos de aplicação prática, questiona-se a eficácia dessas campanhas quanto ao seu alcance em todos os grupos sociais. Nota-se, por meio das falas em destaque, que o câncer de pele ainda é uma doença desconhecida por alguns pescadores e, tal fato pode-se relacionar a fatores discutidos anteriormente, como a dificuldade de acesso à informação e aos serviços de saúde, que geralmente estão associados ao baixo nível de instrução e ampla jornada de trabalho. Sabe-se ainda que os mitos e desconhecimentos constituem os maiores vilões na luta contra o câncer de pele; isso porque pelo fato de desconhecer as causas e manifestações da doença, muitos diagnósticos se dão de forma tardia, dificultando o prognóstico. Além disso, as lacunas no conhecimento também representam uma barreira à prevenção da doença, pois quando as causas não são conhecidas, as medidas de proteção também não serão.Visando construir caminhos para trazer soluções a estes problemas, a ação educativa proposta neste estudo buscou esclarecer dúvidas e facilitar a troca de conhecimentos, sem utilizar da imposição e invasão cultural. P4: “O que eu já ouvi falar do câncer de pele, dizem, eu não sei se é verdade, é que acho que não pega, né, não é contagioso, né, acho que o único câncer que não é contagioso é o câncer de pele, não é isso?! Até aquele rapaz que teve aqui o pai dele tem muita marca de câncer de pele, e ele mesmo evitava encostar nas pessoas, ele metia a unha, descascava, sangrava e ele mesmo evitava encostar pra não contagiar [referente a um pescador cujo pai também pescador teve câncer de pele em diversos locais do corpo e hoje encontra-se afastado da pesca fazendo tratamento]. P10:“Acho que é lepra, né?!”. 48 Mitos evidenciados pela crença de que o câncer pode ser contagioso ou, até mesmo a associação do câncer de pele à lepra, foram percebidos nas falas dos pescadores citados acima quando questionados sobre o que eles sabiam a respeito do câncer de pele. No entanto, sabese que em sua definição fisiopatológica, o câncer se constitui como um grupo de doenças caracterizadas pela perda do controle da divisão celular e pela capacidade de invadir outras estruturas orgânicas, podendo ser causado por fatores externos, como substâncias químicas, irradiação e vírus, e internos, como hormônios, condições imunológicas e mutações genéticas. Mesmo os cânceres causados por vírus não são contagiosos, ou seja, não passam de uma pessoa para a outra. (BRASIL, INCA, 2004) Sobre isso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reafirma que o câncer de pele não é uma doença contagiosa, e por isso não é transmissível pelo contato com alguém que tem ou já teve, nem como utilizando utensílios pessoais. Porém, é válido ressaltar que alguns vírus oncogênicos, isto é, capazes de produzir câncer, podem ser transmitidos através do contato sexual, de transfusões de sangue ou de seringas contaminadas utilizadas para injetar drogas. Como exemplos de vírus carcinogênicos têm-se o vírus da hepatite B, que pode causar o câncer de fígado e o vírus HTLV - I (Human T-lymphotropic virus type I), que pode ocasionar a leucemia e o linfoma de célula T do adulto. (INCA,2004) Além dos fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação dos carcinógenos ambientais, os fatores externos como hábitos de vida também podem influenciar no aumento do risco para o desenvolvimento do câncer de pele, sendo o principal risco a exposição solar, mais especificamente a radiação ultravioleta, que tem efeito cumulativo e penetra profundamente na pele, sendo capaz de provocar diversas alterações e mutações celulares, responsáveis por ocasionar o câncer de pele melanoma e não melanoma. Entre os participantes, o saber prévio sobre a relação da exposição solar com o câncer foi notório na maioria das falas. Ao serem questionados sobre a causa do câncer de pele, 60% perceberam a exposição à radiação solar como principal causa; porém, 6,6% fizeram alusão ao cigarro como agente causador e 13,3% pensaram haver relação entre produtos químicos e lâmpadas de mercúrio com o câncer de pele. Estes achados podem ser evidenciados nas falas a seguir: P5: “Ouvi falar, eu vejo muito falar é negócio de que cigarro é brabo, piora, e o sol quente que dá câncer de pele.” P6: “[...] quero tirar uma dúvida com você, se lâmpada de mercúrio dá câncer de pele, porque mancha a pele.” 49 P7: “A exposição ao raio ultravioleta, a exposição a esse raio solar que em certos momentos do dia ele causa, né, uma piora, que pode agrava e se torna um câncer.” P8:“Pegar muito sol, né... não proteger a pele, não passar o protetor solar. Procurar ficar na sombra, não ficar muito exposto com a cara no sol, igual tem muita gente que fica.” P10: “Sol, produtos químicos.” [Ao ser questionado sobre as causas do câncer de pele.] Sobre relação da causa do câncer de pele com o uso de cigarro, apontada por um dos pescadores, um estudo recente de caso controle realizado nos EUA apontou que mulheres fumantes por no mínimo 20 anos, apresentam uma taxa de risco três vezes mais elevada para desenvolver o câncer de pele não melanoma de origem de célula escamosa. Entre os homens fumantes, o achado foi diferente, visto que os participantes do sexo masculino que possuíam carcinoma de células basais eram mais propensos a ter fumado por ao menos 20 anos do que os pacientes sem a doença. (ROLLISON, IANNACONE, MESSINA, et al, 2012) Segundo os pesquisadores os resultados não surpreenderam, pois a fumaça do cigarro contém agentes carcinogênicos, e os fumantes jogam fumaça e cinzas sobre seus próprios rostos todos os dias. Composto por mais de 4 mil substâncias tóxicas identificadas, o cigarro está relacionado a mais de 50 doenças e é extremamente prejudicial à pele. As substâncias presentes em sua composição levam à perda do colágeno e da elastina, o que acelera o surgimento das rugas e provoca a flacidez do tecido cutâneo. (SBCD, 2012) Outro dado interessante relacionado às percepções acerca das causas do câncer de pele foi a dúvida levantada por um pescador a respeito das lâmpadas de mercúrio em uma possível relação com o câncer de pele. Esta questão tem sido estudada desde a década de 80, quando surgiu a hipótese de que as lâmpadas fluorescentes podem causar câncer devido a RUV emitida pela maioria das fontes de luz fluorescentes. Entretanto, diversos estudos não sustentaram essa hipótese, comprovando com evidências científicas que as emissões de RUV das lâmpadas fluorescentes são extremamente baixas devido a uma forte atenuação causada pela reação com o fósforo e pelo invólucro de vidro. Além disso, as lâmpadas fluorescentes utilizadas para a iluminação possuem um difusor e/ou controlador que causa uma reflexão ou absorção de qualquer radiação UV emitida. (NEMA, 1999) Lytle et al.(1993) avaliaram a emissão de R-UV por 58 tipos de lâmpadas fluorescentes e estimaram que a exposição às lâmpadas fluorescentes numa jornada de trabalho de 8h/dia equivaleria a um minuto de exposição ao sol ao meio-dia em Washington nos EUA (uma cidade localizada em latitudes mais altas onde os níveis de R- UV ao meio-dia 50 são bem inferiores aos medidos no Brasil). Esta comparação demonstra que a quantidade de RUV emitida por estas fontes de luz são insignificantes, porém, ainda assim, são emissoras de luz visível, o que a depender de outras doenças, que não especificamente o câncer de pele, pode ser considerado relevante. Outro ponto de vista destacado em um das falas faz alusão a uma causa do câncer de pele ainda pouco conhecida: a exposição a produtos químicos. Estudos demonstram que a exposição crônica ao Arsênio por ingestão de água potável está relacionada com aumento do risco para câncer de pele. Este risco está associado com ingestão de água potável contendo concentrações ≤ 50 µg de arsênio por litro. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o arsênio e compostos de arsênio inorgânico como cancerígenos para o ser humano. A exposição não ocupacional ao arsênio ocorre principalmente por ingestão de alimentos e água. A exposição ambiental por via inalatória é considerada mínima. O arsênio está presente em quantidades-traço em todos os alimentos e as concentrações mais elevadasgeralmente são encontradas em frutos do mar, carnes e grãos, com teores mais baixos emderivados do leite, vegetais e frutas. (FIT, 2014) Em última análise, a maioria dos participantes identificou manchas, coceira e feridas como principais sinais e sintomas do câncer de pele. Em sentido geral, notou-se que as percepções acerca do câncer de pele, evidenciadas nas falas destacadas nessa categoria, são marcadas por saberes prévios que se aproximam do saber científico no que tange as representações conceituais a respeito do câncer de pele, com suas causas e manifestações. Destaca-se a relação entre o uso de cigarro e a exposição a outros produtos químicos com o câncer de pele, relatada por alguns participantes. Sabe-se que apesar de estarem cientificamente comprovados, estes fatores pouco são mencionados como causa destas neoplasias no meio popular. O reconhecimento destes diferentes saberes vai de encontro a pedagogia de concepção construtivista que não acredita que o educando é um mero receptor de informações do educador nem uma tábula rasa que ao se deparar com algum conhecimento novo, seja considerado um completo ignorante do assunto. Pelo contrário, o educador que trabalha nessa pedagogia baseada na epistemologia construtivista, compreende que o público alvo da ação educativa traz consigo saberes que já foram construídos e não podem ser deixados de lado. O educandoutiliza toda essa vivência na construção de um novo conhecimento, tendo o educador como um facilitador neste processo. (DAHER, 2007) 51 4.3.2 O Câncer de Pele e as medidas de fotoproteção. O Brasil possui grande parte de seu território na faixa compreendida entre o Equador e o Trópico de Capricórnio. Com inclinação em 23 graus, a maior parte do território brasileiro recebe radiação solar em um ângulo próximo a 90 graus em relação ao horizonte durante o verão, o que coloca o Brasil como um dos países com maior insolação do mundo. Mediante a isto, em termos de saúde pública, de todos os efeitos que a radiação solar pode causar a saúde, a maior preocupação envolve o câncer de pele devido ao aumento da incidência dessa doença no país. A importância da radiação solar no desenvolvimento dessa neoplasia justifica a preocupação com a implementação de ações de fotoproteção. (SCHALKA & STEINER, 2013) Balogh (2011) entende fotoproteção como um elemento profilático e terapêutico frente aos efeitos danosos da radiação UV. As medidas fotoprotetoras compreendem o uso de protetor solar tópico; proteção através de coberturas, roupas e acessórios e ainda a fotoproteção ambiental, relacionada aos fatores ambientais que influenciam a intensidade da radiação UV que atinge a superfície terrestre. Como exemplo desta última medida, o autor destaca a fotoabsorção realizada pelo ozônio(O 3 ) na estratosfera, que atualmente se encontra com capacidade diminuída devido poluição ambiental por substâncias tóxicas capazes de danificar essa camada. Entre os participantes, a maioria referiu fazer uso de pelo menos uma medida de fotoproteção (66,6%). Dentre estes, 46,6% afirmaram fazer uso de protetor solar tópico, sendo que deste percentual, apenas 13,3% fazem aplicação diariamente. Outros 20% disseram usar roupas ou acessórios como forma de proteção dos raios solares e ainda 13,3% atribuíram o uso de hidratantes corporais a proteção contra o câncer de pele. Estes dados podem ser evidenciados nas falas a seguir que demonstram as respostas dos pescadores ao serem questionados sobre as formas de proteção utilizadas por eles contra o câncer de pele: P2:“Eu uso o protetor solar, mas é que às vezes aqui eu esqueço de usar. Chapéu eu uso porque faz parte do uniforme, tem que usar, né ... calça, blusa e chapéu.” P4: “Eu mesmo não uso, mas eu conheço muita gente que usa muito hidratante, usa muito protetor solar, mas eu mesmo não uso nada”. P7:“Eu uso chapéu de palha”. P8: “[...] Eu uso protetor solar, mas quando não tem e eu venho para o marisco, eu passo creme”. 52 P9:“De vez em quando, a gente bota um ‘protetorzinho’ solar em cima, mas é caro, né. Muitas vezes a gente coloca camisa, mas o calor é muito forte, aí a gente tem que tirar.”. P10:“Eu agora ‘tô’ evitando pegar muito sol no rosto, nos braços, porque eu vejo na televisão que é uma coisa muito feia o câncer de pele.”. A adoção de medidas de fotoproteção pelo uso de vestimentas e acessórios foi identificada na fala de alguns pescadores. As roupas, óculos e chapéus são recursos facilmente disponíveis e eficazes na defesa contra os efeitos nocivos da radiação UV. Entretanto, alguns tipos de tecido não são capazes de promover proteção suficiente. (BALOGH et al, 2011) Diversos fatores influenciam a capacidade fotoprotetora dos tecidos. Em geral, aqueles fabricados com fibras firmemente tecidas, mais rígidas e espessas, e também os mais escuros oferecem melhor proteção comparados aqueles fabricados com menor firmeza entre as fibras. Assim, a rigidez, a cor, a espessura e o peso dos tecidos influenciam a capacidade de fotoproteção dos mesmos. (RAMIREZ & SCHNEIDER, 2003) O Fator de Proteção Ultravioleta (FPU) avalia o grau de proteção das vestimentas. Esse fator é semelhante ao Fator de Proteção Solar (FPS) aplicado aos protetores solares. No entanto, supostamente, a diferença se dá na proteção tanto contra a radiação UVA quanto contra a radiação UVB conferida pelo FPU, o que ainda é uma característica inexistente no FPS, que apresenta apenas proteção UVB. (BALOGH et al, 2011) Este conceito já chegou ao mundo da moda com tendências propostas por especialistas em prevenção de câncer de pele que indicam peças do vestuário produzidas com fios têxteis de tramas mais apertadas para impedir a passagem dos raios solares. Os tecidos especiais preparados para oferecer maior proteção contra os efeitos nocivos do sol estão entre as iniciativas para prevenção apresentadas no 2º Congresso Internacional de Controle de Câncer (ICCC/2007), promovido pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Já existem malharias brasileiras que desenvolveram tecidos especiais para a prevenção do câncer de pele. Agentes comunitários de saúde de uma capital brasileira também começaram a usar camisetas confeccionadas com tecidos com fator de proteção ultravioleta (FPU). As roupas integram um conjunto de ações planejadas por oncologistas e outros profissionais visando a ampliar a cultura de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença. (INCA, 2007) Além das vestimentas, os demais acessórios também possuem fundamental importância na fotoproteção contra câncer de pele, como é o caso das luvas, bonés e chapéus. Estes últimos são úteis na proteção do couro cabeludo, orelha, cabelo, olhos, testa e pescoço, 53 além de promover sombra a rosto, protegendo as bochechas, nariz e queixo. A eficácia de um chapéu ou boné está relacionada ao tamanho da borda dos mesmos, bem como o material utilizado na sua confecção. Um chapéu com a borda larga apresenta um alcance de proteção superior, como normalmente, é dos chapéus de palha destacado em uma das falas, representando o acessório de fotoproteção utilizado por um dos pescadores. Entretanto, apesar de ser conhecida a importância da adoção dessas medidas como hábitos para fotoproteção, não se descarta a preocupação também com o uso correto e contínuo de fotoprotetores tópicos, visto que boa parte dos pescadores referiu fazer aplicações esporádicas, apenas quando lembram ou quando vão à praia. Além disso, outro dado observado demonstrou que, na percepção de alguns dos participantes, outros produtos como hidratantes corporais exercem a mesma função do protetor solar. Sobre este aspecto, diversas pesquisas comprovam que a principal maneira de proteger a pele da ação da RUV e de seus efeitos deletérios é por meio da utilização de substâncias químicas farmacologicamente preparadas, que absorvem, refletem e refratam a RUV, protegendo o tecido epidérmico e dérmico dos efeitos da radiação. O efeito fotoprotetor conferido por meio destes produtos é de importância fundamental para a prevenção do envelhecimento precoce e do câncer de pele. Os filtros solares podem ser químicos (absorvem os raios UV) ou físicos (refletem os raios UV). É comum a associação de filtros químicos e físicos para se obter um filtro solar de Fator de Proteção Solar (FPS) mais alto. (site: dermatologia.net) OFPS é uma medida de laboratório que indica a efetividade do filtro solar. Quanto mais alto o valor do FPS, maior a proteção que o filtro solar oferece contra raios UVB. Segundo Aguilera, Higueras, González et al (2011), o FPS indica a relação entre o tempo que a pessoa pode se expor à luz solar usando filtro solar antes de se queimar e o tempo que ela pode ficar exposta à luz solar sem se queimar sem utilizar nada. Isto é, se um indivíduo cujo tempo de exposição de sol para se queimar é de 20 minutos, usar um protetor solar com FPS 15, a proteção dele ao sol deverá ser de 15 vezes mais sem se queimar (um total de 300 minutos ou 5 horas). No entanto, esses dados devem ser vistos com cautela, pois inicialmente devem-se respeitar as instruções dadas pelo fabricante do produto e estar atento para os fatores que interferem nessa ação, como o tipo de pele do usuário, quantidade que é aplicada e a frequência de reaplicação, quantidade do produto que é absorvida pela pele, e dissipação do produto por água, areia e até mesmo suor. (AGUILERA, HIGUERAS, GONZÁLEZ ET AL, 2011) Barboza, Giacon, Trovó et al (2008) corroboram a ideia explicando também que um 54 filtro solar com FPS 15, por exemplo, bloqueia a maior parte dos raios UV e o aumento do FPS aumenta pouco o bloqueio destes raios. No entanto, o tempo em que o filtro solar continuará a absorver os raios UV será maior quanto maior for o FPS, diminuindo a frequência de aplicação. Quando questionados sobre qual Fator de Proteção Solar costumavam usar, notou-se que alguns não demonstravam respostas específicas ou se mostravam em dúvida, como pode ser observado nas falas a seguir: P14: “Acho que é o trinta”. [Ao ser questionado sobre o FPS do protetor solar que utilizava] P15: “Quarenta, trinta”. [Ao ser questionado sobre o FPS do protetor solar que utilizava] P17: “Eu uso filtro solar, mas FPS não sei”. P2: “Eu sei que é um amarelo, mas o número não vi não, eu sei que eu comprei, lá na farmácia.” Meyer, Silva e Carvalho (2012) defendem que a conscientização da população, principalmente dos trabalhadores ao ar livre é de fundamental importância para o uso correto do FPS, visto que a maior dificuldade de compreensão leva ao uso errôneo do produto, o que dificulta o aproveitamento das potencialidades dos seus efeitos. Proteção inadequada surge se o fator de fotoproteção é muito baixo quando comparada à duração ou intensidade da exposição solar e quando quantidade insuficiente ou nenhuma aplicação é feita antes da fotoexposição. (LUCENA, COSTA, SILVEIRA et al, 2012) Mediante a isto, o Consenso Brasileiro de Fotoproteção destacou a fotoeducação como uma importante medida na prevenção de riscos relacionados à exposição actínica ao sol. Assim, os autores definem a fotoeducação como: Conjunto de ações de caráter educativo desenvolvido para conscientizar determinado grupo populacional sobre os riscos da exposição inadvertida ao sol e orientar condutas saudáveis em fotoproteção (...) As ações em fotoeducação devem ser divididas em quatro grandes grupos: Crianças e Adolescentes, Adultos, Trabalhadores Externos e Ações em Mídia (...) Ações para os trabalhadores externos: a. Desenvolver projetos de educação em fotoproteção para apresentar em empresas que empregam trabalhadores cuja a atuação ocorra em ar livre; b. Desenvolver projetos para avaliar de forma mais adequada métodos capazes de mensurar o nível de exposição à radiação solar a que são submetidos os trabalhadores em função externa (...)(SCHALKA & STEINER, 2013, p.9) 55 Mediante ao exposto nesta seção, conclui-se que não existe medida fotoprotetora que, isoladamente, garanta uma fotoproteção adequada, por isso recomenda-se a combinação do maior número possível de medidas como a estratégia mais correta. Além disso, a não exposição ao sol no período entre 10 e 15h e a utilização de sombras como coberturas de árvores, guardasol e tendas se configuram medidas viáveis e de baixo custo que devem ser estimuladas. O uso correto do protetor solar é estratégia essencial na luta contra o câncer de pele. A seleção adequada do produto e as orientações devem ser realizadas por profissionais de saúde sempre que possível. 56 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo atingiu os objetivos propostos uma vez que a análise dos indicadores sociodemográficos e de saúde permitiu o conhecimento das características dos sujeitos que participaram da pesquisa e ampliou a visibilidade da população em foco, trazendo destaque para a discussão do impacto destes indicadores sobre o aparecimento de neoplasias cutâneas. O perfil dos participantes demonstrou que a população em estudo se constitui como um grupo de risco por apresentar condicionantes socioeconômicos, clínicos e laborais que os tornam mais vulneráveis ao desenvolvimento de neoplasias cutâneas. Através das categorias elencadas e estudadas, pode-se compreender o universo de significações e representações acerca do câncer de pele, bem como os motivos que determinam as limitações no uso de medidas fotoprotetoras. Evidenciou-se que a maior parte dos pescadores identificou a exposição à radiação solar como principal causa do câncer de pele e também destacaram em suas observações outras causas pouco divulgadas entre a população, mas comprovadas em meio científico. Dentre as principais dificuldades encontradas pelos pescadores no uso de medidas fotoprotetoras, destaca-se o alto custo dos filtros solares no mercado, a falta de tempo, o esquecimento e o desconhecimento sobre a importância do uso na prevenção do câncer de pele. Já a análise da realização dos círculos de cultura demonstrou que os temas emergentes, foram desenvolvidos baseados nos saberes dos próprios participantes e contribuíram na desconstrução de mitos a respeito do câncer de pele, a partir de dinâmicas que incentivavam o pensamento crítico-reflexivo através da participação coletiva, sem imposições ou invasão cultural por parte do pesquisador. Frente ao problema do estudo, a pesquisa buscou soluções na ampliação dos caminhos para a construção de conhecimentos, incentivando o pensamento crítico-reflexivo sobre prevenção de neoplasias cutâneas com um grupo de pescadoresda Colônia de Jurujuba, por meio do desenvolvimento dos Círculos de Cultura. Dessa forma, ficou comprovada a importância da implementação de medidas educativas e participativas, que interagem com saberes destes profissionais acerca dos fatores de risco associados ao meio de trabalho, os tipos de neoplasias de pele, suas formas de apresentação e os cuidados relacionados à prevenção da doença, resultando na melhoria da qualidade de vida dessa população. Entretanto, as dificuldades também permearam o processo de construção deste estudo e dentre elas, se destaca a quantidade reduzida de pescadores que participaram das atividades 57 educativas devido à falta de tempo justificada pela necessidade em cumprir a carga horária do serviço. Entretanto, os pescadores que se disponibilizaram a participar contribuíram muito com suas considerações durante as entrevistas e com a troca de conhecimentos nos círculos de cultura. Também se ressalta entre as limitações encontradas, a escassez de publicações sobre o câncer de pele não melanoma, focado na prevenção e no risco ocupacional de profissões exercidas ao ar livre, assim como a ausência de produções dentro dos critérios de inclusão, ao realizar a busca com a palavra chave pescador associado com o descritor neoplasias cutâneas. Assim, salienta-se que a realização do presente trabalho também acrescentou a pesquisadora enorme aprendizado, à medida que proporcionou momentos gratificantes e enriquecedores na troca de vivências com esse grupo de pescadores, que em todo momento esteve aberto às intervenções do estudo, referindo sentimento de valorização e reconhecimento por serem escolhidos, visto que, segundo eles, são esquecidos pelos órgãos públicos, que não costumam oferecer ações de saúde que beneficiem a comunidade. Acredita-se que o assunto abordado como tema do estudo pode gerar grande impacto no incentivo a atuação de enfermeiros e demais profissionais de saúde em cenários como a Colônia de Pescadores de Jurujba, Niterói, que ainda épouco visada pela gestão pública e de saúde local.Os fatores que interferem no processo saúde-doença envolvidos no cotidiano dos indivíduos que habitam esses cenários devem ser explorados por meio da Educação Popular em Saúde. Diversas Tecnologias Educacionais podem ser utilizadas na EPScom esses sujeitos com o objetivo de prevenir agravos. Entretanto, são necessários mais investimentos em estudos, aprimoramento por parte dos profissionais de saúde sobre o assunto em suas particularidades e especificidades locais e políticas públicas que favoreçam a aproximação da gestão com a comunidade e permitam a participação popular nas medidas educativas e assistenciais em saúde. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABC.MED.BR, 2013. Intoxicação por mercúrio: causas, sinais e sintomas, diagnóstico, tratamento, prevenção. [site] Disponível em: <http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-edoencas/351414/intoxicacao-por-mercurio-causas-sinais-e-sintomas-diagnostico-tratamentoprevencao.htm>. Acesso em: 21 nov. 2014 AGENDA 21 NITERÓI. Cultura Local. Disponível em: http://agenda21niteroi.com.br/agenda-21-local/cultura/>. Acesso em: 06 nov. 2013 < AGUILERA, A.J.C.; HIGUERAS, J.H.; GONZÁLEZ, C.M.R. et al. 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Editora Difusão, 2011 VASCONCELLOS, M.; DIEGUES, A.C.; SALES, R.R. Relatório Integrado: Diagnóstico da pesca artesanal no Brasil como subsídio para o fortalecimento institucional da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca. Versão preliminar. Brasília, 2009. Disponível em:<http://200.198.202.145/seap/conape/planeja> mento/Pesca%20Artesanal%20no%20Brasil%20%E2%80%93%20PNUD%2005.pdf. Acesso em: 16 jun. 2008. VASCONCELOS, EYMARD MOURÃO. CRUZ, PEDRO J. SANTOS CARNEIRO. Educação Popular na formação Universitária: reflexões com base em experiências. HUCITEC Editora Universitária UFPB. São Paulo-João Pessoa, 2013. 63 APÊNDICE A- Questionário Sócio clínico e Demográfico 1. Identificação Data: ____/____/______ Nome:______________________________________________________________________ __________ Naturalidade:____________________ Data de Nasc.: ___/__/___ Idade: ________ Sexo: ( )M ( )F Raça: ( ) Branco ( ) Negro ( ) Pardo ( ) Índio Estado civil:_________________ Nível de escolaridade (anos de estudos):______________ Renda familiar (SM):__________ ( ) diária ( ) semanal ( ) mensal. Nº de dependentes:____________ Nº de filhos:____________ Tipo de residência: ( ) própria ( ) alugada Religião:______________ 2. Trabalho Trabalho: __________Tempo de profissão________ Com quem aprendeu a profissão? ____________________________________ Já trabalhou em outra área: Sim ( ) Não ( ), Qual: ______________________ Realiza outra atividade para complementação de renda? ( ) Sim ( ) Não. Qual?_______________________________________________________________ Duração da jornada de trabalho (horas/dia):_______ Qual o principal tipo de pescado? ( ) peixe ( ) camarão. Espécies: ________________ Ponto de venda: ( ) atravessador ( ) comércio ( ) domicílio ( ) feiras livres ( ) mercado ( ) praia ( ) rua ( ) variável Tempo de exposição ao sol diariamente: _____________horas. Tempo de exposição ao sol semanalmente: _____________dias. Uso de protetor solar durante o trabalho: Sim ( ) Não ( ). Por quê? ( ) não vê importância ( ) alto preço Outro:_______________________________________________________________ 64 Se sim, com que frequência utiliza? _______________________________________ Acredita que a sua profissão é perigosa? ( ) Sim ( )Não. Por quê?_______________________________________________________________ Já esteve desempregado? ( ) Sim ( ) Não. Quanto tempo? ________________ É feliz na profissão? ( ) Sim ( ) Não . Por quê?________________________________ Deseja que os filhos sigam a mesma profissão?( ) Sim ( ) Não . Por quê?_______________________________________________________________ Tem planos para o futuro?( ) Sim ( ) Não. Por quê? ____________________________ Como é a relação com os órgãos de fiscalização? ( ) Bom ( )indiferente ( )Não há ( ) Regular Quais as medidas a serem tomadas pelos órgãos públicos e pelos próprios pescadores para melhorar a situação? _______________________________________________ 3. Saúde Qual o histórico de doenças na família? ( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) AVC ( ) Obesidade ( ) Tuberculose ( ) Infarto. ( ) câncer de pele Outros:____________________________ Grau de parentesco:_________________________________________________ Doenças anteriores ( ) não ( ) sim Qual?__________________________________________________________________ Já foi Internado? ( ) não ( ) sim. Especifique (motivo e o período)_____________ Doença/Queixa atual: ( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Cardiopatias ( ) AVC ( ) Câncer ( ) Obesidade ( ) Problemas respiratórios ( ) Problemas Digestivos ( ) Problemas de pele ( ) Nefropatia ( ) Outras Quais?_______________________________________________________ Faz tratamento? ( ) Sim ( ) Não. Sobre a doença: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe ( ) Conceito errôneo Sobre o tratamento: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe Especifique:___________________________________________________ Sobre as complicações: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe Especifique: _________________________________________ Gostaria de saber mais a respeito: ( ) Não ( ) Sim 65 Já teve câncer de pele: Sim ( ) Não ( ). Em qual (is) parte(s) do corpo?_________________________________________________________________ Qual profissional da saúde você procurou?______________________________ Já teve alguma pinta ou mancha que achou estranha, que coçava, sangrava ou tenha mudado de tamanho ou cor? Sim ( ) Não ( ). Em qual (is) parte(s) do corpo? ____________________________. O que você fez? __________________________ Aplicação da Escala de Fitzpatrick e Fitzpatrick Modificada (Circular item e realizar somatório): Tabela 1: Classificação dos fototipos de pele proposta por Fitzpatrick. Fototipo de pele: _____________________________ 66 Tabela 2: Classificação Fitzpatrick Modificada proposta por Suzuki et al, 2011. Fototipo – Somatório dos pontos: _____________________________ Sono e Repouso: _____h/noite Problemas para dormir? ( ) Nenhum ( ) acordar cedo ( ) insônia ( ) dificuldade para pegar no sono ( ) outros Sente-se descansado após o sono: ( ) sim ( ) não Pratica alguma atividade física: ( ) Não ( ) Sim Especifique:______________________ ( ) diariamente ( ) 2 vezes por semana ( ) 3 vezes por semana ( ) outros: _________ Atividade de lazer ( ) Não ( ) Sim Especifique: _____________________________ Utiliza protetor solar quando a atividade de lazer envolve exposição ao sol? Não ( ) Sim ( ). Por quê? ______________________________________________________ Tabagismo: ( ) Não ( ) Sim ( ) Já tentou parar? ( ) Não ( ) Sim. Quantidade de cigarros por dia: ________________________________________________________ Etilismo ( ) Não ( ) Sim ( ) Qual a freqüência? __________Outras drogas ( ) não ( ) sim Tipo: _______________________________ Frequência de consulta a um profissional da saúde: ____________________________ Peso:__________Kg, Altura:__________cm IMC: _______ PA:______x______ mmHg OBS:_______________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Assinatura: _______________________________________ 67 APÊNDICE B- Roteiro de Observação Data: ____/____/______ Início: _____________ Término: _____________ 1. O ambiente de trabalho. - Local de trabalho (Praia, mar, etc.): - Estrutura dos barcos: - Estrutura da associação de pescadores: 2. Tempo de trabalho e exposição solar. - Horas trabalhadas diárias: - Horas trabalhadas com exposição solar: 3. Medidas de fotoproteção. - Uso de protetor solar (FPS, frequência de aplicação): - Uso de óculos escuros, chapéus, roupas compridas: 4. Integridade da Pele. - Presença de feridas na pele: - Presença de manchas envelhecimento actínico: - Presença de pintas ou manchas que causem coceira, dor ou sangramento: Impressões do pesquisador: 68 APÊNDICE C- Roteiro 1ª Entrevista Data: ____/____/______ Início: _____________ Término: _____________ Nome: ________________________________________________________________ Idade: _______ Sexo: F ( ) M ( ) Grau de Escolaridade: _____________________ 1. Fale sobre o que você sabe sobre câncer de pele. 2. Você sabe que existem diferentes tipos de câncer de pele? Você sabe quais são eles? 3. Você sabe o que causa câncer de pele? 4. Você sabe quais são as manifestações do câncer de pele no corpo (Sinais e Sintomas)? 5. Você sabe como prevenir o câncer de pele? 6. Você usa alguma coisa para proteger a sua pele do câncer de pele? 7. Você utiliza protetor solar? Se sim, de qual fator (FPS)? 8. Com que frequência você utiliza o protetor solar? 9. Quando utiliza o protetor solar costuma reaplicar o produto com que frequência? 10. Você já teve alguma informação sobre o câncer de pele? Por qual meio? 11. Qual sua opinião sobre a importância de saber o que é câncer pele e o que causa? 12. Você acredita que a sua profissão te coloca em risco para ter câncer de pele? Por quê? 13. De que forma você gostaria de saber mais sobre o câncer de pele? 14. Você já teve câncer de pele? 15. Você já observou alguma pinta ou mancha suspeita na pele, que causasse coceira, dor ou sangramento? Impressões do pesquisador: 69 APÊNDICE D- Roteiro 2ª Entrevista Data: ____/____/______ Início: _____________ Término: _____________ Nome: ________________________________________________________________ Idade: _______ Sexo: F ( ) M ( ) Grau de Escolaridade: _____________________ 1. Fale sobre o que você sabe sobre câncer de pele. 2. Você sabe que existem diferentes tipos de câncer de pele? Você sabe quais são eles? 3. Você sabe o que causa câncer de pele? 4. Você sabe quais são as manifestações do câncer de pele no corpo (Sinais e Sintomas)? 5. Você sabe como prevenir o câncer de pele? 6. Antes dos círculos de cultura você utilizava alguma coisa para proteger a sua pele do câncer de pele? 7. Após os círculos de cultura, o que você acredita ser ideal para proteger a sua pele do câncer de pele? 8. Você utilizava protetor solar? Se sim, de qual fator (FPS)? 9. Se não utilizava, considera utilizar agora? 10. Com que frequência você acredita que se deva utiliza o protetor solar? 11. Em que momentos você acha que deve se reaplicar o protetor solar? Com que frequência? 12. Qual sua opinião sobre os círculos de cultura? Eles de alguma forma te ajudaram a aumentar o conhecimento sobre o câncer de pele? 13. Você considera importante saber o que é câncer pele e o que causa? 14. Você acredita que a sua profissão te coloca em risco para ter câncer de pele? Por quê? 15. De que qual outra forma você gostaria de saber mais sobre o câncer de pele ou outros assuntos relacionados à sua saúde? Impressões do pesquisador: 70 APÊNDICE E- Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) Dados de identificação Título do projeto - RISCO E PREVENÇÃO DE NEOPLASIAS CUTÂNEAS NÃO MELANOMA: educação popular com pescadores Pesquisador responsável: Profª Drª Vera Maria Sabóia Instituição a que pertence o pesquisador responsável: Universidade Federal Fluminense Telefones para contato: (21) 99976-4275 / 97530-4603 Nome do voluntário:_____________________________________________________ Idade:_____anos RG:____________________________ O Sr. (a) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa: “EDUCAÇÃO POPULAR COM PESCADORES SOBRE RISCO E PREVENÇÃO DE NEOPLASIAS CUTÂNEAS NÃO MELANOMA”, de responsabilidade do pesquisador Profª Drª Vera Maria Sabóia. O objetivo da pesquisa é: 1) Descrever o conhecimento dos pescadores, da colônia de Jurujuba, Niterói/ RJ, a respeito do câncer de pele - manifestações e medidas de prevenção antes e após a realização da prática da educação popular em saúde; 2) Discutir de que forma a educação popular pode auxiliar na construção do conhecimento sobre riscos e a prevenção do câncer de pele não melanoma. A pesquisa justifica-se devido ao grande número de pescadores que se expõem à radiação solar diariamente e que poderão vir a desenvolver cânceres de pele, sem ter sequer o acesso à informação sobre tais riscos. Serão realizados: aplicação um questionário sócio clínico e demográfico para identificar a população e a comunidade; uma entrevista para saber sobre o conhecimento dos pescadores sobre câncer de pele; encontros com finalidade educativa para promover o aumento do conhecimento sobre câncer de pele; e outra entrevista ao final para avaliar o conhecimento construído sobre o câncer de pele. Caso necessite, poderão ser marcados encontros para respostas ou esclarecimentos de qualquer dúvida acerca da pesquisa. Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em trabalhos e/ou revistas científicas. A retirada do consentimento e permissão de realização do estudo pode ser feita a qualquer momento, sem que isso traga prejuízos. Será mantido o caráter confidencial de todas as informações relacionadas á privacidade do participante da pesquisa. 71 Este documento será elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo representante legal do sujeito da pesquisa e uma arquivada pelo pesquisador. Eu,______________________________________________, RG nº_______________, Declaro ter sido informado e concordo com minha participação, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito. Niterói,____ de _____________ de _________. ______________________________ (entrevistado) ___________________________________ (testemunha) _____________________________________ (responsável por obter o consentimento) ________________________________ (testemunha) 72 APÊNDICE F- Cronograma e Roteiro das atividades. CRONOGRAMA EVENTO PESCANDO SAÚDE DIAS: 07/08 (5ª FEIRA) / 11/08 (2ª FEIRA) / 14/08 (5ª FEIRA) / 15/08 (6ª FEIRA) ATIVIDADES 8h – Aferição da PA 9h – Dinâmica Mitos X Verdades 9:30h – O que é câncer de pele?/ Sinais e Sintomas do câncer de Pele (Demonstração de fotos e imagens) 10h – Causas do câncer de pele: Raios UV 10:30h – Fatores de risco para o câncer de pele 11:00 - Como prevenir o câncer de pele 11:30 – Entrevistas DINÂMICA MITOS X VERDADES Nesta dinâmica haverá em um painel fotos de 11 peixes diferentes, comuns do pescado dos participantes, com 11 afirmações no verso para eles discutirem se trata-se de mito ou verdade. 1. O câncer de pele é o único câncer que não é contagioso. MITO: O câncer de pele, assim como os outros cânceres, não é uma doença contagiosa, e por isso não é transmissível pelo contato com alguém que tem ou já teve, nem como utilizando utensílios pessoais. No geral o câncer não é hereditário (passa de pai pra filho), no entanto, alguns fatores genéticos tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação dos carcinógenos ambientais (coisas que causam câncer), o que explica por que algumas delas desenvolvem câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno. 2. O cigarro aumenta o risco de ter câncer de pele. VERDADE: Um estudo recente realizado nos EUA apontou que mulheres fumantes por no mínimo 20 anos, apresentam uma taxa de risco 3 vezes mais elevada para desenvolver o 73 câncer de pele. A fumaça do cigarro contém agentes carcinogênicos, e os fumantes jogam fumaça e cinzas sobre seus próprios rostos todos os dias. Composto por mais de 4 mil substâncias tóxicas identificadas, o cigarro está relacionado a mais de 50 doenças e é extremamente prejudicial à pele. 3. O câncer de pele pode se espalhar para outros órgãos, como pulmões e cérebro. VERDADE: Alguns cânceres de pele possuem capacidade de atingir outros órgãos (metástase) e criar novas massas tumorais nos pulmões, cérebro, e outros órgãos. O risco de isso acontecer aumenta conforme o tamanho do câncer e quanto mais demorar a ser diagnosticado e tratado. 4. Câncer de pele é a mesma coisa que lepra. MITO: A “Lepra” como era conhecida antigamente é a Hanseníase e nada tem a ver com o câncer de pele, pois trata-se de uma doença infecciosa causada por uma bactéria que afeta os nervos e a pele, provocando danos severos, e é transmitida pela saliva da pessoas doente. 5. Os raios do sol são a principal causa do câncer de pele. VERDADE: A radiação solar contém uma quantidade significativa de radiação ultravioleta. Essa radiação é responsável por causar o bronzeamento, o envelhecimento e o as alterações nas células que podem originar um câncer de pele. 6. A água do mar ou da piscina protege a pele dos riscos do câncer de pele se a pessoas estiver embaixo d’água. MITO: Pois, cerca de 95% da radiação UV penetra na água e até 50% vai até uma profundidade de 3 metros. 7. Dias nublados não apresentam risco para o câncer de pele, pois não há raios solares. MITO: A radiação UV é geralmente maior em céus totalmente limpos, pois as nuvens geralmente reduzem a quantidade de radiação UV, mas isso depende da espessura e da dispersão das nuvens. Em certas condições, e durante curtos períodos de tempo, uma pequena quantidade de nuvens pode até mesmo aumentar a quantidade de radiação UV (acontece normalmente no céu parcialmente coberto com o sol visível). 8. A maior intensidade dos raios solares se dá entre 10 e 16h, piorando no verão. 74 VERDADE: Os raios solares são mais fortes entre esse horário, porém as maiores intensidades de radiação UV ocorrem quando o sol atinge o seu máximo, horário em torno de meio-dia durante os meses de verão. 9. Pescadores apresentam mais risco para ter câncer de pele do que outras pessoas. VERDADE: Profissionais que trabalham em atividades ao ar livre, como pescadores, possuem aproximadamente 20 vezes mais chance para desenvolver doenças na pele, em relação às pessoas que evitam a exposição prolongada ao sol. Queimaduras solares frequentes durante a vida favorecem o aparecimento de câncer de pele, pois o sol em excesso causa alterações no DNA das células. 10. Pintas e sinais na pele podem virar câncer. VERDADE: Se elas já existem e mudam de cor, forma e tamanho podem ser sinal de câncer. Caso seja uma pinta ou sinal que acabou de aparecer no corpo e não cicatriza, ou uma mancha que coça, arde, sangra ou descama também pode ser câncer de pele. 11. Câncer de pele tem cura. VERDADE: Diante de um diagnóstico precoce, a cura é de 100%. Ao ter a confirmação de que a lesão na pele é cancerígena, ela é removida, através de uma cirurgia simples e inicia-se o tratamento. Daí, a importância de fazer o autoexame da pele procurando manchas e pintas diferentes. 75 ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP 76 77 78