Terapia Inalatória com Óxido Nítrico na

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Gasparotto M, Nascimento LC, Leite AM, Scochi CGS, Rossanez LSS
Atualidades
TERAPIA INALATÓRIA COM ÓXÍDO
NÍTRICO NA HIPERTENSÃO PULMONAR
PERSISTENTE DO NEONATO: CUIDADO
DE ENFERMAGEM
NITRIC OXIDE INHALATION THERAPY IN PERSISTENT
PULMONARY HYPERTENSION AMONG NEWBORNS:
NURSING CARE
Mariléia Gasparotto*
Lucila Castanheira Nascimento**
Adriana Moraes Leite**
Carmen Gracinda Silvan Scochi**
Léa Silvia Sian Rossanez*
RESUMO: Este estudo trata de revisão bibliográfica sobre a utilização do óxido nítrico inalatório em
neonatos acometidos de hipertensão pulmonar persistente. Objetiva enfocar os temas relacionados à
sua administração e aos cuidados de enfermagem. Realizou-se a coleta de dados empíricos a partir das
bases de dados MEDLINE, LILACS, BDENF, Biblioteca COCHRANE e vias não sistemáticas, no período de
1996 a 2003. As palavras-chave utilizadas foram: óxido nítrico, hipertensão pulmonar persistente, terapia intensiva neonatal, neonato, enfermagem neonatal e cuidados de enfermagem. Foram identificadas
190 publicações, 30 das quais se enquadravam nos objetivos da pesquisa. O estudo permitiu a organização do conhecimento produzido, possibilitando a apresentação dos dados em temas relacionados
aos equipamentos de administração do óxido nítrico e às condutas ligadas à própria terapêutica, fornecendo subsídios teóricos para a sistematização da assistência de enfermagem, com vistas à eficácia da
terapêutica.
Palavras-chave: Cuidado de enfermagem; enfermagem neonatal; hipertensão pulmonar persistente;
óxido nítrico.
ABSTRACT
ABSTRACT:: This study presents a bibliographic review about the use of Nitric Oxide inhalation among
newborns suffering from persistent pulmonary hypertension, focusing on themes related to the
administration mode and the nursing care. Empirical data have been collected in the MEDLINE, LILACS,
BDENF and COCHRANE Library databases, as well as by non-systematic means, covering the period
from 1996 to 2003. Keywords used were: nitric oxide, persistent pulmonary hypertension, intensive
neonatal therapy, neonate, neonatal nursing and nursing care. 190 publications were identified, out of
which 30 fitted into the research aims. The study enabled us to organize the existing knowledge, allowing
for the presentation of data grouped in themes related to the nitric oxide administration equipment and to
behaviors related to the therapy itself, offering subsides for the systematization of nursing care, having in
mind the efficacy of the therapy.
Keywords: Nursing care; neonatal nursing; persistent pulmonary hypertension; nitric oxide.
INTRODUÇÃO
Na atualidade, é notável a crescente utili-
zação do óxido nítrico (NO) em Centros de Terapia Intensiva Neonatal como terapia para redução da pressão arterial pulmonar e melhora das
trocas gasosas em neonatos acometidos de hipertensão pulmonar persistente. Torna-se, portanto,
evidente a necessidade de conhecimento a respeito de tal terapêutica para que, com subsídios
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Terapia inalatória com óxido nítrico
teóricos, possamos abrir espaços para reflexões e
discussões interdisciplinares, despertar o interesse de novos pesquisadores e propiciar parcerias
para intervenções de enfermagem visando a uma
assistência sistematizada e qualificada que reflita na eficácia do tratamento.
Os objetivos deste estudo são: analisar a literatura nacional e internacional, quanto ao uso
do óxido nítrico inalatório em neonatos com hipertensão pulmonar persistente, e fornecer subsídios para a sistematização da assistência de enfermagem a neonatos com hipertensão pulmonar
persistente, submetidos à terapia inalatória com
óxido nítrico.
Tratando-se de uma temática pouco explorada no âmbito da enfermagem, optamos por apresentar uma caracterização prévia do óxido nítrico
e da hipertensão pulmonar persistente.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
ÓXIDO NÍTRICO
DO
O óxido nítrico (NO) foi descrito pela pri-
meira vez, em 1980, por Furchgott e Zawadski,
e, em 1987, Palmer, Ferrige e Moncada o identificaram como o fator relaxante derivado do
endotélio (EDRF), uma substância que atua na
parede dos vasos sangüíneos causando dilatação.
Desde então, estudos recentes têm identificado
o NO como mediador de reações resultantes em
expressiva atividade biológica em tecidos como
o endotélio, macrófago, neurônio, plaquetas, fígado e pâncreas1.
Produzido pelas células endoteliais dos vasos sangüíneos, o NO logo se difunde para o músculo adjacente, sendo capaz de dilatar a circulação pulmonar e sistêmica. No entanto, quando é
administrado por via inalatória, ele difunde-se
das vias aéreas para dentro das paredes dos vasos
pulmonares, causando apenas a dilatação dos
mesmos. Então, rapidamente se liga à hemoglobina
no lúmem do vaso e é inativado, deixando a circulação pulmonar ligada à hemoglobina2.
As funções do NO são complexas e antagônicas. Um aspecto marcante desta molécula é a
sua capacidade de ser benéfica ou potencialmente tóxica conforme a concentração ou depuração
tecidual. Pelas suas características químicas de
alta difusibilidade, o organismo utiliza o NO em
funções fisiológicas em que é necessária uma resposta rápida3.
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O NO faz parte do arsenal de primeira defesa do organismo com poder microbicida. Assim,
está demonstrada sua ação antibactericida,
antiparasítica e antiviral. No sistema
cardiovascular, atua antagonizando as contrações
da musculatura lisa vascular e inibe a ativação
plaquetária; agindo nas integrinas, modifica a
adesividade leucocitária e a diapedese. No sistema bronco-pulmonar, mantém o calibre brônquico
e regula a freqüência dos movimentos ciliares e,
na circulação pulmonar, equilibra a relação ventilação-perfusão. Sintetizado fisiologicamente, no
sistema renal, o NO exerce funções de homeostase
no fluxo sanguíneo e excreção renal. Já no sistema nervoso, além de ser considerado um
neurotransmissor, atua como um potente
vasodilatador, mantendo o fluxo cerebral basal3.
Há muito as propriedades vasodilatadoras do
NO vêm tendo aplicação terapêutica. A meia
vida curta deste gás enseja sua inalação, com a
finalidade de induzir vasodilatação restrita à circulação pulmonar1,4-6. Sua toxicidade é bastante
discutida, sendo que o NO é tóxico quando inalado, mesmo por curtos períodos, em concentrações acima de 1000 ppm. Entretanto, do NO derivam produtos dotados de toxicidade mais expressiva. Quando o NO é exposto ao oxigênio (O2),
leva à formação de NO2 (dióxido de nitrogênio),
podendo este causar dano pulmonar oxidativo,
resultando na geração de radicais livres que podem oxidar aminoácidos e iniciar peroxidação
lipídica na membrana celular.
A lesão pulmonar oxidativa é caracterizada
por aumento da água extravascular pulmonar,
extravasamento de eritrócitos, hiperplasia de
pneumócitos do tipo II e acúmulo alveolar de
fibrina, células polimorfonucleares e macrófagos.
O NO2 pode também comprometer a eficiência
das defesas pulmonares. A taxa de produção de
NO2 depende das doses do óxido nítrico inalado
(NOi) e da fração inspirada de oxigênio (FiO2)
utilizadas e duração do tratamento com o gás,
sendo a quantidade de NO2 formada igual a 1,1%
da dose do NO inalada7. Para Amaral1, o NO2
produz alterações histológicas nos pulmões em
concentrações acima de 25ppm. Além disso, na
presença de vapor d’água, o NO e NO2 podem
formar ácido nitroso e nítrico, compostos
notadamente mais agressivos. Assim, é fundamental monitorar os níveis de NO e NO28.
Somando-se às características anteriores, o
NO tem alta afinidade pelo ferro da hemoglobina,
Gasparotto M, Nascimento LC, Leite AM, Scochi CGS, Rossanez LSS
com a qual ele reage formando a metahemoglobina
(MetHb), que em grau significante (>3%) é suficiente para causar comprometimento da capacidade de transporte de oxigênio aos tecidos. Esse
efeito é referido apenas nos casos de superdosagem,
portanto, a redução ou eventual interrupção da
exposição ao NO é a primeira alternativa frente a
níveis intoleráveis de MetHb2,4,9. Outro efeito indesejável do NO se dá na função plaquetária, inibindo a agregação e adesão das plaquetas, sugerindo maior risco de sangramentos10.
A inalação de NO vem sendo indicada em
situações de perigo iminente de vida, como alternativa para evitar procedimentos complexos e de
alto risco1. Em neonatologia, tais situações surgem com a hipertensão pulmonar persistente do
recém-nascido e outras formas de hipertensão
pulmonar e hipoxemia grave.
HIPERTENSÃO PULMONAR
PERSISTENTE
A
hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido ocorre em cerca de 0,1 a 0,2% de
todos os nascidos vivos, incidindo em aproximadamente 1 a 2% de todas as admissões de recémnascidos em UTI11. É uma das principais causas
de morbi-mortalidade no período neonatal, caracterizada por aumento da pressão na artéria pulmonar a níveis supra-sistêmicos levando a shunt
direito esquerdo pelo canal arterial e forame oval,
resultando em hipoxemia grave12.
Durante a vida fetal, a resistência vascular
pulmonar está aumentada, fazendo com que a circulação pulmonar receba apenas 5 a 10% do débito cardíaco e, assim, a maior parte do sangue oxigenado do ventrículo direito vai para a aorta através do canal arterial. Com o progredir da gestação,
a pressão da artéria pulmonar e o fluxo sangüíneo
elevam-se progressivamente. O aumento do tônus
vascular pulmonar ocorre principalmente no final
da gestação e parece ser modulado por baixa tensão de oxigênio, baixa produção basal de substâncias vasodilatadoras (prostaciclina, óxido nítrico),
aumento da produção de vasoconstritores, como
endotelina-1 e leucotrienos e alterada reação das
células da musculatura lisa (tônus miogênico)2.
Após o nascimento, vários fatores interagem
regulando a remodelação fisiológica da circulação pulmonar para permitir uma queda significativa na resistência vascular pulmonar e
perfusão adequada dos pulmões. Tais fatores são:
expansão pulmonar logo após a primeira respiração; absorção do líquido pulmonar fetal e substâncias vasoativas (adenosina, bradicinina, óxido nítrico, catecolaminas, acetilcolina,
histamina, angiotensina, serotonina e as
prostaglandinas)11. Quando alguns desses fatores não se acoplam de maneira adequada, a transição da vida fetal para a pós-natal não ocorre
de maneira harmônica e o padrão de circulação
fetal pode permanecer após o nascimento, resultando na síndrome clínica de hipertensão pulmonar persistente neonatal (HPPN)13.
Os recém-nascidos com hipertensão pulmonar persistente, geralmente, são adequados para
a idade gestacional e próximos do termo. A história perinatal freqüentemente inclui fatores associados à asfixia14. A característica clínica mais
importante consiste em grandes variações na pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2) e na saturação de O2, sem mudanças na ventilação. Os
sintomas clínicos incluem taquipnéia, desconforto respiratório e muitas vezes cianose, rapidamente progressiva, principalmente após manipulação
do recém-nascido15.
A abordagem da hipertensão pulmonar persistente permanece como de suporte e não curativa. É importante, sempre que possível, corrigir a
causa básica que a produz2. O tratamento consiste
em corrigir as anormalidades clínicas ou cirúrgicas
de base (como distúrbios metabólicos, policitemia,
hérnia diafragmática); normalizar a volemia, uso
de agentes inotrópicos na tentativa de diminuir a
pressão pulmonar, ao mesmo tempo em que se
otimiza o débito cardíaco e a pressão sistêmica;
minimizar estímulos do ambiente; alcalinização
(hiperventilação ou utilização de bicarbonato de
sódio); suporte ventilatório; uso de vasodilatadores
pulmonares e oxigenação por membrana
extracorpórea (ECMO), que pode ser indicada nos
pacientes sem resposta a outras modalidades terapêuticas, com risco de mortalidade ³ 80%9.
O tratamento mais específico inclui o uso
de vasodilatadores pulmonares, que podem ser
seletivos ou não seletivos. O vasodilatador pulmonar específico é o NO, que, administrado por
via inalatória, se difunde das vias aéreas para
dentro das paredes dos vasos pulmonares, causando dilatação dos mesmos. Adicionalmente a
esse efeito, o NO inalatório pode otimizar o equilíbrio entre a ventilação e perfusão, o que se explica pelo fato de que o NO atua predominanteR Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 jan/mar; 14(1):131-7.
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Terapia inalatória com óxido nítrico
mente nos vasos sangüíneos que perfundem os
alvéolos melhores ventilados2. Se a área ventilada é suficiente, bastam pequenas doses para obtenção dos efeitos desejados.
Habitualmente, inicia-se com a administração da dose de 20ppm16. O gás é liberado do reservatório para o paciente, através do ramo
inspiratório do circuito do ventilador, misturado
ao fluxo do gás dispensado no processo de ventilação mecânica. De posse do conhecimento da
quantidade de NO no reservatório e do fluxo utilizado para a ventilação do paciente, ajusta-se o
fluxo do gás terapêutico para que se obtenha a
quantidade desejada na via aérea, que deve ser
a mais baixa possível para manutenção da saturação de oxigênio almejada2.
De modo geral, a ventilação com NO é iniciada na dose de 20 ppm. Após 30 minutos, deve
ser realizada uma avaliação clínica e laboratorial
e, se não houver resposta, o tratamento deve ser
interrompido por 15 minutos e reiniciado com
doses progressivas até 40 ppm, no máximo. Caso
não haja resposta, suspende-se o seu uso. A cada
12 horas, é importante tentar o desmame e avaliar com gasometria a oxigenação do recém-nascido ou, sempre que a PaO2 for maior que 55mmHg,
o NO deve ser reduzido para 10ppm11.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão da literatura, na
qual a coleta das informações foi realizada nos
bancos de dados: MEDLINE, LILACS, BDENF e
BIBLIOTECA COCRHANE e por vias não sistemáticas, como internet, periódicos e consultas em
livros textos, abrangendo o período de 1996 a 2003.
As palavras chaves utilizadas foram óxido nítrico,
hipertensão pulmonar persistente, terapia intensiva neonatal, neonato, enfermagem neonatal e
cuidados de enfermagem.
Para a seleção das publicações, consideramos sua relação com as questões da pesquisa, focalizando as principais recomendações quanto ao
uso do óxido nítrico inalatório em neonatos acometidos de hipertensão pulmonar persistente, as
controvérsias sobre a terapêutica e os principais
cuidados requeridos, tanto na instalação do tratamento, quanto na sua manutenção e desmame.
Totalizaram-se 190 publicações, das quais 30 foram analisadas por enquadrarem-se aos objetivos
do estudo: 23 artigos, seis livros textos e um manual de operação de equipamentos.
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RESULTADOS
E
DISCUSSÃO
A
análise da produção científica encontrada possibilitou a organização dos dados em temas
relacionados aos equipamentos de administração
do óxido nítrico e às condutas ligadas à própria
terapêutica.
Quanto à Instalação e Manutenção dos
Equipamentos
Geralmente o NO é administrado em respiradores convencionais. Deve ser um sistema seguro,
que ofereça concentrações de NO precisas e estáveis, capaz de limitar a produção de dióxido de nitrogênio (NO2), que é um produto tóxico; monitorar
a concentração tanto do NO como do NO2 e não
interferir no funcionamento do respirador. Antes de
iniciar a administração de NO inalatório, deve-se
verificar as condições do equipamento, certificando-se de sua adequada instalação17.
Algumas normas de segurança devem ser
obedecidas para utilização do NO, são elas:
armazenamento do gás inertizado através da mistura com N2 em cilindros de alumínio para garantir a estabilidade da mistura, não ultrapassando a
concentração de 500ppm; a instalação do dispositivo deverá ser feita em local arejado ou com
sistema de ventilação; utilização de válvulas redutoras de duplo estágio com componentes básicos em aço inoxidável e uso de fluxômetros específicos e padronizados para o NO. Todos os componentes do circuito deverão ser compatíveis com
o NO, evitando reações indesejadas; as conexões
e sistemas não podem apresentar vazamentos; o
gás exalado deverá ser retirado por um sistema
de vácuo para evitar a poluição ambiental; as concentrações de NO e NO 2 deverão ser monitorizadas continuamente, tanto no circuito
inalatório quanto no paciente18.
O gás exalado deve ser removido, quando a
concentração de NO/NO2 nele contida representar risco de poluição ambiental1. O emprego de
concentrações baixas de NO e a limitação do tempo de contato deste gás com o oxigênio tornam
improvável a formação de quantidades relevantes
de NO2 e a contaminação da atmosfera da unidade. Recomenda-se que a concentração máxima de
NO2 em nível ambiental não ultrapasse 5 ppm19.
Os circuitos utilizados para a inalação do NO
devem estar cuidadosamente aptos para fornecer
precisamente a concentração desejada e evitar a
formação de NO2. Como a formação de NO2 depende do tempo de contato com o O2, preconiza-se
Gasparotto M, Nascimento LC, Leite AM, Scochi CGS, Rossanez LSS
a inserção do NO diretamente no ramo inspiratório
dos respiradores com fluxo contínuo, a uma distância inferior a 30 cm da cânula oro-traqueal para
diminuir o contato do NO com o O2 e minimizar a
produção do NO2. Nos aparelhos de ventilação
mecânica com fluxo intermitente, a mistura dos
gases é feita no interior do respirador. Este dispositivo apresenta o inconveniente de que o NO permanece em contato com o O2 por mais tempo, com
chances maiores de produzir NO217.
Para a monitoração dos gases NO, NO2 e O2,
poderá ser utilizado um analisador de
quimioluminescência ou eletroquímico colocado
na porção distal do ramo inspiratório do circuito,
antes da entrada do gás para o paciente1.
Aspectos Relacionados à Terapêutica:
exames, dosagens e desmame
A realização de alguns exames antes, durante e após a terapia inalatória é necessária. A
gasometria deve ser realizada 30 minutos antes e
após o início da instalação do NO e repetições
devem ser feitas conforme a necessidade individual de cada paciente, baseando-se na evolução do
tratamento. Além disso, também devem ser realizadas ultra-sonografia de crânio antes e 24 horas
após o término do tratamento para identificação
de possíveis hemorragias peri-intraventriculares;
radiografia de tórax para detectar problemas agravantes como a pneumonia e ECO para estimativa
da pressão arterial pulmonar e shunt. Durante a
utilização, deve-se dosar a meta-hemoglobina a
cada 24 horas e até 24 horas após a suspensão do
NO, pois, seu uso pode levar ao aumento da
metehemoglobinemia, cuja toxicidade decorre da
redução na capacidade de transporte de oxigênio
aos tecidos quando em nível superior a três11.
O desmame do NO inalatório deve ser agressivo e começar assim que o paciente mantiver níveis adequados e estáveis de PaO2. A diminuição
da dose inicial de NOi até a dose de 5 ppm pode
ser feita assim que o paciente estabilizar-se, com
boa oxigenação, por 6 a 12 horas, o que geralmente ocorre nas primeiras 24 horas de tratamento. Essa
redução pode ser feita rapidamente ou de forma
gradativa (20ppm para 10 ppm e depois para 5ppm)
a cada 4-6 horas, desde que a oxigenação se mantenha estável. A retirada do NO inalatório de 5ppm
a zero deve ser feita lentamente, com redução de
1ppm por vez a cada 4-6 horas. Esse cuidado na
sua retirada visa evitar o rebote da hipertensão
pulmonar2. Além disso, durante o processo de des-
mame, a enfermagem deve estar atenta aos sinais
de deterioração da oxigenação. Caso seja necessário, a concentração de NO deve ser reinstituída.
Implicações para a Assistência de Enfermagem
Os problemas comuns de ordem fisiológica que
cercam a assistência a recém-nascidos submetidos à
terapêutica com NO inalatório, de um modo geral,
fazem tangência a questões que envolvem a necessidade de oxigenação. Mesmo sabendo que a assistência de enfermagem é determinada pelo processo
patológico e pela resposta de cada paciente ao tratamento, propomos aqui intervenções genéricas capazes de atender as principais necessidades, tendo
em vista o planejamento da assistência de enfermagem ao recém-nascido acometido de hipertensão
pulmonar e com terapia de NO inalatório.
A equipe de enfermagem deve avaliar continuamente o paciente para sinais e sintomas de
hipóxia e resposta ao tratamento. Em situações
nas quais os neonatos encontram-se em ventilação mecânica, fazendo uso do NO inalatório, determinados aspectos devem ser contemplados na
sistematização da assistência de enfermagem,
como a interpretação da gasometria arterial, que
pode sinalizar o desenvolvimento de um problema significativo devendo, por hábito, ser incluída nas atividades do enfermeiro. A ausculta pulmonar deve ser feita a cada 2 a 4 horas, para identificar possível deslocamento do tubo e presença
de secreções, uma vez que a ventilação com pressão positiva aumenta sua produção20.
Medidas para limpar a via aérea são, da mesma forma, essenciais e incluem aspiração da cânula endotraqueal e vias aéreas superiores; alteração freqüente de decúbito; umidificação e aquecimento dos gases inalados, através do controle
rigoroso do volume de água e temperatura na
caçapa do ventilador20.
Quanto ao posicionamento, a posição prona
em recém-nascidos permite restaurar a oxigenação
e equilibrar a função circulatória1. Além disso, o
recrutamento do espaço alveolar promovido pela
posição prona pode, também, proporcionar o aumento do efeito de vasodilatadores inalados como
o NO, promovendo melhora mais acentuada na
oxigenação do que se usados isoladamente21. A
monitoração de saturação de O2 e outros sinais
vitais, como temperatura, freqüência respiratória
e cardíaca contínua e, se possível, pressão arterial
invasiva contínua, são fundamentais17.
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Terapia inalatória com óxido nítrico
Em relação à prevenção de lesões, o tratamento das vias aéreas deve envolver manutenção
do tubo endotraqueal. O tubo do ventilador
acoplado ao sistema do NO torna-se ainda mais
pesado, sendo fundamental um posicionamento que
permita força ou distorção mínima do tubo na traquéia, evitando, além das lesões, extubações acidentais e interrupção do tratamento4.
A higiene oral deve ser realizada
freqüentemente, já que a cavidade oral constitui
uma fonte primária de contaminação dos pulmões
no paciente intubado e comprometido20.
Zelar pela manipulação mínima do neonato
é consenso entre os profissionais da área e, ainda,
recomenda-se minimizar a estimulação ambiental,
evitando assim, o estresse do neonato2.
Assegurar acessos venosos pérvios e
monitoração de sangramentos são, igualmente, essenciais, pois o NO é capaz de agir na função
plaquetária, inibindo a agregação e adesão das
plaquetas 5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a crescente utilização do óxido nítrico
inalatório, tornou-se evidente a necessidade de
atualização a respeito de tal terapêutica, por toda
equipe de enfermagem. A análise das publicações
encontradas permitiu-nos observar que esta
temática ainda é pouco explorada na área da enfermagem. Nesse sentido, apontamos a necessidade de desenvolver novos estudos que investiguem a prática profissional da enfermagem, possibilitando conhecer a atuação dos enfermeiros
frente a essa terapêutica.
Este estudo permitiu a organização do conhecimento produzido em relação à utilização do óxido nítrico inalatório em neonatos com hipertensão
pulmonar persistente, fornecendo subsídios teóricos para a sistematização da assistência de enfermagem, com vistas à eficácia do tratamento.
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Gasparotto M, Nascimento LC, Leite AM, Scochi CGS, Rossanez LSS
TERAPIA INHALATORIA CON ÓXÍDO NÍTRICO EN LA HIPERTENSIÓN PULMONAR PERSISTENTE DEL
NEONATO: CUIDADO DE ENFERMERÍA
RESUMEN: Este estudio trata de una revisión bibliográfica sobre la utilización del Óxido Nítrico inhalatorio
en neonatos que sufren de hipertensión pulmonar persistente, enfocando los temas relacionados a su
administración y a los cuidados de enfermería. La recopilación de datos fue realizada en las bases de
datos MEDLINE, LILACS, BDENF, Biblioteca COCHRANE y vías no sistemáticas, en el período de 1996 a
2003. Las palabras clave utilizadas fueron: óxido nítrico, hipertensión pulmonar persistente, terapia
intensiva neonatal, neonato, enfermería neonatal y cuidados de enfermería. Se identificó 190 publicaciones,
30 de las cuales se encuadraban en los objetivos de la investigación. El estudio permitió organizar el
conocimiento producido, posibilitando la presentación de los datos en temas relacionados a los
equipamientos de administración del óxido nítrico y a las conductas respecto a la propia terapéutica,
ofreciendo subsidios teóricos para la sistematización de la atención de enfermaría, con vistas a la eficacia
de la terapéutica.
Palabras Clave: Cuidado de enfermería; enfermería neonatal; hipertensión pulmonar persistente;
óxido nítrico.
Recebido em: 31.01.2005
Aprovado em: 09.01.2006
Notas
*
Enfermeira do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Especialista em
Enfermagem Pediátrica e Neonatal. E-mail: [email protected]
**
Docentes do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Av. Bandeirantes, 3900 Ribeirão
Preto, SP – Brasil14040-902. E-mail: [email protected]
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