FLG 0114 – Mudanças Climáticas Globais e Implicações Atuais Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Contribuição especial de Daniela de Souza Onça – O Poder do Mito e da Mídia – 1 – Introdução Neste resumo de aula, apresentou-se alguns dos principais aspectos da Mídia, primeiramente de forma geral e depois no que se refere ao principal tema do curso: “aquecimento global”. Abordou-se alguns aspectos do mito e seu poder, muito bem discutidos pelo Prof. Joseph Campbell em diversas de suas obras como “O Poder do Mito”, literaturas que se tornam obrigatórias na Academia para aqueles que querem compreender melhor o tema. Em outro aspecto, a discussão principal deste texto foi realizada pela Profª. Daniela Onça que gentilmente contribuiu com grande parte das argumentações, tema que foi estudado por esta autora. 2 – O Mito O mito tem seus aspectos singulares, já que é intrínseco ao ser humano e está presente em seu ser. Pode-se entendê-lo como uma característica que aparece em cada cultura, mas também está relacionado com o Dasein do ser vivente, dentro de uma Geografia. Figurativamente, pode ser expresso na imagem de um herói que irá padecer de todos os “pecados da humanidade”. Este personagem é levado a trama como herói de duas maneiras muito distintas: na primeira, ele será conduzido por algo ou alguém, que abusando da curiosidade, característica peculiar e acentuada do Homem, cairá em uma armadilha. Neste caso, terá que tirar forças para surgir o herói que está adormecido dentro de seu âmago. Na segunda opção, o personagem é apresentado a uma situação de risco e faz a escolha de ser o herói salvador, voluntariamente, ou seja, de forma consciente. Em ambos os casos do surgimento do herói, a jornada a qual se disporão também tem um roteiro em comum: saem da luz, situação que representa o relativo controle, ou o equilíbrio e mergulham nas trevas, situação representada pelo abismo, pela queda, onde figurativamente aparecerão os dragões ou então, o interior da baleia (o herói é engolido por ela). Neste caso, estão expressas as situações de desequilíbrio que precisam rapidamente serem corrigidas. No clímax da luta, o personagem vence e é resgatado, vitorioso, personificado em toda a plenitude da glória do herói. Há o retorno do equilíbrio entre as forças. Desta maneira, também poderemos entender que o papel dos mitos estão presentes para que o próprio Homem se torne melhor. A luta é travada com o 1 dragão que está adormecido dentro de cada ser humano. Com isto, os mitos podem ter o papel de elevar o ser humano a um nível de consciência. Atualmente, os mitos estão presentes em praticamente tudo. Podem se personificar em outras formas, desde os religiosos até os “científicos”. Isto nos leva a uma questão que servirá de exemplo para o assunto abordado na disciplina: surge um grande “vilão” e a sociedade precisa se organizar “voluntariamente” para derrotar o inimigo. Contudo, neste texto queremos apenas chamar a atenção sobre o poder do mito. Neste caso, como os mitos conseguem trazer à luz e expressar nossos anseios e medos, glorificar nossas virtudes e vontades, eles têm um papel fundamental no processo de humanização, muito bem explanados pelo Prof. Campbell: “Se vocês querem realmente ajudar este mundo, então precisam ensinar a como viver nele”. 3 – Histórico da Mídia Nos primórdios, a mídia era representada pelos periódicos. A primeira publicação periódica foi a Efemérides, dos antigos gregos, que esteve mais para almanaque do que jornal. Em 69a.C. surge a Acta Diurna Populi Romani, em Roma, criada por Júlio César com o intuito de divulgar os grandes feitos do Império e as diversas informações de caráter corriqueiro e especial. Na China, em 1041, Pi-ching, elaborou o primeiro artifício para impressão que permitiu publicações com tipos móveis de argila, imersos em tinta e prensados em papel. Bem mais tarde, Gutemberg, em 1440, aperfeiçoou o artifício, usando tipos de chumbo, nascendo a primeira impressora que revolucionou todos os métodos de divulgação de notícias. Desta maneira, surge a imprensa, no século XV, mas os primeiros impressores precisavam viajar muito e as publicações eram irregulares. Notem que não havia o termo jornalista. Só em 1605, aparece o Nieuwe Tijdinghen, de Antuérpia (Bélgica) como um jornal regular. Contudo, o primeiro periódico jornalístico foi o Frankfurter Journal, lançado em 1615 por Egenolf Emmel, na Alemanha. As informações eram trocadas por cartas e malotes postais, o que gerava um atraso considerável. Só em 1622, doze impressores de Londres, Países-baixos e Alemanha combinaram uma troca sistemática de notícias. No mesmo ano surge o Weekly News que conseguia publicar notícias estrangeiras. No século XVIII, as notícias começam a se espalhar pelo mundo todo. Em 1704, aparecia o Boston News Letter. Em 1808, surgiu o primeiro jornal brasileiro, Correio Brasiliense. O disparate é que o jornal surgiu em Londres! Somente depois surge no Brasil a Gazeta do Rio de Janeiro. Os jornais surgem no mundo inteiro, e torna-se fundamental a troca de informações mais rápidas. Esta troca que primeiramente era por correspondência de correio, ligada a UPU (único órgão que funciona inclusive em condição de 2 guerra) será aprimorada, em 25 de maio de 1844, por Samuel Morse, que despacha a primeira mensagem telegráfica, iniciando uma nova era de comunicação. É interessante notar que isto ajudou muito a Meteorologia na troca de informações, contribuindo para que surgissem as primeiras idéias das situações sinópticas da atmosfera (Hann e os despachos realizados pelo código SYNOP). Um segundo melhoramento viria mais tarde com a primeira rotativa eficiente de impressão rápida, em 1847, criada por Richard M. Hoe, do Philadelphia Public Ledger. Em 1848, forma-se a primeira agência de notícias. A seguir, uma lista de eventos que contribuíram para o aprimoramento da Mídia: • • • • • • Em março de 1876, Grahan Bell patenteia o telefone; Em 1915, incorpora-se a radiotelegrafia na imprensa, pela Alemanha; Em 1919, surge a notícia cinegráfica; Em 1920, surge a radiodifusão de notícias; Em 1960, aparecem a radiodifusão em TV, o TELEX e as radiofotos; Em 10 de julho de 1962, o satélite Telstar I consegue transmitir imagens e telefonia entre América e Europa; • Em 1966, o satélite Intelsat transmite em cores e 5000 telefonemas simultâneos. Com a televisão e o surgimento da câmera portátil, não há mais limites e a imprensa alcança qualquer lugar. Consegue manipular opiniões com as suas imagens dramáticas como a guerra do Vietnam, 1968-1975 (Fig.1) Fig.1: A guerra do Vietnam foi transmitida para os lares dos estadunidenses e ao resto do mundo. Foi considerada a “guerra do helicóptero”, já que este veículo deu grande mobilidade às tropas. Hoje considera-se que seu único objetivo foi salvar a Bell Helicopters da falência. Para isto, milhares de vidas de ambos os lados foram sacrificadas em prol da Guerra Fria e ideológica que nunca existiu (fonte: VEJA, 2008). Com o advento da internet, já muito testada pela IBM nos anos de 1980, o mundo tornou-se pequeno e as notícias se espalham quase que instantaneamente. Contudo, a emissão das notícias provém de pouquíssimos centros de distribuição, conhecidos como “Agências de Notícias”. 3 A primeira agência de notícias surgiu em 1848, conhecida por New York Associated Press na qual participavam seis jornais estadunidenses. Em 1892 surgiu a United Press, que aliou-se com a anterior e cobria todos os E.U.A. que logo a seguir, começou a trocar notícias com outras agências internacionais. Em 1915, os alemães fundaram a Transocean (com rádio e radiotelegrafia). Após a Segunda Guerra Mundial surgiu a France Presse. Até o final do século XX, as principais agências eram AFP (França), ANSA (Itália), AP e UPI (E.U.A.), DPA (Alemanha), Tass (Soviética), Reuters (Inglaterra) e Latin (consórcio entre jornais latino-americanos). Atualmente, cerca de apenas quatro agências cobrem toda a distribuição de notícias do mundo, em comum acordo para não gerar discrepâncias das informações. Deve-se lembrar que a Reuters destacou-se de todas as demais, permanecendo como líder e distribuindo as informações com auxílio da internet. Com isto, temos um poder concentrado o que nos faz lembrar da máxima: O Poder total leva ao corrompimento total. Desta maneira, deixamos aqui descrita a missão que a Imprensa deveria sempre seguir: Informar ao público, com total imparcialidade, os acontecimentos ou eventos e seus os fatos, antecedentes ou causais, com a maior veracidade e transparência possível, não devendo se omitir as questões de qualquer natureza, dentro de uma premissa maior de controle, ou seja, a ética. 4 – A Mídia Atual Atualmente, o que vemos na Mídia é uma coleção de opiniões. Os jornais são cobertos por colunistas que se dizem “especialistas” em algum assunto e dali, discorrem sobre qualquer coisa, com uma profundidade um tanto errática, em boa parte dos casos. Perpetuam notícias e informações, tirando conclusões, formando opiniões de coisas que nem sabem ou leram direito. Estas conclusões, na maioria das vezes não tem nenhum significado. Quando isto não acontece, fica evidente o partidarismo de certa causa, o que fere integralmente o papel a qual foi designada por natureza. No caso específico de “mudanças climáticas”, o tema recorrente de certos colunistas nada mais é do que a tentativa de manterem seus empregos em meio ao caos da histeria que nos cerca. Devemos olhar isto com cuidado. Também levanta-se a hipótese dos que acreditam que a mídia não tem culpa. Esta culpa deveria ser atribuída àqueles que lhe fornecem as informações e aos omissos: Os especialistas de uma certa área bombardeiam os jornais e as redes de televisões com a sua corrente de pensamento e de lá, assumem completo controle da situação perante a opinião pública. Os dissidentes ficam sem vez de declarar suas posições ou lanças as dúvidas do que se está propondo. Mas a pior parte vem daqueles especialistas, uma imensa maioria da mesma área, que finge que nada acontece e se OMITE, aguardando para ver “no que vai resultar a situação”. Um exemplo é a própria Climatologia, nestes tempos de “mudanças climáticas globais catastróficas”. Um exemplo perfeito da histeria que nos cerca (Fig.2). 4 Fig.2: Esquema pictórico geral que pode ser aplicado em todas as áreas do conhecimento humano. Os “especialistas” formadores de opinião pública, normalmente catastrófica, atuam na Mídia, mas os dissidentes praticamente não tem vez. Uma grande maioria se omite, permanecendo longe ou alheia às discussões. Estas situações já aconteceram antes e continuam a acontecer (fonte: Autor). Conclui-se este tópico com a indagação de que se a Mídia, fosse cumprir a sua missão, deveria por OBRIGAÇÃO: • Levantar todas as hipóteses de um CASO; • Cobrir constantemente os debates e as discussões entre ambas as partes; • Manter o canal de comunicação aberto para as respostas destas partes ambíguas após os questionamentos; • Manter a imparcialidade e não trabalhar os textos e as imagens de maneira a mandar mensagens subliminares opinativas de apoio. 5 – O Poder da Mídia As estratégias bem executadas de marketing conseguem efeitos impressionantes das mentes mais desavisadas: o poder da imagem, uma música marcante e um texto bem elaborado. Se os temas conseguirem apoio do governo, ou a Mídia servir ao governo (apoiado por interesses) então haverá completo comprometimento das informações. Nestes termos, gera-se a necessidade de formar um trabalho investigativo das áreas Físicas e Humanas (dicotomia apenas com fins didáticos) e elaborar a síntese final do objeto investigado. Não se verifica, nas atribuições pertinentes às sociedades, um elemento que faça este papel com melhor entendimento e discernimento das questões que não seja o geógrafo. Mesmo entendendo que a Geografia Crítica tenha atenuado nos dias contemporâneos, este aporte aparece ainda com mais lucidez nesta Ciência. 5 6 – Discussão sobre a Mídia Neste capítulo, apresentamos a extensa discussão sobre a Mídia, elaborada pela Prof. Daniela Onça. São levantados diversos temas que servem para ilustrar ou explicar as relações intrínsecas, com abordagem mais profunda que o assunto necessita. Os exemplos de “Mudanças Climáticas” foram obtidos da revista VEJA. 6.1 A Mídia é Polifônica? A expressão “meios de comunicação de massa” se refere a um conjunto de recursos tecnológicos que possibilitam a comunicação entre as massas. A história da evolução desses meios mostra que eles se desenvolvem no sentido de permitir a dispersão de mensagens com uma velocidade cada vez maior e para um número cada vez maior de pessoas. Quando surgem, são privilégio das classes mais abastadas – o rádio na década de 30, a televisão na década de 50, a internet no começo da década de 90 –, porém o barateamento de tais tecnologias, causa e conseqüência de sua expansão, põe-nos à disposição de enormes fatias da população de um país. Os meios de comunicação de massa constituem-se em poderosos instrumentos de homogeneização de uma sociedade. Dados seus elevados alcance e velocidade, reduzem-se as diferenças de gostos, valores e hábitos de compra entre as diversas regiões e classes sociais. A informação atinge todos os rincões, porém “a ignorância pode tornar-se padronizada, quando os meios de comunicação espalham pelo mundo imagens inexatas e incompletas”1. A indústria cultural2 pode ser desenvolvida tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada. Em ambas as instâncias, existe o interesse de se atingir o maior público possível, com a finalidade de maximizar o lucro e agradar ao público, no caso do sistema privado, e propagar ideologias no caso do Estado, função mais importante em épocas de governos totalitários. A indústria cultural é estruturada de maneira concentrada: grandes grupos, em pequeno número, concentram em seu poder o aparelhamento e dominam as comunicações de massa. Além da concentração técnica, ocorre uma concentração burocrática da informação jornalística, sempre submetida às filtragens de um redator-chefe e suas considerações. Morin afirma que essa padronização característica da produção industrial em larga escala de bens culturais convive com uma necessidade radicalmente oposta, a da produção de novidades. A indústria cultural vive, assim, em uma constante contradição entre a necessidade de manter o padronizado, garantia de 1 2 McDavid; Harari.(1980), p. 363-364. Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 299. 6 sucesso porque repetição de sucessos anteriores, e revelar o original, garantia de um novo sucesso. Diariamente a grande imprensa busca o novo, o acontecimento relevante, a notícia. “Essa conexão crucial se opera segundo equilíbrios e desequilíbrios. A contradição invenção-padronização é a contradição dinâmica da cultura de massa. É seu mecanismo de adaptação ao público e de adaptação do público a ela. É sua vitalidade”3. O jornalismo é também absorvido pela lógica da produção industrial, com divisão e planificação do trabalho em todos os estágios: planejamento, produção, distribuição, estudos de mercado. É a essa racionalização da produção jornalística que corresponde a padronização da informação. Morin deixa transparecer a idéia, enfim, da existência não só das possibilidades do original, do individual, do criativo, como de uma espécie de equilíbrio dinâmico entre as lógicas padronizadora e inovadora da indústria cultural. Conforme veremos mais adiante, este ponto de vista esbanja ingenuidade: “A divisão do trabalho, porém, não é, de modo nenhum, incompatível com a individualização da obra (...). A padronização em si mesma não ocasiona, necessariamente, a desindividualização (...) [como exemplo, o autor cita os nomes de diversos filmes western norte-americanos]. Em outras palavras, a dialética padronização-individuação tende freqüentemente a se amortecer em uma espécie de termo médio”4. E, mais adiante: “a liberdade de jogo entre padronização e individualização lhe permite [ao autor] às vezes, na medida de seus sucessos, ditar suas condições. A relação padronização-invenção nunca é estável nem parada, ela se modifica a cada obra nova, segundo relações de forças singulares e detalhadas”5. É claro que existe a possibilidade de o autor estar sendo irônico e minha leitura não ter alcançado uma compreensão adequada; particularmente, não acredito que alguém em pleno gozo de suas faculdades mentais possa enxergar no mundo da indústria cultural a mais tênue possibilidade do exercício de uma genuína criatividade ou de escape aos padrões. Ao contrário de Morin, Adorno não acredita em qualquer possibilidade de originalidade no mundo da indústria cultural6. Tudo é sempre idêntico, variandose apenas pequenos detalhes, que em absoluto não alteram coisa alguma. A 3 Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 303. Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 304-305. 5 Morin, in: Martins, Foracchi (1994), p. 306. 6 Na obra de Adorno, a expressão “indústria cultural” adquire um sentido que beira o baixo calão. 4 7 mesmice recebe uma maquiagem nova a cada temporada, garantindo sua aceitação e perpetuando a ilusão da concorrência e da liberdade de expressão. A lógica da fábrica, da produção em série, é transportada para o mundo da cultura; qualquer nota destoante não tem sequer a oportunidade de se revelar. Tudo são clichês e pérolas de sabedoria repetidas à exaustão. Nas palavras de Adorno: “A compulsão permanente a produzir novos efeitos (que, no entanto, permanecem ligados ao velho esquema) serve apenas para aumentar, como uma regra suplementar, o poder da tradição ao qual pretende escapar cada efeito particular. Tudo o que vem a público está tão profundamente marcado que nada pode surgir sem exibir de antemão os traços do jargão e sem se credenciar à aprovação ao primeiro olhar”7. A transformação da população em massa, afirma Mills8, foi uma das principais tendências da sociedade urbano-industrial moderna e provocou um colapso do otimismo das idéias dos pensadores do século XIX, que acreditavam que a ignorância e a irracionalidade generalizadas seriam erradicadas por meio da difusão da educação; tudo era apenas uma questão de tempo. Porém, já em meados daquele século, podem ser notados indícios de massificação: as formas individuais ou de pequenas comunidades de vida econômica e política começam a ser substituídas pelas formas coletivas; surgem movimentos organizados em torno do ideal de lutas de classes; as discussões racionais interpessoais são ofuscadas pela autoridade de peritos emergentes ou por argumentações abertamente tendenciosas; e descobre-se a eficiência do apelo irracional ao cidadão. Mills aponta as principais características que definem uma sociedade de massas: 1- O conjunto de públicos se torna uma coleção abstrata e disforme de indivíduos, cujas impressões sobre o mundo provêm dos meios de comunicação de massas, sendo que o número de pessoas que por eles fala é muito menor do que o número de receptores da mensagem; 2- É alto o nível de organização das comunicações predominantes, de maneira que é difícil ou impossível a um indivíduo oferecer uma resposta à mensagem imediatamente ou com alguma eficiência; 3- A colocação da opinião em prática é controlada pelas autoridades organizadas dos canais de tal ação; 4- Não existe autonomia em relação às instituições; pelo contrário, a dependência é acentuada. 7 Adorno & Horkheimer (1985), p. 120. Escolhemos este trecho, mas todo o capítulo é dedicado a demonstrar que a indústria cultural não passa de um negócio e dentro dela não há possibilidades de renovação. 8 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 309. 8 A maneira mais simples de se identificar uma sociedade de massas é através do tipo de comunicação predominante: é o veículo formal, do qual a massa é somente “a coletividade de pessoas passivamente expostas aos meios de comunicação em massa e indefesamente sujeitas às sugestões e fluxos desses meios”9. Ocorre uma substituição, em todas as instâncias, de pequenos poderes dispersos por poderes concentrados e inacessíveis, ao mesmo tempo em que se tornam menos políticos e mais administrativos. O homem da massa não experimenta qualquer sentimento de participação política, pois a distância e a diferença de tamanho entre seu raio de influência e o dos líderes efetivos é tão gritante que lhe confere total impotência. A administração é vinda do alto, sendo praticamente impossível uma intervenção em sentido contrário. As verdadeiras unidades de poder estão encarnadas na grande empresa, num inacessível governo e no setor militar. Bem abaixo, estão as pessoas e sua cotidianidade, não existindo entre esses dois extremos organizações intermediárias realmente efetivas, onde os homens possam experimentar seu poder de ação. Mesmo que surjam tais organizações, a tendência é que ou elas se desintegrem, definhem, esmagadas pelos grandes poderes, ou sejam por eles incorporadas, tornando-se mais um instrumento de controle. Conforme as instituições se centralizam, intensificam-se os meios de se influenciar a opinião pública. Mills cita dois instrumentos antes desconhecidos, mas de um alcance de manipulação psíquica formidável: a educação universal compulsória e os meios de comunicação de massa. Em um primeiro momento, alguns observadores acreditaram que a ampliação do alcance dos meios de comunicação seria muito útil para difundir informações e idéias, multiplicando o ritmo e o alcance do debate pessoal. Mentes seriam abertas, mal-entendidos entre correntes de pensamento seriam desfeitos, em suma, tais instrumentos foram considerados emancipatórios, um estímulo ao desenvolvimento da discussão democrática e racional. É difícil descrever todas as funções dos meios de comunicação de massa ou os efeitos que tiveram sobre as sociedades desde o início de sua disseminação, pois eles por vezes possuem atributos muito penetrantes e, na mesma medida, sutis. Entretanto, temos boas razões para desconfiar que os meios de comunicação prestaram-se menos à ampliação de debates do que à massificação da sociedade. Consideremos primeiro a violenta distância e diferença quantitativa entre os emissores e receptores da mensagem, que praticamente impossibilita uma resposta, comprometendo assim a própria idéia de comunicação. Esses meios também se prestaram a uma padronização de nossos órgãos sensoriais. Consideremos, por exemplo, como são estruturados os telejornais. Cada notícia dura um, dois, três minutos no máximo. Anuncia-se o fato, mostram-se rápidas imagens, quando disponíveis, sem maiores considerações críticas, e já se passa 9 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 312 9 para outra notícia completamente diferente, em geral futebol, vida dos famosos, assuntos bastante engajados, enfim. Ocorre um desestímulo à reflexão. Notícias exibidas em blocos rápidos proporcionam um pensamento fragmentado e superficial. Não se percebe a conexão entre os fatos e nem se reflete sobre eles. Ao término do telejornal, quem se lembra qual foi a primeira notícia? Isso sem considerarmos o efeito dos intervalos comerciais. Após um bloco de notícias quaisquer, somos bombardeados por comandos de consumo, eles também muito rápidos e em seqüência. A estrutura dos programas de televisão é elaborada de modo a não permitir uma reflexão sobre o existente, chegando a alterar o padrão de funcionamento de nosso raciocínio. Se os seres humanos já possuem uma predisposição para não se concentrar numa determinada tarefa por mais de quarenta minutos, a televisão programa nossas mentes para funcionar em blocos ainda menores, de quinze ou vinte minutos. Como conseqüência, tarefas que demandem um tempo de concentração mais longo, como a leitura de um livro, tornam-se fatigantes e aborrecidas. A reflexão sobre o existente fica prejudicada. Mills, porém, diz que acima de todos esses efeitos colaterais está o que ele denomina “analfabetismo psicológico”, sobre o qual falaremos agora. A imensa maioria dos conhecimentos que temos sobre o mundo não provém de estudos sistemáticos ou de contato direto com a realidade. Esse conhecimento é produto das comunicações de massa, de uma maneira tão decisiva que muitas vezes não acreditamos no que vemos à nossa frente enquanto não lermos no jornal ou virmos pela televisão um comentário a respeito. Os meios de comunicação de massa não se limitam a transmitir informações; eles orientam nossas experiências. Nossas visões de mundo, aquilo em que cremos ou não cremos, em última instância, não é determinado por nossas vivências pessoais, mas sim pelos recortes e ideologias transmitidos pela mídia. Mesmo que um sujeito atravesse uma experiência pessoal, ela não poderá ser dita estritamente pessoal, pois está organizada em torno de padrões e clichês previamente estabelecidos. Qualquer tipo de “experiência direta” não será aceita caso contrarie fidelidades e crenças que o sujeito já tenha incorporado. Para ser aceita, tal experiência deverá confirmar, justificar ou reconfortar as características básicas de sua filiação ideológica. É oportuno lembrar que não somente a mídia cumpre essa função de estabelecer sistemas ideológicos que mediatizem as experiências humanas. Partidos políticos, instituições religiosas, qualquer aparelho ideológico possui esse perfil. São os clichês estabelecidos que determinam a aceitação ou rejeição de opiniões específicas, não pela sua coerência lógica, mas pelo seu poder emocional, pelo alívio de ansiedades. “Aceitar opiniões em seus termos é conseguir o bom sentimento sólido de estar certo sem ter que pensar”10. Por meio dessa ligação entre clichês ideológicos e opiniões específicas, reduz-se a 10 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 317. 10 ansiedade provocada por eventuais contradições: como os clichês levam a um desejo de aceitar certa linhagem de pensamento, não existirá uma necessidade de superar resistências a itens dessa linhagem. Assim, esse tipo de acúmulo de seleções de opiniões e sentimentos passa a enformar as atitudes e a visão de mundo do sujeito. O conjunto de convicções assim adquiridas formam um filtro entre o homem e o mundo, condicionando a aceitação/rejeição de opiniões específicas e orientando as atitudes a serem tomadas. Mills acredita que o senso comum estabelecido nesses moldes “é mais comum do que senso”11 e que, para as gerações seguintes, o senso comum será antes o resultado dos clichês transmitidos pela mídia do que qualquer tradição social firme. Mills põe em dúvida a idéia de uma autêntica concorrência entre os meios de comunicação de massa. Será que as pessoas comparam os diferentes meios entre si? O autor diz que não, por dois motivos básicos. Primeiro, porque a introjeção de clichês que vínhamos discutindo é um processo auto-alimentador: as pessoas tendem a escolher os meios de comunicação com os quais se identificam melhor, ou seja, aqueles que confirmam as opiniões préestabelecidas. Ninguém parece estar disposto a buscar contra-exemplos em outros meios. Segundo, porque a idéia de concorrência pressupõe a idéia de variedade; comparar os diferentes meios pressupõe ter algo a comparar. Já vimos, com Adorno, que aquilo que se apresenta como variado é apenas uma repetição do mesmo, apenas com uma maquiagem de novas nuances. A aparente variedade, num exame mais detalhado, não revela mais do que pequenas variações sobre temas padronizados. O poder de infiltração dos meios de comunicação de massa, entretanto, não se esgota na determinação das experiências externas: eles determinam também as internas. Definem nossa personalidade. Proporcionam novas identidades, aspirações e valores. Criam a ilusão de estarmos ligados a grupos maiores – pouco importando se são reais ou imaginários –, espelhos da autoimagem que forjaremos a partir de então. A mídia diz ao homem quem ele é, o que deseja ser, como chegar lá e como se consolar se não chegar. Entrega as fórmulas de desenvolvimento do ser humano, sem no entanto esclarecer que são falsas fórmulas de um falso desenvolvimento de falsos seres humanos. Da maneira como estão estruturados, os meios de comunicação de massa destroem, ao invés de estimular, o debate interpessoal, o intercâmbio de opiniões em todos os níveis. “Esta é uma das importantes razões pelas quais eles falharam como força educacional, mas existem como força maligna”12. Fornecem uma quantidade enorme de informações e notícias sobre o que ocorre pelo mundo, mas não mostram ao público as relações entre os fatos, nem entre estes e a vida quotidiana, os problemas enfrentados por cada um de nós. Não aumentam nossa percepção das tensões da sociedade. Ao invés disso, procuram nos distrair, desviar nossa atenção para a importância de acontecimentos absolutamente 11 12 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 317. Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 318. 11 irrelevantes. Perdemos tempo e neurônios tentando desvendar quem é o assassino da novela das oito, dinheiro e saúde tentando atingir padrões de beleza possíveis apenas para as dançarinas de axé, argumentações sobre quem é o melhor jogador de futebol do mundo e exercitando uma patética democracia votando em quem deve deixar a casa do reality show. Enfim, os meios de comunicação de massa ofuscam qualquer oportunidade de compreender o mundo e de emancipar-se, sob a hipócrita alcunha de entretenimento e cultura popular. “Os meios de comunicação em massa dizem coisas exageradas e contraditórias, banalizam sua mensagem e se anulam mutuamente”13. De fato, mas deve-se compreender a palavra contraditórias com relação à realidade14, nunca com relação aos meios de comunicação de massa entre si. “Pois a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. O cinema, o rádio e as revistas constituem um sistema. Cada setor é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto”15. Daí a padronização da mensagem. A grande velocidade e solidez com que se dá a formação do consenso social pela mídia possui ainda outra componente. A persuasão dos meios de comunicação de massa não teria tanta força se fosse assim tão impessoal. É necessário atingir as pessoas no contexto em que vivem e, de preferência, por meio de outras pessoas, dos companheiros cotidianos, nos quais é mais seguro confiar. Assim, a manipulação ganha uma nuance mais pessoal e, por isso, mais difícil de se resistir, mais sutil. O público consumidor da grande imprensa – não das bobagens citadas acima, mas da que pretensamente discute ciência, política e economia – não é exatamente a grande massa, mas uma camada mais restrita desta, de classe média ou alta, mais instruídos do que a média da população. São empresários, profissionais liberais e (é necessário dizê-lo) professores, o chamado público formador de opinião. São eles que tomam um contato mais aprofundado com a informação, absorvem-na, refletem sobre ela e completam sua difusão para seus empregados, clientes e alunos. A educação universal, conforme já foi citado, tornou-se também um veículo de massificação. Aquilo que deveria ser um instrumento de emancipação do ser humano e de transformação da sociedade não passa hoje de educação vocacional, abertamente voltada para o simples ensino de técnicas e conformismo feliz com a realidade, apontando os caminhos não para modificá-la, mas para nela se destacar. As instituições educacionais bloqueiam a transmissão de valores e, no lugar deles, desenvolvem apenas habilidades úteis para a futura adaptação da criança ao mercado de trabalho, haja vista a disseminação de escolas infantis que incluem em sua grade curricular disciplinas como informática, espanhol e inglês. Seu intuito não é formar uma criança cosmopolita, apta a compreender a diversidade cultural do mundo, mas sim prepará-la desde muito cedo para se destacar no mercado de trabalho 13 Mills, in: Martins, Foracchi (1994), p. 319. Mas podemos mesmo falar em realidade num mundo onde tudo é falso? 15 Adorno & Horkheimer (1985), p. 113. 14 12 extremamente competitivo que futuramente enfrentará. Obviamente, não são as crianças que escolhem estas escolas, mas seus pais, o que demonstra que a educação emancipadora já está impossibilitada desde seu berço. A educação libertadora perde importância em favor dessa adaptação, a ponto de os estudantes que concluem o ensino médio no Brasil terem a oportunidade de saber se foram suficientemente bem adestrados prestando um exame que avalia as “competências e habilidades” adquiridas, se aprenderam a ler, escrever, fazer contas e executar pequenos comandos. Isso tudo será muito útil para sua futura vida profissional – ler, escrever, fazer contas e executar pequenos comandos é tudo de que necessitam saber –, desde que, juntamente com esse pacote, não tenha vindo o aprendizado do questionamento da ordem estabelecida. Se o problema parasse por aqui, já seria um quadro desesperador, mas ele é piorado quando se forma o binômio educação-comunicação de massa. Os professores empregam as matérias publicadas pela mídia como instrumento de trabalho, como material de preparação para suas aulas. Se a mídia afirma que o planeta está esquentando, esta deve ser uma informação importante – do contrário, não seria notícia –, deve ser verdade – do contrário, não seria veiculada por uma revista de renome –, portanto, deve ser repassada aos alunos. Deve constar da apostila do cursinho em sua próxima edição, e aquele que ousar contrariar a informação contida ali será acusado de falta de ética com os outros professores, por discordar deles diante dos alunos. Deve ser trabalhada em sala como parte importante do processo de aprendizado, as atualidades; um aluno que sabe apenas armazenar informações não é o mais propenso a se dar bem na vida, mas sim aquele que, além disso, sabe o que vai pelo mundo, e não dispensa essa valiosa fonte de conhecimento que é a mídia. Se o planeta está esquentando, cabe às crianças, a geração do futuro, pressionar e trabalhar pela reversão desse quadro. Elas devem ser doutrinadas pelos dogmas estabelecidos, pouco importando se são ou não verdadeiros. É através desses professores, dessas escolas, desse sistema educacional que as crianças têm seu adestramento a cada dia mais aperfeiçoado, mais compatível com as necessidades de uma sociedade emburrecedora. Por isso, é necessário tomar muito cuidado com atitudes guiadas pela romântica filosofia do “só a educação é o caminho”, “a educação ambiental é a chave para o fim da devastação”, e por aí afora. Se for deste modelo de educação que estamos falando, não sei de onde tirar esperanças. Sabemos que a esmagadora maioria das pessoas tem como principal fonte de informação o jornalismo, largamente empregado na divulgação das questões ambientais da atualidade. Surge, então, um ramo chamado “jornalismo ambiental”, definido da seguinte maneira por Bacchetta: “ O jornalismo ambiental considera os efeitos da atividade humana, a partir da ciência e da tecnologia em particular, sobre o planeta e a humanidade. Deve contribuir portanto à difusão de temas complexos e à análise de suas implicações políticas, sociais, culturais e éticas. É um jornalismo que procura desenvolver a 13 capacidade das pessoas para participar e decidir sobre sua forma de vida na Terra, para assumir definitivamente sua cidadania planetária”16. O autor segue apresentando outra definição semelhante, segundo a qual jornalismo ambiental é o tratamento dispensado pelos meios de comunicação de massa aos temas relacionados ao meio ambiente, constituindo-se assim em um dos ramos mais amplos e complexos do jornalismo, na medida em que estabelece relações entre diversos campos do conhecimento. Justamente por isso, ele exige uma ampla formação e domínio de tais campos. Ainda segundo este mesmo autor, tenta-se por vezes classificar o jornalismo ambiental como um ramo do jornalismo científico, porém essa classificação não pode ser considerada ideal porque o jornalismo ambiental não se limita a expor os problemas ambientais de um ponto de vista puramente natural, mas também suas implicações políticas e éticas, sobre as quais a ciência moderna, pura, não é capaz de emitir julgamentos. O jornalismo ambiental deve, assim, estar em condições de questionar os valores culturais vigentes. Ao ler e escrever estas linhas, confesso ter ficado sem reação. O grau da ingenuidade é tamanho que, fazendo meu o pessimismo adorniano, não acredito existir solução para a demência daqueles que, diante de todas as evidências, ainda acreditam que o jornalismo possui algum resquício de propriedade emancipadora. Mas vamos em frente, tentando dar mais um argumento aos que acreditam nessa possibilidade. Mora17, discutindo a divulgação popular de novas idéias científicas, comenta o quanto é raro encontrar um cientista que dedique parte de seu tempo à ampla divulgação de suas descobertas, cabendo esta tarefa, nos dias atuais, ao jornalista. Para este, porém, mais importante que o conteúdo da mensagem é fazê-la chegar às massas, preferencialmente transformando-a numa matéria de impacto. Diante desse quadro, a autora sugere a atuação de uma espécie de “crítico da ciência”, como um intermediário entre o cientista e o público leigo, atuante nos meios jornalísticos e de divulgação. Seria um profissional que reuniria o conhecimento científico às altamente complexas habilidades da linguagem da comunicação de massa. Ao final, a autora dá a esse divulgador profissional o título de “ser mítico”, porque deveria reunir capacidades que normalmente não andam juntas: “a boa escrita e o conhecimento amplo da ciência”18. Concordamos com a autora quanto ao título de “ser mítico” ao crítico da ciência, mas não pelas duas capacidades supostamente incompatíveis que deveria reunir. Quando a divulgação científica se faz por meio do texto jornalístico, boa 16 Bacchetta (2000), p. 18. Mora (2003), p. 33-35. 18 Mora (2003), p. 34. 17 14 escrita é um elogio descabido. A autora, porém, faz relativizações, afirmando que não está descartada a possibilidade de existência de jornalistas sérios e preparados no ramo da divulgação científica. Muito embora não acreditemos realmente nessa possibilidade, façamos uma concessão e imaginemos um jornalista “sério e preparado”, interessado em proceder a uma divulgação científica de qualidade. Cedo ou tarde, no entanto, ele se deparará com algumas normas da profissão, institucionalizadas ou tradicionais. Exporemos aqui como exemplo algumas instruções de redação jornalística retiradas do Manual de redação e estilo do jornal O Estado de S. Paulo19, mas que também podem ser verificadas em outros veículos da imprensa brasileira (grifos no original). 1) Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso (...). Não é justo exigir que o leitor faça complicados exercícios mentais para compreender a matéria. 3) A simplicidade é condição essencial do texto jornalístico (...). 4) (...) Dispense os detalhes irrelevantes e vá diretamente ao que interessa, sem rodeios. 5) (...) fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos pedantismos vocabulares, dos termos técnicos e da erudição. 8) Tenha sempre presente: o espaço hoje é precioso; o tempo do leitor, também. Despreze as longas descrições e relate o fato no menor número possível de palavras (...). 10) (...) Adote como norma: os leitores do jornal são pessoas comuns, quando muito com formação específica em uma área somente. 11) Nunca se esqueça de que o jornalista funciona como intermediário entre o fato ou fonte de informação e o leitor (...). 20) Faça textos imparciais e objetivos. Não exponha opiniões, mas fatos, para que o leitor tire deles as próprias conclusões (...). 30) A falta de tempo do leitor exige que o jornal publique textos cada dia mais curtos (20, 40 ou 60 linhas, em média). Por isso, compete ao redator e ao repórter selecionar com o máximo critério as informações disponíveis, para incluir as essenciais e abrir mão das supérfluas (...). 47) Um assunto muito atraente ou importante resiste até a um mau texto. Não há, porém, assunto mediano ou meramente curioso que atraia a atenção do leitor, se a matéria se limitar a transcrever burocraticamente e sem maior interesse os dados do texto. Deixamos uma única pergunta ao leitor: nosso imaginário jornalista sério e preparado, obedecendo a tais normas, preocupadas em encurtar o tamanho da notícia para não prejudicar o espaço reservado aos anunciantes, obterá sucesso em seu empreendimento de divulgação científica e emancipadora de qualidade? Não, a mídia não é polifônica. 19 O Estado de S. Paulo, p. 16-21. 15 6.2 A divulgação da temática das mudanças climáticas pela revista Veja: Neste sub-capítulo, faremos um resumo das matérias publicadas pela revista Veja entre os anos de 1997, quando ocorreu a reunião de Kyoto, até o ano de 2006. A grafia de nomes pessoais e geográficos foi mantida20. Durante esse período, três edições estamparam capas sobre o aquecimento global: 18/4/2001, 21/8/2002 e 12/10/2005. Se o leitor preferir, pode ler apenas uma ou duas; afinal, são todas iguais... Veja, 10 de dezembro de 1997 Fumaça da discórdia. Conferência no Japão tenta chegar a um acordo sobre o aquecimento global. A matéria aborda a reunião de representantes de 170 países na cidade de Kioto, no Japão, desde a semana anterior, para discutir os rumos das políticas de contenção das mudanças climáticas globais, que podem destruir o planeta dentro de algumas décadas. Ainda não há provas conclusivas sobre as causas e os efeitos do problema, mas sabe-se que a temperatura média do planeta aumentou meio grau Celsius nos últimos 100 anos e 1997 registrou recordes de temperatura. As opiniões sobre o assunto são diversas, como a de Richard Lindzen, do MIT, que afirma que o gelo de muitas geleiras teve início antes da Revolução Industrial, sendo portanto um fenômeno natural. Sabemos que nosso planeta já assistiu a inúmeras mudanças climáticas para aquecimento e resfriamento, e que podemos estar entrando em mais um ciclo de mudança, que em condições normais só ocorreria no fim do próximo milênio, mas pode estar sendo acelerado pela excessiva emissão de poluentes resultantes da queima de combustíveis fósseis. A posição mais relutante em relação à necessidade de redução dessas emissões é a dos Estados Unidos, que prefere adiá-las para 2012. Mas, apesar da falta de provas científicas sobre o efeito estufa, uma coisa é certa: a reunião de Kioto mostra que a comunidade internacional está mais sensível em relação à urgência de mitigação dos problemas ambientais da atualidade, diferentemente do caso do buraco na camada de ozônio, causado pela emissão desenfreada de CFCs, para o qual as providências tomadas demoraram muito a chegar. Veja, 22 de dezembro de 1999 O planeta resiste aos ataques. Apesar do desmatamento e da poluição, o mundo não está tão mal quanto se previa. A matéria faz um balanço otimista dos problemas ambientais do século XX e conclui que desenvolvimento não é sinônimo de devastação, pois já foram realizados grandes avanços pela preservação do meio ambiente. Ainda restam, porém, muitos desafios, sendo um deles o efeito estufa, que fez os últimos 25 anos serem os mais quentes da história. Também são fornecidos dados que mostram os avanços e os problemas persistentes. 20 Infelizmente, ainda não foram localizadas as edições de 16/9/1998, 17/5/2000 e 8/8/2001. 16 Veja, 29 de março de 2000 Está virando água. Aquecimento da Antártica transforma radicalmente a geografia e os hábitos da fauna no Pólo Sul. A matéria constata uma redução da espessura e da extensão do gelo da Antártica. Desde a década de 40, a temperatura da Península Antártica subiu entre 1,6 e 2,2oC, o suficiente para alterar significativamente a paisagem. Enormes blocos de gelo desprendem-se do continente, o que pode elevar o nível dos mares em 60 centímetros nos próximos 100 anos, mantido o ritmo de aquecimento. Também estão ocorrendo mudanças nos hábitos e no tamanho das populações de krill, pingüins e leões-marinhos. Os degelos também são intensos na Groenlândia – que perde um metro de espessura do gelo por ano –, no Ártico – que perde uma Holanda por ano – e nas geleiras das montanhas, todos processos auto-alimentadores por conta da redução do albedo. Várias hipóteses são evocadas para explicar todo esse degelo; uma delas é a variação da atividade solar mas, do acordo com o IPCC, o grande vilão é mesmo o efeito estufa causado pelo lançamento excessivo de dióxido de carbono na atmosfera. De acordo com José Antônio Marengo, do INPE, há um consenso cada vez maior de que as variações naturais, sozinhas, não explicam o aquecimento. A matéria é concluída com a idéia de que a participação da poluição no processo de aquecimento do planeta é inegável e que, mantidos os níveis de emissões de gases, no século XXI a Terra esquentará mais rápido do que em qualquer outro momento dos últimos 10000 anos. Veja, 31 de janeiro de 2001 Tragédia ecológica. Cientistas de 99 países projetam aumento recorde na temperatura da Terra para o próximo século. A matéria fala de um estudo realizado por 99 cientistas de diversos países, reunidos em Xangai, segundo o qual a temperatura do planeta poderá aumentar até 5,8oC até 2100, número que funcionaria como “um estridente apelo contra as crescentes emissões de dióxido de carbono e outros gases que aumentam o efeito estufa no planeta”. Mas também foi elaborado um cenário mais otimista, de um aumento de 1,4oC, o que ainda assim é muito. No pior cenário, o nível do mar poderá subir 80 centímetros e, conforme prevê Robert Watson, coordenador do estudo, Bangladesh perderia 18% de seu território. Tais resultados atestam que a principal força motriz da mudança climática na Terra é o homem, mas isso está longe de ser um consenso, pois existe a hipótese de que o sol esteja passando por um período de alta atividade, enviando assim mais energia para a Terra ou de que o planeta esteja passando por mais um de seus ciclos naturais de aquecimento e resfriamento. Richard Lindzen, do MIT, afirma que o degelo do Alasca e da Antártica começou antes da Revolução Industrial, sendo portanto um fenômeno natural sobre o qual o homem não tem controle. Seja como for, o alerta de Xangai tem um caráter preventivo e cobra o controle de emissão de gases. 17 Veja, 28 de fevereiro de 2001 Tempo quente. ONU prevê catástrofes sociais com o aquecimento global. A matéria trata de um estudo realizado por pesquisadores da ONU, segundo o qual o aquecimento global pode prejudicar a produção agrícola dos paises tropicais, por conta de secas, enchentes e tempestades. Já os países do hemisfério norte, onde se concentra o mundo desenvolvido, sairia beneficiado pela possibilidade de cultivos em invernos mais amenos. De acordo com esse mesmo estudo, o aquecimento global poderá provocar um aumento de temperatura de 5,8oC nos próximos 100 anos, e já está dando sinais, como o derretimento de 82% das neves do Kilimanjaro desde 1912. Há uma foto da montanha africana e a estimativa de que, dentro de 20 anos, o gelo restante também desaparecerá. Veja, 18 de abril de 2001 A natureza contra-ataca. O planeta começa a responder com derretimento das geleiras, secas, escassez de água e aquecimento global aos milhares de anos de agressões feitas pelo homem. A matéria é iniciada lembrando o quanto o ser humano é novo no planeta, mas mesmo assim tem uma velocidade de transformação do espaço nunca vista antes. Por causa de todas as agressões cometidas à natureza desde o surgimento do homem, ela agora começa a cobrar a conta. “o balanço da atividade humana mostra uma tendência suicida”, os rios e a atmosfera estão desmesuradamente poluídos, as florestas nativas já perderam grandes extensões e a extinção de espécies avança num ritmo cinqüenta vezes maior do que a seleção natural. O efeito mais claro desse acerto de contas do planeta é o aquecimento global, cuja causa mais provável é a emissão desenfreada de gases estufa. Para confirmar essa hipótese, a matéria cita ninguém menos do que Stephen Hawking, que teria dito: “Durante anos, parte da comunidade científica se enganou atribuindo o aquecimento aos ciclos naturais do planeta e às mudanças na atividade solar. Hoje existe uma quase unanimidade de que o problema é causado por nós mesmos”. Thelma Krug, do INPE, também é evocada: “Já estamos e vamos continuar pagando o preço do que fazemos hoje com o planeta. Isso não é especulação. É uma constatação científica”. Mantido esse ritmo, o efeito estufa poderá fazer a temperatura da Terra subir até 5,8 graus e o nível dos mares 80 centímetros até 2100. “É uma catástrofe. Ilhas, deltas de rios, cidades costeiras acabariam debaixo das águas”. Mas 2100 não é um prazo muito distante? Não. “Ninguém se iluda com a idéia de que a longo prazo todos estaremos mortos e, portanto, de que a Terra estar um pouco mais quente daqui a 100 anos é um problema para os netos de nossos bisnetos. Nada disso. Os primeiros sinais já estão por toda parte”, como o degelo dos pólos, alterações na duração das estações e violentas inundações. Toca-se no assunto da recusa norte-americana em ratificar o Protocolo de Kioto, e termina-se lembrando a hipótese Gaia, de James Lovelock. Devemos tratar a Terra com carinho, pois esses contra-ataques 18 da natureza são os ajustes que ela está fazendo para manter sua saúde. Seu compromisso é com todas as formas de vida, e não apenas com o homem. Veja, 17 de outubro de 2001 Estufa do bem. Dados da Nasa mostram que o aquecimento global tornou as florestas mais verdes e exuberantes. A matéria mostra que o aquecimento global, apesar de suas conseqüências nefastas, também tem seu lado bom, como mostra um estudo da Nasa segundo o qual as temperaturas mais elevadas favoreceram o crescimento das florestas do hemisfério norte nos últimos vinte anos. As zonas mais beneficiadas por esse aumento médio das temperaturas e do número de dias quentes no ano foram o centro-norte da Europa, a Sibéria, o norte do Canadá e o nordeste dos Estados Unidos. Aponta também “uma peça pregada pela natureza”, que seria a possibilidade de florestas mais exuberantes absorverem mais gás carbônico, “o vilão do efeito estufa”. Porém, Luiz Gylvan Meira Filho alerta que essa compensação pode não acontecer, pois com o tempo as temperaturas elevadas podem matar as plantas e então elas se tornariam gás carbônico. Veja, 30 de janeiro de 2002 Ainda mais fria. Em lugar de estar subindo, como no resto do planeta, a temperatura cai na Antártica. A matéria relata dois estudos divulgados naquele mês, segundo os quais, na maior parte do continente antártico, a temperatura caiu um grau nos últimos quinze anos, contrariando as previsões de aquecimento, que estariam assim equivocadas. Esse equívoco poderia ser explicado pelo fato de a Antártica ser comparada ao Ártico, onde de fato as geleiras estão se derretendo. Peter Doran, da Universidade de Illinois, diz que, além disso, a maior parte dos estudos sobre o continente é realizada na península Antártica, onde as temperaturas são relativamente mais altas. A matéria é concluída com a consideração de que, apesar de o século XX ter sido o mais quente já registrado na história humana, muito provavelmente por influência antrópica, a Terra possui um ciclo natural de eras glaciais e, assim, essa diminuição de temperatura na Antártica pode indicar que “em vez de calor, pode ser que um frio de rachar esteja batendo a nossa porta”, ou seja, a iminência de uma nova glaciação. Veja, 17 de abril de 2002 Esquenta ou esfria? Diferença de temperatura na Antártica embaralham teorias sobre aquecimento global. A matéria constata a existência de teorias divergentes sobre a variação de temperatura do continente antártico: enquanto algumas pesquisas mostram que houve um aumento de temperatura, outras mostram que houve diminuição. Essa aparente contradição ocorre porque algumas regiões, como a península antártica, apresentaram um aquecimento (2,5oC em 50 anos), enquanto outras, como o 19 interior do continente, apresentaram resfriamento (1oC em 15 anos). A dúvida decorre, enfim do erro de se extrapolar tendências regionais a todo o continente. Além disso, tais variações de temperatura não seriam suficientes para provar ou refutar a hipótese do aquecimento global. A área atualmente comprometida com aquecimento comporta menos de 5% do gelo do continente, confrontando a idéia da iminência do derretimento de todas as suas geleiras, o que elevaria o nível do mar em 60 metros. Veja, 21 de agosto de 2002 A Terra pede socorro. Dez anos depois da Eco 92, há pouco para comemorar. A poluição e o uso predatório dos recursos naturais aceleraram o efeito estufa e a destruição das florestas. Mas existem formas de corrigir esses erros. A matéria enfoca diversos problemas ambientais enfrentados pelo planeta às vésperas da Convenção de Johanesburgo, a Rio+10. Dez anos após a realização da convenção do Rio de Janeiro, os resultados obtidos foram muito tímidos. São explorados os temas da poluição atmosférica, demanda por alimentos e recursos naturais, lixo, escassez de água, desmatamento, pesca predatória e, não podia faltar, o aquecimento global, “o efeito mais terrificante por suas implicações no cotidiano das pessoas”. Desde as primeiras medições, no final do século XIX, a década de 1990 foi a mais quente. Em um século, o nível do mar subiu 10 centímetros. Apesar de o planeta sempre ter passado por ciclos de aquecimento e resfriamento, agora é a atividade industrial que está interferindo. Desde 1750, as concentrações atmosféricas de CO2 aumentaram em 30%, mais da metade dos quais nos últimos cinqüenta anos. Amostras de geleiras da Antártica atestam que vivemos as concentrações mais altas desse gás dos últimos 420.000 anos e, provavelmente, dos últimos 20 milhões. Três quartos dessas emissões provêem da queima de combustíveis fósseis e o restante do desmatamento. Lester Brown, fundador do Instituto Worldwatch, afirma: “Não há mais dúvida de que as mudanças ambientais são causadas pelo homem. Já não são só os ambientalistas que pensam assim”. Prevê-se um aumento de até 5,8 graus até 2100, mas as mudanças na paisagem já são evidentes: um exemplo é o Kilimanjaro, que já perdeu 82% de suas geleiras desde 1912, e perderá o restante dentro de vinte anos; secas na África e as enchentes na Alemanha e na República Checa na semana anterior, são também evidências das mudanças climáticas. Veja, 2 de outubro de 2002 Flores no deserto. Mudança climática faz vegetação avançar nas areias do Saara, invertendo as previsões. A matéria trata de uma reversão da tendência ao ressecamento, característico das décadas de 70 e 80, da região norte do Sahel. Aquilo que já foi considerada uma área condenada para a sobrevivência humana hoje exibe alguma cobertura vegetal composta de arbustos e pequenas árvores. As causas dessa recuperação seriam um aumento das chuvas na região nos últimos 15 anos e melhorias nas técnicas de cultivo, que se tornaram menos degradantes. A maior 20 umidade do Sahel estaria trazendo de volta agricultores anteriormente expulsos pela seca para cidades, campos de refugiados e países vizinhos. Veja, 13 de agosto de 2003 A Europa pega fogo. Verão quente demais pode ser indício de que se acelerou o ritmo do aquecimento global. A matéria trata da onda de calor que a Europa enfrentou no verão daquele ano, fruto de uma massa de ar quente vinda do Saara que estacionou sobre o continente, provocando temperaturas muito elevadas, focos de incêndios, derretimentos das geleiras de montanhas, perdas de safras e dezenas de mortes. Tudo indica que a onda de calor seja causada pelo aquecimento global, que fez a temperatura da Terra elevar-se de um grau nos últimos 100 anos e, a continuar nesse ritmo acelerado, como a onda de calor denuncia, fará a temperatura subir seis graus nos próximos 100 anos, levando ao derretimento das geleiras, desaparecimento de ilhas e inundações de cidades costeiras. O meteorologista Michael Knobelsdorf, do Serviço de Meteorologia Alemão, afirma que a ocorrência de eventos climáticos extremos em intervalos de tempo cada vez mais curtos pode ser um sinal de mudança de clima. Curiosamente, na Grécia, onde as temperaturas de verão costumam ultrapassar os 40oC, naquele ano estava em torno dos 32oC. “Um sinal de que, de fato, o clima enlouqueceu na Europa”. Veja, 1o de outubro de 2003 Os segredos da geleira. Aquecimento global derrete o gelo no alto dos Alpes e expõe relíquias arqueológicas. A matéria afirma que o degelo excepcional ocorrido nos Alpes no verão daquele ano permitiu encontrar nos meses anteriores dez corpos mumificados. São relatados também a descoberta (sem data) de destroços de um avião da Força Aérea Nazista e o famoso caso do homem que viveu há 5000 anos, cujo corpo foi preservado nas geleiras, na fronteira entre a Áustria e a Itália. Com o aumento médio da temperatura, vem ocorrendo degelo a mais de 4000 metros de altitude, tendo o volume do gelo sido reduzido à metade em meio século. Na Suíça, a retração está ocorrendo ao ritmo de 20 metros por ano, mas esse valor pode chegar a 100 em anos de verões mais quentes. Ou seja, o aquecimento global pode se tornar um aliado das descobertas arqueológicas. Veja, 24 de dezembro de 2003 O planeta verão Esta edição faz uma retrospectiva do ano de 2003. O texto é curto, mas consegue sintetizar a idéia, por isso vale a pena citá-lo na íntegra: “No início do ano cientistas confirmaram que na Antártica a temperatura média subiu 2,5 graus no último meio século. Em agosto, incêndios devastaram 1750 quilômetros quadrados de florestas na Europa. Neves eternas derreteram-se nos 21 Alpes, expondo relíquias arqueológicas há milênios escondidas. O aquecimento global deixou de ser apenas uma hipótese”. Veja, 21 de janeiro de 2004 Cada vez mais quente. O homem calcula a temperatura média do planeta desde 1861. E nunca se registraram ondas de calor intensas como as dos últimos anos. A matéria é aberta com uma imagem do planeta Terra fumegando dentro de uma frigideira incandescente. O texto se inicia com a informação de que a temperatura do planeta elevou-se de um grau nos últimos 100 anos. Derretimento das geleiras no Kilimanjaro e nos Alpes, ondas de calor e enchentes na Europa, secas, tufões, “tudo é creditado ao progressivo aquecimento global”. Os seis anos anteriores registraram as três mais altas temperaturas desde 1861. Nesse ritmo, a temperatura média do planeta pode aumentar 5,8 graus até 2100. Parte dos cientistas credita esse aquecimento aos ciclos naturais do planeta, enquanto outros acreditam que os responsáveis são o homem e sua emissão exagerada de gases estufa desde o início da Revolução Industrial, hipótese da qual o IPCC acredita haver “fortes evidências”. Uma das conseqüências é o degelo das calotas polares e das montanhas, que acelera o aquecimento e altera a salinidade do mar, modificando os padrões das correntes marítimas e, conseqüentemente, o regime de ventos. São citadas a onda de calor na Europa em 2003 e a redução em 30% da pesca no lago Taganica, seguidas de um alerta de Vernon Kousky, do National Oceanic and Atmospheric Administration dos Estados Unidos: “É difícil afirmar que todas essas mudanças estão relacionadas ao efeito estufa, mas, se não reduzirmos a quantidade de gases emitidos na atmosfera, viveremos em um mundo mais quente e com grandes tragédias associadas ao clima”. 2100 cidades em ilhas e deltas de rios podem simplesmente desaparecer. Os hábitos dos animais vêm sofrendo modificações em função do clima – cita-se o caso do esquilo canadense explorado na matéria de 10/8/2005– e um terço da Amazônia pode se transformar num imenso cerrado, perdendo muitas espécies, conforme Carlos Nobre, coordenador-geral do CPTEC. Passa-se então a uma discussão sobre as mitigações. Os prejuízos da manutenção do aquecimento podem atingir 794 bilhões de dólares na próxima década, contra 459 bilhões em custos de mitigação. A proposta do Protocolo de Kioto é uma redução de 5% da emissão de poluentes até o ano de 2012, meta dificultada pela não-adesão dos Estados Unidos e da Rússia. Por conta desse impasse, uma saída apresenta-se viável, os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, através dos quais os paises poluidores financiam projetos e programas de preservação do meio ambiente em paises mais limpos. O Brasil pode sair ganhando com essa proposta pois, de acordo com Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, “A redução do desmatamento será um bom negócio”. 22 Veja, 23 de junho de 2004 100 questões para entender o mundo. A matéria é estruturada na forma de 100 perguntas e respostas sobre diversos assuntos no mundo contemporâneo. As oito últimas tratam da crise ambiental, sob o título “Planeta em crise”, e são respondidas pelo cientista James Gustave Speth, da Universidade Yale. Reproduzimos a questão de número 93: “Provocar medo nas pessoas e não trazer fatos ou pesquisas novos tem sido a estratégia dos ambientalistas. Ela está funcionando? Está. Na verdade não precisamos de fatos novos. Danos irreversíveis já foram feitos ao planeta, eles são conhecidos. A hora, agora, é de ação”. Na questão 95, o cientista desaprova a recusa de Bush em ratificar o Protocolo de Kioto e na questão 99 ele sugere que o cidadão comum pode contribuir com a preservação do planeta, por exemplo, comprando o computador e a geladeira que consomem menos energia ou o carro que consome menos combustível. Veja, 17 de novembro de 2004 Uma luz na fumaceira. Com a adesão da Rússia, o Protocolo de Kioto, que combate o efeito estufa na atmosfera, finalmente decola. A matéria traz duas notícias sobre o tema do aquecimento global ocorridas nas semanas anteriores. A primeira é a adesão da Rússia ao Protocolo de Kioto que, por ser responsável por 17% da emissão de gases estufa, fez o Protocolo atingir a meta de adesão de responsáveis por 55% das emissões. A segunda é a divulgação de um estudo que afirma que “o aquecimento global está esquentando o Ártico quase duas vezes mais rápido que o resto do planeta, provocando um derretimento das geleiras que até o fim deste século pode acabar com a calota polar e elevar o nível dos oceanos em 90 centímetros, ameaçando milhões de vidas e acabando com cidades inteiras”. Também afirma que “A temperatura geral da Terra aumentou 0,5 grau no século XX e os anos 90 registraram as temperaturas mais quentes da história”. Em seguida, mais algumas palavras sobre o Protocolo de Kioto e a negativa de George W. Bush em ratificá-lo. Veja, 22 de dezembro de 2004 O estado geral da Terra Na edição de retrospectiva do ano de 2004, a revista dedicou 34 páginas, além de uma chamada de capa, a uma reportagem sobre os atuais problemas ambientais que assolam o planeta, estruturados em sub-matérias de acordo com a questão discutida. Ela é iniciada com um índice e três parágrafos que lembram o quanto a Terra é um planeta único e que, de certa forma, todo o universo conspirou para 23 que ela se formasse. Certamente tais raciocínios incitam à necessidade de sua preservação. Nas duas páginas seguintes, temos um infográfico baseado num mapa mundi, onde foram posicionados e descritos os desastres ambientais atuais. Segue-se a primeira sub-matéria: Sinais de mudança. A questão não é mais se haverá ou não aquecimento global: o processo já está em andamento e o que se vê agora são apenas os seus primeiros efeitos. Acompanha-a uma foto de uma página e meia do ciclone Catarina, uma pequena foto de uma enchente no Quênia, quatro pequenas fotos mostrando o desprendimento de um enorme iceberg na Antártida, um gráfico sobre as perdas e indenizações pagas em conseqüência de catástrofes naturais, uma foto aérea de uma página da cidade de Veneza, uma pequena foto de uma enchente nesta mesma cidade e um infográfico que explica por que o nível dos oceanos está subindo. O texto se inicia com a explicação de que mudanças climáticas sempre foram fenômenos naturais, mas elas nunca haviam ocorrido com tamanha rapidez. Um sinal delas, dizem cientistas ingleses, foi o ciclone Catarina na América do sul neste ano, e eles alertam que, dentro de uma década, este será um fenômeno comum. São citados o desprendimento de icebergs do tamanho do Distrito Federal e três vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro; inundações em Veneza, perdas de terras litorâneas nos Estados Unidos, China e Bangladesh. A década de 1990 foi a mais quente já registrada e calcula a OMM que pelo menos 160.000 pessoas morram por ano em conseqüência das mudanças climáticas. Os glaciares estão sendo reduzidos: a continuar nesse ritmo, até 2035 não haverá mais gelo no centro-leste do Himalaia nem congelamento no Ártico no verão no fim do século. Todas essas mudanças estão alterando também a fisiologia e os hábitos de diversas espécies de animais. Segue-se uma explicação de que as quantidades de gases tóxicos e estufa dispersos na atmosfera aumentaram muito desde o início da Revolução Industrial e de como eles atuam no efeito estufa. Sydney Levitus, do serviço de meteorologia americano, diz que mesmo que as emissões sejam controladas agora, a Terra continuará esquentando por mais 100 anos, por conta da capacidade térmica dos oceanos. Por fim, “O que se vê agora, para muitos cientistas, é apenas o começo de uma tendência que vai se agravar ao longo das décadas”. As sub-matérias seguintes, com duas páginas cada, tratam da exploração desenfreada dos recursos naturais; a escassez de água no mundo; incêndios florestais; pesca predatória e a produção exagerada de lixo. Em seguida, vemos um artigo de uma página de George Philander, intitulado “O que o El Niño pode nos ensinar”. Começa falando sobre o quanto o El Niño já foi considerado uma bênção (daí seu nome fazer referência ao menino Jesus), por trazer chuvas às costas desérticas do oeste da América do sul, e o 24 quanto ele é amaldiçoado hoje. É um paradoxo que, conforme aumentem nossa riqueza e população, aumente nossa vulnerabilidade aos desastres naturais. O El Niño tem muito a nos ensinar, mas “devemos evitar a tentação de adiar decisões políticas difíceis em nome de uma suposta necessidade de informações mais completas”21. Ressalta a precisão já atingida pelos métodos de previsão meteorológica e climática e diz que, mesmo que elas não sejam totalmente seguras, podemos fazer muito para mitigar os impactos dos desastres naturais, mas isso depende de vontade política. “Nos Estados Unidos, por exemplo, não se coíbe a construção de edifícios altos em regiões sujeitas a furacões. O resultado é que, quando eles atingem o litoral, acabamos por nos considerar inocentes vítimas de catástrofes. Devemos ter em mente que, se enfrentamos cada vez mais problemas com fenômenos como El Niño e furacões, não é porque nossas previsões são defeituosas, e sim porque nosso modo de viver e conduzir os negócios está mudando”. Ainda não temos resposta para muitas questões sobre o clima, “mas podemos esperar que políticos sábios, que levem em conta o que os cientistas podem prever e que estejam cientes das inevitáveis limitações do conhecimento destes, façam com que o El Niño continue a ser uma bênção, em vez de uma praga”. A seguir, vemos uma entrevista, de título “Uma ameaça maior que o terrorismo”, com o químico David King, professor da Universidade de Cambridge, considerado o cientista número 1 da Inglaterra e cujas opiniões sobre as questões ambientais são sempre ouvidas pelo primeiro ministro Tony Blair. Em janeiro, publicou um artigo na revista Science, onde qualificou as mudanças climáticas como “um perigo com dimensões maiores que as do terrorismo”. Ao longo da entrevista, ele afirma que “O aquecimento que nós vemos não pode ser explicado sem que a atividade humana – notadamente a queima de combustíveis fósseis e a liberação de CO2 – seja considerada”; “Embora seja difícil ligar eventos individuais às tendências de longo prazo, há evidências de que a onda de calor na Europa [em 2003] teve influência do aquecimento global”; “Haverá perdas irreversíveis e aceleradas de biodiversidade” e “Um aquecimento de 2,7 graus, conforme prevêem os modelos atuais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, pode ser suficiente para derreter a camada de gelo da Groenlândia e provocar uma ascensão do nível do mar entre 6 e 7 metros”. Segue-se uma sub-matéria de duas páginas sobre a poluição gerada pelas fontes de energia mais empregadas, e mais uma sub-matéria de quatro páginas sobre o aquecimento global: Para onde vamos. Os cientistas dizem que não há como parar o aquecimento global. Seu ritmo de expansão, porém, pode ser reduzido. A matéria traz uma foto de uma página e meia de um urso polar saltando entre placas de gelo rodeadas por água, um infográfico ilustrando uma projeção 21 Esta declaração aparece em destaque no artigo, apenas com a primeira palavra sendo “precisamos”, e não “devemos”. 25 de degelo no Ártico, uma foto de uma página e meia da ilha Bora Bora, duas fotos menores de recifes de corais, um colorido e outro esbranquiçado e sem vida, e um gráfico de projeção de elevação da temperatura dos oceanos que mostra que ela ultrapassará o limite crítico de sobrevivência dos corais. O texto se inicia com a informação de que, apesar das incertezas, existe uma concordância geral de que o mundo futuro será mais quente, talvez até 6 graus mais em algumas localidades, provocando uma subida de até 80 centímetros no nível dos mares que fará Bangladesh perder 16% de seu território. Problemas semelhantes ocorrerão em Nova York e Recife. Estima-se que tornados e furacões ganharão força, pois o aquecimento do planeta fornecerá mais umidade para a atmosfera e favorecerá a formação de tempestades. Citam-se algumas previsões de institutos de pesquisa: a OMS estima que em duas décadas o saldo de mortes causadas pelo efeito estufa chegará a 300.000; economistas da Universidade Yale afirmam que os prejuízos por fenômenos climáticos chegarão a 794 bilhões por década e, no Brasil, pesquisadores do INPE e da USP prevêem que o clima será desfavorável ao plantio de café em São Paulo e algodão no centro-oeste daqui a cinqüenta anos. Pesquisadores de Harvard afirmaram recentemente na Science que todas as mudanças climáticas registradas nos últimos 400.000 anos guardam relação direta com a quantidade de CO2 na atmosfera. Por fim, não há possibilidade de mudanças climáticas abruptas como aquelas mostradas pelo filme O dia depois de amanhã; há tempo para a adaptação e pode haver evoluções tecnológicas que nos auxiliem. Em seguida, uma sub-matéria de quatro páginas: No caminho certo. Muita gente está fazendo sua parte no conserto do planeta: cientistas, ambientalistas e até governos. Acompanha-a uma foto de uma página e meia de um ônibus movido a hidrogênio em Amsterdã, uma foto de meia página de um pesquisador medindo a quantidade de ozônio sobre a Antártica e uma foto de meia página de uma fazenda de geração de energia eólica nos Estados Unidos, chamando a atenção para seu problema estético. O texto começa falando da entrada em vigor do Protocolo de Kioto, prevista para fevereiro de 2005, que terá como meta inicial a redução em 5,2% em relação aos valores observados em 1990, da emissão de gases poluente até 2012. As metas de cada país poderão também ser alcançadas por meio da compra de créditos de carbono ou do financiamento de programas ambientais em outros países. Há razões para otimismo se o Protocolo de Kioto tiver o mesmo efeito que o Protocolo de Montreal, pois este foi eficaz na redução do uso de aerossóis que provocaram o buraco na camada de ozônio. A partir de 2012, as metas de Kioto devem se tornar mais duras e, para frear de vez o aquecimento, calcula-se que a redução das emissões deva ser de 60%. De acordo com a pesquisadora Thelma Krug, do IPCC, “A redução prevista no protocolo não vai resolver o problema, mas é o indício do caminho para estabilizarmos a temperatura da 26 Terra”. Os governos de diversos países da União Européia e a iniciativa privada norte-americana já estão implementando tecnologias limpas, que podem ser também mais econômicas e ter um potencial maior de marketing. Um exemplo dos benefícios econômicos da preservação ambiental é a área da reciclagem, na qual o Brasil tem realizado importantes avanços. O especial é encerrado com uma sub-matéria sobre os benefícios dos alimentos geneticamente modificados para o meio ambiente e a sociedade. Veja, 23 de fevereiro de 2005 O calor que ameaça a vida. Mesmo limitado e sem a adesão dos Estados Unidos, o campeão da poluição, o Tratado de Kioto dá ao planeta um bom instrumento para reduzir o aquecimento global. A matéria trata da entrada em vigor do Protocolo de Kioto, ocorrida na semana anterior. É aberta com a foto de um urso polar desesperadamente tentando passar de um bloco de gelo a outro, separados pelo mar. A formação de enormes icebergs, a onda de calor na Europa em 2003, que matou 30000 pessoas, o ciclone Catarina, são todos fenômenos por trás dos quais está o acúmulo de CO2 na atmosfera. Por causa dele, a temperatura do planeta subiu um grau nas últimas décadas e, mantido o ritmo atual, subirá até seis graus até o final deste século, “causando um efeito dominó de catástrofes”. Felizmente, existe o Tratado de Kioto, acordo pelo qual 141 países se comprometem, até 2012, a reduzir suas emissões de gases estufa a um nível 5% abaixo daquele verificado em 1990. Para tanto, uma saída que vem sendo posta em prática é o emprego de energias limpas e filtragem do CO2, para que não vá parar na atmosfera. Algumas dessas medidas podem até diminuir os custos de produção. Um entrave ao Protocolo, no entanto, é a ausência dos Estados Unidos, o maior poluidor, segundo o argumento de que tal redução de emissões abalaria sua economia. Os países em desenvolvimento não são obrigados a cumprir cotas preestabelecidas, mas podem participar da limpeza da atmosfera e ainda saírem beneficiados através dos mecanismos de desenvolvimento limpo, mediante os quais os países industrializados podem neles investir em projetos de reflorestamento, tratamento do lixo, fontes alternativas de energia e similares. A cada 6 dólares investidos nesse tipo de projeto no mundo em desenvolvimento, a empresa pode produzir uma tonelada a mais de CO2, o que pode ser um grande negócio para ambos os lados. Diversos países e empresas já estabeleceram metas próprias de redução de emissões, muitas delas mais ambiciosas que as do protocolo. Apesar de toda essa mobilização, “não é pequena a comunidade de cientistas que desprezam a causa”. Um primeiro grupo afirma que essas mudanças climáticas são naturais e que a humanidade já dispõe de tecnologia para controlar seus eventuais efeitos indesejáveis. Outro grupo aponta para os custos excessivos da redução de emissões, que produzirão resultados ínfimos e seriam mais bem empregados no combate à pobreza. “Por enquanto, as vozes que se levantam contra o tratado têm sido abafadas pelas evidências científicas de que é preciso fazer algo pelo planeta antes que seja tarde demais. Antes que se sintam de forma ainda mais aguda os 27 efeitos do que o cientista Sir David King, assessor do governo britânico, classifica de ‘o maior perigo que a humanidade já enfrentou em 5000 anos de civilização’ ”. Veja, 23 de março de 2005 A prova do efeito estufa. A cobertura de neve do Kilimanjaro, cartão-postal da África, desaparece no mesmo ritmo do aquecimento global. A matéria traz duas fotografias do monte Kilimanjaro, na Tanzânia, uma do ano de 1995, quando ainda exibia uma cobertura de neve, e outra de 2005, quando ela praticamente desapareceu. Tudo indica que a causa desse degelo é o aquecimento global, causado pela emissão excessiva de dióxido de carbono na atmosfera e que já fez a temperatura média do planeta elevar-se de um grau nas últimas décadas. Segundo um estudo do Byrd Polar Research Center, da Universidade de Ohio, o degelo do Kilimanjaro teve início em 1912, quando o clima daquela região da África se tornou mais seco, mas nada se compara à evaporação ocorrida recentemente. Lonnie G. Thompson, o autor do estudo, afirma que até 2020 o gelo do Kilimanjaro terá desaparecido completamente, e fenômenos semelhantes vêm ocorrendo nos Alpes, Andes e Himalaia. O principal problema na contenção das emissões de dióxido de carbono é a relutância do governo americano em aderir ao acordo de Kioto, com um respaldo de um grupo de cientistas que não acreditam que o aquecimento global seja causado pelo homem, mas é apenas mais uma alteração climática como as que o planeta sempre enfrentou. “Muitas vezes as pesquisas desses cientistas, é bom que se note, são financiadas por governos ou instituições que têm os interesses contrariados pelo Tratado de Kioto”. Veja, 10 de agosto de 2005 Evolução em ritmo acelerado. Expostos à caça e à pesca predadoras, os animais reagem com alterações genéticas que ameaçam as espécies. A matéria não discute o aquecimento global, mas aponta que entre as alterações antrópicas ao ambiente natural está o efeito estufa, que altera o ciclo vital das espécies. Como exemplo, cita uma pesquisa da Universidade de Alberta, que descobriu que as fêmeas do esquilo vermelho da região do Yukon estão dando à luz na primavera dezoito dias mais cedo do que dez anos atrás, pois hoje a primavera também começa antes. Veja, 21 de setembro de 2005 Seis provas do aquecimento global. Efeitos da mudança climática já podem ser percebidos em catástrofes que afetam o planeta. Além do texto, a matéria traz fotografias que ilustram fenômenos naturais acompanhadas de uma classificação do grau de certeza de que a culpa é do aquecimento global. São eles: 28 - derretimento das geleiras: alta ciclones mais potentes: alta enchentes na Europa: média proliferação de algas tóxicas: baixa calor e incêndios na Europa: média secas: baixa A matéria é iniciada com uma resposta afirmativa a duas questões até pouco tempo não esclarecidas: se o aquecimento global é real e se seus efeitos no clima da Terra são iminentes. Uma terceira questão refere-se ao que pode ser feito para evitar seu agravamento, e sua resposta é a redução da emissão de gases estufa, prevista pelo Protocolo de Kioto, ao qual os Estados Unidos ainda não aderiram, o que configura um erro de Bush, pois “os efeitos da mudança climática já não podem ser ignorados”. São citadas as altas temperaturas registradas nos últimos anos, a onda de calor na Europa em 2003, os incêndios florestais em Portugal semanas antes, enchentes no norte e centro da Europa, proliferação de algas tóxicas nas praias italianas e furacões mais intensos. “Até onde se pode determinar, o mundo está agora mais quente do que em qualquer momento nos últimos 2000 anos”. É difícil afirmar que todos esses fenômenos são causados pelo aquecimento global, mas há uma concordância geral de que são por ele influenciados. Nos últimos 120 anos, a temperatura do planeta aumentou 1 grau, do qual dois terços são de responsabilidade do homem, por conta do aumento em 30% dos níveis de gás carbônico na atmosfera desde o início da Revolução Industrial. O efeito mais dramático dessa poluição é o derretimento das geleiras, “na maioria dos casos, para sempre”, já que a ausência de gelo acelera o processo de aquecimento. Estima-se que, até 2080, não haverá mais gelo no Ártico no verão. O nível dos oceanos elevou-se em 25 centímetros nos últimos 100 anos, por causa do derretimento das geleiras e da expansão térmica das águas. No Brasil, causou alarme o fenômeno Catarina, agora considerado um furacão, e “Se outro furacão atingir o Brasil nos próximos dez anos, será um indício de que se trata, realmente, de um efeito do aquecimento global”, diz Carlos Nobre, meteorologista do INPE. Para reagir às mudanças climáticas, podemos reduzir a quantidade de poluentes ou adaptar-nos a elas. Veja, 28 de setembro de 2005 Ameaça concreta. Aquecimento global causa multiplicação de furacões, como o Rita e o Katrina. A matéria traz uma foto do furacão Rita e uma indicação “alta” do grau de certeza de que a culpa de ciclones mais potentes é do aquecimento global, no estilo da matéria da semana anterior. O texto começa com uma descrição do Rita e diz que ele serve como mais uma prova da impossibilidade de se continuar ignorando os efeitos do aquecimento global. Menciona outro furacão, o Katrina, que deixou 1000 mortos. Estudos recentes têm mostrado que os furacões estão mais fortes e freqüentes por causa das mudanças climáticas causadas pelo homem, através da emissão de gases poluentes. Entre estes estudos, está o do 29 meteorologista americano Peter Webster, publicado na Science duas semanas antes, e outro do climatologista americano Kerry Emanuel, publicado na Nature um mês antes do advento do Katrina. Como as águas oceânicas estão 0,5 grau mais quentes por causa do aquecimento global, aumentam-se as chances de ocorrência de ciclones e furacões. Veja, 12 de outubro de 2005 Reportagem especial: A Terra no limite. Mais uma seqüência de reportagens sobre a crise ambiental, com ênfase para a seca da Amazônia, num total de 31 páginas, descontadas as propagandas. Perigo real e imediato. Para onde vamos com nossas agressões ao planeta? O pessimismo da resposta varia, mas há um consenso: a hora de agir é já. A matéria inicial é ilustrada com uma imagem do planeta Terra cortado ao meio, exibindo no interior um solo rachado pela seca. Anunciando as matérias por vir, afirma que traçará “um panorama das armadilhas produzidas pelos homens para si mesmos, desde a exaustão de recursos vitais como a água até os efeitos incontornáveis do aquecimento global, que podem ser amenizados, na melhor das hipóteses, ou agravados em proporções dantescas, na pior”. Mais adiante, afirma que o aquecimento global não é uma perspectiva de médio prazo, pois todas as geleiras vêm diminuindo, os oceanos estão se aquecendo, os animais estão mudando suas rotas migratórias e a diferença entre temperaturas diurnas e noturnas está caindo. “Os níveis de dióxido de carbono são os mais altos dos últimos 420.000 anos” e, a continuar nesse ritmo, atingirão níveis só vistos no Eoceno, há 50 milhões de anos. Setenta e cinco por cento dos trabalhos sobre mudanças climáticas endossam a hipótese do aquecimento global, enquanto os outros 25% são considerados neutros, pois analisam métodos e procedimentos. Martin Rees, professor da universidade de Cambridge, acredita que não passam de 50% as chances de a humanidade sobreviver até o fim deste século, pois as conseqüências das mudanças globais “podem engendrar tensões desencadeadoras de conflitos internacionais e regionais”. Há na matéria, entre outras, uma foto dos destroços deixados pelo furacão Katrina. A matéria seguinte trata da escassez mundial de água, mas inclui dois pequenos quadros sobre as mudanças climáticas, o primeiro fazendo referência à matéria “Seis provas do aquecimento global”, publicada em setembro, e o segundo ilustrando o degelo do Ártico, atribuído ao aquecimento global, apontando a área média do gelo entre 1979 e 2000 e a área atingida em 2005, 20% reduzida. A terceira matéria tem como título: Um olhar sobre o futuro. Contra as previsões apocalípticas, há uma esperança: a inventividade humana pode mudar tudo. 30 O argumento central é o de que a humanidade sofre mesmo de uma tendência ao catastrofismo, sempre prestando atenção aos profetas do fim do mundo. Entretanto, a inteligência humana possui meios de contornar as desgraças e, entre os exemplos contemporâneos, estão os eletrodomésticos mais econômicos e, num futuro próximo, os automóveis movidos a hidrogênio. A quarta matéria é um infográfico mostrando dados sobre a devastação da floresta amazônica. A quinta matéria trata das novas epidemias disseminadas pela excessiva interferência humana no meio ambiente. Uma dessas epidemias, a do vírus do Nilo Ocidental, surgiu em 1937 em Uganda e a partir de 1999 ganhou os Estados Unidos. “Nos últimos anos, sua transmissão tem sido facilitada pelo aquecimento global, que propiciou a proliferação dos mosquitos transmissores da doença”. A quinta e a sexta matérias tecem longas considerações sobre os ritmos alarmantes do desmatamento amazônico, responsável pela severa estiagem daquele ano. Por fim, a última matéria aborda o sucesso econômico do plantio de florestas de eucalipto e pinus para as indústrias de papel e celulose. Veja, 28 de dezembro de 2005 O ano em que... a natureza se vingou. Na edição de retrospectiva 2005, a matéria dedicada às questões ambientais é uma seqüência de cinco fotografias de duas páginas inteiras, cada uma acompanhada por um pequeno texto. As três primeiras referem-se ao tsunami que atingiu o sul da Ásia na virada do ano; a quarta refere-se ao terremoto de 7,6 graus na escala Richter que atingiu a Cachemira em outubro, e a última mostra a cidade de Nova Orleans completamente alagada após a passagem do furacão Katrina em agosto. Nos textos, afirma-se que “Em 2005, catástrofes naturais de grandes proporções serviram para colocar um pouco de humildade na soberba humana”. O furacão Katrina deixou mais de 1300 mortos e inundou 80% da cidade de Nova Orleans com um volume de água suficiente para abastecer a cidade de São Paulo durante dois meses, trazendo à tona um dos perigos do aquecimento global. 7 – Considerações Finais Nesta explanação, abordou-se diversos temas sobre Mitos e Mídia com o intuito de informar ao estudante no que tange ao que é científico e o que é especulação da Mídia. Estes fatos devem ser levados em conta quando estiver formando uma opinião sobre qualquer assunto e principalmente sobre o tema do curso de “Mudanças Climáticas”. Levantou-se estes diversos questionamentos, principalmente porque os temas estão se perpetuando nas salas de aulas e livros didáticos. Ou seja, com 31 todo este alarde, os livros didáticos estão completamente recheados com este lixo de informação. Tais problemas irão atingir em cheio às atividades dos docentes do ensino médio e fundamental. O Ministério da Educação vem tentando barrar estes tipos de publicações didáticas, mas não consegue resultados satisfatórios. As editoras entram na Justiça utilizando a Lei de Imprensa com o argumento de que se trata de “liberdade de imprensa”. Com isto, conseguem publicar e difundir tais materiais que nem sequer lançam uma dúvida no que descrevem. O governo brasileiro, em diversas esferas, tem tomado medidas que beneficiam estes interesses e aproveitam do alarde para conseguir cumprir outros objetivos, muitos destes, perigosos como cercear direitos civis e geração e cobrança de novos impostos. Uma das ferramentas utilizadas é a Agenda 21. Formam Leis com propósitos de fazer cumprir as exigências que tentarão “deter as mudanças climáticas”. Ora, isto é absurdo! O que se lança aqui é a seguinte idéia e que deve ser combatida por todos: desde quando a Meteorologia vai ditar regras de como devem viver todas as sociedades do planeta?! Desde quando modelos estúpidos, gerados em supercomputadores são dignos de ser a realidade? Perdeu-se o completo discernimento do que é real e do que é imaginário? Seria este o ápice de alienação em que se mergulharam as sociedades ocidentais? Um Homem tão desligado da Natureza que agora ela é tratada como um inimigo a ser vencido? Termina-se esta explanação com a seguinte indagação: A Natureza tornou-se um outro desafio... OU É o sistema o qual estamos mergulhados até o pescoço que nos afasta cada vez mais dela? 8 – Agradecimentos Em especial, Profª. Daniela de Souza Onça pela publicação, na íntegra, de parte de seu relatório de qualificação de mestrado que contribuiu em um dos capítulos deste resumo. ================================ Ricardo Augusto Felicio Prof. Dr. Depto Geografia – FFLCH – USP [email protected] 32