EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Luciano Zamberlan Ariosto Sparemberger Pedro Luís Büttenbender Adriano Wagner RELAÇÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRONEGÓCIO Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2009 1 EaD Adriano 2009, Editora Unijuí Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: [email protected] www.editoraunijui.com.br Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Revisão: Véra Fischer Designer Educacional: Liane Dal Molin Wissmann Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí R382 Relações de marketing na cadeia do agronegócio / Luciano Zamberlan ... [et al.]. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2009. – 122 p. – (Coleção educação a distância. Série livrotexto). ISBN 978-85-7429-774-3 1. Ag ro neg ó c io . 2. M a rke ting . 3. S is t ema s agroindustriais. 4. Agronegócio cooperativo. 5. Consumidores – comportamento. I. Zamberlan, Luciano. II. Título. III. Série. . 2 CDU : 631.145 658.8 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................5 CONHECENDO OS AUTORES ....................................................................................................7 O QUE VAMOS ESTUDAR .........................................................................................................15 UNIDADE 1 – SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS .....................................................................17 Seção 1.1 – Conceitos e Definições dos Sistemas Agroalimentares .......................................18 Seção 1.2 – O Agronegócio Brasileiro ........................................................................................22 UNIDADE 2 – ORGANIZAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E CONCORRÊNCIA NO SISTEMA AGROALIMENTAR (SAG) .................27 Seção 2.1 – Organização Industrial no Agronegócio ..............................................................28 2.1.1 – Razões para que as taxas de retorno sejam diferentes inter e intra-indústrias ..............................................................30 2.1.2 – Tipos de mercados .......................................................................................34 Seção 2.2 – O Processo de Comercialização no Agronegócio .................................................36 2.2.1 Particularidades dos produtos agroindustriais ...........................................36 2.2.2. Papel e desafio da comercialização de produtos agroindustriais ...........38 2.2.3 Políticas públicas ............................................................................................40 Seção 2.3 – Estratégias de Concorrência e Competitividade ..................................................43 2.3.1 Estratégias de concorrência ..........................................................................44 2.3.2 Estratégias de crescimento ............................................................................45 UNIDADE 3 – MARKETING NO AGRONEGÓCIO ................................................................49 Seção 3.1 – Marketing ..................................................................................................................51 Seção 3.2 – O Marketing e os Sistemas Agroindustriais .........................................................51 Seção 3.3 – Segmentando e Selecionando Mercados-alvo .....................................................53 3 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der 3.3.1 – A importância da segmentação de mercado ............................................54 3.3.2 – Bases para segmentação do mercado industrial .....................................56 Seção 3.4 – Gerenciamento de Canais de Marketing ..............................................................59 Seção 3.5 – Conhecendo o Comportamento do Consumidor ..................................................65 Seção 3.6 – O Composto de Marketing do Agronegócio .........................................................66 UNIDADE 4 – O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NO SAG ...............................73 Seção 4.1 – Definições e Conceitos Básicos ...............................................................................73 Seção 4.2 – Processo de Compra do Consumidor .....................................................................76 Seção 4.3 – Consumidor Industrial nos SAGs ...........................................................................78 Seção 4.4 – Algumas Mudanças no Mercado Consumidor de Produtos Agroalimentares .................................................................................79 4.4.1 – Avaliação de atributos na aquisição de alimentos por parte do consumidor ....................................................82 4.4.2 – A preocupação com a segurança dos alimentos .....................................84 4.4.3 – Assimetria de informações entre produtores, agroindústria e consumidores ..................................................................88 4.4.4 – O consumidor “verde” ................................................................................89 UNIDADE 5 – O AGRONEGÓCIO COOPERATIVO ...............................................................95 Seção 5.1 – Conceitos e Definições de Cooperativismo ...........................................................96 Seção 5.2 – A Cooperação nos Agronegócios ......................................................................... 101 Seção 5.3 – Redes no Ambiente Cooperativo ......................................................................... 108 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 117 4 EaD Apresentação RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A agroindústria deve estar relacionada com todo processo produtivo, para assim aumentar o desempenho e com condições de competir no mercado. Isso só é possível se há um contato direto com o setor de produção rural, para assim auxiliar os produtores com novas pesquisas, facilitando adaptação dos novos produtos ao meio em que está em constante mutação. Dentro da cadeia alimentar deve-se conhecer os clientes, os concorrentes, mercadoalvo, a distribuição e outros, através da pesquisa e do uso dos compostos de marketing. Nos sistemas agroindustriais o marketing é de grande utilidade, pois cria e melhora o fluxo de informações auxiliando as organizações em todo o sistema. Os sistemas agroindustriais envolvem toda e qualquer participação de organizações, em oferecer produtos ou serviços que venham a satisfazer as necessidades do consumidor. Segundo Batalha (2001, p. 32), “O sistema agroindustrial pode ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para a produção de insumos até a chegada do produto final ao consumidor ”. Para toda organização, o marketing facilita e estimula as negociações tornando as relações mais próximas com o consumidor. Também o marketing dá maior velocidade às adaptações necessárias para o sistema agroindustrial, às mudanças do ambiente tanto internas como externas. Lembram Megido & Xavier (2003, p. 130) que “Um bom profissional de Marketing, atualizado, tem o instrumental para operar no sistema de agribusiness. O vital é estar atento aos efeitos da cadeia competitiva em todos os seus elos e não negligenciar o conhecimento e o controle sobre tudo o que está antes e depois de sua posição, dentro do sistema agribusiness”. Com esses conceitos percebe-se a importância do marketing como papel de auxiliar a organização no fluxo de identificação, coleta, análise e disseminação sistêmica e objetiva dos dados que envolvem todo o processo no agronegócio. 5 EaD 6 Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der EaD Conhecendo o Professor RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Adriano Wagner Nasci no município de Santo Cristo. No ensino médio me formei em Auxiliar de Contabilidade pela Escola Estadual Leopoldo Ost. Logo após ingressei no ensino superior e me formei em Administração pela Unijuí – Campus Santa Rosa no ano 2000. No mesmo ano, também na Unijuí, ingressei no curso de Especialização em Comércio Exterior. Em 2002 fui admitido no curso de Mestrado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Defendi minha dissertação em março de 2004. Atuei em duas grandes empresas varejistas do estado do Rio Grande do Sul. Tive a oportunidade de aprender muito sobre gestão estratégica e de operações em organizações varejistas como colaborador das Lojas Quero-Quero e Lojas Becker. Na Unijuí atuei como colaborador em dois momentos distintos. Primeiro trabalhei no Programa Extensão Empresarial. Neste projeto desenvolvi vários trabalhos de consultoria em empresas industriais da Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul. Após ter vivido por mais de dois anos na cidade de Pato Branco, estado do Paraná, retornei para a Unijuí para trabalhar como professor e pesquisador. Em Pato Branco trabalhei na Fadep – Faculdade de Pato Branco. Lá iniciei minhas atividades como professor no ensino superior. Na Uni juí , como professor, trabalhei os compone nte s curriculares de Administração da Produção e Operações, Logística, Gestão da Qualidade e Planejamento Organizacional. Como pesquisador, participei de projetos voltados ao Estudo da Acumulação de Competências, Arranjos Produtivos Locais e Agronegócio. 7 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Atuei como coordenador-adjunto do curso de Administração do Campus Santa Rosa. Coordenei também o curso de Pós-Graduação Lato Sensu MBA em Gestão Industrial. Também fui membro do Conselho Universitário da Unijuí. Atualmente exerço minhas atividades como docente no Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul. 8 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Ariosto Sparemberger É natural de Ijuí (RS), onde cursou o Ensino Fundamental e Médio. Realizou curso superior, incluindo Pós-Graduação em Administração na Unijuí. Em 2000 obteve o título de mestre em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é aluno do Programa de Doutorado na Universidad Nacional de Misiones (Unam) – Argentina. Sua atuação profissional é dividida basicamente em duas fases distintas. Com a conclusão do curso superior em Cooperativismo, começou a trabalhar no sistema cooperativo gaúcho, no qual atuou por 12 anos. Seu local de trabalho foi a Cooperativa Tritícola Regional Sãoluizense Ltda., com sede administrativa no município de São Luiz Gonzaga (RS). Nesse período foi escolhido como funcionário destaque por dois anos consecutivos, em 1993 e 1994, por ter desenvolvido diversos programas de melhorias no gerenciamento de processos, como: programas de redução de custos, aumento de receitas e atendimento ao cliente interno e externo. Atuou no setor de Comunicação e Educação e na área comercial gerenciando a Rede de Supermercados da Cooperativa Tritícola Regional Sãoluizense Ltda. por três anos, período no qual participou de cursos voltados para a melhoria dos processos de trabalho. Tem formação como multiplicador do Total Quality Control (TQC), Desenvolvimento Interpessoal para Chefias e Administração de Vendas. Teve uma breve passagem pelo serviço público estadual, atuando como chefe administrativo da 32ª Delegacia de Educação com sede em São Luiz Gonzaga, quando elaborou, coordenou e executou um Programa de Qualidade na Educação, que proporcionou diminuição no fluxo de documentos internos, redução de erros na realização das atividades desenvolvidas pelos servidores e melhoria no atendimento aos diretores, professores, funcionários de escolas e público em geral. Ingressou no Ensino Superior na Universidade 9 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões (URI) – São Luiz Gonzaga – em 1998, atuando como professor e coordenador do curso de Administração. Desempenhou as mesmas funções na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) – campus de Carazinho – por dois anos. Na Unijuí é professor desde 2001, tendo ocupado a função de coordenador-adjunto do curso de Administração do campus de Santa Rosa, atividade que desempenha atualmente no curso de Tecnologia em Agronegócio. Foi coordenador do curso de Pós-Graduação em Marketing. Atualmente é um dos coordenadores do curso MBA Gestão de Varejo. Desenvolve projetos de pesquisa e de extensão na área da Gestão Organizacional. Representa o curso de Administração – campus Santa Rosa – no Conselho Regional de Administração. O professor é casado com Odete de Fátima Sparemberger, professora estadual e tem dois filhos, Alan Ricardo Sparemberger, de 18 anos, e Cristian Sparemberger, de 16 anos. Os dois são torcedores do Grêmio, mesmo time do pai e da mãe. 10 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Luciano Zamberlan Gaúcho, natural do município de Três de Maio, região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Nesta cidade é que desenvolvi parte de minha formação educacional. Cursei o segundo grau no curso Técnico de Contabilidade do Colégio Cenecista Monteiro Lobato e graduei-me em Administração na Sociedade Educacional Três de Maio no ano de 1994. Nesta mesma instituição realizei dois cursos de especialização. No ano de 1996, em parceria com a Universi dade Fe deral do Rio Grande do Sul (UFRGS), fiz parte do programa de pós-graduação em Gestão Empresarial com ênfase em Recursos Humanos. Em 1998, em convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina, participei do curso de especialização em Sistemas de Informação. Também foi nesta instituição que dei os primeiros passos na minha trajetória como professor. Comecei trabalhando em um Curso Técnico em Informática em 1995, sendo que dois anos mais tarde passei a ser docente no curso superior em Administração. Nessa mesma época, paralelamente às atividades de ensino, possuía uma empresa que prestava assessoria na área de marketing e publicidade. Nela desenvolvíamos pesquisas de mercado, marcas e embalagens para produtos, campanhas promocionais, cursos de qualificação e demais atividades de apoio à gestão mercadológica para empresas da região. No ano de 1999 ocorreram momentos realmente importantes para a minha vida. O primeiro deles foi meu ingresso na Unijuí, instituição que sempre admirei pela importância que tem para a região e pela qualidade de seus diversos programas. Desde então estou alocado ao DEAd – Departamento de Estudos da Administração, que abriga o Curso de Administração e o Programa de Formação Superior de Tecnologia em Gestão de Negócios. 11 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Motivado pelo ambiente de trabalho e pela incessante busca pelo aprimoramento contínuo da equipe de professores do DEAd, fui em busca de um curso de mestrado. E então ocorreu o segundo momento de grande relevância para minha carreira docente, que foi a minha inserção no Mestrado em Gestão Empresarial da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Estes acontecimentos me motivaram a aprofundar cada vez mais meus conhecimentos na ciência da Administração e a desenvolver pesquisas que contribuam para a formação dos alunos e para a gestão das organizações. Atualmente, sou doutorando em Administração e atuo como professor em cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de Administração de Marketing e Vendas, Pesquisa de Marketing, Serviços, Marketing Cooperativo, Marketing Governamental, Gestão de Produtos e Marcas, Marketing de Varejo, Endomarketing, Marketing Eletrônico e como coordenador de Estágios Supervisionados em Administração da Unijuí. Além das atividades de ensino, també m parti ci po ati vamen te de projetos de pe squi sa institucionais nas áreas de serviços e de agronegócios e também de um projeto de extensão na área do varejo. 12 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Pedro Luís Büttenbender Mestre em Gestão Empresarial (FGV-Epabe, 2001), Especialista em Cooperativismo (Unisinos, 1992) e Gestão Estratégica (Unijuí, 1995). Professor do Departamento de Estudos da Administração da Unijuí – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Pesquisador e autor de livros e artigos publicados na área da gestão, cooperativismo e desenvolvimento. Vivência e experiência profissional de atuação em cooperativas, nas áreas da gestão estratégica, gestão de pessoas, educação e comunicação cooperativa, e associado de cooperativas há mais de 20 anos. Cursa atualmente Doutorado em Administração, com pesquisa de tese na área da inovação, tecnologia e desenvolvimento, tendo o cooperativismo como uma das referências estratégicas. 13 EaD 14 Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der EaD O Que Vamos Estudar RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO UNIDADE 1 – SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Nesta unidade você irá estudar os principais conceitos de agribusiness e sistema agroalimentar. Para melhor compreender o conceito, o estudo apresenta a definição na concepção de diversos autores. Em seguida, são apresentados os principais desafios do agronegócio brasileiro e o potencial que o país possui no mercado para os produtos do setor. UNIDADE 2 – ORGANIZAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E CONCORRÊNCIA NO SISTEMA AGROALIMENTAR (SAG) Importante para o aluno, nesta segunda unidade, após a compreensão dos principais conceitos de agribusiness e de sistema agroalimentar, é entender o processo de comercialização dos produtos agroindustriais. Desta forma, nesta unidade é estudado o sistema de organização industrial no agronegócio e o processo de comercialização deste setor. Vamos entender também os principais conceitos de concorrência e estratégias de competitividade no agronegócio. UNIDADE 3 – MARKETING NO AGRONEGÓCIO Nesta unidade, vamos estudar inicialmente o conceito de marketing e a influencia deste nos sistemas agroindustriais. Em seguida, vamos conhecer o processo de segmentação e as estratégias utilizadas para selecionar o mercado-alvo. Vamos estudar também a forma de gerenciamento de canais de marketing, o comportamento do consumidor e os elementos do composto de marketing no agronegócio. UNIDADE 4 – O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR O consumidor é um agente importante para a competitividade e definição de estratégias no agronegócio. Portanto, nesta unidade vamos estudar os principais conceitos para a compreensão do campo de estudo do comportamento do consumidor e conhecer as caracte15 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der rísticas do comprador industrial. E, por fim, vamos entender as principais mudanças que estão ocorrendo no mercado consumidor de produtos agroalimentares, enfocando o aumento da exigência por parte dos indivíduos para a aquisição e uso de tais produtos. UNIDADE 5 – O AGRONEGÓCIO COOPERATIVO O sistema cooperativo participa de forma decisiva para o sucesso das cadeias do agronegócio brasileiro. Nesta unidade, Inicialmente vamos estudar os conceitos e definições de cooperativismo. Apresentaremos os principais elementos presentes no processo de cooperação nos agronegócios.E, por fim, vamos entender o conceito e a importância das redes no ambiente cooperativo. 16 EaD Unidade 1 RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Apre sentar os prin ci pai s concei tos de agrib us ines s e si ste ma agroalimentar para dar suporte à compreensão da estrutura da atividade. • Conhecer os principais desafios do agronegócio brasileiro e o potencial que o país possui no mercado para os produtos do setor. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 1.1 – Conceitos e Definições dos Sistemas Agroalimentares Seção 1.2 – O Agronegócio Brasileiro Para alcançar os objetivos propostos nesta unidade, iremos apresentar as contribuições de alguns dos principais autore s ace rca dos temas relacionados à ati vidade agroindustrial, bem como dos aspectos mercadológicos inerentes ao setor. O estudo destes tópicos que integram este livro estabelece um referencial teórico para o entendimento do setor agroalimentar. Sua construção busca fornecer a compreensão necessária para a análise dos fatores ligados ao agronegócio. A fundamentação teórica trata do aprofundamento dos conceitos de agribusiness e dos sistemas agroindustriais e serve como “pano de fundo” para o estudo das relações de marketing na cadeia do agronegócio. 17 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Seção 1.1 Conceitos e Definições dos Sistemas Agroalimentares A internacionalização da economia induz as organizações a buscarem vantagens competitivas que possam diferenciar suas ofertas dos concorrentes. Esta condição exige que as organizações desenvolvam estratégias que garantam sua sobrevivência e também o seu crescimento, dentro de um ambiente de incertezas e de constantes mudanças. Este cenário global expõe as empresas locais diante de atores externos, intensificando as atividades concorrenciais e ressaltando a importância de se obter uma grande quantidade de informações a respeito do mercado. Agrega-se a isso o fato de que o consumidor está demandando produtos de melhor qualidade a preços menores, o que obriga as empresas participantes do agribusiness a aumentar seus esforços no sentido de atender a essas demandas. Mas, para seguirmos adiante, iremos entender melhor essa palavra que nos acompanhará por todo este livro. O termo agribusiness surgiu em 1957, através do trabalho pioneiro dos pesquisadores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg (apud Lazzarini; Machado Filho, 1995, p. 278) que o enunciaram como sendo o conjunto de “atores e transações envolvidos na produção, no processamento e na distribuição de produtos de origem agropecuária, incluindo o setor de insumos, a produção rural, os mecanismos, comercialização e armazenagem, as indústrias processadoras, os atacadistas e os varejistas, além de todo o ambiente institucional anexo (regulamentações, normas, contratos, leis, políticas, etc.)”. Lazzarini e Machado Filho comentam que a abordagem sistêmica do agronegócio visa que agentes em um determinado sistema se organizem na busca de objetivos comuns. Para Davis e Goldberg (apud Batalha, 1997), a agricultura não poderia ser abordada de maneira indissociada dos outros agentes responsáveis pelas atividades que garantiriam a produção, transformação, distribuição e consumo de alimentos. As atividades agrícolas fazem parte de uma extensa rede de agentes econômicos que vão desde a produção de insumos, transformação industrial até armazenagem e distribuição de produtos agrícolas. 18 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Megido e Xavier (1998) adotam o termo agroindústria como sendo um setor da atividade econômica que engloba desde a produção de insumos, bens e serviços para a produção agrícola até o armazenamento, transporte, processamento e distribuição de produtos agroindustriais ou deles derivados. Ainda, é preciso conhecer o conceito de Sistema Agroindustrial de Alimentos, utilizado por Farina e Zylbersztajn (1992), que envolve o conjunto de componentes responsáveis pela produção de insumos e matérias-primas, industrialização e comercialização de alimentos, com o objetivo de atender às necessidades populacionais e garantir a subsistência do próprio sistema. De acordo com Neves et al (2000a), a abordagem de agribusiness reúne alguns elementos centrais que ajudam a elucidar sua estrutura: • Visão sistêmica: amplia-se o foco tradicional do setor agrícola para outros setores relacionados, como por exemplo a indústria de insumos, processadores e distribuidores, com o propósito de atender às exigências dos consumidores finais. • Foco de análise: envolve a clara definição do produto e mercado em análise, onde realiza-se um corte “longitudinal” no agribusiness, descrevendo diversos sistemas referentes a produtos específicos (ex.: sistema da soja, do leite, da carne suína, etc.). • Possibilidade de gerenciamento integrado: define que os sistemas agroindustriais são conjuntos de empresas inter-relacionadas, sendo, portanto, passíveis de gerenciamento. Um aspecto importante é a existência de fluxos ao longo do sistema, sejam de produtos e serviços, financeiros, de promoções, informações e outros que transitam pelos sistemas, em dois sentidos, seja do consumidor final para o setor de insumos ou vice-versa. • Foco analítico: caracteriza-se os sistemas agroindustriais como uma série de transações (T 1, T2 , etc.) que interligam setores específicos (indústria de insumos, produção rural, agroindústria, etc.), conforme pode ser observado na Figura 1. O foco nas transações permite descrever quais os arranjos organizacionais existentes para estabelecer os fluxos no sistema, enquanto o foco no setor permite uma análise das características de cada setor. É importante reconhecer o ambiente institucional, que define as “ regras do jogo” 19 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der influenciadoras do desempenho dos sistemas, tanto formais (leis, regulamentações, etc.) quanto informais (aspectos culturais, códigos de conduta, etc.). Existe ainda a influência do ambiente organizacional, no que diz respeito ao processo de ação coletiva das empresas do sistema por meio de associações, sindicatos e outras formas representativas de um ou mais setores do mesmo. • Análise comparada: pressupõe-se que não existe a “melhor ” forma de organizar as transações no sistema. A análise comparada parte dos atributos das transações e apresenta mecanismos alternativos para efetuar essas transações. • Inserção no ambiente institucional: a política agrícola do país deve ser considerada, pois este é um aspecto institucional que afeta o agribusiness de forma ampla. • Rapidez na adaptação: quanto mais rápido o sistema agroindustrial se adaptar à mudança, que sistematicamente cria ameaças e oportunidades, mais competitivo será. • Sub-recortes analíticos: com a intensa segmentação dos mercados consumidores, os sistemas tendem a desenvolverem produtos específicos de acordo com a exigência de cada segmento. Esse esforço por sistematizar em oito elementos centrais a estrutura do agribusiness, realizada por Neves et al (2000a), também foi realizado por Zylbersztajn (1995), e você confere o mesmo na figura a seguir. Ambiente Institucional (Constituição, aparato legal, regulamentações, tradições, costumes) Indústria de insumos T2 Produção agrícola T3 Indústria processadora T4 Distribuição Ambiente Organizacional (Organizações públicas e privadas, institutos de pesquisa, cooperativas) Figura 1 – Representação Analítica do Sistema Agroindustrial Fonte: Zylbersztajn (1995). 20 CONSUMIDOR T1 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A mudança das organizações pode ocorrer com maior rapidez, entretanto, as instituições mudam com mais dificuldade. Dessa forma, a dinâmica das empresas adapta-se ao ambiente institucional, mas também busca modificá-lo, exercendo pressões sobre o legislativo em busca de regras mais adequadas aos seus interesses (Zylbersztajn, 2000). O agribusiness não pode ser configurado como uma empresa ou setor isolado, mas sim como um sistema que está em sintonia com as variações do ambiente em que se insere. A v isão conte mporâne a de agribusi nes s coloca novos de safios para o setor agroindustrial. O aumento da integração da produção de insumos, da produção agropecuária, da agroindústria e da distribuição, bem como as constantes mudanças nos hábitos dos consumidores, tornam cada vez mais complexa a gestão das unidades de produção pertencentes ao sistema agroindustrial (Batalha, 1995). Conforme visto anteriormente, o sistema pode ser abordado sob diversas concepções, como: agribusiness, sistema agroindustrial, agronegócio, sistema agroalimentar e outros (Zylbersztajn, 2000). Não obstante as diferentes origens e contribuições teóricas existentes na literatura, destacamos neste livro a existência de várias características comuns que trazem contribuições para a melhor compreensão dos agronegócios. Neves et al (2000a) sugerem a mudança do termo sistema agroindustrial para sistema agroalimentar (SAG), pois este visa englobar as indústrias de alimentos e bebidas, sem dispensar os demais setores do agribusiness que não produzem alimentos ou bebidas, como couro, papel, borracha e outros. Segundo Zylbersztajn (2000), freqüentemente surgem dúvidas ao se estudar um determinado SAG no que diz respeito ao corte adequado a ser realizado. Segundo ele, a definição das dimensões dependerá dos propósitos do planejador. Se a meta for utilizar o conceito para formular políticas públicas, a delimitação pode ser feita para envolver os agentes no plano nacional. Caso o SAG seja fortemente atrelado ao ambiente internacional, é inevitável transpor as fronteiras e discutir o sistema de produção e distribuição dos diferentes países envolvidos. Assim, o SAG é, geralmente, focalizado em um produto e a dimensão geográfica dependerá de cada caso. 21 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Os SAGs mudam ao longo do tempo, conforme as relações entre os agentes (Figura 1) se modificam, seja por intervenção externa ou por mudanças tecnológicas. Os agentes dos SAGs mantêm uma intensa relação de cooperação, pois daí poderá depender seu sucesso individual, mas também ocorrem conflitos diante da constante disputa por margens, uma vez que o consumidor deverá irrigar todo o sistema com um fluxo monetário a ser distribuído entre os diferentes agentes que colaboram com a produção e distribuição produtos. Seção 1.2 O Agronegócio Brasileiro Considerando as mudanças e tendências do mercado, além da abertura econômica, é imprescindível que os sistemas agroalimentares construam e administrem vantagens competitivas para a viabilização de suas atividades e enfrentarem a concorrência externa. Conforme Pinazza e Araújo (1993), o Brasil já tem demonstrado sua competência em várias cadeias do agribusiness, como no complexo soja, papel e celulose, no açúcar, na cadeia de frangos e suínos, com um potencial de desenvolvimento para uma série de outras cadeias agroalimentares. Aliás, este é um setor no qual nosso país possui grandes perspectivas, com possibilidade de se tornar um dos principais fornecedores mundiais de alimentos (Neves et al, 2000a). O agronegócio brasileiro é uma atividade próspera e rentável. Com um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, o Brasil tem em torno de 400 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, sendo que uma boa parte ainda não foi explorada (campos, regiões não cultivadas). Esses fatores fazem do nosso país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados a suas cadeias produtivas. O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira e responde por um em cada três reais gerados no país. O agronegócio é responsável por grande parte do Produto Interno Bruto (PIB), das exportações totais e dos empregos brasileiros. Entre 1998 e 2003, a taxa de crescimento do PIB agropecuário foi de 4,67% ao ano. 22 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão expressivo no comércio internacional do agronegócio quanto o Brasil. Os números comprovam: em 1993, as exportações do setor eram de US$ 15,94 bilhões, com um superávit de US$ 11,7 bilhões. Em dez anos, o país dobrou o faturamento com as vendas externas de produtos agropecuários e teve um crescimento superior a 100% no saldo comercial. Esses resultados levaram a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) a prever que o país tem vocação para ser o maior produtor mundial de alimentos (Zamberlan et al, 2006). De acordo com Neves et al (2000a), o agribusiness é um setor que interioriza o desenvolvimento, distribui renda, gera emprego e traz inúmeros outros benefícios sociais (cada milhão investido, segundo o BNDES, gera em torno de 140 empregos). Porém, somente recursos naturais não bastam para gerar competitividade. Segundo o autor, produtividade e inovação são as palavras-chave para alcançar novos mercados, além da necessidade de respaldo a esses esforços por parte do governo. Farina e Zylbersztajn (1998) afirmam que a competitividade das empresas é o resultado de um conjunto de políticas públicas e privadas, individuais e coletivas. Neves (apud Souza, 1999), ao avaliar as perspectivas para o agribusiness brasileiro, relaciona os seguintes fatores críticos para o sucesso da agroindústria: • coordenação dos SAGs, buscando agilizar as informações, adaptação dos sistemas às novas tendências, redução de custos na negociação com o mínimo conflito; • rápida reestruturação dos SAGs brasileiros que apresentam forte ineficiência em termos tecnológicos e articulação estratégica dos seus atores; • necessidade de reconversão de sistemas que não apresentam futuro promissor, através de alteração geográfica ou a troca de atividades; • estabelecimento de parcerias para entrar em novos mercados, visando a obter redução de custos de ingresso, ganhos mais rápidos de expertise e sinergia, dentre outros; • inserção de marcas brasileiras no mercado internacional, buscando a exportação de produtos processados. 23 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Para Siffert Filho e Faveret Filho (apud Souza, 1999), os fatores considerados críticos de competitividade no sistema agroindustrial, definem características para o padrão de concorrência na agroindústria: • intervenção governamental, destacando que a agricultura é um dos setores que permanece sob forte influência do governo, o qual tem impacto direto nas indústrias processadoras; • baixas barreiras tecnológicas à entrada e crescentes barreiras de escala, observando que em muitos segmentos as barreiras de entradas não são elevadas em função da ampla difusão de pacotes tecnológicos, mas as economias de escala têm cada vez mais importância como fonte de barreiras à entrada, principalmente as ligadas à distribuição e aquisição de matérias-primas, atingindo também o segmento primário em que a pequena produção enfrenta problemas de produtividade frente à grande produção. Notam, ainda, que a logística de transporte, redes de fornecedores, administração de estoques, esforços de vendas e propaganda tornaram-se variáveis críticas à garantia de competitividade; • mudanças nos padrões de di stribui ção: cre scente conce ntração dos canai s de comercialização, com a ampliação da participação dos supermercados, que passam a apresentar forte poder de barganha, exigindo da indústria fornecedora desenvolvimento de marcas fortes junto ao consumidor, baixos custos e sistema de entregas bem estruturado para manutenção de sua competitividade; • mudanças nos padrões de consumo: novos hábitos e demandas dos consumidores, exigindo capacidade adaptativa das organizações, destacando-se os seguintes pontos: envelhecimento da população, redução do número de habitantes por domicílio, crescente intercâmbio cultural, crescente participação de mulheres no mercado de trabalho e intensificação da jornada de trabalho; para os autores, estas mudanças têm levado a alterações no perfil da demanda, destacando-se: crescente procura por produtos com baixo teor de gordura, dietéticos, de qualidade e convenientes, procura por porções individuais e por alimentos semipreparados, maior diversificação da oferta de alimentos e busca de refeições prontas para o consumo em função da grande mobilidade dos consumidores. 24 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO De acordo com Belik (1998), o SAG no Brasil passa por um processo de reestruturação, que envolve os aspectos tecnoprodutivo, financeiro e organizacional. O fator tecnoprodutivo é fundamentado na necessidade de constantes atualizações, apresenta investimentos em novas instalações, novos produtos e novas apresentações de produtos tradicionais. Cabe salientar que atualmente, os gastos com pesquisa por parte das firmas líderes estão crescendo em ritmo acelerado. Em relação ao aspecto financeiro, as alterações acontecem por meio de novas formas de alavancagem dos negócios, onde estão sendo criados novos instrumentos financeiros, permitindo uma ampliação do investimento original. Podemos destacar o grande volume de fusões, através de acordos operacionais, parcerias ou joint ventures, que definem um processo de centralização de capital. Belik (1998) destaca, ainda, o aspecto organizacional como sendo o de maior incidência de mudanças na indústria de alimentos, não só no país como em nível mundial. A produção está se dirigindo para um sistema de produção flexível, com estratégias de terceirização que possibilitam agilizar e reduzir custos, fornecer matéria-prima para o mercado global e segmentar o produto de acordo com as preferências do consumidor. No ponto de vista das empresas, surgem sistemas inovadores de gestão considerando os novos fatores (produção terceirizada, parcerias, acordos de distribuição, logística de abastecimentos, etc.). Dessa forma, a reestruturação organizacional estaria fundamentada, inicialmente, na flexibilidade e na mobilidade da produção, seguida de ganhos de produtividade na logística e na adoção de novas tecnologias. O grande desafio do agribusiness brasileiro será enfrentar o protecionismo imposto no comércio internacional, onde países emergentes como o Brasil continuarão a importar produtos subsidiados e a exportar para mercados protegidos, reduzindo sua competitividade no exterior (Jank; Nassar, 2000). Não cabe às empresas apenas a preocupação com ganhos em competitividade para sobreviver na globalização. Os efeitos de uma economia aberta são difundidos por toda a sociedade, alterando a postura e formas de conduta dos agentes públicos e privados, afetando inclusive o perfil dos profissionais demandados pelo mercado. 25 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Souza (1999) afirma que a condição de instabilidade e imprevisibilidade do mercado exige monitoramento constante das organizações, não de aspectos relativos ao seu setor, mas também, do sistema como um todo, para que sua posição possa ser defendida. Isto exige capacidade inovadora e trabalho cooperativo, em suma, uma nova postura para as organizações. Conforme Day (2001), existe a necessidade das empresas orientarem-se para o mercado através de opções estratégicas saudáveis e implantá-las de forma coerente e completa. Como você pôde perceber, esta primeira unidade forneceu subsídios para que você possa entender com segurança o que significa agribusiness, bem como perceber o alcance desse conceito e m uma ampla cadeia que vai desde a produção dos insumos até a comercialização do produto propriamente dito. E, é justamente sobre organização, comercialização e concorrência que trataremos na próxima unidade. 26 EaD Unidade 2 RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO ORGANIZAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E CONCORRÊNCIA NO SISTEMA AGROALIMENTAR (SAG) OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Oferecer o instrumental básico para a compreensão da teoria sobre organização industrial. • Proporcionar o entendimento do ambiente em que as organizações operam e as características de diferentes mercados e seus determinantes. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 2.1 – Organização Industrial no Agronegócio Seção 2.2 – O Processo de Comercialização no Agronegócio Seção 2.3 – Estratégias de Concorrência e Competitividade O Sistema Agroindustrial vem sendo estudado a partir de uma visão sistêmica. Entender o processo a partir desta visão requer o estudo dos elementos formadores e das transações entre os segmentos formadores das cadeias produtivas. Para isto, precisamos considerar o mercado e suas características bem como o processo da concorrência. Como você irá perceber, esta compreensão da concorrência e da competitividade favorece o desenvolvimento de estratégias para melhor posicionar a organização no ambiente. 27 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Seção 2.1 Organização Industrial no Agronegócio Para melhor entender a organização dos agentes do agronegócio e as transações entre os segmentos que formam as diversas cadeias produtivas é necessário o uso de uma abordagem sistêmica. Através desta abordagem é possível criar uma visão completa da forma que os agentes trabalham e se relacionam entre si. De acordo com Farina (2000), adotar uma abordagem sistêmica dos negócios agroindustriais, enfatizando as relações entre os segmentos constituintes da cadeia produtiva, pressupõe o conhecimento da organização e dinâmica interna de cada segmento. Para isto é importante entendermos que as transações entre segmentos da cadeia produtiva são moldadas pelos padrões de concorrência e crescimento, assim como pelo ambiente competitivo vigente dentro de cada um deles. Podemos estudar por exemplo a cadeia da soja, da laranja, suinícola, bovina, entre outras. Portanto, discutirmos a coordenação dos sistemas exige a análise e o entendimento dos condicionantes técnicos, organizacionais e estratégicos predominantes em cada um dos segmentos. Podemos iniciar nossa análise a partir do entendimento dos conceitos associados à formação da estrutura de mercado, o qual é definido como o espaço de troca entre os compradores e vendedores. O mercado é constituído de diversas características, tais como o tamanho e crescimento, lucratividade e estrutura de custos. No entanto, o mercado também é o espaço de concorrência entre as firmas que disputam os votos monetários dos consumidores de um determinado conjunto de produtos substitutos próximos entre si. Na visão de Farina (2000), a delimitação das fronteiras do mercado relevante tem de atender a dois critérios. O primeiro diz respeito ao conjunto de produtos que são considerados como substitutos suficientemente próximos para que as decisões de escolha do consumidor sejam influenciadas por seus respectivos preços e atributos de qualidade. Vejamos este exemplo: os leites pasteurizados e longa vida fazem parte do mesmo mercado? Equivale a pergunta se o preço do leite longa vida subir 10%, a demanda por leite pasteurizado subirá? Se a resposta for afirmativa, ambos estarão no mesmo mercado de produto, embora não sejam substitutos perfeitos. 28 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO O segundo critério diz respeito ao escopo geográfico, ou seja, qual a abrangência dos produtos neste mercado. Portanto, o mercado pode ser de âmbito local, regional, nacional ou global, dependendo do produto ou serviço comercializado. Para a soja em grão, certamente o mercado relevante tem fronteiras mundiais, enquanto o de leite pasteurizado é de âmbito local, em virtude de ele ser perecível, ter baixo valor unitário e elevado custo de transporte. Lembramos que a delimitação do mercado pode se alterar com o tempo, na medida em que as mudanças tecnológicas de conservação de alimentos e mesmo de transporte ampliam a vida útil do produto e integram regiões geograficamente distantes. Ou até uma determinada população de um país que antes não consumia um determinado produto, e passa a consumi-lo em razão da facilidade em adquirir o produto. Podemos citar como exemplo o leite longa vida em relação aos leites fluidos. Se é anti-econômico levar leite fluido pasteurizado do Rio Grande do Sul para o mercado de São Paulo, o mesmo não se pode afirmar sobre o leito fluido UHT, que é o leite em caixa. Se o consumidor considera o leite pasteurizado e o longa vida como produtos substitutos próximos, então o mercado relevante para leites fluidos se amplia. Outros fatores também podem alterar a dimensão do mercado. Mudanças de caráter institucional – tais como a abertura comercial ou a formação de blocos econômicos – podem também afetar as fronteiras do mercado relevante. Neste contexto, por exemplo, o Mercosul – Mercado Comum do Sul, certamente amplia o mercado de laticínios para um escopo regional. Entre as transações que acontecem no mercado, algumas são de caráter mais significativo em relação às demais. Neste sentido, o destaque para as transações econômicas que ocorrem no mercado que são comandadas pelo sistema de preços. O mercado é uma organização cujo principal instrumento de coordenação são os preços. As decisões de produção e consumo são orientadas e conduzidas pelo comportamento dos preços que também irá sinalizar oportunidades de lucro e atrair novas firmas para o mercado, orientando os investimentos. 29 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Na visão de Farina (2000), um mercado é considerado eficiente quando os preços refletem a informação instantaneamente e as oportunidades de lucro são rapidamente dissipadas pela ação de empresários que para ele dirigem seus investimentos. Portanto, ambientes competitivos tendem a igualar o lucro obtido em todos os mercados particulares e entre firmas. Em situações concretas, contudo, nem todas as indústrias e nem todas as firmas apresentam o mesmo desempenho, ainda que se considere o longo prazo. Portanto, o ganho e o retorno financeiro são diferentes para as indústrias, mesmo as que trabalham com o mesmo produto, por exemplo, na industrialização do leite. 2.1.1 – RAZÕES PARA QUE AS TAXAS DE RETORNO SEJAM DIFERENTES INTER E INTRA-INDÚSTRIAS O estudo da Teoria da Organização Industrial objetiva compreender a intensidade da concorrência entre as indústrias. Fatores como barreiras ou impedimentos à entrada no negócio, podem amenizar a pressão competitiva, estimulada por taxas de retorno atraentes dos segmentos ou das indústrias do setor. O foco principal está centrado sobre o ambiente competitivo. As teorias gerenciais baseiam suas explicações nas vantagens competitivas e capacidade de adaptação das firmas, enfatizando, portanto, sua conduta. Ou seja, é considerada uma abordagem “de fora para dentro”. A conduta depende da estrutura da indústria na qual a empresa atua, ou seja, do número e tamanho relativo dos concorrentes, compradores e vendedores, do grau de diferenciação dos produtos, da presença de barreiras à entrada de novas firmas, do grau de integração vertical existente, etc. Vamos explicar alguns elementos que orientam a intensidade da concorrência inter e intra-indústrias. 2.1.1.1 – Barreiras à Entrada Barreiras à entrada dizem respeito aos custos diferenciais que devem ser incorridos pelos ingressantes potenciais, mas que não afetam os concorrentes já estabelecidos. Entrar em um mercado significa adicionar capacidade produtiva. Portanto, a mera aquisição de uma firma já em operação no mercado não pode ser considerada uma nova entrada, restringindo-se a uma troca de propriedade. Neste caso não afeta de maneira direta os concorrentes. 30 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A gravidade da ameaça de entrada depende das barreiras existentes e da relação dos concorrentes estabelecidos que o novo participante pode antecipar. Portanto, a ameaça de entrada em uma indústria depende das barreiras de entrada existentes. Se as barreiras são altas, o recém-chegado pode esperar retaliação acirrada dos concorrentes na defensiva. Na visão de Farina (2000), barreiras ou impedimentos à mobilidade dizem respeito aos diferentes grupos e stratégicos que compõem uma indústria. Mobilidade pode ser entendido como a capacidade que a firma possui em operar com produtos diferenciados para atender outros segmentos. Em outras palavras, é o que difere as indústrias dentro do mesmo negócio. Tomemos por exemplo a industrialização do leite in natura em UHT, que utiliza o mesmo conjunto de variáveis, e se constitui como uma diferença de estratégia competitiva. Por exemplo: efeitos cumulativos de propaganda podem representar efetivas barreiras à entrada no segmento de marcas da indústria do queijo, mas não afetam a entrada no segmento commodity. As firmas que operam no segmento commodity, por Commodity Termo da língua inglesa que, como o seu plural commodities, significa mercadoria, é utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. Usada como referência aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. Estes produtos in natura, cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por determinado período sem perda significativa de qualidade. O que torna os produtos de base muito importantes na economia é o fato de que, embora sejam mercadorias primárias, possuem cotação e “negociabilidade” globais; portanto, as oscilações nas cotações destes produtos de base têm impacto significativo nos fluxos financeiros mundiais, podendo causar perdas a agentes econômicos e até mesmo a países. O mercado de derivativos surgiu como uma proteção aos agentes econômicos contra perdas provocadas pela volatilidade nas cotações dos produtos de base. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Commodity>. Acesso em: 18 nov. 2008. sua vez, enfrentam barreiras de mobilidade para o segmento de marcas, em geral, mais rentáveis. Um bom exemplo disso é uma empresa que atua no segmento de leite, mas enfrentou dificuldades para entrar no mercado de leite industrializado e concorrer com as marcas já existentes. Barreiras de Mobilidade Signifi ca que a empresa pode atuar n o segmento de leite, mas enfrenta dificuldades para entrar no merc ado de leite industrializado e concorrer com as marcas já existentes. 31 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der 2.1.1.2 – Economia de Escala As indústrias obtêm economias de escala quando o custo unitário decresce com o aumento da capacidade de produção. Ou seja, quanto mais se produz, menor é o custo por unidade produzida. Decorrem, em geral, da possibilidade de especialização de funções, indivisibilidades tecnológicas, economias de reserva de massa e vantagens pecuniárias associadas à aquisição de matérias-primas. As economias de escala podem estar presentes tanto no segmento agropecuário, industrial ou de serviços. A especialização de funções que gera ganhos de produtividade exige uma escala mínima de capacidade produtiva para que seja possível a divisão de trabalho. Por outro lado, as indivisibilidades tecnológicas estão associadas a equipamentos dimensionados para quantidades mínimas de produção. Como exemplo de indivisibilidades tecnológicas podemos considerar a pecuária leiteira que resfria o leite no próprio estabelecimento, o resfriador por expansão oferece um bom exemplo de indivisibilidade tecnológica. Digamos que o menor resfriador oferecido no mercado tem capacidade para 200 litros de leite, o que exige uma produção diária de pelo menos 100 litros/ dia, considerando a coleta a granel a cada dois dias. A média brasileira de produção por propriedade está bem abaixo desse volume. Além disso, o custo do equipamento declina à medida que a capacidade produtiva cresce, conferindo vantagens de custo aos produtores maiores. 2.1.1.3 – Economias de Escopo No contexto da organização industrial e das variáveis que ajudam a explicar a concorrência, podemos citar economias de escopo. Isto ocorre quando ativos produtivos (físicos ou humanos) são compartilháveis entre diferentes produtos. Nesta situação, podem surgir vantagens de custo multiproduto. Segundo Farina (2000), existem economias de escopo quando a produção conjunta de dois ou mais produtos resulta em custo menor do que a produção independente de cada um desses mesmos produtos. Decorre, em geral, da presença de insumos compartilhados e explica a existência de firmas multiproduto. 32 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Neste caso vários exemplos podem ajudar a explicar economias de escopo. Podemos citar a comercialização de leite longa vida e sucos de frutas também longa vida. O equipamento de embalagem pode ser compartilhado sem perda de eficiência, uma vez que dispõe de um sistema de autolimpeza que evita custos da parada do equipamento e retomada da operação. Esses produtos podem, também, compartilhar marcas, sistema de distribuição e expertise na negociação e comercialização, reduzindo o custo por produto. Também, em uma unidade frigorífica que produz um mix de produtos, utiliza-se dos mesmos equipamentos para realizar as diversas operações necessárias para industrializar os produtos que comercializa. 2.1.1.4 – Custos de Transação Custos de transação são os custos de fazer funcionar o sistema econômico e envolvem principalmente questões relacionadas aos fornecedores, aos preços e à qualidade. Segundo Farina (2000), qualquer empresa que mantenha um departamento de suprimentos sabe exatamente o custo de “comprar no mercado”. Não haveria custos de transação se os agentes econômicos fossem oniscientes (entendessem de tudo), se não houvesse incerteza e os ativos produtivos pudessem ser utilizados em diferentes atividades alternativas de tal modo que se um negócio não der certo, pode-se utilizar esses recursos em outros negócios, sem perda de valor. Um ativo é dito especializado quando seu valor é maior em um uso particular comparado com qualquer alternativa. Um investimento é especializado quando cria um ativo especializado. O grau de espe ciali zação é dado pe la pe rda de valor provocada pelo redirecionamento do ativo para outro uso. Quando um ativo é especializado em relação a uma atividade particular, cria-se um custo irreversível ou irrecuperável. Por exemplo: uma campanha publicitária para introduzir um novo produto no mercado. Trata-se de um custo irreversível que não poderá ser recuperado se a firma sair da atividade. Portanto, trata-se de um custo de saída do mercado que pode aumentar os riscos de entrada. 33 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Firma Pode ser entendida como um conjunto de contratos entre agentes especializados, que trocarão informações e serviços entre si, de modo a produzir um bem final. Eles poderão estar dentro de uma hierarquia, que é o que convencionalmente chamamos de firma, e, entretanto, estar fora dela, relacionando-se extrafirma, mas agindo motivados por estímulos que os levam a atuar coordenadamente (Zylbersztajn, 2000). 2.1.1.5 – Concentração de Mercados De acordo com Farina (2000), quanto maior o número de firmas, quanto mais homogêneo o produto, quanto menor a importância de barreiras técnicas (economias de escala/escopo) à entrada, tanto menor a capacidade de a firma fazer uma política de preços independente, ou ser estabelecida uma coordenação tácita ou expressa de preços (cartel). O mercado de commodities agrícolas é o exemplo desse tipo de organização de mercado denominada competitivo. Devido à facilidade de entrada de novos concorrentes, qualquer lucro acima do normal é dissipado rapidamente em decorrência do mercado buscar estabilizar os preços. Neste tipo de mercado, a liderança em custos é a estratégia a ser seguida para obter lucros diferenciais. Neste caso, qualquer excesso em custos resulta em lucros menores, já que não podem ser repassados aos preços finais. 2.1.2 – TIPOS DE MERCADOS Os oligopólios são estruturas de mercado que apresentam elevada concentração do lado da oferta, decorrente de vantagens de custo associadas ao tamanho da capacidade produtiva e/ou à diferenciação de produto. Podem ser classificados em três tipos: concentrados, diferenciados ou competitivos. O oligopólio com baixa ou nenhuma diferenciação de produto é denominado de oligopólio concentrado. Apresenta barreiras técnicas à entrada, permitindo a preservação de lucros diferenciais. Quando o produto é diferenciado, as barreiras à entrada ou à mobilidade combinam barreiras técnicas com barreiras de diferenciação e denomina-se oligopólio diferenciado como por exem34 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO plo na produção de tratores. Ainda outro tipo de oligopólio é o competitivo. Neste, a estrutura de mercado apresenta elevada concentração, mas com um grande número de firmas médias e pequenas que formam uma franja competitiva. A indústria de alimentos industrializados fornece um bom exemplo de oligopólio competitivo. As economias de escala na produção são pouco significativas, sendo que as grandes empresas utilizam múltiplas plantas produtivas de variados tamanhos. As barreiras estão na distribuição e, na diferenciação, mantendo as firmas menores em mercados locais ou regionais. O monopólio natural é definido como uma estrutura de mercado onde apenas uma firma opera com tamanho eficiente, em decorrência de elevadas economias de escala/escopo ou de economias de rede. Concentra-se mais nas utilidades públicas: distribuição de energia, telefonia e distribuição de água. Existe poder de monopólio quando um produtor ou grupo de produtores tem a capacidade de restringir um produto e elevar seus preços acima do nível de concorrência, sem que perca todos os seus clientes. Segundo Farina (2000), ao longo de um sistema agroindustrial, é de se esperar que características técnicas e organizacionais gerem organizações muito distintas entre os segmentos, tanto em relação aos padrões de concentração e diferenciação do produto quanto no que tange a barreiras à entrada e à mobilidade. Estas características fazem parte do ambiente competitivo das organizações dos segmentos agroindustriais. A estratégia competitiva visa alterar o ambiente dos segmentos a fim de oferecer condições para a obtenção e preservação de lucros diferenciados. Mas como se dá esse processo de comercialização no agronegócio? É o que você vai saber na próxima seção. 35 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Seção 2.2 O Processo de Comercialização no Agronegócio A princípio entendemos comercialização como a venda de um produto específico. Esta ótica mostra-se adequada quando o horizonte de análise se restringe às portas de uma empresa. Esse não é, no entanto, o caso quando se procura analisar uma cadeia produtiva de modo integrado. Portanto, é necessário estender o conceito de comercialização de modo a incorporar a transmissão do produto pelos vários estágios do processo produtivo. De acordo com Batalha (2001), quando falamos de cadeias agroindustriais, queremos destacar algumas peculiaridades da produção agroindustrial que tornam essas cadeias singulares frente às demais. Para este autor, vender e comprar não é uma tarefa trivial. Este processo, quando mal conduzido implica em prejuízo à empresa, mesmo sendo ela competitiva em termos de eficiência produtiva. Pode-se dizer que a eficiência relevante à empresa é mais abrangente do que somente a eficiência produtiva, embora esta seja um componente importante. O sucesso de uma empresa depende profundamente de sua eficiência na comercialização de seus insumos e produtos. Para melhor entendermos a fase de comercialização, vamos mencionar a particularidade e a caracterização dos produtos agroindustriais. 2.2.1 – PARTICULARIDADES DOS PRODUTOS AGROINDUSTRIAIS É muito fácil perceber os diferenciais dos produtos agroindustriais. Uma grande maioria consiste em produtos alimentares, mas outros – como tecidos ou borracha – atendem outros anseios dos consumidores. Outros são perecíveis, como os derivados de leite, enquanto outros podem ser estocados por mais tempo sem cuidados exagerados, como o café. Outros demandam apenas um acondicionamento adequado, como frutas in natura. Os produtos agroindustriais são de primeira necessidade e, portanto, uma variação no preço dos mesmos não afeta intensamente a quantidade consumida, pois são bens de primeira necessidade. Neste caso, a demanda é caracterizada por uma relativa estabilidade. 36 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Vamos imaginar o caso de uma família que possua alguma renda e planeje a compra de um microondas. Ela pode deixar de comprar este eletrodoméstico se este subir de preço, mas dificilmente deixaria de comprar arroz ou feijão, mesmo diante de uma alta de seus preços. Isso significa que, no caso de uma escassez do produto agroindustrial, os preços têm de subir muito a fim de limitar o consumo. O inverso também é verdadeiro. Se os produtos agroindustriais são muito abundantes, o preço tende a cair relativamente bastante a fim de in duzi r se u consumo. E m sum a, como a qu anti dade de man dada pelos produtos agroindustriais não varia significativamente em relação ao preço – em comparação com a variação da demanda dos demais produtos – este preço varia consideravelmente diante de pequenas alterações na quantidade ofertada. Já em relação à oferta dos produtos agrícolas, esta é dependente de elementos que interferem na produção e na comercialização: (a) condições climáticas e (b) período de maturação dos investimentos. De acordo com Batalha (2001), no primeiro caso (condições climáticas) os avanços tecnológicos e a intensificação do uso de capital na atividade agrícola têm permitido a redução desse efeito aleatório dado pelas condições climáticas. Técnicas de irrigação amenizam o efeito de variações pluviométricas sobre a produção agrícola. No entanto, excluindo a produção em estufas – economicamente inviável para grandes volumes de produção – a atividade agrícola ainda depende profundamente das condições climáticas. No segundo caso, a natureza impõe um espaço de tempo entre a decisão de investir e a efetiva produção agrícola. De um lado, o investimento não pode ser realizado em qualquer período do ano. De outro lado, a maturação do investimento depende da maturação biológica de seus componentes, sejam plantas ou animais. Aqui também a inovação tecnológica tem reduzido a dependência da produção agrícola com relação à natureza, através do desenvolvimento de novas variedades de plantas e animais. No entanto, a atividade agrícola ainda está longe da linha de produção industrial, onde o empresário pode controlar com maior acuidade o tempo, a quantidade e a qualidade da produção. Devemos citar ainda a questão da sazonalidade visto que a produção agrícola concentra-se em algumas épocas do ano. 37 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der O café, por exemplo, tem sua colheita na entrada do inverno. A carne bovina, por sua vez, tem o pico da safra durante o outono, quando as chuvas começam a escassear. Essa característica denominada sazonalidade, é um determinante fundamental do comportamento do preço. A comercialização de produtos agroindustriais, necessariamente, subordina-se ao comportamento sazonal da oferta agrícola. O ritmo da produção, das vendas e a formação de estoques caminham conforme o ritmo dado pelas estações do ano. 2.2.2 – PAPEL E DESAFIO DA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS AGROINDUSTRIAIS Batalha (2001) argumenta que o principal desafio na comercialização de produtos agroindustriais é conciliar uma demanda relativamente estável com uma oferta agrícola que flutua sazonal e aleatoriamente. De um modo geral, os mecanismos de comercialização de produtos agroindustriais desenvolveram-se para dar conta desse problema característico aos mercados agroindustriais. Alguns mecanismos são apresentados para reduzir a incerteza e irregularidade da oferta de produtos agroindustriais. A escolha do mecanismo de comercialização, portanto, não é aleatória. Sua escolha responde a um critério de eficiência econômica de importância crucial e, portanto, a própria sobrevivência dos atores que a compõem. Apresentaremos, a seguir, as três principais formas de transações de produtos agrícolas: transações de commodities; mercado spot e mercado de futuros. 2.2.2.1 – Transações de Commodities Segundo Batalha (2001), a palavra commodity – mercadoria, em inglês – adquiriu um sentido mais específico no jargão do comércio. Nem todas as mercadorias são commodities. Para que uma mercadoria possa receber essa qualificação é necessário que ela atenda a pelo menos três requisitos mínimos: a) padronização em um contexto de comércio internacional; b) possibilidade de entrega nas datas acordadas entre comprador e vendedor, e c) possibilidade de armazenagem ou de venda em unidades padronizadas. 38 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Frutas, por exemplo, não são commodities porque são perecíveis, não atendendo ao terceiro requisito. No entanto, o suco de laranja concentrado e congelado, por permitir armazenamento, é transacionado como uma commodity. 2.2.2.2 – Mercado Spot A palavra spot – ponto, em inglês – é empregada em economia para qualificar um tipo de mercado cujas transações se resolvem em um único instante do tempo. O mercado spot é tipicamente esporádico. Mesmo que a compra se repita, não há obrigatoriedade de compra futura. Se não bastasse o fato de ser esporádico, o mercado spot de produtos agroindustriais também apresenta uma alta dose de incerteza no que se refere ao comportamento dos preços. Por exemplo, quando vamos a uma feira, compramos e pagamos uma dúzia de laranjas, estamos realizando uma transação desse tipo. Eventualmente, podermos retornar ao mesmo vendedor, na semana seguinte, e comprar mais algumas laranjas, mas a transação resolveu-se naquele instante de tempo. Agora vamos tomar por exemplo o caso de um moinho, que tem no trigo seu principal insumo. Esse moinho vende seu produto, a farinha de trigo, para uma indústria de massas. A indústria, a fim de aproveitar melhor sua capacidade instalada, pode exigir um contrato de fornecimento contínuo de farinha a um preço pré-especificado. Para o moinho, esse tipo de contrato pode ser interessante na medida em que ele poderia também se aproveitar dos ganhos no planejamento da produção. No entanto, se suas compras de matéria-prima forem realizadas apenas através do mercado spot, o moinho está sujeito a riscos muito elevados de continuidade de suprimento e de elevação do preço do trigo. Se as condições do tempo forem adversas e houver uma quebra da safra de trigo, é de se esperar uma alta elevação de seu preço. O moinho se defrontaria, então, com um preço alto de sua matéria-prima, mas com o compromisso de entrega da farinha ao preço fixado anteriormente. O risco de prejuízo, portanto, não é desprezível. 39 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der 2.2.2.3 – Mercado de Futuros Na visão de Batalha (2001), ao contrário do mercado spot, em que as transações se consumam em um instante do tempo, outros mercados têm como referência dois ou mais instantes no tempo. São contratos em que as partes acordam que alguns ou todos os elementos da transação podem ocorrer no futuro. Comprador e vendedor podem detalhar um contrato especificando a mercadoria, a data da entrega, o local, o meio de transporte, o meio de pagamento e qualquer outro elemento que ambas as partes desejem incorporar ao contrato. Segundo este autor, outra característica importante do mercado de futuros é o fato de menos de 3% dos contratos resultarem na entrega efetiva da mercadoria. A maior parte dos contratos é cancelada antes da data de entrega através da compra de um contrato idêntico ao anterior, o que permite a transferência do dever de entrega da mercadoria para a parte de quem esse último contrato foi comprado. Nesta seção, que trata sobre os processos de comercialização no agronegócio, você já conheceu quais são as particularidades desses produtos na subseção 2.2.1; pôde perceber quais são os papéis e os desafios para os atores envolvidos nesse processo (subseção 2.2.2). Agora, para concluir essa seção, vamos conhecer as implicâncias das políticas públicas no agronegócio. 2.2.3 – POLÍTICAS PÚBLICAS O processo de comercialização de produtos agroindustriais, como qualquer outro negócio, está sujeito à ação de políticas públicas. Segundo Batalha (2001), este fato se deve a dois tipos de motivos: o primeiro ligado ao consumo de produtos agroindustriais e o outro ligado a problemas em sua produção. O primeiro motivo está relacionado ao fato de que os produtos agroindustriais são predominantemente produtos alimentares exercendo grande importância social – como segurança alimentar e distribuição de renda e saúde. Políticas de combate à desnutrição e à fome freqüentemente se preocupam com a disponibilidade de alimentos à população. 40 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Neste mesmo sentido, o item distribuição de renda relaciona-se com a produção agroindustrial na medida em que os alimentos são o componente mais relevante dos gastos das famílias mais pobres. Portanto, uma redução do preço dos alimentos equivale a uma redistribuição de renda, uma vez que melhora a capacidade aquisitiva das famílias mais pobres relativamente mais do que a das demais famílias. Além disso, por se tratar da alimentação humana, o setor agroindustrial está mais sujeito às regulamentações sociais, como aspectos de controle sanitário. Em outras palavras, a questão sanitária impõe regras e limites que a comercialização de produtos agroindustriais deve observar. Desta forma, as políticas públicas estão presentes no setor agroindustrial, principalmente em função da volatilidade característica dos preços dos produtos agrícolas, principal insumo da produção agroindustrial. Portanto, o estado freqüentemente elabora políticas de intervenção com o objetivo de estabilizar esse mercado. As mais importantes dessas políticas na história recente do Brasil são as políticas de garantia de preços mínimos e de estocagem da produção. Pelo modo como são concebidas, essas políticas são indissociáveis e, portanto, devem ser analisadas em conjunto. Vamos explicar melhor estas políticas públicas. 2.2.3.1 – Preços Mínimos Batalha (2001) cita o fato de que a política de garantia de preços mínimos (PGPM) existe no Brasil desde os meados da década de 60, embora tenha assumido um papel de destaque na política agrícola a partir de 1979, com o esgotamento do sistema de crédito agrícola. A PGPM parte de um conjunto de medidas para estimular a produção agrícola e tem como principal objetivo a redução do risco associado à volatilidade dos preços agrícolas. O que orienta essa política é a antecipação de um preço, calculado a partir dos custos de produção e condições gerais do mercado, ao qual o Governo Federal garante a compra da produção através das Aquisições do Governo Federal (AGF’s). Essa política estimula a produção agrícola de dois modos: de um lado ela implica a redução do risco de perda associada a preços deprimidos como decorrência das safras abundantes, de outro, ela implica a elevação do preço esperado do produto agrícola em função dos custos de produção e do mercado. 41 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der 2.2.3.2 – Liberação de Estoques Outra política pública utilizada pelo governo em relação aos produtos agroindustriais está relacionada com o processo de liberação de estoques. De acordo com Batalha (2001), a aquisição de produtos agrícolas pelo governo, através da PGPM, tem como decorrência a formação de estoques por parte do governo. A liberação desses estoques de produtos agrícolas deve obedecer a uma regra similar àquela adotada para se orientar a aquisição dos produtos. Deve-se fixar um preço antecipado – obtido a partir das condições gerais do mercado – ao qual o governo compromete-se a vender seus estoques. Desse modo, o preço estabelecido para a liberação dos estoques funciona como um preço máximo de mercado, na medida em que aqueles interessados em comprar o produto agrícola podem recorrer à compra dos estoques do governo se o preço de mercado atingir esse patamar. O estabelecimento de uma política de liberação de estoques (PLE) tem dois efeitos sobre a comercialização dos produtos agrícolas. Do mesmo modo que a PGPM, a garantia de um preço máximo reduz o risco associado à volatilidade dos preços agrícolas. Por outro lado, ao contrário da PGPM, a PLE deprime o preço esperado do produto agrícola. Apesar dos princípios que regem a condução da PGPM e da PLE serem claros e consistentes, no Brasil as duas políticas têm sido subordinadas às políticas de combate à inflação. Na história recente, houve liberações de estoque mesmo durante o período de safra por ser conveniente uma queda do preço dos alimentos para a sobrevivência de curto prazo de alguns planos de estabilização econômica. Como conseqüência, não tem sido possível prever as regras que orientam a política de comercialização agrícola, o que aumenta, ao invés de diminuir, os riscos enfrentados pelos agentes do sistema agroindustrial. Cabe, fi nalme nte, come ntar que o governo possui elementos para estimular a estocagem dos produtos agrícolas pelos próprios agentes privados. Esse tipo de política, quando bem implementada, reduz a necessidade da formação de estoques pelo governo para contornar o problema do risco de flutuação de safras. Um dos principais instrumentos para estimular a estocagem privada foram os Empréstimos do Governo Federal (EGF’s) que 42 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO consistem em empréstimos oferecidos ao setor agrícola no período de safra, possibilitando aos produtores a estocagem de seu produto para venda na entre-safra, quando os preços forem mais altos. Para finalizar esta unidade, que já abordou a organização e a comercialização no SAG, passaremos ao estudo de sua última seção, que tratará da concorrência. Seção 2.3 Estratégias de Concorrência e Competitividade Nesta etapa vamos oferecer a você uma visão geral sobre a questão da competitividade e da concorrência, bem como algumas estratégias utilizadas pelas empresas atuantes nos agronegócios, em um contexto de concorrência acirrada. Segundo Porter (1999), a competição no agronegócio se intensificou de forma drástica ao longo das últimas décadas, em praticamente todas as partes do mundo. Uma das ações possíveis é desenvolver estratégias de concorrência e de competitividade. Na visão de Porter (2001), o principal desafio que as empresas enfrentam é ter uma estratégia competitiva; esta, segundo ele, é a grande arma das empresas no ambiente competitivo. A estratégia competitiva, então, não só responde ao meio ambiente, mas também tenta modelar este ambiente em favor de uma empresa. Para Azevedo (2000), a concorrência é a alma do funcionamento dos principais meios em que operam os negócios. É através dela que os sistemas econômicos conseguem garantir estímulos necessários para que as empresas reduzam custos, aumentem a qualidade e procurem desenvolvimentos tecnológicos constantemente. Essa sua característica fez com que houvesse uma preocupação em assegurar ambientes econômicos concorrenciais nos principais mercados, o que serviu como base para o surgimento de um sistema de defesa da concorrência, cujo principal organismo no Brasil é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). 43 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der No âmbito das organizações, a concorrência assume um duplo caráter. De um lado, trata-se da principal ameaça aos lucros e à própria sobrevivência das empresas, as quais, como conseqüência, via de regra, querem se ver livres dela, elaborando estratégias que buscam, em última análise, o desmantelamento de seus principais concorrentes. De outro lado, a concorrência é o meio pelo qual uma empresa pode crescer, ampliar sua participação em seu mercado corrente ou mesmo conquistar novos mercados. Muitas vezes, a palavra concorrência vem associada ao termo competitividade, o que pode ter induzido o seu uso errôneo como sinônimo. Porém, há uma distinção clara entre ambos. De acordo com Coutinho e Ferraz (1994), a competitividade deve ser entendida como a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. Na visão de Azevedo (2000) a competitividade pode ser entendida como a capacidade de uma empresa crescer e sobreviver de modo sustentável, sendo, portanto, a característica de um agente (a empresa). Em contraposição, concorrência é essencialmente uma característica dos mercados, sendo uma referência à disputa entre as empresas pela renda limitada dos consumidores ou pelo acesso aos insumos. Pode-se dizer, em suma, que competitividade é a capacidade de concorrer de modo sustentável. Para melhor entendermos este tema, vamos inicialmente examinar alguns tipos de estratégi as, que pode m se r utilizadas pelas empre sas do agronegócio. 2.3.1 – ESTRATÉGIAS DE CONCORRÊNCIA Segundo Azevedo (2000), a concorrência entre as empresas é benéfica aos consumidores, induzindo reduções de preços e/ou aumento da qualidade dos produtos. Para as empresas, entretanto, freqüentemente é mais interessante a realização de acordos entre rivais, o que pode permitir a redução dos custos de uma guerra publicitária e, principalmente, apropriação de uma renda maior dos consumidores via aumento de preços. Para isso, são comuns as iniciativas das empresas no sentido de realizar acordos entre si, normalmente tácitos para evitar a reação contrária por parte dos organismos de defesa da concorrência, 44 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO que vêem nesses acordos práticas nocivas ao ambiente econômico. Contudo, mesmo sendo adequado a um grupo de empresas afrouxar a concorrência, muitas delas entram em um processo de intensa competição. 2.3.2 – ESTRATÉGIAS DE CRESCIMENTO Inicialmente as empresas buscam, em um primeiro plano, concorrer, o que é uma arte de como sobreviver. Entretanto, as empresas ambicionam, em segundo plano, o crescimento sustentado, o que coloca desafios ainda maiores à formulação de estratégias por parte dessas empresas. Diante de um mercado complexo, é necessário buscar alternativas de crescimento que superem os obstáculos deste. Neste sentido, apresentamos algumas das mais importantes estratégias de crescimento observadas nos sistemas agroindustriais, várias delas marcantes no processo de reestruturação do setor agroindustrial no final do século 20. São elas: • aquisições e fusões; • diferenciação; e • diversificação. Algumas das estratégias de crescimento são tipicamente ações que visam alterar a estrutura dos mercados e, com isso, permitir uma posição melhor na concorrência junto a rivais – como é o caso de fusões e aquisições, diversificação e integração vertical. Outras constituem ações que buscam uma posição mais favorável das empresas na disputa pelos consumidores, como estratégia de diferenciação. 2.3.2.1 – Estratégias de Aquisições e Fusões Azevedo (2000) argumenta que o meio mais imediato de suplantar o duplo problema de eliminar a concorrência em um mercado estagnado é adquirir seus concorrentes ou, se não puder vencê-los, unir-se a eles. No vocabulário de negócios, essas estratégias são respecti45 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der vamente denominadas por aquisições e fusões, tendo sido uma verdadeira mania nos mercados brasileiros e internacionais nos anos 90. Essa estratégia é notadamente interessante em um contexto de mercado em estagnação ou declínio, porque este não pode sustentar o crescimento conjunto de todos os concorrentes. Em síntese, o mercado torna-se pequeno para as ambições de crescimento das empresas. O motivo mais elementar para induzir estratégias de crescimento por fusões e aquisições é a presença de economias de escala, em suas mais variadas formas (reais ou pecuniárias). Por definição, em um setor com tais características, as empresas de maior porte tendem a apresentar custos unitários inferiores, de tal modo que é imperioso crescer. Em outras palavras, quanto maior a empresa, melhores as suas chances de sobrevivência frente à concorrência. Lembrando que existem economias de escala quando o custo unitário decresce com o aumento da capacidade de produção. 2.3.2.2 – Estratégia de Diferenciação Diferenciação é tipicamente uma estratégia de marketing, cuja relação com o processo concorrencial é evidente. A diferenciação é um processo de busca de elementos que distingam o produto de uma empresa das demais marcas concorrentes. Há, portanto, uma idéia de marca e, necessariamente, de concorrência, uma vez que a diferenciação se dá por comparação com os produtos das demais empresas. A distinção de um determinado produto surge necessariamente da percepção dos consumidores sobre os diferentes produtos, de tal modo que o conceito de qualidade percebida é fundamental. Isso não significa, no entanto, que necessariamente um produto diferenciado seja fisicamente distinto. Em linhas gerais, a diferenciação de produto reduz o grau de substituição do produto em questão, relativamente aos principais produtos concorrentes. Esse é o elemento que a torna uma estratégia interessante às empresas que a adotam. Se os consumidores relutam em substituir um determinado produto diferenciado por outros, há espaço para alguma elevação de preços, sem que haja perda de consumo para as empresas rivais. 46 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Segundo Guimarães (1985), nos agronegócios a diferenciação surge com mais ênfase nas atividades de venda ao consumidor final em que o processo de escolha seja orientado por diversos critérios (como sabor, preço, conveniência, saúde, etc.) e os critérios de escolha sejam subjetivos e, portanto, menos sujeitos a avaliações quantitativas. 2.3.2.3 – Estratégia de Diversificação Esta estratégia refere-se à expansão do leque de bens ou serviços oferecidos pela empresa. Em outras palavras, a falta de dinamismo dos mercados potenciais de certo produto pode induzir uma empresa a investimentos em outros mercados e outros produtos. Para Azevedo (2000), esse caminho em busca de novas oportunidades é freqüentemente guiado pela situação corrente da empresa, particularmente do uso que ela pode fazer de recursos próprios na exploração dessas novas oportunidades. Um elemento importante na orientação de estratégias de diversificação são as economias de escopo. Nesse sentido, podem-se distinguir três tipos de diversificação: a) Diversificação concêntrica: neste caso a firma opta por novas atividades que fazem uso do mesmo conjunto de tecnologias já dominado pela empresa. Por exemplo, tem-se a participação de empresas da indústria bélica, especialmente de armas químicas nos mercados de defensivos agrícolas. A empresa consegue, assim, explorar dois mercados absolutamente distintos, mas que apresentam economias de escopo por explorar seu maior capital: o domínio da tecnologia química. b) Diversificação horizontal: a empresa passa a produzir bens destinados ao mesmo públicoalvo, ainda que utilizando tecnologias e recursos produtivos absolutamente distintos. A idéia que orienta essa estratégia é estimular vendas, ao fixar mais fortemente uma mesma marca a um mesmo grupo de consumidores. Como exemplo desta estratégia temos empresas fabricantes de sais minerais para uso na pecuária, que freqüentemente produzem também medicamentos veterinários, cuja produção necessita de uma técnica diferente. c) Diversificação conglomerada: pode ser observada em setores absolutamente estranhos à atuação corrente da empresa – isto é, tecnologias e público-alvo distintos, sendo, nesse caso, denominada diversificação conglomerada. Para ilustrar podemos imaginar uma 47 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der cooperativa agropecuária que decide abrir supermercados, lojas de consumo, postos de gasolina, oficinas. Neste caso existe a caracterização de um deslocamento do foco central do negócio da empresa. Constata-se que as empresas precisam formular ações para melhor se inserirem no contexto concorrencial. Portanto, devem desenvolver estratégias sob pena de sucumbirem à concorrência. 48 EaD Unidade 3 RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO MARKETING NO AGRONEGÓCIO OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Apresentar as características dos referenciais estratégicos e sua importância para o alinhamento dos esforços organizacionais. • Compreender os aspectos a serem considerados para a elaboração dos referenciais estratégicos. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 3.1 – O Marketing Seção 3.2 – O Marketing e os Sistemas Agroindustriais Seção 3.3 – Segmentando e Selecionando Mercados-alvo Seção 3.4 – Gerenciamento de Canais de Marketing Seção 3.5 – Conhecendo o Comportamento do Consumidor Seção 3.6 – O Composto de Marketing do Agronegócio O atual contexto competitivo em que as organizações estão inseridas exige dos gestores o desenvolvimento de habilidades e competências que possibilitem a integração das diversas fontes que, por sua vez, permitem a construção de vantagem competitiva. Inseridas neste cenário competitivo, cada empresa precisa tentar obter excelência operacional, e para tan49 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der to, busca utilizar as mais diversas ferramentas administrativas aplicáveis a cada situação. A obtenção e a criação de relações sustentáveis com os clientes tornaram-se os principais objetivos das empresas, visto que as opções entre concorrentes e as vantagens oferecidas por eles são múltiplas, tornando a fidelidade de consumidor, uma característica muito difícil de alcançar e manter ao longo do tempo. Atualmente o marketing é visto, cada vez mais, como um facilitador para que as transações ocorram entre as empresas, que também estão cada vez mais relacionadas entre si e interdependentes, formando complexas redes, ou seja, um conjunto de empresas fornecedoras e distribuidoras que desempenham o fluxo de produtos, serviços, comunicações, informações, pedidos e pagamentos necessários para ligar desde os fornecedores de insumos utilizados na produção, até os consumidores finais de seus produtos ou de produtos processados a partir deles. Na configuração das redes de empresa e no estabelecimento das estratégias de atuação, dois referenciais de apoio, dentre outros, consolidam vertentes teóricas importantes para sua coordenação: os canais de distribuição e a cadeia de suprimentos. Os canais de distribuição são um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de tornar o produto ou serviço da empresa disponível para consumo ou uso. Já a cadeia de suprimentos é o inverso, ou seja, são as organizações envolvidas para que a empresa obtenha todos os suprimentos de que precisa para realizar sua produção e vender. Numa visão mais ampla de organização, o Marketing cuida da parte que vai da empresa até o mercado. Lógico que os aspectos de qualidade de insumos, escassez, marcas dos fornecedores e outros aspectos ligados à cadeia de suprimentos da empresa têm enorme impacto em marketing, e precisam ser monitorados de perto. Mas também outras áreas da empresa, tais como recursos humanos, finanças, produção, administração, têm impacto em marketing. Vejamos um conjunto de aspectos envolvidos na gestão do marketing: a) marketing; b) o marketing e os sistemas agroindustriais; c) segmentando e selecionando mercados-alvo; d) gerenciamento de canais de marketing; e) conhecendo o comportamento do consumidor; f) o composto de marketing do agronegócio. 50 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Seção 3.1 Marketing Nossa primeira tarefa é ter claro o que é Marketing! Então, vamos buscar uma breve definição. O Marketing foi definido como um processo social e de gestão pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e querem através da criação, oferta e troca de produtos e valores com outros. É, portanto, um processo que visa satisfazer à necessidade das partes através de trocas. O pensamento do marketing sugere que as empresas, por meio de pesquisas, percebam o que os consumidores demandam e, com base nesses dados, lancem produtos visando sua completa satisfação. Na seção a seguir, você vai ver como o Marketing se relaciona com os sistemas agroindustriais, afinal, esse é o nosso foco! Seção 3.2 O Marketing e os Sistemas Agroindustriais Os sistemas agroindustriais são sistemas compostos por um variado número de empresas envolvidas num fluxo de transações por meio das quais ocorrem as trocas de produtos e serviços, chegando até ao consumidor final. Num enfoque individual, percebe-se que cada empresa estrutura uma rede, ou faz parte de uma rede na qual existe um complexo conjunto de contratos que regem as relações entre elas. Nesse sentido, o Marketing é utilizado para identificar e compreender quais são as necessidades dos consumidores finais e intermediários. Este trabalho ocorre por meio de pesquisas, analisando o comportamento desses consumidores e do mercado como um todo. 51 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der A partir destes resultados, é possível perceber e tomar decisões sobre quais públicos podem ser satisfeitos, qual será o mercado-alvo de atuação da empresa, que tipo de diferenciação será proposta, como desenvolver ou adaptar seus produtos, marcas e embalagens, quais as estratégias corretas de precificação para esses produtos, como colocá-los à disposição dos consumidores por meio dos canais de distribuição e como comunicar-se através da propaganda, da publicidade e de outras ferramentas. No contexto do agronegócio, dentro de qualquer sistema agroindustrial o vendedor envia ao comprador, por meio de transações, produtos, serviços e comunicações, recebendo em troca, basicamente, recursos, informações e pedidos de produtos. As trocas são elementos fundamentais do marketing e seu papel é o de facilitar esse processo. Então, é função do marketing auxiliar no fluxo de informações entre os diferentes componentes do agronegócio, como também, auxiliar as firmas no monitoramento do macroambiente em que estão inseridas. Para tanto, o estabelecimento de um sistema de informações que seja rápido e traga-as na forma mais adequada de utilização é importante e pode ser uma vantagem. Kotler (1998) define sistemas de informações como pessoas, equipamentos e procedimentos que coletam, selecionam, analisam, avaliam e distribuem a informação necessária em tempo e na forma apropriada para o tomador de decisões. Lembre-se que trabalhar o marketing é lidar com constantes decisões. Gerenciar adequadamente informações e transferi-las rapidamente para os tomadores de decisão é fator que influi na competitividade. Por exemplo: com o advento do código de barras e da troca eletrônica de informações, hoje as agroindústrias podem saber em tempo real suas vendas em determinada loja varejista, dentre outras vantagens, possibilita mapear/ segmentar seu grupo de consumidores e trabalhar de forma eficiente a gestão de estoques. Obviamente existem muitos desafios que ainda precisam ser vencidos nas redes que compõem o contexto das agroindústrias na produção rural e o setor de insumos e seus canais de distribuição, entretanto, é a partir da informação que se torna possível a busca por soluções. E já que referenciamos a palavra “solução” aproveitamos para inserir a próxima seção, que tratará da segmentação do mercado, que por sua vez, nada mais é que uma forma de buscar a solução adequada de acordo com o contexto que se apresenta! 52 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Seção 3.3 Segmentando e Selecionando Mercados-alvo O trabalho de segmentação de mercados parte do contexto de que as empresas agroindustriais, assim como as demais organizações, estão expostas à competição global e não conseguem alcançar eficazmente todo o mercado, composto de consumidores diferentes entre si. A segmentação busca, portanto, considerar as preferências, os motivos para compra, os gostos, as razões e outras características do mercado consumidor. Então, essa atitude foca segmentos do mercado, menores e mais homogêneos, de consumidores finais e industriais, com necessidades e/ou respostas a ofertas de marketing semelhantes, os “nichos de mercado”. Para entendimento, nichos são grupos menores dentro dos segmentos de mercado identificados e definidos, que atraem, inclusive, um número bem menor de competidores. Outros objetivos da segmentação são: 1) tornar mais fácil a compreensão do mercado; 2) facilitar a realização de estudos sobre o posicionamento, ou seja, sobre a forma como os consumidores pensam, identificam e posicionam o produto em suas mentes; 3) auxiliar na introdução de novos produtos e nas decisões relativas a preço e dar mais eficácia ao processo de comunicação; 4) facilitar o entendimento do processo de decisão de compra e de decisões sobre a forma e os mecanismos de distribuição dos produtos. Chamamos a atenção para o fato de que a tecnologia possibilita que esse processo seja muito mais rápido e fácil, permitindo variações em produtos e comunicações para uma quase individualizada massa de consumidores. 53 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Outro ponto importante que precisamos ressaltar é que os segmentos precisam ser passíveis de mensuração para a eficácia do processo, e ter tamanhos suficientes para que compensem a operacionalização de diretrizes mais focadas da empresa e comportar-se efetivamente de maneira semelhante. O agrupamento ocorre por meio das bases para segmentação de mercados, extraídas das características geográficas, demográficas, psicográficas e comportamentais dos indivíduos. Vejamos alguns aspectos de cada uma delas: a) Características geográficas: referem-se à região, ao tamanho do município, concentração da população, clima da região segmentada, etc. b) Características demográficas: são relativas à idade, sexo, crescimento populacional, tamanho da família, ocupação, renda, escolaridade, religião, raça, etc. c) Características psicográficas: condiz à classe social, estilo de vida e personalidade dos indivíduos. d) Características comportamentais: têm relação com a ocasião do uso do produto, benefícios procurados, condições do usuário, taxa de uso e grau de lealdade. Veja que algumas dessas características são agrupadas para caracterizar um segmento de mercado, em que compense a empresa tomar atitudes direcionadas a ele. 3.3.1 – A IMPORTÂNCIA DA SEGMENTAÇÃO DE MERCADO Para que o profissional de marketing consiga elaborar suas estratégias e planos de desenvolvimento de mercado, é de imprescindível importância que ele conheça o mercado em que vai atuar, suas potencialidades, suas características específicas e peculiaridades. Identificadas e tabuladas estas informações, é possível realizar a segmentação de mercado. A segmentação possibilita ter uma visão mais clara sobre como o profissional deve conduzir suas estratégias para cada segmento. Para que a segmentação de mercados seja bem-sucedida há cinco critérios abordados por Hutt e Speh (2002), que podem ser levados em consideração pelo profissional de marketing: 54 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO • Mensurabilidade: avalia se existem informações sobre um determinado comprador e se estas informações podem ser obtidas. • Acessibilidade: avalia se a empresa tem possibilidade de centrar seus esforços nos segmentos escolhidos. • Substancialidade: avalia se os segmentos são grandes ou lucrativos o suficiente para justificar um atendimento separado. • Compatibilidade: avalia as forças de comercialização e de negócios da empresa e se estão de acordo com as condições atuais e futuras referentes à competitividade e à tecnologia. • Receptividade: avalia o composto mercadológico como preço ou característica do produto. Os gestores de marketing no agronegócio precisam ter consciência de que vão atender um mercado que contém muitos tipos diferentes de clientes, tanto organizacionais como individuais, que possuem necessidades variadas. Somente depois de separar esse mercado agregado em categorias importantes é que o estrategista de marketing estará pronto para atender a essas necessidades de maneira imediata e lucrativa. O trabalho de segmentação de mercado identifica grupos de consumidores, grandes e específicos, que justifiquem uma estratégia de marketing separada, em que um dos fatores a ser analisado é o ambiente competitivo. A análise competitiva é um processo que uma empresa utiliza para definir fronteiras do seu segmento, identificar seus concorrentes, determinar pontos fracos e fortes de seus rivais antecipando suas ações. É fundamental concentrar-se no propósito da estratégia dos concorrentes atuais e potenciais, sendo que a atenção é dirigida para as principais competências do concorrente e como estas podem ser alavancadas na busca de novas aplicações. A seguir, vamos aprofundar e especificar ainda mais esse tema, focando nossa atenção ao mercado industrial. 55 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der SIC 3.3.2 – BASES PARA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO INDUSTRIAL Sistema de Classificação Industrial O mercado industrial poderá ser segmentado em várias baNAICS North American Industrial Classification System ses. De maneira ampla em duas categorias: macro segmentação e micro segmentação. Na macro segmentação concentram-se as características e a situação da organização compradora, dividindo o mercado em características organizacionais como tamanho, localização geográfica e estrutura organizacional. Já a micro segmentação, por sua vez, exige um alto grau de conhecimento de mercado, concentrando-se nas características das unidades de tomada de decisões dentro de cada macro segmento, incluindo critérios de decisão de compras, importância percebida da compra e atitudes em relação ao vendedor. As bases do nível macro estão apresentadas na tabela 1, considerando os pressupostos de Hutt e Speh (2002): Tabela 1: Bases Selecionadas de Segmentação em Nível Macro Variáveis BASES SELECIONADAS DE SEGMENTAÇÃO EM NÍVEL MACRO Exemplos de desdobramentos Característica da organização compradora Tamanho (a escala de operações da organização) Pequena, média, grande; com base no volume de vendas ou no nº de empregados Localização geográfica Nova Inglaterra, Atlântico Central, Sul, Leste, Norte, Central, etc. Taxa de utilização Estrutura de compras Não usa, usa pouco, usa moderadamente, muito Centralizada, descentralizada Aplicação do produto/serviço Categoria SIC ou NAICS Mercado final atendido Valor do uso Varia de acordo com o produto ou serviço Varia de acordo com o produto ou serviço Alto, baixo Características da situação de compras Tipo da situação de compras Estágio do processo de decisão de compra Nova tarefa, recompra modificada, direta Estágios iniciais, estágios finais Fonte: Hutt; Speh, 2002, p. 166. 56 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Considerando as características de nível macro das organizações compradoras, o gestor de marketing pode dividir o mercado de acordo com o tamanho das organizações ou clientes compradores em potencial. Grandes organizações podem ter necessidades específicas e respostas a estímulos de marketing diferentes dos que seriam aplicados a clientes menores. A taxa de utilização é uma variável importante do nível macro. Os compradores estão classificados desde aqueles que não utilizam o produto, ou utilizam poucas horas por ano, até aqueles que utilizam em grande escala. Ou seja, grandes usuários têm necessidades diferentes dos médios e pequenos usuários, podendo reverter a situação através do mix de produtos ou serviços, passando de usuários médios a grandes usuários. A estrutura se constitui como outra característica de nível macro das organizações compradoras. Organizações com um departamento de compras centralizado têm um nível de exigência bem maior que as descentralizadas, uma vez que preço, prazo e disponibilidade são de grande importância, enquanto que nas descentralizadas os compradores enfatizam a e fici ência de custo a curto prazo. Portanto, a posição de compras na hierarquia organizacional fornece uma base para dividir as organizações em categorias e para isolar a necessidades específicas e os requisitos de marketing de cada uma. Profissionais de marketing devem desenvolver uma equipe de vendas e estratégias específicas, unicamente para atender às necessidades especiais das grandes unidades de compras centralizadas. Outro fator é a aplicação de produto e serviço. O gestor de marketing pode dividir o mercado com base nas aplicações específicas do usuário final. O valor de uso é o valor econômico de um produto para o usuário, relativo a uma alternativa específica em uma determinada aplicação. A situação de compra também é um fator de forte influência. Os clientes que compram um produto ou serviço pela primeira vez têm percepções e necessidades diferentes daqueles que compram repetidas vezes. Sendo que desta forma as organizações são classificadas no processo de compras como novos ou antigos compradores. Outra forma de segmentação pode ser definida a partir de qual é o tipo de estrutura de organização mais adequada para o serviço pós-venda. O quadro 1 reproduz um modelo de organização sugerido por dois autores ingleses que têm se dedicado a estudar a questão do serviço pós-venda. São eles Colin Armistead e Graham (1992). 57 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Considerando como variáveis independentes o tipo de produto e as prioridades do serviço pós-venda, o modelo sugere o tipo de organização a ser utilizada para a execução dos serviços. Quadro 1: A Organização Para o Serviço Pós-Venda TIPO DE PRODUTO PRIORIDADES DO SERVIÇO DE PÓS-VENDA ORGANIZAÇÃO PARA O SERVIÇO PÓS-VENDA Equipamento de alto valor e baixo volume • Aumentar o tempo médio entre avarias. • Manutenção preventiva. • Treinar/assessorar o cliente sobre o uso. • Instalar e colocar em operação. • Todo o tipo de apoio quando necessário. Grupos técnicos altamente especializados, que conheçam os produtos em detalhes desde seu projeto até a maneira de utilizá-los. Este grupo de técnicos de alto nível dá apoio aos técnicos de campo, os quais são capazes de realizar as atividades comuns de reparação e manutenção. Normalmente estão espalhados geograficamente de modo a estarem próximos dos clientes. Nos clientes mais estruturados o grupo de alto nível pode dar suporte aos técnicos especializados do próprio cliente e que receberiam treinamento/assessoria do fabricante para realizar as atividades mais comuns de reparação e manutenção dos equipamentos. Equipamento de valor médio e volume médio • • • • • • Resposta rápida. Menor tempo de serviço. Instalação. Fácil manejo. Perícia técnica. Manuais de Instrução. Técnicos de campo geograficamente espalhados e que são capazes de realizar todas as atividades de reparação e manutenção. Dependendo da demanda e da dispersão geográfica, pode-se pensar em agentes/comerciantes/distribuidores que vendem os produtos e oferecem serviço ao cliente. Estes agentes autorizados podem trabalhar com um único fornecedor ou com vários fornecedores. Os contratos de apoio do fabricante podem incluir mais ou menos cláusulas dependendo de fatores como a complexidade e valor dos produtos, volume de vendas, exclusividade, etc. • • • • • Garantias. Acesso. Atenção ao cliente. Disponibilidade de peças. Rede de distribuição. Recomenda-se o emprego de agentes/comerciantes/distribuidores com as mesmas considerações feitas no arranjo anterior. O que se observa na prática, e muitas empresas nada fazem para impedir, é a existência de uma série de estabelecimentos de pequeno porte que oferecem o serviço e vendem peças de reposição compradas em distribuidores. Estão totalmente fora do controle do fabricante e, em muitos casos, nem são conhecidos por ele. Bens de consumo de valor médio e volume médio. Bens de consumo de valor baixo e volume alto. Fonte: “Customer Service and Support”. Autores: Colin Armistead & Graham Clark. Pitman Publishing, Londres, 1992. Após identificar os macro segmentos, o profissional de marketing considera útil dividir cada macro segmento em micro segmentos menores. Cada um com necessidades únicas e respostas específicas aos estímulos de marketing. As micro bases estão representadas no quadro 2. 58 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Quadro 2: Bases Selecionadas de Segmentação em Nível Micro BASES SELECIONADAS DE SEGMENTAÇÃO EM NÍVEL MICRO Variáveis Critérios-chave Estratégias de compra Estrutura da unidade. Tomada de decisão Importância da compra Atitude em relação aos vendedores Inovação organizacional Características pessoais demográficas Estilo de decisão Risco Confiança Responsabilidade do trabalho Exemplos de desdobramentos Qualidade, entrega, reputação do fornecedor Otimizador, satisfeito Principais participantes da decisão Muito importante....Pouco importante Favorável...desfavorável Inovador ..... seguidor Idade, nível educacional Normativo, conservador, modelo misto Corre riscos, evita riscos Alta...baixa Compras, produção, engenharia Fonte: Hutt; Speh, 2002, p. 169. Agora que você já sabe o que é e como acontece a segmentação de um mercado, passamos para outro item importante: o gerenciamento de canais de marketing. Seção 3.4 Gerenciamento de Canais de Marketing A ligação entre as empresas e os clientes é o canal de distribuição. Segundo Kotler (2000), o canal desempenha todas as tarefas para efetivar uma venda e entregar o produto ao cliente. São elas: • fazer contato com compradores em potencial; • negociar; • contratar; • transferir propriedade; • comunicar; 59 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der B2B Business-to-business são as relações de negócios estabelecidas entre organizações. • arranjar financiamento; • oferecer o produto e fornecer estoque local, transporte e armazenagem. Estas tarefas podem ser divididas ou desempenhadas pelo fabricante ou intermediários. Algumas estruturas de canais são indiretas, tendo algum tipo de intermediário, outros canais são diretos, nos quais o fabricante deve desempenhar todas as funções de marketing necessários para gerar a venda e entrega de produtos aos clientes. O canal de distribuição é a ponte do gerente de marketing para o mercado. Projetar e gerenciar o canal de marketing B2B é uma tarefa desafiadora e contínua. O profissional de marketing deve assegurar-se de que o canal da empresa esteja alinhado de forma apropriada com as necessidades de importantes segmentos de mercado. Ao mesmo tempo, esse profissional deve também satisfazer as necessidades dos membros do canal, cujo apoio é crucial para o sucesso da estratégia de marketing (Hutt; Speh, 2002, p. 299). Na distribuição direta é comum no marketing Business-toBusiness (B2B) a não utilização de intermediários, pois a própria equipe de vendas do fabricante trabalha diretamente com o cliente e o fabricante e tem total responsabilidade em todas as tarefas do canal. Este tipo de distribuição normalmente é empregada e torna-se viável quando: • os clientes são grandes e bem definidos; • clientes insistem em vendas diretas; • as vendas envolvem amplas negociações entre a alta gerência; • o controle do trabalho de vendas é necessário para assegurar a implantação apropriada de um pacote total de produtos e para garantir uma resposta rápida às condições de mercado. 60 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A distribuição indireta utiliza mais de um intermediário. Salientamos que os canais de marketing B2B incluem menos tipos de intermediários do que os canais de bens de consumo, onde os representantes comerciais respondem pela maioria dos negócios fechados através dos canais industriais indiretos e a distribuição indireta é encontrada quando: • os mercados são fragmentados e dispersos. • prevalecem as transações de baixo valor. • os compradores normalmente compram diversos itens, sempre de diferentes marcas em uma mesma transação. Normalmente são necessários muitos canais. Um canal de marketing pode ter várias combinações de intermediários e vendas diretas. Muitos profissionais de marketing estão criando sistemas únicos de canal para atrair uma ampla variedade de nichos de clientes e há um vasto leque de opções para as diversas tarefas de marketing a serem desempenhadas. À medida que os mercados industriais crescem e evoluem, novos canais devem ser formados para alcançar cada segmento. Conheça-os a seguir: 3.4.1 – PARTICIPANTES DO CANAL DE MARKETING Os intermediários são os distribuidores, representantes comerciais, corretores, despachantes e comerciantes. Os distribuidores são classificados pelo tipo de operação que os mesmos realizam, a linha de produtos com que trabalham e mercados em que atuam, sendo que esta classificação é importante no momento da seleção do canal mais apropriado às necessidades do mercado, no qual o mesmo deve atuar. Uns são ultra especializados e outros podem ter uma ampla linha de produtos industriais generalizados, sendo que, segundo Hutt e Speh (2002), há três classificações primárias para os distribuidores: 1ª) distribuidores genéricos: fornecem uma ampla linha de produtos industriais e armazenam uma variedade de produtos; 2ª) especialistas: concentram-se em uma linha ou mais de produtos; 3ª) distribuição combinada: opera em dois mercados, industrial e de consumo. 61 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Os distribuidores industriais são valiosos e recompensados pelos clientes, pois são intermediários que oferecem serviços completos e assumem a propriedade dos produtos vendidos, mantêm estoques, fazem entrega, providenciam créditos, têm uma ampla variedade de produtos e assistência técnica, buscam sempre novos contatos e trabalham para expandir mercados. Os distribuidores industriais são uma força poderosa nos canais de marketing B2B. O uso de canais de distribuição indiretos é comum para uma grande variedade de produtos industriais. A qualidade e o desempenho dos intermediários têm um impacto crítico na realização ou não dos objetivos do profissional de marketing. Uma estratégia de gerenciamento do canal começa com um entendimento dos vários intermediários que podem ser utilizados em um canal de marketing B2B (Hutt; Speh, 2002, p. 303). Mas, como esses canais se formam? Saiba na próxima subseção! 3.4.2 – PROJETO DO CANAL O projeto do canal é o processo dinâmico de desenvolvimento de novos canais que serão estabelecidos onde não havia nenhum, ou de modificação dos canais existentes conforme representado na figura 2. O profissional de marketing B2B normalmente trabalha com modificações dos canais, embora que novos produtos e novos segmentos de clientes podem requerer canais novos. Não importa se o gerente está lidando com um canal novo ou modificando o já existente. O projeto do canal é uma tarefa ativa e não passiva (Hutt; Speh, 2002 p. 307). 62 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Figura 2: O processo de projeto do canal Fonte: Hutt e Speh, Gestão de Marketing em mercados industriais e organizacionais. (July 1983, p. 171). Ao realizar o projeto de um canal de distribuição o passo fundamental é definir claramente quais serão os objetivos deste canal. Uma vez definidos os objetivos, parte-se para a definição das especificações, ou seja, quais as características que o mesmo deve ter para conseguir atingir os objetivos determinados para este canal. Estas características são determinadas levando-se em conta as condições da empresa, da concorrência, do ambiente em que está inserido bem como a capacidade de cumprir com as tarefas a serem desempenhadas. Uma vez determinados o objetivo e as especificações, faz-se a avaliação das alternativas disponíveis levando em conta requisitos tanto de ordem quantitativa quanto qualitativas para então chegar a seleção ou definição do canal mais apropriado. O projeto de canal está conceitualizado numa série de estágios. De acordo com Hutt e Speh (2002), são eles: 63 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Estágio 1: objetivos do canal – ter estratégias de marketing para atingir determinados segmentos de mercado, que gere o lucro desejado, que mantém ou aumente as vendas e a participação do mercado atingido com um nível de recursos limitado. Assim, se um profissional de marketing projetar um canal novo ou redefinir o já existente, a primeira fase é entender completamente os objetivos de marketing e reformular as metas do canal. Estágio 2: restrições no projeto do canal – o gerente tem pouca flexibilidade na seleção das estruturas do canal em razão de fatores comerciais, de concorrência da empresa e de fatores ambientais. A decisão de projeto na verdade pode ser imposta ao gerente. Estágio 3: principais tarefas do canal – o gerente de marketing B2B deve estruturar de forma criativa as tarefas necessárias para atender às necessidades dos clientes e os objetivos da companhia, em vez de simplesmente aceitar as estruturas de canais existentes ou os modelos tradicionais de distribuição. As tarefas são atribuídas aos participantes de canal de acordo com as mudanças do ambiente tecnológico e empresarial. Estágio 4: alternativas do canal – envolvem alguns pontos principais: • o número de níveis a ser incluído no canal; • os tipos de intermediários a serem usados; • o número de intermediários em cada nível do canal. Portanto, cabe ao profissional de marketing definir, de acordo com o segmento do negócio, o perfil do canal e a maneira de como este deve atuar, atendendo às necessidades do fabricante, do cliente e do próprio canal de distribuição. Agora que você já sabe o que é Marketing, conhece como ele pode auxiliar os sistemas agroindustriais e percebe a importância de gerenciar os canais de Marketing, é hora de refletir sobre o comportamento do consumidor. 64 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Seção 3.5 Conhecendo o Comportamento do Consumidor Na práti ca dos pressupostos e ferrame ntas de marketing, em qualquer tipo de negócio, conhecer o consumidor possui relevância estratégica. Os consumidores são variados e seu comportamento de compra também. O estudo do comportamento do consumidor é fundamental para satisfazer suas necessidades. É importante conhecer como ele compra, usa e disponibiliza dos produtos. Para tanto, existem pelo menos quatro categorias de fatores que moldam o comportamento: fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. Conheça cada um deles. a) Fatores culturais: destaca-se a cultura do consumidor, os valores a que é submetido pela sociedade em que vive, a subcultura e as classes sociais às quais as pessoas pertencem, pois tendem a comportar-se segundo padrões dessas classes, seja vestimentas, alimentação, moradia, preferências de mídia, viagens, automóveis, etc. b) Fatores sociais: são os grupos de referência que exercem influência sobre o consumidor, tais como família, amigos, associações esportivas, culturais e religiosas, profissionais, etc. c) Fatores pessoais: são caracterizados por aspectos como idade, ciclo de vida familiar (casados, solteiros), profissão, condições econômicas, estilo de vida, etc. d) Fatores psicológicos: são elementos psicológicos que interferem no comportamento do consumidor a motivação, a percepção, o processo de aprendizado, as crenças, as atitudes, etc. Este conjunto de aspectos influi e determina a decisão de compra dos indivíduos. Para tanto, é importante que o profissional imbuído da gestão do marketing analise o processo de decisão de compra dos consumidores de modo a entender e dar subsídios à atuação da empresa visando influenciar esse processo. 65 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Finalizando esta unidade que trata sobre as relações de marketing no agronegócio, vamos conhecer o que é composto ou mix de marketing. Seção 3.6 O Composto de Marketing do Agronegócio Philip Kotler (2000), um dos principais pensadores do marketing, afirma que há várias atividades empresariais que podem influenciar as decisões de compra dos consumidores. Segundo ele, toda empresa deve ser capaz de preparar sua própria lista de atividades que exerçam tal influência. Todas estas atividades constituem um “mix de marketing” e devem ser planejadas e coordenadas para obter impacto máximo. As empresas, independente de seu ramo de atuação, precisam perceber claramente a relação custo-benefício de diferentes ferramentas do composto de marketing e devem formular um mix que favoreça a construção de resultados positivos. Embora o mix de marketing seja constituído por muitas atividades, os estudiosos da área construíram uma classificação que tornou mais fácil seu entendimento e gestão. O professor Jerome McCarthy, na década de 60, propôs os famosos 4 P´s do marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção. Esta estrutura possibilita aos profissionais decisões sobre o produto e suas características, decisões sobre o preço, sobre como distribuir os produtos e como promovê-los ao mercado consumidor. Na seqüência, estudaremos cada um deles. 3.6.1 – PRODUTO A base para qualquer negócio é um produto ou serviço. Uma empresa possui como objetivo oferecer algo de maneira diferente e melhor para conquistar a preferência do mercado-alvo, mesmo pagando um preço mais alto por ele. Mas os produtos variam quanto ao grau 66 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO em que podem ser diferenciados. Em um extremo temos as chamadas commodities, que exige dos profissionais do marketing muito talento para construir sua diferenciação (metais, frutas, legumes, produtos agrícolas, sal, etc). No lado oposto às commodities estão os produtos altamente diferenciáveis em termos físicos, como carros, equipamentos de produção, construções de casas e prédios, etc. Esses produtos possuem muitos graus de diferenciação em projetos, o que conseqüentemente possibilita aos fabricantes competir com base na diferenciação de seus produtos dos da concorrência A diferenciação é uma estratégia mercadológica que pode ser atingida por meio do desenvolvimento de atributos distintos em produtos, tais como aparência visual, durabilidade, estilo, qualidade, sabor, teor de ingredientes, desempenho, durabilidade, estilo. Da mesma forma, a diferenciação pode ser construída em serviços, tais como freqüência de entrega (regularidade, etc.), o formato da entrega (produto limpo, embalado, pronto para exposição, pronto para processamento, etc), instalação de produtos, treinamento de usuários, serviços de manutenção, etc. Outra forma tradicional de diferenciação está fortemente apoiada no atendimento, ou seja, na relação próxima que se estabelece com o cliente, na competência, na educação, na credibilidade e na reputação. Vale tentar estabelecer uma estratégia de diferenciação quando se oferece um benefício altamente valorizado para um número suficiente de compradores, quando este não é oferecido pelos concorrentes nem facilmente copiável, quando a diferença é superior a outras maneiras de obter o mesmo benefício, quando é comunicável e visível, quando é rentável introduzir a diferença (relação custo x benefício) e quando o comprador dispõe de recursos financeiros para pagar pela diferença. Ou seja, desenvolver estratégias de diferenciação consiste em desenhar um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa das ofertas dos concorrentes, de modo a posicionar a oferta da empresa na mente do consumidor. No contexto das firmas agroindustriais, esta estratégia pode ser desenvolvida por meio da qualidade dos produtos, de constituir-se como um fornecedor tradicional, por mecanismos de entrega mais rápida e confiável, pela aparência dos produtos, pela destreza no atendimento e pelo relacionamento com os consumidores (finais ou industriais). 67 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der É importante destacar que, para estabelecer as estratégias de diferenciação, é importante pesquisar o mercado para poder mapear e distinguir os segmentos existentes em termos dos atributos valorizados, serviços que podem ser oferecidos e outras informações relevantes para este conjunto de decisões estratégicas. Claro que este sempre será um processo de melhoria contínua nas organizações que compõem os sistemas agroindustriais, pois, afinal, sempre há espaço para aperfeiçoar-se produtos e serviços e diferenciar-se por meio de ações, por mais simples que sejam. Kotler (2000) deixa bem claro que qualquer diferenciação bem-sucedida tenderá a atrair os concorrentes imi tadores. Quando estes lançam novas versões do produto, freqüentemente a um preço mais baixo, exercem pressão sobre o pioneiro, que tem três alternativas: a) baixar os preços de seus produtos pioneiros para proteger sua participação no mercado (e se conformar com margens de lucro menores); b) manter o preço e perder certa participação de mercado e lucros; ou c) encontrar uma nova base para diferenciar seus produtos e manter o preço. De acordo com Kotler, das três alternativas, a terceira oferece a melhor esperança de maximização de resultados no longo prazo. No entanto, requer que os executivos das empresas reconheçam que não podem confiar em sua atual vantagem e devem buscar constantemente alternativas de inovação e melhoria contínua. 3.6.2 – PREÇO O P do Preço possui características que o diferem dos outros P´s. A principal está relacionada com a questão de que o Preço é a valoração do produto ao mercado e gera receita. Já os demais Ps geram custos. Conseqüentemente, as empresas tentam elevar seus preços até onde o nível de diferenciação permite. Ao mesmo tempo, reconhecem que precisam levar em conta o impacto do preço sobre o volume de vendas. 68 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO As decisões relativas a preços mais importantes são as de colocar preços nos novos produtos, adaptar preços a partir das mudanças macroambientais e também da concorrência. Segundo Kotler (1998), trabalhar a política de precificação precisa considerar 6 etapas. A primeira consiste em estabelecer os objetivos de precificação . Nesta etapa a empresa pode, por exemplo, estabelecer objetivos de sobreviver, ter maior lucro possível, explorar ao máximo o mercado, dentre outros. Cada um desses objetivos apresenta vantagens e desvantagens no curto, médio e longo prazos que devem ser considerados. A segunda etapa consiste em realizar estudos visando determinar a demanda . Ou seja, desprender esforços no sentido de decidir sobre as quantidades que deverão ser vendidas a cada preço, os fatores que afetam a sensibilidade dos consumidores a preços, a elasticidade da demanda. Não se pode esquecer da importante tarefa de determinar cla- ramente os custos fixos e variáveis e avaliar os custos, preços e ofertas dos concorrentes, a partir do uso de um sistema de informações de apoio à tomada de decisões dos gestores, a partir de pesquisas de mercado e outras formas de coleta, tabulação e análise de informações. Após estas etapas, o gestor precisa selecionar um sistema de precificação que considere, pelo menos, o marku-up (porcentagem fixa adicionada ao custo do produto), o retorno sobre os investimentos realizados, a percepção de valor por parte dos consumidores e as práticas da concorrência. Por fim, deve-se selecionar o preço final , em que devem ser considerados os fatores psicológicos e a influência e o impacto das outras variáveis, tais como, comunicação e distribuição, segmentação de mercado, velocidade e confiabilidade de entrega, descontos e promoções. As empresas, independente de seu ramo de atuação, constantemente passam por situações nas quais precisam rever e alterar preços, quer por mudanças nas condições macroambientais, redução de vendas, capacidade ociosa, aumento de custos, etc, precisam ajustar suas políticas de preço. Além do mais, é fundamental monitorar os movimentos dos concorrentes. 69 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der 3.6.3 – PRAÇA O P da Praça diz respeito as preocupações sobre a distribuição dos produtos. Cada empresa precisa preocupar-se em relação às decisões e operações que possibilitem tornar suas mercadorias disponíveis ao mercado-alvo. Segundo Kotler (2000), as duas escolhas são vender os bens diretamente ou vendê-los por meio de intermediários. A distribuição, por via dos diversos canais possíveis, oferece a construção de vantagens competitivas sustentáveis em virtude de suas características de longo prazo, tanto no planejamento como na implementação, por requerer estrutura de organizações consistentes e por serem baseada em pessoas e relacionamentos. De acordo com Neves e Castro (2003), os canais de distribuição que mais se destacam no agronegócio são dois conjuntos de agentes. Primeiramente, mais localizados na parte final dos sistemas agroindustriais, são os agentes atacadistas que compram os produtos da indústria e vendem majoritariamente para compradores organizacionais, ou seja, os varejistas. Os varejistas, por sua vez, vendem seus produtos aos consumidores finais. No segundo grupo, que se localiza na parte inicial dos sistemas de agroindústrias, temos os agentes que compram os insumos (tratores, herbicidas, sementes, etc.) e os levam até os produtores rurais. São as revendas agropecuária, as cooperativas e outros tipos de organizações. Vejam que a discussão sobre o P da praça já foi amplamente realizada anteriormente e engloba aspectos relacionados à gestão da logística nas organizações. Os principais aspectos envolvidos na gestão da logística são focados no fornecimento e disponibilização dos produtos na hora, local e nas condições apropriadas. A estratégia de canal já precisa estar estabelecida muito antes da análise logística ser realizada. A logística trata do fluxo físico dos produtos. 70 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO 3.6.4 – PROMOÇÃO O quarto P, o P da promoção, trata das ferramentas de comunicação que fazem chegar as mensagem ao público-alvo. Segundo Kotler (2000), essas ferramentas se enquadram em cinco categorias bem amplas: propaganda, promoção de vendas, relações públicas, força de vendas e marketing direto. A propaganda é a ferramenta mais poderosa para promover a mensagem da empresa, dos produtos ou serviços ou até mesmo de uma idéia. Se os anúncios forem criativos, uma campanha publicitária pode construir a imagem da marca e até possibilitar sua aceitação ou um grau conveniente de preferência das pessoas. Se a comunicação da empresa não for melhor ou diferente que os anúncios dos concorrentes, é interessante que os gestores gastem seu dinheiro em outras ferramentas de comunicação de marketing, como relações públicas ou marketing direto. A propaganda envolve tomar decisões sobre a mensagem e o meio de divulgação. A mensagem é moldada pelas decisões anteriores sobre o mercado-alvo e a proposta de valor da marca da empresa. O desafio é apresentá-la com criatividade. Anunciar é um desperdício se a empresa não tiver nada interessante a dizer ou se o disser inadequadamente. A promoção de vendas age de modo a veicular anúncios que trabalham mais a mente das pessoas do que o seu comportamento. Ou seja, o cliente houve falar de uma liquidação ou promoção e, com base neste comunicado, age. O trabalho de relações públicas trata das formas como a empresa se comunica com seus clientes e com a comunidade em geral, seja por meio de notícias, eventos, publicações, sua identidade visual, seu envolvimento com causas sociais, dentre outras. Uma das mais dispendiosas ferramentas de comunicação de marketing é sua força de vendas, especialmente quando sai a campo, em visitas e viagens à caça de clientes potenciais, enquanto procura manter satisfeitos seus clientes atuais. Já o marketing direto, trabalha a mensagem da empresa a partir de uma veiculação mais especializada. Não apenas segmentos e nichos podem ser atingidos de maneira mais eficiente, mas também indivíduos por meio das informações extraídas de bancos de dados estratégicos. 71 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der No contexto da promoção, fica evidente que não basta ter um bom produto ou pesquisar o comportamento do consumidor. É preciso comunicar ao mercado consumidor que o produto está disponível e suas características. Mas, de uma forma abrangente, esta unidade quis mostrar que, embora o agronegócio tenha suas peculiaridades e, muitas vezes trabalhe com commodities, tornando ainda mais difícil a diferenciação junto ao mercado consumidor, é preciso fazer uso inteligente e estratégico das ferramentas que o marketing nos possibilita para conseguir não apenas conquistar uma fatia do mercado, mas manter-se nele! 72 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Unidade 4 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NO SAG OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Apresentar os principais conceitos para a compreensão do campo de estudo do comportamento do consumidor e avaliar as características do comprador industrial. • Discutir as principais mudanças que estão ocorrendo no mercado consumidor de produtos agroalimentares, enfocando o aumento da exigência por parte dos indivíduos para a aquisição e uso de tais produtos. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 4.1 – Definições e Conceitos Básicos Seção 4.2 – Processo de Compra do Consumidor Seção 4.3 – Consumidor Industrial nos SAGs Seção 4.4 – Algumas Mudanças no Mercado Consumidor de Produtos Agroalimentares Seção 4.1 Definições e Conceitos Básicos Há um grande e extenso campo focalizando o comportamento do consumidor. Engel et alli (2000) definem o comportamento do consumidor como “as atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor de produtos e serviços, incluindo os processos decisórios que antecedem e sucedem estas ações”. 73 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der De acordo com Rossi e Slongo (1997), o reconhecimento de patamares diferenciados alcançados pelas empresas em qualidade passa, inexoravelmente, pelo alcance de níveis igualmente superiores nas relações com os clientes. As respostas a serem buscadas no estudo do comportamento do consumidor dizem respeito à elucidação das razões que levam um indivíduo a comprar e consumir dado produto em vez de outro, em dada quantidade, em dado momento, em dado local (Dubois, 1999). Para compreender a preferência do consumidor, é necessário que se leve em conta o tipo de comportamento de compra, tendo em vista o grau de envolvimento do consumidor com o produto. Assael (1992) distinguiu quatro tipos de comportamento de compra, descritos a seguir: • Comportamento de Compra Complexa: Aqui se enquadram os produtos caros, comprados com pouca freqüência e que têm expressão para o consumidor. Normalmente, ele não sabe o suficiente sobre o produto e tem muito que aprender. O profissional de marketing que é responsável por um produto de alto envolvimento deve saber avaliar o comportamento de consumidores desse tipo de produto. É necessário desenvolver estratégias de comunicação que levem o consumidor a aprender sobre os atributos do produto. • Comportamento de Compra com Dissonância Reduzida: ocorre quando os consumidores estão muito envolvidos em uma compra, mas notam algumas diferenças (pequenas) entre as marcas. Aqui, o consumidor consultará vários pontos de venda, a fim de saber o que está disponível, e comprará rapidamente, pois a diferença entre as marcas não está explícita. Depois da compra, ele pode sofrer algum tipo de dissonância, resultante da percepção de alguns pontos não satisfeitos. O consumidor estará atento às informações que justifiquem sua decisão de compra. • Comportamento de Compra Habitual: acontece quando o consumidor está pouco envolvido ou não está envolvido com a compra, e quando não há diferenças marcantes entre as diversas marcas. O consumidor vai à loja e procura uma marca; se não a encontra, compra outra qualquer, porque não existe lealdade à marca. Existem evidências de que os consumidores possuem pouco envolvimento com a maioria expressiva dos produtos com74 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO prados com freqüência e de baixo preço. Neste caso, os consumidores não buscam muitas informações sobre as marcas e nem avaliam suas características. São bastante passivos às informações provenientes da televisão ou da mídia impressa. • Comportamento de Compra que Busca Variedade: nesta situação, o consumidor está pouco envolvido com a compra e percebe as grandes e acentuadas diferenças entre as marcas disponíveis. Ele é obrigado a realizar escolhas de marcas. Essas escolhas ocorrem em função da variedade e não da insatisfação. Os fatores que estimulam, mantêm e dirigem o comportamento do consumidor no sentido da realização de um objetivo são conhecidos como motivações. Schiffman e Kanuk (2000) definem motivação como a “força motriz interna dos indivíduos que os impele à ação”. Esta força é gerada através de um estado de tensão que ocorre em função da não-satisfação de uma necessidade. Os indivíduos procuram minimizar este estado através de um comportamento que vá ao encontro da satisfação dos seus desejos e necessidades. Os autores afirmam que é difícil definir quais são os motivos responsáveis por certo tipo de comportamento, pois os mesmos não podem ser vistos, tocados ou observados de qualquer forma tangível, ou seja, a identificação e mensuração dos motivos humanos são um processo inexato. Adotando-se uma orientação empresarial voltada para o mercado, é imprescindível que se compreenda as necessidades do cliente e procure-se convergir todas as funções da organização de modo a atender a estas necessidades. Esta tendência, combinada com o contínuo processo de aproximação entre produtos e serviços, torna as empresas, por uma questão de sobrevivência, mais perceptíveis e mais sensíveis às reações dos consumidores e, conseqüentemente, mais atentas às suas necessidades e aos seus desejos (Espartel; Slongo, 1997). Para Engel et al (2000), não causa surpresa que um grande e extenso campo de pesquisa tenha surgido focalizando o comportamento do consumidor. Esta análise possibilita que as empresas desenvolvam e ofereçam produtos que melhor satisfaçam as necessidades dos consumidores. 75 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Seção 4.2 Processo de Compra do Consumidor Segundo Engel et al (2000), às vezes, a solução de problemas do consumidor envolve ponderação e avaliação cuidadosas dos atributos funcionais do produto. Freqüentemente o termo tomada de decisão racional é usado quando é este o caso. Outras vezes, benefícios hedonistas (orientados emocionalmente) serão dominantes, e o objeto de consumo é visto simbolicamente em termos de prazeres sensoriais, dias de sonho ou considerações estéticas. Comprar e consumir, geralmente, refletem uma combinação de ambos, benefícios utilitários e hedonistas. Nos referenciais teóricos a respeito do comportamento do consumidor, existe um certo consenso de que o processo de decisão de compra é composto por cinco etapas: 1) reconhecimento de uma necessidade; 2) busca por informações; 3) avaliação das alternativas; 4) compra ; e 5) avaliação pós-compra (Kotler, 1998; Churchill; Peter, 2000; Shiffman; Kanuk; 2000). Os autores Engel et al (2000) acrescentaram em seu modelo as etapas denominadas de “consumo” (logo após da etapa compra), e também o despojamento (após a etapa de avaliação pós-compra). A perspectiva de solução de problema abrange todos os tipos de comportamento de satisfação de necessidade e uma ampla faixa de fatores motivadores e influenciadores. Engel et al (2000), descrevem resumidamente os estágios da tomada de decisão do consumidor: 1. Reconhecimento de necessidade – uma percepção da diferença entre a situação desejada e a situação real suficiente para despertar e ativar o processo decisório. 76 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO 2. Busca de informação – busca de informação armazenada na memória (busca interna) ou aquisição de informação relevante para a decisão no ambiente (busca externa). 3. Avaliação de alternativa pré-compra – avaliação de opções em termos de benefícios esperados e estreitamento da escolha para a alternativa preferida. 4. Compra – aquisição da alternativa preferida ou de uma substituta aceitável. 5. Consumo – uso da alternativa comprada. 6. Avaliação de alternativa pós-compra – avaliação do grau em que a experiência de consumo produziu satisfação. 7. Despojamento – descarte do produto não-consumido ou do que dele restou. A tomada de decisão do consumidor é influenciada e moldada por muitos fatores determinantes, que envolve influências individuais (recursos do consumidor, conhecimento, atitudes, motivação, personalidade, valores e estilo de vida); influências ambientais (cultura, classe social, influência pessoal, família, situação); e processos psicológicos (informação em processamento, aprendizagem, mudança de atitude e comportamento). Ou seja, o consumidor parte de um conjunto de conhecimentos já existentes, nos quais ele vai acrescentando novas informações nas demais etapas do processo decisório. Porém, na seção a seguir, vamos ver o quanto difere um consumidor final de um consumidor industrial. 77 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Seção 4.3 Consumidor Industrial nos SAGs Os consumidores industriais (cooperativas, agroindústrias, indústrias, distribuidores, organizações) diferem do consumidor final dos sistemas agroindustriais principalmente pelo fato de serem compostos por um número reduzido de compradores. Geralmente eles são de maior porte, os relacionamentos são mais próximos, as compras são profissionalizadas e normalmente com demanda derivada do consumo final (Neves, 1999). Os agentes envolvi dos na compra també m são os iniciadore s, os usuários, os influenciadores, decisores, aprovadores e compradores. Os fatores que mais influenciam este tipo de compra são: • os fatores ambientais (nível de demanda da indústria, situação econômica, regulamentação, mudanças tecnológicas e responsabilidades sociais); • os fatores organizacionais, com destaque para os objetivos, as políticas e os procedimentos internos de compra e a estrutura organizacional; • os fatores interpessoais, tais como: interesses, simpatia, autoridade e persuasão; • os fatores individuais, com destaque para a renda, idade, personalidade, educação, atitudes com relação a risco, e outros. O processo de decisão de compra industrial no agronegócio (por exemplo, a Perdigão comprando frangos, ou o Atacado Martins comprando produtos do Frigorífico Aurora para distribuir) dentro dos SAGs difere um pouco do processo de decisão de compra do consumidor final, uma vez que os produtos não são comprados para consumo pessoal. As fases são resumidas em reconhecimento do problema, descrição mais detalhada da necessidade e especificação dos produtos, a busca de fornecedores, a solicitação de propostas, a seleção de fornecedores, a especificação de uma rotina de compras e entregas e a revisão periódica do desempenho. Este processo é o que mais ocorre no estabelecimento de transações entre os agentes dos sistemas agroindustriais. Daí a relevância de conhecê-lo para poder melhorar continuamente o relacionamento entre os envolvidos e reduzir os custos de transação (Neves, 1999). 78 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Seção 4.4 Algumas Mudanças no Mercado Consumidor de Produtos Agroalimentares Para Casotti (2001), a sociedade não pode ser pensada e analisada separada do mercado de consumo que a classifica. O consumo é um recurso central na formação das identidades sociais e culturais. Essas identidades não são mais definidas apenas pelo seu discurso, e sim pelos padrões de consumo estabelecidos. Desta forma, conhecer o comportamento do consumidor de alimentos é importante para compreender a construção das identidades culturais e sociais. Conforme Casotti e Thiollent (1997), para conhecer as bases motivacionais que levam as pessoas a aceitarem ou não determinados alimentos, é preciso diferenciar três termos: o uso de um alimento que relaciona-se a “o que” ou “quanto” é consumido; a preferência que refere-se à situação de escolha. Exemplificando, o consumidor pode preferir carne mas comer mais pão por razões como preço e praticidade no preparo. O gosto relaciona-se a uma resposta afetiva sendo um determinante de preferência, ou seja, pode-se preferir comer verduras, mas gostar mais de doces. Em torno do ato de comer há conceitos e sentimentos complexos, difíceis de serem interpretados. São motivações, influências, hábitos, preferências e riscos percebidos, que se somam e se misturam, tornando os momentos do consumo de alimentos, o ato de cozinhar, o ato de comprar algo com múltiplos significados, além do objetivo básico de matar a forme. O consumo de alimentos não é definido por uma relação custo-benefício das escolhas e sim por experiências adquiridas através do consumo passado e presente (Casotti, 2001). Segundo Neves et al (2000b), as empresas do setor de alimentos e bebidas passam por grandes transformações que partem do seu elemento-chave que é o consumidor final. Entender as mudanças nos de se jos de sse novo consumi dor, que altera gradativamente seu hábito alimentar, é fundamental para compreender como as empresas devem trabalhar ao longo dos SAGs para ter sucesso. Todos os setores integrantes do SAG, da produ79 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der ção agropecuária ao varejo, necessitam de um fluxo eficiente de informações ao longo da rede produtiva para compreender melhor o que o consumidor demonstra em termos de preferência alimentar e conseqüentemente como e o que irá comprar, em virtude de um ambiente externo mais competitivo. Para Neves (2000b), a capacidade de entender o comportamento do consumidor permite predizer com maior chance de acerto o seu comportamento e descobrir os relacionamentos de causa e efeito que gerenciam a persuasão para a compra de produtos e compreender como é a educação desse consumidor ao longo do relacionamento dele com a empresa. O consumidor começa a adicionar novos valores e crenças aos seus critérios de escolha e de julgamento de empresas e de marcas. Em todos os níveis sociais cresce a consciência da dimensão da ética, da cidadania, da valorização dos direitos humanos e do respeito à capacidade de consumo. Questões como meio ambiente, reciclagem de embalagens, responsabilidade social e até mesmo o tratamento dispensado pela empresa aos seus funcionários e colaboradores têm peso considerável na hora da escolha do local onde se vai comprar. Talvez o caso brasileiro necessite ainda uma reflexão mais específica. A grande desigualdade social, principalmente em termos de distribuição de renda, faz com que coexistam, no país, grupos de consumidores com características muito distintas. Em um extremo, podese encontrar uma camada da população com alto poder aquisitivo, que adota um padrão de consumo alimentar compatível com aqueles dos países centrais. Este grupo, embora pequeno em números relativos, concentra grande parte da riqueza da nação e é, portanto, um mercado importante para indústrias alimentares que trabalham com produtos de maior valor agregado. No outro extremo pode ser visualizado um grupo de consumidores que ainda não consegue se alimentar, em quantidade e qualidade, de forma adequada (Kohls, 2004). De acordo com Neves (1999), entre as principais mudanças no comportamento dos consumidores podem ser citadas: a) o aumento do consumo fora do domicílio; b) a preocupação com a questão da segurança do alimento no aspecto qualitativo, onde o conceito de rastreabilidade (traceability) é crescente nos segmentos de mercados mais exigentes, principalmente com o crescimento dos produtos geneticamente modificados; 80 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO c) a tendência de um aumento relativo na participação dos idosos na população total do país; d) a conveniência pela expansão dos lares com menor número de moradores e o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, preferindo produtos de fácil preparo e embalagens individualizadas; e) valorização dos aspectos culturais, regionais e exóticos; f) a abordagem do desenvolvimento sustentável, induzindo as empresas a focar suas estratégias nos chamados consumidores “verdes”, através de produtos “ambientalmente limpos”, além do crescimento dos produtos orgânicos, com selo de origem e ausência de agroquímicos; e g) os códigos de defesa dos consumidores, cada vez mais rigorosos. De acordo com Casotti e Thiollent (1997), os SAGs começam a se conscientizar da crescente importância dos aspectos nutricionais dos alimentos para os consumidores e as versões nutricialmente melhoradas começam a crescer dentro do conjunto das ofertas nesse setor de atividade. Pesquisadores têm descoberto que o modo como comemos influencia diretamente nossa saúde física e emocional, exercendo um papel determinante em muitas doenças. Para esses autores, no Brasil, não somente produtos alimentares associados à saúde começam a proliferar nas prateleiras dos supermercados, mas observa-se também uma grande discussão da questão nos meios de comunicação disponíveis, onde destaca-se o programa de educação para o consumo do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). Este projeto tem como finalidade fornecer informações para os consumidores brasileiros para melhorar o processo de escolha de bens e serviços e torná-los mais conscientes de seus direitos como consumidores. Assim, lentamente as pessoas começam a receber as mensagens e os alimentos a serem divididos em bons e maus, geralmente sendo relacionados a aspectos ligados aos nutrientes dos alimentos e como agem sobre o organismo humano. Segundo os autores, o processo de educação do consumidor em relação à sua dieta alimentar passa, certamente, pelo fluxo das informações que chegam até ele. 81 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der A preocupação dos consumidores com aspectos ligados à sua saúde pode ser observada a partir da pesquisa realizada por Frazão e Allshouse (1995) com produtos que apresentavam características nutricionais melhoradas em sua composição, em relação aos tradicionais, tais como: menos gordura, light, diet, sem colesterol, etc. O estudo observou que houve um significativo crescimento da oferta dessas versões melhoradas no varejo de alimentos, sendo que o volume de vendas desses alimentos, mesmo sendo mais caros, cresceu em ritmo mais rápido do que as versões similares tradicionais. Segundo Casotti e Thiollent (1997), há uma associação cada vez maior dos alimentos com a questão da saúde. Entretanto, essa associação gera um conflito para os consumidores de alimentos, entre o que devem comer para sua saúde e para o físico desejável versus o que os consumidores gostam e realmente preferem comer. Mas, embora o assunto alimento associado à saúde ocupe espaço cada vez maior nos meios de comunicação e nas prateleiras dos supermercados, as empresas ainda parecem relativamente tímidas em suas práticas (Casotti; Thiollent; 1997). Para alcançar uma performance superior é preciso que a empresa ofereça um produto que represente valor superior ao cliente. É preciso conhecer o mercado em que está inserido, e mais especificamente o comportamento de compra do cliente. Do ponto de vista estratégico, o mercado é o centro das decisões de marketing de uma organização (Stanton; Etzel; Walker, 1997). 4.4.1 – AVALIAÇÃO DE ATRIBUTOS NA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS POR PARTE DO CONSUMIDOR Para que se faça uma avaliação dos produtos, é preciso estabelecer, inicialmente, alguns critérios. De acordo com Engel et alli (2000), os critérios de avaliação nada mais são do que dimensões ou atributos particulares que são usados no julgamento das alternativas de escolha. Os critérios de avaliação assumem várias formas. Os consumidores podem considerar fatores como segurança, confiabilidade, preço, marca e origem, durante a tomada de decisão. Estes critérios dependem de vários fatores, como a influência situacional, a similaridade de alternativas de escolha, a motivação, o envolvimento e o conhecimento dos consumidores. 82 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A avaliação das alternativas é um estágio importante no processo de decisão de compra. Esta avaliação permite ao consumidor uma escolha mais criteriosa daquela que for mais adequada às suas necessidades. Durante esta avaliação, os atributos inerentes do produto são analisados para que o comprador estabeleça a sua preferência para adquirir um produto ou outro (Engel et al, 2000). Os atributos de um produto são estímulos que influenciam o consumidor em sua tomada de decisão de compra, avaliando-os em função de seus próprios valores, crenças ou experiências. A avaliação dos atributos é fundamental para compreender as necessidades e desejos do consumidor a respeito de um determinado produto. No que se refere à influência efetiva dos atributos na intenção de compra do consumidor, Alpert (apud Espartel; Slongo, 1997) destaca três formas de apresentação dos atributos: • atributos salientes: são os atributos presentes em um produto que são percebidos pelos consumidores mas que não possuem importância na tomada de decisão de compra; • atributos importantes: são atributos considerados importantes pelos consumidores, mas que ainda não decidem a compra de um produto; • atributos determinantes: são atributos constantes do rol de atributos importantes e capazes de influenciar a compra de um produto. Segundo Spers (2000b), a mente humana tem um limite de sete, mais ou menos duas variáveis ou atributos que podem ser avaliados conjuntamente na escolha de um alimento. Isso faz com que ocorra um viés por parte do consumidor quanto à percepção de risco, tendendo a subestimar certas doenças causadas por alimentos, como as contaminações por microorganismos em produtos orgânicos, e a superestimar outras, como é o caso das moléstias causadas por aditivos e pesticidas. Segundo Spers e Kassouf (1996), os estudos sobre a preferência de atributos em um alimento sugerem duas ponderações: por qualidades extrínsecas (aparência) e outra por qualidades intrínsecas (ausência de resíduos químicos, propriedades nutricionais e alimentícias). Em geral, a segurança alimentar intrínseca é exigida por consumidores mais informados e com maior poder aquisitivo. 83 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der De acordo com Toledo (1997), um alimento de qualidade é aquele que, de maneira consistente, atende às necessidades do consumidor em termos de conveniência, de propriedades organolépticas, funcionais, nutritivas e de higiene, e que respeita a legislação pertinente e informa o consumidor quanto aos cuidados e modos de preservação, preparo e ingestão. Para o autor, a qualidade de um produto agroalimentar tem duas características marcantes. A primeira refere-se aos parâmetros e exigências de qualidade que são ocultas, ou seja, aqueles que o consumidor não enxerga, mas que, de alguma forma, podem prejudicá-lo. Outra característica refere-se à importância dos padrões de qualidade de apresentação para a decisão de compra do produto. Pode ser que um produto seja perfeito do ponto de vista da segurança do alimento, mas o consumidor, a partir de sua percepção, não aprecie o produto e não deseje consumi-lo. Resumidamente, as especificidades da qualidade no sistema agroalimentar são: • A qualidade do produto final depende da qualidade ao longo de toda a cadeia alimentar. • No final da cadeia agroalimentar predomina a avaliação subjetiva da qualidade, ou seja, a qualidade percebida pelo consumidor. • A segurança é um aspecto fundamental da qualidade e ambas estão sujeitas ao controle de órgãos públicos. 4.4.2 – A PREOCUPAÇÃO COM A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Segundo Spers (1999), existe uma crescente preocupação dos consumidores com alimentos, sejam estes de origem animal ou vegetal. Segundo o mesmo autor (2000a), o consumidor desempenha um papel fundamental na seleção dos atributos dos alimentos, e é sua preferência que determina quais devem ser os mais importantes e quais devem estar ou não presentes no produto. 84 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Para que se defina a segurança em alimentos, de acordo com Spers (2000a, 2000b) é necessário diferenciar o termo, que tem sido utilizado com dois significados. O primeiro, sob o enfoque quantitativo, é denominado segurança alimentar (food security) e refere-se ao abastecimento adequado de uma determinada população. Teixeira (apud Spers, 2000b) a define como “a segurança alimentar mínima alcançada quando os países em desenvolvimento chegam a uma produção de alimentos equivalente às suas próprias necessidades”. Pinazza e Araújo (1993) afirmam que “o conceito de segurança alimentar coloca sobre o ombro dos governos duas grandes responsabilidades: uma, de assegurar a oferta de alimentos para a população; a outra, pela obrigação de ajudar os países que por ventura sofram carestia em razão de condições climáticas adversas, ataques de pragas e doenças ou de guerras”. Para Spers (2000b) a segurança alimentar pode ser obtida por meio do aumento da renda familiar, aliado a uma oferta adequada de alimentos através do crescimento da produção interna ou aumento da importação de alimentos. Segundo o autor, este termo é mais conhecido e amplamente discutido no Brasil pelo fato de ainda ser uma preocupação básica para os países em desenvolvimento, onde grande parte da população enfrenta problemas nutricionais. O segundo sentido possui um enfoque qualitativo que Spers (2000b, p. 284) prefere definir como segurança do alimento (food safety), ou seja, “a garantia de o consumidor adquirir um alimento com atributos de qualidade que sejam do seu interesse, entre os quais destacam-se os atributos ligados à sua saúde e segurança”. Toledo (1997) define a qualidade de produto como “uma propriedade síntese de múltiplos atributos do produto que determinam o grau de satisfação do cliente”. Na língua portuguesa, o termo atributo é definido como sendo uma “característica, qualitativa ou quantitativa, que identifica um membro de um conjunto observado” (Dicionário Aurélio). Muitos dos atributos de qualidade em alimentos são intrínsecos, ou seja, não podem ser observados facilmente e percebidos externamente. Os principais exemplos são os alimentos com determinado padrão de qualidade (sabor e textura), não-modificados geneticamente, funcionais ou farmacêuticos e com processos que não agridem o bem-estar dos animais e do ambiente, ou ainda que possam determinar a origem do produto (Spers, 1999). 85 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der A preocupação das pessoas quanto ao seu bem-estar na ingestão de alimentos encontra respaldo no Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, que em seu Art. 6º trata dos direitos básicos do consumidor, e cita “a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”. Em decorrência de tal direito, o Código elenca normas que exigem a devida informação sobre os riscos que produtos e serviços possam apresentar, de maneira clara e evidente, ou simplesmente não colocá-los no mercado, se tais riscos forem além do que normalmente se espera deles (arts. 8º a 10º). Durante a Conferência Regional da Consumer’s International, realizada em São Paulo em setembro de 1995, foram apontados os chamados “quatro pilares” da defesa do consumidor (Grinover et al, 1998): a) O aperfeiçoamento dos mecanismos jurídicos de proteção ao consumidor. b) A massificação da educação do consumidor. c) Esforços visando à melhoria da qualidade de produtos de alimentação e nutrição. d) O consumo sustentável e o desenvolvimento sustentado. O item “c” citado anteriormente destaca, sobretudo, a preocupação voltada à saúde e segurança dos consumidores, na qual essa perspectiva intensifica-se pelo funcionamento dos comitês do Codex Alimentarius, código internacional que regulamenta a qualidade e inocuidade dos alimentos e sua implementação pela legislação dos países, que também devem ser dotados de instrumentos eficazes de fiscalização. Com o intuito de garantir a aplicação desta legislação, surgem alguns programas de segurança de alimentos que têm sido largamente difundidos nas empresas produtoras. Um dos mais utilizados é a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), que identifica, avalia e controla riscos significantes para a segurança do alimento. De acordo com Finkler e Terra (1999), a adoção do AAPCC apresenta várias vantagens para a empresa implantadora: 86 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO a) alto nível de segurança aos alimentos, pois detecta contaminações químicas (pesticidas) ou físicas (pedras, vidros) e ainda detecta causas de doença ou morte biológica (bactérias e vírus); b) redução de análises, destruição ou reprocessamento de produtos; c) ganho em produtividade; d) economia; e) consolidação da imagem e da credibilidade da empresa junto aos clientes; f) auto-estima e a importância do trabalho em equipe para os funcionários da empresa; e (g) atender às legislações sanitárias. Segundo Dabés (2001), a carne, devido a suas características físico-químicas, tem sido freqüentemente implicada em surtos de doenças transmissíveis por alimento, o que poderia ser reduzido pela adoção do APPCC. De acordo com Hathaway (apud Prata, 2000) e com o próprio Codex Alimentarius, sempre é inerente aos produtos alimentícios algum grau de risco, não importando o quão pequeno ele seja, principalmente levando-se em conta que o consumidor desempenha importante, e às vezes decisivo, papel na conservação doméstica, na manipulação e no preparo dos alimentos antes de serem servidos. Assim sendo, o Codex caracterizou o que sejam alimentos íntegros mediante as ações de inspeção e práticas vigentes. Referem-se aos alimentos próprios para o consumo humano que reúnam ou atendam aos seguintes critérios: • Não causar infecção ou intoxicação alimentar quando adequadamente manipulados e preparados, de acordo com os usos e finalidades a que se destinam. • Que não contenham resíduos excessivos aos limites estabelecidos. • Sejam livres de contaminações. • Sejam livres de defeitos que geralmente são reconhecidos e objecionados pelos consumidores. • Tenham sido produzidos sob adequado controle higiênico. • Não tenham sido tratados com substâncias ilegais ou impróprias de acordo com a legislação. 87 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Em síntese, a segurança alimentar está relacionada à confiança do consumidor em receber uma quantidade suficiente de alimentos para a sua sobrevivência ou na capacidade do país em fornecer esta quantidade, enquanto a segurança do alimento significa a confiança do consumidor em receber um alimento que não lhe cause riscos à saúde (Spers, 2000b). 4.4.3 – ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES ENTRE PRODUTORES, AGROINDÚSTRIA E CONSUMIDORES Segundo Zylbersztajn (2000), um dos principais problemas do comércio de alimentos está relacionado à assimetria de informações entre os consumidores e produtores de alimentos. Esta assimetria pode causar problemas de falhas de mercado, uma vez que o consumidor tende a não premiar a alta qualidade dos produtos por não poder distingui-los dos produtos de pior qualidade. Para Spers (2000b), substâncias que podem acarretar perigo para a saúde humana nem sempre podem ser visualizadas externamente em um alimento. A análise da demanda assume que o consumidor conhece os riscos associados ao consumo de alimentos e faz sua escolha através de suas preferências e avaliações dos diferentes níveis de segurança do alimento. A presença de assimetria de informação permite a ocorrência de ação oportunística por parte do mercado. Uma indústria alimentar, por exemplo, com o intuito de atingir novos nichos de mercado, diferenciar e aumentar o valor do seu produto pode alegar que produz alimentos isentos de aditivos, pesticidas ou agrotóxicos. Por não ser visualizada externamente, a veracidade desta informação não pode ser constatada. Uma possibilidade de evitar este tipo de ação está na criação de marcas, padrões ou certificados que assegurem um padrão de qualidade ou de uma legislação mais rigorosa que puna e controle este tipo de atitude. Outra é pela rastreabilidade que significa alimentos claramente identificados e rastreados, evitando, entre outras coisas, a sabotagem e as contaminações, aumentando a reputação da empresa, além de permitir a remoção do produto quando necessário. 88 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A assimetria de informação depende da intervenção do governo para que possa equilibrar os objetivos da iniciativa privada com as necessidades dos consumidores. A segurança do alimento é uma questão de saúde pública, devendo ser tratada com o devido amparo institucional e organizacional, através do auxílio de agentes que permitam o monitoramento e a punição dos infratores, quando necessário. Para Zylbersztajn (1999), as razões que levam à interferência do estado estão ligadas à característica da assimetria informacional no mercado de alimentos, que cria uma situação de falha de operação no sistema de preços. Mesmo com a possibilidade do surgimento do efeito reputação, a existência de empresas que operam em mercado com produtos de pouco valor e de grande freqüência de transações, leva à necessidade do estabelecimento de controles. Se o produto com padrões superiores custar mais e se o consumidor não puder diferenciálo do produto sem o padrão de qualidade, o consumidor irá escolher pagar apenas pelo produto de baixa qualidade. O aspecto crucial é de que qualidade implica em custos, do que surge o questionamento se o público poderá pagar os preços resultantes da implantação de padrões. Este é um dilema do Estado, que, no caso de adotar e fiscalizar padrões rígidos poderá excluir do consumo determinadas parcelas da população. Ao não adotá-los, poderá ser considerado responsável por eventuais problemas advindos desta atitude. Para Zylbersztajn (1999), somente tendo confiança em mecanismos que lidem com as assimetrias informacionais é que o consumidor poderá adquirir os alimentos e consumi-los com segurança. No campo dos agronegócios, cabe ao Estado atuar fortemente no campo do monitoramento da sanidade dos alimentos, o que terá impactos de vulto, tanto nos mercados internos como nos mercados internacionais. Construir reputação é um desafio que bate à porta do Estado brasileiro. 4.4.4 – O CONSUMIDOR “VERDE” O comportamento do consumidor compõe-se de um conjunto de variáveis que influenciam na decisão do consumidor (cliente) em comprar ou não o produto. Para entender o comportamento do consumidor faz-se necessário estudar como as pessoas, grupos e orga89 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der nizações selecionam, compram, usam e descartam artigos, serviços, idéias ou experiências para satisfazer suas necessidades e seus desejos. Kotler (2000) considera que o comportamento do consumidor é influenciado por quatro fatores: 1) culturais (cultura, subcultura e classe social); 2) sociais (grupos de referência, família, papéis e status); 3) pessoais (idade e estágio no ciclo de vida, ocupação e circunstâncias econômicas, estilo de vida e personalidade e auto-imagem); e 4) psicológicos (motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes). O conceito de consumidor verde, ou ecologicamente consciente, é definido por Ottman (1994), como aquele indivíduo que busca para consumo apenas produtos que causem menor – ou nenhum – prejuízo ao meio ambiente. “Aqueles que buscam conscientemente produzir, através do seu comportamento de consumo, um efeito nulo ou favorável sobre o meio ambiente e à sociedade como um todo” (Lages; Neto, 2002). A compreensão do perfil do consumidor ecológico faz-se necessária para o melhor desenvolvimento de estratégias de marketing adequadas ao contexto de preocupação ambiental. No entanto, vários estudos têm procurado identificar as características deste consumidor ecológico. Em um estudo visando identificar o perfil do consumidor verde Shrum, McCarty e Lowrey (1995, apud Pereira, 2006) concluíram que estes consumidores são muito cuidadosos e procuram se informar sobre o produto que estão comprando, incluindo a informação sobre propaganda. Porém, os consumidores verdes são céticos em relação à propaganda. Isto implica em que as mensagens contidas na propaganda devem ser precisas e evitar ambigüidades. Os consumidores têm certa dificuldade em avaliar as informações deste tipo de atributo e por este motivo necessitam de mais informações sobre este tipo de tema. O estudo concluiu que os consumidores se mostram a princípio céticos em relação a apelos ambientais em anúncios. Esta falta de confiança em pistas com argumentos ecológicos pode causar a rejeição das mesmas por parte dos consumidores. Outro ponto a se levantar é o comportamento de compra do consumidor. 90 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Segundo Ottman (1994, p. 8) “os indivíduos estão agindo de acordo com seus valores por meio do poder de suas decisões de compra. Numa tentativa individual de se protegerem e de protegerem o planeta, esses consumidores estão moldando uma nova tendência denominada consumerismo ambiental só comprando produtos que consideram verdes e deixando produtos não verdes na prateleira”. Esta afirmação vai ao encontro de uma questão recorrente nos estudos que tentam identificar o perfil deste consumidor, que é a ausência de relação direta entre consciência ecológica e o comportamento de compra (Lages; Neto, 2002). Nesta perspectiva, o conhecimento das questões ambientais, apesar de ser considerado como um indicador da possibilidade de ação consciente do consumidor, não parece significar obrigatoriamente um comportamento de compra ecologicamente correto. Outro conceito proveniente do marketing ambiental é o de produtos “verdes”, que são aqueles produtos ambientalmente corretos que reduzem a agressão ao meio ambiente e a saúde humana (Ottman, 1994). Estes produtos verdes podem ser produtos que através de uma reavaliação dos processos de produção envolvidos, ou mesmo de reformulação ou diferenciação de produção, sofreram modificações com intuito de se tornarem ecologicamente corretos e agredirem minimamente possível o meio ambiente. A consideração de aspectos ambientais por parte das empresas também pode provocar o reposicionamento de alguns produtos. Em resposta à exposição aos raios ultravioletas e o risco de câncer de pele, tanto as loções com filtros solares quanto os óculos de sol passaram a enfatizar mais a proteção solar do que a estética. Mesmo tendo em vista toda esta preocupação com a ecologia nos dias de hoje, e o fato de existirem poucos estudos que testem os impactos dessa chamada “orientação verde” sobre os hábitos do consumidor brasileiro, não se pode afirmar que este chamado consumidor verde exista de forma significativa na sociedade brasileira. O Instituto Akatu pelo Consumo Consciente realizou duas pesquisas intituladas: “Os jovens e o consumo sustentável” e “O consumidor brasileiro e a construção do futuro”, que visavam identificar as percepções dos jovens e da população adulta em geral sobre o impac91 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der to do ato de consumir. As pesquisas concluíram que os jovens, apesar de reconhecerem o impacto social do uso e descarte de produtos, não pensam sobre o processo de produção e consumo ao escolher os bens que consomem. Junto ao público adulto, as conclusões da pesquisa foram similares ao do público jovem e apontam que a reflexão, por parte do consumidor, sobre apelos ambientais em relação ao ato de comprar e consumir ainda são insignificantes para a população em geral. Em decorrência desta ênfase em questões ambientais, os profissionais de marketing e acadêmicos passaram a se preocupar na forma de comunicar a produção ecologicamente correta de um produto ou empresa. Os argumentos ecológicos são qualquer atributo, pista ou recurso que forneça informações sobre a produção verde (ecologicamente correta) de determinado produto, marca ou empresa e que tenha a intenção de alterar o comportamento, ou a atitude do consumidor. Esse consumidor “verde” é um indivíduo consciente do seu papel no desenvolvimento e na sustentabilidade da sociedade em que vivemos. Tal perfil favoreceu a oferta de produtos com um apelo ecologicamente correto, como é o caso dos orgânicos. Na década de 1980, o mercado de orgânicos no Brasil se restringia a umas poucas feiras de produtores e à venda de cestões semanais, diretamente ao consumidor. Atualmente estas feiras estão praticamente em todas as capitais do Centro-Sul do país. As feiras se enquadram perfeitamente na filosofia do movimento orgânico, que preconiza a comercialização direta do agricultor ao consumidor, de modo a estabelecer uma relação personalizada e de cooperação entre produtor e o consumidor; e possibilitar maiores ganhos aos agricultores e menores preços aos consumidores (Khatounian, 2001). No Brasil a produção de orgânicos teve um grande impulso nos últimos anos. Atraídos pelo preço dos produtos no mercado, em média 30% mais elevados do que o produto convencional, por uma possível diminuição nos custos de produção ou por uma maior possibilidade de conservação dos recursos da propriedade rural, o certo é que esse número vem aumentando dia a dia (Souza; Alcântara, 2005). A demanda no Brasil cresce cerca de 10% ao ano, podendo ter este ritmo acelerado pelo efeito da divulgação dos próprios produtos nos pontos de venda, ou seja, pessoas que não conheciam o produto orgânico podem passar a interessar-se à medida que ele se torne disponível. Segundo uma pesquisa do Instituto Gallup, 7 em cada 10 brasileiros consumiriam produtos orgânicos se houvesse mais ofertas nos supermercados (Viglio, 1996). 92 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO A produção orgânica no Brasil inclui hortaliças, soja, açúcar mascavo, café, frutas (banana, citros), cereais (milho, arroz, trigo), leguminosas (feijão, amendoim), caju, dendê, erva-mate, plantas medicinais e vários produtos de menor expressão quantitativa. A produção animal é ainda muito restrita, constituindo uma das áreas de maior possibilidade de retorno dentro do mercado orgânico (Khatounian, 2001). A forte demanda por produtos orgânicos tem levado as grandes redes de supermercados a estabelecerem estandes específicos num número crescente de lojas no Centro-Sul. Essa expansão tem forçado a organização de um mercado atacadista e tem levado à incorporação dos produtos orgânicos às vias formais de distribuição. Atualmente, o crescimento desse mercado é estimado em 30% ao ano. Na próxima unidade vamos abordar o cooperativismo, como ele tem influenciado os agronegócios e quais são e como se estabelecem as relações de troca no ambiente cooperativo. 93 EaD 94 Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der EaD Unidade 5 RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO O AGRONEGÓCIO COOPERATIVO OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Proporcionar o entendimento sobre o conceito de cooperativismo e os princípios atuais do sistema. • Oferecer os instrumentos básicos para a compreensão da teoria sobre a cooperação nos Agronegócios e Redes no Ambiente Cooperativo. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 5.1 – Conceitos e Definições de Cooperativismo Seção 5.2 – A Cooperação nos Agronegócios Seção 5.3 – Redes no Ambiente Cooperativo Iniciaremos o estudo dessa unidade buscando aprofundar e “lapidar ” o conceito de cooperativismo e fazendo uma relação dos atuais princípios que o norteiam. Você constatará que esse é um movimento internacional e que merece a sua atenção. 95 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Seção 5.1 Conceitos e Definições de Cooperativismo O Cooperativismo, enquanto organização socioeconômica, não se sustenta sobre uma noção ou teoria social específica, mas sobre um conjunto de idéias e noções, tais como: mutualidade, união de esforços, solidariedade, associação entre pessoas em função de objetivos comuns, a não exploração do homem pelo homem, justiça social, democracia e autogestão. A idéia central da organização cooperativa baseia-se, antes de mais nada, nas idéias e convicções de seus próprios membros, empenhados numa ação comum, a fim de se dedicarem à atividade produtiva, econômica e social, ou a serviços úteis e benéficos a todos os que fazem parte da associação. A natureza da cooperação e do cooperativismo já foi objeto de inúmeras descrições e definições. É preciso, portanto, que estejam bem claras essas noções fundamentais que sustentam o cooperativismo, pois será em função delas que se orientará qualquer atividade. A cooperação é definida como método de ação pelo qual indivíduos, famílias ou comunidades, com interesses comuns, constituem um empreendimento. Neste, os direitos e deveres de todos são iguais e o resultado alcançado é repartido entre seus integrantes, na proporção de sua participação nas atividades da organização. O cooperativismo é conceituado como um movimento internacional, que busca constituir uma sociedade justa, livre e fraterna, em bases democráticas, através de empreendimentos que atendam a necessidades reais dos cooperantes, e remunerem adequadamente a cada um deles. 96 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Uma cooperativa é definida como uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e/ou culturais comuns, por meio de uma organização de propriedade coletiva e democraticamente gerida. Para a Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB (OCB, 2008), cooperativa é uma sociedade de, no mínimo, vinte (20) pessoas físicas, com um interesse em comum, economicamente organizada de forma democrática, isto é, Eqüidade Igualdade, justeza, justiça. Gênese Constituição, formação, origem. Doutrina Ensinamento, preceito, princípio, teoria, mandamento. com a participação livre e igualitária dos cooperantes, aos quais presta serviços, sem fins lucrativos. Os valores, que constituem um dos referenciais estratégicos das organizações cooperativas, se referenciam na ajuda mútua e responsabilidade, na democracia, na igualdade, na eqüidade e na solidariedade. Os preceitos éticos do cooperativismo fundamentam-se na honestidade, na transparência, na responsabilidade social e na preocupação pelo seu semelhante. Os cooperativismo fundamenta a sua organização e atuação com base num conjunto de princípios. Os princípios definem os fundamentos, o alicerce, a gênese, o ponto de partida que serve para orientar e encaminhar uma ciência, uma doutrina e também a própria organização cooperativa. O cooperativismo foi construído sobre pilares da cooperação que destacam a união do social (associação de pessoas – autogestão) e do econômico (empresa coletiva – remuneração do trabalho e participação dos trabalhadores nos resultados). Os princípios atuais do cooperativismo são: 1. Adesão voluntária e livre: as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem 97 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der discriminação de sexo, ou de ordem social, racial, política e religiosa. Para participar, a pessoa deve conhecer e decidir se tem condições de cumprir os acordos estabelecidos pela maioria. 2. Gestão democrática pelos membros: as cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação de suas políticas e da tomada de decisões. Os homens e mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, têm igual direito de voto (um homem – um voto). 3. Participação econômica dos membros: os sócios contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam esse capital democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, um remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades: • desenvolvimento da cooperativa, possibilitando o estabelecimento de fundos de reserva, parte dos quais, pelo menos, será indivisível; • benefício aos associados na proporção de suas operações com a cooperativa; e • apoio a outras atividades aprovadas em assembléia. 4. Autonomia e independência: as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se estas firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros, e mantenha a autonomia da cooperativa. 5. Educação, formação e informação: as cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento de suas cooperativas. Além disso, informam ao público em geral, particularmente aos jovens e aos líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação. 98 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO 6. Intercooperação: as cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, Tácito Implícito, subentendido. trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regio- Explícito nais, nacionais e internacionais. Claro, expresso. 7. Interesse pela comunidade: as cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades, por meio Tangível Que é palpável. de políticas aprovadas pelos seus membros. Intangível A administração de uma cooperativa pode ser entendida Em que se não pode tocar; que se não pode apalpar. como uma ciência, uma arte e uma tecnologia. Como ciência, a administração de cooperativas se fundamenta nos conceitos da administração de toda e qualquer organização. Integrando a classificação das ciências sociais aplicadas, a administração integra e combina as contribuições conceituais advindas das demais ciên- Abstrato Que designa uma qualidade separada do objeto a que pertence; distraído; obscuro, vago, o que se considera existente só no domínio das idéias e sem base material. cias e saberes. Como arte, a administração de cooperativas expressa-se pela capacidade articuladora, da liderança, da maestria com as pessoas direta e indiretamente participantes da cooperativa. A combinação dos diferentes sentidos da dimensão humana, combinando o tácito e o explícito, o tangível e o intangível, o previsto e o imprevisto, o real e o abstrato, entre outros. Como tecnologia, a administração de cooperativas define-se pelo conjunto combinado de ações práticas, de técnicas, métodos e procedimentos. A tecnologia é aqui expressa pela capacidade de produzir soluções aos problemas e desafios presentes e futuros. Pressupõe, ainda, a condução de suas práticas alicerçadas em funções tecnológicas, expressas em investimentos, em máquinas e equipamentos, em processos e organização da produção, e em produtos. O funcionamento e a estrutura do cooperativismo é regulamentado pela Lei 5764, de 1971 (Brasil, 2007). Esta Lei define os parâmetros da estrutura interna das sociedades cooperativas, como 99 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Capital social Tem várias definições. É compreendido neste texto, como um fator endógeno às comunidades e grupos sociais, que pode ser fortalecido e desenvolvido, assumindo características de elemento fundamental em processos de desenvolvimento regional. por exemplo: os objetivos, classificação, constituição e autorização de funcionamento das Sociedades Cooperativas; dos estatutos sociais e registros; do capital social e dos fundos; dos associados, assembléias, órgãos de administração e fiscalização; dos resultados (sobras ou perdas); dos sistemas de representação estadual, nacional e internacional do cooperativismo; entre outros. Outro dado interessante é que conforme a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB, 2008), o cooperativismo brasileiro, para fortalecer a sua atuação, organiza-se em treze ramos distintos: Se você quiser conhecer na íntegra a Lei que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, pode acessá-la no site: <http://www.planalto.gov.br/ CCIVIL/leis/L5764.htm>. Agr opecuário, C onsumo, Cré dito, Educaci onal, Espe ci al, Habitacional, Infra-estrutura, Mineral, Produção, Saúde, Trabalho, Transporte, Turismo e Lazer. Salientamos que o agronegócio possui uma vinculação direta com os ramos do cooperativismo agropecuário e de crédito, e indiretamente com cada um dos demais. O cooperativismo, em termos de estrutura representativa, se or gani za n as Or gani zaçõ e s naci on al e e st aduai s do cooperativismo, como por exemplo, a Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB e as Organizações Estaduais de CooperaCuriosidades O cooperativismo no Rio Grande do Sul foi referência a partir de um amplo estudo liderado pelo incentivador cooperativista e pesquisador, professor Roque Lauschner. Os seus estudos e principais publicações abordaram o complexo agroindustrial (agribusiness) e a importância do cooperativismo e da cooperação inter-cooperativa (Lauschner, 1993). As suas reflexões e contribuições apontam o cooperativismo como o principal caminho e estratégia para a participação dos pequenos agricultores, enquanto agentes de desenvolvimento, na sua articulação com a economia e os mercados mais amplos, nos cenários estadual, nacional e internacional. 100 tivas – OCE´s. No Rio Grande do Sul o exemplo é a Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul – Ocergs. Esta estrutura também cumpre com as prerrogativas dos sindicatos patronais do cooperativismo. Existem ainda outras estruturas que também cumprem com a organização e a articulação do cooperativismo, como por exemplo, o Sescoop, as federações e as confederações. O Sescoop é e xpre ssã o do Si ste ma Nac i onal de Apr e ndi zage m do Cooperativismo, com estrutura nacional e as estruturas estaduais. As federações são mecanismos de organização de cooperativas por segmentos e ramos, ou finalidades de interesse. As federações têm a participação direta das cooperativas e as confederações são formadas por duas ou mais federações de cooperativas. EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Seção 5.2 A Cooperação nos Agronegócios Agora que você já consegue elaborar um conceito mais amplo de cooperativismo, bem como pode elencar quais são os seus princípios, chegou a hora de, nesta seção, tratar da cooperação nos agronegócios. Para tanto, novamente é importante delimitarmos alguns conceitos sobre os termos envolvidos, bem como, as suas diferentes interpretações. A cooperação entre cooperativas e a integração do associativismo, em especial no agronegócio, pode contribuir de forma positiva na agregação de valor e na promoção do desenvolvimento (Büttenbender, 1994, 1995). Por isto, destaca-se a importância e a relevância de estudar as diferentes formas de cooperação nos agronegócios. No início deste livro, estudamos que agronegócio é constituído por todos os atores e transações envolvidos na produção, no processamento e na distribuição de produtos de origem agropecuária, incluindo o setor de insumos, a produção rural, os mecanismos de comercialização e armazenagem, as indústrias processadoras, os atacadistas e os varejistas, além de todo o ambiente institucional anexo (regulamentações, normas, contratos, leis, políticas, etc.). Portanto, uma compreensão bem ampla, e que engloba e requer em grande parte a cooperação na cadeia do agronegócio, também chamada de cadeia do agribusiness. Desta delimitação podem ser definidos dois conceitos distintos: um que trata da co operação no agronegócio e o outro do agronegócio cooperativo. A cooperação no agronegócio considera todas as práticas de cooperação que acontecem entre os diferentes níveis e elos da cadeia do agronegócio. A cooperação também poderá acontecer dentro de um dos níveis ou elos do agronegócio (intra-cooperação). Pode se tomar como exemplo, a cooperação entre produtores, cooperação entre indústrias, cooperação entre distribuidores, etc. Outra dimensão que tomamos, é a do agronegócio cooperativo. Entende-se como agronegócio cooperativo todos os diferentes negócios que acontecem entre as diferentes cooperativas que atuam com produtos agropecuários, por exemplo. Os negócios realizados entre as cooperativas agropecuárias, englobam-se no agronegócio cooperativo. 101 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der O conceito de agronegócio cooperativo representa um enfoque moderno e sistêmico, envolvendo todas as organizações cooperativas que produzem, processam e distribuem produtos agropecuários. Este conjunto de processos e instituições ligadas por objetivos comuns constitui um sistema que, por sua vez, engloba outros sistemas menores, ou subsistemas. O sistema maior é o chamado negócio agrícola, agronegócio ou agribusiness (Davis e Golberg, 1957; apud Lazzarini e Machado Filho, 1995). Como está detalhado em Perius (2001), quando diversas unidades econômicas geralmente da mesma natureza de produção chegam à conclusão de que certa atividade se torna por demais custosa para cada uma delas isoladamente, elas se congregam, formando uma cooperativa. Assim, estas unidades produtivas, anteriormente isoladas, renunciam, no todo ou em parte, ao exercíci o independente de certas atividade s, formando economias intermediarias, as quais, na qualidade de organizações cooperativas, se põem a serviço das economias particulares associadas. As economias empresariais cooperativas são, portanto, situadas entre as economias particulares dos cooperados, de um lado, e o mercado, de outro, aparecendo como estruturas intermediárias, formadas em comum. A missão fundamental depositada para a economia cooperativa é de servir como intermediária entre o mercado e as economias dos cooperados para promover seu incremento, justificando assim a denominação de agronegócio cooperativo e podendo promover a integração do produtor. As cooperativas não irão possuir, do ponto de vista econômico, uma existência autônoma e independente dos seus associados, como ocorre nas sociedades de capital. A cooperativa deve existir como organização econômica intermediária posta a serviço da satisfação das necessidades das economias particulares dos seus cooperados. As operações e transações econômicas entre os cooperados e sua cooperativa são então caracterizadas como “ato cooperativo”, e não como “ato comercial”, conforme reconhece a própria Constituição brasileira. O Ato Cooperativo é definido como a operação, ou conjunto de operações, efetuado entre o associado e a cooperativa, e esta com os seus associados, observando as finalidades para as quais a cooperativa foi criada. São também chamados de “atos-fim” da cooperativa. Por outro lado, os atos não-cooperativos são todos aqueles realizados por uma cooperativa com terceiros não-cooperados, logo, estranhos às finalidades para as quais tenha sido constituída. 102 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Nas organizações cooperativas, o cooperado assume, ao mesmo A jusante Refluxo da maré; para o lado da foz. tempo, as funções de usuário e cliente da empresa e seu proprietário A montante ou gestor, transferindo funções de Que se eleva; que sobe; para o lado da nascente de um rio. sua economia individual para a empresa cooperativada. As cooperativas são caracterizadas como sociedades de pessoas onde há a agregação inicial do fator de produção de trabalho, e portanto, nas assembléias gerais, cada associado tem direito a um único voto. Diferentemente, nas sociedades de capital, que são caracterizadas pela agregação inicial do fator de produção capital, nas assembléias gerais, o voto é expresso proporcional ao montante de capital de cada investidor dentro da empresa. Observe que o cooperativismo desenvolve-se de forma mais intensa no setor primário da economia (agricultura), devido às estruturas de mercado encontradas. Do total de cooperativas existentes no Brasil, aproximadamente dois terços estão ligadas ao setor agropecuário, em nível de produção, processamento, crédito, telefonia e eletrificação rural. A razão disso é que a agricultura, como setor primário, caracteriza-se por interagir com mercados fortemente concentrados, como é o caso dos insumos básicos necessários (à montante), e o processamento e distribuição da produção (a jusante). Esses mercados fortemente concentrados, chamados de oligopólios e de oligopsônios, aliados a estrutura de mercado bastante fragmentado da agropecuária. O grande número de agricultores (produtores), geralmente desorganizados empresarialmente, favorece a situação em que a agricultura é uma mera “tomadora” de preços, tanto no nível da compra de insumos (à montante), como na venda da produção (à jusante). Tomando-se a participação geral de cada um destes setores nos valores agregados em cada um dos três níveis da cadeia agroindustrial, conforme estudamos nas unidades 1 e 2 deste livro, percebemos 103 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der que a atividade agrícola propriamente dita, mesmo com a participação das cooperativas, contribui com aproximadamente 20% do total da agregação, enquanto o processamento e a distribuição representam perto de 70%. Esta é, portanto, a principal razão para a existência e o fortalecimento de estruturas econômicas intermediárias como, por exemplo, as cooperativas. As cooperativas têm a capacidade de diminuir os riscos do negócio e gerar uma agregação de valor para os seus associados (agricultores) que, isoladamente, em muitos casos, não teriam condições favoráveis de relacionamento com estes mercados mais concentrados. Pode-se expressar a importância do cooperativismo na agricultura brasileira através da participação das cooperativas no cenário produtivo nacional, em que grande parte da produção de soja, milho, leite, suínos, entre outros, é feita por cooperativas. No início da década de 90, as cooperativas já representavam um faturamento de perto de 20 bilhões de dólares, aproximadamente 5% do produto interno bruto brasileiro (PIB), sendo responsáveis por exportações da ordem de 657,1 milhões de dólares, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras. Essas organizações cooperativas distribuem-se por todo o território nacional, mas com uma nítida concentração nas regiões Sul e Sudeste, que são aquelas de agricultura mais desenvolvida e empresarial, onde se localizam aproximadamente dois terços das cooperativas brasileiras. Para compreender a importância dessas empresas no cenário da produção agropecuária, deve-se também analisar sua evolução de negócios recentes. Assim, de acordo com Bialoskorski Neto (2000), pode-se verificar que nos últimos anos houve aumento do número de produtores cooperados, paralelamente a uma diminuição no número de cooperativas agropecuárias. Isto indica que no âmbito das cooperativas também vem ocorrendo um processo de concentração, através de fusões e incorporações, aumentando o seu tamanho, sua complexidade, seu ganho de escala e seu poder de mercado. Ao mesmo tempo, verifica-se a importância dada pelas cooperativas à tecnologia utilizada em seus processos e naqueles de seus associados, através da implantação de centros de pesquisa e apoio à produção. Isto mostra, de maneira explícita, a estratégia e a importância destacada pelas cooperativas quanto aos ganhos provenientes da melhoria tecnológica, da 104 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO sua dependência e da agregação de valor. Acompanha esta tendência a diferenciação dos produtos processados pelas cooperativas, através de marcas e patentes, estabelecendo barreiras à entrada de concorrentes no mercado, diferenciando e agregando valor a sua produção. A cooperação entre as próprias cooperativas no agronegócio é um fator que cabe uma referência qualificada. A intercooperação é um dos pincípios fundamentais do cooperativismo. Porém, na prática, o volume de negócios operadores entre as cooperativas brasileiras que atuam no agronegócio, não oferece maior relevância. Um fato importante a ressaltar é de que o agronegócio brasileiro tem enfrentado profundas transformações no se u ambie nte compe ti ti vo, tais como a globalização, a internacionalização dos mercados, entre outras, que influenciam a forma como as relações entre organizações pertencentes ao agronegócio são geridas e organizadas. Com o acirramento da concorrência resultante desse processo, as organizações que sobrevivem e prosperam nesse ambiente dinâmico são as que podem tomar decisões mais rápidas, construir relações baseadas em confiança e aprender como se adaptar a esse novo ambiente hipe rcompe ti tivo, tornando-se ne ce ssári o organi zar ati vidades e tare fas de forma interorganizacional, além de suas fronteiras. São vários os argumentos que ressaltam a importância econômica e social das cooperativas agropecuárias na estrutura do agronegócio brasileiro, inclusive no Rio Grande do Sul. Em 2003, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB, 2008), as cooperativas agropecuárias brasileiras exportaram mais de 5,3 milhões de toneladas (principalmente em soja triturada, açúcar, óleo de soja, carnes, café e milho), atingindo US$ 1,3 bilhão, tendo como destinos principais Alemanha, China, Hong Kong e Coréia do Sul. Tais cooperativas responderam por 6% do PIB nacional, gerando 182 mil empregos diretos ao País. São 7.355 cooperativas, com 5,762 milhões de cooperados, nos 13 ramos instituídos. As 1519 cooperativas agropecuárias brasileiras são as que mais empregam, com montante de 110.910 empregos diretos e 940.482 associados. No Rio Grande do Sul, em especial, são 747 cooperativas e 875.810 cooperados, gerando 34.454 empregos diretos. Inseridas em um ambiente hipercompetitivo, as organizações cooperativas que atuam isoladamente, apresentam algumas desvantagens competitivas em relação à concorrência dos grandes competidores. Muitas vezes, as organizações cooperativas, para atender aos 105 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der interesses de seus associados, acabam por ter uma forte diversificação agroindustrial em suas unidades estratégicas de negócio. Atuam em várias atividades sendo que muitas delas fora do foco principal dessas organizações e com baixa produtividade e rentabilidade produtiva, e conseqüentemente não conseguem elevada competitividade em todas essas atividades. Chamamos atenção para o fato de que no Brasil, e também no Rio Grande do Sul, muitas cooperativas dispõem de limitados recursos para enfrentar os desafios mercadológicos. Podem ser destacadas as limitações técnicas e financeiras, baixa escala de produção, limitadas competências tecnológicas e gerenciais, entre outros. Sendo assim, para enfrentar os desafios da inserção mercadológica e sua competetitividade e longevidade dos negócios, uma das opções estratégicas das organizações cooperativas é o de viabilizar a cooperação entre as organizações cooperativas. A cooperação entre as organizações cooperativas poderá estimular a formação de redes de cooperativas. A intercooperação poderá resultar também na constituição de cooperativas de segundo grau (três ou mais cooperativas formam uma cooperativa central, também chamada de cooperativas de segundo grau). Na cadeia do agronegócio, torna-se relevante a cooperação entre as cooperativas de diferentes níveis, como por exemplo, a integração entre a produção, a industrialização, a comercialização e o consumo. A cooperação ainda poderá se estender a cooperativas participantes de outros elos da cadeia do agronegócio, como por exemplo, a cooperação entre cooperativas agropecuárias, de crédito, de eletrificação, de transporte, de trabalho, de consumo, entre outras. A estratégia de cooperação maior entre as cooperativas, com a articulação de redes físicas entre as cooperativas, e até redes de cooperação virtuais, e a constituição de centrais de cooperativas, poderá ser uma alternativa muito importante para a melhoria do desempenho e a capacidade de operar competitivamente nos agronegócios nacionais e internacionais onde atuam. Experiências e exemplos exitosos podem ser relacionados, de cooperação entre as cooperativas no campo do agronegócio. Relacionamos alguns exemplos de cooperação entre cooperativas no agronegócio: 106 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO • Sistema Sicredi: rede de cooperação entre as cooperativas de crédito rural empreendida no Rio Grande do Sul. Atualmente com atuação nacional, e com a operação de livre admissão de associados (associados rurais e urbanos). Criou no final da década de 80 a Cooperativa Central – Cocecrer, e em meados da década de 90 constituiu o seu próprio Banco, o Bansicredi. Mais informações sobre a experiência de cooperação do Sicredi podem ser obtidas no site: <http://www.sicredi.com.br/>. O Sicredi pode ser visto como experiência exitosa de cooperação e ntre as coope rati vas de cr é di to, e tam bé m, pe la intercooperação com os demais segmentos do agronegócio, Se você quer conhecer melhor o CRESOL, acesse o site: <http://www.cresol.com.br>. como cooperativas agropecuárias, cooperativas de eletrificação, cooperativas agroindustriais, entre outras. Para obter detalhes sobre a trajetória da CCGL acesse: <http://www.ccgl.com.br/>. • Cresol: o Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária é resultado da luta de famílias agricultoras por acesso ao crédito e pela participação no processo de desenvolvimento local sustentável. Surgiu a partir do movimento de pequenos agricultores na região do Sudoeste do Paraná, no final dos anos 80. A partir de 1995 foram criadas as primeiras cooperativas de crédito. Em 2000, por orientação do Banco Central do Brasil, foi criada a primeira Cooperativa Central do sistema Cresol, com sede em Francisco Beltrão/PR. Atualmente o sistema Cresol atua nos três estados da Região Sul do Brasil, com cooperativas centrais também em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. • CCGL: a Cooperativa Central Gaúcha Ltda – CCGL, foi fundada em 21 de janeiro de 1976, atuando na i ndustriali zação e comercialização centralizada do leite produzido por associados de um grupo de Cooperativas filiadas, com o objetivo de gerar uma alternativa econômica para os produtores rurais através da integração, diversificação e racionalização da produção, proporcionando a fixação das famílias no meio rural e o aumento de sua renda. Ressalta-se que a maioria destas cooperativas e seus asso107 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der ciados eram ligados fortemente à produção de grãos. A CCGL, no final da década de 80, período auge de sua atuação, chegou a ser responsável por 70% do total de leite coletado no RS. Após a venMais informações sobre a COCEAGRO podem ser obtidas no site: <http://www.coceagro.com.br/>. da do seu parque industrial lácteo, em meados da década de 90, passou a atuar nos ramos portuário, de transportes e de pesquisa agropecuária, com a administração da Fundacep, em Cruz Alta/ RS. Atualmente, o principal projeto concentra-se novamente na industrialização de leite, com a inauguração em 2008, da fábrica de processamento de leite, sediada também em Cruz Alta/RS, com capacidade inicial de processamento de 1 milhão de litros de leite/ dia. A cooperativa central CCGL é mantida por um grupo de dezesseis cooperativas singulares do RS filiadas diretamente. • COCEAGRO: a Cooperativa Central Agroindustrial Noroeste Ltda – Coceagro, resulta da união de quatro cooperativas singulares da Região Noroeste do RS: a Cotrimaio, de Três de Maio; a Coopermil, de Santa Rosa; a Comtul, de Tucunduva; e a Cooperoque, de Salvador das Missões. As cooperativas possuem uma abrangência de aproximadamente 40 municípios, com um total de 18.792 associados, em sua maioria pequenos agricultores. Foi fundada em 23 de março de 2001, com uma indústria de farinha de trigo e milho, na aposta de somar forças e agregar valor aos produtos das cooperativas associadas. Seção 5.3 Redes no Ambiente Cooperativo Você já deve ter percebido que o modelo associativo nos negócios se estende a diferentes segmentos da sociedade. Alianças estratégicas de negócios, a partir 108 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO da delimitação de estratégias focadas na cooperação, na constituição de redes e delimitação de diferentes espaços de interação. Estas interações podem ser físicas, bem como, delimitadas pelos novos espaços virtuais de cooperação, com o uso das modernas ferramentas tecnológicas. Em Büttenbender (2008) são explora- Pré-mix Composto alimentar para os animais, formulado e elaborado com os complementos alimentares adequados para a produção animal. Este composto tem registro e controle do fornecedor. das diversos casos, focados em novas estratégias e alianças, focadas na inovação, na aprendizagem organizacional, na cooperação e na gestão de competências para o desenvolvimento. Redes entre empresas cooperativas e também não cooperativas são definidas por Britto (2002) como um tipo particular de estrutura de arranjos inter-organizacionais baseados em vínculos sistemáticos, muitas vezes, de caráter cooperativo, entre empresas formalmente independentes, que dão origem a uma forma particular de coordenação das atividades. Para estudar redes formadas por sociedades cooperativas que possuem não somente laços horizontais (inter-empresas), mas simultaneamente, laços verticais integrando várias cadeias produtivas deve-se considerar o princípio da intercooperação e também a constituição de cooperativas centrais (cooperativas de segundo grau). Por exemplo, em fornecedores de insumos externos à cooperativa (em genética importada, pré-mix, entre outros), pode se utilizar o conceito de rede de negócio, no qual as forças de valor (variáveis estratégicas) são baseadas também em redes com valores comuns e confiança relacional. A análise de rede de negócio (“netchain”) deve considerar vários tipos de interdependências relevantes em cooperação interorganizacional, destacando: a) Mecanismos de Comunicação, Decisão e Negociação: são os mecanismos menos caros, com intensidade maior ou menor, mas presentes em todos os tipos de redes. 109 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der Franchising (do inglês, Franqueamento) é uma estratégia utilizada pela administração que tem como propósito um sistema de venda de licença, onde o franqueador oferece sua marca, infra-estrutura e conhecimento do negócio ao franqueado, que por sua vez, investe e trabalha na franquia e paga parte do faturamento ao franqueador sob a forma de royalties. A parte fundamental do Franchising é á Franquia, que é utilizada em praticamente todos os segmentos de serviços. A primeira empresa a implementar o sistema de franchising no Brasil foi o Yázigi Internexus, do segmento de escolas de idiomas, em 1950. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Franchising>. Acesso em: 18 nov. 2008. b) Coordenação Social e Controle: baseados em normas, reputação e mútuo controle como as estruturas interempresariais de gestão de projetos e associações comerciais. c) Regras e Unidades de Integração e Ligação: a responsabilidade e as funções horizontais são mecanismos-chave para criar um projeto de organização de rede, por exemplo, nos consórcios interfirmas para a realização de complexas plantas. d) Equipe Comum: em franchising, associações e consórcios são caracterizados pela presença de centrais de coordenação e equipe comum. e) Hierarquia e Relações de Autoridade: as redes formadas por organizações podem fazer uso de relações hierárquicas e de autoridade entre firmas, em adição a outros mecanismos de coordenação, como negociações, grupos de trabalho e incentivos, etc. f) Sistemas de Planejamento e Controle: baseados em resultados Fast-food (“comida rápida” em inglês) é o nome genérico dado ao consumo de refeições que podem ser preparadas e servidas em um intervalo pequeno de tempo. São comercializados desta maneira os sanduíches, pizzas e pastéis (no Brasil), entre outros. Aplica-se comumente à comida vendida em lojas pertencentes às grandes redes de alimentação. O mesmo alimento, que por vezes é vendido como refeição rápida, pode também ser consumido em restaurantes. O fast-food virou sinônimo de um estilo de vida estressante que vem sendo criticado desde o final do século 20. O principal movimento organizado de 110 são mais efetivos do que a hierarquia, como por exemplo em franchising, onde há maior intensidade de planejamento e controle; em cadeias de fast-food com a produção programada e monitorada; ou ainda em cadeias de hotéis, onde os funcionár i os são tre i nados e a sati sfação dos consu mi dore s é monitorada. g) Sistemas de Seleção de Parceiros: em associação comercial só há a adequação às leis, mas em franchising, as características econômicas, sociais e organizacionais são importantes. h) Sistemas de Informação: utilizados em integração vertical e horizontal para governar as interdependências dentro e entre as firmas, reduzindo custos em comunicação. EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO Na literatura sobre redes inter-organizacionais, a análise de redes é desenvolvida em dois extremos: de um lado, a perspectiva de redes sociais e, em outro, a perspectiva de governança das redes. A perspectiva de redes sociais está relacionada aos laços sociais e tipos de interações sociais também está relacionada às propriedades estruturais, ao controle inter-organizacional e podem ser acrescidas às questões do imbricamento (“embeddedness”) e aos aspectos do capital social. A perspectiva da governança inclui, por sua vez, duas abordagens: a abordagem da nova economia institucional e da es- contraposição é chamado de slow food (“comida lenta”), e teve sua origem na Itália, no ano de 1986. Alimentos servidos nas ruas, por vendedores ambulantes, conhecidas também como street food (“comida de rua”) é uma prática que remonta à Antigüidade e tem presença em praticamente todas as regiões do mundo moderno e que pode ser considerada uma forma de fast-food. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Fast-food>. Acesso em: 18 nov. 2008. tratégia. As abordagens da economia institucional e da estratégia focam na formação e organização das relações da rede, e naqueles atores que ganham acesso a recursos que possam reduzir a sua dependência ou poderão melhorar a sua posição competitiva. Essas abordagens preocupam-se com os recursos e suas características e conceituam os laços ou ligações das redes em Imbricamento Parceria, participação, envolvimento, comprometimento dos participantes. Basilar Básico, fundamental, principal. organizacional, contratos ou termos de propriedade. A E conom i a I nsti tu ci ona l foca nas r e de s i n te rorganizacionais e suas relações com as particularidades do ambiente institucional com suas instituições sociais dominantes, por exemplo, como certas condições legais, políticas, culturais, industriais e regionais contribuem para a formação e as formas das redes inter-organizacionais. As redes de cooperação entre empresas, surgidas no Rio Grande do Sul a partir do início da década de 90 constituem-se em referência importante para o estudo do valor e do impacto da cooperação na longevidade das empresas e a perpetuação dos negócios. Para Balestrin e Verschoore (2008), as empresas fundamentam suas novas estratégias de organização nas atividades econômicas, denominada de estratégia em rede. A idéia basilar 111 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der fundamenta-se na expressão “estratégias colaborativas”, resultante da crescente dificuldade da empresa cooperativa ou não cooperativa de, isoladamente, concentrar as competências necessárias para alcançar competitividade no mercado. Dessa forma, as estratégias colaborativas buscam desenvolver empreendimentos com objetivos comuns, densamente interrelacionados, coordenados para desenvolver e manter ganhos coletivos, sem que cada participante venha a perder sua individualidade. A idéia das abordagens das estratégias colaborativas vem assumindo crescente importância na gestão e nas decisões empresarias, pelas vantagens que apresenta. Vários estudos sobre estratégias colaborativas, relacionados por Balestrin e Verschoore (2008), sugerem três etapas principais no seu desenvolvimento: antecedentes, gestão e resultados. Os antecedentes se referem aos fatores que estimulam a cooperação entre as organizações, e por assim dizer, as estratégias colaborativas, conforme ilustrado no Quadro 1. Quadro 1. Antecedentes das Estratégias Colaborativas. Antecedente Eficiência Estabilidade Legitimidade Necessidade Reciprocidade Descrição Organizações tendem a cooperar quando vislumbram redução de custos transacionais, aumento de escala e performance, melhoria de coordenação, flexibilidade organizacional, e compartilhamento de conhecimento e aprendizagem. Organizações tendem a cooperar quando enfrentam incertezas ambientais, necessitam garantir o fluxo de atividades e recursos, e quando desejam compartilhar/diluir riscos. Organizações tendem a cooperar quando buscam prestígio, reconhecimento e credibilidade através do trabalho com marcas fortes e atores estabelecidos no mercado. Organizações tendem a cooperar quanto há dependência de recursos e mecanismos de troca, dependência da posição de um parceiro e de conhecimento para atividades de inovação. Organizações tendem a cooperar quando há histórico de trocas favoráveis entre elas, bem como relacionamentos através de redes sociais e baseados na confiança. Fonte: Oliver e Ebers (1998). A gestão, segunda etapa da estratégia colaborativa, compreende a combinação de diferentes tipologias e mecanismos de coordenação existentes para a condução da estratégia colaborativa entre os parceiros. Nesse aspecto destaca-se que a coordenação entre parceiros pode se dar: 112 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO a) de forma horizontal (os parceiros são autocoordenados); b) hierárquica (uma organização desempenha o papel de líder); ou c) administrada (onde uma estrutura administrativa e neutra é criada para coordenar os parceiros). Outros dois aspectos agregam-se ao campo da gestão, ou seja, o fluxo de informações entre os parceiros e o nível de formalidade das relações. No fluxo de informações entre os parceiros, relacionam-se os mecanismos de comunicação e sistemas de informação, mecanismos de incentivo e seleção de parceiros, sistemas de controle e planejamento, e integração de profissionais de diferentes empresas (integração interunidade). Em relação à formalização das relações entre as organizações, destacam-se a natureza hierárquica ou horizontal da relação entre parceiros e o nível de formalidade dessa relação. Segundo os autores, as estratégias colaborativas podem ser formalizadas, por meio do uso de contrato, ou desenvolvidas informalmente a partir da confiança. Quanto aos resultado s das estratégias colaborati vas, destaca-se que uma e mpresa consegue alcançar e sustentar diferenciai s competiti vos a parti r das se guintes vantagens: a) aprendizado mútuo, que levará a empresa a suportar melhor o processo de desenvolvimento de novos produtos; b) co-especialidade, em que as empresas participantes tornam-se lucrativas em novos nichos de produtos e mercados; c) flexibilidade e melhor fluxo de informação, facilitando a coordenação do fluxo de recursos entre as empresas, reduzindo a incerteza nas relações e permitindo à organização a rápida adaptação à instabilidade ambiental; d) economias de escala, resultado de investimentos conjuntos, como, por exemplo, em novos projetos de desenvolvimento de produtos. 113 EaD Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der A partir de pesquisa específica realizada com empresas participantes de diferentes redes de cooperação no RS, Balestrin e Verschoore (2008) relacionam vários atributos e resultados positivos alcançados com as redes (Quadro 2), onde se destacam: aprendizagem coletiva, fluidez, economias de escala, ampliação de mercado, acesso a recursos, redução dos custos de transação, melhoria do processo de inovação, poder de mercado e credibilidade organizacional. No Quadro 2, cada um destes resultados é detalhado em suas finalidades. Quadro 2. Principais Atributos Estratégicos da Cooperação em Rede e as Finalidades Correspondentes. Atributos Aprendizagem coletiva Fluidez Economias de escala Ampliação de mercado Finalidades Aprendizagem coletiva pela interação entre os atores e partilha de informações, habilidades, competências, conhecimento sobre soluções de problemas, etc. Possibilitar uma maior flexibilidade e adaptabilidade aos estímulos externos. Economias de escala por meio da ação coletiva das pequenas e médias empresas (PME), inclusive com o aumento de poder de barganha junto aos fornecedores. Acesso a novos mercados, clientes e representantes. Acesso a recursos Possibilitar o acesso de recursos tangíveis e intangíveis às empresas. Redução dos custos de transação Melhoria do processo de inovação Redução dos custos de transação pelo aumento de confiança entre os atores, reduzindo a incerteza e o comportamento oportunístico nas inter-relações. Inovação nos produtos, nos métodos de produção e na estrutura organizacional. Poder de mercado Fazer frente à concorrência das megaestruturas empresariais. Credibilidade organizacional Ganho de legitimidade externa pelo fato de as empresas estarem associadas a uma determinada rede. Fonte: Balestrin e Verschoore, 2008. As redes de cooperação entre empresas e as relações de cooperação entre cooperativas são temas que merecem estudos cada vez mais avançados. Isto torna a abordagem inovadora, diferenciada e altamente pertinente. Várias são as contribuições geradas pelos estudos sobre o cooperativismo, ao longo de sua história. O mesmo acontece com os estudos sobre as redes de cooperação, apesar de serem mais recentes. A problemática e a curiosidade são aguçadas, pela inter-relação de ambos os temas, em especial, no âmbito dos agronegócios. As sociedades cooperativas são caracterizadas como sociedades de pessoas, nas quais cada associado tem direito a um único voto, diferentemente das sociedades de capital, nas quais o voto é proporcional ao capital de cada investidor, ou seja, as cooperativas não pos114 EaD RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO suem uma existência autônoma e independente de seus membros, do ponto de vista econômico, como ocorre nas sociedades de capital. A sociedade cooperativa é uma organização de caráter permanente criada por um grupo de pessoas, com interesse comum, que pela cooperação buscam atender aos objetivos econômicos e sociais dos seus associados, que são concomitantemente seus donos e principais usuários/clientes. Por outro lado, as redes de cooperação de empresas são formadas a partir de sociedades de capital, onde prevalece o objetivo da rentabilidade do capital, ou seja, o lucro. Vários dos objetivos que fundamentam e justificam o associativismo e a cooperação em ambos os modelos podem ser considerados semelhantes e equivalentes. A natureza e os objetivos fins de cada uma das participações individuais, bem como seus princípios organizativos em cada um dos modelos de cooperação, é que geram as principais diferenças constituintes das organizações cooperantes. Essas diferenças potencializam o modelo de cooperação e da atuação em rede, em cada uma das arquiteturas organizacionais, bem como, fortalecem a sua atuação nos agronegócios cada vez mais competitivos. As potencialidades futuras da constituição das redes, sejam elas redes entre empresas de capital, sejam entre organizações cooperativas, é que irão delimitar os modelos aprimorados de cooperação. A cooperação tem gerado resultados positivos concretos aos seus participantes e seus interesses. Caberá aos líderes e membros de cada um dos modelos organizativos, estabelecer as estratégias colaborativas, mais pertinazes e pertinentes para melhor alcançar os objetivos propostos. Estas iniciativas valorizam os preceitos éticos, os valores, os princípios e os demais referenciais estratégicos de gestão. Assim as organizações, em rede ou isoladas, cooperativas ou não cooperativadas, estarão contribuindo de forma positiva para o fortalecimento dos agronegócios e o desenvolvimento de regiões, territórios, estados e países que integram. 115 EaD 116 Adriano Wagner – Ariosto Sparemberger – Lu cian o Zamberla n – Pedro Luís Bütt enben der EaD Referências RELAÇ ÕES DE MARKETING NA CADEIA DO AGRON EGÓC IO ASSAEL, H. Consumer behavior and marketing action. Boston: PWS Kent, 1992. AZEVEDO, F. P. Concorrência no Agribusiness. In: ZYLBERSZTAJN, Decio; NEVES, Marcos Fava. 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