Adaptações Cardiovasculares em Atletas Estudo em Praticantes de Futebol, Voleibol e Natação Poster A137 Autores: Licenciatura em Cardiopneumologia Liliana Santos, Joaquim Pereira U.C.: Investigação Aplicada 2 Edição 05/16 20 de Maio de 2016 Introdução O desporto, de acordo com o tipo e intensidade do exercício, pode ser classificado em dinâmico (isotónico) e estático (isométrico).(1)(2) Contudo, o exercício físico na sua maioria envolve tanto a componente dinâmica como a estática.(3) Segundo a classificação dos desportos de Maron et al (2005), o futebol (soccer) é considerado como a conjugação entre uma componente estática baixa e componente dinâmica alta, o voleibol é considerado com uma componente estática baixa e uma componente dinâmica moderada e relativamente à natação é observada, como uma conjugação de níveis moderados das componentes estática e dinâmica. Ou seja, os desportos abrangidos por este estudo contêm os dois tipos de exercício, o que pode levar a um aumento das dimensões das estruturas cardíacas e também de uma hipertrofia das paredes cardíacas.(1)(4) As alterações cardíacas morfológicas, funcionais e electrofisiológicas induzidas pelo exercício físico nos atletas são denominadas de síndrome do coração de atleta.(3) O electrocardiograma e o ecocardiograma são dois exames de diagnóstico importantes para a identificação de hipertrofia cardíaca. O electrocardiograma é um exame de baixo custo, muito utilizado, de fácil acesso e com boa reprodutibilidade, mas apresenta baixa sensibilidade em detectar a hipertrofia. O ecocardiograma, embora possua boa sensibilidade, tem como desvantagens o alto custo e a dependência do observador. Embora esses detalhes sejam importantes, são exames que se complementam e imprescindíveis na avaliação de indivíduos praticantes de desporto.(5) A variabilidade da frequência cardíaca pode definir-se como as mudanças no intervalo ou a distância entre dois batimentos cardíacos. Esse intervalo entre batimentos é o tempo entre uma onda R e a próxima onda R, em milissegundos. O mesmo autor refere que esse intervalo é bastante variável dentro de determinado período de tempo. Vários estudos, em que é utilizado a variabilidade da frequência cardíaca, têm demonstrado haver relação entre a diminuição desta e o maior índice de morbilidade e mortalidade cardiovascular, o que leva a uma presença de disfunção fisiológica.(6) Métodos A amostra foi constituída por 29 atletas, todos do sexo masculino, de três modalidades diferentes. O grupo controlo foi constituído por 20 estudantes do ensino superior no Instituto Politécnico de Coimbra, todos do sexo masculino e sedentários. O estudo deste trabalho de investigação caracteriza-se por uma amostragem do tipo não probabilística por conveniência, por cotas. O estudo foi do tipo observacional e transversal. A recolha de dados foi realizada no pico máximo da época desportiva e foi constituída pelas seguintes avaliações: um electrocardiograma de 12 derivações em repouso, um ecocardiograma transtorácico, um estudo de variabilidade da frequência cardíaca e a medição da tensão arterial usando o método auscultatório com um esfigmomanómetro. De modo a testar as hipóteses estatísticas teve-se em conta que para uma valor de p-value ≤ 0,05 considerámos com a presença de diferenças/relações significativas, e para um p-value > 0,05 não se observaram diferenças/relações estatisticamente significativas. Aplicou-se o teste t-Student e verificou-se se as variáveis cumpriam os critérios pelo teste definido. Resultados Pode ver no gráfico 1 que apresenta a distribuição do grupo de atletas e do grupo de controlo face à idade, peso, altura, índice de massa corporal, superfície corporal, tensão arterial sistólica e tensão arterial diastólica. Os valores ecocardiográficos (ver quadro 1) mais elevados nos atletas foram o diâmetro diastólico do VE, espessura do septo interventricular em sístole, fracção de encurtamento, massa do VE assim como a massa do VE indexada à superfície corporal e o diâmetro da aurícula esquerda. As alterações electrocardiográficas (ver quadro 2) mais comuns nos atletas foram FC mais baixa, um aumento do QT e da duração do R-R. Relativamente aos parâmetros de variabilidade da frequência cardíaca (ver quadro 3), foram encontrados valores elevados no grupo de atletas em: Max RR, SDNN, RMSSD e HRV triang index. Pode ainda observar-se (quadro 4) que espessura da PPd e a EPR se relacionam inversamente com o Índice de SokolowLyon, ou seja, quanto maior for a PPd e a EPR VE menor é o valor do Índice de Sokolow-Lyon. SIVd (mm) DD VE (mm) PPd (mm) SIVs (mm) DS VE (mm) PPs (mm) FE (%) FS (%) VEd Mass (g) * 2 VEd Mass Ind (g/m ) * VEs Mass (g) 2 VEs Mass Ind (g/m ) Diam Ao (mm) Diam AE (mm) Cusp AV (mm) Relação AE/Ao * Relação Ao/AE EPR VE [(SIV+PP)/DD] * EPR VE [(2xPP)/DD] * MV E Vel (m/s) MV A Vel (m/s) * Relação E/A (m/s) AMS E’ * AMS A’ * AMS S * AMS E/E’ AML E’ * AML A’ * AML S * AML E/E’ Grupo de Atletas (n=29) (Média ± DP) Grupo de Controlo (n=20) (Média ± DP) Valor de p 8,06 ± 0,46 58,03 ± 3,80 7,61 ± 0,41 13,80 ± 1,75 36,12 ± 2,94 16,81 ± 1,83 67,04 ± 3,41 37,78 ± 2,69 171,95 ± 22,50 90,02 ± 10,84 211,96 ± 47,20 110,79 ± 23,12 29,89 ± 2,83 37,81 ± 2,95 22,30 ± 2,32 1,27 ± 0,11 0,79 ± 0,07 0,27 ± 0,02 0,26 ± 0,03 8,69 ± 3,94 55,74 ± 3,43 7,31 ± 0,88 12,68 ± 1,45 35,52 ± 2,60 16,18 ± 1,92 65,28 ± 2,80 36,27 ± 2,12 167,22 ± 70,99 86,59 ± 34,27 185,24 ± 37,24 96,26 ± 17,94 28,75 ± 2,07 35,77 ± 3,16 21,31 ± 1,89 1,84 ± 2,65 0,81 ± 0,07 0,29 ± 0,08 0,26 ± 0,04 0,399 0,036 0,108 0,018 0,467 0,250 0,064 0,034 0,005 0,001 0,032 0,017 0,129 0,028 0,118 0,669 0,424 0,393 0,528 0,85 ± 0,18 0,43 ± 0,11 2,07 ± 0,56 0,13 ± 0,02 0,08 ± 0,01 0,08 ± 0,02 6,69 ± 1,73 0,18 ± 0,02 0,08 ± 0,01 0,12 ± 0,02 4,69 ± 1,00 0,107 0,935 0,443 0,332 0,550 0,316 0,661 0,616 0,067 0,082 0,359 0,93 0,47 2,22 0,14 0,08 0,09 6,89 0,20 0,08 0,11 5,03 ± 0,15 ± 0,22 ± 0,69 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 1,52 ± 0,06 ± 0,03 ± 0,02 ± 1,40 * Teste de Mann-Whitney Quadro 1: Variáveis ecocardiográficas nos grupos em estudo Legenda: SIVd: espessura do septo interventricular em diástole, DD VE: diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo, PPd: espessura da parede posterior em diástole, SIVs: espessura do septo interventricular em sístole, DS VE: diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo, PPs: espessura da parede posterior em sístole, FE: fracção de ejecção, FS: fracção de encurtamento, LVd Mass: massa do ventrículo esquerdo em diástole, LVd Mass Ind: massa do ventrículo esquerdo em diástole indexada à superfície corporal, LVs Mass: massa do ventrículo esquerdo em sístole, LVs Mass Ind: massa do ventrículo esquerdo em sístole indexada à superfície corporal, Ao Diam: diâmetro da aorta, LA Diam: diâmetro da aurícula esquerda, AV Cusp: abertura das cúspides da válvula mitral, LA/Ao: aurícula esquerda/aorta, EPR VE: espessura parietal relativa do ventrículo esquerdo, MV E Vel: velocidade da onda E por Doppler da válvula mitral, MV A Vel: velocidade da onda A por Doppler da válvula mitral, AMS: anel mitral septal por Doppler tecidular, AML: anel mitral lateral por Doppler tecidular. Grupo de Atletas (n=29) (Média ± DP) Grupo de Controlo (n=20) (Média ± DP) Valor de p FC * 60,72 ± 20,59 68,55 ± 13,19 Eixo QRS * 68,72 ± 20,59 55,10 ± 32,96 0,084 Eixo onda P * Eixo onda T * Duração QRS (ms) Duração onda P (ms) * Duração intervalo PR (ms) * Intervalo QT Intervalo QTc * Duração R-R (ms) Índice de Sokolow-Lyon: S de V1 Índice de Sokolow-Lyon: RV5/RV6 * Índice de Sokolow-Lyon: soma * 41,66 ± 33,58 37,97 ± 24,62 95,93 ± 15,32 98,28 ± 20,12 158,90 ± 28,64 391,93 ± 31,16 389,41 ± 23,47 1023,28 ± 168,41 13,97 ± 5,39 20,15 ± 6,36 34,11 ± 7,98 47,80 ± 12,40 34,95 ± 18,59 99,20 ± 18,64 100,55 ± 22,89 159,00 ± 24,87 370,95 ± 32,48 392,65 ± 25,97 902,85 ± 149,15 12,07 ± 5,06 17,67 ± 6,11 29,74 ± 9,34 0,863 0,370 0,505 0,427 0,597 0,029 0,684 0,012 0,219 0,130 0,095 0,039 * Teste de Mann-Whitney Quadro 2: Achados electrocardiográficos nos grupos em estudo Max RR (ms) * Grupo de Atletas (n=29) (Média ± DP) 1194,83 ± 186,970 Grupo de Controlo (n=20) (Média ± DP) 1062,30 ± 208,227 Min RR (ms) * Média RR (ms) * Média FC (bpm) * SDNN (ms) RMSSD (ms) HRV triang index NN50 (ms) pNN50 (%) VLF (Hz) LF (Hz) * HF (Hz) Relação LF/HF * 749,31 ± 153,822 986,38 ± 154,676 61,76 ± 9,616 74,4266 ± 24,11686 75,3690 ± 32,72378 19,6841 ± 6,82568 39,90 ± 23,249 18,1069 ± 10,19341 127,8269 ± 63,33491 177,9910 ± 63,91001 185,5134 ± 65,09156 1,0999 ± 0,61775 736,65 ± 136,935 899,00 ± 147,349 68,15 ± 12,766 52,8150 ± 23,62749 51,9675 ± 29,37312 14,6145 ± 5,25514 31,90 ± 23,830 13,2655 ± 9,43859 147,2430 ± 62,40183 202,3960 ± 106,88863 192,3585 ± 68,47176 2,0969 ± 4,79689 Valor de p Gráfico 1: Caracterização da amostra 0,040 0,714 0,110 0,126 0,003 0,014 0,007 0,247 0,099 0,294 0,729 0,725 0,935 * Teste de Mann-Whitney Quadro 3: Parâmetros de Variabilidade da Frequência Cardíaca nos grupos em estudo Índice de Sokolow-Lyon (soma S de V1 com a média de R de V5 com V6) PPd SIVd DD VE EPR VE [(SIV+PP)/DD] EPR VE [(2xPP)/DD] r (valor de p) -0,229 (0,114) 0,197 (0,175) 0,384 (0,006) -0,021 (0,888) -0,410 (0,003) Quadro 4: Correlação entre medidas de hipertrofia: ecocardiograma vs electrocardiograma (n=49) Conclusão O treino físico intenso e por um período longo leva a adaptações cardiovasculares que irão resultar num melhor desempenho físico do atleta. As adaptações cardiovasculares podem ocorrer a nível fisiológico, como por exemplo alterações na frequência cardíaca ou pressão arterial, como a nível estrutural em que se altera o diâmetro interno das câmaras cardíacas e espessura das paredes ventriculares.(7) O exercício físico é um estado que provoca alterações no funcionamento do sistema cardiovascular e nos seus mecanismos de auto ajuste. Referências Bibliográficas 1. Maron BJ, Zipes DP. 36th Bethesda Conference: Eligibility Recommendations for Competitive Athletes With Cardiovascular Abnormalities. J Am Coll Cardiol. 2005;45(8):1315–75; 2. Alasti M, Omidvar B, Jadbabaei MH. Heart and athlete. J Tehran Univ Hear Cent. 2010 Jan;5(1):1–8; 3. Castanheira J, Mendes B, Pocinho M, Conde J. Adaptações Cardíacas em Atletas. 7th Virtual Congress of Cardiology. 2011; 4. Castanheira J, Pereira T, Conde J. Adaptações Cardíacas em Atletas : Estudo Comparativo . 5to Congresso Virtual de Cardiologia. 2007; 5. Póvoa R, Souza D de. 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