SOCIOLOGIA – Profº Sérgio Peixoto Tema – Teorias sociológicas II Durkheim - Esquema Teórico WEBER e a ação social Enquanto para Émile Durkheim a ênfase da análise recai na sociedade, para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) a análise deve centrar-se nos atores e em suas ações. Para Weber, a sociedade não é algo exterior e superior aos indivíduos, como para Durkheim. Para ele, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas. Por isso, ele define como objeto da Sociologia a ação social. O que é uma ação social? Para ele é qualquer ação que o indivíduo pratica orientando-se pela ação de outros. Por exemplo, o eleitor define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se percebemos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores. Assim, Weber dirá que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais, teremos relações sociais. Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais. Nem toda ação, desse ponto de vista, será social, mas apenas aquelas que impliquem alguma orientação significativa visando outros indivíduos. Max Weber dá um interessante exemplo. Imaginemos dois ciclistas que andam na mesma rodovia em sentidos opostos. O simples choque entre eles não é uma ação social. Mas a tentativa de se desviarem um do outro já pode ser considerada uma ação social, uma vez que o ato de desviar-se para um lado já indica para o outro a intenção de evitar o choque, esperando uma ação semelhante como resposta. Estabelece-se, assim, uma relação significativa entre ambos. A partir dessa definição, Weber afirma que podemos pensar em diferentes tipos de ação social, agrupando-os de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações. Assim, ele estabelece quatro tipos de ação social: • tradicional — aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado; • afetiva — aquela determinada por afetos ou estados emocionais; • racional com relação a valores — determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade; • racional com relação a fins — determinada pelo cálculo racional que estabelece fins e organiza os meios necessários. Conseqüentemente, a concepção de método em Weber também será diferente da concepção de método em Durkheim. Max Weber enfatiza o papel ativo do pesquisador em face da sociedade. Os tipos de ação social propostos por ele, por exemplo, são construções teóricas que servem para tornar compreensíveis certas ações dos agentes sociais. Outros pesquisadores podem apresentar construções teóricas diferentes para explicar formas de ações sociais que não possam ser explicadas pelos modelos propostos por Weber. As construções teóricas de cada cientista dependem, assim, de escolhas pessoais que devem ser feitas visando aos aspectos da realidade que se quer explicar. Desse ponto de vista, portanto, não é possível uma neutralidade total do cientista em relação à sociedade. Tomazi, N. D.(coord) Iniciação à Sociologia. São Paulo, Atual, 2000 Tipo ideal Trata-se de uma construção teórica abstrata a partir dos casos particulares analisados. O cientista, pelo estudo sistemático das diversas manifestações particulares, constrói um modelo acentuando aquilo que lhe pareça característico ou fundante. Nenhum dos exemplos representará de forma perfeita e acabada o tipo ideal, mas manterá com ele uma grande semelhança e afinidade, permitindo comparações e a percepção de semelhanças e diferenças. Constitui-se em um trabalho teórico indutivo que tem por objetivo sintetizar aquilo que é essencial na diversidade das manifestações da vida social, permitindo a identificação de exemplares em diferentes tempos e lugares. O tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas formações sociais históricas nem mesmo qualquer realidade observável. É um instrumento de análise científica, numa construção do pensamento que permite conceituar fenômenos e formações sociais e identificar na realidade observada suas manifestações. Permite ainda comparar tais manifestações. É preciso deixar claro que o tipo ideal nada tem a ver com as espécies sociais de Durkheim, quê pretendiam ser exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade num continuum evolutivo. A ética protestante e o espírito do capitalismo Um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Weber é A ética protestante e o espírito do capitalismo, no qual ele relaciona o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber parte de dados estatísticos que lhe mostraram a proeminência de adeptos da Reforma Protestante entre os grandes homens de negócios, empresários bem-sucedidos e mão-de-obra qualificada. A partir daí, procura estabelecer conexões entre a doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista. Weber descobre que os valores do protestantismo — como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho — atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos. No seio das famílias protestantes, os filhos eram criados para o ensino especializado e para o trabalho fabril, optando sempre por atividades mais adequadas à obtenção do lucro, preferindo o cálculo e os estudos técnicos ao estudo humanístico. Weber mostra a formação de uma nova mentalidade, um ethos — valores éticos — propicio ao capitalismo, em flagrante oposição ao “alheamento” e à atitude contemplativa do catolicismo, voltados para a oração, sacrifício e renúncia da vida prática. Um dos aspectos importantes desse trabalho, no seu sentido teórico, está em expor as relações entre religião e sociedade e desvendar particularidades do capitalismo. Além disso, nessa obra, podemos ver de que maneira Weber aplica seus conceitos e posturas metodológicas. Alguns dos principais aspectos da análise. 1. A relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios institucionais, mas por intermédio de valores introjetados nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. A motivação do protestante, segundo Weber, é o trabalho, enquanto dever e vocação, como um fim absoluto em si mesmo, e não o ganho material obtido por meio dele. 2. O motivo que mobiliza internamente os indivíduos é consciente. Entretanto, os feitos dos atos individuais ultrapassam a meta inicialmente visada. Buscando sair-se bem na profissão, mostrando sua própria virtude e vocação e renunciando aos prazeres materiais, o protestante puritano se adequa facilmente ao mercado de trabalho, acumula capital e o reinveste produtivamente. 3. Ao cientista cabe, segundo Weber, estabelecer conexões entre a motivação dos indivíduos e os efeitos de sua ação no meio social. Procedendo assim, Weber analisa os valores do catolicismo e do protestantismo, mostrando que os últimos revelam a tendência ao racionalismo econômico que predominará no capitalismo. 4. Para constituir o tipo ideal de capitalismo ocidental moderno, Weber estuda as diversas características das atividades econômicas em diversas épocas e lugares, antes e após o surgimento das atividades mercantis e da indústria. E, conforme seus preceitos, constrói um tipo gradualmente estruturado a partir de suas manifestações particulares tomadas à realidade histórica. Assim, diz ser o capitalismo, na sua forma típica, uma organização econômica racional assentada no trabalho livre e orientada para um mercado real, não para a mera especulação ou rapinagem, O capitalismo promove a separação entre empresa e residência, a utilização técnica de conhecimentos científicos e o surgimento do direito e da administração racionalizados. Análise histórica e método compreensivo Weber teve uma contribuição importantíssima para o desenvolvimento da sociologia. Em meio a uma tradição filosófica peculiar, a alemã, e vivendo os problemas de seu país, diversos dos da França e da Inglaterra na mesma época, pôde trazer uma nova visão, não influenciada pelos ideais políticos nem pelo racionalismo positivista de origem anglo-francesa. Sua contribuição para a sociologia tornou-o referência obrigatória. Mostrou, em seus estudos, a fecundidade da análise histórica e da compreensão qualitativa dos processos históricos e sociais. Embora polêmicos, seus trabalhos abriram as portas para as particularidades históricas das sociedades e para a descoberta do papel da subjetividade na ação e na pesquisa social. Weber desenvolveu suas análises de forma mais independente das ciências exatas e naturais. Foi capaz de compreender a especificidade das ciências humanas como aquelas que estudam o homem como um ser diferente dos demais e, portanto, sujeito a leis de ação e comportamento próprios. Outros sociólogos alemães puseram em prática o método compreensivo de Weber, como Sombart, também um estudioso do capitalismo ocidental. Weber desenvolveu também trabalhos na área de história econômica buscando as leis de desenvolvimento das sociedades. Estudou ainda, com base em fontes históricas, as relações entre o meio urbano e o agrário e o acúmulo de capital auferido pelas cidades por meio dessas relações. Costa, Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. São Paulo, Moderna, 1997. TEXTO: Sobre a definição de ação social A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pela ação de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os “outros” podem ser individualizados e conhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos (o “dinheiro”, por exemplo, significa um bem — de troca — que o agente admite no comércio porque sua ação está orientada pela expectativa de que os outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos, estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura). (...) Nem toda espécie de contrato entre os homens é de caráter social; mas somente uma ação, com sentido próprio, dirigida para a ação dos outros. O choque de dois ciclistas, por exemplo, é um simples evento como um fenômeno natural. Por outro lado, haveria ação social na tentativa dos ciclistas se desviarem, ou na briga ou consideração amistosa subseqüentes ao choque. Max Weber. Ação social e relação social . ln: M. M.Foracchi ei. S. Martins. Sociologia e sociedade . QUESTÕES 01. (UEL) Por trás das disputas que os candidatos travam pela preferência do eleitorado, há uma base minuciosa de informações. Perto das eleições, os concorrentes debruçam-se sobre gráficos, planilhas e tabelas de preferências de voto, buscando descobrir quais as tendências dos eleitores. Pesquisadores, escondidos atrás de vidros espelhados, acompanham as conversas de grupos de pessoas comuns de diferentes classes que, em troca de um sanduíche e um refrigerante, comentam e debatem as campanhas políticas. Nessa técnica de pesquisa qualitativa, descobre-se, além da convergência das intenções, as motivações que se repetem nos votos dos eleitores, as razões gerais que poderiam fazê-los mudar de opção, como eles propõem e ouvem argumentos sobre o tema. A aplicação do modelo de pesquisa que aparece descrito no texto baseia-se, principalmente, na teoria sociológica de Max Weber (1864-1920). A utilização dessa teoria indica que os pesquisadores pretendem: a) investigar as funções sociais das instituições, tais como igreja, escola e família, para entender o comportamento dos grupos sociais. b) pesquisar o proletariado como a classe social mais importante na estruturação da vida social. c) analisar os aparelhos repressores do Estado, pois são eles que determinam os comportamentos individuais. d) estudar a psique humana que revela a autonomia do indivíduo em relação à sociedade. e) pesquisar os sentidos e os significados recíprocos que orientam os indivíduos na maioria de suas ações e que configuram as relações sociais. 02. (UFU) Segundo as concepções de indivíduo e de sociedade na sociologia de Max Weber, assinale a alternativa correta. a) O indivíduo age socialmente, de acordo com as motivações e escolhas que possui e faz, podendo estar relacionadas ou a uma tradição, ou a uma devoção afetiva ou, ainda, a uma racionalidade. b) A sociedade se opõe aos indivíduos, como força exterior a eles, razão pela qual os indivíduos refletem as normas sociais vigentes. c) O gênero humano é, irremediavelmente, um ser social, condição expressa pelo fato dos homens e mulheres fazerem a história, mas sempre a partir de uma situação dada. d) O Estado capitalista nada tem a ver com as escolhas que os indivíduos fazem a partir das motivações que possuem, sendo, na verdade, a expressão das classes sociais em luta. 3. (UEL) Para a teoria sociológica de Max Weber, em toda sociedade há dominação, que é entendida como uma “[...] probabilidade de haver obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de um determinado grupo de pessoas [...]”. Fonte: WEBER, M. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Economia e Sociedade, Brasília: De acordo com a teoria sociológica do autor, é correto afirmar que os três tipos puros de dominação legítima são: a) Racional, tradicional e carismática. b) Econômica, social e política. c) Feudal, capitalista e comunista. d) Monárquica, absolutista e republicana. e) Socialista, neoliberal, social-democrata. 04. (UEL) Max Weber, teórico cujos conhecimentos continuam básicos para a Sociologia, procurou não apenas conhecer a sociedade moderna, mas explicar sua estrutura de dominação política e econômica e suas disparidades. Com base no enunciado e nos conhecimentos sobre o autor, assinale a alternativa correta: a) Para Weber, os interesses coletivos estão acima dos interesses particulares, portanto, é possível transformar a realidade social por meio da acentuada divisão social do trabalho, já que esta produz a solidariedade orgânica e ainda possui o Direito Penal que, com suas sanções repressivas, pode normalizar a sociedade nos momentos de crise. b) De acordo com o autor, a divisão do trabalho capitalista expressa modos de segmentação da sociedade que levam os indivíduos a ocuparem posições desiguais, gerando antagonismos de classes. Assim, a classe explorada, que no capitalismo é a classe operária, seria a única capaz de realizar a mudança da sociedade capitalista para uma sociedade menos desigual. c) Weber considera que somente a renda e a posse geram desigualdades. Assim, a possibilidade do desenvolvimento de uma sociedade mais justa é utópica, pois as vantagens materiais derivam dos próprios méritos dos indivíduos, que já nascem desiguais em relação aos dons naturais, inteligência, gosto e coragem, entre outros. d) O autor, numa perspectiva simbólica, procura explicar a sociedade capitalista e a sua possibilidade de transformação. Considera que é necessário analisar a sociedade microssociologicamente, pois, como só alguns grupos possuem capital simbólico e econômico de maior significância na hierarquia social, reproduzem a cultura, a ideologia, organizando o sistema simbólico segundo a lógica da diferença. e) Segundo Weber, as classes, os estamentos e os partidos são fenômenos de distribuição de poder dentro de uma comunidade, que se legitimam e se definem pelos valores sociais convencionalmente estabelecidos em dada sociedade. 05. (UFU) Segundo Weber, o Estado contemporâneo é uma comunidade humana que, dentro dos limites de um território, reivindica o monopólio do uso legítimo da força física. Com base na afirmação acima, assinale a alternativa INCORRETA. a) O Estado consiste em uma relação de dominação entre os homens, sob a condição de que os dominados se submetem à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores. b) O Estado consiste em uma relação de dominação entre os homens, sob a condição de que os dominados se rebelam à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores. c) O Estado moderno exige uma dominação burocrático-racional, dada sua eficiência em relação às demais formas de dominação. d) O Estado moderno se desenvolve paralelamente ao desenvolvimento da empresa capitalista. 06. (UFU) A Sociologia surge em um período em que o fazer científico encontrava-se influenciado por algumas teses desenvolvidas durante o século XIX. Herbert Spencer, Charles Darwin e Auguste Comte, por exemplo, tiveram grande importância para o pensamento sociológico. O primeiro, por aplicar às ciências humanas o evolucionismo, mesmo antes das teses revolucionárias sobre a seleção das espécies do segundo. Com relação a Comte, houve a influência de seu “espírito positivo” na formação dos muitos intelectuais do período. Sobre as ideias de evolução e progresso e seu impacto no pensamento sociológico, podemos afirmar que: a) A ideia de progresso, apesar de ter grande influência na área das ciências naturais, não teve impacto decisivo na constituição da sociologia. b) A ideia de evolução foi uma das palavras de ordem do período, mas a sociologia rejeitou a sua adoção, assim como qualquer comparação entre seus efeitos no reino natural e no mundo social. c) A explicação sociológica procurou, desde o seu início, afastar-se de qualquer forma de determinismos, fossem biológicos ou geográficos, pois se contrapunha fortemente às explicações de cunho evolucionista. d) Em sua busca por constituir-se como disciplina, a Sociologia passou pela valorização e incorporação dos métodos das ciências da natureza, utilizando metáforas organicistas, assim como conferindo ênfase à noção de função.