ENDOWMENT EFFECT: UM ESTUDO EXPERIMENTAL NO BRASIL Adriano Bello Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ Mestrado em Administração Orientador : Marcos Gonçalves Ávila Rio de Janeiro 2003 ii ENDOWMENT EFFECT: UM ESTUDO EXPERIMENTAL NO BRASIL Adriano Bello Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração – COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre. Aprovada por: _________________________________________ Prof. Marcos Gonçalves Ávila – Orientador Coppead – UFRJ _________________________________________ Prof.a. Letícia Moreira Casotti Coppead – UFRJ _________________________________________ Prof. Luiz Flavio Autran Monteiro Gomes IBMEC – RJ Rio de Janeiro 2003 iii FICHA CATALOGRÁFICA Bello, Adriano Endowment Effect: um Estudo Experimental no Brasil / Adriano Bello. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003. viii, 77p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD, 2003. Orientador: Marcos Gonçalves Ávila, Ph.D. 1. Endowment Effect. 2. Teoria dos Prospectos. 3. Tese. (Mestr. – UFRJ/COPPEAD). I. Orientador. II. Título. iv DEDICATÓRIA Aos meu pais, Gilson e Anamaria, e aos meus irmãos, André e Andréa, pelo amor incondicional que sempre tiveram por mim. v AGRADECIMENTOS À Juliana pela ajuda na execução dos experimentos; Aos professores da UFRJ / Praia Vermelha por permitir a realização dos experimentos em suas salas de aula; A todos que emprestaram o seu valioso tempo para a realização dos prétestes; Às professoras Verônica e Daniela pela ajuda nas análises dos resultados; À professora Úrsula por tudo o que me ensinou, sempre com tanto carinho; Ao professor Marcos Ávila pela forma como orientou este trabalho; Ao meu pai, Gilson, pela incansável paciência de ler repetidamente os meus textos mal escritos; À Cida pelo suporte nas questões mais operacionais; A todos da biblioteca pela ajuda na procura das referência bibliográficas; E, principalmente, aos amigos mais próximos e familiares por me “aturarem” durante a realização deste trabalho. vi RESUMO Bello, Adriano. Endowment Effect: Um Estudo Experimental no Brasil. Orientador: Marcos Gonçalves Ávila. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação O endowment effect ocorre quando uma pessoa, durante uma situação específica de compra e venda onde o efeito lucro e os custos de transação são mínimos, exige para se desfazer da propriedade de um bem mais do que ela estaria disposta a pagar pelo mesmo bem caso não fosse a proprietária. A presença do endowment effect pode, portanto, reduzir o volume de bens espontaneamente negociados, reduzindo a eficiência dos mercados. Embora a literatura internacional apresente estudos sobre o endowment effect em situações de compra e venda de bens de consumo, não foi encontrada nenhuma referência a este tópico em trabalhos conduzidos no Brasil. Esta dissertação estuda, através de simulações de mercados, a presença do endowment effect no ambiente brasileiro, reaplicando experimentos realizados em outros países. Os dados obtidos confirmam os resultados encontrados por outros autores, sugerindo que o endowment effect também ocorre no ambiente brasileiro. vii ABSTRACT Bello, Adriano. Endowment Effect: A Brazilian Experimental Study. Chairmain: Marcos Gonçalves Ávila. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertation. The endowment effect occurs when a person, during some specific buying/selling situations where the income effects and transaction costs are minimum, demands more to give up an entitlement than she would be willing to pay to acquire the same good if she was not the owner. The endowment effect may reduce the number of goods traded spontaneously, reducing the market efficiency. Although the international literature presents studies about the endowment effect in buying/selling goods situations, we did not find any study about this topic conducted in Brazil. This paper study, throughout market simulations, the endowment effect in a Brazilian context, reapplying experiments already conducted in others countries. The data obtained here confirms the results previously achieved by others authors, suggesting the endowment effect also occur in a Brazilian environment. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO, OBJETIVO E RELEVÂNCIA DO ESTUDO .......................... 1 1.1 Introdução ................................................................................................ 1 1.2 Objetivo .................................................................................................... 2 1.3 Relevância do estudo............................................................................... 2 2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................. 6 2.1 Teoria normativa de tomada de decisão .................................................. 7 2.2 Teorias descritivas ................................................................................... 8 2.3 O endowment effect ............................................................................... 14 3 HIPÓTESE DE PESQUISA E METODOLOGIA ........................................... 35 3.1 Hipótese de Pesquisa ............................................................................ 35 3.2 Tipo de Pesquisa ................................................................................... 37 3.3 Universo e Amostra................................................................................ 38 3.4 Desenho do Experimento....................................................................... 38 3.5 Coleta de Dados .................................................................................... 47 3.6 Tratamento dos Dados........................................................................... 50 3.7 Limitações do Método ............................................................................ 51 3.8 Pré testes ............................................................................................... 52 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................... 60 5 CONCLUSÕES ............................................................................................. 69 6 REFERÊNCIAS............................................................................................. 71 ANEXOS .......................................................................................................... 75 1 1 INTRODUÇÃO, OBJET IVO E RELEVÂNCIA DO ESTUDO 1.1 Introdução A teoria econômica clássica sugere que em mercados onde exista concorrência perfeita e onde o efeito lucro e os custos de transação são mínimos, as diferenças entre os valores que os vendedores estão dispostos a receber (WTA) – do inglês Willingness To Accept - e os valores que os compradores estão dispostos a pagar (WTP) – do inglês Willingness To Pay - podem ser desprezadas (WILLIG, 1976). Nesta mesma linha, o modelo econômico tradicional prevê que em negócios onde não haja custos de transação, a alocação de recursos será independente da propriedade do bem e, portanto, os valores atribuídos ao bem por vendedores e compradores, excluídas as variações estatísticas de amostra, devem ser iguais, tornando as curvas de oferta e de demanda reflexo uma da outra. Como conseqüência, em um mercado com 2N pessoas onde estão disponíveis N bens, o volume previsto de bens espontaneamente negociados (V*) é igual a N/2 (KAHNEMAN et al., 1990). Em contraposição às expectativas da teoria econômica, estudos experimentais, como Hammack e Brown (1974), realizados com simulações de mercados de compra e venda apresentaram significativas discrepâncias entre os valores que os vendedores estão dispostos a receber (WTA), e os valores que os compradores estão dispostos a pagar (WTP), mesmo quando o efeito lucro é mínimo e não há custos de transação. Na tentativa de encontrar caminhos alternativos à teoria econômica tradicional, Thaler (1980) sugeriu que as diferenças encontradas para o WTA e o WTP em situações de compra e venda de bens de consumo surgem porque as pessoas que têm a posse do bem tendem a atribuir a ele um valor maior do que o fariam caso não tivessem a propriedade do mesmo. A este fenômeno Thaler chamou de endowment effect e acrescentou que o mesmo ocorre porque, sob a ótica 2 da teoria dos prospectos (KAHNEMAN & TVERSKY, 1979), a venda do bem estaria associada a uma perda enquanto que a compra estaria associada a um ganho. Após o trabalho de Thaler, diversos estudos experimentais (KAHNEMAN et al., 1990; KACHELMEIER & SHEHATA, 1992; BOYCE et al., 1992; FRANCIOSI et al., 1996; MORRISON, 1998) reforçaram a constatação de discrepâncias entre o WTA e o WTP em mercados simulados de compra e venda de bens e apontaram o endowment effect como o principal responsável pelas diferenças. 1.2 Objetivo Apesar de diversos trabalhos terem sido publicados relatando os efeitos do endowment effect em situações de compra e venda de bens de consumo, não foi encontrada na literatura nenhuma referência deste tópico em estudos conduzidos no Brasil. O objetivo deste trabalho é, portanto, avaliar a presença do endowment effect dentro de um ambiente de pesquisa brasileiro. 1.3 Relevância do estudo O preço, assim como os outros três componentes do mix de marketing (promoção, praça, produto), representa uma das variáveis mais importantes no processo de decisão de compra dos consumidores. De acordo com Rocha e Christensen (1995, p.108), “o preço define as condições básicas pelas quais o vendedor e o comprador estão dispostos a realizar a troca” . Para Kotler e Armstrong (1998, p.236), “o preço é o único elemento do mix de marketing que 3 produz receitas; os outros representam custos”. Ainda segundo Kotler e Armstrong (1998, p.96), “a empresa que realmente compreender como os consumidores respondem às diferentes características, preços e apelos de propaganda tem uma grande vantagem sobre seus concorrentes”. Aprofundando as questões referentes ao comportamento de consumidores quanto a preços, Thaler (1980) e mais tarde Kahneman e outros (1990) observaram que em mercados de compra e venda de bens, diferenças entre o preço que os vendedores estão dispostos a vender e o preço pelo qual os compradores estão dispostos a pagar geravam uma redução do volume de bens espontaneamente negociados. Para estes autores, o endowment effect era uma evidente explicação para estas diferenças observadas entre o preço de venda sugerido e o preço de compra ofertado e, em termos mais gerais, poderia produzir uma inércia na economia, o que, em última análise, reduziria a eficiência dos mercados. Consequentemente, uma compreensão mais profunda de como o endowment effect afeta o comportamento do consumidor em situações de compra e venda poderia ajudar a melhorar a performance dos mercados de compra e venda de bens de consumo. Estudos neste campo vêm sendo conduzidos e, de um modo geral, apresentam caráter descritivo, onde o mais importante é analisar os resultados sem tentar explicá-los sob o ponto de vista meramente racional, como o faz as teorias econômicas tradicionais (teorias normativas). Não é de se estranhar que as chamadas teorias descritivas de julgamento e tomada de decisão, e em particular a teoria dos prospectos (KAHNEMAN & TVERSKY, 1979), venham adquirindo importância ao longo do tempo em oposição às teorias normativas. Para Bazerman (1990), em virtude do seu poder descritivo, a teoria dos prospectos vem causando uma grande agitação nos campos da teoria da decisão, da psicologia, do marketing, do 4 comportamento organizacional e da economia e tem ajudado os pesquisadores a desenvolverem um entendimento mais completo dos erros e inconsistências existentes em nosso julgamento. Aliás, o encadeamento do estudo de teorias descritivas e do comportamento do consumidor reforça o caráter interdisciplinar deste último. Para Solomon (2002, p.40), “o comportamento do consumidor é um campo muito novo e, à medida que se expande, está sendo influenciado por várias perspectivas diferentes” e “é difícil imaginar um campo que seja mais interdisciplinar”. Ainda segundo Solomon (2002, p.40), “um determinado fenômeno de consumidores pode ser estudado de diferentes formas em diferentes níveis, dependendo do treinamento e dos interesses dos pesquisadores envolvidos no estudo”. O endowment effect e o mercado Brasileiro Embora o endowment effect, sob a ótica das teorias descritivas, venha sendo estudado internacionalmente há alguns anos, não foi encontrada na literatura nenhuma pesquisa experimental, relacionada a este tema, conduzida no Brasil. O mercado Brasileiro, com o impacto nas últimas décadas de fatores como a hiper-inflação e o processo de abertura e desregulamentação da economia, apresenta características bastante diversas daqueles onde os experimentos realizados para a avaliação do endowment effect foram anteriormente aplicados. Para Rocha e Christensen (1995, p.108) as mudanças pelas quais o Brasil passou nos últimos anos exigiu dos consumidores adaptações que geraram como conseqüência a “perda da capacidade de avaliar o valor relativo de bens e serviços – a mudança rápida fez com que os consumidores perdessem seus referenciais de preços, tornando difícil avaliar quando se tratava de preço `bom` ou `justo`“. Ainda segundo Rocha e Christensen (1995, p.108), “as 5 comparações de preços tornaram-se extremamente difíceis, uma vez que a velocidade da mudança de preços exigia, em determinados períodos, quase que levantamentos diários”. As particularidades do ambiente brasileiro não permitiam, portanto, que os resultados anteriormente obtidos pudessem ser considerados válidos no contexto nacional, levantando dúvidas se o endowment effect também se pronunciaria em situações de compra e venda de bens envolvendo consumidores brasileiros. Este trabalho pretende, então, contribuir para que possamos inserir o Brasil nesta discussão e gerar dados que permitam aos pesquisadores desta área compreender de forma mais ampla os efeitos dos endowment effect em diferentes mercados e culturas. Com este objetivo, esta dissertação relata os principais estudos conduzidos até então sobre o endowment effect e faz uma avaliação deste em um ambiente de pesquisa brasileiro. O segundo capítulo abrange o referencial teórico, necessário para a compreensão desta pesquisa, e foi dividido em três partes: a primeira aborda as teorias normativas de tomada de decisão – as quais tratam das decisões tidas como racionais; a segunda parte compreende as teorias normativas – que avaliam como as decisões efetivamente são tomadas; e a terceira parte discorre sobre o endowment effect, sua origem e os avanços da literatura neste campo. O terceiro capítulo expõe as hipóteses deste estudo e a metodologia utilizada, descrevendo o desenho do experimento e as variáveis dependentes e independentes. No quarto capítulo é feita a análise dos dados obtidos através da aplicação do experimento. O quinto capítulo apresenta as conclusões deste estudo, e o sexto e último capítulo encerra esta dissertação com a apresentação das referências bibliográficas. 6 2 REFERENCIAL TEÓRI CO O endowment effect se pronuncia em ocasiões de compra e venda de bens de consumo, onde o efeito lucro e os custos de transação são mínimos, e se dá quando uma pessoa, ao ter a posse de um bem, avalia este por um valor mais alto do que o faria caso não fosse a proprietária deste mesmo bem. A conseqüência direta do endowment effect é que o preço pelo qual os vendedores estão dispostos a vender o bem (WTA) – do inglês Willingness To Accept – tende a ser maior do que o preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP) – do inglês Willingness To Pay, o que vai de encontro aos preceitos da teoria econômica clássica, a qual prevê que em mercados onde o efeito lucro e os custos de transação são mínimos, a propriedade do bem não altera o valor atribuído ao mesmo (KAHNEMAN et al., 1990). Apesar deste aparente conflito com a teoria econômica clássica, diferenças entre o WTA e o WTP são freqüentemente relatadas na literatura (HAMMACK & BROWN, 1974; ROWE et al., 1980; KNETSCH & SINDEN, 1984; KNEZ et al., 1985; BROOKSHIRE & COURSEY, 1987; KAHNEMAN et al., 1990; HANEMANN, 1991; DUBOURG et al., 1994; SHOGREN et al., 1994; MORRISON, 1998) embora pareça não haver entre os estudiosos uma opinião consensual sobre as suas causas. Enquanto alguns atribuem ao endowment effect a motivação primeira para as discrepâncias observadas entre o WTA e o WTP (KAHNEMAN et al., 1990), outros creditam essas diferenças a uma possível inexperiência dos participantes (BROOKSHIRE & COURSEY, 1987), a efeitos de substituição entre bens (HANEMANN, 1991) ou mesmo a imprecisões dos respondentes na definição de suas preferências (DUBOURG et al., 1994). O presente referencial teórico procura abordar todas estas questões, iniciando com a apresentação dos preceitos da teoria econômica clássica dentro das 7 chamadas teorias normativas de tomada de decisão. A seguir, são expostas as ditas teorias descritivas – em especial a teoria dos prospectos – que procuram estudar as decisões como elas efetivamente são tomadas. Por fim, introduz o conceito de endowment effect e faz um histórico da evolução dos estudos neste campo. 2.1 Teoria normativa de to mada de decisão Segundo Dawes (1988), a história da teoria da tomada de decisão se inicia em 1948 com von Neumann e Morgenstern propondo a existência de axiomas (transitividade, substituição, dominância e invariância) que governariam as preferências de uma tomada de decisão dita racional – teoria normativa. Ao fazer escolhas coerentes com estes princípios, o indivíduo estaria se comportando dentro do que prevê a teoria normativa sobre tomada de decisão, ou seja, estaria se comportando de forma racional. Consequentemente, a teoria econômica é construída em cima do pressuposto de que os agentes na economia são orientados pela sua capacidade de serem racionais. É aí que reside uma das grandes diferenças entre a economia e outras disciplinas – tais como a psicologia e a sociologia. Dentro deste princípio de racionalidade, a teoria econômica prevê que em situações de compra e venda onde o efeito lucro seja muito pequeno e onde não haja custos de transação, os valores atribuídos aos bens pelos compradores (WTP) e pelos vendedores (WTA) deveriam ser iguais ou apresentar diferenças desprezíveis (WILLIG, 1976; RANDALL & STOLL, 1980; LAYARD & WALTERS, 1978). Consequentemente, em um mercado com 2N pessoas onde estão disponíveis N bens, o volume previsto (V*) de bens espontaneamente negociados previsto pela teoria econômica tradicional é N/2. 8 Entretanto, durante estudos experimentais surgiram discrepâncias entre os valores que os vendedores estavam dispostos a receber (WTA), e os valores que os compradores estavam dispostos a pagar (WTP) (HAMMACK & BROWN, 1974), provocando volumes de negociações (V) inferiores aos preditos pela teoria econômica (KNETSCH & SINDEN, 1984; KAHNEMAN et al., 1990; KACHELMEIER & SHEHATA, 1992; BOYCE et al., 1992; FRANCIOSI et al., 1996; MORRISON, 1998). Para explicar essa possível inconsistência entre os preceitos da teoria econômica clássica e dos resultados obtidos em experimentos, os estudiosos iniciaram pesquisas abordando as chamadas teorias descritivas, como veremos a seguir. 2.2 Teorias descritivas As teorias descritivas surgem como uma derivação da teoria econômica através da teoria da utilidade esperada, cuja origem remonta ao século XVII, quando Bernoulli sugeriu que as pessoas não avaliam o resultado de suas decisões através do cálculo do valor esperado, mas sim através de um valor subjetivo ao qual chamou de utilidade esperada (KAHNEMAN & TVERSKY, 1984). De acordo com a teoria da utilidade esperada, o resultado de cada escolha gera um certo grau de prazer ou desprazer. Se por um lado as teorias normativas tratam da racionalidade e da lógica da tomada de decisão e têm por objetivo elaborar estratégias que auxiliem as pessoas no processo decisório, por outro lado as teorias descritivas buscam mostrar o processo decisório como ele efetivamente ocorre. Em suma, as teorias normativas referem-se a como as pessoas deveriam tomar decisões enquanto as teorias descritivas referem-se a como as pessoas realmente tomam decisões (KAHNEMAN & TVERSKY, 1984). 9 Mas por quê se preocupar com a visão descritiva? À primeira vista, bastaria que as atenções se concentrassem apenas em como as pessoas devem tomar as decisões. Se todos se comportassem da maneira como deveriam, não haveria a necessidade de se estudar como as decisões efetivamente são tomadas porque não existiria variação entre uma situação e outra. Porém, como vimos anteriormente, as variações ocorrem e estudar a visão descritiva é importante na medida em que podem ser identificados os fatores de variação e se compreender as causas das diferenças encontradas. Procurando estudar estas diferenças entre o que seria tido como normal e o que realmente ocorre na prática, foi desenvolvido um trabalho pelo ganhador do Prêmio Novel de Economia de 1978, Herbert Simon. Simon (1957) contrastou os métodos ditos racionais de tomada de decisão em um ambiente de incerteza com as evidências empíricas de como as pessoas realmente decidem e indicou que havia um hiato entre as teorias normativas e a prática, sugerindo, então, uma explicação para este hiato: “A capacidade da mente humana para formular e solucionar problemas complexos é muito pequena comparada à capacidade que uma solução dentro dos padrões de comportamento objetivamente racional requer.” (SIMON, 1957, P.31) Teoria dos prospectos Dando seqüência aos estudos de Simon, os psicólogos, mediante pesquisas experimentais, desenvolveram um modelo alternativo à teoria normativa, objetivando descrever o que de fato ocorre no processo de tomada de decisão. Dentro desta abordagem descritiva, encontra-se a teoria dos prospectos desenvolvida por Kahneman e Tversky (1979). Estes autores mostraram que as decisões freqüentemente dependem da forma como a questão está 10 estruturada e é percebida. Demonstraram ainda a existência de um “efeito framing” na tomada de decisão, isto é, a possibilidade de se induzir um indivíduo a decisões diferenciadas a partir da manipulação da forma como se apresenta a situação. O pressuposto básico desta teoria é, portanto, que a tomada de decisão depende do framing do problema, isto é, da forma como o problema é abordado (TVERSKY & KAHNEMAN, 1981). O frame adotado pelo tomador de decisão é influenciado em parte pela formulação do problema e em parte por fatores sociais, hábitos e características pessoais. Bazerman (1990) complementa esta idéia, afirmando que as limitações do processo de julgamento e tomada de decisão podem originar-se de pelo menos três fontes: emoções, motivações e cognições. Características pessoais relativas a emoções e motivações não constituem o escopo deste trabalho, que se concentra essencialmente nos aspectos cognitivos e na questão da formulação da situação relativa à tomada de decisão. Como premissa adotada, têm-se que é possível se estruturar de forma diferente uma mesma situação decisória e assim alterar a escolha do indivíduo. Já dentro dos moldes da teoria econômica, conforme exposto anteriormente, não é possível considerar que a mudança na forma de se estruturar uma situação possa alterar o comportamento decisório das pessoas. O axioma da invariância pressupõe que a preferência por uma alternativa de ação não será alterada pela mudança do frame. No entanto, permanece nesta teoria o conceito de utilidade, na medida em que se considera que o indivíduo, frente a uma decisão, associa a cada alternativa um valor subjetivo. Não obstante, existem alguns aspectos, fundamentais, em que a teoria dos prospectos difere da teoria da utilidade esperada (TVERSKY & KAHNEMAN, 1981): 11 ❐ os resultados são percebidos como positivos ou negativos em relação a um ponto de referência adotado pelo tomador de decisão, ou seja, ganhos e perdas são determinados pela posição do ponto de referência e não pelas características das alternativas em si. ❐ a resposta a perdas é mais extrema do que a resposta a ganhos, ou seja, o desprazer associado a perder um valor X é maior do que o prazer associado equivalente. ❐ se o ponto de referência é tal que os resultados são percebidos como ganhos, prevalece uma posição de aversão ao risco. Se, ao contrário, resultados são percebidos como perdas, prevalece a propensão ao risco. Como forma de se ilustrar graficamente estas observações, a teoria dos prospectos possui em seu instrumental conceitual a função valor, exposta na figura abaixo, associando um valor subjetivo a qualquer quantia que possa ser ganha ou perdida. U tilid a d e U (+ d x ) - dx +dx P e rd a s G anhos U (- d x ) | U (+ d x ) | < | U (-d x ) | Função Valor (Fonte: adaptado de BAZERMAN, 1990, p.49) O seu formato em S faz com que seja côncava para ganhos e convexa para perdas, de forma que cada unidade extra que seja ganha ou perdida adiciona 12 menos valor do que a precedente. Além disso, a função valor é consideravelmente mais íngreme para perdas do que para ganhos, o que ilustra a prerrogativa de que a intensidade da sensação de perda de um valor é maior do que a intensidade da sensação associada ao ganho de mesmo valor. Tanto a teoria dos prospectos como a teoria da utilidade esperada estudam decisões sob incerteza, nas quais há um risco envolvido na decisão. O conceito de risco está associado à posição das pessoas em relação a um valor chamado de equivalente de certeza. Um exemplo simples ilustra esta associação. Considerando-se um jogo no qual o participante tivesse 60% de chance de ganhar $100 e 40% de chance de não ganhar nada, pergunta-se por qual valor ele estaria disposto a abrir mão de participar deste jogo. Caso este valor, o equivalente de certeza, seja menor do que o valor esperado do jogo ($60), então há uma postura de aversão ao risco. Da mesma forma, se o equivalente de certeza for maior do que o valor esperado, há uma postura de propensão ao risco. Caso os dois valores sejam iguais, a postura é de neutralidade. Segundo a teoria dos prospectos, as pessoas tendem a ser avessas ao risco para escolhas envolvendo ganhos e propensas ao risco para escolhas envolvendo perdas. Um estudo publicado por Kahneman e Tversky (1984) ilustra algumas das conclusões da teoria dos prospectos aqui apresentadas. O experimento contou com 307 participantes, divididos em dois grupos. A um dos grupos, de 152 participantes, foi apresentada a seguinte situação: Problema 1: Imagine que os Estados Unidos estão se preparando para combater uma doença asiática incomum, cuja expectativa é que venha a matar 600 pessoas. Foram propostos dois programas de combate à doença. Assuma que as estimativas 13 científicas para as conseqüências dos programas são as seguintes: Se o programa A for adotado, 200 pessoas serão salvas. Se o programa B for adotado, há 1/3 de probabilidade de que 600 pessoas sejam salvas e 2/3 de possibilidade de que ninguém será salvo. Qual programa você escolheria? O outro grupo, composto de 155 participantes, teve que responder a uma situação, cuja introdução era textualmente idêntica à do problema 1, porém as opções de escolha estavam assim descritas: Problema 2: Se o programa C for adotado, 400 pessoas morrerão. Se o programa D for adotado, há 1/3 de probabilidade de que ninguém morra e 2/3 de probabilidade de que 600 pessoas morram. Os resultados obtidos neste estudo são apresentados a seguir. Respostas ao Problema 1 Respostas ao Problema 2 Participantes que optaram pelo Programa A Participantes que optaram pelo Programa B Participantes que optaram pelo Programa C Participantes que optaram pelo Programa D 72% 28% 22% 78% É importante ressaltar que na formulação dos problemas 1 e 2 , os programas A e C possuem resultados idênticos, assim como os programas B e D. No entanto, no problema 1 a situação foi apresentada sob o prisma de se salvar vidas, configurando um frame positivo, enquanto que no problema 2 o frame era negativo. De fato, o que se observou no experimento é que as pessoas 14 tenderam a ser mais avessas ao risco no problema 1 e mais propensas ao risco no problema 2, conforme afirma a teoria dos prospectos. Este exemplo mostra como a modificação do framing da situação pode alterar escolhas envolvendo risco, o que viola o princípio da invariância, já descrito anteriormente como um dos pilares das decisão racional, pois em duas situações cujos valores esperados são idênticos para as alternativas e decisão, tem-se uma inversão das preferências. 2.3 O endowment effect Com base na teoria dos prospectos, Thaler (1980) introduziu, em 1980, o conceito de endowment effect para explicar as diferenças encontradas entre os valores que os vendedores estão dispostos a receber (WTA) e os valores que os compradores estão dispostos a pagar (WTP) durante estudos experimentais de mercados de compra e venda de bens de consumo. Segundo a teoria dos prospectos, a maior inclinação da função utilidade no lado esquerdo (área das perdas) faz com que u’(Xo-dX) > u’(Xo+dX), ou seja, a partir do ponto de referência Xo, a utilidade percebida [u(Xo-dX)] a uma perda de valor (-dX) é maior, em módulo, do que a utilidade percebida [u(Xo+dX)] a ganhos de mesmo valor absoluto (+dx). Para Thaler, ao tomarem posse de um determinado bem, as pessoas adotam esta nova condição como ponto de referência e encaram a venda do bem como uma perda. Consequentemente, a utilidade associada a esta perda é mensurada na região da curva com maior inclinação (área de perdas). Quando, ao contrário, esta mesma pessoa avalia uma possível compra do mesmo bem, ela o faz considerando como referência a não propriedade do mesmo, criando portanto uma situação de ganho a qual terá a sua utilidade mensurada com 15 base na curva de menor inclinação (área de ganhos). Em função das diferentes inclinações da curva de utilidade nas áreas de ganho e de perda, a utilidade percebida na situação de compra (“ganho”) é menor do que na situação de venda (“perda”) do mesmo bem. Para Thaler (1980), portanto, as discrepâncias encontradas entre o WTA e o WTP em situações de compra e venda de bens se devem aos diferentes pontos de referência utilizados para a avaliação de uma mesma situação, isto é, para os vendedores o ponto referência é a propriedade do bem enquanto que os compradores utilizam como referência a não propriedade deste mesmo bem. A esta mudança do ponto de referência quanto à propriedade de um bem e a sua conseqüente alteração de avaliação ele chamou de endowment effect. Todavia, o endowment effect não é esperado para todos os bens. De acordo com Kahneman (1992, apud DIJK & KNIPPENBERG, 1996, p.518), “a aversão a perdas não afeta todas as transações. A distinção crítica ocorre entre bens destinados ao uso e bens cuja posse se dá para a revenda” (tradução nossa). Kahneman (1992) distingue três categorias para bens de troca: (1) dinheiro destinado a gastos, (2) bens destinados a venda e (3) bens que somente têm valor porque podem ser trocados, e concluí que a aversão a perda tem muito pouca influência em transações econômicas rotineiras, nas quais vendedores e compradores trocam bens por dinheiro. Após a introdução do conceito de endowment effect por Thaler (1980), foram levantadas algumas diferentes hipóteses para as discrepâncias observadas entre o WTA e o WTP como, por exemplo, Rowe e outros (1980) que sugeriu que os motivos que levavam os valores do WTA e do WTP a se distanciarem eram uma possível percepção dos participantes de ilegitimidade das transações propostas. Para Knez e outros (1985) a justificativa foi a existência de hábitos e estratégias de barganha, e a repetição dos mercados e a conseqüente experiência ganha reduziria estas discrepâncias. Já Brookshire e 16 Coursey (1987) e Coursey e outros (1987) usaram como argumento o hábito de se esconder os valores de compra e de venda. Em 1990, Kahneman e outros (1990) procurou sumariar a discussão sobre as justificativas apontadas até então para as disparidades observadas entre o WTA e o WTP. Através de nove experimentos, envolvendo mais de 700 participantes, Kahneman confrontou explicações como o custo de transação, a má compreensão das regras dos experimentos e os hábitos de barganha com o endowment effect proposto por Thaler (1980). Os experimentos de Kahneman e outros (1990) foram divididos em cinco grupos, e cada um deles discutiu um determinado conjunto de proposições. O primeiro grupo testou o impacto do custo de transação, a má compreensão das regras dos experimentos, os hábitos de barganha e a redução das diferenças entre o WTA e o WTP com a experiência. O segundo grupo discutiu o impacto do uso de estratégias de apreçamento. O terceiro grupo analisou a possível presença de relutâncias em comprar e vender. O quarto grupo estudou o volume de transações em mercados com negociações bilaterais. O quinto grupo de experimentos, por fim, explorou os impactos do efeito lucro e do efeito troféu. O primeiro grupo Os estudos anteriores a Kahneman e outros (1990) inferiram que as discrepâncias entre o WTA e o WTP decorriam de comportamentos normalmente presentes em negociações de compra e venda como, por exemplo, hábitos de barganha (KNEZ, 1985) e as tentativas de compradores(vendedores) de reduzir(aumentar) os seus reais preços de compra(venda) com o objetivo de aumentar os lucros auferidos (COURSEY et al., 1987; BROOKSHIRE & COURSEY, 1987). Havia ainda a possibilidade de que as discrepâncias encontradas nestes estudos fossem conseqüência de 17 uma má compreensão das regras dos respectivos experimentos e/ou de custos de transação. Com base nestas hipóteses, Knez (1985), Coursey e outros (1987) e Brookshire e Coursey (1987) sugeriram que a repetição dos mercados, e o conseqüente ganho de experiência dos participantes, diminuiria o intervalo entre o WTA e o WTP, aumentando o volume de transações espontaneamente realizadas (V). Para avaliar os impactos causados por hábitos de barganha, por possíveis distorções decorrentes da má compreensão das regras dos experimentos e por custos de transação, Kahneman utilizou como condição de controle mercados com valores induzidos. Nestes mercados, os objetos negociados foram tokens. Tokens são símbolos que representam um valor específico em um determinado experimento e que só têm este valor porque podem ser trocados por dinheiro ao final do experimento (SMITH, 1976). Um exemplo de tokens são as fichas utilizadas em casinos ou mesas de jogo, as quais só têm valor naquela situação porque podem ser, ao final do jogo, trocadas por dinheiro. Ao utilizar a técnica de valores induzidos, Kahneman pôde isolar as causas das discrepâncias entre o WTA e o WTP comparando os resultados dos mercados de tokens com os obtidos em mercados sujeitos às mesmas regras mas com a utilização de bens de consumo reais. Ou seja, se os valores de venda e de compra dos tokens não apresentassem diferenças em relação aos valores induzidos, existiria uma indicação de que não haveria interferência de fatores como hábitos de barganha, custos de transação ou má compreensão das regras nos resultados do experimento. Para testar a hipótese de que a experiência reduz as diferenças entre os preços de compra e de venda, os mercados foram repetidos diversas vezes com as mesmas regras e os mesmos participantes. 18 Ao todo foram realizados quatro experimentos neste primeiro grupo. No primeiro experimento, participaram 44 estudantes entre alunos de direito e de economia da universidade de Cornell. O experimento foi composto de onze mercados: nos três primeiros foram comercializados tokens com valores induzidos; nos quatro seguintes foram negociadas canecas de café com a logomarca da universidade de Cornell estampada; e nos quatro últimos, foram transacionadas canetas. Para os três primeiros mercados, os vendedores receberam as seguintes instruções (com as diferentes instruções fornecidas aos compradores entre colchetes): Neste mercado, os objetos que serão negociados serão tokens. Você é um proprietário e portanto, agora, você possui um token [Você é um comprador e portando você tem a oportunidade de comprar um token] o qual tem um valor para você de $ X. Ele tem este valor para você porque o experimentador irá dar a você esta quantidade de dinheiro por ele. O valor do token é diferente para diferentes indivíduos. O preço para os tokens será determinado mais tarde. Para cada um dos preços listado abaixo, indique por favor se você prefere: (1) Vender o seu token por este preço e receber o preço de mercado, [Comprar um token por este preço e trocá-lo pela soma de dinheiro indicada acima.] (2) Manter o seu token e trocá-lo pela soma de dinheiro indicada acima. [Não comprar o token por este preço.] Para cada preço, indique a sua decisão marcando um “X” na coluna apropriada. Pelo preço de $ 8,75 eu vendo [compro] eu não vendo [eu não compro] ___ ___ Pelo preço de $ 8,25 eu vendo [compro] eu não vendo [eu não compro] ___ ___ eu vendo [compro] eu não vendo [eu não compro] ___ ___ ................... Pelo preço de $ 0,25 19 Nestes três primeiros mercados, os estudantes se alternaram entre vendedores e compradores e cada um recebeu para os tokens um valor de resgate diferente para cada um dos mercados. Após o preenchimento dos formulários, os mesmos eram recolhidos e imediatamente calculados e divulgados o preço de mercado e o número de transações realizadas ao preço de mercado. A cada rodada, três compradores e três vendedores eram sorteados para efetivamente realizar, com o preço de mercado definido para aquela rodada, as transações indicadas nos seus respectivos formulários. Imediatamente após os mercados de tokens, foram distribuídas, para metade dos participantes, canecas cujo preço no bazar da universidade era $ 6,00. Foram, então, realizados quatro mercados com as canecas, de acordo com as mesmas regras dos três primeiros, exceto que: (1) apenas um mercado foi selecionado, aleatoriamente, para ter as transações efetivamente realizadas; (2) no mercado selecionado, foram implementadas todas as transações; (3) os vendedores e os compradores foram mantidos nestas posições durante os quatro mercados e (4) os formulários distribuídos apresentaram as seguintes instruções: Você agora possui o objeto em sua posse. [Você não possui o objeto que você vê na posse de alguns de seus colegas.] Você tem a opção de vendê-lo [comprá-lo] se o preço, que será determinado mais tarde, for aceitável para você. Para cada um dos possíveis preços abaixo, indique se você desejaria: (1) Vender o seu objeto e receber este preço [Pagar este preço e receber um objeto para levar para casa contigo] ou (2) Manter este objeto com você e levá-lo para casa. [Não comprar este objeto por este preço.] Para cada preço, indique a sua posição marcando um “X” na coluna apropriada. Após os mercados com canecas, foram realizados mais quatro mercados utilizando canetas cujo preço de venda na livraria da universidade era de $3,98. 20 Os resultados deste primeiro experimento se encontram abaixo. Mercado Tokens 1 Tokens 2 Tokens 3 Nº de Transações Realizadas 12 11 10 Mercado Canecas 1 Canecas 2 Canecas 3 Canecas 4 Canetas 1 Canetas 2 Canetas 3 Canetas 4 Nº de Transações Realizadas (Esperadas=11) 4 1 2 2 4 5 4 5 Nº de Transações Esperadas 11 11 11 Preço 3.75 4.75 4.25 Preço Esperado 3.75 4.75 4.25 Preço 4.25 4.75 4.50 4.25 1.25 1.25 1.25 1.25 Média de Preço dos Compradores 2.75 2.25 2.25 2.25 0.75 0.75 0.75 0.75 Média de Preço dos Vendedores 5.25 5.25 5.25 5.25 2.50 1.75 2.25 1.75 Os mercados de tokens apresentaram resultados bem distintos dos obtidos nos demais. Utilizando valores induzidos, as médias dos preços de compra e de venda foram idênticas e se agregarmos os três mercados de tokens, a relação entre o volume de transações realmente realizadas e o volume previsto (V/V*) foi igual a 1, sugerindo não ter havido nos resultados do experimento influência de hábitos de barganha, má compreensão das regras ou algum impacto decorrente de custos de transação. Já nos mercados de canecas e nos de canetas, a média dos preços de venda foi maior do que o dobro da média dos preços de compra e a relação V/V* foi de apenas 0,20 para as canecas e 0,41 para as canetas. Com base nestas informações, Kahneman e outros (1990) assumiu que a única explicação aceitável para as diferenças entre o WTA e o WTP encontradas nos mercados de canecas e canetas era o endowment effect. 21 Além disso, não ocorreu nenhuma redução da discrepância entre o WTA e o WTP com a repetição dos mercados, e o volume de transações também não aumentou ao longo dos sucessivos mercados de canecas e canetas, não dando nenhuma indicação de que o aprendizado pudesse aproximar os preços de compra e de venda. Uma possível explicação para a divergência entre este resultado e os apresentados em estudos anteriores é a diferença dos procedimentos. Kahneman e outros (1990) ressalta que os estudos anteriores (KNEZ et al., 1985; BROOKSHIRE & COURSEY, 1997; COURSEY et al., 1987) reportaram o efeito da experiência comparando mercados preliminares hipotéticos com mercados sujeitos a condições reais de pagamentos. Após este primeiro experimento, foram realizados mais três que, apesar de pequenas alterações no design, apresentaram resultados muito semelhantes. O segundo grupo Após a realização do primeiro grupo de quatro experimentos, alguns estudiosos entenderam que devido ao design utilizado, os preços de compra e de venda escolhidos podem ter sido influenciados por uma possível estratégia utilizada pelos participantes para manipular o preço de mercado. Um novo experimento foi então conduzido, utilizando procedimentos semelhantes aos dos quatro primeiros, à exceção do preço de mercado que foi sorteado ao invés de calculado com base nos preços de compra e de venda dos participantes. Assim sendo, uma vez que os participantes não tiveram nenhuma influência sobre o preço final, não deve ter havido nenhum desvio nos valores do WTA e do WTP devido a estratégias de negociação. Segundo Kahneman e outros (1990, p.1337), “os resultados deste experimento ficaram praticamente idênticos aos dos procedimentos anteriores nos quais as trocas eram baseadas no market-clearing-price” (tradução nossa). 22 O terceiro grupo O experimentos anteriores mostraram uma redução no volume de transações realizadas (V) quando comparado com o volume previsto pela teoria econômica (V*), e o endowment effect foi utilizado como a justificativa para esta redução. O endowment effect, por sua vez, resulta da diferença entre a preferência relativa entre o bem negociado e o dinheiro a ser pago/recebido por este bem. Presumi-se, portanto, que compradores e vendedores tenham preferências diferentes. A comparação entre opções de compra, opções de venda e opções de escolha permite uma separação do endowment effect em dois componentes: (1) a relutância em vender (entregar o bem) e (2) a relutância em comprar (entregar o dinheiro). A utilização do grupo de choosers permitiu a avaliação das relutâncias em comprar e em vender uma vez que o participante ao optar pelo bem em detrimento ao dinheiro ele está de fato efetuando um transação de compra pois está abrindo mão de uma determinada quantia para ficar com o bem. No entanto, ele não “percebe” a transação desta forma pois para ele não há a entrega do dinheiro e, consequentemente, não há relutância em comprar. De forma análoga, quando o participante opta pelo dinheiro em oposição ao bem, ele está de fato realizando uma operação de venda pois deixa de ficar com o bem para receber o dinheiro. Todavia, não existe a percepção de “entregar o bem”, o que elimina a relutância em vender. Além das questões relativas a relutância de comprar e de vender, a utilização do grupo de choosers eliminou qualquer forma de efeito lucro como explicação para as diferenças de avaliação dos compradores vendedores uma vez que a posição dos observadores e dos vendedores em relação a possíveis lucros é 23 exatamente a mesma. Por fim, a alocação do bem a cada vendedor evidentemente induz um sentimento de propriedade que os observadores não compartilham. Kahneman e outros (1990), comparou o impacto da “relutância em vender” e da “relutância em comprar” através de dois experimentos. No primeiro experimento, 77 estudantes foram divididos aleatoriamente em três grupos. Os membros do primeiro grupo, chamados de vendedores, receberam canecas e preencheram uma tabela, similar à utilizada nos experimentos anteriores, indicando os preços pelos quais eles estariam dispostos a vender estas canecas. Os membros do segundo grupo, os compradores, preencheram tabelas semelhantes indicando os preços pelos quais eles estariam dispostos a pagar por uma das canecas de seus colegas. Finalmente, os membros do terceiro grupo, chamado de choosers, indicaram para cada um dos preços da tabela se eles preferiam, por aquele preço, ficar com o dinheiro ou receber uma das canecas. Conforme o esperado, o volume de transações foi inferior ao previsto pela teoria econômica (V/V*=0,24). A média dos preços pelos quais os membros do primeiro grupo aceitaram vender a caneca foi de $ 7,12 enquanto a média dos preços que os compradores aceitaram pagar por este bem foi de $ 2,87. Já a média dos preços pelos quais os choosers escolheram as canecas foi $ 3,12. Estes resultados, segundo Kahneman e outros (1990), eliminaram qualquer forma de se justificar a diferença entre o WTA e o WTP por um possível efeito lucro, uma vez que a posição dos vendedores e dos choosers eram estritamente as mesmas. A pequena diferença entre os preços dos compradores e dos choosers indicou uma baixa relutância em comprar a caneca e a redução no volume de transações realizadas foi explicada como decorrência da alta relutância em se desfazer do bem. 24 Um segundo experimento foi realizado com os mesmos procedimentos do anterior, exceto que as canecas foram entregues com as suas respectivas etiquetas de preço, deixando explícito o seu preço de comercialização no bazar da universidade. Os resultados obtidos praticamente repetiram os do primeiro experimento. O quarto grupo Segundo o Teorema de Coase, a alocação de recursos deve ser independente da posse do bem quando negócios sem custo podem ser realizados. Nesta direção, Kahneman e outros (1990) desenvolveu um experimento constituído de três etapas. Na primeira etapa, estudantes de um determinado grupo foram separados em pares e após um jogo simples entre cada dupla, os vencedores receberam barras de chocolate. Logo em seguida, foram todos reunidos e, iniciou-se um mercado de tickets com valores induzidos cujo objetivo foi prover algum dinheiro para os participantes. Para aqueles que haviam ganho as barras de chocolate, os tickets valeram $5,00 e para os demais, valeram $3,00. O preço médio de negociação foi $4,09, dando aos participantes que possuíam as barras de chocolate uma média de $0,76 e aos demais $3,90. Ato contínuo, foi iniciado um mercado onde as barras de chocolate puderam ser negociadas. Partindo da premissa de que o dinheiro ganho facilmente tende a ser gasto mais casualmente (THALER & JOHNSON, 1990), havia a expectativa de que as transações com as barras de chocolate seriam facilitadas. Contudo, o número de transações efetivamente realizadas com as barras de chocolate no último mercado ficou abaixo do predito pela teoria econômica (V/V*=0,40), indo de encontro às previsões sugeridas pelo Teorema de Coase. Mais uma vez, a explicação encontrada foi o endowment effect. 25 O quinto grupo Para avaliar os resultados dos trabalhos publicados até então por outros autores, Kahneman e outros (1990) conduziu, nos experimentos anteriores, diversos mercados envolvendo negociações entre dinheiro e bens. Entretanto, para completar o seu estudo, foi preciso avaliar os resultados encontrados em Knetsch (1989), onde havia sido observada uma redução no volume de transações (V<V*) em mercados de troca de bens. Com este objetivo, Kahneman e outros (1990) conduziu um novo experimento composto de três diferentes grupos. Ao primeiro grupo foram dadas, a todos os participantes, canecas como recompensa pelo preenchimento de um breve questionário e logo em seguida, estes mesmos participantes foram perguntados se gostariam de trocar as canecas por uma barra de chocolate suíço: 89% preferiram permanecer com a caneca. Ao segundo grupo, após o preenchimento do questionário, foram dadas barras de chocolate ao invés das canecas e a seguir, os estudantes foram perguntados se desejariam trocar as barras de chocolates pelas canecas: apenas 10% optaram por trocar a barra de chocolate pela caneca. Ao terceiro grupo, após o preenchimento do questionário, foi dada a todos os participantes a opção de se escolher a caneca ou a barra de chocolate: 56% preferiram a caneca. Com base nos resultados acima, Kahneman e outros (1990) concluiu que para a maioria dos participantes, a caneca era mais valiosa do que a barra de chocolate quando eles tinham que “abrir mão” da caneca para realizar a troca, porém menos valiosa quando eles tinham que “desistir” da barra de chocolate ganha anteriormente. Haveria portanto uma redução do volume de transações (V,V*) mesmo quando o efeito lucro é excluído, reforçando a hipótese de endowment effect. Reunindo todo o trabalho realizado com os 9 experimentos, Kahneman e outros (1990) sugeriu que os resultados encontrados suportavam o que foi 26 chamado de endowment effect instantâneo, isto é, o valor que o indivíduo dá a determinados objetos como canecas e canetas parece aumentar substancialmente tão logo ele toma posse destes objetos. Esta natureza aparentemente instantânea de alteração do ponto de referência e da conseqüente mudança do valor dado ao bem vai além do discutido em trabalhos anteriores de avaliação do endowment effect onde o indivíduo possuía o bem apenas por um determinado momento. Concluindo, Kahneman e outros (1990, p.1342) assegura que “o endowment effect é uma explicação para a diferença sistemática entre os preços de compra e de venda que vêm sendo observados tão freqüentemente (...)” (tradução nossa). Apesar da robustez dos resultados obtidos por Kahneman e outros (1990), em 1991 Hanemann (1991) sugeriu uma nova explicação para as diferenças entre o WTA e o WTP. Chamando a atenção para o fato de que os efeitos de substituição tinham mais importância do que a dada até então, Hanemann mostrou que o intervalo das diferenças entre o WTA e o WTP podia variar de zero a infinito dependendo da elasticidade do lucro e da possibilidade de substituição do bem por outro. Para Hanemann, o WTA e o WTP convergem quando o bem avaliado tem um substituto muito próximo. Quando, ao contrário, o bem não possui um substituto próximo, a diferença entre o WTA e o WTP aumenta e tende a crescer à medida em que a possibilidade de substituição do bem diminui. Em 1992, Kachelmeier e Shehata (1992) e Boyce e outros (1992) realizaram estudos experimentais semelhantes aos conduzidos por Kahneman e outros (1990) obtendo resultados que corroboraram as conclusões de que seria o endowment effect o responsável pelas discrepâncias entre o WTA e o WTP. Em 1994, trazendo uma nova visão, Dubourg e outros (1994) sugeriu que parte da diferença entre o WTA o WTP decorria da imprecisão das pessoas na 27 escolha de suas preferências. Através de um experimento onde os participantes informaram os valores máximos e mínimos que estariam dispostos a pagar(receber) para eliminar(correr) o risco de um possível acidente de estrada, o autor concluiu que as preferências das pessoas eram significativamente imprecisas, e que esta imprecisão explicava parte da disparidade entre o WTA e o WTP, mas não toda a diferença posto que em alguns casos o intervalo dos valores escolhidos para o WTA foi maior do que o intervalo dos valores de WTP. Preso ao fato de que a imprecisão das respostas não explicava toda a diferença entre o WTA e o WTP, Dubourg e outros (1994) acrescentou que a aplicação deste conceito não era incompatível com outras explicações anteriormente encontradas. Em meio às questões levantadas por Dubourg e outros (1994), Shogren e outros (1994) revisitou o estudo de Hanemann (1991), testando a proposição de que a diferença entre o WTA e o WTP seria diretamente relacionada com o grau de uma possível substituição do bem. Através de dois experimentos, Shogren e outros (1994) comparou os resultados obtidos em leilões (secondprice auctions) de barras de chocolate suíço (bens de consumo considerados por ele como facilmente substituíveis) com os resultados registrados em leilões para a redução do risco de doenças (bens dificilmente substituíveis). No primeiro experimento, foram dados aos participantes $3,00 juntamente com pedaços de barras de chocolate. Em seguida, perguntou-se qual era o preço máximo que eles estavam dispostos a pagar para trocar o pedaço de barra de chocolate pela barra inteira. Iniciou-se então o leilão onde cada participante anotava em um cartão a sua proposta. Os cartões foram recolhidos e o número de identificação do participante que ofereceu o maior valor e o segundo lance mais alto foram escritos no quadro negro. Este leilão foi repetido cinco vezes, sendo que apenas um deles, escolhido aleatoriamente, teve as transações efetivamente realizadas. Os mesmos procedimentos foram realizados para a avaliação do WTA, sendo que, neste caso, aos participantes foram entregues inicialmente barras inteiras de chocolate e a eles perguntado qual era o valor 28 mínimo que eles estavam dispostos a receber para abrir mão da barra inteira em troca de apenas um pedaço da mesma. No segundo experimento, cada participante recebeu inicialmente $15,00. Dois tipos de comida foram então mostrados aos participantes: o primeiro tipo, disponibilizado como free-lunch, provinha de fontes não seguras e tinha a chance de estar contaminado com um tipo específico de doença (foram mencionadas cinco doenças diferentes); o segundo tipo tinha sido testado e as chances de estar contaminado eram muito baixas (uma em cem milhões). Em seguida, utilizando as mesmas regras do primeiro experimento, iniciou-se o leilão com os participantes fazendo lances de acordo com o preço máximo que estavam dispostos a pagar para trocar o tipo 1 pelo tipo 2. Cada leilão teve vinte rodadas, sendo que na décima, eram fornecidas novas informações sobre as doenças. Nos mercados de bens facilmente substituíveis (barras de chocolate), o WTA e o WTP convergiram para valores estatisticamente semelhantes, enquanto que nos mercados de bens de difícil substituição, as diferenças entre o WTA e o WTP permaneceram mesmo após numerosas repetições e esclarecimentos sobre o bem em questão. Colocando-se claramente em posição contrária aos resultados apresentados por Kahneman e outros (1990), Shogren e outros (1994) afirmou que os seus experimentos reforçaram a proposição de Hanemann (1991) de que a magnitude da diferença entre o WTA e o WTP estaria diretamente relacionada ao grau de possível substituição do bem. Em resposta ao trabalho de Shogren e outros (1994), Kahneman e outros (1995, apud BORGES & KNETSCH, 1998, P.186) afirmou que o estudo realizado não era conclusivo posto que o design de leilão utilizado não revelava acuradamente as avaliações feitas pelos participantes. 29 Em 1996, Franciosi e outros (1996) testou os resultados encontrados por Kahneman e outros (1990), aplicando experimentos similares aos conduzidos em 1990. Para Franciosi e outros (1996), o uso de palavras como “vendedores”, “compradores” e “preço” nos experimentos 6 e 7 de Kahneman e outros (1990) pode ter influenciado os resultados, uma vez que tais palavras possuem conotações estratégicas, onde os compradores são motivados a comprar mais barato e os vendedores motivados a vender mais caro. Seguindo esta filosofia, Franciosi e outros (1996) refez o experimento trocando todas as palavras que conotavam compra e venda por outras que conotavam troca: os três grupos foram chamados de grupo 1, grupo 2 e grupo 3 ao invés de vendedores, compradores e choosers; “vender” e “comprar” foram substituídas por “trocar”; e a palavra “preço” deu lugar à expressão “quantia de dinheiro”. Não obstante as alterações realizadas, os resultados obtidos por Franciosi e outros (1996) corroboraram os obtidos por Kahneman e outros (1990). Para Franciosi e outros (1996, p.225), “(...) o uso em Kahneman [Kahneman et al.,1990] de descrições de instruções diferentes – compradores, vendedores e choosers – parece exagerar o WTA dos vendedores, porém a sua hipótese de endowment effect é suportada pelos nossos dados.” (tradução nossa). Franciosi e outros (1996) também redesenhou os experimentos 1 a 4 de Kahneman e outros (1990). Para ele, quando os participantes informavam os preços pelos quais estariam dispostos a comprar ou a vender, estavam, na verdade, participando de um leilão e, portanto, eram influenciados pelos procedimentos a ocultar os seus valores verdadeiros. Na tentativa de minimizar este comportamento, Franciosi e outros (1996) utilizou técnicas de leilão (uniform price double auction mechanism) na condução dos mercados experimentais de canecas. Mais uma vez, os resultados obtidos por Franciosi e outros (1996) apontaram para a mesma direção dos encontrados em Kahneman e outros (1990). Na opinião de Franciosi e outros (1996) os procedimentos por ele utilizados 30 estreitaram as discrepâncias entre o WTA e o WTP reportadas por Kahneman e outros (1990) mas não as eliminaram, forçando-o a concordar com o argumento de endowment effect. Comparando os seus resultados com os relatados por Shogren e outros (1994), Franciosi e outros (1996) argumentou que os últimos não eram inconsistentes pois as conclusões de Shogren e outros (1994) haviam sido baseadas nas diferenças entre o WTA e o WTP, enquanto que as suas haviam avaliado o volume de transações. Franciosi e outros (1996) reforçou que as diferenças médias entre o WTA e o WTP podem ser estatisticamente semelhantes e, ainda assim, haver variações no volume de transações. Concomitante ao estudo de Franciosi e outros (1996), Dijk e Knippenberg (1996) encontraram resultados que sugerem o endowment effect não só em mercados de bens de consumo, mas também em mercados com bens de troca. Os dados obtidos por Dijk e Knippenberg (1996) foram particularmente importantes pois questionaram os conceito de Kahneman (1992) de que não deve haver aversão a perda – e consequentemente endowment effect – em bens utilizados para troca, como por exemplo (1) dinheiro guardado para se gastar, (2) bens destinados à venda e (3) bens que somente têm valor porque podem ser trocados (ex.: tokens). Dijk e Knippenberg (1996) montaram dois experimentos com mercados de valores induzidos, semelhantes aos mercados de tokens aplicados por Kahneman e outros (1990) sendo que, ao invés de tokens foram usadas bargaining chips (fichas de barganha). No primeiro experimento, metade dos participantes recebeu uma ficha cujo valor de resgate era fixo (US$ 1,93). Em seguida, os compradores(vendedores) indicaram em uma tabela os preços pelos quais aceitariam comprar(vender) as fichas. No segundo experimento, o procedimento foi o mesmo, só que o valor de resgate da ficha era incerto, podendo variar entre US$ 0,96 e US$ 2,89. 31 Corroborando os resultados de Kahneman e outros (1990), nenhum endowment effect foi identificado no experimento cujo valor de resgate das fichas foi fixo. Entretanto, no experimento onde o valor de resgate foi incerto, a média dos preços de venda (US$ 2,15) excedeu a média dos preços de compra (US$ 1,58), sugerindo que bens de troca, assim como bens de consumo, estão sujeitos ao endowment effect quando as taxas de troca são incertas. Ao final do trabalho, Dijk e Knippenberg (1996) chamaram a atenção para os desdobramentos de suas conclusões em mercados de bens de consumo. Sendo o endowment effect decorrente de uma percebida aversão à perda, ele pode não se manifestar em mercados de bens de consumo caso não haja percepção de perda na transação. Por exemplo, se alguém lhe oferecer duas barras de chocolate pela sua única barra de chocolate, você certamente não terá sentimento de perda ao ceder a sua mercadoria, mas sim irá computar o valor líquido ganho nesta transação e, neste caso, o endowment effect não se manifestará. Como decorrência, os pesquisadores não devem avaliar somente a mercadoria que está sendo negociada mas também o que está sendo oferecido em troca pois quanto maior o número de características que os bens transacionados tiverem em comum, menor deverá ser o endowment effect. Seguindo o mesmo raciocínio apresentado por Dijk e Knippenberg (1996), Morrison (1997a) afirmou que os resultados obtidos por Shogren e outros (1994) não eram conclusivos uma vez que os dois efeitos (substituição e endowment effect) poderiam estar ocorrendo simultaneamente. Mais tarde, em uma extensão do trabalho publicado anteriormente, Morrison conduziu um experimento onde tentou minimizar a interação dos dois efeitos (endowment effect e efeito substituição) através de compensação do WTP (MORRISON, 1997B). Mais uma vez, a presença do endowment effect não pôde ser rejeitada. 32 Em 1997, Bateman e outros (1997) retornou à discussão iniciada por Dubourg e outros (1994) sugerindo que a parte da disparidade entre o WTA e o WTP devida à imprecisão na preferências dos respondentes poderia ser menor para bens que são consumidos regularmente, uma vez que os indivíduos estariam mais certos de suas próprias preferências. Em 1998, Morrison (1998) apresentou um estudo onde procurou avaliar simultaneamente as diferentes razões apontadas até então para as diferenças entre o WTA e o WTP: (1) o efeito aprendizado; (2) o efeito substituição; (3) a imprecisão das preferências dos respondentes e (4) o endowment effect. Morrison (1998) afirmou que mesmo (1) permitindo aos respondentes aprender com a repetição dos experimentos, (2) controlando ao máximo o efeito substituição e (3) deixando que cada pessoa informasse intervalos de valores ao invés de um número preciso, as diferenças entre o WTA e o WTP permaneceram (WTA>WTP), reforçando que o endowment effect é uma explicação importante para a disparidade entre o WTA e o WTP. Paralelamente ao estudo de Morrison (1998), Dijk e Knippenberg (1998) apresentaram um novo trabalho que procurou associar os conceitos de endowment effect e efeito substituição. Para Dijk e Knippenberg (1998), nos mercados de trocas de bens do tipo canecas por canetas ou canecas por barras de chocolate, as pessoas tiveram muita dificuldade em comparar as perdas associadas à entrega de um bem com os ganhos provenientes do recebimento do outro bem. Esta dificuldade não permitiu que os participantes calculassem o resultado “líquido” das trocas através da integração das perdas associadas à desistência de um determinado bem com os ganhos provenientes do recebimento do outro bem, o que acabou gerando um sentimento de perda que resultou no endowment effect. Com o objetivo de avaliar se as trocas entre bens mais comparáveis apresentam um endowment effect menor, Dijk e Knippenberg (1998) criaram 33 um experimento onde no primeiro grupo, metade dos participantes recebeu uma garrafa de vinho espanhol e a outra metade recebeu uma garrafa de vinho búlgaro e, ao final da sessão, perguntou-se aos participantes se eles desejariam trocar a garrafa que eles haviam recebido pela garrafa de vinho do outro país (68% preferiram permanecer com a garrafa inicialmente recebida, independente dela ser de vinho espanhol ou búlgaro). No segundo grupo, metade dos participantes recebeu uma garrafa de vinho de um dos dois países e a outra metade recebeu uma garrafa com outro vinho do mesmo país e, antes de terminar a sessão, os participantes foram perguntados se gostariam de trocar de garrafas (51% preferiram não trocar, independente do vinho que haviam recebido). Os resultados encontrados sugeriram que não foi o vinho que o participante possuía (espanhol ou búlgaro) que determinou o endowment effect, mas sim o tipo de troca que ele teve que realizar. Quando a troca foi feita entre vinhos de diferentes países (portanto bens com maior dificuldade de comparação) o endowment effect foi maior. Quando a troca se deu entre dois vinhos do mesmo país (bens com maior facilidade de comparação por possuir um maior número de características em comum), o endowment effect foi menor. Com base nesses dados, Dijk e Knippenberg (1998) sugeriram que as pessoas são mais avessas ao risco – e portanto apresentam maior endowment effect quanto mais difícil for a comparação entre os ganhos e as perdas envolvidas em uma troca e, estendendo o conceito, quanto menos comparáveis forem os bens envolvidos. Da mesma forma que Dijk e Knippenberg (1998) em seus estudos com mercados de trocas de vinho, Harbaugh e outros (2001) avaliou o impacto da experiência no endowment effect de um forma até então inexplorada. De um modo geral, a literatura não concorda sobre os efeitos da experiência no endowment effect. Enquanto para Knez e outros (1985), Coursey e outros (1987), Brookshire e Coursey (1987) e Shogren e outros (1994) a experiência 34 reduz o endowment effect, para Kahneman e outros (1990) esta afirmação não é verdadeira. Todavia, as pesquisa realizadas anteriormente procuraram avaliar como o aprendizado de regras e mecanismos dos procedimentos se relacionava com a intensidade do endowment effect. Harbaugh e outros (2001) foi o primeiro a estudar como a experiência obtida no mundo real, com o passar dos anos, influenciava o endowment effect. Harbaugh e outros (2001) estudou grupos de crianças (de 5 a 10 anos de idade) e de adultos (idade média de 20 anos) em diferentes mercados de trocas de bens. A exemplo de procedimentos realizados em outros estudos, foram fornecidos para cada grupo de participantes alguns objetos e, posteriormente, os participantes podiam trocar os objetos inicialmente recebidos por outros. Apesar dos adultos serem quase quatro vezes mais velhos do que as crianças e serem muito mais familiarizados com compras e trocas, Harbaugh e outros (2001) observou a existência do endowment effect tanto no grupo de crianças quanto no grupo de adultos. Em nenhum dos resultados obtidos foi encontrada qualquer evidência de que o endowment effect diminuía com a idade ou com a experiência obtida em situações cotidianas. 35 3 HIPÓTESE DE PESQU ISA E METODOLOGIA 3.1 Hipótese de Pesquisa O endowment effect ocorre em situações de compra e venda de bens de consumo e se expressa quando uma pessoa, ao ter a posse de um bem, avalia este por um valor mais alto do que o faria caso não fosse a proprietária deste mesmo bem. Como conseqüência direta temos que o preço que os vendedores estão dispostos a receber para vender um determinado bem (WTA) – do inglês Willingness To Accept – tende a ser maior do que o preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP) – do inglês Willingness To Pay, gerando um volume real de transações menor do que o esperado pela teoria econômica clássica que prevê que em mercados em concorrência perfeita onde o efeito lucro e os custos de transação são mínimos, as diferenças entre o WTA e o WTP não são significantes. A literatura, de um modo geral, não apresenta uma opinião consensual sobre as causas para as aparentes diferenças encontradas em estudos experimentais entre o WTA e o WTP porém , inúmeros estudos apontam como responsável por essa discrepância o endowment effect. Aqui no Brasil, não foi encontrada nenhuma investigação neste sentido e o presente trabalho, baseado em experimentos realizados anteriormente em outros países, avalia a presença do endowment effect em um ambiente de pesquisa brasileiro testando o descolamento dos valores do WTA e do WTP em mercados experimentais de bens de consumo. 36 Considerando um mercado com concorrência perfeita, onde o efeito lucro é mínimo e não há custos de transação, as hipóteses de pesquisa em suas formas nula e alternativa são: H0 – O preço que os vendedores estão dispostos a aceitar para vender um determinado bem (WTA) é igual ao preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP); H1 – O preço que os vendedores estão dispostos a aceitar para vender um determinado bem (WTA) é maior do que o preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP); Além da hipótese de pesquisa, o presente estudo investiga a separação do endowment effect em dois componentes: (1) a relutância em vender (trocar o bem por dinheiro) e (2) a relutância em comprar (trocar dinheiro pelo bem). Com esse objetivo, foram levantados os valores dados ao bem de consumo por um terceiro grupo, chamado de observadores, onde os participantes podiam escolher, para diversos valores, entre receber o bem ou receber o valor em dinheiro. A utilização do grupo de observadores permite a avaliação das relutâncias em comprar e em vender uma vez que o participante ao optar pelo bem em detrimento ao dinheiro ele está de fato efetuando um transação de compra pois está abrindo mão de uma determinada quantia para ficar com o bem. No entanto, ele não “percebe” a transação desta forma pois para ele não há a entrega do dinheiro e, consequentemente, não há relutância em comprar. De forma análoga, quando o participante opta pelo dinheiro em oposição ao bem, ele está de fato realizando uma operação de venda pois deixa de ficar com o bem para receber o dinheiro. Todavia, não existe a percepção de “entregar o bem”, o que elimina a relutância em vender. 37 Além das questões relativas à relutância de comprar e de vender, a utilização do grupo de observadores elimina qualquer forma de efeito lucro como explicação para as diferenças de avaliação dos compradores vendedores uma vez que a posição dos observadores e dos vendedores em relação a possíveis lucros é exatamente a mesma. Por fim, a alocação do bem a cada vendedor evidentemente induz um sentimento de propriedade que os observadores não compartilham. 3.2 Tipo de Pesquisa Com o objetivo de avaliar a presença do endowment effect em um ambiente de pesquisa brasileiro através da mensuração das diferenças entre os valores do WTA e do WTP em mercados de bens de consumo, esta dissertação se utiliza de um experimento onde são simuladas situações de compra e de venda de bens. A metodologia pode ser classificada, segundo a taxionomia apresentada por Vergara (1997), quanto aos seus fins e quantos aos seus meios. Quanto aos fins, ela é tida como pesquisa descritiva, considerados os objetivos a que se propõe e o definido por Vergara (1997, p.45), para quem “A pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza”. Quanto aos meios, se caracteriza como pesquisa experimental que é, segundo Vergara (1997, p.45), “(...) uma investigação empírica na qual o pesquisador manipula e controla variáveis independentes e observa as variações que tal manipulação e controle produzem em variáveis dependentes”. Dentro desta visão, as variáveis independentes manipuladas pelo pesquisador são os papéis assumidos pelos participantes (compradores, vendedores e observadores) e as 38 variáveis dependentes são os valores dados ao bem de consumo por cada um desses três grupos (compradores, vendedores e observadores). 3.3 Universo e Amostra O universo pretendido por esta pesquisa foi composto por estudantes universitários da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. A amostra utilizada para a realização do experimento foi não probabilística, definida, conforme Vergara (1997), por acessibilidade. Participaram do estudo 98 estudantes (média de idade de 22 anos, sendo 39% homens e 61% mulheres) distribuídos da seguinte forma: ! 35 alunos do curso de Economia Industrial da Faculdade de Economia/UFRJ; ! 47 alunos do curso de Economia da Faculdade de Farmácia/UFRJ; ! 16 alunos do curso de Marketing Industrial da Faculdade de Economia/UFRJ; 3.4 Desenho do Experime nto O experimento foi desenhado de forma similar aos modelos utilizados por Kahneman e outros (1990), sendo escolhidos os procedimentos que mais se adaptavam ao comportamento do brasileiro e à disponibilidade financeira para a execução desta pesquisa. 39 O experimento consistiu de três simulações: 1. a simulação de um mercado de compra de bens de consumo, onde os participantes podiam comprar o bem; 2. a simulação de um mercado de venda de bens de consumo, onde os participantes podiam vender o bem; 3. e a simulação de um mercado onde os participantes podiam escolher entre receber o bem ou um valor equivalente em dinheiro. Para todas as simulações o bem de consumo utilizado foi uma lapiseira comum (modelo BIG CIS preta) cujo valor de venda em papelarias era de R$ 2,50. Este bem de consumo, embora diferente das canecas utilizadas por Kahneman et al., 1990, apresentou resultados consistentes nos pré testes mostrando boa aceitabilidade e facilidade de avaliação de preço entre os estudantes brasileiros. O seu baixo custo de aquisição no atacado (R$ 1,00 / unidade), bem inferior aos US$ 6,00 das canecas americanas, tornou o experimento viável economicamente. Mercado de Compra A mercado de compra teve por objetivo quantificar o preço que os compradores estavam dispostos a pagar para adquirir a lapiseira (WTP) e deveria simular um mercado com concorrência perfeita, onde o efeito lucro fosse mínimo, onde estratégias de compra e de venda não tivessem efeito e onde não houvesse custos de transação. O mercado tinha início com a distribuição das seguintes instruções a todos os participantes: Esta é uma pesquisa relacionada ao comportamento do consumidor. Não existem respostas certas ou erradas. Siga as 40 instruções abaixo e responda as questões como se estivesse em uma situação real. Você terá a oportunidade de comprar uma, e somente uma, das lapiseiras apresentadas pelo pesquisador. O preço da lapiseira será sorteado pelo pesquisador, dentre os preços da tabela abaixo. Indique, para cada um desses preços se, por tal preço, você prefere comprar a lapiseira (marcando um “X” na primeira coluna) ou prefere não comprar a lapiseira (marcando um “X” na segunda coluna). Após o sorteio do preço, escolheremos aleatoriamente 5 participantes. Caso você esteja entre os 5 e para o preço sorteado tenha optado por comprar uma das lapiseiras, você terá que honrar a sua escolha e efetivamente comprar a lapiseira; caso contrário, simplesmente não haverá transação. Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50 R$ 2,00 R$ 2,50 R$ 3,00 R$ 3,50 R$ 4,00 R$ 4,50 R$ 5,00 R$ 5,50 R$ 6,00 R$ 6,50 R$ 7,00 R$ 7,50 R$ 8,00 R$ 8,50 R$ 9,00 R$ 9,50 R$ 10,00 Por este preço eu prefiro comprar a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Por este preço eu prefiro NÃO comprar a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ 41 Após todos terem recebido as instruções, algumas lapiseiras (na proporção de uma lapiseira para cada três participantes) eram distribuídas. Era solicitado aos participantes que após a avaliação das lapiseiras passassem as mesmas ao colega mais próximo para que este também pudesse avaliá-las. Terminada a avaliação, os participantes preenchiam a tabela de preços com as suas preferências, lembrando que, caso tivessem o formulário escolhido e para o preço sorteado houvessem optado por comprar o bem, o pesquisador iria efetivamente realizar a transação e o participante teria que realizar o pagamento com recursos próprios. Após o preenchimento das tabelas, o pesquisador recolhia todos os formulários e efetuava o sorteio do preço de compra. O sorteio do preço de compra fazia com que os participantes não fossem atraídos a utilizar estratégias de barganha, uma vez que estas não teriam nenhum impacto no valor final de compra. Definido o preço de compra, o pesquisador escolhia aleatoriamente um determinado número de formulários e, para aqueles selecionados, comprava a lapiseira dos participantes que haviam escolhido vender o bem pelo preço de compra sorteado. A leitura das tabelas para a tabulação dos resultados do experimento foi feita considerando que o preço que cada participante estava disposto a pagar pelo bem (WTP) era igual ao maior preço pelo qual ele havia optado por comprar o bem. Assim, caso o participante tenha optado por comprar o bem para os preços de R$ 0,50 e R$ 1,00 e a partir do preço de R$ 1,50 ele tenha optado por não comprar a lapiseira, o WTP daquele participante era igual a R$ 1,00. 42 Mercado de Venda A mercado de venda teve por objetivo quantificar o preço que os vendedores estavam dispostos a aceitar para vender a lapiseira (WTA) e deveria simular um mercado com concorrência perfeita, onde o efeito lucro fosse mínimo, onde estratégias de compra e de venda não tivessem efeito e onde não houvesse custos de transação. O mercado tinha início com a distribuição das seguintes instruções a todos os participantes: Esta é uma pesquisa relacionada ao comportamento do consumidor. Não existem respostas certas ou erradas. Siga as instruções abaixo e responda as questões como se estivesse em uma situação real. A lapiseira que você acaba de receber é sua e você NÃO terá que devolvê-la após o término do experimento. Você pode, entretanto, vender esta lapiseira por um determinado preço – preço este que será sorteado pelo pesquisador dentre os preços da tabela abaixo. Indique, para cada um dos possíveis preços a serem sorteados, se, por tal preço, você prefere vender a lapiseira e receber o dinheiro (marcando um “X” na primeira coluna) ou prefere não vender a lapiseira e ficar com ela (marcando um “X” na segunda coluna). Após o sorteio do preço, escolheremos aleatoriamente 5 participantes. Caso você esteja entre os 5 e para o preço sorteado tenha optado por vender a lapiseira, iremos comprá-la de você; caso contrário, você permanecerá com a mesma. participantes permanecerão com suas lapiseiras. Os demais 43 Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50 R$ 2,00 R$ 2,50 R$ 3,00 R$ 3,50 R$ 4,00 R$ 4,50 R$ 5,00 R$ 5,50 R$ 6,00 R$ 6,50 R$ 7,00 R$ 7,50 R$ 8,00 R$ 8,50 R$ 9,00 R$ 9,50 R$ 10,00 Por este preço eu prefiro vender a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Por este preço eu prefiro NÃO vender a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Os bens de consumo eram distribuídos junto com as instruções, sendo dada uma lapiseira para cada participante. O pesquisador então ressaltava que a partir daquele momento as lapiseiras eram dos participantes e que estes não precisariam devolvê-las ao final do experimento mas que, caso eles quisessem, poderiam vendê-las de volta para os pesquisadores. Era então solicitado aos participantes que preenchessem a tabela de preços com as suas preferências, lembrando que, caso tivessem o formulário escolhido e para o preço sorteado houvessem optado por vender o bem, o pesquisador iria efetivamente realizar a transação e o participante receberia o dinheiro, mas teria que devolver a lapiseira. Em seguida ao preenchimento das tabelas, o pesquisador recolhia todos os formulários e efetuava o sorteio do preço de venda. Este sorteio fazia com que os participantes não fossem atraídos a utilizar estratégias de barganha, uma vez que estas não teriam nenhum impacto no valor final de venda. 44 Definido o preço de venda, o pesquisador escolhia aleatoriamente um determinado número de formulários e, para aqueles selecionados, comprava a lapiseira dos participantes que haviam escolhido vender o bem pelo preço de venda sorteado. A leitura das tabelas para a tabulação dos resultados do experimento foi feita considerando que o preço que cada participante estava disposto a receber para aceitar vender o bem (WTA) era igual ao menor preço pelo qual ele havia optado por vender o bem. Assim, caso o participante tenha optado por não vender o bem para os preços inferiores ou iguais a R$ 3,00 e a partir do preço de R$ 3,50 ele tenha optado por vender a lapiseira, o WTA daquele participante era igual a R$ 3,50. Grupo de Observadores A Argumentação do endowment effect , baseada na Teoria dos Prospectos, afirma que a diferença entre o WTA e o WTP ocorre porque em situações de compra a pessoa percebe a transação como um ganho (recebimento do bem) enquanto que em situações de venda as pessoas avaliam a transação como uma perda (a entrega do bem). A comparação entre opções de compra, opções de venda e opções de escolha permite uma separação do endowment effect em dois componentes: (1) a relutância em vender (trocar o bem por dinheiro) e (2) a relutância em comprar (trocar dinheiro pelo bem). Uma vez que já haviam sido definidos mercados de compra e de venda, precisávamos simular uma situação de escolha para poder quantificar a relutância em comprar e a relutância em vender. O mercado de escolha tinha início com a distribuição das seguintes instruções a todos os participantes: Esta é uma pesquisa relacionada ao comportamento do consumidor. Não existem respostas certas ou erradas. Siga as 45 instruções abaixo e responda as questões como se estivesse em uma situação real. Você terá a oportunidade de escolher entre receber uma das lapiseiras apresentadas pelo pesquisador ou receber um determinado valor em dinheiro – valor este que será sorteado dentre os valores da tabela abaixo. Indique, para cada um desses valores se, por tal valor, você prefere receber uma das lapiseiras (marcando um “X” na primeira coluna) ou receber em dinheiro o valor sorteado (marcando um “X” na segunda coluna). Após o sorteio do valor, escolheremos aleatoriamente 5 participantes. Caso você seja esteja entre os 5 e para o valor sorteado tenha optado por receber uma das lapiseiras, você receberá uma; caso você tenha optado por receber o dinheiro, você receberá em dinheiro o valor sorteado. Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50 R$ 2,00 R$ 2,50 R$ 3,00 R$ 3,50 R$ 4,00 R$ 4,50 R$ 5,00 R$ 5,50 R$ 6,00 R$ 6,50 R$ 7,00 R$ 7,50 R$ 8,00 R$ 8,50 R$ 9,00 R$ 9,50 R$ 10,00 Por este valor eu prefiro receber uma das lapiseiras ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Por este valor eu prefiro receber o dinheiro ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ 46 Após todos terem recebido as instruções, algumas lapiseiras (na proporção de uma lapiseira para cada três participantes) eram distribuídas. Era solicitado aos participantes que após a avaliação das lapiseiras passassem as mesmas ao colega mais próximo para que este também pudesse avaliá-las. Terminada a avaliação, os participantes preenchiam a tabela de valores com as suas preferências. Em seguida ao preenchimento das tabelas, o pesquisador recolhia todos os formulários e efetuava o sorteio do preço de escolha. Definido o preço de escolha, o pesquisador selecionava aleatoriamente um determinado número de formulários e, para aqueles selecionados, realizava a entrega do bem ou do dinheiro ao participante conforme as preferências indicadas por ele participante na tabela. A leitura das tabelas para a tabulação dos resultados do experimento foi feita considerando que o valor atribuído ao bem por cada participante era igual à média entre o mais alto valor pelo qual o participante havia optado pela lapiseira e o menor valor pelo qual ele havia escolhido receber o dinheiro. Assim, caso o participante tenha optado pelo bem para os preços inferiores ou iguais a R$ 3,00 e a partir do preço de R$ 3,50 ele tenha escolhido receber o dinheiro, o valor atribuído ao bem por aquele participante era igual a R$ 3,25 ((R$ 3,00 + R$ 3,50) / 2). Resumo: O experimento foi desenhado de modo a permitir que fossem analisadas as relações entre as variáveis dependentes e independentes em conformidade com as hipóteses de pesquisas levantadas anteriormente. Dentre as principais características do design do experimento, podemos citar: ! as tabelas usadas nos três grupos (compradores, vendedores e observadores) apresentavam os mesmos valores de modo a se evitar 47 possíveis viéses decorrentes de diferenças nas escalas e nos valores apresentados; ! o sorteio dos preços de transação não estimulava os participantes a realizar qualquer possível estratégia de manipulação de preços; ! a redução do número de transações efetivamente realizadas (através da escolha aleatória de alguns formulários) foi fundamental para a aplicação do experimento dentro das condições disponíveis de tempo e para a redução dos custos envolvidos na pesquisa sem comprometer a veracidade das informações prestadas pelos participantes; 3.5 Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada nos dias 20 e 24 de junho de 2002, nas sedes da UFRJ da Praia Vermelha e do Fundão, envolvendo 98 estudantes de três diferentes disciplinas das Faculdades de Economia e de Farmácia. A coleta total foi dividida em quatro etapas, conforme o detalhamento apresentado a seguir: 1ª Etapa Nesta etapa foi aplicada a simulação do mercado de compra das lapiseiras. Participaram ao todo 35 pessoas e o experimento foi conduzido simultaneamente com todos os participantes. Três formulários tiveram que ser retirados da amostra pois o preenchimento dos mesmos não permitiu a tabulação das respostas (os respectivos participantes não quiseram comprar a lapiseira por nenhum dos preços indicados na tabela). O preço de compra sorteado foi R$ 8,00 e nenhum dos cinco formulários escolhidos aleatoriamente indicava a opção de comprar a este preço e, portanto, nenhuma transação foi realizada. 48 Resumo da Primeira Etapa Data: 20/06/2002 Horário: 10h Duração: 15 min Local: UFRJ – Praia Vermelha Disciplina: Economia Industrial Faculdade: Economia Universidade: UFRJ Nº de Alunos: 35 2ª Etapa Nesta etapa foi aplicada a simulação do mercado de venda das lapiseiras. Participaram ao todo 32 pessoas e o experimento foi conduzido simultaneamente com todos os participantes. Um formulário teve que ser retirado da amostra pois o preenchimento do mesmo não permitiu a tabulação das respostas (o participante não quis vender a lapiseira por nenhum dos preços indicados na tabela). O preço de venda sorteado foi R$ 6,50 e três dos cinco formulários escolhidos aleatoriamente indicavam a opção de vender a este preço tendo sido, portanto, realizadas três transações. Resumo da Segunda Etapa Data: 20/06/2002 Horário: 16h Duração: 15 min Local: UFRJ – Fundão Disciplina: Economia Faculdade: Farmácia Universidade: UFRJ Nº de Alunos: 32 49 3ª Etapa Nesta etapa foi aplicada a simulação do grupo de observadores. Participaram ao todo 15 pessoas e o experimento foi conduzido simultaneamente com todos os participantes. Um formulário teve que ser retirado da amostra pois o preenchimento do mesmo não permitiu a tabulação das respostas (o participante não optou por receber a lapiseira por nenhum dos preços indicados na tabela). O valor sorteado foi R$ 3,50 e quatro dos cinco formulários escolhidos aleatoriamente indicavam a opção de, por este valor, receber a lapiseira enquanto apenas um dos formulários apresentava a opção de receber o dinheiro. Resumo da Terceira Etapa Data: 20/06/2002 Horário: 16h15m Duração: 15 min Local: UFRJ – Fundão Disciplina: Economia Faculdade: Farmácia Universidade: UFRJ Nº de Alunos: 15 4ª Etapa Nesta etapa foi aplicada a simulação do grupo de observadores. Participaram ao todo 16 pessoas e o experimento foi conduzido simultaneamente com todos os participantes. Nenhum formulário teve que ser retirado da amostra. O valor sorteado foi R$ 2,00 e quatro dos cinco formulários escolhidos aleatoriamente indicavam a opção de, por este valor, receber a lapiseira enquanto apenas um dos formulários apresentava a opção de receber o dinheiro. 50 Resumo da Quarta Etapa Data: 24/06/2002 Horário: 11h Duração: 15 min Local: UFRJ – Fundão Disciplina: Marketing Faculdade: Economia Universidade: UFRJ Nº de Alunos: 16 3.6 Tratamento dos Dado s Os dados coletados através do experimento descrito anteriormente foram tratados quantitativamente através de procedimentos paramétricos que avaliaram as diferenças entre as médias aritméticas dos valores dados à lapiseira pelos compradores, pelos vendedores e pelos observadores. Para testar a hipótese de pesquisa em sua forma nula, foram comparadas as médias dos valores dados à lapiseira pelos compradores e pelos vendedores. Foi realizado inicialmente um Teste F para Diferenças entre Duas Variâncias para testar o pressuposto de variâncias equivalentes e, em seguida, aplicado o Teste t de Variância Unicaudal apropriado: o de variância combinada para amostras com variâncias equivalentes e o de variância separada para amostras com variâncias distintas. Embora o grupo de observados tenha sido incluído no experimento somente para mensurar a relutância a comprar e a vender, foram adotados os mesmos 51 procedimentos estatísticos para avaliar as diferenças entre a média aritmética dos valores encontrados e as médias dos valores obtidos junto aos compradores e vendedores. Como ponto de corte, foi adotado o nível de significância de 5% para todos os testes estatísticos. 3.7 Limitações do Método O método de pesquisa utilizado implica em alguma limitações na análise dos resultados obtidos. A primeira limitação se deve ao fato de que amostras selecionadas por acessibilidade podem conter viéses escondidos e a sua utilização restringe possíveis generalizações dos resultados obtidos. Outra limitação ocorre em função da utilização de experimentos onde são simuladas situações de compra e venda de bens. Em simulações, os participantes não se encontram em situações reais onde as decisões impactam efetivamente em sua vidas e, portanto, a veracidade dos resultados depende do quão sinceros são os participantes em suas respostas. Assim, o método experimental, embora amplamente utilizado por pesquisadores, recebe críticas quanto a generalização dos seus resultados. No que tange à comparação dos resultados obtidos neste estudo com os alcançados em experimentos anteriores, é importante ressaltar que devido à impossibilidade de se repetir todas as variáveis envolvidas (como por exemplo os experimentadores, o ambiente, etc.), possíveis relações entre resultados devem ser feitas com restrições. 52 3.8 Pré testes Para se chegar ao desenho final do experimento foram realizados quatro pré testes com o objetivo de: 1. Avaliar a clareza das instruções; ! os participantes deveriam entender as instruções recebidas sem a necessidade de qualquer explicação por parte dos pesquisadores. 2. Definir o bem de consumo a ser utilizado; ! o bem deveria ter um custo compatível com os recursos disponíveis para o experimento; ! o bem deveria ser atrativo para os participantes; ! o bem deveria ser um objeto presente no dia a dia das pessoas para que estas pudessem realizar avaliações consistentes de valor do bem. 3. Ajustar a tabela de preços ao valor do bem e aos hábitos do brasileiro; ! os preços mínimo e máximo da tabela deveriam abranger valores que evitassem que os vendedores não desejassem vender por nenhum dos preços ou que os compradores quisessem comprar por todos os preços, mas não poderiam ter valores muito distantes para não gerar confusão entre participantes pelo excesso de informação e comprometer a execução do experimento; ! o intervalo entre os preços deveria ser pequeno o suficiente para mensurar com precisão os valores dados pelos participantes, mas não poderia ser tão pequeno a ponto das pessoas não perceberem diferenças entre um preço e outro. 53 4. Ajustar os procedimentos operacionais para a execução do experimento; ! uma vez que a amostra consistia de estudantes e que o experimento seria realizado durante o horário das aulas, o tempo de execução do experimento não poderia superar 15 minutos; ! como o experimento poderia vir a ser aplicado em turmas com mais de 30 alunos, os procedimentos precisavam ser simples e rápidos para evitar dispersão e descontrole; 1º Pré Teste O principal objetivo do primeiro pré teste foi fazer uma avaliação da compreensão das instruções formuladas a partir dos relatos encontrados em Kahneman et al., 1990. As principais características deste pré teste foram: ! foram avaliadas somente as instruções dos compradores e dos vendedores; ! a avaliação das instruções dos observadores deveria ser feita nos pré testes posteriores; ! participaram deste pré teste 8 pessoas; ! o bem de consumo utilizado foi uma caneta esferográfica comprada em uma papelaria por R$ 2,50; ! a tabela de preços presente nas instruções apresentava valores de R$0,25 a R$3,50, em intervalos de R$0,25. A aplicação do teste explicitou alguns problemas, tais como: ! as instruções não ficaram claras para os participantes que tiveram dúvidas de como proceder no experimento, tendo o pesquisador que intervir para fornecer novas explicações; 54 ! houve dúvida quanto ao modo correto de se preencher a tabela de preços; ! um dos participantes quis comprar mais de uma caneta, o que não era permitido no experimento mas não estava claro nas instruções; ! um dos participantes não quis vender a caneta por nenhum dos valores apresentados na tabela; Após a aplicação do primeiro pré teste, as principais questões a serem resolvidas eram: ! eram necessários diversos ajustes nas instruções, deixando claro, entre outras coisas, que cada participante poderia comprar somente um bem; ! deveriam ser melhor estudados os preços da tabela de preços para a verificação do real motivo que levou um dos participantes a não querer vender a caneta por nenhum dos preços disponíveis: - o valor máximo da tabela poderia estar muito baixo para a avaliação daquele bem; - poderia ter sido apenas uma distorção pontual de avaliação por parte daquele participante específico; ! era preciso se definir logo o bem para que a tabela fosse ajustada corretamente e para que os resultados dos futuros pré testes pudessem ser comparados entre si. 2º Pré Teste O segundo pré teste teve como principais objetivos avaliar o impacto das alterações realizadas nas instruções dos compradores e dos vendedores, incluir o grupo dos observadores no experimento e observar a atratividade e os valores atribuídos ao bem pelos participantes. As principais características deste pré teste foram: 55 ! participação de 9 pessoas; ! o experimento foi conduzido simultaneamente para compradores, vendedores e observadores (3 pessoas por grupo); ! como bem de consumo foi utilizada uma lapiseira comum, comprada em uma papelaria por R$1,90; ! a tabela de preços não foi alterada, mantendo-se os preços mínimo (R$0,25) e máximo (R$3,50) e os intervalos de valores (R$0,25); Os principais resultados obtidos com este teste foram: ! a aplicação do experimento simultaneamente nos três grupos causou muita confusão entre os participantes; ! a efetivação das transações para todos os participantes demandou um tempo muito grande, inviabilizando a aplicação do experimento, na forma em que estava formatado, em grupos maiores; ! a efetivação de todas as transações, além de demandar muito tempo, demandava também muito recursos financeiros, principalmente no grupo dos vendedores – onde os pesquisadores se propunham a comprar de volta os bens – e no grupo de observadores onde os pesquisadores teriam que arcar com o dinheiro necessário para atender a escolha dos participantes; ! as instruções dadas aos observadores apresentavam erros significativos – troca do verbo “escolher” pelo verbo “comprar” –, causando muita confusão entre os participantes; ! a média dos valores dados ao bem pelos observadores ficou fora do intervalo esperado (abaixo do WTP) muito provavelmente em função dos erros contidos nas instruções; ! as médias dos valores do WTA (R$ 2,17) e do WTP (R$ 1,75) apresentaram pequenas diferenças. 56 Com base nos resultados obtidos, foram definidas as seguintes ações: ! as instruções dos observadores deveriam ser refeitas; ! o preço máximo da tabela deveria ser aumentado; ! o experimento deveria ser redesenhado para que não fosse necessário se realizar as transações para todos os participantes: - a solução encontrada foi realizar as transações apenas para um grupo de participantes selecionados aleatoriamente, reduzindo assim o tempo e o custo da pesquisa sem afetar o comprometimento dos participantes no preenchimento dos formulários. ! o experimento deveria ser aplicado separadamente para cada um grupos de compradores, vendedores e observadores; ! embora a lapiseira tenha apresentado uma boa atratividade e os participantes tenham dado preços de compra e de venda dentro do esperado, o modelo de lapiseira utilizado apresentou um apelo maior entre os participantes do sexo feminino. Definição do bem de consumo a ser utilizado Após o segundo pré teste, ficou clara a necessidade de definição do bem de consumo a ser utilizado. Uma vez que a amostra era composta de estudantes, acreditava-se que produtos de papelaria apresentariam boa atratividade, e possibilitariam uma maior facilidade para os participantes na definição do seu valor pela familiaridade que os estudantes tinham com os mesmos. Através de pesquisas em papelarias, foram selecionados quatro bens: 1. um estojo de plástico, cujo preço de venda na loja era de R$ 1,50; 2. um porta cartões de plástico, cujo preço na loja era de R$ 2,00; 3. um bloco de recados, cujo preço na loja era de R$ 3,00; 4. uma lapiseira (BIG CIS Preta), cujo preço na loja era de R$2,50. 57 Os bens foram então mostrados a diversos estudantes, na tentativa de avaliar a atratividade gerada por cada um deles. Os resultados indicaram que: ! o estojo era um bem muito simples e, em função do seu baixo valor, as potenciais diferenças entre o WTA e o WTP ficariam achatadas ou mesmo desapareceriam (diferenças de poucos centavos tendem a não ser percebidas, principalmente pelo brasileiro devido ao seu histórico recente de cenário inflacionário); ! O porta cartões, por sua vez, demonstrou ser muito pouco atrativo aos estudantes que não viam neste bem de consumo muita utilidade; ! O bloco de recados apresentou uma boa atratividade e um bom valor em termos de percepção e familiaridade junto a estudantes porém, em buscas posteriores a papelarias e lojas de atacado, mostrou ser de difícil aquisição em grandes quantidades, o que praticamente inviabilizou a sua utilização no experimento; ! a lapiseira apresentou uma excelente atratividade junto aos estudantes, um bom valor (nem muito baixo de forma a achatar a diferença entre o WTA e o WTP, nem muito alto a ponto de inviabilizar financeiramente o experimento) e, finalmente, mostrou ser de fácil aquisição em lojas de atacado. Com base nessas avaliações, ficou decidido que os próximos pré testes utilizariam a lapiseira BIG CIS preta. 3º Pré Teste O terceiro pré teste teve como objetivos principais definir os procedimentos operacionais do experimento e avaliar mais consistentemente, dentro do desenho do experimento, os valores dados ao bem pelos compradores, vendedores e observadores e teve como características: 58 ! participaram 15 pessoas; ! foi utilizado como bem a lapiseira; ! a tabelas de preços foi alterada para valores proporcionais aos utilizados por Kahneman et al. 1990, ficando o preço mínimo igual a R$ 0,50 e o máximo a R$ 4,50, com intervalos de R$ 0,25; Os resultados obtidos foram: ! não houve quaisquer dúvidas no preenchimento das tabelas ou na compreensão dos procedimentos operacionais do experimento; ! mesmo com a elevação do preço máximo da tabela, dois participantes não quiseram vender o bem por nenhum dos preços apresentados; ! a diferença entre as médias dos valores do WTA (R$ 3,81) e do WTP (R$ 2,40) e o valor dado pelos observadores (R$ 2,88) ficaram dentro do intervalo esperado. Em função dos resultados encontrados, foi confirmada a utilização da lapiseira no experimento. Não obstante a essa definição, a tabela de preços deveria ser modificada a fim de se evitar que alguns participantes se recusassem a vender o bem. 4º Pré Teste O principal objetivo deste teste foi avaliar a mudança feita nos valores da tabela de preços. Este teste apresentou as seguintes características: ! participação de 12 pessoas; 59 ! a tabela de preços foi expandida, passando a apresentar o valor mínimo de R$ 0,50 e o valor máximo de R$ 10,00, distribuídos em intervalos de R$ 0,50; Os resultados deste pré teste (WTA=R$4,00, WTP=R$2,38 e Observadores=R$2,88) ficaram dentro dos intervalos esperados. Não foram identificadas dúvidas por parte dos participantes quanto às instruções, mesmo não tendo o pesquisador fornecido nenhum explicação verbal. Não houve complicações com os valores mínimos e máximos da tabela, não havendo nenhum caso de participantes que não tenham optado por comprar ou por vender o bem por um dos preços apresentados. Os pré testes foram então encerrados, ficando decidido que o experimento estava pronto para a aplicação. 60 4 ANÁLISE DOS RESUL TADOS O endowment effect ocorre em situações de compra e venda de bens de consumo e se expressa quando o preço que os vendedores estão dispostos a receber para vender um determinado bem (WTA) é maior do que o preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP). Considerando um mercado com concorrência perfeita, onde o efeito lucro é mínimo e não há custos de transação, as hipóteses de pesquisa em suas formas nula e alternativa são: H0 – O preço que os vendedores estão dispostos a aceitar para vender um determinado bem (WTA) é igual ao preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP); H1 – O preço que os vendedores estão dispostos a aceitar para vender um determinado bem (WTA) é maior do que o preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP). Para testar a hipótese de pesquisa na sua forma nula, foram comparadas estatisticamente as médias dos preços atribuídos à lapiseira pelos compradores (WTP) e pelos vendedores (WTA). Para a definição do teste estatístico a ser utilizado para testar a hipótese de pesquisa foi necessário, primeiramente, testar o pressuposto de variâncias equivalentes entre as duas amostras (preços dados pelos compradores e preços dados pelos vendedores). Esta avaliação foi feita através da aplicação de um Teste F uni-caudal para Diferenças entre Duas Variâncias (alfa=5%) cuja hipótese nula é que variância dos valores dados pelos vendedores (WTA) é igual à variância dos valores dados pelos compradores (WTP). 61 Teste-F: duas amostras para variâncias Média Variância Observações gl F P(F<=f) uni-caudal F crítico uni-caudal vendedores compradores 5,5000 1,3594 4,3333 0,4715 31 32 30 31 9,1901 9,8807E-09 1,8283 Uma vez que o fator F encontrado foi maior do que o F crítico uni-caudal superior, a hipótese nula do teste de que as duas amostras apresentam variâncias semelhantes foi rejeitada. De modo alternativo, a hipótese nula do teste poderia ser rejeitada uma vez que o valor P encontrado para o teste de cauda superior foi menor do que 0,025. Partindo do pressuposto de que as amostras não apresentavam variâncias equivalentes, foi aplicado o “Teste t de Variância uni-caudal para Amostras com Variâncias Diferentes” (alfa=5%). Teste-t: duas amostras presumindo variâncias diferentes Média Variância Observações Hipótese da diferença de média gl Stat t P(T<=t) uni-caudal t crítico uni-caudal P(T<=t) bi-caudal t crítico bi-caudal vendedores compradores 5,5000 1,3594 4,3333 0,4715 31 32 0 36 10,5335 7,6076E-13 1,6883 1,5215E-12 2,0281 62 O fator t encontrado foi maior do que o t crítico uni-caudal e, portanto, a hipótese nula de que a média dos preços dados pelos vendedores (WTA) é igual à média dos preços atribuídos ao bem pelos compradores (WTP) foi rejeitada. De modo alternativo, poderíamos rejeitar a hipótese nula do teste t uma vez que o valor P para o teste uni-caudal é menor do que 0,025. Com base nas análises estatísticas, a hipótese de pesquisa em sua forma nula foi rejeitada. Os testes estatísticos realizados fornecem evidências de que a hipótese de pesquisa em sua forma alternativa seja verdadeira, ou seja, que o preço que os vendedores estão dispostos a aceitar para vender um determinado bem (WTA) é maior do que o preço que os compradores estão dispostos a pagar por este mesmo bem (WTP). Análise do Grupo de Observadores Embora o grupo de observados tenha sido incluído no experimento somente para mensurar a relutância a comprar e a vender, foram adotados os mesmos procedimentos estatísticos para avaliar se há diferenças entre a média aritmética dos valores atribuídos ao bem pelos observadores e as médias dos valores obtidos junto aos compradores e vendedores. Observadores X Compradores: A hipótese nula é que a média dos valores atribuídos ao bem pelos observadores é igual à média dos valores obtidos junto aos compradores. 63 Para a definição do teste estatístico a ser utilizado foi necessário, primeiramente, testar o pressuposto de variâncias equivalentes entre as duas amostras (valores atribuídos pelos observadores e preços dados pelos compradores). Esta avaliação foi feita através da aplicação de um Teste F unicaudal para Diferenças entre Duas Variâncias (alfa=5%) cuja hipótese nula é que variância dos valores atribuídos pelos observadores é igual à variância dos valores dados pelos compradores. Teste-F: duas amostras para variâncias Média Variância Observações gl F P(F<=f) uni-caudal F crítico uni-caudal observadores compradores 2,6167 1,3594 0,5678 0,4715 30 32 29 31 1,2042 0,3055 1,8349 Uma vez que o fator F encontrado foi menor do que o F crítico uni-caudal superior, a hipótese nula do teste de que as duas amostras apresentam variâncias semelhantes não pôde ser rejeitada. De modo alternativo, a hipótese nula do teste não poderia ser rejeitada uma vez que o valor P encontrado para o teste de cauda superior foi maior do que 0,025. Partindo do pressuposto de que as amostras apresentavam variâncias equivalentes, foi aplicado o “Teste t de Variância uni-caudal para Amostras com Variâncias Equivalentes” (alfa=5%) para testar a hipótese nula de que a média dos valores atribuídos ao bem pelos observadores é igual à média dos valores obtidos junto aos compradores. 64 Teste-t: duas amostras presumindo variâncias equivalentes Média Variância Observações Variância agrupada Hipótese da diferença de média gl Stat t P(T<=t) uni-caudal t crítico uni-caudal P(T<=t) bi-caudal t crítico bi-caudal observadores compradores 2,6167 1,3594 0,5678 0,4715 30 32 0,5181 0 60 6,8736 2,0540E-09 1,6706 4,1080E-09 2,0003 O fator t encontrado foi maior do que o t crítico uni-caudal e, portanto, a hipótese nula de que a média dos valores atribuídos ao bem pelos observadores é igual à média dos valores obtidos junto aos compradores foi rejeitada. De modo alternativo, poderíamos rejeitar a hipótese nula do teste t uma vez que o valor P para o teste uni-caudal é menor do que 0,025. Os testes estatísticos realizados fornecem evidências de que a média dos valores obtidos para o grupo de observadores seja maior do que a média dos preços atribuídos ao bem pelos compradores. Observadores X Vendedores: A hipótese nula é que a média dos valores obtidos junto aos vendedores é igual à média dos valores atribuídos ao bem pelos observadores. Para a definição do teste estatístico a ser utilizado foi necessário, primeiramente, testar o pressuposto de variâncias equivalentes entre as duas amostras (preços dados pelos vendedores e valores atribuídos pelos observadores). Esta avaliação foi feita através da aplicação de um Teste F unicaudal para Diferenças entre Duas Variâncias (alfa=5%) cuja hipótese nula é 65 que variância dos valores atribuídos pelos observadores é igual à variância dos valores dados pelos vendedores. Teste-F: duas amostras para variâncias Média Variância Observações gl F P(F<=f) uni-caudal F crítico uni-caudal vendedores observadores 5,5000 2,6167 4,3333 0,5678 31 30 30 29 7,6316 2,0537E-07 1,8543 Uma vez que o fator F encontrado foi maior do que o F crítico uni-caudal superior, a hipótese nula do teste de que as duas amostras apresentam variâncias semelhantes foi rejeitada. De modo alternativo, a hipótese nula do teste poderia ser rejeitada uma vez que o valor P encontrado para o teste de cauda superior foi menor do que 0,025. Partindo do pressuposto de que as amostras não apresentavam variâncias equivalentes, foi aplicado o “Teste t de Variância uni-caudal para Amostras com Variâncias Diferentes” (alfa=5%) para testar a hipótese nula de que a média dos valores obtidos junto aos vendedores é igual à média dos valores atribuídos ao bem pelos observadores. Teste-t: duas amostras presumindo variâncias diferentes Média Variância Observações Hipótese da diferença de média gl Stat t P(T<=t) uni-caudal t crítico uni-caudal P(T<=t) bi-caudal t crítico bi-caudal vendedores observadores 5,5000 2,6167 4,3333 0,5678 31 30 0 38 7,2375 5,8804E-09 1,6860 1,17608E-08 2,0244 66 O fator t encontrado foi maior do que o t crítico uni-caudal e, portanto, a hipótese nula de que a média dos valores obtidos junto vendedores é igual à média dos valores atribuídos ao bem pelos observadores foi rejeitada. De modo alternativo, poderíamos rejeitar a hipótese nula do teste t uma vez que o valor P para o teste uni-caudal é menor do que 0,025. Os testes estatísticos realizados forneceram evidências de que a média dos preços atribuídos ao bem pelos vendedores seja maior do que a média dos valores obtidos junto aos observadores. Em resumo, as análises estatísticas fornecem evidências de que, em média: ! WTA > WTP, e que ! WTP < (valor dado pelos observadores) < WTA. Fazendo uma análise dos principais valores obtidos através da aplicação do experimento, podemos perceber que o valor médio atribuído à lapiseira pelos vendedores (WTA = R$ 5,50) foi mais de quatro vezes maior do que o atribuído pelos compradores ao mesmo bem (WTP = R$ 1,36). Embora o valor médio dado à lapiseira pelos observadores tenha ficado mais próximo do WTP do que do WTA (diferenças de R$ 1,26 e de R$ 2,88 respectivamente), indicando uma menor relutância em comprar do que em vender, ainda assim ele foi quase duas vezes maior do que a média dos valores atribuídos pelos compradores . 67 O quadro a seguir apresenta um resumo destes números. Vendedores Observadores Compradores Nº de Observações 31 30 32 Desvio Padrão 2,08 0,75 0,69 Mediana 5,00 2,75 1,00 Média 5,50 2,62 1,36 Média / Média Compradores 4,05 1,92 1,00 Considerando que existiam 31 bens disponíveis para a venda, o volume esperado de transações espontâneas (V*) era de 15,5 lapiseiras. A diferença entre os valores médios do WTA e do WTP, no entanto, fez com que o volume de bens transacionados (V) fosse de apenas 5 lapiseiras, gerando uma relação (V/V*) de 0,32 (a tabela a seguir apresenta um resumo dos resultados obtidos no experimento e o gráfico, a seguir, mostra a construção das curvas de oferta e de demanda). Resultado Global do Experimento Nº de Bens Disponíveis Nº Esperado de Transações (V*) Nº Real de Transações (V) (V/V*) 31,00 15,50 5,00 0,32 Curva de OFERTA (Vendedores) X DEMANDA (Compradores) 10,00 Preço (R$) 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 5 10 15 20 25 30 Números de Pessoas Compradores Vendedores Polinômio (Vendedores) Expon. (Compradores) 35 68 Partindo para uma comparação entre os resultados obtidos neste trabalho com os encontrados por Kahneman e outros (1990), observamos que embora a redução do volume de transações tenha sido menor no experimento conduzido no mercado brasileiro, a relação entre o WTA e o WTP ficou bem acima dos valores encontrados por Kahneman (ver quadro abaixo). Este Trabalho 5,00 2,75 0,32 WTA / WTP (medianas) Observadores / WTP (medianas) (V / V*) Kahneman Esp. 6 2,48 1,09 0,24 Kahneman Exp. 7 3,50 1,75 0,05 A utilização nesta pesquisa de tabelas de preços com um valor máximo muito superior (R$ 10,00) ao valor do bem (R$ 2,50 nas papelarias) pode ter gerado um efeito amplificador nas diferenças de avaliação por parte dos compradores e dos vendedores. Esta análise é facilitada quando desenhamos um gráfico da distribuição dos valores obtidos junto aos três grupos (compradores, observadores e vendedores). Fica claro como os valores atribuídos pelos vendedores ficaram muito menos concentrados do que os dos compradores. Mais uma vez, o alongamento da tabela com a expansão do valor máximo para R$ 10,00 pode ter influenciado essa dispersão dos preços atribuídos pelos vendedores, aumentando a relação WTA/WTP. Distribuição 14 Nº de Pessoas 12 10 8 6 4 2 0 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 Preço (R$) Compradores Vendedores Observadores 10,00 12,00 69 5 CONCLUSÕES O presente trabalho avaliou a presença do endowment effect dentro de um ambiente de pesquisa brasileiro. Os resultados obtidos sugerem que em mercados brasileiros de bens de consumo onde haja concorrência perfeita e onde os custos de transação e os efeitos lucro são mínimos, os preços pelos quais os vendedores estão dispostos a aceitar para vender o bem (WTA) são maiores do que os preços que os compradores estão dispostos a pagar para adquirir o mesmo bem (WTP). Esta diferença encontrada entre o WTA e o WTP corrobora os resultados obtidos por estudos anteriores, em especial os conduzidos por Kahneman e outros (1990), e parece ser causada por um endowment effect instantâneo, ou seja, o valor que a pessoa dá a um determinado bem de consumo parece aumentar imediatamente após ela tomar posse do objeto. A diferença entre o WTA e o WTP encontrada neste experimento também parece ter contribuído para a redução dos volumes espontaneamente negociados quando comparados aos volumes previstos pela teoria econômica clássica (V/V*=0,32). Esta redução do volume de bens espontaneamente negociados parece refletir uma verdadeira diferença nas preferências entre os compradores e os vendedores. O endowment effect encontrado neste trabalho parece ter sido maior do que o obtido em outros estudos. De fato, a relação entre o WTA e o WTP de 5,00 ficou bem superior ao 2,48 e 3,50 encontrado por Kahneman e outros (1990) em seus experimentos números 6 e 7. Uma das possíveis explicações foi a utilização nesta pesquisa de tabelas de preços com um valor máximo muito superior (R$ 10,00) ao valor do bem (R$ 2,50 nas papelarias), o que pode ter gerado um efeito amplificador nas diferenças de avaliação por parte dos compradores e dos vendedores. O impacto da escala e dos preços mínimo e máximo das tabelas de preços nas avaliações feitas principalmente pelos 70 vendedores precisa ser melhor estudada, sendo uma sugestão para pesquisas futuras. A utilização do grupo de observadores descartou o efeito lucro como uma possível explicação pela maior avaliação do bem feita pelos vendedores uma vez que as condições para este dois grupos eram as mesmas. A alocação das lapiseiras a cada um dos vendedores parece ter provocado um endowment effect, que não aconteceu com os observadores. Consequentemente, o valor médio atribuído ao bem pelos vendedores foi 2,88 vezes maior do que o preço médio atribuído à lapiseira pelos observadores, embora ambos os grupos estivessem sujeitos às mesmas condições. A maior proximidade dos valores dos observadores com os preços atribuídos pelos compradores do que com os dados pelos vendedores indica uma maior relutância em vender do que em comprar, sugerindo que o endowment effect é tipicamente um problema dos vendedores. De um modo geral, os resultados obtidos ficaram alinhados com os encontrados em estudos anteriores, fazendo crer que o endowment effect também se manifesta no ambiente brasileiro onde, aliás, algumas práticas comerciais (assinatura de revistas grátis nos primeiros meses, cartões de crédito com a primeira anuidade grátis ou enviados sem a solicitação dos clientes, produtos entregues sob a condição de gerar “satisfação garantida ou o dinheiro de volta”, etc.) aparentemente baseadas neste conceito já vêm sendo utilizadas por algumas empresas. Finalmente, estudos futuros abordando novos grupos de consumidores brasileiros, como por exemplo pessoas mais velhas – mais habituadas à cultura inflacionária – ou aqueles pertencentes às faixas mais pobres da população – onde os impactos da estabilização econômica e a mudança do cenário inflacionário foram mais sentidos –, serão importantes para confirmar as conclusões aqui apresentadas. 71 6 REFERÊNCIAS BATEMAN, I. et al. 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Após o sorteio do preço, escolheremos aleatoriamente 5 participantes. Caso você esteja entre os 5 e para o preço sorteado tenha optado por comprar uma das lapiseiras, você terá que honrar a sua escolha e efetivamente comprar a lapiseira; caso contrário, simplesmente não haverá transação. Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50 R$ 2,00 R$ 2,50 R$ 3,00 R$ 3,50 R$ 4,00 R$ 4,50 R$ 5,00 R$ 5,50 R$ 6,00 R$ 6,50 R$ 7,00 R$ 7,50 R$ 8,00 R$ 8,50 R$ 9,00 R$ 9,50 R$ 10,00 Por este preço eu prefiro comprar a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Por este preço eu prefiro NÃO comprar a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Informações complementares: ! Seu sexo: ! Faculdade: __________ Curso: __________ Disciplina: _________ Fem. Agradecemos sua participação. Masc. Sua idade: _____ anos 76 Anexo 2: INSTRUÇÕES DADAS AOS VENDEDORES Esta é uma pesquisa relacionada ao comportamento do consumidor. Não existem respostas certas ou erradas. Siga as instruções abaixo e responda as questões como se estivesse em uma situação real. A lapiseira que você acaba de receber é sua e você NÃO terá que devolvê-la após o término do experimento. Você pode, entretanto, vender esta lapiseira por um determinado preço – preço este que será sorteado pelo pesquisador dentre os preços da tabela abaixo. Indique, para cada um dos possíveis preços a serem sorteados, se, por tal preço, você prefere vender a lapiseira e receber o dinheiro (marcando um “X” na primeira coluna) ou prefere não vender a lapiseira e ficar com ela (marcando um “X” na segunda coluna). Após o sorteio do preço, escolheremos aleatoriamente 5 participantes. Caso você esteja entre os 5 e para o preço sorteado tenha optado por vender a lapiseira, iremos comprá-la de você; caso contrário, você permanecerá com a mesma. Os demais participantes permanecerão com suas lapiseiras. Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for Se o preço for R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50 R$ 2,00 R$ 2,50 R$ 3,00 R$ 3,50 R$ 4,00 R$ 4,50 R$ 5,00 R$ 5,50 R$ 6,00 R$ 6,50 R$ 7,00 R$ 7,50 R$ 8,00 R$ 8,50 R$ 9,00 R$ 9,50 R$ 10,00 Por este preço eu prefiro vender a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Por este preço eu prefiro NÃO vender a lapiseira ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Informações complementares: ! Seu sexo: ! Faculdade: __________ Curso: __________ Disciplina: _________ Fem. Agradecemos sua participação. Masc. Sua idade: _____ anos 77 Anexo 3: INSTRUÇÕES DADAS AOS OBSERVADORES Esta é uma pesquisa relacionada ao comportamento do consumidor. Não existem respostas certas ou erradas. Siga as instruções abaixo e responda as questões como se estivesse em uma situação real. Você terá a oportunidade de escolher entre receber uma das lapiseiras apresentadas pelo pesquisador ou receber um determinado valor em dinheiro – valor este que será sorteado dentre os valores da tabela abaixo. Indique, para cada um desses valores se, por tal valor, você prefere receber uma das lapiseiras (marcando um “X” na primeira coluna) ou receber em dinheiro o valor sorteado (marcando um “X” na segunda coluna). Após o sorteio do valor, escolheremos aleatoriamente 5 participantes. Caso você seja esteja entre os 5 e para o valor sorteado tenha optado por receber uma das lapiseiras, você receberá uma; caso você tenha optado por receber o dinheiro, você receberá em dinheiro o valor sorteado. Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for Se o valor sorteado for R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50 R$ 2,00 R$ 2,50 R$ 3,00 R$ 3,50 R$ 4,00 R$ 4,50 R$ 5,00 R$ 5,50 R$ 6,00 R$ 6,50 R$ 7,00 R$ 7,50 R$ 8,00 R$ 8,50 R$ 9,00 R$ 9,50 R$ 10,00 Por este valor eu prefiro receber uma das lapiseiras ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Por este valor eu prefiro receber o dinheiro ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ Informações complementares: ! Seu sexo: ! Faculdade: __________ Curso: __________ Disciplina: _________ Fem. Agradecemos sua participação. Masc. Sua idade: _____ anos