PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E FORMAÇÃO INTEGRADA ESPECIALIZAÇÃO EM FISIOTERAPIA HOSPITLAR PAULA AUGUSTA MOURA PRATES DO RÊGO ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS DESENCADEADAS PELA ESCLEROSE MÚLTIPLA Brasília 2012 PAULA AUGUSTA MOURA PRATES DO RÊGO ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS DESENCADEADAS PELA ESCLEROSE MÚLTIPLA Artigo apresentado ao curso de Especialização em Fisioterapia Hospitalar do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada, chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás como requisito parcial à obtenção do título de especialista em fisioterapia hospitalar. Orientadora: Profª. Dra. Flávia Perassa de Faria Brasília 2012 1 RESUMO Alterações respiratórias desencadeadas pela Esclerose Múltipla. Introdução A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença do Sistema Nervoso Central (SNC) e de caráter progressivo. Sua característica principal é a formação de placas de desmielinização na substância branca do encéfalo e da medula espinhal. Tais lesões provocam o aparecimento de vários sinais e sintomas, incluindo alterações diafragmáticas que comprometem a função respiratória do indivíduo. O objetivo do presente estudo foi realizar uma pesquisa na literatura mais atualizada sobre o que a fisioterapia pode realizar para retardar/minimizar a progressão das complicações respiratórias que a EM desencadeia. Materiais e métodos: foi realizada uma revisão sistemática nas bases de dados Pubmed, Lilacs, Medline, Bireme e Scielo com as seguintes palavras-chaves esclerose múltipla, alterações respiratórias e fisioterapia em português e inglês. Foram selecionados 35 artigos e 4 livros utilizados para a discussão do trabalho relacionados à EM e aos efeitos da fisioterapia respiratória. Resultados: A fisioterapia respiratória pode minimizar as alterações respiratórias bem como outras alterações advindas da EM. Conclusão: Existem poucos estudos na área da fisioterapia respiratória que tratam da EM e suas alterações. Todos os estudos mostram que o exercício físico é essencial no tratamento da EM e a fisioterapia trás benefícios importantes para a função respiratória. Todos os estudos também sugerem mais pesquisas experimentais acerca do assunto. Palavras-chave: esclerose múltipla, alterações respiratórias, fisioterapia ABSTRACT Respiratory changes triggered by multiple sclerosis. Introduction: Multiple sclerosis (MS) is a progressive disease of the central nervous system (CNS). Its main feature is the formation of plaques of demyelination in the white matter of the brain and spinal cord. Such injuries cause the appearance of various signs and symptoms, including changes that compromise diaphragmatic respiratory function of the individual. The aim of this study was a survey of the literature up to date about what physiotherapy can do to delay / minimize the progression of respiratory complications that MS triggers. Materials and methods: a systematic review was conducted in Pubmed, Lilacs, Medline, and Scielo Bireme with the following keywords multiple sclerosis, respiratory distress and physical therapy in Portuguese and English. We selected 35 articles and 4 books used for the discussion of work related to MS and the effects of physiotherapy. Results: Respiratory therapy can minimize respiratory changes and other changes arising from the MS. Conclusion: There are few studies in the field of respiratory therapy to treat MS, as amended. All studies show that exercise is essential in the treatment of MS and physiotherapy gives important benefits for the respiratory function. All studies also suggest further experimental research on the subject. Keywords: multiple sclerosis, respiratory disorders, physiotherapy 2 INTRODUÇÃO A Esclerose Múltipla (EM) é uma desordem do Sistema Nervoso Central (SNC), lentamente progressiva, caracterizada por repetidos episódios de desmielinização, com placas ou lesões espalhadas pela substância branca, podendo envolver pequenas ou grandes áreas do encéfalo e/ou da medula espinhal causando variáveis déficits neurológicos. (Oliveira , Annes , Oliveira, et al,1998; Moreira , Felipe, Mendes et al, 2000; Grzesiuk, 2006). A evolução é muito variada com maior incidência no sexo feminino e em indivíduos brancos. No Brasil os estudos de prevalência realizados em São Paulo e Belo Horizonte revelaram respectivas taxas de 15/100000 e 18/100000 habitantes. (Moreira, Felipe, Mendes, et al,2000; Lana-Peixoto, Callegaro, Moreira, et al, 2002; Grzesiuk, 2006). Estudos internacionais evidenciaram taxa de prevalência maior no norte da Europa, norte dos EUA e no Canadá superiores a 50/100000 habitantes (Oliveira, Annes, Oliveira, et al,1998; Lana-Peixoto, Callegaro, Moreira, et al, 2002). Sua etiologia é autoimune, sendo determinada por predisposição genética e influência ambiental desconhecida (Lopes, Nogueira, Nóbrega, et al, 2010) , provavelmente na forma de uma infecção viral inaparente ou algum antígeno desconhecido sendo o desencadeador de um processo autoimune que destrói a bainha de mielina (Oliveira, Annes, Oliveira, et al,1998; Moreira, Felipe, Mendes, et al,2000). Segundo um estudo brasileiro na EMPP (forma progressiva primária da Esclerose Múltipla) a disfunção piramidal e cerebelar foram as disfunções mais apresentadas pelos pacientes (Lopes, Nogueira, Nóbrega, et al, 2010). A EM acontece em episódios repetidos de disfunção (exacerbações) neurológicas com remissão variável (Moreira, Felipe, Mendes, et al, 2000). A forma surto-remissiva acontece em até 85% dos casos e os sinais e sintomas mais comuns são as alterações piramidais, sensitivas e cerebelares (Oliveira, Annes, Oliveira, et al,1998). De acordo com Moreira, Felipe, Mendes, et al, (2000) a EM pode se apresentar de várias formas clínicas: a remitente recorrente (RR) onde os pacientes possuem surtos claramente definidos com remissão completa ou incompleta, mantendo períodos sem progressão entre os surtos; a primariamente progressiva (PP) onde os pacientes apresentam curso progressivo desde o início da doença com discretas flutuações e/ou ocasionais platôs e a 3 secundariamente progressiva (SP) onde os pacientes inicialmente apresentam a doença de forma RR, sendo sucedido por surtos ocasionais, progressão, discretas remissões e platôs. O quadro clínico da EM varia de um paciente para outro conforme a região do SNC afetado. Os principais sinais e sintomas são sensitivos, motores, visuais, vesicais e emocionais, juntamente com diminuição da resistência cardiorespiratória causada pelo comprometimento da função respiratória (Lana-Peixoto, Callegaro, Moreira, Felipe, Mendes, et al, 2000). As manifestações mais comuns são: ataxia, sintomas auditivos, problemas visuais, alterações oculares (visão dupla), distúrbios da linguagem, alterações na marcha, equilíbrio, diminuição de força muscular, dormência, alterações esfincterianas, rigidez articular, incoordenação motora, tremores, formigamentos, dificuldade para realizar movimentos com os membros superiores e inferiores, incontinência ou retenção urinária, depressão, tontura, instabilidade, impotência sexual, insuficiência respiratória e alterações da destreza manual. Tais manifestações são explicadas pela condução mais lenta dos sinais ao longo das fibras nervosas desmielinizadas (Quadro 1). Quadro 1: Sinais e sintomas mais comuns da Esclerose Múltipla SINAIS E SINTOMAS COMUNS DA ESCLEROSE MÚLTIPLA CRÔNICA Sistema Funcional % Freqüência MOTOR Fraqueza muscular 65-100 Espasticidade 73-100 Reflexos (hiper-reflexia, Babinski, abdominais ausentes) 62-98 SENSORIAL Distúrbio do sentido vibratório/posicional 48-82 Distúrbio da dor, temperatura ou tato 16-72 Dor (moderada e intensa) 11-37 Sinal de Lhermitte 1-42 NERVOS CRANIANOS/TRONCO CEREBRAL Visão afetada 27-55 Distúrbios oculares (excluindo o nistagmo) 18-39 V,VII, VIII nervos cranianos 5-52 Sinais bulbares 9-49 Vertigens 7-27 AUTONÔMICO Disfunção vesical 49-93 Disfunção intestinal 39-64 Disfunção sexual 33-59 Outros (sudorese e anormalidades) 38-43 4 PSIQUIÁTRICO Depressão 8-55 Euforia 4-18 Anormalidades cognitivas 11-59 DIVERSOS Fadiga 59-85 Fonte: Adaptado de Rowland,1997 Alguns sinais e sintomas são raramente observados na EM sendo bem reconhecidos pela equipe de saúde podendo estar associados a outros sintomas (Quadro 2). Quadro 2: sinais e sintomas raros da Esclerose Múltipla SINAIS E SINTOMAS OBSERVADOS RARAMENTE NA ESCLEROSE MÚLTIPLA ASSOCIAÇÕES BEM RECONHECIDAS ASSOCIAÇÕES RARAS Convulsões generalizas Afasia Convulsão tônica Anosmia Cefaléia Soluços Neuralgia do trigêmeo Surdez Disartria/ataxia paroxística Síndrome de Horner Coréia/atetose Prurido paroxístico Mioclonia Arritmias cardíacas Hemiespasmo facial Edema pulmonar agudo Torcicolo espasmódico/ distonia focal Disfunção hipotalâmica Mioclonia Narcolepsia Sinais do neurônio motor inferior – atrofia, diminuição do tônus – arreflexia Pernas inquietas Histeria Fonte: Adaptado de Rowland,1997 A fadiga é um sintoma subjetivo inespecífico e incapacitante, definida como sensação de cansaço físico profundo, perda de energia ou mesmo sensação de exaustão, impondo conseqüências socioeconômicas significativas como a perda de horas de trabalho e até a demissão do indivíduo (Mendes, Tilbery, Felipe, 1996; Braley e Chervin, 2010). Lopes, Nogueira, Nóbrega, et al, (2010) concluíram em seu estudo à respeito da limitação funcional, fadiga e qualidade de vida (QV) na forma PP da EM com 30 pacientes com EMPP que os valores de referência para a função física e qualidade de vida são inferiores e que existe comprometimento da marcha, alta prevalência de fadiga e grave incapacidade. 5 Mendes, Tilbery, Balsimelli, et al, (2000) avaliaram, em seu estudo, 95 pacientes com a forma RR da EM e concluíram que há associação entre fadiga grave e maior incapacidade funcional persistente. Segundo Mendes, Tilbery e Felipe (1998) a fadiga pode agravar os sintomas da doença. Vários pesquisadores submeteram inúmeros pacientes portadores de EM a avaliação motora, testes de qualidade de vida e testes que avaliam e qualificam a fadiga como a Escala do Estado de Incapacidade (EEI), Índice Ambulatorial de Hauser (IAH), Teste da Caixa em Blocos (TCB), Escala de Severidade de Fadiga (ESF), Escala de Fadiga de Chalder modificada (EFCm) e questionários sobre fadiga (QF). Todos os pesquisadores concluíram que a fadiga está presente em 75% a 95% dos pacientes, sendo este um dos primeiros sintomas a aparecer, não sendo correlacionada com: a idade, o gênero, a depressão ou grau de comprometimento neurológico (Mendes, Tilbery, Felipe, 1998; Mendes, Tilbery, Balsimelli, et al, 2000; Lopes , Nogueira, Nóbrega, et al, 2010). Conforme a EM progride, 50% dos pacientes apresentam aumento da freqüência cardíaca em repouso e ao exercício, fadiga, ansiedade e depressão (Lana-Peixoto, Callegaro, Moreira, et al, 2002). Em estágios mais avançados da doença, o portador pode apresentar fraqueza muscular e infecções. Devido à freqüência de mortalidade estar ligada, muitas vezes, a alterações respiratórias, é indicado a detecção precoce e seu tratamento (Karpatkin H, 2008). 6 MATERIAIS E MÉTODOS Para o desenvolvimento do presente estudo de revisão sistemática, foram encontrados 8664 artigos sobre o tema “Esclerose múltipla e alterações respiratórias”. Para iniciar a pesquisa foram utilizados alguns descritores como: esclerose múltipla, alterações respiratórias e fisioterapia em inglês e português. As bases de dados utilizadas foram: Pubmed, Lilacs, Medline, Bireme, Scielo. Foram encontrados, inicialmente, ao utilizar o descritor multiple sclerosis 8664 artigos em inglês e português. Após o refinamento, usando o descritor physiotherapy foram encontrados 685 artigos e ao acrescentar à pesquisa o descritor respiratory changes foram encontrados 51 artigos. Os artigos incluídos nesta pesquisa foram selecionados por apresentarem uma abordagem fisioterapêutica na EM e por caracterizarem a doença e suas alterações. Foi por caracterizarem a doença e suas alterações.incluído na pesquisa um consenso da BCTRINS (Brazillian Commitee for Treatment and Research in Multiple Sclerosis) Foi encontrado um grande número de estudos sobre EM, fisioterapia e as alterações respiratórias; após análise de sua relevância para este trabalho de revisão 35 artigos e 4 livros. 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO A fisioterapia atua nas incapacidades e limitações que vão aparecendo durante o curso da doença, evitando o acúmulo de secreções em pacientes acamados principalmente em fase mais avançada da EM, utilizando técnicas fisioterapêuticas com o objetivo de manter a mobilidade pulmonar, já que com a progressão da fraqueza muscular a ventilação necessária não é mantida, e evitar infecções respiratórias. Ao perderem a capacidade de realizar suas atividades do cotidiano os pacientes são encaminhados para a fisioterapia a fim de minimizar ou eliminar os sinais e sintomas da doença. Muitas vezes os danos ao SNC são irreversíveis e o tratamento é baseado em favorecer a funcionalidade e combina técnicas que visam minimizar os déficits que o paciente vai apresentando durante o curso da doença, otimizar o desempenho do indivíduo nas suas atividades e prevenir incapacidades, melhorar a qualidade de vida e a independência. Desta forma é necessário que o trabalho seja a soma de esforços de uma equipe interdisciplinar que cuida em fornecer cuidados humanizados tanto aos familiares quanto ao paciente (Pereira, Seixas, Colomé, 2010). Para Karpatkin H, (2008) o problema enfrentado pelos fisioterapeutas é acreditarem que a fisioterapia pode fazer muito pouco pelos pacientes portadores de EM além do tratamento ou a prevenção ser pouco significativa para tais pacientes. Algumas propostas fisioterapêuticas para o tratamento da EM são a reeducação diafragmática, o uso de incentivadores respiratórios, exercícios de desobstrução brônquica e de re-expansão pulmonar bem como programas de treinamento e fortalecimento muscular de uma forma geral. A fraqueza muscular leva a tosse ineficaz que pode causar pneumonia aspirativa, levando à redução da capacidade pulmonar, insuficiência respiratória e à morte. A fraqueza muscular pode estar associada à quadros de plegia do músculo diafragma causado por um quadro de quadriplegia ou paresia do neurônio motor superior das duas partes do diafragma (Slutzky, 1997). De acordo com Furtado e Tavares (2005), quando os pacientes perdem a capacidade de realizar suas atividades funcionais é que geralmente são encaminhados para a fisioterapia. Quando isto acontece os pacientes já tiveram danos irreversíveis no SNC. Para Furtado a regularidade na prática de exercícios físicos incluindo exercícios de fortalecimento muscular, exercícios aeróbicos, atividades na água e ioga trazem benefícios aos portadores de EM, 8 tornando-os mais ativos, favorecendo a independência, melhorando o condicionamento físico e a QV. A fisioterapia deve atuar na fase aguda da doença (pós-surto) utilizando exercícios passivos com o objetivo de manter a amplitude de movimento e evitar complicações respiratórias e também na fase de remissão tomando alguns cuidados com exercícios ativos intensos e o aumento da temperatura corporal que pode desencadear novos surtos. A re-expansão pulmonar é otimizada utilizando técnicas simples como a estimulação diafragmática, inspiração profunda, inspiração fracionada e a compressão-descompressão torácica. O equilíbrio, o controle do tronco e da cabeça associados às técnicas de fortalecimento dos músculos respiratórios são essenciais durante o tratamento da EM. As terapias disponíveis para o tratamento da EM podem diminuir a frequência dos surtos clínicos e a formação de novas lesões. No entanto, nenhuma destas terapias reverte os danos teciduais nem mesmo controlam os sintomas crônicos (Braley e Chervin,2010). Indivíduos portadores de EM apresentam como principal causa de morbidade e mortalidade as complicações respiratórias; 20% dos pacientes que morrem antes dos 50 anos tem como causa principal a pneumonia e a gripe (Fry, Pfalzer, Cholksi, 2007). Um dos problemas enfrentados pelos fisioterapeutas ao tratar a EM é a crença de que, dada a condição do paciente, os programas fisioterapêuticos são pouco significativos. Entretanto Fry, Pfalzer, Cholksi (2007) demonstraram que o comprometimento da musculatura inspiratória responde bem a programas simples de treinamento muscular. Pacientes com EM e outras doenças neurológicas, muitas vezes tem comprometimento do diafragma, intercostais internos e externos e de toda musculatura acessória da respiração. Déficits de pressão inspiratória estão associados à fraqueza muscular, espasticidade e incoordenação. Desta forma é esperado que os pacientes com EM tenham bom aproveitamento de exercícios de fortalecimento e treinamento da musculatura envolvida na respiração (Fry, Pfalzer, Cholksi, 2007). O treinamento da musculatura respiratória vem sendo sugerido como uma possibilidade terapêutica para a fadiga na EM Fry, Pfalzer, Cholksi (2007) demonstraram uma boa resposta a um programa simples de treinamento da musculatura inspiratória em pacientes com EM e prejuízo da função da inspiratória. Segundo estes autores, o uso do threshold é impressionante já que é uma técnica de baixo custo e de fácil utilização. 9 Diversos autores utilizaram protocolos para o treinamento dos músculos inspiratórios e expiratórios usando duração de 8 semanas a 3 meses, freqüências variadas e Séries diferentes. Todos estes estudos obtiveram resultados significativos. Fry, et al, (2007) estudaram um grupo de 46 indivíduos que estavam em tratamento ambulatorial cujo diagnóstico era EM (23 grupo de intervenção e 23 do grupo controle). Estes indivíduos receberam um programa de 10 semanas de treinamento de força muscular inspiratória (IMT) que foram divididos em grupo controle e grupo que recebeu intervenção; 21 indivíduos do grupo controle e 20 do grupo de intervenção completaram o estudo. Tratou-se de um estudo cego. Os indivíduos do grupo de intervenção demonstraram melhora significativa nos valores de pressão inspiratória máxima (PI Max) pressão expiratória máxima (PE Max) e Resistência pulmonar. Concluiu-se deste estudo que houve aumento significativo da força muscular inspiratória após as 10 semanas de IMT utilizando o threshold (aparelho utilizado para o fortalecimento e treinamento da musculatura respiratória). Klefbeck e Nedjad (2003) publicaram um estudo onde 15 pacientes completaram 3 séries de 10 repetições de exercício resistido na inspiração 2 vezes ao dia em dias alternados pelo período de 10 semanas. Os sujeitos desta pesquisa obtiveram aumento nos níveis de PImax E Pemax que permaneceram por 30 dias. Johnson, Drane, Curran, et al, (1989), realizaram um estudo com 13 pacientes com o intuito de descobrir se a origem dos distúrbios pulmonares em indivíduos com EM está ligada à broncoaspiração e o refluxo gastroesofágico. Os resultados deste estudo suportam a idéia de que, pelo menos em parte, as complicações esofágicas associadas à aspiração de refluxo gastroesofágico são responsáveis pelas doenças pulmonares. A repetição de broncoaspirações, mesmo pequenas, podem produzir danos crônicos aos brônquios terminais e aos alvéolos pulmonares trazendo como conseqüência um tipo de fibrose progressiva. Conforme as doenças pulmonares progridem o indivíduo necessita de maior força inspiratória para a ventilação gerando maior pressão negativa nos pulmões e na caixa torácica, conseqüentemente mais refluxo gastroesofágico. Este estudo sugere, então que aspirações repetidas podem contribuir para doenças pulmonares na EM. Ponichtera-Mulcare JA, (1992) sugere em seu estudo que epidemiologicamente os indivíduos com EM morrem dos mesmos males que afetam a população em geral. Portanto existe a necessidade de entendermos como a EM responde aos exercícios e desenvolver a prescrição individual de programas de reabilitação para portadores de EM. De acordo com 10 Ponichtera-Mulcare JA, (1992), um bom programa de exercícios de reabilitação é capaz de interferir na função músculo-esquelética e cardiorespiratória dos portadores de EM. Araújo, Rebouças, Fragoso (2007) realizaram um estudo em 20 pacientes portadores de EM com relato de fadiga e há 3 meses sem surtos da doença que foram avaliados em duas etapas onde a primeira etapa foi aplicada a escala de fadiga física de Chalder e na segunda a graduação da força dos músculos respiratórios foi realizada através da manuvacuometria ( medida da PImáx e PEmáx ). Em todos os pacientes foi confirmada a fadiga física e em 10 pacientes foi encontrada dispnéia. 11 CONCLUSÃO Nas últimas duas décadas várias pesquisas apontam à favor da prática de exercícios físicos para indivíduos portadores de EM com grau de acometimento leve a moderado. A fisioterapia atua na EM para minimizar as limitações e incapacidades, promovendo a independência do paciente em suas atividades do cotidiano e melhorando o condicionamento cardiovascular, tendo como conseqüência a melhora da capacidade respiratória do paciente. A fisioterapia pode atuar de maneira segura e efetiva na EM usando programas de exercícios de fortalecimento da musculatura esquelética e respiratória, tendo em conta o paciente como um ser completo que precisa ter qualidade de vida e independência por maior tempo. É necessário que sejam realizados novos estudos sobre as complicações respiratórias na EM e as repercussões destas complicações na doença visto que são encontrados poucos estudos relevantes sobre este tema. 12 REFERÊNCIAS 1. Araújo FR, Rebouças F, Fragoso YD. Possível associação entre a fadiga física e o grau de força dos músculos respiratórios na Esclerose Múltipla. Revista Neurociências 2007;15/3:207-210. 2. Barten LJ, Allington DR, Procacci KA, et AL. 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