Rosa Centifolia

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Manual de
Cultivo de Rosas
Daniel Roberto Ramos da Silva
No Internet: May 31, 2006
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Dedicado à todas as pessoas capazes de compartilhar ... A todas
aquelas que sabem dividir com o próximo os tesouros mais
preciosos de seus jardins, com alegria e um sorriso no rosto por ter
a certeza de estar retribuindo a gentileza que um dia a Natureza
lhes proporcionou.
Agradecimentos:
Agradeço a todos aqueles que de uma maneira ou outra
contribuíram para que esse livro se tornasse realidade:
A minha mãe, meus amigos Israel Rodrigues Correa e Karl King
cuja ilimitado apoio, paciência e generosidade contribuiu com
muitas páginas de informação e gentilmente permitiu que utilizasse
as fotos de seu site, muitas das quais fazem parte da ilustração
desse livro. A cada jardineiro do povo que foram meus primeiros
mestres e que, cada qual, contribuiu para o enriquecimento das
informações aqui contidas, com dicas e nomes populares das
variedades (além de sua conservação), servindo como parâmetro
para decidir qual a melhor técnica a indicar, pessoas cuja
proximidade com a terra dotaram-lhes de informações necessárias a
um cultivo adaptado ao Brasil.
“Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé a dor
Em sândalos olente cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
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És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendo da santa natureza”
Pixinguinha e João de Barro
Introdução
O valor do conhecimento só é real quando pode ser compartilhado com as outras
pessoas. Durante séculos pessoas vem desenvolvendo e compartilhando com a humanidade
aquilo de melhor, fruto do resultado entre o trabalho do homem e da natureza associados,
puderam criar. Flores, inicialmente selvagens foram sendo selecionadas e dando origem e
dezenas, centenas de variedades usadas para embelezar nossos jardins, nossas casas e
porque não nossas vidas. Entre elas, talvez a mais querida seja a rosa.
Muitas rosas foram criadas no decorrer dos anos porém, nos os brasileiros, tão
pouco contribuímos para esse valoroso patrimônio vegetal. Possuímos clima favorável,
possuímos terras extensas e férteis, possuímos sensibilidade e criatividade para criar o
novo, porém nos falta a técnica, a informação necessária para transformar a intenção em
realidade.
A intenção desse livro é dar, dentro de sua modéstia, uma introdução a história e a
técnica no cultivo e na criação de novas rosas, técnica que, se bem adaptada, poderá ser
usada no criação de outras flores. Algo simples, como o próprio leitor poderá constatar.
Compartilho com o leitor um pouco, do pouco que aprendi através da tentativa e
erro ou buscando informação daqueles que, de países distantes ou não, puderam e tiveram a
generosidade de contribuir com o seu saber. Espero que um dia, o leitor que hoje aprende,
possa também ensinar a outros muito mais do que aprendeu. Que a satisfação e o trabalho
paciente floresça, em rosas, pois é esta a maior alegria que pretendo proporcionar.
Para começarmos a falar sobre rosas, é necessário conhecer um pouco de sua origem
e desenvolvimento através dos tempos, tempos este que remonta, em seu cultivo como
planta ornamental, as primeiras grandes civilizações.
A rosa em seu estado selvagem, é uma planta típica do hemisfério Norte, sendo
encontrada desde a América do Norte Europa, seguindo pelo Oriente Médio ao Extremo
Oriente. Podemos encontrar rosas crescendo desde os climas mais frios, próximos do
Circulo Polar Norte e grandes Altitudes do Tibet até as áreas desérticas e de clima
extremamente tórridos como as Áreas desérticas do Irã e do chaparral Mexicano.
Não se tem um levantamento preciso do número de variedades selvagens existentes
nesse gênero, muitas vezes há pequenas divergências entre os estudiosos na classificação
das espécies, contudo, o material genético desse gênero é extremamente rico e diversificado
e, porque não dizer, relativamente pouco explorado ainda hoje, o que será entendido no
desenvolvimento desse livro.
Nas páginas que se seguem, procurei conservar os nomes em seu original, sem
traduzí-los, a não ser nos casos em que já tenhamos as referencias em português como
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“Rosa moschatta, mosqueta ou almiscar”, dessa forma o leitor não terá problema, caso
queira estender sua pesquisa, identificar as variedades aqui comentadas.
Vale lembrar que, na história, os relatos concentram-se sobretudo na América do
Norte e Europa, pois é desses lugares a origem dos registros e dessas localidades se darem a
origem das rosas encontradas atualmente no Brasil. Muitas das variedades aqui citadas, ou
mesmo classes inteiras, são desconhecidas do público brasileiro atual como: galicas, albas,
musgo, Rosa roxburghii, Rosa hemisphaerica..., porém despertando o interesse do leitor
isso um dia poderá mudar.
A Origem como Flor Ornamental
A origem do cultivo da rosa como flor ornamental é retomar de certa forma a
história no ponto em que as primeiras obras de paisagismo foram feitas com a formação das
primeiras cidades. É provável que mesmo antes do homem tornar-se sedentário, na sua faze
nômade, ele já conhecesse e apreciasse a rosa, se não por sua beleza, por suas virtudes
medicinais.
Os registros sobre o seu cultivo surgem no Mediterrâneo, Pérsia, China e Japão e
muitas descrições sobre prováveis híbridos espontâneos remontam a muitos séculos antes
do início da Era Cristã.
Sabe-se que os egípcios e romanos dominavam certas técnicas de cultivo que
permitiam a obtenção de rosas fora da estação, num florescimento forçado já que na época
os cultivares conhecidos floriam poucas vezes no ano ou em uma única estação. Para isso
eles faziam uso de estufas aquecidas pelo sistema de vapor, como nas saunas e termas.
Foram os romanos os responsáveis pela introdução de muitas das mais antigas
espécies de rosas trazidas do Oriente para as colônias situadas na Europa de onde
difundiram-se e espalharam-se pelo mundo. Entre estas introduções está a Rosa gallica
selvagem, Rosa mosqueta, Rosa sancta – cultivada pelos egípcios – e especula-se até
mesmo algumas variedades da que veio a ser conhecida como Rosa damascena e Rosa
centifolia, bem como a Rosa Alba, seguramente uma de suas grandes contribuições para a
floricultura e para a formação das futuras linhas de híbridos.
Ao surgimento da rosa moderna, da forma que conhecemos hoje, o desenvolvimento
passou por diversos degraus saindo das rosas selvagens, passando pelos híbridos
espontâneos, o trabalho de seleção na Idade Média e Renascença até o aperfeiçoamento das
técnicas de hibridação pelos floricultores da Era Napoleônica e Vitoriana.
Numa busca por registros históricos, documentos, podemos iniciar a história das
rosas com o surgimento das plantas floríferas por volta de 130 milhões de anos atrás, no
período Cretáceo. A julgar pelos vestígios fósseis as primeiras rosas surgiram há mais ou
menos 35 milhões de anos, 30 milhões de anos após a extinção dos dinossauros.
O primeiro registro que se tem do contato humano com as rosas remonta a
inscrições mesopotâmicas datadas de 5.000 a.C. A primeira imagem no entanto foi
encontrada em uma moeda proveniente de uma tumba do povo Tsudi, nas montanhas da
região Artica, na Siberia, datando de 4.000 a.C.
A joalheria minoana da região mediterranea, entre 2800-2400 a.C. já contava com
representação de rosas.
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Em 2.000 a.C. os sumerianos registraram que, na fundação da cidade de Agade, o rei
Sargão ordenou o envio de duas unidades de cada planta cultivada, entre elas roseiras.
De 1450 a.C. chegou até nós um antigo afresco do palácio de Cnossos, conhecido
como “Afresco do Pássaro Azul” onde podem ser vistas rosas entre seus fragmentos
originais.
Registros de 500 a.C. encontrados no palácio de Nestor, em Pylos – Sul da Grécia –
fazem referencia ao óleo de rosas. Desse mesmo período (551 – 479 a.C.) o filosofo
Confucio – na China – registra a existência de mais de 600 livros sobre rosas nas
bibliotecas imperiais.
Herodotus – 470 a.C. – em sua obra “Urania” a existencia de rosas com sessenta
pétalas nascendo na Macedônia.
Entre 370 – 286 a.C. o naturalista Theophastus menciona os vários métodos de
cultivo das roseiras de flores simples (kynosbaton) daquelas de flores dobradas (rhodon).
Fragmentos vegetais da R. sancta foram encontradas numa tumba egipcia de 170 d.C.
Os árabes registraram a existência de rosas nos jardins do califa, em Córdoba –
Espanha – em 711 d.C.
A partir do século XV a rosa aparece em muitas pinturas e ilustrações medievais na
Europa.
No século XVI muitas variedades de rosas foram citadas e retratadas em publicações
como o “Herbário de Gerard” (Gerard’s Herbal) de 1597 que contém ilustrações das rosas:
damascenas, albas, gallicas e mosquetas, bem como outras variedades existentes na Europa
nesse período.
A partir do século XVII as rosas passam a fazer parte das naturezas mortas pintadas
pelos pintores flamengos holandeses como Jan Van Huysun, deixando-nos fiéis registros
visuais das variedades existentes então.
O século XVIII trouxe a grande revolução com a formação do Jardim de Malmaison
e as pinturas de Redouté...
A Rosa Gallica
A mais antiga rosa em cultivo na Europa é a chamada Rosa gallica, é uma espécie
nativa da Ásia Central sendo primeiramente cultivada pelos egípcios e persas, depois
adotada e cultivada pelos gregos e romanos. Os romanos, por sua vez, introduziram essa
espécie nas colônias situadas onde hoje é a França – Gália, o nde se tornou muito comum,
fugindo até mesmo do cultivo para tornar-se novamente selvagem. Talvez o que tenha
incentivado o seu cultivo seja suas virtudes medicinais conhecidas desde o século IX a.C.
seguindo a ser usada na Idade Média sobre o nome de Rosa Apothecaria.
A Rosa gallica em seu estado selvagem possui flores simples com apenas 5 pétalas
mas quando cultivada em boas condições passa a produzir uma segunda fiada de pétalas.
Ao que parece, houve uma segunda introdução de uma variedade de Rosa gallica,
provinda do Oriente e que veio a se chamar Rosa gallica officinalis. Essa variedade foi
trazida de Damasco à França no século XIII por Thibault IV le Chansonier, Rei de Navarre,
Conde de Champanhe e Brie, provavelmente em 1250, essa rosa, com características
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diferentes da Rosa gallica selvagem encontrada na Europa, seria supostamente um híbrido
natural entre a Rosa gallica selvagem e R. moschata.
Durante séculos de cultivo, muitas variedades surgiram nas regiões da França,
Inglaterra e Holanda. Conta-se que a coleção da Imperatriz Josephine Bonaparte possuía
mais de 100 variedades de rosas gallicas.
Rosa Alba
A Rosa Alba foi a primeira rosa intensamente cultivada pelos gregos e romanos.
Especula-se que seja um cruzamento entre a Rosa canina, selvagem na Europa, e Rosa
damascena dessa forma herdando as virtudes de ambas as espécies.
Algumas variedades como Rosa alba maxima e “Great Maiden’s Blush” possuem
registro de cultivo de data anterior ao século XV.
Suas principais características são as folhas de uma verde azulado e as flores em
tons pálidos entre o branco puro e o rosa claro.
Trata-se de planta extremamente forte e adaptável a regiões com pouca ensolação,
prosperando onde outras não conseguem. As flores , muito perfumadas, também são usadas
na composição do Attar.
Rosa Centifolia
A origem da Rosa centifolia é cercada de mistérios; mistérios estes que fazem parte
da história da maior parte das primeiras variedades conhecidas. Alguns afirmam que existe
há muitos séculos antes de Cristo porém essa afirmação baseia-se em descrições vagas e
imprecisas que poderia gera a possibilidade de ser confundida com a Rosa damascena.
Tomando-se como verdadeira essa afirmação, a Rosa centifolia teria sido intensamente
cultivada nos campos e jardins europeus por mais de 2000 anos. Por volta de 450 a.C.
Herodotus observou que rosas cresciam na Macedônia, próximo ao Jardim de Midas, tendo
essas rosas sessenta pétalas e sendo as mais fragrantes no mundo. Um século mais tarde,
Theophrastus, considerado o primeiro historiados das rosas, menciona uma rosa com cem
pétalas designando-a “Centifolia”.
Uma linha de estudo sustenta a possibilidade de uma rosa citada no Gerald’s Herball
em 1597, sob o nome de Rosa hollandica ou batavica, ser a rosa que veio a ser conhecida
posteriormente como Rosa centifolia.
De qualquer forma, por falta de comprovações, a teoria mais aceita é que a Rosa
centifolia tenha surgido entre o século XVII pelos cultivadores holandeses e belgas,
provavelmente um híbrido complexo surgido através do cruzamento espontâneo entre as
espécies até então conhecidas e cultivadas. Antes do aperfeiçoamento das técnicas de
polinização e cruzamento artificial, os holandeses já haviam obtido por volta de 200
variedades da Rosa centifolia.
Hoje em dia, quando se imagina uma rosa antiga, a imagem que nos vem a mente é
o da Rosa centifolia, intensamente retratada nas pinturas Flamengas e nas ilustrações da Era
Vitoriana.
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Rosa Musgosa
“Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim
E por perder-me é que vão me lembrando,
Por desfolhar-me é que não tenho fim”
Cecília Meireles
A Rosa musgosa é uma notável mutação da Rosa centifolia. Historicamente foi
notada pela primeira vez no ano de 1696 pelo frei Ducastel, na cidade de Carcassone – Sul
da França. Ducastel foi responsável pela introdução dessa rosa nos jardins de 3 distritos no
Noroeste da França de onde veio a se espalhar por outras regiões da Europa.
A diferença entre a Rosa centifolia e a Rosa centifolia musgosa está no fato que,
nesta ultima, uma mutação natural dotou a rosa de glândulas – semelhantes a um musgo –
cobrindo todo o cálice. Dessas glândulas é secretado uma substancia resinosa de odor
balsâmico muitas vezes comparado ao da seiva do pinho.
Primeiramente toda uma linhagem de rosas musgosas surgiram a partir da rosa
introduzida por Ducastel, no entanto, a mesma mutação ocorreu em outras variedades e em
regiões distintas da Europa, variedades estas que vieram aglutinar-se as rosas musgosas
posteriormente criadas em meados dos anos de 1850 a 1870.
A Rosa Damascena / Rosa de Damasco
Segundo os estudiosos, a Rosa damascena, seria um híbrido natural entre duas
espécies: Rosa gallica e Rosa phoenicia (Rosa damascena de verão – Summer Damask) ou
Rosa gallica e Rosa moschatta (Rosa damascena de outono – Autumn Damask),
espontâneas na região da Ásia Menor seguindo pela Síria e Oriente Médio. Descoberta
pelos persas, era cultivada primeiramente por suas virtudes aromáticas e medicinais, dela se
extraia pelo método de destilação o Attar, a essência de Rosas, cuja tradição de produzi-la
permanece ativa em regiões de Marrocos, França e Bulgária.
Acredita-se que chegou a Europa por um cavalheiro chamado Robert de Brie, que
voltando das cruzadas, trouxe a tão preciosa rosa cultivada pelos persas na cidade de
Damasco (daí o seu nome) para seu castelo localizado em Champagne – França, em uma
data entre 1254 a 1276. De Champagne se espalhou por toda a França e daí para outros
países. Esta seria uma história simples se não contássemos com algumas questões não
esclarecidas...
Virgílio, em Georgias, faz referência a uma rosa capaz de florir mais de uma vez ao
ano na cidade italiana de Paestum, na região de Campânia - Italia. Ora, a única rosa
conhecida capaz de florir mais de uma estação no ano, nesse período da civilização
Ocidental e Médio Oriental era a Rosa damascena bífera..., mas ela já havia chegado a
Europa antes de Robert de Brie? Outras referencias seguem em igual imprecisão até 15 de
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Novembro de 1580 quando o ensaísta Montaigne, em viagem pela Europa, chegando a
Ferrara – Itália, fez a seguinte observação: “...algumas belas igrejas, jardins e mansões
particulares, tudo pode ser chamado notável..., entre outras coisas, aos jesuítas, uma espécie
de rosa que floresce a qualquer mês do ano...”
Não é possível afirmar se a Rosa damascena bífera é na realidade uma herança dos
tempos romanos ou uma mutação da rosa trazida pelos cruzados. O fato curioso é que sua
aparição, a princípio, tem como cenário a Itália.
Em 1665, em Londres, John Rea faz finalmente uma precisa descrição da “Rosa
mensalis”, não esquecendo de citar o fato que, na Itália – e temos novamente a Itália! – esta
rosa poderia florescer sete vezes ao ano. A partir daí, seguiram-se muitas descrições da rosa
que florescia mais de uma vez ao ano, Rosa das Quatro Estações, por estudiosos ingleses,
franceses e holandeses, dando-nos a indicação de que tal rosa havia se difundido por toda a
Europa.
Algumas variedades hoje cultivadas tiveram sua origem por sementes trazidas por
viajantes do Irã para a Europa.
Os Primeiros Hibridadores
Antes de prosseguirmos nossa viagem através das principais variedades que deram
origem as rosas modernas, é necessário para o próprio entendimento, comentar um pouco
sobre os primeiros hibridadores.
Falamos algumas vezes a respeito dos híbridos naturais e mutações entre as espécies
selvagens e as variedades mais comumente cultivadas porém, é possível que muito tivesse
se perdido se não contasse com o olhar atento e a experimentação dos cultivadores muitas
vezes anônimos que selecionaram e multiplicaram muitas das variedades que naturalmente
surgiram ao longo de anos de cultivo.
Sabemos que os orientais já conheciam técnicas de melhoramento de certas plantas
fato que se comprovou com a chegada dos Europeus a China e Japão onde encontraram
centenas de variedades selecionadas e distintas das espécies selvagens. As rosas,
infelizmente, para esses povos era considerada uma flor de segunda classe, o que não
impediu que seu trabalho de seleção fosse estendido também a elas originando espécies
que vieram revolucionar a história da rodocultura com a sua chegada ao Ocidente.
Sabemos que o cultivo de rosas como flor ornamental já era feito desde os tempos
faraônicos e sem dúvida, nos Jardins Suspensos da Babilônia, haviam lá vivendo, entre
parreiras e figueiras algumas espécies de rosas.
Muitas variedades foram aparecendo e desaparecendo no decorrer da Antiguidade
até a Idade Média permanecendo, talvez, somente aquelas cujas qualidades se fizeram
realmente notáveis e queridas pelos povos.
Entrando na Renascença, na era das grandes navegações, o povo que veio a
desenvolver e adquirir a maior tradição na floricultura foram, sem dúvida, os holandeses;
estes fizeram da floricultura um lucrativo negócio e de uma flor comum, a tulipa, vinda da
Turquia, uma verdadeira mina de ouro..., mas retornando as rosas, com as explorações a
outras terras pelos mercadores e navegadores, o que era de melhor, de exótico e precioso,
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no campo da botânica e da jardinagem convergiam logo em direção aos Países Baixos e
Bélgica.
Não sabemos muito sobre as técnicas usadas pelos holandeses nessa época para a
reprodução de rosas, talvez usassem a estaquia e a enxertia como método principal mas,
com segurança, usavam o plantio de sementes na obtenção de novas variedades. Não é
difícil imaginar canteiros onde diversas espécies – usadas como matrizes – conviviam
proximamente florescendo e frutificando, seria natural que o pólem de uma espécie fosse
transportado a outra e os frutos gerados teriam pais incertos misturando todas as
características das plantas em cultivo. Muitas dessas sementes geraram mutações e novas
variedades que foram selecionadas e lançadas para a comercialização pelos antigos
viveiristas holandeses para um mercado sempre afoito por novidades.
Por volta do século XVII a Holanda podia contar com centena de variedades de rosas
derivadas das qualidades até então conhecidas: Damascenas, Centifólias, Galicas e Albas;
muitas dessas variedades ainda hoje são admiradas e permanecem em cultivo.
Apesar do esforço dos holandeses, ao que parece, nenhum cruzamento controlado havia
sido feito até meados do século XVIII e XIX.
No século XVIII uma fato veio a contribuir grandemente para o avanço da
rodocultura. Josephine Bonaparte, esposa de Napoleão Bonaparte, recebeu como possessão
uma propriedade de campo em Malmaison para que pudesse dedicar-se a sua distração
predileta enquanto a ausência do marido, a jardinagem. Movida pela paixão às flores e com
o aval e infindáveis recursos disponibilizados por Napoleão, iniciou uma importante
coleção botânica com o auxílio de uma equipe composta por artistas, botânicos,
mercadores e dezenas de jardineiros. Essa equipe conseguiu reunir mais de 250 variedades
de rosas advindas da Bélgica, Holanda assim como de diversos países da Europa ou
distantes colônias francesas além mar.
A coleção de rosas de Malmaison era mantida por André Dupont, considerado o
primeiro jardineiro a aperfeiçoar a técnica de hibridação para rosas. Sua coleção particular
contava em torno de 218 variedades.
A França, dessa forma, tornou-se o país de referência no cultivo de rosas durante o
século XIX, pátria de muitos hibridadores notáveis como Descemet e Vibert que foram
responsáveis pela obtenção de diversas variedades clássicas e o início da produção em
grande escala.
Uma outra importante contribuição para arte da hibridação foi dada pelo inglês
Bennett, ainda no século XIX; inicialmente criador de ovelhas, converteu-se em rodocultor
onde usou o conhecimento empírico em genética, utilizados com as ovelhas, para a
obtenção de novas rosas. O resultado foi a invenção da hibridação artificial controlada por
linhagens usando pais selecionados.
Retornando a história das primeiras variedades, vamos conhecer agora um pouco
das rosas que surgiram ou estiveram diretamente ligadas ao surgimento dos primeiros
hibridadores do século XIX. Antes de iniciarmos, no entanto, vamos conhecer a história de
dois homens, cada qual com a sua contribuição para a rodocultura mundial.
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A História de Jean-Pierre Vibert
Jean-Pierre Vibert é o mestre dos hibridadores de rosas do século XIX. Nasceu em
31 de Janeiro de 1777, em Paris, França. Uniu-se ao Exercito de Napoleão participando da
tomada de Nápoles no qual foi ferido. Retornado a Paris abriu uma loja de ferragens,
proxima ao local onde André Dupont – responsável pela coleção de Josephine Bonapart –
havia estabelecido o seu rosarium. A proximidade ao estabelecimento de Dupont despertou
em Vibert o interesse na criação de rosas.
Contemporâneo a Vibert, o médico Descemet dedicava-se também a criação de
novas variedades de rosas. Após o final das guerras napoleônicas, os inimigos do novo
governo tiveram que se retirar da França, entre eles Descemet que partiu para o estrangeiro
vendendo suas propriedades para Vibert, entre estas o seu rosarium.
Entre 1816 a 1851, criou centenas de variedades a partir das já existentes. Seu
trabalho como hibridador abrangeu a criação de Rosas Chinesas, Chá, Galicas, Centifolias,
Musgos e Damascenas. Muitas das quais são inda hoje cultivadas nos jardins ao redor do
mundo. É impossível falar sobre a história das rosas antigas sem falar o nome “Vibert”.
Perto de sua morte, enquanto organizava seu buquê diário de rosas, disse a seu neto:
“Veja minha criança, um homem sabe o que melhor amou na vida quando esse amor ,
mesmo nos ultimos dias ainda permanece em seu coração. Como todo mundo, amei e
destestei muitas coisas. Na realidade só amei a Napoleão e as rosas. Hoje, depois de quase
um século de subversão, somente duas coisas me suscitam o ódio profundo: o inglês que
subverteu meu ídolo e os vermes que destruíram minhas rosas”. Faleceu em 27 de janeiro
de 1866.
A História de Robert-Fortune
Robert-Fortune foi um escocês, nascido em 1812. Foi nomeado coletor botânico da
Horticultural Society of London. Fez diversas viagens ao Oriente entre 1843 a 1860,
passando pela China, India, Filipinas e Japão de onde trouxe para a Europa mais de 120
novas espécies de plantas.
Muitas das plantas adquiridas por Fortune eram proveniente de jardins particulares,
como os “Jardins do Mandarim” – em Ning-po, China, visitados por ele no outono de 1843,
ou as estufas localizadas na região de Yokohama (Yedo), no Japão e Estufas Qiuxia
estabelecidas em Jiading, distrido de Shangai – China, construidas em 1502 no 15 ano do
reinado de Hongzhi Reign na Dinastia Ming permanecendo em atividade nos dias de hoje.
Fortune observou:
“Eu não perdi tempo visitando os afamados “Jardins Fa-tee”, perto de Cantão...um grande
numero de finas plantas foram aí produzidas antes de decorar os jardins da Inglaterra...”
“As plantas são inicialmente cultivadas em vasos, arranjadas em círculos ao redor de um
pavimento circular a entrada das casas dos casas dos jardineiros onde o visitante passa.
Aqui há uma dúzia desses jardins, maiores ou menores em extensão de acordo com as
posses dos proprietários, porém geralmente são pequenos, menores que dos
estabelecimentos de Londres. Também possuem locais onde diferentes estacas de plantas
são plantadas diretamente no solo...”
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Muitas rosas trazidas por Fortune a Europa hoje recebem seu nome em sua homenagem
como por exemplo: Rosa x fortuniana, Fortune’s Five-colored rose, Fortune’s Double
Yellow.
A Rosa de Portland
A Rosa damascena espalhou-se pela Europa chegando até a Inglaterra. Em Portland
surgiu uma variação distinta, provável cruzamento com R. gallica.
Em ocasião da formação da coleção de Josephine Bonaparte, um exemplar dessa rosa foi
levado a França, proveniente de Portland ao que veio receber a menção de Rosa
Portlandica, Damascena portlandica ou simplesmente “Duquesa de Portland” em
homenagem à Lady Margaret Cavendish (1715 – 1785), Segunda Duquesa de Portland.
Esta rosa, assim como a Rosa damascena bifera, tinha a capacidade de florescer
diversas vezes ao ano e deu origem a uma nova classe de rosas, as primeiras rosas, antes da
chegada da rosas chinesas, a florescer continuamente.
As Rosas Chinesas
Alguns autores costumam classificar a história das rosas dividindo-as em anteriores
ou posteriores as rosas chinesas. A causa dessa divisão deve-se ao fato que, antes da
chegada das rosas chinesas na Europa, somente algumas poucas rosas, descendentes da
Rosa damascena bifera e de Portland, tinham a capacidade de florir mais de uma vez ao
ano.
Após a formação do grande jardim de Malmaison, houve uma grande febre por
novas variedades de flores, sobretudo rosas, e muitos comerciantes e viajantes que
estendiam seus negócios às colônias mais distantes, começaram a trazer de lá novas plantas
até então nunca vistas na Europa. Entre as novas espécies, a primeira roseira da China a
chegar foi a chamada “Slater´s Crimson China” em 1792, em seguida “Parsons´ Pink
China” – 1793, “Hume´s Blush China” – 1809 e “Park´s Yellow Tea Scented China” –
1824; provavelmente adquiridas em um viveiro localizado no Cantão (Kwangdong)
denominado Fa-Tee (Terra das Flores).
Entre as características herdadas das rosas chinesas pelas rosas modernas estão:

Repetição de florescimento durante todo o ano, até mesmo nos meses mais frios;

Flores com cores que, ao passar dos dias, escurecem em vez de desbotar;

Perfumes que fazem lembrar ao chá ou a especiarias.

Botões florais alongados da forma comum as rosas modernas.
As Rosas Amarelas da Pérsia
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Antes de falarmos dos híbridos surgidos com a introdução das rosas chinesas, faz-se
necessário mencionar as rosas amarelas de origem persa, atual Irã.
Sabemos que a Rosa damascena e a R. gallica tiveram, segundo a tradição, origem
na Terra Santa e Pérsia (Irã), contudo outras rosas tiveram igual procedência e grande
influência na criação de novos híbridos a partir do século XIX, principalmente na busca
pela rosa amarela ideal.
No século XIII e XV, proveniente da Ásia Menor, chegou a Europa a chamada R.
foetida “Austrian Yellow” não muito cultivada pela dificuldade no trato e pelo cheiro
desagradável de suas flores (por isso “foetida” ou fétida). A rosas foetida recebeu o nome
popular de “Austriam Yellow por ter sido introduzida na Holanda através de mudas
provenientes de Viena capital da Austria inda na Idade Média pela mãos dos mouros.
Durante muito tempo a única grande rosa amarela a florir na Europa foi a chamada
Rosa hemisphaerica, ou Rosa sulphurica. Esta rosa foi relatada pela primeira vez em 1625,
porém seu cultivo era desencorajado pelo seu pouco vigor nas terras frias da Europa; muitas
vezes suas flores não abriam-se completamente e a planta desvanecia-se pelo ataque de
fungos.
Em 1838, proveniente do Irã, foi introduzida por Harry Wilcok a chamada Rosa
foetida persiana – variante da antiga Rosa foetida – que veio a ser denominada “Persian
Yellow”.
A Rosa Bourbon
Por volta de 1800 a 1810 esteve em moda entre os habitantes da Ilha Bourbon –
atual Ilha Reunião – no Oceano Indico, a formação de cercas vivas para a demarcação das
propriedades. Plantava-se do lado de um proprietário a Rosa damascena bifera e do outro a
variedade chinesa “Parson´s Pink China”.
Um certo Monsieur Edouard Perichon encontrou, enquanto plantava uma daquelas
cercas vivas, uma planta diferente, meio termo entre as duas variedades cultivadas. Essa
rosa foi propagada e recebeu o nome local de Rosa Edouard.
Em 1819 em viagem a Ilha Bourbon, o francês Monsieur Breon veio a conhecer essa
rosa que despertou seu interesse. Breon enviou a Antoine Jacques, jardineiro do Duque de
Orleans, em Neuly, próximo a Paris, sementes da Rosa Edouard as quais cinco brotaram na
primavera de 1820 e duas delas “floriram e refloriram” em 1821.
Em 1821, Breon enviou para o Monsieur Neumann algumas estacas da original
Rosa Edouard; estas estacas foram cultivadas nas estufas do Jardim das Plantas em Paris de
onde se difundiram sob o nome de “Neumann” ou “Rosa Neumann”.
Na mesma época, Dubreil, produtor de rosas na cidade de Rouen obteve a variedade
e distribuiu como “Rosa Dubreil” ou “Dubreil”.
Apesar dos três nomes que veio a receber, a rosa original passou para a história
como a “Rosa da Ilha Bourbon” , “Rosa Bourbon” ou “Rosa Edouard”.
Julgava-se estar essa rosa extinta mas foi reencontrada na Índia onde havia sido
introduzida pelos colonos europeus no início do século XX e desde então havia
permanecido em cultivo crescendo até mesmo espontaneamente. Foi reintroduzida no
mercado europeu e hoje é comercializada sob o nome de “Rosa Edouard”.
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Rosa Chá
Em 1824 chegava e Europa uma rosa de origem chinesa que recebeu a denominação
“Park´s Yellow Tea Scented China”, isto é: “A Rosa Chinesa de Park com Cheiro de Chá”.
Recebeu essa denominação por suas flores terem um perfume semelhante ao de uma
lata de chá preto recém esvaziada.
Esta rosa, Rosa oderata ochroleuca – provavelmente um híbrido natural entre Rosa
chinensis e Rosa gigantea – tem hábito semi-escandente, possui flores grandes, semi
dobradas e de cor amarelo pálido e florescimento contínuo.
A novidade foi rapidamente experimentada pelos hibridadores franceses dando
origem as chamadas Híbridas de Chá. Muitos hibridadores direcionaram seus esforços na
intenção de cruzar as populares variedades em cultivo à nova planta.
O primeiro Híbrido de Chá foi introduzido em 1835 na Inglaterra sob o nome de
Adam, outros creditam o primeiro híbrido de chá ao francês Jean Batiste Guillot, com a
criação de “La France”. O principal ponto a se considerar é que, seja na França ou Reino
Unido, o surgimento do chamado “Hibrido de Chá” deu origem ao primeiro grupo de rosas
“modernas”, de beleza e características gerais distintas das rosas antigas; hoje a grande
maioria das rosas comercializadas são descendentes ou pertencem a esse grupo.
Rosa Noisette
Em meados de 1800 John Champneys, de Charleston na Carolina do Sul – EUA,
obteve através do cruzamento entre R. moschata e Parson´s Pink uma variedade de
crescimento robusto e cachos de pequenas flores cor-de-rosa e suavemente fragrantes que
recebeu o nome de Champney´s Bengale Rose ou Champney´s Pink Cluster, dando origem
a uma nova classe de rosas, as chamadas chamadas rosas noisettes. Por que noisettes?
Champneys tinha como visinho o senhor Philippe Noisette, para quem deu algumas
sementes de sua rosa. Dessas sementes Philippe Noisette obteve uma variedade similar a
de Champneys, porém com flores dobradas. Philippe Noisette era irmão de um dos maiores
viveiristas de Paris na ocasião a quem enviou algumas sementes e estacas da rosa que havia
conseguido.
Por volta de 1815 essas rosas passaram a ser comercializadas em Paris recebendo a
denominação de “As Rosas dos Noisettes” ou simplesmente “Rosa Noisette”.
Híbridos Perpétuos
Os Híbridos perpétuos foram um pré-estágio antes da criação dos Híbridos de Chá e
das rosas modernas representando a junção dos diferentes tipos de rosas produzidos até
1820: Chinesas, Bourbons e Noisettes com as populares Damascenas perpétuas, sendo que
o primeiro membro dessa classe surgiu em 1829 recebendo o nome de “Hybride Remontant
à Bois Lisse”.
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São caracteristicamente planta de crescimento irregular entre o arbustivo e o
escandente, produzindo grandes flores repolhudas no final de hastes extremamente longas e
arqueadas.
O surgimento dos Híbridos perpétuos deu-se numa época em que começava-se a
surgir um novo ideal de beleza para as rosas; deixava-se para traz as formas variadas a
vaporosas das centifolias, damascenas e bourbons para adotar um padrão que havia surgido
com a introdução das rosas da China, isto é, a flor perdia pétalas mas ganhava cores fortes
em um botão alongado e de desenvolvimento perfeito. Alguns hibridadores como Laffay
produzia em seus viveiros mais de 200.000 mudas através de sementes em busca da flor
perfeita.
A flor perfeita seria aquela que ganharia prêmios em campeonatos – muito
populares – onde fazia-se julgamento através de algumas rosas cortadas e acondicionadas
em vasos, sem levar em conta a planta como um todo. Sem valorizar a forma e os hábitos
de crescimento, os hibridadores passaram a preocupar-se apenas com a flor, esquecendo até
mesmo o perfume. Muitos apontam este o início do declínio da beleza das rosas para uma
padronização quase industrial.
O resultado foram plantas em arbustos desinteressantes onde as flores surgem
continuamente quase sempre solitárias.
Rosas Pernetianas
“Você tem quase tudo dela, o mesmo perfume, a mesma cor, a mesma rosa amarela, só
não tem o meu amor...” – Capiba – Carlos Pena Filho
Os híbridos obtidos com as rosas chinesas já haviam introduzido novas sombras
amarelas entre as rosas européias mas ainda não havia se obtido, sob o novo padrão de
beleza, uma rosa de amarelo vivo e florescimento contínuo.
Pernet-Ducher, produtor francês da cidade de Lyon, direcionou seus esforços em
busca dessa rosa amarela, iniciando em 1890 suas experimentações com a Rosa foetida.
Pernet-Ducher teve seu esforço coroado em 1900 com a obtenção, através do
cruzamento entre R. foetida, de amarelo vivo, e “Antonio Ducher” – um híbrido perpétuo
de cor púrpura avermelhado – a variedade “Soleil d´Or”, cuja cor variava do amarelo ouro
ao rosado, de tonalidades muito mais vivas em amarelo que as obtidas em cruzamentos com
a Rosa chá.
As rosas obtidas a partir de “Soleil d´Or” foram denominadas “Pernetianas” em
homenagem ao seu criador. Essa classificação, mais tarde, veio a extinguir-se
amalgamando-se as Híbridas de chá.
As Rosas pernetianas herdaram da Rosa foetida sua sensibilidade as doenças
originadas por fungos, dando origem a plantas fracas além de que, como o próprio nome
sugere as flores da Rosa foetida possuem um odor estranho, para muitos desagradável e que
nas pernetianas deram lugar a uma ausência de fragrância. Em troca da cor amarela muitas
rosas perderam também seu perfume.
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Poliantas e Floribundas
Em 1862 foi introduzida, proveniente do Japão, a Rosa multiflora. Essa rosa
selvagem tem hábito escandente, com flores singelas, geralmente brancas, compondo
pequenos cachos perfumados.
Em 1869 os Gillot fills e Rambeaux, produtores da cidade de Lion - França,
semearam algumas sementes de Rosa multiflora obtendo uma produção heterogênea, com
plantas muito diferentes das que lhe deram origem. A partir daí foi feita uma seleção das
variedades mais interessantes para um futuro trabalho de hibridação. Entre as variedades
selecionadas havia uma com flores semi-dobradas que deu origem – em 1875 – à primeira
Polianta que veio a receber o nome de “Paquerette” .
A partir de “Paquerette” outros híbridos foram criados através do cruzamento das
Poliantas puras (sementeira da R. multiflora) com as roseiras em cultivo na ocasião dando
origem a roseiras das mais variadas cores, escandentes e produzindo cachos de flores
perfumadas e botões perfeitos.
Entre os anos de 1910 a 1920 as Poliantas passaram as ser cruzadas com os Híbridos
de Chá dando origem a um segundo grupo denominado Floribundas. As Floribundas tem
características muito próximas as Híbridas de Chá distinguindo-se pela formação de mais
de um botão floral na haste.
Rosa Multiflora
É importante lembras que, antes de Gillot, a Rosa multiflora já havia sido usada
como material de hibridação, iniciado em 1893 com a introdução de Turner´s Crimson
Rambler.
R. Wichuraiana
A R. wichuraiana foi trazida do Japão em 1981 pelo botânico alemão Dr. Wichura.
Alguns exemplares dessa nova espécie foram levados para a França e América do Norte
onde iniciaram-se os trabalhos de hibridação.
Muitos atribuem ao produtor francês René Barbier os primeiros híbridos envolvendo
R. wishuraiana, porém há quem afirme que antes de Barbier esta rosa já vinha sendo usada
por alguns viveiristas americanos, entre eles Mr. Horvarth que havia experimentado o
cruzamento dessa rosa com Poliantas e Chinesas.
Alguém, conhecedor do trabalho realizado por Mr. Horvarth, teria informado
Barbier sobre os interessantes resultados obtidos com a R. wichuraiana, despertando-lhe o
interesse nesse tipo de cruzamento.
René Barbier importou então, da América do Norte, para as suas estufas localizadas
em Orleans – França – as primeiras mudas de R. wishuraiana com as quais conseguiu
híbridos, alguns dos quais são ainda hoje populares.
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Rosas Almíscar / Mosquetas
As Rosas almíscar surgiram do trabalho de um padre, Reverendo Joseph Pemberton.
Pemberton dedicou 12 anos após a sua aposentadoria ao cultivo das rosas, encorajado pela
sua irmã.
O foco de seu trabalho foram os híbridos derivados da R. moschata a partir do qual
criou vigorosas roseiras, escandentes e cujas flores possuíam perfumes que lembravam o
almíscar.
O trabalho iniciado por Pemberton seguiu, mesmo após a sua morte em 1926, por
seus jardineiros, os Bentalls.
Os Híbridos almíscar tem como característica, além de seu perfume, a robustez e as
flores que, em grande parte, são de cores suaves variando do branco-marfim às diversas
sombras de amarelo pálido ao rosa vivo; muitas dessas variedades não possuem espinhos.
A Rosa Miniatura
A história das rosas miniaturas começa por volta de 1810 quando a Inglaterra tomou
da França as Ilhas Mauricius localizada próximo a Ilha Reunião, no Oceano Indico.
Botanistas ingleses descreveram, entre outras preciosidades da flora local, roseiras
pequenas e delicadas desconhecidas na Europa. Essas plantas foram levadas pelos ingleses
e provavelmente pelos franceses em seu regresso à Europa passando essas roseiras a crescer
nos jardins da Inglaterra e França. Despertava simplesmente o interesse como uma espécie
botânica exótica.
Desconhece-se a razão mas estas rosas foram esquecidas e seu cultivo na Europa
parece ter extinto até 1917 quando foi “redescoberta”. Segundo a versão mais aceita, em
1917, Henri Correvon encontrou uma pequena roseira crescendo num vaso no parapeito de
uma janela em Mauborjet, aldeia suíça localizada e 1176 metros de altitude. Henri
Correvon informou seu amigo, o oficial do Exercito Suíço, coronel Roulett, sobre o que
havia encontrado e que poderia interessar-lo como jardineiro amador. Roulett obteve
algumas estacas da pequena roseira das quais produziu algumas mudas. A partir daí essa
pequena variedade passou a ser difundida e já em 1920 poderia ser adquirida no Mercado
de Flores de Paris sob o nome de Rosa rouletti.
Em 1930 o hibridador Pedro Dot, na Espanha, necessitando juntar-se as tropas na
Guerra Civil Espanhola, direcionou suas habilidades, antes aplicadas as rosas maiores, as
miniaturas que poderiam ser facilmente transportadas. Seu trabalho criou muitas boas
variedades até hoje produzidas e comercializadas.
Nessa mesma época, em 1930, o produtor holandês Jan de Vick, criou várias
variedades a partir da original Rosa roulettii. Muitas de suas criações passaram a ser
comercializadas a partir de 1933. Entre elas está “Tom thumb” ancestral de muitas das
miniaturas modernas.
A partir de 1936 essas pequenas rosas passaram a ser criadas pelo senhor Half
Moore, que ainda hoje desenvolve seu trabalho nesse sentido introduzindo nesse grupo as
listras e o musgo criando a sub divisão das “miniaturas musgosas”.
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Outros Grupos
O trabalho de hibridação desde o aperfeiçoamento da técnica por André Dupont e a
introdução das novas espécies trazidas de outros países fora da Europa gerou tal quantidade
de pequeno grupos que se torna difícil menciona-los todos. Cada hibridador tentou adaptar
seu gosto pessoal, suas necessidades e disponibilidades quanto a material genético na
criação de novas rosas. Outros grupos surgiram e desapareceram porém deixando sua
herança genética aos grupos que os sucederam. Vejamos alguns:
Rosa Ágata
Foram híbridos antigos, anteriores a introdução das rosas chinesas, possivelmente
cruzamento entre Rosa damascena e Rosa francofurtana (Rosa gallica x Rosa majalis ).
Muitas vezes esse grupo é incluído entre as gálicas.
Rosa Rugosa
A rosa rugosa é nativa da Ásia, encontrada em estado selvagem na China, Japão,
Coréia e Sibéria. Foi introduzida na Europa em 1976 pelos viveiristas Lee e Kennedy de
Hammersmith. Foi muito usada em hibridações durante a Era Vitoriana.
Os híbridos originados da Rosa rugosa são quase imunes a doenças e adaptáveis aos
mais diversos tipos de solo e clima, tolerando desde invernos congelantes a climas de calor
em condições marítimas, tendo tolerância inclusiva a terras salobras.
A planta caracteriza-se pelas folhas de aspecto rugoso (daí o nome) e por flores
quase sempre singelas em cores derivadas do púrpura e escarlate que exalam um perfume
que faz lembrar o do cravo. Após a floração surgem os frutos arredondados, semelhantes a
pequenos tomates, em tons acobreados ao vermelho vivo, muito ornamentais. O caule é
quase sempre lenhoso, coberto por numerosos espinhos finos e alongados.
Foi objeto de muitas hibridações nas mãos de Cochet-Cochet, nos idos de 1900 no
Roseiral de Häy – França – de onde obteve-se excelentes plantas como: Blac Double de
Coubert e Roseraie de L´Häy.
Rosa Canina
A Rosa canina tem seu nome em virtude de acreditaram, na Idade Média, ter
virtudes medicinais eficazes ao ataque de cães.
Natural da Europa, as folhas dessa roseira selvagem, quando tocadas ou maceradas,
exalam um perfume semelhante ao da maçã-verde. Essa qualidade despertou o interesse de
alguns hibridadores como o autro-hungaro Geschwind e Lord Penzance de Edimburgo, no
final do século XIX. Esse dois homens criaram híbridos muito interessantes entre Rosa
canina e Híbridos de Chá e Perpétuos. A principal característica desses híbridos são as
flores pequenas e singelas entre uma folhagem robusta e perfumada, principalmente após as
chuvas.
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Rosa banksieae
A Rosa banksiae foi introduzida no Ocidente em 1807, procedente da região central
da China onde nasce espontaneamente. Recebeu esse nome em homenagem a esposa do
diretor do Kew Garden – Inglaterra, Sir Joseph Bank´s, Dorotheia. Inicialmente era
denominada Lady´s Bank´s Rose.
Esta espécie é considerada uma das mais vigorosas e distinguida por seus longos
galhos sem espinhos que cobertos por folhas pequenas, alongadas e brilhantes. As flores
perfumadas são efêmeras e surgem por volta do mês de agosto (no Brasil), em tons amarelo
pálido ou branco.
Há registros de trabalhos de hibridação com R. banksiae por volta de 1920 e
posteriormente em meados de 1950, ambas as tentativas em cidades italianas. A primeira
por Dr. Atílio Ragionieri – Florença – que cruzou a R. banksiae com algumas Híbridos de
Chá de onde obteve plantas semelhantes a R. banksiae, com flores perfumadas e efêmeras.
O segundo registro de cruzamento com R. banksia foi em São Remo, por Quinto
Mansuino através do cruzamento com miniaturas (Tom Thumb) foram obtidas plantas
compactas, algumas sem espinhos em forma de pequenas cascatas compostas por flores
pequenas, dobradas e perfumadas.
Em ambos os casos não foi registrado o florescimento continuo ou reflorescimento
em segunda estação.
Existe uma variedade próxima a Rosa banksiae, provavelmente um híbrido natural
entre esta e R. laevigata, trata-se da Rosa fortuniana, trazida da China por Robert Fortune
no século XIX.
Rosa sulfulta
A Rosa sulfulta é uma espécie nativa do Norte da América do Norte, Canadá indo
até o Alaska. É uma planta pequena mas extremamente resistente a seca e aos invernos
congelados da região polar. Sua planta é compacta, de folhas pequenas e espinhos agudos
cobrindo o caule, suas flores singela variam do pink ao rosa pálido.
A partir da década de 1940, a Rosa sulfulta foi objeto de interesse dos hibridadores
canadenses como Percy H. Wright e F. J. Skinner que a usaram para a obtenção de
variedades de grande resistência a condições adversas do inverno canadense.
Existem muitos pequenos grupos desenvolvidos a partir do cruzamento entre
variedades híbridas e/ou espécies selvagens, muitas vezes como um passo para a obtenção
de determinadas variedades como forma de obtenção e transmissão de características
genéticas. A título de ilustração, citemos alguns desses cruzamentos:
Harrison´s Yellow (Rosa harisonii) = Rosa spinosissima x R. foetida – criada em 1830 por
Mr. Harison de Manhatan – EUA.
Agnes = Rosa Rugosa x Rosa foetida persiana – Criada pelo canadense Saunders em 1922.
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American Pilar = (Rosa wichuriana x R. setigera) x H. Perpétuo. – Introduzida em 1902 por
Dr. Walter Van Fleet de Maryland – EUA.
Belle Portugaise = R. gigantea x Reine Marie Henriette – Criada em 1903 por Cayeux em
Portugal.
Dupontii = Rosa gallica x Rosa moschata – supostamente criada por André Dupont em
Paris, por volta de 1817.
Empress Joséphine (R. francofurtana, R. turbinata) = Rosa gallica x R. cinnamomea. –
Surgiu em meados do século XIX.
Geranium = (Rosa moyesii -cultivar) – surgiu em 1938 através do trabalho de seleção de
mudas de R. moyesii.
Golden Chersonese = Rosa ecae x R. xantina – surgiu em 1963 através do trabalho de E. F.
Allen.
Lady Cuzon = Rosa macrantha x Rosa rugosa rubra – Produzida em 1901 pelo inglês
Turner.
Máster Hugh = (Rosa macrophylla – cultivar) – introduzida em 1966 por Maurice Mason a
partir de sementes coletadas na China.
Max Graf = Rosa rugosa x Rosa wichuriana – introduzida em 1919 por James H. Bowdich
em Conecticut – EUA.
Paulii = Rosa arvensis x Rosa rugosa – creditada ao inglês Willian Paul no início do século
XX.
Scheezwerg = Rosa rugosa x Rosa bracteata – creditada a Peter Lambert em 1921.
Scotch Yellow = (Rosa pimpinelifolia – cultivar) – de origem incerta.
Sir Cedric Morris = Rosa rubrifolia x Rosa mulligani – híbrido espontâneo descoberto por
Sir Cedric Morris em 1979.
Dart´s Defender = Rosa nítida x Rosa rugosa – Criada em 1971 por Dart´s Huis.
Walter Butt = Rosa Rugosa e Rosa roxburghii – obtido em 1954.
Rosas Modernas
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Não é uma tarefa fácil falar sobre as novas criações no referente ao cultivo de rosas.
Hoje em dia temos hibridadores espalhados ao redor do mundo, sobretudo no Hemisfério
Norte abrangendo desde os Estados Unidos, Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente.
Temos e núcleos e sociedades de hibridadores em países como Índia e Israel e cada qual se
dedica em criar variedades que mais adaptem-se as suas exigencias climáticas e de
mercado, consistindo aí, sobretudo, o foco de maior atenção; a grande maioria dos
hibridadores ainda concentram suas produções acondicionadas nos padrões da “rosa
perfeita para o mercado” sobretudo hibridas de chá. No entendo, temos algumas novidades
que merecem destaque, a exemplo das rosas criadas por David Austin e uma nova
linhagem de rosas derivadas das primeiras rosas “de crista”, criadas por Moore, bem como
as criações dos híbridadores dos países nórdicos que usam como base rosas selvagens
nativas como Rosa rugosa, Rosa espinosissima e Rosa pinpinelifolia.
Rosas Inglesas ou Rosas de David Austin
As Rosas inglesas foram criadas pelo hibridador inglês David Austin tendo início
por volta de 1965, motivado pela insatisfação em relação as modernas híbridas de chá e
poliantas comerciais.
Inicialmente adquiriu algumas mudas do viveirista George Bunyard que
comercializava rosas antigas e dispunha de um pequeno catálogo dessas variedades.
Através do cuidadoso trabalho de hibridação e seleção, David Austin introduziu no
mercado atual dezenas de variedades que unem as qualidades das rosas modernas e antigas
em uma só planta.
A primeira rosa desse novo grupo foi “Constance Spry”, cruzamento entre “Dainty
Maid” – floribunda – e Belle Isis – gallica.
As Rosas Misteriosas de Bermuda
As rosas de Bermuda são rosas encontradas nessa ilha do Pacífico, provavelmente
mutações de híbridos conhecidos e variedades antigas esquecidas pelos cultivadores
europeus.
Muitas dessas rosas foram encontradas em jardins de escolas, templos e cemitérios
onde cresceram quase abandonadas durante décadas até serem notadas e propagadas pelas
novas gerações de cultivadores.
Em sua nomenclatura uma característica comum é a citação do nome da variedade
originária ou o nome do primeiro cultivador na Ilha como, por exemplo: Aunt Jane´s
Mistery, Bermuda´s Anna Olivier, Bessie´s Roses, Dan´s Rose, Smith´s Parish.
GENETICA VEGETAL
Enveredar-se pelos caminhos da genética vegetal é como enveredar-se numa selva;
se você tem um guia competente terá grandes possibilidades de chegar ao outro lado, ileso e
satisfeito por ter tomado contato com esse mundo maravilhoso. Por não ser um guia muito
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apto para servir de guia de jornada a outras pessoas, atenho-me apenas a tentar passar aquilo
que sei a respeito e da maneira mais simples. Caberá ao leitor interessado aprofundar-se
nessa “selva” e descobrir suas maravilhas ou contentar-se apenas a “olhar de longe”.
Primeiramente vamos lembrar algumas regras simples relacionadas a herança
genética e formulada pelo Monge Gregório Mendel.
Mendel descobriu em suas investigações, usando ervilhas como objeto de estudo,
que ambos os pais são responsáveis pela transmissão das características genéticas e que
estas características podem ser recessivas e dominantes, isto é: características que, em
conjunto, se sobrepõe as mais fracas.
Num cruzamento entre dois indivíduos diferentes, na primeira geração as
características dominantes costumam ser na ordem de 3:1, isso é, supondo-se que a cor
vermelha é dominante e a branca recessiva, num cruzamento teremos 3 vermelhos para 1
branca.
Mendel notou que, numa segunda geração, os indivíduos portadores de
características dominantes (vermelhos) produziam descendentes recessivos (brancos)
provando que o fator genético recessivo não havia sido anulado e sim sobrepujado na
primeira geração e voltando a manifestar-se na segunda.
Apesar do exemplo simples, usando apenas duas possibilidades para característica
do indivíduo (branco ou vermelho), temos que considerar que a mais simples das plantas é
composta pela combinação de centenas e porque não, milhares de características. Para isso
vamos recordar as observações feitas pelo botânico holandês Hugo de Vriers.
Em 1886, Vriers aventurava-se por um campo próximo de Amsterdan quando
encontrou um colônia de plantas ornamentais – Oenotheras lamarquianas – que haviam
escapado do cultivo (já que eram espécie nativa dos EUA) e cresciam agora em estado
selvagem. Essas plantas haviam crescido e multiplicado-se sem a interferência humana e
dessa forma desenvolvido variantes, duas das quais foram notadas e selecionadas por
Vriers.
Vriers coletou algumas sementes com as quais produziu numerosas plantas através
de gerações consecutivas. Num total de 50.000 indivíduos, Vriers obteve cerca de 800
“mutantes” compreendido entre 7 tipos característicos.
De acordo com a observação de Vriers, a cada geração é produzido uma série de
indivíduos mutantes com características diferentes dos pais, podendo essas características
difundirem-se e preservarem-se dando origem ao longo de sucessivas gerações a uma nova
espécie.
Á teoria de Vriers – “Teoria da Mutação” – podemos encaixar a teoria da “Seleção
Natural” de Charles Robert Darwin (1809 – 1882) onde a mutação é explicada pela
necessidade de preservação da vida, comum a todos os seres vivos, onde somente os
indivíduos mais aptos a determinadas condições sobrevivem e geram descendentes. As
diferentes condições de vida impostas aos indivíduos despertam ou anulam característica.
No caso da hibridação artificial as determinantes estão entre os critérios do próprio
hibridador.
As características que o indivíduo herdará são transmitidos através dos
cromossomos. Cada ser vivo tem um numero determinado e característico de cromossomos
e, por sua vez, cada cromossomo contém milhares de unidades menores de informação que
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são os chamados gens. De uma forma simplificada, cada gen é responsável por uma
determinada característica do indivíduo e o conjunto dessas características forma o genoma
que é a “bagagem” genética que irá determinar o que e como o indivíduo será.
Para a reprodução os seres produzem células chamadas gametas. Cada gameta
possui (usualmente) metade do numero de cromossomos que dará origem ao novo ser; essa
informação precisa ser completada com a união de uma segunda parte encontrada no
gameta do segundo pai, isso é, a união do gameta feminino ao masculino (o óvulo e o
pólem).
Após a união dos gametas, temos um par de cromossomos que são característicos de
todas as células que formarão o indivíduo porém, cada ser tem um numero determinado de
cromossomos. A rosa mais simples tem 14 cromossomos sendo seu numero base
(transmitido por cada gameta) 7.
Completado o numero de cromossomos dentro do óvulo, inicia-se a divisão celular.
Nesse processo a informação contida nos cromossomos, no DNA, é “lida” como um
manual de montagem para o novo ser. Se a leitura é feita errada, ou mal entendida, o novo
ser será adverso dos pais. O produto dessas mudanças ou erros de leitura são as mutações.
As mutações podem ocorrer por :
EXCLUSÃO: uma parte do cromossomo é eliminado faltando parte da informação.
ADIÇÃO: parte do cromossomo se repete aumentando a informação.
SUBSTITUIÇÃO: uma parte da informação é trocada por outra.
TRANSLOCAÇÃO: parte de um cromossomo extinto junta-se a outro aumentado a
informação.
Na floricultura em geral, as mutações sempre foram bem vindas criando novas
possibilidades aos produtores. Muitas vezes os próprios produtores lançaram (e lançam)
mão de recursos para forçar essas mutações. Alguns desses recursos são: radiação, infecção
viral e uso de substancias químicas como a colchicina.
MUTAÇÕES NOTÁVEIS
Musgo
Já mencionamos a Rosa centifolia musgosa, porém o mesmo fenômeno do musgo é
comum a outras variedades.
Em 1835 o hibridador Laffay selecionou, numa sementeira de Rosa damascena
bifera, uma planta cujo cálice e até mesmo as folhas eram cobertos por glândulas – o
musgo. Essa rosa foi difundida com o nome de “Quatre Saison Blanch Mosseaux” ou
Roseira de Thionville. Posteriormente, essa variedade veio a originar o grupo das Perpétuos
musgosas, sendo a primeira variedade desse novo grupo a ser introduzida pelo francês
Mauget – de Orleans – em 1844.
Pelo final da década de 1960, o hibridador Half Moore iniciou um trabalho para
introduzir o “musgo” nas rosas miniaturas. Observou entre outras coisas que o fator musgo
apresenta-se em diferentes níveis o que classificou como “duro” e “macio”.
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Num cruzamento, o fator musgo é dominante e os cruzamentos são melhores sucedidos
quando um dos pais não apresenta esse fator.
Half Moore introduziu a primeira rosa musgosa miniatura por volta de 1972 sob o
nome de “Fairy Moss.
Rosa Musgo de Crista ou Chapéu de Napoleão.
Essa rosa foi introuzida por Vibert em 1826, foi descoberta por volta de 1820
crescendo no vão de uma velha parede em Fribourg – Suíça. É em quase todos os aspectos
semelhante a Rosa centifolia original, porém tem em seu cálice uma espécie de “crista”
formada por um “musgo” semelhante a pequeninas folhas.
Durante mais de um século a partir de sua introdução, não foi usada por nenhum
hibridador como possível parente num cruzamento pois era considerada estéril, não
produzindo anteras ou pistilos contendo pólem viável.
Por volta de 1996, Half Moore recolhendo um grande numero de flores, conseguiu
algumas poucas anteras e uma quantidade mínima de polens de uma planta de “musgo
cristata”.Com esse polém fecundou alguns Híbridos de Chá na esperança de conseguir
algumas sementes.
Em 1999, Half Moore viu florescer pela primeira vez uma das 7 mudas conseguidas
das sementes tendo “musgo cristata” como pai. Tratava-se de um híbrido entre Little
Darling e Musgo Cristata que veio a receber o nome de “Crested Jewel”. Essa nova
variedade produz sementes e pólem e permitiu dessa forma a continuidade dos trabalhos de
obtenção de novos híbridos de crista. Atualmente outros hibridadores como Paul Braden,
desenvolvem híbridos “de crista” à partir daqueles criados por Moore.
Rosa rajadas ou listradas
O padrão de listras é comum em muitas variedades de rosas. Segundo alguns
estudiosos, a maioria das rosas listradas tem essa padronagem devido a infecção de um
determinado vírus; o mesmo vírus responsável pelas listras em tulipas e camélias.
Muitas rosas foram atacadas por esse vírus produzindo exemplares diferentes dos
originais. Alguns exemplos são: Variegata di Bologna (mutação de Victor Emmanuel);
Panachée de Lyon (mut. Rosa du Roi); Vick´s Caprice (mut. Archiduchesse Elisabeth
d´Autriche).
A evidencia da influência viral teve sua confirmação quando algumas rosas, no
processo de reprodução in-vitro, foram submetidas a um tratamento para a eliminação de
certos vírus nocivos. O resultado foi que, com a eliminação dos vírus foi eliminada também
a presença das listras.
Ao que tudo indica, o vírus é passado através das células reprodutivas,
principalmente através do pólem na hora da fecundação.
Outra causa do padrão de listras deve-se ao mesmo tipo de mutação da variegação das
folhas que veremos a seguir.
Variegação:
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Nesse mutação, as folhas apresentam ausência de pigmentação em certas áreas
criando listras amarelas e brancas. Isso ocorre devido ao fato de que o gene responsável
pela coloração das folhas é “silenciado” (epigenético) no caso de uma planta herdar duas
cópias “silenciadas” do gene da coloração, este não se manifestará. Se em outro caso a
planta receber um gene “ativo” e um “silenciado”, a característica transmitida por esses
genes torna-se incerta podendo hora manifestar-se, ora silenciar-se, causando a variegação.
Esverdeamento das Flores
As flores produzem em quantidade o pigmento responsável pela cor verde
(clorofila) deixando as pétalas semelhante a folhas. Existe o caso da Rosa chinensis
viridifolia onde as pétalas literalmente transformaram-se em folhas devido a um erro na
“leitura” dos genes.
Proliferação
A proliferação caracteriza-se pelo surgimento de um segundo botão floral no centro
de uma flor já aberta. Essa anomalia ocorre devido a semelhança na estrutura das folhas,
sépalas, pétalas, estames e carpelo. Na “leitura” dos genes para a formação de uma nova
flor, essas informações são confundidas e traços de um órgão é transmitido a outro.
Repique das Pétalas
Algumas variedades produzem pétalas repicadas como as pétalas do cravo. Esse
fenômeno pode ser observado em descendentes entre rosa rugosa e poliantas, não sendo
esse um traço comum em cruzamentos desse tipo.
Mutações notáveis: Rosa chinensis viridiflora, Rosa multiflora watsoniana (Rosa bambu),
Rosa centifolia com folhas de alface, Rosa Oilleet de Saint Arquey (Rosa cravo).
Sobre as Mutações
Quando o assunto é mutação, variações e anomalias, um fato me vem em mente.
Sempre que lia artigos publicados em revistas brasileiras, escritas por “especialistas”, a
reprodução por sementes para rosas muitas vezes nem era cogitada como um dos métodos a
ser utilizado pelo jardineiro amador devido ao perigo eminente dos “monstros mutantes”,
plantas diferentes e “indesejadas” por serem diferentes dos pais. Tinha muitas vezes a
impressão ao ler esses artigos que das sementes das rosas nasceriam verdadeiras pragas,
cheias de tentáculos e espinhos como nos filmes de ficção. Dessa forma grosseira, os
“especialistas”, ao invés de incentivar a curiosidade e a experimentação como um caminho
a formar novos hibridadores, colocavam no meio do caminho uma advertência para que os
jardineiros amadores mantivessem-se afastados. O que foi esquecido de dizer por esses
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sábios é que muitas das rosas criadas, algumas das mais belas, foram mutações em grande
parte produzidas por jardineiros amadores ou simplesmente transeuntes atentos que
souberam observar a beleza na diferença. A beleza é sempre relativa...e nem sempre a única
qualidade buscada.
As Cores
“Qual não é sua surpresa
Ao ver, à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação
É que a rosa, além de branca
(Diga-se isso a bem da rosa...)
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa”
Vinícius de Moraes
Quando falamos em cores, na maioria das pessoas, a imagem mental que se faz
remonta a infância: uma caixa de lápis de cor, uma palheta de pastilhas de aquarela... Cores
simples capazes de criar todas as variações que a mente pudesse conceber.
Nas flores, ao invés de uma palheta de aquarelas, temos uma palheta de substancias
que associam-se em diferentes níveis para a formação das variações das cores.
Nas rosas, as cores vermelhas pertencem ao grupo das substancias denominadas
anthocianinas, são essas substancias (pigmentos): cyanidin, peonidin e pelargonin. Algumas
recebem nomes por serem comuns a outras flores como por exemplo: peonidin (peônia) e
pelargonin (pelargonio – gerânio). Se analisarmos a estrutura dessas substancias veremos
que são minimanente diferentes, porém essa diferença gera uma variação de coloração.
O cyanin é responsável pela cor vermelha das rosas antigas; produz tonalidades que
vão do vermelho azulado (cereja, fúcsia) ao lavanda.
O peonin provém das rosas do grupo das cinnamomae, carolinae e multiflorae como,
por exemplo, rosa rugosa. É responsável por tonalidades pink e púrpuras bem como o
vermelho cardeal de algumas variedades. Algumas variedades, híbridas de rosa musgosa,
com o passar do tempo e varia a cor carmim para um púrpura próximo ao azul.
O pelargonin não tem uma origem determinada quanto ao seu aparecimento entre as
colorações das rosas. Provavelmente é uma variante ao associação de outros corantes já
encontrado nas variedades mais antigas. Ele é responsável por tons escarlates e vermelhos
alaranjados (cor de camarão).
A cor amarela provém do caroteno. O caroteno produz só ou associado os mais
diversos tons de amarelo, passando o marfim ao ouro acobreado. Foram introduzidas com
as rosas chinesas e persas.
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Inicialmente tínhamos uma palheta de cores restrita entre o branco, passando pelo
púrpura, vermelho vivo e amarelo, podendo essas cores serem ou não influenciadas pelo
verde da clorofila. Desses poucos pigmentos provém toda a cor das rosas que conhecemos
até então.
Certas cores como o branco puro e o vermelho real são difíceis de serem
conseguidas pois dependem do perfeito equilíbrio entre dois pigmentos. No caso do
vermelho real, é necessário a proporção correta do pigmento amarelo associado ao púrpura
ou escarlate, nas rosas brancas puras, a ausência dos pigmentos amarelos e verdes. Muitas
rosas brancas são na verdade amareladas ou cor-de-marfim.
A cor azul foi por muito tempo um ideal impossível já que o corante responsável por
essa cor não e conhecido em nenhuma variedade ou espécie. Esse corante é o delphinidin
(delfinum – esporinha). No início de 2004 foi anunciada a introdução,via engenharia
genética, de um gene proveniente do amor-perfeito, responsável pela produção dessa
substancia, em uma variedade de rosa. A responsável por essa criação é a empresa japonesa
Suntori.
Nos próximos anos, a palheta dos artistas da rodocultura estará completa compondose de todas as cores primária: amarelo, azul e vermelho.
É importante lembrar, no referente a cor, que Le Grice – na Inglaterra – cruzou Rosa
californica com híbridos brancos obtendo flores púrpura e marrons. O mesmo Le Grice
elaborou um estudo sobre a associação do perfume das rosas associado as cores (um fator
influenciaria o outro).
San Mac Gredy – na Irlanda – em seus experimentos com R. pimpinelifolia notou
que essa espécie era hábil a transmitir aos descendentes a padronagem “marmórea” ou
“variegata”. Seu trabalho nesse sentido produziu o padrão definido como “pintado a mão”,
uma mancha de cor no centro de uma pétala branca ou rosada.
Alguns corantes encontrados nas rosas são instáveis clareando ou escurecendo em
função da temperatura e luminosidades. Até a introdução das rosas chinesas, a maioria das
rosas tendia ao clareamento das cores; a partir das chinesas, rosas que escureciam as cores
com o passar do tempo tornaram-se mais comuns.
Perfume
“Queixo-me às rosas..., mas as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o
perfume que roubam de tí” - Cartola
Se fosse perguntado a uma pessoa comum, não muito habituada ao contato com as
rosas, a que uma rosa cheira, provavelmente iria pensar por alguns instantes e depois
responderia: “Ora, uma rosa cheira à rosa!!”.
Se a mesma pergunta fosse feita a um jardineiro experimentado, talvez recebesse de
retorno não uma resposta mas outra pergunta: “Qual rosa?”.
O fato é que as rosas não tem todas um mesmo perfume. Mesmo aos perfumistas
existem variações entre as essências como: Rosa de Damasco, Rosa de Maio, Centifolia,
Musgosa, Rosa de Provença. Para o floricultor a “escala” aromática pode ter centenas de
variações como por exemplo:
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Almíscar: R. mosqueta
Maçã verde: R. canina, eglanteria
Cravo-da-India: R. rugosa
Pinus: R. glutinosa e musgosas
Abacaxi: R. multiflora
Banana: R. muligani
Limão: R. bracteata
Canela da China: R. cinnamomea
Violeta: R. banksiae
Lírio: R. nítida
Chá Preto: R. odorata
Anis: R. macrantha, arvensis
Mirra: R. prímula
Mel: R. paulii
Açafrão: R. roxburghii
O clássico perfume das rosas é o “damasco”, não o da fruta mas sim o da Rosa
damascena da qual se extrai o Attar. A mistura entre as espécies cria variações como o
perfume de: nasturio (capuchinha), narciso, gardênia, cravina, violeta, orris (raiz seca de
íris), pimenta-do-Reino, amêndoa...
Infelizente muitas das rosas modernas perderam a fragrância por um “discuido” dos
produtores concentrados mais nos aspectos visuais ligados diretamente ao potencial
comercial. Hoje hibridadores como David Austin esforçam-se para recuperar nas rosas
modernas essa preciosa qualidade.
Curioso é o fato que, dependendo da variedade, não somente as flores tem perfume.
Rosas como a R. canina, R. prímula e R. glutinosa tem o especial da fragrância localizada
nas folhas e nos caules. A Rosa damascena bífera alba tem o perfume no musgo que cobre o
cálice e as folhas. O perfume de “pinho” é expelido pelas glândulas de musgo de certas
variedades e a Rosa roxburghii tem inclusive seus frutos perfumados.
O fator cromossômico
Num trabalho de cruzamento, seja com plantas ou até mesmo animais, topamos
muitas vezes com problemas que podem vir a frustrar nosso objetivo e até interromper uma
linha de trabalho. Esse fator é a esterilidade ou a incompatibilidade genética. Esse mesmo
fator genético que pode ocasionar a esterilidade pode ser usado de forma positiva e
vantajosa desde que conheçamos um pouco de seu funcionamento.
Vamos tomar como exemplo uma espécie simples, a Rosa banksiae, com 14
cromossomos. Esse 14 cromossomos contém o genoma da espécie e é transmitido parte
pela planta mãe, parte pela planta pai.
Quando houve a polinização, que fertilizou e originou a semente que, por sua vez,
originou a planta adulta, houve na verdade a união de 7 cromossomos trazidos no pólem
que se uniu aos 7 contidos no óvulo. A semente foi formada por 14 cromossomos, ou seja,
7+7 ou um par (cujo numero base é 7), isso caracteriza uma espécie diplóide.
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Na formação dos gametas (pólem e óvulos) as células são divididas em duas de igual
conteúdo, dessa forma a planta composta por 14 cromossomos dará origem a um par de
células gametas contendo 7 cromossomos cada.
Quando ocorre a fecundação, os gamentas são unidos e inicia-se a divisão celular
dando origem a células com número de cromossomos resultantes da união, ou seja, se na
fecundação uniu-se 14 cromossomos, todas as células produzidas terão esse número de
cromossomos.
Algumas rosas, no entanto, tem diferente número de cromossomos como, por
exemplo, R.arkansana com 28 cromossomos. Sabendo-se que o numero base para as rosas é
7, a R. arkansana tem 4 x 7, é portanto tetraloide.
Supondo que cruzemos R. banksiae e R. arkansana teremos a união de 7
cromossomos (metade de 14 da R. banksiae ) + 7 cromossomos (metade de 28 da R.
arkansana); a planta resultante terá o número total de 21 cromossomos, portanto 3 x 7,
sendo uma planta triploide.
As plantas triploides são consideradas muitas vezes estéreis por não produzirem
pólem e se o produzem esses são inférteis, isso ocorre porque, na divisão celular para a
formação desse pólem, impossibilitado de dividir em partes iguais o número triplo, a planta
simplesmente não o faz. Algumas espécies triploides “burlam” esse problema produzindo
pólem com carga cromossômica irregular contendo 7 e 14 cromossomos. A despeito do
problema na produção de polens, a maioria das triploides pode ser usada como mães,
produzindo sementes férteis desde que cruzadas com o pai certo.
Um fator interessante ligado ao numero de cromossomos triploide associa o
aumento do número cromossômico ao tamanho da flor ou “gigantismo”, isso devido ao
aumento no tamanho das células (pela presença de cromossomos “extras” advindos do pai).
Dessa forma, a planta triploide originada de um cruzamento entre uma diplóide e uma
tetraploide produziria flores maiores que uma triploide de pais triploides.
Numero Cromossomático nas Espécies e Híbridos:
Diplóides (14): R. arvensis, banksiae, blanda, bracteata, chinensis, filipes, foliosa, hugonis,
laevigata, moschata, multiflora, nitida, palustris, roxburghii, rugosa, setigera, wichuriana,
woodsi, xantina, multiflora.
Triplóides (21): Híbridos originados de moschata, wichuriana, multiflora, odorata (chá).
Tetraploides (28): dupontii, arkansana, carolina, centifolia, damascena, davidii, foetida,
gallica, kprdesii, laxa, pomifera, rubrifolia, glauca, spinosissima, sulfulta, virginiana.
Pentaploide (35): algumas variedades de Rosa canina.
Hexaploide (42): alba, nutkana.
Espécies complexas (número variável):
R. acicularis (14, 28, 42, 56)
R. californica (14, 28)
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R. canina (35, 42)
R. chinensis (14, 21, 28)
R. cinnamomea (14, 28)
R. eglanteria (35, 42)
R. moyesii (28, 42)
R. odorata (14, 21, 28)
Hibridação
Antes de iniciarmos a comentar e a explicar o passo-a-passo da hibridação, gostaria
de falar um pouco daquele que dever ser o primeiro passo para um trabalho bem sucedido:
o planejamento.
O planejamento consiste em definir para direcionar os esforços para um objetivo ou
até mais que um, desde que claros e dentro de um controle. O fato é que, com a diversidade
de características, a falta de critérios torna a tarefa de seleção impossível. Todos temos que
ter em mente aquilo de melhor que possamos reunir, a rosa mais bonita e perfeita dentro de
parâmetros que nós mesmo iremos estabelecer. No início da historia da hibridação
controlada, cada hibridador de certa forma criava nas rosas uma “assinatura” muito própria
movida por seu gosto pessoal; flores brancas e puras como as de Lambert ou vermelhos
aveludados como as rosas de Mallerin ou simplesmente o amarelo perfeito de Pernet. Hoje
as leis comerciais são quem ditam os padrões das rosas a serem cultivadas em grande
escala, no entanto nada impede que criemos plantas somente para satisfazer, como os
antigos, nossas necessidades e gostos.
Suponhamos que o objetivo almejado seja a produção de plantas resistentes a
doenças, plantas com alto potencial comercial ou simplesmente flores de uma determinada
cor, o trabalho começa a partir da seleção cuidadosa dos pais.
Uma primeira regra na escolha dos pais é que, na maioria das vezes, a planta mãe
será responsável pela transmissão das características da forma da vegetação e hábitos de
crescimento da planta em geral, o pai transmite características sobretudo pertinentes a
coloração e fragrância da flor.
No caso das rosas modernas, devido a grande bagagem genética trazida por anos de
manipulação, a manifestação de características, principalmente referentes a cor, tornam-se
muito imprecisas, contudo, a observância das regras permite melhores chances de sucesso.
Em cruzamentos envolvendo rosas espécies e variedades híbridas, quase sempre o
resultado são plantas muito semelhantes a espécie que está envolvida; um resultado mais
satisfatório pode ser obtido numa segunda geração. O fato de produzir numa primeira
geração plantas insatisfatórias não impede que num cruzamento entre essas plantas venha
obter-se plantas de boa qualidade.
Caderno de Notas
Uma ferramenta importante para o futuro hibridador é o caderno de notas. Não
existe regras quanto a forma a qual as anotações serão feitas ou o que será anotado, cabendo
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a cada um anotar com a maior precisão e detalhes cada passo a ser executado. Uma única
regra se faz quanto a montagem de uma árvore genética, isto é, existe uma ordem que deve
ser seguida que é a seguinte; sempre o nome da planta que produzirá as sementes (mãe)
precede o nome da planta pai (pólen), dessa forma teremos, por exemplo: “Maréchal Niel”
x “Feu Pernet Ducher”.
Segundo a regra saberemos que “Maréchal Niel” foi a planta mãe, que gerou o fruto
e as sementes e de “Feu Pernet” veio o pólen que a fecundou.
Num exemplo mais complexo temos a árvore genealógica de:
“Pink Peace”
(Mme A. Meilland x Monique) x (Mme A. Meilland x Mrs John Laing)
“Arnaud Delbard”
[(Zambra x (Órleans Rose x Goldilocks)] x (Semente de Orange Triumph x Floradora)
Muitas vezes, em livros ou revistas especializadas, vemos a referencia de “planta ou
semente desconhecida” ou simplesmente códigos ou numerações. Isso ocorre devido a que,
num programa de hibridação, muitas plantas são criadas apenas como estágios a se
conseguir determinado resultado genético; dessa forma muitos produtores não as incluem
no registro ou simplesmente colocam na genealogia o número de controle. Vejamos o
exemplo de “Beauté”:
Mélanie Soupert x Soleil d’Or = Rayon d’Or
Rayon d’Or x planta desconhecida = Constance
Constance x planta desconhecida = Souvenir de Claudius Pernet
Souvenir de Claudius Pernet x planta desconhecida = Julien Potin
Julien Potin x planta desconhecida = Mme Joseph Perreud
Mme Joseph Perraud x planta desconhecida = Beauté
Nesse ultimo exemplo podemos observar os diferentes estágios para se chegar a um
determinado resultado, plantas de pouca importância para registro influenciaram, no
entanto, como importante bagagem genética para rosas famosas.
Esses dados são importantes para registro caso obtenhamos uma planta notável ou
queiramos repetir os bons resultados num programa futuro.
Preparação da Mãe
Escolhido os pais, o primeiro passo é a preparação da mãe, isto é, a flor que irá
fecundar-se e produzirá as sementes.
Em todo processo de preparação para a polinização e na polinização propriamente
dita, existe o risco de contaminação da planta por polens indesejados e até mesmo a autofecundação; isso estragaria todo o trabalho de anos pois, imagine a possibilidade de que a
planta polinizada tenha recebido uma visita de um inseto que também trouxe com ele
alguns polens e, justo estes polens de procedência incerta consigam fecundar a flor. Você
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recolhe as sementes a as cultiva e qual não será sua surpresa ao perceber que o resultado é
completamente adverso ao esperado. Por isso, todo o cuidado e higiene são necessários.
O material usado nessa primeira etapa é basicamente: lâmina (estilete, tesoura
pequena), uma pinça, um pincel de cerda macia e saquinhos de papel.
Para a flor mãe é prudente escolher uma flor ainda em botão a desabrochar em prazo de
dois dias, isto é, um botão bem formado porém com o centro da flor ainda firmemente
coberto pelas pétalas e os sacos políneos ainda fechados.
Com o auxílio de uma lamina ou simplesmente com os dedos deve-se extrair
cuidadosamente todas as pétalas e posteriormente os pistilos conservando na flor somente o
carpelo e as anteras.
Após a limpeza da flor, o carpelo deve ser envolvido com um pequeno saco de papel
resistente de forma a não permitir a visita de nenhum inseto ou mesmo a entrada de pólen
indesejados vindos pelo ar. Os saquinhos podem ser facilmente feitos por você mesmo
usando cola e papel sulfite.
O estigma está receptivo ao pólen quando apresenta em sua superfície um aspecto
viscoso. Nesse estado o pólen facilmente será aderido e iniciará a fecundação do óvulo.
É importante ressaltar que todo material usado no processo deve estar sempre limpo e
desinfetado a cada vez que utilizado as medidas de higiene devem também se repetir para
evitarmos problemas de contaminação até mesmo por doenças que podem ser transmitidas
de planta para planta. Uma solução de água e sabão, ou álcool resolve qualquer problema.
Preparação do Pólen
De uma forma prática, todo o problema da obtenção do pólen seria resolvido
simplesmente extraindo-se a flor pais e esfregando a mesma na flor mãe preparada de forma
que o pólen fosse transferido de uma flor para outra. Esse método, ainda que primitivo,
pode funcionar mas em um programa de cruzamento em maior escala, torna-se um pouco
complicado. Esse é um método comum usado pelos hibridadores de hibisco, porém para os
rodocultores talvez não seja uma boa idéia.
O método ideal é a extração do pólen com antecedência ao cruzamento; isso
propicia uma maior utilização e melhor manejo do polen recolhido. Alem disso, em plantas
que produzam poucos pistilos e pólen, é a possibilidade de recolher a quantidade sufuciente
para uso e armazenagem caso seja necessário.
Os pistilos das flores devem ser removidos quando estas estiverem semi abertas, de
preferência pela manhã. Esses pistilos são armazenados em pequenos potes ou caixas de
papelão (quando em quantidades maiores), livres de qualquer umidade. Uma pequena tigela
ou xícara de porcelana branca também pode ser um bom recipiente para conter o pólem.
Não é necessário fechar o recipiente onde se recolheu os pistilos. Deve-se
simplesmente manter-lo em ambiente arejado e abrigado do sol direto. Os pistilos secarão
em temperatura ambiente liberando o pólem. Potes pequenos de vidro ou porcelana branca
uma melhor visibilidade dos pequenos grãos de pólem e facilitará sua manipulação com o
auxílio do pincel.
O melhor é que o pólem seja utilizado logo esteja maduro – desprendendo-se dos
pistilos – porém, muitas vezes não dispomos das flores escolhidas como pais em condições
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de serem fertilizadas todas ao mesmo tempo. Num caso desses, o pólem pode ser
armazenado em um refrigerador.
A quem afirme ser o pólem viável em armazenagem por até 9 mêses, porém o
armazenamento prolongado diminui seu poder de fertilidade.
Muitas vezes somente uma pequena quantidade de pólem é suficiente para efetuarmos a
polinização não sendo necessária a extração dos pistilos para a obtenção do pólem. O polém
pode ser recolhido diretamente da flor pai com o auxílio de um pincel ou de um palito com
algodão. Observei que as rosas, nas regiões mais quentes, costumam liberar o pólem entre
as 9:30 hr e 11:00 hr sendo que, após esse horário, quase nenhum pólem pode ser recolhido
dependendo da variedade ou do ressecamento dos sacos políneos pelo so.
Quando se procede a armazenagem o polem deve ser armazenado preferencialmente
em recipientes de plástico (pequenos sacos ou recipientes tipo os que são utizados para os
filmes fotográficos) já que os recipientes vítreos costumam produzir pequenas gotículas de
água com o choque de temperaturas podendo estragar o polem armazenado.
A Fertilização
A fertilização inicia-se quando o pólem é depositado no estigma e este é receptivo.
O depósito do pólem pode ser feito com o auxílio de um pequeno pincel redondo e
de cerda macia, ou com o auxílio de um palito com uma ponta de algodão (tipo cotonete).
Sempre que mudar o tipo de pólem, deve-se lavar e deixar secar muito bem o pincel antes
de ser reutilizado.
Após esse processo a flor mãe deve ser novamente coberta com o saco de papel.
Poderemos notar o desenvolvimento do fruto no prazo de algumas semanas.
Colheita das Sementes
Como saber a hora certa de colher as sementes? Talvez sua própria experiência em
jardinagem lhe dê a resposta.
Entre as rosas existe uma grande variedade de frutos e entre esses frutos os
indicadores do amadurecimento são diversos. Os mais comuns são: mudança da coloração
do verde para os alaranjados e vermelhos, alguns partem para os tons de castanho e
marrom, amolecimento da polpa e racha da fruta expondo as sementes de seu interior, como
acontece com uma romã madura.
Os frutos colhidos devem ser retirados da polpa com o auxílio de uma lâmina,
lavados e secos por um dia ou dois sobre papel absorvente, em temperatura ambiente e
protegido do sol.
Existem pessoas que preferem armazenar as sementes sem extraí-las dos frutos e
dessa mesma forma submetê-las ao processo de estratificação.
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Estratificação
“Dorme a estrela no céu
Dorme a rosa em seu jardim
Dorme a lua no mar
Dorme o amor dentro de mim”
Vinícius de Moraes / Claudio Santoro
A estratificação talvez seja o ponto crucial de nosso trabalho, principalmente para
nós, habitantes do Hemisfério Sul.
Na região do Hemisfério Norte, de onde as rosas são originárias, o processo de
estratificação necessário para a quebra da dormência das sementes de rosas acontece
naturalmente. Primeiramente existe o amadurecimento das sementes no Outono, sementes
essas que são consumidas e espalhadas pelos animais; após isso segue-se a queda das folhas
e o congelamento com as neves do Inverno. Dessa forma, as sementes passam um período
sob baixas temperaturas protegidas por uma camada de folhas até a chegada novamente do
clima mais quente na Primavera quando poderá desenvolver-se até o próximo inverno.
Podemos facilmente imitar essas condições naturais através da estratificação
artificial, sendo necessário somente alguns recipientes de plástico ou vidro, areia lavada,
perlita ou musgo asfagnum e uma geladeira domestica.
Após a secagem da semente, estas devem ser postas em recipientes onde se
acrescentará um pouco de substrato umedecido – a escolha do substrato dependerá da
preferência e disponibilidade do leitor – o suficiente para envolver a sementes. A umidade
desse substrato deve ser bem regulada – lembrando-se sempre que úmido não é encharcado
– para evitar o apodrecimento das sementes ou o aparecimento de fungos no decorrer do
processo. Como recipiente podemos usar pequenos sacos de plástico ou copinhos do
mesmo material que serão cobertos com filme plástico (do tipo usado para embalar
alimentos).
As sementes são levadas a uma geladeira onde permanecerão nessas condições pelo
tempo mínimo de 3 meses ou se preferir, até que as primeiras sementes comecem a brotar.
As sementes, após plantadas (depois do processo de estratificação), costumam brotar no
prazo de duas semanas.
Sementes armazenadas por muito tempo podem demorar mais para brotar e mesmo
no processo de estratificação costumam demorar um pouco mais para mostrar algum sinal
positivo de brotação. A paciência do hibridador é fundamental.
Numa estratificação mais especializada, muitos hibridadores relatam melhores
resultados com sementes preparadas a temperatura de 5ºC.
Semeadura
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As sementes de rosas veriam muito de tamanho dependendo da variedade ou
espécie, contudo devem ser sempre plantadas a uma profundidade aproximada a sua
espessura. O solo, como de regra, dever ser bem fértil e solto, rico em matéria orgânica.
Para semente maiores devemos plantar em linhas deixando um espaçamento mínimo
para o desenvolvimento das plantinhas e que facilitará a manutenção e a limpeza. Uma
cobertura também ajuda a manter as condições de umidade necessárias ao sucesso da
brotação, para isso, sempre que possível, na construção dos canteiros deve-se providenciar
também a construção de um ripado sobre o berço a fim de se ter maior controle em relação
a incidência de sol e umidade. Para essa construção é necessário que a cobertura fique a uns
50 cm do solo do canteiro usando-se como proteção tela negra, esteiras de bambu, folhas de
palmeira ou simplesmente tabuinhas um pouco mais largas que o canteiro, pregadas numa
distância mínima uma da outra.
Numa produção em menor escala, uma boa idéia é semear em caixotes os quais
serão cobertos com plástico transparente de forma a conservar as condições ideais de
temperatura e umidade.
Nessa primeira fase as sementes são suscetíveis ao ataque de lesmas e tatuzinhos,
sendo seu combate prévio uma boa providência, além disso as plantinhas muito novas
podem ser atacadas por fungos, o que pode ser solucionado com a aplicação de um
fungicida leve.
Em relação as doenças causadas por fungos, alguns hibridadores aconselham a não
tomar nenhuma providência permitindo que as plantas menos resistentes sucumbam ao
ataque como uma forma de seleção natural, plantas vigorosas nessa fase também serão
vigorosas no futuro e terão menos problemas com doenças. A decisão vai de cada
hibridador.
O Primeiro Transplante
No geral as pequenas mudas de rosa são muito resistentes, porém a manipulação
errada e um mal transplante poderá por tudo a perder. A época melhor para essa atividade é
o mês de abril.
O tamanho ideal para o transplante é quando as pequenas plantas atingem entre 8 a
10cm e possuem um bom numero de folhas definitivas.
Caso você disponibilize de um bom espaço de terra e queira fazer um programa para
a obtenção de plantas em maior quantidade, o ideal será a construção de canteiros com
medida de 1 metro de largura por 30cm de altura e com distancia entre eles de 40 cm.
As plantinhas podem ser plantadas entre 15 a 20cm de distância uma das outras.
Estaquia
“De Jessé cresceu a vara,
Da vara cresceu a flor...
E da flor nasceu Maria,..
De Maria o Salvador...”
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Canção Popular de Reisado
Suponhamos que você tenha obtido através de semeadura uma bela planta e agora
quer multiplica-la para presentear seus amigos ou, como ocorre muitas vezes, encontrou
crescendo num jardim de periferia, numa casa rural ou em outra cidade uma bela espécie
não comercial, crescendo e florescendo. Nesse momento é essencial que saibamos
selecionar e multiplicar através de estacas.
Para mim, a melhor época de plantio das estacas inicia-se a partir do final de
setembro até meados de janeiro, um período entre a primavera e verão. Há pessoas que
afirmem terem obtido bons resultados com o plantio de estacas aproveitando-as da poda de
inverno.
A boa estaca é aquela que cresceu a menos de um ano, semi-lenhosa com tamanho
entre 15 a 20cm e espessura aproximada a grossura de um lápis (nunca mais grossa que
isso) e que já tenha florescido. Em caso de poucas estacas, obtenho melhores resultados
quando extraídas no “método antigo”, como ensinado por nossos avós, isto é, lascadas. Na
lascagem deve-se segurar o galho a ser extraído o mais próximo possível do galho mestre e
com um movimento firme e contínuo pressionando-o para baixo. Quando se extrai estacas
por esse método é dispensado outros cortes de preparação.
Nem sempre é possível conseguirmos estacas lascadas, nesse caso a base das estacas
deve ser feita em corte chanfrado a fim de proporcionar uma maior superfície para o
desenvolvimento das raízes.
A eliminação do excesso de folhas também é um passo importante já que, com o
desligamento da planta mãe, até a sua brotação a estaca sobreviverá com suas próprias
reservas de alimento e água; a eliminação do excesso de folhas ajuda a reter mais essas
reservas e minimizar a perda de umidade. A eliminação, no entanto, não deve ser completa
já que algumas folhas mantidas irão garantir a respiração da estaca e a produção de
nutrientes pelo processo de fotossíntese. Devemos manter entre 2 a 4 folhas na extremidade
superior da estaca; em estacas curtas, duas folhas ou até duas “meia-folhas” (corta-se as
folhas pela metade). Essas poucas folhas, quando mantidas, servem também como um
indicador da brotação da estaca, amarelando-se e caindo quando inicia-se o surgimento das
primeiras raízes.
As estacas devem estar enterradas com aproximadamente 1/3 de seu comprimento
dentro do substrato.Um aspecto importante e que assegurará uma boa brotação é a
eliminação de “bolsas de ar” próximo a estaca, sob a terra e a afirmação das estacas para
que não sejam abaladas causando a danificação das raízes. Ao enterrar a estaca deve-se
pressionar levemente a terra ao redor da mesma de forma que, mesmo agitando-se
levemente, a estaca não se abale e mantenha-se na mesma posição.
Algumas pessoas aconselham manter as estacas de rosa mergulhadas em água até o
desenvolvimento das primeiras raízes; na minha experiência pessoal, esse método mostrouse muito insatisfatória a não ser com poucas exceções de roseiras selvagens, espécies como
rosa rugosa e multiflora.
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O Enxerto
Apesar de todo mistério que chega a causar uma certa reserva por parte do jardineiro
amador, o enxerto nada mais é que a introdução de uma parte viva de um vegetal em outro
vegetal , de forma que essa parte se desenvolva. No Brasil a melhor época para a enxertia é
o mês de setembro, no entanto podemos iniciar no mês de agosto prosseguindo até o mês de
novembro.
Particularmente, no caso de roseiras, não aprovo muito esse método de propagação a
não ser quando realmente necessário, isto é, em caso de plantas onde o método de
reprodução por estacas se torna muito falho ou o material disponível é escasso para a
obtenção de boas estacas; por vezes também algumas plantas têm dificuldade em
desenvolver-se com as próprias raízes em determinados solos, nestes casos o enxerto é
justificado.
Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre plantas enxertadas são mais
vigorosas, ao contrário.
Infelizmente quase que a totalidade das roseiras comercializadas no Brasil são enxertadas,
em produção em grande escala, com o método de enxertia, o produtor pode tirar de uma
única estaca dezenas de brotos que darão origem a plantas iguais as que lhe deram origem.
Muitos produtores, dependendo da demanda do mercado, simplesmente substituem um
enxerto por outro obtendo rapidamente as variedades mais procuradas.
O tipo de enxerto mais usado em roseiras é o enxerto em “T” e suas variações.
Como Enxetar
A melhor época de enxertar é quando o processo metabólico nas plantas está em
plena atividade. Para nós, no Brasil, com exceção dos meses mais frios, é possível fazer
enxertos o ano todo porém com melhores resultados na primavera.
Antes de apresentar o passo a passo da execução do enxerto, é necessário aprender
selecionar o que chamaremos de “cavalo” ou porta-enxerto e “cavaleiro” o broto ou
borbulha a ser enxertado.
Para o “cavalo” o ideal é dispor de plantas com um bom sistema radicular e um
caule de grossura suficiente para acondicionar o “cavaleiro”, sempre mais grosso que um
lápis. Uma sugestão interessante ao amador é observar as variedades que melhor se
desenvolvem – com suas próprias raízes – no solo de sua região e delas produzir os
“cavalos”. Na produção em larga escala são geralmente usadas espécies devido ao seu vigor
e adaptabilidade.
Para os “cavaleiros” as melhores borbulhas são aquelas localizadas no meio do caule
(que deve ter a espessura aproximada do “cavalo”).
Na operação de enxertia é necessário os seguintes materiais: uma lâmina afiada, fita
plástica ou ráfia podendo ser usada também uma fita de borracha, pasta ou cera para
enxerto (opcional).
A execução procede-se da seguinte maneira:
1º - Faça no “cavalo” um corte em “T”com 1,5cm na vertical e 2cm na horizontal, tomando
cuidado para que o cerne da madeira não seja atingido, somente o córtex (casca).
2º- Abra o cortex através da fenda e observe se está com boa umidade.
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3º - Extraia a borbulha com um corte horizontal, logo acima da borbulha, e um corte
vertical que deve iniciar-se a uns 2cm abaixo. O corte é feito em forma de escudo e trazer
consigo uma pequena lasca da planta mãe.
4º - Introduza a borbulha no corte de forma que fique bem encaixada e as superfícies do
“cavalo” e “cavaleiro” em pleno contato.
5º - Prenda a borbulha de forma que o córtex fique bem fechado usando para isso uma fita.
A aplicação de uma pasta ou cera é feita em seguida caso queira assegurar uma proteção
extra a infecções e umidade.
A fita deve ser começada a ser enrolada um pouco abaixo do “T” passando acima e
ao redor da borbulha.
O sucesso no enxerto depende em grande parte da limpeza e rapidez na execução.
Devemos sempre evitar o contato dos dedos e de superfícies empoeiradas nas partes onde o
enxerto irá se unir, isto é, na parte inferior do “escudo” da borbulha e no interior do corte do
“cavalo”. A boa vedação após a introdução do “cavaleiro” preservando-o da umidade e
sujeira também aumenta bastante as chances de sucesso.
A fita usada no enxerto, se não apodrecer naturalmente, só deve ser retirada após
certificar-se de que a cicatrização é o pegamento foi bem sucedido, nunca antes de um mês.

Sugestão: uma boa idéia é aproveitar as plantas excedentes em uma multiplicação
por estacas para serem usadas como “cavalos” para futuros enxertos.
Preparo do Solo
Um dos maiores fatores para o sucesso no cultivo das rosas é a boa preparação do
solo.
O solo ideal para o cultivo de rosas é aquele onde os níveis de acides e alcalinidade
estejam bem equilibrados, em torno de 6,5 e 7,0 em pH. Muitos especialistas observam que
as roseiras de um modo generalizado tem uma certa preferência por solos argilosos desde
que não sejam solos pesados a ponto de impedir o bom desenvolvimento radicular.
A preparação do solo deve começar com, no mínimo, 3 meses de antecedência ao
plantio. O primeiro passo é conhecer o tipo de solo onde será feito o canteiro, suas
características físicas e químicas para uma correção caso seja necessária.
Apesar da aparente complexidade, num cultivo amador, a análise do solo pode ser
feita por qualquer um.
Tomando-se uma pequena porção de terra nas mãos, podemos classifica-lo notando
sua textura: textura grossa (arenosa), média (areno-argiloso) e fina (argiloso). A própria
manipulação da terra nos dá indicadores de sua composição; terras argilosas são pesadas e
resistem ao manejo com a enxada aderindo-se as ferramentas e as mão; as terras arenosas
são mais leves e de fácil manejo, despregando-se das mãos e das ferramentas com
facilidade.
Um teste simples é feito da seguinte maneira: cavamos um buraco de 15 a 20cm
retirando-se uma porção de terra que será colocada num recipiente de vidro transparente a
um terço de seu conteúdo. Complete o conteúdo com água e agite bem.
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Deixe o vidro em reserva até que a terra no interior do mesmo se assente ao fundo.
Analisando o conteúdo observaremos a formação de diversas camadas que caracterizam os
diferentes elementos de composição do solo: nas camadas mais inferiores ficarão os grãos
de areia, no meio a argila e sobre esta o húmus e compostos orgânicos. Com até 15% de
argila, teremos um solo arenoso; entre 20% e 40% de argila, teremos um solo arenoargiloso; acima de 40% de argila, teremos um solo argiloso.
O pH
Os níveis de acides do solo variam em uma escala que vai do 0 ao 14. No Brasil a
maioria dos solos ácidos, abaixo da marca de 6,0 sendo necessária uma correção para
alcançar níveis ideais de cultivo.
Em pequenas áreas o pH (nível de acides) pode ser medido com o auxílio de um kit
de medição de pH que pode ser facilmente adquirido em lojas de suprimentos agrícolas.
Para essa medição é aconselhável que se retire terra de vários locais do canteiro.
Um solo quimicamente desequilibrado impede que as reações químicas necessárias
à transformação e absorção dos nutrientes pelas raízes aconteçam de forma eficaz; como um
estomago incapaz de uma boa digestão. O resultado é que muitos dos nutrientes acabam
não sendo absorvidos e até mesmo sendo levados pelas águas até os lençóis subterrâneos ou
pelas chuvas ficando a planta mal nutrida. Mesmo utilizando-se grande quantidade de
adubo, num solo desequilibrado esse trabalho torna-se inútil.
A correção é feita através da incorporação no solo de calcário dolomítico, para solos
ácidos, ou sulfato de ferro para solos alcalinos. Após tirarmos a metragem dos canteiros e
verificarmos os índices de acides, para cada 1 ponto a ser corrigido, incorporamos 150g de
calcário dolomítico ou sulfato de ferro por m2 de canteiro. Suponhamos que seu solo é
ácido, com índice de pH em 5,0; neste caso, para alcançarmos o nível ideal de 7,0 é
necessário o acréscimo de 300g de calcário por m2.
A incorporação de húmus no solo também é muito importante. Sendo a área do
plantio muito grande, deve-se ao menos incorporar húmus na área em que as raízes se
desenvolverão. O humus deve ser incorporado na proporção de 20 litros por m2.
No caso de uso de esterco animal, este deve estar sempre curtido e deve ser incorporado
com pelo menos um mês de antecedência ao plantio.
Partindo do pressuposto de que o solo já se encontre em condições ideais, antes de
efetuarmos o plantio devemos sempre revolver a terra a uma profundidade de 40cm de
forma a tornar o solo mais homogênio, mais leve para o desenvolvimento das raízes e em
melhores condições de arejamento. Nessa ocasião devemos aproveitar para remover pedras
e outros elementos que possam tornar-se empecilhos para o desenvolvimento das raízes.
O Plantio
Os melhores meses para o plantio definitivo são os meses de junho a setembro,
porém, desde que tomado os devidos cuidados o plantio pode ser feito durante o ano todo.
A melhor período do dia é sem dúvida o final da tarde e os dias nublados. No caso
de rosas desenvolvidas nas próprias raízes não há muitas regras especiais quanto a forma de
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plantio somente a providencia de que sejam plantadas ao mesmo nível que se encontram no
torrão original, ao contrario das rosas enxertadas que devem ser enterradas sem que o ponto
de enxerto fique abaixo ou muito próximo ao solo; o ponto do enxerto deve ficar sempre
entre 1 a 2cm acima da terra.
A profundidade do plantio varia do porte da planta, porém, de regra, utiliza-se covas
com aproximadamente 30 centímetros de profundidade.
As plantas, após o plantio definitivo devem ser regadas diariamente até a completa fixação
no solo; um bom sinal disso é o surgimento dos primeiros botões florais ou pelo menos 30
dias após a data do plantio.
A distância geralmente usada para o plantio das roseiras é a seguinte, de acordo com
a variedade:
1 metro – para as silvestres, bourbons, albas, híbridas rugosas e trepadeiras como
almiscaras e noisettes.
50 cm – para poliantas, híbridas de chá, damascenas e híbridos perpétuos.
30 cm – para miniaturas e rasteiras.
A distancia para plantio, no entanto, dependerá muito das características da
variedade em questão. A intuição de um jardineiro dedicado sempre é um bom indicador a
seguir. Vale lembrar que rosas selvagens ou espécie não são podadas, a não ser para
correção, dessa forma terão um crescimento maior ao longo dos anos necessitando de maior
distancia entre uma planta e outra.
O Replantio
As roseiras são plantas que toleram muito mal o transplante, no entanto, em certas
ocasiões essa torna-se a única possibilidade que dispomos de conservar uma planta que
tanto gostamos. A época mais propícia é o inverno, quando a planta está em dormência,
preferencialmente após a poda, porém o processo começa um pouco antes. Com no mínimo
um mês de antecedência, faz-se uma cova ao redor da planta com a profundidade
aproximada de 30 cm ou até que percebamos que atingimos a profundidade das raízes; a
cova deve permanecer aberta pelo mínimo 30 dias após o qual se faz a poda – pelo método
usual – e em seguida a retirada do torrão, uma forma de orientar-se visualmente é observar
o crescimento das raízes para fora da superfície do torrão. Quanto mais antiga a planta,
maior a antecedência da abertura da cova ao redor antes da retirada do torrão; se a planta é
muito antiga e atingiu um grande porte, recomenda-se que seja feito o processo de um ano
para o outro, isto é, abre-se a cova em um inverno para a retirada do torrão no inverno
seguinte. No processo de retirada do torrão, devemos tomar muito cuidado para que o torrão
não se parta nem se desmanche danificando, dessa maneira, o sistema radicular. Em geral,
como regra, para plantas com altura maior que 1,30cm costuma-se fazer a seguinte conta
para saber a profundidade do torrão (da cova ) e a distância:
Suponhamos que a 1,30 cm de altura a planta tem 10cm de diametro.
Profundidade = diametro do tronco x 8
Distância em relação ao tronco é sempre a metade da profundidade, então
Distância em relação ao tronco = Profundidade / 2
Dessa forma teremos uma cova de 80cm de profundidade por 40cm de distancia em
relação ao tronco.
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Após o corte das raízes que estão abaixo do torrão, este deve ser embrulhado em um
saco de aniagem e amarrado, podendo ser assim facilmente transportado. No local
definitivo, abre-se o saco e enterra-se a planta a uma profundidade 5cm maior do que estava
enterrada originalmente. Em plantas pequenas, não é necessário o uso do saco de aniagem.
Um cuidado importante é procurar replantar a planta a mesma posição que estava no local
original segundo a orientação dos pontos cardeais.
Poda
“Eu quero apanhar uma rosa,
Minha mão já não alcança.
Eu choro então de tristeza,
Igualzinho uma criança”
Canção popular
Em algumas regiões do Brasil, o dia da poda das roseiras é literalmente sagrado,
resultado de anos de tradição e crenças populares. Os antigos eram unânimes em afirmar
que o dia “certo” para a poda era o dia de São João – 24 de junho. Quem perdesse o dia de
São João, somente teria outra chance de podar no dia de Santa Rosa de Lima – 23 de
agosto.
Os místicos – e pescadores – afirmavam que o dia ideal seria qualquer um “da lua
minguante” de junho.
Podemos render graças mais uma vez a sabedoria popular pois, os meses de junho a
agosto costumam ser os mais frios e com as baixas temperaturas as roseiras entram em
estado de repouso vegetativo – em regiões mais quentes, como o nordeste, podem existir
também um repouso de verão – isso quer dizer, o metabolismo das roseiras diminui e seu
desenvolvimento acompanha essa diminuição. Nesse período a planta quase não sofre com
a poda.
Aos que afirmam ser os dias de lua minguante os melhores, isso fundamenta-se ao
fato que, nessa fase lunar, a seiva concentra-se nas raizes e dessa forma sofrem menos perda
de seiva na ocasião da poda.
A poda anual é necessária para a limpeza, renovação dos galhos e do vigor das roseiras.
Existem três formas de ser feita:

Poda baixa – é a mais comum e nem sempre feita de forma correta. Nesse tipo
de poda os galhos velhos, mal formados e ladrões são retirados e para os outros
galhos sadios deixa-se entre 4 a 5 borbulhas.

Poda alta – é feita em plantas de hábitos escandentes (roseiras trepadeiras) e
eventualmente em arbustivas. Consiste em podar 1/3 do comprimento dos galhos.

Poda de correção – utilizado para as variedades selvagens ou antigas; aqui eliminase somente os galhos mal formados ou aqueles necessários a obter-se um bom equilíbrio
visual. Roseiras selvagens e antigas não toleram muito bem uma poda mais rigorosa,
podendo em alguns casos até mesmo suspender a floração por um ou dois anos.
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De certa forma, no ato da poda, geralmente fazemos ou tornamos o trabalho mais fácil,
executando-se os três tipos de poda seqüencialmente, isto é: a principio desbasta-se o
excesso de ramos finos e mal formados, bem como os ramos ladrões e cruzados – como na
poda de correção; retiramos os galhos muito longos cortando parte de seu comprimento –
como na poda alta – para podermos ter melhor visão do todo; por fim executa-se a poda
baixa, conservando apenas os galhos com melhor potencial de brotação. Podemos parar em
qualquer etapa conforme o tipo de poda que desejamos fazer.
A poda deve ser feita de forma cuidadosa e muitas vezes a sensibilidade do jardineiro é
mais acertada que o “recomendado”. Não devemos podar plantas com menos de 1 ano de
idade no local definitivo, é sempre prudente deixá-las crescer livremente pelo menos no
primeiro ano. Em plantas com idade avançada, é conveniente revezar a cada ano a poda alta
e a baixa de forma a permitir um maior tempo para a recuperação da roseira à poda severa.
Algumas variedades antigas podem sobreviver durante anos sem podas não comprometendo
seus ciclos de floração.
Um complemento a manutenção é a retirada dos frutos indesejados – existem roseiras
de frutos ornamentais – para estimular o surgimento de novos brotos nas extremidades das
hastes; os frutos são retirados lascando-se a junção do caule do fruto (cabinho) e a haste.
Fertilização
Já falamos um pouco sobre a fertilização do solo anteriormente quando
abordávamos sobre a preparação do solo. Sabemos também que, devido o florescimento
contínuo, principalmente em nossas condições sempre propícias, as roseiras sofrem um
desgaste que deve ser sempre compensado com fertilizações periódicas, garantindo dessa
forma que nossas plantas possam repor os elementos e continuar com o vigor necessário
para abundantes floradas. A seguir apresento alguns fertilizantes organicos que estão, um
ou outro, ao alcance de qualquer cultivador e que proporcionam desde sempre ótimos
resultados com as plantas:
Tipo de Adubo
Composto orgânico
Esterco de Cavalo
Esterco de Gado
Esterco de Galinha
Farinha de Osso
Farinha de Peixe
Farinha de Sangue
Cinza de Madeira
N
1.20
0.54
0.40
1.63
2.00
5.00
12.00
0.00
P
1.40
.023
0.20
1.55
24.00
9.00
1.00
0.00
K
0.80
0.54
0.44
0.80
0.00
3.00
0.60
15.00
As cinzas devem ser incorporadas no solo numa média de 40 gramas por m2.
No caso de estercos de origem animal, vale lembrar que estes devem estar sempre curtidos
pelos diverso processo de fermentação como amontoa ou encaixotamento. Outra forma de
utilização é o chamado “chorume”, isso é, a preparação de uma solução líquida de esterco e
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água na proporção de uma parte de esterco para duas de água. Essa solução deve curtir em
tambores ou recipientes plásticos por no mínimo 1 mês.
A utilização do chorume é superficial, não necessitando revolver o solo, na
proporção de 4 litros por m2.
Os estercos secos são incorporados ao solo na proporção por m2 de:
20 litros – esterco curtido ou composto orgânico.
15 litros – esterco fresco de gado ou cavalo
3 litros – esterco de aves ou coelho
200 gramas – farinha de osso, peixe ou sangue
100 gramas – torta de mamona
Pesticidas
As roseiras, dependendo da variedade e da região, tornam-se plantas muito
vulneráveis ao ataque de doenças de origem de insetos ou por fungos.
Para o combate das pestes vegetais, temos no mercado diverso fertilizantes químicos,
porém existem muitas formulas que, desde aliado a cuidados preventivos, podem ser
soluções eficazes, não poluentes e baratas a serem utilizadas.
Calda de Fumo (indicado para pulgões, lagartas, ácaros e colchonilhas):
100grs de fumo
1 litro de água
200 grs de sabão de coco
½ litro de querosene
Preparo – deixar o fumo de molho em água por 24 horas, após esse período aquecer ao fogo
sem deixar ferver. Acrescentar o sabão na calda aquecida para que seja diluído após o que,
retira-se do fogo e adiciona-se o querosene. Filtrar em um pano antes de utiliza-lo na
proporção de 1 parte para 10 de água.
Calda de Cinzas (controle de liquens e musgos nas regiões serranas ou de grande umidade)
30 gramas de cal virgem
1 litro de água
10 gramas de cinza
Preparo – misturar todos os ingredientes agitando sempre, coar e aplicar sobre as plantas.
Calda Bordalesa (medida preventiva contra doenças causadas por fungos)
100 gramas de sulfato de cobre
100 gramas de cal virgem
10 litro de água
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Preparo – dissolva em recipientes plásticos separadamente o sulfato de cobre em 5 litros de
água e o a cal virgem nos 5 litros restantes. Após os elementos muito bem dissolvidos em
água, junta-se as duas misturas. Antes de coar para a retenção dos resíduos sólidos para
posterior utilização, deve ser feito o teste de acidez colocando algumas gotas da mistura
sobre uma lâmina de aço; se após alguns minutos ficarem no lugar das gotas manchas
avermelhadas, isso significa que a mistura está muito acida e devemos acrescentar um
pouco mais de cal.
Calda Viçosa (união entre fungicida e fertilizante líquido)
50 gramas de sulfato de cobre
20 gramas de sulfato de zinco
80 gramas de sulfato de magnésio
20 gramas de ácido bórico
40 gramas de uréia
75 gramas de cal hidratada
10 litros de água
Dividir a quantidade de água em duas porções em recipiente de plástico. Na primeira
metade dissolver o cal, formando o que chamamos “leite de cal”. Num terceiro recipiente
dissolver os outros sais. Estando todos os elementos bem dissolvidos em água, unir os dois
acrescentando aos poucos a misturas de sais no “leite de cal”. Coar em um pano fino antes
de utilizar. Assim como com a calda bordalesa, a calda viçosa não pode ser armazenada,
devendo-se preparar somente a quantidade a ser utilizada no dia.
Mastique (cera utilizada para proteger cortes de poda e enxertos de forma a evitar a
contaminação da planta por insetos ou microorganismos).
200 gramas de cera de abelha
60 gramas de breu ou negro de fumo
25 gramas de sebo de boi
Derreter o sebo e em seguida a cera de abelha, por ultimo incorpora-se o breu,
misturando bem todos os ingredientes. Despeje em uma forma, ou caixas bem vedadas de
madeira para a formação da barra. A utilização é feita derretendo-se pedaços da barra que
são aplicadas nas partes cortadas. Pode ser armazenado por vários anos.
É importante lembrar que, assim como nas pessoas, as doenças das plantas é sempre
preferível prevenir que combate-las depois de instaladas. A eliminação manual e periódica
de insetos e moluscos é a melhor forma de controlá-los, bem como o cuidado na aplicação
de substancias químicas que acaba muitas vezes eliminando também os inimigos naturais
das pragas que poderiam auxiliar no controle a longo prazo. Prefira utilizar os pesticidas
químicos sempre em casos emergências como o ataque repentino de formigas cortadeiras
ou quando os métodos naturais não derem mais resultado.
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Higienização dos Materiais
A higienização das ferramentas de trabalho é muito importante para a conservação
das mesmas e a prevenção da proliferação de doenças virais ou fungicas entre as plantas.
A maneira principal de higienização é uma boa lavagem em água e sabão (em
ferramentas de grande porte), nas menores, após a lavagem em água e sabão uma boa forma
de eliminar microorganismos é mergulhar as ferramentas em uma solução de água e cloreto
de potássio (alvejante sanitário) numa proporção de uma colher de sopa para um litro de
água pelo tempo mínimo de 30 minutos. Em caso de manipular-se plantas atacadas por
fungos, acrescenta-se algumas gotas de violeta de genciana.
Quando utilizamos soluções alcalinas como as caldas bordalesa e viçosa, as peças
metálicas que entrem em contato com a solução devem ser lavadas com uma solução de
água e vinagre na proporção de duas colheres por litro de água.
Rosas no Brasil
Não é uma tarefa fácil falar sobre a criação de rosas no Brasil. A maior dificuldade
que se depara é a inexistência de registros e, quando estes existem, são imprecisos e
subjetivos em sua maior parte. Depois esbarramos em fatos como, por exemplo, o de não
encontrarmos certas variedades, ou criações de determinados períodos na jardinagem local;
a impressão que se tem é que, em comparação com os países da Europa ou América do
Norte, o cultivo de rosas é algo muito recente que retrocede a pouco mais de um século.
O registro mais antigo que se tem no Brasil que faz referencia as rosas foi nos
deixado por Padre Anchieta na Carta Ânua de 1583 a qual faz menção a decoração de rosas
nos andores da procissão de Nossa Senhora. Apesar da referencia, e em observação ao
exemplos que temos ainda hoje nas manifestações populares, na maioria das vezes as
decorações das igrejas e dos andores rurais são feitas com rosas de papel ou tecido. Numa
visão mais otimista, talvez possamos considerar que os jesuítas tenham trazido para o Brasil
alguma variedade de Rosa damascena, porém, ao contrário das outras espécies vegetais
introduzidas no período como as mangueiras ou jaqueiras, nenhuma variedade de rosa
parece ter sido herdada por nossos primeiros colonizadores.
Após Anchieta, temos anos de urbanização aos padrões europeus; praças pública,
jardins palacianos por paisagistas franceses e belgas, porém, nenhuma rosa.
Os precursores do cultivo de flores para fins comerciais, no Brasil, foram os
imigrantes portugueses que tinham como focos de comercialização a região Central do Rio
de Janeiro e em São Paulo os bairros de Cantareira, Largo do Arouche e Praça Charles
Miller. Essa atividade era praticada como um complemento a atividade agrícola e tinha
como objetivo atender as demandas dos Dias das Mães, Finados, Namorados e Natal. Mais
uma vez, aqui, não temos nenhum registro sobre o cultivo das rosas, mesmo parecendo
improvável que elas não houvessem.
A historia das rosas no Brasil começa a mudar com a chegada, em 1890 no Rio de
Janeiro, do imigrante belga João Dierberger fundando em 1893 a “Floricultura João
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Dierberger”, localizada na cidade de São Paulo sendo a loja localizada a Praça Antonio
Prado e a chácara onde as mudas eram produzidas a Rua Peixoto Gomide.
A companhia fundada por Dierberger foi responsável pela introdução e adaptação
das primeiras variedades – registradas – de rosas, provenientes de produtores “que
obtiveram prêmios na Exposição Universal de Bruxelas”. Tinha em seu estoque rosas
provenientes da Europa, algumas ainda hoje clássicos em cultivo. No catálogo editado em
1908 – 4ª Edição – era posto à disposição do consumidor mais de 200 variedades.
Entre as variedades comercializadas por Dierberger, a qual fazem parte do referido
catálogo estão duas variedades exclusivamente nacionais, “Conde d’Eu” e “José
Bonifácio”. Não existe no entanto nenhum registro fotográfico ou descrição detalhada que
nos permita empreender uma busca por essas variedades; muito provavelmente são criações
de nosso primeiro hibridador a que se tem registro chamado Dr Joaquim Martins Fontes da
Silva – pai do famoso escritor de livros infantis, Narbal Fontes.
Dr. Joaquim Martins Fontes da Silva era advogado, residente na cidade de Tietê –
interior paulista – onde estabeleceu-se à Rua São Benedito nº 34. Sua residência era
conhecida como a “Chácara das Rosas”, referência direta a sua atividade de hibridador. Os
registros referentes a sua atividade como hibridador encontram-se hoje perdidos, contudo
há indícios de que tenha produzido mais de 200 variedades as quais participaram de
campeonatos internacionais. Waldemar Silva, em seu livro “Cultivo de Rosas no Brasil”
registra que Dr. Martins Fontes, em ocasião de sua morte em 1918 preparava-se para enviar
um lote de rosas para a França. Segundo o mesmo autor, sua criação mais famosa foi
“Fausto Cardoso”. Talvez com o tempo e o trabalho de pesquisa, mais detalhes sobre este
nosso valoroso pioneiro-hibridador possa chegar até o conhecimento do público dando-lhe
o seu merecido reconhecimento.
Outro importante degrau no desenvolvimento na hibridação de rosas no Brasil foi a
chegada dos imigrantes alemães Kurt e Hans Boettcher, em 1929. Trabalhando inicialmente
para a “Dierberger Agro-Comercial”, fundaram no bairro de Jabaquara, em São Paulo, uma
empresa própria. Com a ampliação dos negócios e necessitando de mais espaço,
transferiram-se entre 1933 a 1934 para a cidade de Cotia, fundando aí a “Floricultura e
Pomicultura Cotia”, atual “Roselândia”.
A “Roselandia” foi responsável pela introdução de vários híbridos famosos no
mercado brasileiro como “Peace” e “Queen Elizabeth”, porém o primeiro híbrido brasileiro
devidamente registrado veio surgir somente em 1968 recebendo o nome de “Hebe
Camargo”.
Atualmente Arno Boettcher continua o trabalho iniciado pelo pai.
Em 1948 imigrantes holandeses fundaram a “Holambra” organizando-se em
cooperativa em 1972 com a “Cooperativa Agropecuária de Holambra”. Através da
produção segundo os padrões internacionais, atualmente, detêm significativa fatia do
mercado interno e de exportação de rosas no Brasil.
Outro polo de desenvolvimento no cultivo de rosas é a região nordeste, no Ceará,
sobretudo na Região do Maciço do Baturité, nas cidades de São Benedito, Guaramiranga,
Sertão do Cariri e Serra de Ibiapaba.
As grandes companhias que dedicam-se ao cultivo de rosas atualmente no Brasil,
concentram sua produção sobretudo para atender o mercado de rosas de corte, utilizando
para isso variedades desenvolvidas por hibridadores europeus ou norte americanos;
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variedades estas como: Carola, Move Star, Avalanche e Salmone. Não existe nenhum
esforço – com exceção da “Roselândia” – em desenvolver no Brasil variedades próprias
mais adaptadas ao clima e com potencial comercial.
Observações Sobre o Cultivo de Rosas no Brasil
O melhor panorama que se pode ter sobre o cultivo de rosas no Brasil pode ser
obtido pela simples observação da utilização em paisagismo e da forma de como é feita
comercialização das mudas.
Olhando para as variedades cultivadas em nossos jardins, poderemos perceber que
estas são frutos dos trabalhos desenvolvidos por hibridadores europeus num período muito
curto entre o final do século XIX e início do século XX. As principais variedades ainda hoje
cultivadas são:
Frau Karl Druschki – Lambert – 1901
Mme Norbert Levevasseur – Lavavasseur et Fils – 1903
Rose d’Orleans - Lavavasseur et Fils – 1909
Jonkeer J. L. Mock – Leenders – 1909
Paul Neyron – A. Levet – 1869
Louise Odier – M. Margotin – 1851
George Dickson – Dickson - 1912
Dagmar Späth – Wirtz e Eicke – 1931
Cécile Brünner – Joseph Pernet-Ducher – 1881
Mlle Franziska Kruger – Nabonnand – 1880
Honorine de Brabant – desconhecido – 1840
Lafayette – Auguste Nonin et Fils – 1921
Algumas dessas variedades adquiriram nomes populares como “Rainha das Neves”
(Frau Karl Druschki), “Rosa Branca Medicinal” – (Dagmar Späth), “Rosa Chita” –
(Honorine de Brabant ), “Rosa dos Parques” – (Rose d’Orleans), “Rosa Rei” – (Paul
Neyron), “Rosa de Santa Terezinha” – (Jonkeer J. L. Mock), “Rosa de Santa Rita” ou
“Amélia” – (Mlle Franziska Kruger), “Rosa Caipira” – (Mme Norbert Levevasseur). Rosa
caipira também é dada a denominação a algumas variedades originais chinesas introduzidas
no Brasil como a Rosa chinensis spontanea (Slater’s Crinson China) e Old Blush China
(Parson’s Pink China). Um aspecto curioso é justamente a existência de rosas originalmente
chinesas em nosso jardins, algumas vezes podemos encontrar com facilidade a espécies
“Fen Hong Yeu Yue Hong” (Yue Yue Fen), muitas vezes classificada como sendo “Old
Blush”, bem como uma variedade pouco conhecida na Europa que recebe o mome de “Fen
Zhuang Lou”. Rosas de origem chinesa cujo cultivo se perde no tempo. Como vieram parar
aqui?
A partir de 1970 o comercio de mudas de rosas veio crescendo ano após ano porém
um aspecto negativo, aliado talvez ao desinteresse dos consumidores, permaneceu sempre
presente; no comercio em geral de mudas não costuma-se identificar as rosas – bem como a
maior parte das plantas – pela sua variedade. Cultiva-se roseiras as quais os cultivadores
são incapazes de identificar o nome ou origem, dessa forma torna-se mais difícil obter de
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antemão informações que muito poderiam contribuir para o sucesso no cultivo. Com
exceção de variedades muito distintas como “Rumba” ou “Samba”, os comerciantes
identificam as variedades simplesmente pela cor: branca, bicolor, amarela.
A parte a problemática, temos entre as rosas modernas comercializadas em todo o
Brasil entre outras:
Queen Elizabeth – Lammerts – 1954
Lili Marlene – Kordes - 1958
Rumba – Poulsen - 1958
Samba – Kordes - 1964
Pascali – Louis Lens - 1963
Neue Revue – Kordes - 1962
Mainzer Fastnacht – Tantau - 1964
Smoky – Jackson & Perkins – 1968
Estas rosas, em sua maior parte, foram introduzidas pela “Roselândia” e tornaramse base nas linhas de cultivo dos produtores atacadistas.
A maioria esmagadora das variedades cultivadas são as chamadas Híbridas de Chá,
sendo que com pouquíssimas excessões, não se encontra a disposição do consumidor
brasileiro rosas selvagens (espécies) ou classes mais antigas como: damascenas, centifólias,
musgos e gálicas; linhagens novas como as rosas de David Austin ainda não encontraram
mercado por aqui onde a maioria das rosas provém de pouquíssimos obtentores europeus
como: Kordes, Tantau e Delbard.
Tenho esperança que, nos próximos anos, o surgimento de novos hibridadores possa
mudar a face do cultivo de rosas no Brasil para uma maior diversificação e introdução de
muitas variedades 100% nacionais.
Para encerrar, vamos falar sobre uma lenda entre os jardineiros brasileiros,
principalmente entre os amantes das rosas, a chamada “Rosa Principe Negro”.
Há alguns anos atrás, quando uma revista entrevistava Hans e Arno Boettcher, foi-lhes
perguntado qual a rosa mais procurada pelos brasileiros, a resposta foi: “A rosa ‘Príncipe
Negro’”.
Essa variedade, ao que parece, foi cultivada em tempos passados pelos brasileiros,
talvez por volta do início do século XX, porém tornou-se extinta nos nossos jardins
restando por aqui somente a lembrança de uma rosa de vermelho intenso, quase negro.
Ainda hoje, muitas das rosas de tom vermelho muito escuro são comercializadas como
sendo “a verdadeira ‘Principe Negro’”. O fato curioso é que, seja lá qual foi essa rosa que
tão forte impressão deixou no consciente coletivo de nossos brasileiros, ao que se descreve,
não poderia ser o “Prince Noir” como muitos pensam e sim “Black Prince”. Vou explicar
por que.
Ambas as variedades “Prince Noir” e “Black Prince” são cultivadas por alguns
colecionadores e produtores especializados na Europa. A variedade “Prince Noir” é um
Hibrido Perpétuo obtido em 1854 na França por Joseph Boyau Pére, suas flores são cor de
malva ou cor de cereja intenso não coincidindo com a descrição popular de uma rosa de cor
vermelho intenso. Do outro lado temos no entanto “Black Prince”, também Híbrido
Perpétuo, obtido em 1866 por Willian Paul, na Inglaterra. A variedade “Black Prince” está
mais próxima da descrição popular de uma rosa de vermelho enegrecido e forte perfume.
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Hoje temos rosas mais escuras como “Le Prince” e “Othelo” de David Austin, assim
como “Louis XIV”, tão antiga como as outras pois foi obtida em 1859, no entanto, quem
sabe algum dia, todos os “príncipes” possam voltar a habitar nossos jardins ou mesmo
serem redescobertos em algum jardim do interior, como aconteceu com “Jeane D’Arc” e
“Rosa Edouard”, rosas julgadas extintas e redescobertas em jardins de países distantes da
Europa, só o interesse e a informação poderão nos revelar os tesouros que porventura
crescem anônimos em nossos jardins.
“Vejo-te em seda e nácar,
E tão de orvalho trêmula,
Que penso ver, efêmera,
Toda Beleza em lágrima
Por ser bela e ser frágil
Então, de seda e nácar,
Toda de orvalho trêmula, será eterna”
Cecília Meireles
Bibliografia
Livros:
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Old Roses and English Roses – autor: David Austin – Antique Collectors’ Club – 1992
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The English Rose – autor: David Austin – Conran Octopus – 1994
Segredos da Propagação de Plantas – autor – Lewis Hill – Nobel – 1996
Horta e Saúde – Editora Abril
Catálogo: Classic Roses – The Peter Beales Collection – Crowes Complete Print of Norwich –
2003-2004
Catálogo: Floricultura João Dierberger 4ª Edição – Espindola & C.ª - 1908
As Bases da Hereditariedade – S. C. Hart – Editora Anchieta S/A – 1946
Cultivo de Rosas no Brasil, 3ª edição – autor: Waldemar Silva – Nobel
Sitios e Jardins “Rosas” – Arno Boettcher – Editora Europa - 1991
Artigos:
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The Carnation Rose: An Unusual Teratologic Variation – Jour. Of Heredity - 1929
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Rose / Perfumed Inpiration: The Damask Rose / Moss Roses: Silk and Fur / China Rose: The Rosa
that Began a Cultural Revolution / Bourbon Roses: A Walk Down Bourbon Street / The
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Marianne C. Ophardt
Roses whit ancient roots
Half S. Moore
Discover the World of Miniature Roses
How to Propagate Miniature Roses
Breeding Whith Crested Moss
Moss Roses: Where Did They Como From?
Striped Roses Are Here!
Hybridizing and Harvesting
Brent C. Dickerson
Old Rose History and Synopsis – 1998
A Quick Review of the Bourbons of the 1820s – 1999
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