A diminuição dA cAlotA polAr vistA Em timE-lApsE

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Ed
iç
ã
Oásis
NA PRISÃO DOS
GENOCIDAS
Scheveningen, onde
o importante é saber
jogar xadrez
SORRIR, CHAVE
DA FELICIDADE
Os benefícios do bom
humor e do riso
para a saúde
SALVAR AS
FLORESTAS
A batalha pela
preservação das
matas tropicais
A diminuição da calota
polar vista em time-lapse
O FIM DO GELO
NO ÁRTICO
por
Luis
2014 foi o ano mais quente desde que, há mais de um
século, iniciaram as aferições científicas regulares das
temperaturas mundiais. A situação é grave e até mesmo
alarmante em todas as partes do mundo
Pellegrini
Editor
N
os últimos anos, a maior parte das organizações ambientalistas em todo o mundo decidiram concentrar seus esforços nos
estudos relacionados ao aquecimento global e aos modos pelos
é possível combate-lo. Claro, essa decisão não significou o abandono das
suas outras áreas de atuação, tais como preservação da biodiversidade,
poluição ambiental, ecologia, salvaguarda de espécies ameaçadas de extinção, etc. Apenas, as lideranças ambientalistas chegaram à conclusão que
o aquecimento global é um fenômeno real, como já chegara, e constitui
a maior ameaça que o planeta já enfrentou em toda a sua história, desde
que o ser humano surgiu.
Recentemente tivemos a confirmação: 2014 foi o ano mais quente desde
que, há mais de um século, iniciaram as aferições científicas regulares das
temperaturas mundiais. A situação é grave e até mesmo alarmante em todas as partes do mundo, e os sintomas pipocam em todas os continentes.
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Editorial
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Basta ver o que acontece neste momento aqui no Brasil, onde alguns dos
mais importantes reservatórios hídricos estão a ponto de colapsar.
por
Luis
Pellegrini
Editor
Mas a situação na região do Polo Norte, talvez seja atualmente a mais crítica e ameaçadora. Naquela região, por causas ainda não bem conhecidas,
o aumento das temperaturas é o dobro daquele que pode ser observado
no resto do mundo. A tal ponto que, dentro de poucos anos, a calota
de gelo no oceano ártico – fundamental para o equilíbrio climatológico e
hidrológico do mundo – simplesmente poderá desaparecer por completo
durante os meses quentes.
Nossa matéria de capa examina aspectos fundamentais desse problema.
Ela contem dois vídeos importantes, e uma pequena galeria de imagens
de belíssimos animais cujo habitat é a região do Ártico. Vários deles, infelizmente, ameaçados de extinção.
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Editorial
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ambiente
O FIM DO GELO NO ÁRTICO
A diminuição da calota polar
vista em time-lapse
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ambiente
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Video de animação resume o
dramático encolhimento do gelo
no Oceano Ártico nos últimos 27
anos. Mostra que o aquecimento
global é real e seus efeitos são
assustadores
R
Por: Luis Pellegrini
ecentemente tivemos a confirmação: 2014 foi o ano mais quente
desde que, há mais de um século,
iniciaram as aferições científicas
regulares das temperaturas mundiais. A situação é grave e até mesmo alarmante em todas as partes do mundo. Basta ver
o que acontece neste momento aqui no Brasil,
onde alguns dos mais importantes reservatórios hídricos estão a ponto de colapsar. Apesar
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ambiente
disso, a situação na região do Polo Norte é
ainda mais crítica e ameaçadora.
No vídeo-animação mais abaixo, produzido pela National Oceanic and Atmospheric
Administration (NOAA) norte-americana,
vemos o progressivo encolhimento dos gelos
árticos, de 1987 a novembro de 2014. Trata-se de um time-lapse realmente angustiante.
No vídeo, as diferentes cores representam a
idade do gelo presente: em branco vemos o
gelo mais velho (com 4 anos ou mais), importante pelo fato de ser mais espesso e potencialmente mais resistente ao aumento da
temperatura durante o verão; em azul, o gelo
mais recente, com menos de um ano de idade, formado no último inverno (entre 2013 e
2014). Este último gelo é o primeiro a se derreter quando chegam os meses quentes (entre abril e setembro no Hemisfério Norte).
No passado, a cada inverno, o gelo marinho
preenchia quase toda a bacia ártica, e uma
parte dele se derretia durante o verão. Nesses tempos, normalmente, o gelo mais fino
começava a mover-se em uma corrente fria,
chamada Beaufort Gyre; nessa corrente, a
parte gelada que conseguia permanecer assim durante o verão, tendia no inverno a se
tornar mais espessa e menos vulnerável às
mudanças climáticas.
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de gelo ártico libere os imensos depósitos de gás metano
que se encontram no fundo do Oceano Ártico. O metano
é um gás de efeito estufa de efeito vinte vezes maior do
que o gás carbônico (CO2). Lançado na atmosfera, todo
esse metano pode incrementar de forma exponencial o
aquecimento global, elevando a temperatura média do
planeta a níveis insuportáveis. Além disso, o derretimento das geleiras árticas, e da própria cobertura de gelo do
norte do Canadá e da Groenlândia, lançaria nos oceanos
uma gigantesca quantidade de água doce, aumentando o
nível dos mares e diminuindo a salinidade deles. Neste
caso, as consequências sobre a fauna e a flora marinha
são imprevisíveis.
Urso polar caminha na borda do gelo.
Calota polar derrete cada vez mais
Diminuição progressiva e contínua
Mas, a partir dos anos 2000, segundo a NOAA, a própria
Beaufort Gyre se aqueceu, perdendo boa parte do seu
papel de guardiã dos gelos. Se nos anos 80 o gelo mais
velho constituía cerca de 26% do total, em 2014 esse índice chegou a apenas 10%. Houve, é verdade, um pequeno
aumento dos gelos entre os anos 2013 e 2014, mas nada
significativo a ponto de estimular nosso otimismo: o declínio dos gelos árticos é constante e inexorável.
A camada de
gelo como era
observada em
1980 (abaixo)
e em 2012
(acima). Foto
NASA por
satélite
Consequências? São várias, e todas muito preocupantes.
Em primeiro lugar, teme-se que o derretimento da calota
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Vídeo 2: Maior colapso de gelo já registrado da
história é de tirar o fôlego
Imagine um pedaço inteiro do distrito de Manhattan, em
Nova York, ou de toda a região central de São Paulo entrando em colapso, com seus prédios desabando como
fileiras de dominó. Esta é uma comparação que serve
para dar uma referência humana ao devastador rompimento de blocos do glaciar Ilulissat, ocorrido há um ano,
no oeste da Groenlândia, e que durou 75 minutos. Trata-se da maior partição de gelo já registrada em toda a história. As imagens foram gravadas pelos documentaristas
do projeto Pesquisa Extrema no Gelo Balog, e as cenas
A morsa é um dos mais extraordinários habitantes do Ártico
Ártico derrete
Vídeo 1: Idade do gelo ártico, 1987-2014
Há décadas, a maior parte da calota polar durante o inverno no Ártico era constituída de gelo duro, espesso e
perene. Hoje, encontrar áreas onde ainda exista esse gelo
velho é extremamente raro. Este vídeo-animação mostra
a quantidade relativa de gelo durante os diferentes anos e
estações de 1987 até novembro de 2014. O vídeo foi produzido pelo climate.gov team, que trabalhou com dados
fornecidos pelo climatologista Mark Tschudi.
Clique aqui e veja o vídeo
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ato incontrolável da natureza ao mesmo tempo provoca
admiração e espanto e nos
relembra como somos frágeis
diante das forças do nosso
planeta.
Clique aqui e veja o vídeo
Narval
estão no filme “Chasing Ice”, do fotógrafo James Balog.
Estima-se que a área atingida é equivalente à ponta sul
de Manhattan: um pedaço em torno de 5 quilômetros de
comprimento e 3,5 quilômetros de largura. Isso sem falar
que a espessura do gelo que se soltou é de mais de 900
metros - 100 metros fora d’água e o restante submerso.
As espetaculares imagens e o som impressionante são
de tirar o fôlego. O silêncio do deserto de gelo é, literalmente, quebrado pela queda de gigantescos nacos de gelo
que são devorados pelo mar. O barulho provocado pelo
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Casal de papagaios-do-mar
Galeria: Maravilhas do
Ártico ameaçadas pelo
aquecimento
Diferente do que muitos pensam,
o Ártico não é uma espécie de
deserto gelado. Pelo contrário,
ele está cheio de vida, povoado
por criaturas que souberam se
adaptar às difíceis condições climáticas da região. Claro, em termos de populações vivas, a maior
parte delas está no mar. Mas o
Ártico hospeda também vários
mamíferos e pássaros. Esta galeria de imagens mostra algumas
espécies de animais do Ártico,
todas elas ameaçadas pelas mudanças climáticas atualmente em
curso na região.
No gelo perene do Polo Norte,
no transcorrer dos milênios, essas espécies souberam
construir um delicadíssimo ecossistema. Mas ele, cada
vez mais, se transforma e perde sua eficácia, quase sempre por causa da intervenção do homem. Segundo recente relatório do Circumpolar Biodiversity Monitoring
Programme, denominado Arctic Species Trend Index
(ASTI), o número dos animais que povoam as regiões
árticas aumentou globalmente cerca de 16% nos últimos
40 anos. Isso se deve sobretudo à difusão de severas leis
restritivas relacionadas à caça. Apesar disso, nem todas
as espécies vivem essa bonança. Algumas foram lit4eoásis
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ralmente dizimadas por causa do aquecimento global.
Quem ascende e quem descende nesse triste boletim das
extinções? Quais são as táticas de sobrevivência desses
habitantes do Polo Norte? Aqui segue uma galeria com
dez casos curiosos de adaptabilidade e sobrevivência.
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1 Papagaio-do-mar ou fradinho. Entre as espécies árticas que melhor se adaptam às novas condições climáticas e cujo número
continua a crescer está o papagaio-do-mar, também conhecido como fradinho (Fratercula arctica), uma ave bela e engraçada que povoa os penhascos da Groenlândia e do norte do Canadá. Um fator essencial para a sua sobrevivência é a abundância de pequenos peixes, moluscos e crustáceos. Como mostra a foto, esse pássaro consegue abocanhar vários peixinhos de uma única vez. Quando pesca, o
papagaio-do-mar primeiro enche o papo para si mesmo, e depois reúne uma série de peixinhos no bico e os leva aos filhotes.
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2 Baleia da Groenlândia (Balaena mysticetus). Ela é a prova viva da importância das campanhas em defesa dos cetáceos. Com
efeito, o número dessas baleias, antes seriamente ameaçadas de extinção, aumentou. Entre 1970, quando iniciaram as campanhas, e
2004, seu número cresceu regularmente de cerca 3% ao ano. Para se defender dos ataques do homem, seu único inimigo, essa baleia
não lança mão apenas do seu tamanho (entre 14 e 18 metros, a segunda maior depois da baleia azul). Ela usa também a sua astúcia:
quando percebe a presença de navios, permanece escondida sob a superfície das grandes placas de gelo da calota polar. Quando precisa respirar, não sai do seu refúgio mas arrebenta o gelo dando pancadas com seus grandes ossos do crânio, criando um buraco por
onde consegue fazer passar o ar.
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3 Águia-do-rabo-branco. Também se adapta bem às novas condições, e seu número cresce. Essa águia (Haliaeetus albicilla) é no
entanto um rapace muito raro. Estima-se que em todo o Ártico restam apenas entre 20 e 30 mil exemplares. Na foto, uma águia-do-rabo-branco tenta agarrar um peixe, enquanto uma gaivota (Larus canus) se posiciona para tentar roubar-lhe a presa.
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4 Raposa do Ártico (Alopex lagopus). Nos próximos anos, a existência dessa raposa estará seriamente ameaçada pela grande
diminuição das populações dos lemingues, pequenos roedores árticos que constituem a sua principal fonte de alimento. Na falta de um
lemingue, o exemplar da foto se contata em roer a carcaça de um cetáceo.
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5 O caribu (Rangifer tarandus). Se, devido ao aumento da temperatura média, a população global dos animais árticos está em aumento, o mesmo não se pode dizer das espécies que vivem no extremo norte da região, nas vizinhanças do Polo Norte. Ali, desde 1970,
observa-se uma queda progressiva do número de vertebrados de cerca 26%. A culpa, segundo os especialistas, é mesmo do aquecimento global, fenômeno particularmente intenso naquela área. O animal que mais sofre com isso é o caribu, cujos rebanhos já diminuíram
de uma terça parte.
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6 Urso-marrom (Ursus arctos). Menos famoso do seu primo de pelagem branca (Ursus marinus), o urso marrom também corre
sério perigo. As intervenções do homem em seu meio ambiente o privou de vastas porções do seu habitat natural, confinando a quase
totalidade dos exemplares restantes a um areal estéril que corresponde a apenas 2% da área original que esses ursos ocupavam. Ainda
mais dramática é a situação dos ursos brancos na Baía de Hudson, Canadá. Aqui, a rapidez com que o gelo derrete devido ao aquecimento global aprisiona os últimos exemplares em porções exíguas do território, obrigando-os a longos jejuns e inclusive, como foi
comprovado, a casos de canibalismo.
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7 Lebre-do-Ártico (Lepus arcticus). O declínio de herbívoros como a lebre ártica é devido às mudanças que ocorrem na vegetação
da tundra e à flutuação dos ritmos sazonais causada pelas mudanças climáticas. A chegada pontual da primavera é fundamental para
este mamífero, aqui fotografado no momento em que muda a pelagem branca, adequada ao inverno, por uma bem mais escura e mimética, que no verão serve para proteger o animal contra os predadores.
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8 Glutão ou carcaju (Gulo gulo). Mamífero da família dos mustelídeos, o glutão é um animal onívoro, embora a carne seja o
principal elemento da sua dieta. Caçado sobretudo por causa da sua pele, é um animal que aprendeu que, para sobreviver, é preciso
mostrar as garras. Quando sente fome, esse mamífero não hesita em atacar animais cinco vezes maiores que o seu tamanho, tais como
alces, cervos e renas. Quando sobra um pouco de comida, o glutão a conserva sob a neve, depois de ter borrifado sobre os restos substâncias malcheirosas que os tornam repulsivos aos outros carnívoros.
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9 Morsa (Odobenus rosmarus). Os grandes pedaços de gelo flutuante nas proximidades do litoral ártico são o habitat preferido
das morsas. Esses grandes mamíferos marinhos fazem os seus ciclos migratórios em função das variações sazonais da temperatura.
Quando no verão o gelo se retira, as morsas migram para o norte. No inverno, quando o gelo se expande, elas voltam ao sul, perfazendo entre a ida e a volta trajetos que podem chegar a três mil quilômetros.
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10 Narval (Monodon monóceros). O narval, curioso cetáceo ártico dotado de uma lança frontal que pode chegar a três metros de
comprimento, é outro animal particularmente ligado às variações da expansão e retração do gelo. A lança, que é na verdade um dente modificado característico dos machos, condena esse animal a uma fuga constante dos caçadores inuit (os antigos esquimós) que o
utilizam para a produção de peças artesanais, além de comerem a sua carne. Os biólogos ainda discutem a verdadeira função da lança:
parece que mais que arma de combate, trata-se simplesmente de um adereço sexual útil para atrair a atenção das fêmeas.
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reportagem
NA PRISÃO DOS GENOCIDAS
Scheveningen, onde o importante
é saber jogar xadrez
O grande portal de entrada da prisão
de Scheveningen, na Holanda
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reportagem
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Trinta e três homens, entre os
quais Radovan Karadzic, o antigo
líder dos sérvios da Bósnia, estão
detidos na prisão de segurança
máxima de Scheveningen, na
Holanda. Todos eles aguardam
julgamento pelo Tribunal Penal
Internacional de Haia, por crimes
contra a humanidade
H
Por: Ronen Steinlie
Fonte: Jornal Suddeutche Zeitung, Munique
á tempos, uma piada particularmente ácida circulava nos
corredores das Nações Unidas:
Por que não abandonar todas as
missões de paz por esse mundo
a fora, tão dispendiosas, todos
os programas de reconversão de
rebeldes, todos os projetos de “reconstrução”
política que, do começo ao fim, demonstram
ser fruto de uma grande ingenuidade, e que
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reportagem
desembocam num fiasco ou se transformam
em miragens do Ocidente? Em vez deles, e
com muito menos dinheiro, seria possível
comprar uma ilha nos mares do Sul, com
uma praia rodeada de palmeiras, onde os senhores da guerra e outros chefes militares da
pior espécie beberiam coquetéis de manhã à
noite. Quem sabe, a paz mundial não ganharia com isso?
Scheveningen é um bairro chique localizado
na orla marítima de Haia, a cidade onde fica
a sede do Governo holandês. Quando as nuvens se abrem, os raios de sol varrem o mar,
como se fossem holofotes. Embora ligeira, a
pouca distância dali, a brisa que vem do mar
ultrapassa a parede de tijolos vermelhos
com seis metros de altura.
A pé, leva-se muito tempo a fazer o percurso. Primeiro, é preciso atravessar dois perímetros de segurança fortemente guardados,
entregar os objetos metálicos à
entrada da velha penitenciária e se sujeitar a
uma revista, antes de se passar por uma série
de pesadas portas, abertas uma a uma, quando a anterior é fechada.
Em seguida, atravessa-se um pátio interior
ornamentado com coníferas e rodeado de
gradeamentos e arame farpado. Por fim, chega-se ao coração do complexo penitenciário,
diante de uma casa isolada equipada com
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as quais os assaltantes de bombas de gasolina ou os traficantes de drogas só sonhar: estes veem o pátio das janelas das
suas celas, no edifício vizinho.
O sorriso de Karadzic
Uma cela-padrão da penitenciária de Scheveningen
outro pórtico de segurança e guardada por vigilantes, que
voltam a fazer uma revista completa. Desta vez, os seguranças não estão vestidos com o uniforme holandês, mas
com as camisas azul-celeste da ONU.
Três pisos cercados por muralhas muito altas, rodeadas
de bonitos edifícios ao estilo holandês: uma prisão dentro
da prisão. Mas também uma ilha. Os raros prisioneiros
que aqui estão podem sair para o ar livre com uma frequência duas vezes maior do que os presos sujeitos ao regime penal comum. Também têm direito a receber muito
mais visitas: até sete dias inteiros por mês. Benesses com
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reportagem
O vento que vem do mar penetra no edifício porque no interior há muitas portas
que ficam abertas. Quem já teve ocasião
de visitar uma prisão alemã ou um centro de detenção preventiva fica admirado
com a limpeza das
paredes e a ausência de grafitti: as paredes são brancas, iluminadas até aos mais
pequenos recantos, os tijolos cinza-claros e as inúmeras câmaras de vigilância
não têm o menor arranhão.
Os 33 homens que dispõem dessas instalações só para si são antigos criminosos de guerra,
ditadores ou chefes militares, às vezes provenientes de
regimes inimigos. Nesta penitenciária da justiça penal
internacional vivem ao mesmo tempo sob a vigilância da
ONU, que gere em Haia vários tribunais encarregados de
julgar os criminosos de guerra, e do Tribunal Penal Internacional (TPI), que intentou processos contra alguns
deles.
Três celas individuais estão reservadas a criminosos da
ex-Iugoslávia, entre os quais dois antigos Presidentes.
Até esta data, as Nações Unidas nunca tinham autorizado
a entrada de jornalistas para além destas paredes. “Por
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O Palácio da Paz, sede da
Corte Internacional de Haia
motivos de segurança.” E talvez também
porque o espetáculo suscita questões a
que não é fácil responder - questões de
justiça e de equidade.
Desde junho de 2008, o centro de detenção alberga Radovan Karadzic, o antigo
comandante dos sérvios da Bósnia. Ainda hoje ele deve rir, sempre que pensa
no modo como enganou os seus perseguidores durante tantos anos, sob a falsa
identidade de Dragan Dabic, terapeuta
instalado em pleno centro de Belgrado.
Quando chegou à prisão, os outros detidos o viram primeiro no pátio, dando o
seu passeio. Nenhum quis perder o espetáculo. O mundo tinha-lhe voltado as
costas, mas diria-se que ele estava dando
a volta olímpica após uma grande vitória,
apesar de vestir a roupa simples que é fornecida aos prisioneiros.
Era o novo ‘número 1’ de Scheveningen no ato de receber
mensagens de encorajamento dos seus antigos generais”,
recorda um dos seus advogados de defesa, que na altura
tinha acesso privilegiado.
Que grande ocasião deve ter sido aquela para Sredoje
Lukic, um simples policial municipal sérvio, preso sob
o mesmo teto, alegadamente por um massacre de muçulmanos, executado por ordem dos seus superiores
políticos na Bósnia. De um dia para outro, eis que o seu
antigo Presidente, Radovan Karadzic, estava comendo no mesmo refeitório. Estavam lado a lado, diante do
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reportagem
fogão da sala de jogos reservada aos detidos, sob um
exaustor gigantesco, que faria morrer de inveja qualquer
McDonald’s.
Durante a nossa visita, não fomos autorizados a ver a
cozinha de Karadzic, apenas uma outra de configuração
idêntica, que desde há algum tempo não é usada pelos
presos. Parecia estar muito bem cuidada, como se a tarefa aqui realizada tivesse sido levada muito a sério.
“Normalmente, há ruídos característicos quando se entra
numa prisão”, comenta Klaus Hansen, que durante 12
anos desempenhou várias funções em estabelecimentos
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Atual sede da ICC - International
Criminal Court, em Haia
desvios dentro do centro, para nos afastar
de todas as divisões ainda ocupadas: só
seríamos autorizados a visitar salas vazias...
Gbagbo em roupas íntimas
penitenciários clássicos na Dinamarca, antes de assumir
funções aqui, “sonoridades metálicas. As chaves, as portas, vozes de homem... Aqui, não há nada disso, tudo é
abafado.” Com a sua barba branca e o seu rabo de cavalo,
este simpático dinamarquês é um dos especialistas civis
encarregados de proteger a vida privada dos prisioneiros
do mundo exterior.
Os ocupantes da casa são odiados e temidos, mas, simultaneamente, e esse é o grande problema, ainda são venerados - por redes secretas de antigos fiéis, no seio das
forças de segurança dos respetivos países. Foi por esse
motivo que Klaus Hansen nos obrigou a muitos e penosos
oásis
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reportagem
Os prisioneiros dispõem de células individuais distribuídas por quatro andares:
três estão reservadas a criminosos da ex-Iugoslávia, entre os quais dois antigos
Presidentes, responsáveis por terem conduzido a sua região a uma loucura assassina, através de apelos ao ódio. São presumíveis criminosos, é bom ressaltar, já que
todos os prisioneiros detidos aqui estão
em prisão preventiva, aguardando o veredicto final do seu julgamento. Acontece
que as coisas podem se arrastar, em Haia:
sete anos, em média.
O último andar alberga os detidos africanos citados para
comparecer perante o TPl. Entre eles está um outro ex-Presidente, deposto há três anos por ocasião
de uma operação militar conjunta levada a cabo pelos
franceses e pelas Nações Unidas, na Costa do Marfim.
Quando chegou à prisão, Laurent Gbagbo chegou vestindo apenas as roupas íntimas que usava quando fora preso.
Lá em baixo, no hall de entrada de ladrilhos escuros,
onde os sofás velhos encostados uns aos outros dão a
impressão
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A barra do Tribunal de Haia,
com os seus juízes
de estarmos num estabelecimento para
menores infratores alemães, cruzamos
com duas mulheres africanas luxuosamente vestidas. São visitas que já se preparam para ir embora. Os detidos estão
a apenas alguns metros, mas eles se
mantêm invisíveis.
A experiência social que aqui se desenrola dá a impressão de ser feita em
condições relativamente favoráveis: é
certo que o espaço é limitado, os tetos
baixos, a sala de ginástica do primeiro
andar não é maior que meia quadra de
basquete - as linhas de cores entrelaçadas, desenhadas no chão e relativas aos
diversos desportos com bola, estão tão
apertadas que o resultado vira um conjunto de rabiscos absurdos.
As janelas, minúsculas, estão colocadas a uma tal altura
do chão que seriam necessários três homens sobre os ombros uns dos outros para conseguirem ver alguma coisa
através das grades. Uma cena que teríamos dificuldade
em imaginar, dado que a idade média dos pensionistas é
de 62,9 anos (“O nosso principal problema são os ataques
cardíacos”, sussurra um dos empregados). Pelo menos,
sempre tem uma sala de ginástica em bom estado e que
até possuí equipamentos de cardiologia, num dos cantos,
um luxo desconhecido em muitas prisões europeias.
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reportagem
Guitarras e um teclado à disposição
Os dois senhores da guerra da Bósnia e da Libéria, Radovan Karadzic e Charles Taylor, tratavam-se por “Senhor
Presidente”, até Charles Taylor ser transferido para a
Grã-Bretanha, no outono passado, para cumprir o resto
da pena. Ignora-se se os dois homens se encontraram
mais vezes no ginásio ou na sala de música do rés do
chão, onde algumas guitarras antigas e um teclado estão
a disposição dos prisioneiros. (“Não tem importância, os
detidos nunca estão contentes, estão sempre se queixando”).
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Salão de debates do Tribunal
Internacional de Haia
coletivos beneficiam de tratamentos que
raras vezes são aplicados na África. Pelo
contrário, as suas vítimas não podem beneficiar desses tratamentos caríssimos.
Mais de um advogado penalista internacional manifestou
suas dúvidas face a condições de detenção tão favoráveis.
A justiça internacional esforça- se por cumprir as normas
humanitárias mais exigentes, com o objetivo de servir de
modelo a todos os países do mundo que mantêm os seus
presos em condições desumanas. Por outro lado, há aqui
uma contradição relacionada à gravidade dos atos cometidos que é difícil esquecer.
Tomemos o exemplo do Ruanda: 20 anos após o genocídio que enlutou o país, alguns dos presumíveis culpados
ainda estão em prisão preventiva, nas mãos das Nações
Unidas. Aqueles que contraíram AIDs devido a estupros
oásis
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reportagem
Mas em nenhum outro local o contraste e’
tão evidente como em Scheveningen, onde
presumíveis responsáveis por genocídios
são, literalmente, vizinhos de piso
de delinquentes comuns. O que explica
que Scheveningen se tenha tornado um
destino muito valorizado: assim, Saif al-lslam Kadhafi, um dos filhos do ditador
líbio Muammar Kadhafi, que ameaçam os
rebeldes de fazer jorrar “rios de sangue” ,
passou subitamente ao perfil discreto e no
outono de 2011 pediu, através de emissários, um salvo-conduto para se deslocar a
Haia. Preferia entregar-se ao TPI do que
cair nas mãos dos rebeldes do seu país. Escapava assim
à pena de morte e garantia uma detenção em condições
humanas.
Deveremos nos alegrar ou bradar aos céus? Um delinquente como o filho de Kadhafi, que só quer cair nas
mãos dos procuradores internacionais, pode parecer um
absurdo. Afinal, a justiça internacional não foi feita para
atenuar os riscos da profissão de ditador e, sim para ter
um efeito dissuasor. Por outro lado, um cruel instigador
de guerras que de repente põe termo às suas atividades
e se precipita para a Europa longínqua, para ser algemado? Também não está mal, é a magia da ilha.
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uma vez por semana. Em Scheveningen, muitos esperam
por ela todos os dias, e a conseguem. Essas visitas são
sempre de manhã. Os advogados fazem fila em frente
dos três parlatórios da penitenciária da ONU.
Muitos vêm de Paris, de Londres ou de Bonn e ficam
hospedados nos melhores hotéis. E há línguas que se
desatam acobertadas pelo anonimato. Assim, Laurent
Gbagbo, da Costa do Marfim, a quem os seus advogados
franceses continuam a tratar por “Senhor Presidente”,
chega a convocar duas reuniões por dia: precisa estar
preparado, agora que o seu julgamento se aproxima.
O sérvio Radovan Karadzic, que nos últimos dois anos
Saif al-Islam Kadhafi. O filho do ex-ditador
da Líbia está aprisionado em Scheveningen
Esta foto histórica mostra a Primeira Conferência
Internacional da Paz, em Haia, Holanda, em junho de 1899
Em Scheveningen, ha um quiosque que permite aos 33
presumíveis criminosos de guerra e também aos mais de
200 detidos holandeses, alojados nos outros edifícios do
complexo penitenciário, comprar cigarros e doces a preço
de ouro. Hoje, o quiosque oferece também um leque de
especialidades dos Balcãs e da África. Ao contrário dos
prisioneiros holandeses, os detidos das Nações Unidas
podem comprar tudo o que quiserem, incluindo carne.
Advogados de Paris, Londres ou Bonn
Na Alemanha, os prisioneiros comuns colocados em prisão preventiva recebem a visita do seu advogado cerca de
oásis
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reportagem
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seus partidários. Na realidade, são uns vencidos, em certos casos expulsos dos seus
territórios. Como é óbvio, a sua hierarquia
de opereta (“Karadzic, o novo número um”)
também cumpre uma função: mantém artificialmente em vida uma glória passada,
da qual se alimentam sem pudor. Conta-se
por aqui que um antigo general apareceu,
armado com uma vassoura, na cela de um
outro prisioneiro, que fora apenas um oficial subalterno durante a guerra. “Serviço
de quartos” - o general pretendia fazer a
limpeza. O oficial ficou tão incomodado
que, com toda a cortesia, tirou a vassoura e
o esfregão das mãos do general.
Trecho de praia em Scheveningen
teve muitas oportunidades para ouvir o seu antigo tratamento de “Senhor Presidente” - porque as fiéis testemunhas da defesa foram convocadas para comparecer no TPI
para a ex-Iugoslávia - tem a ousadia de falar no seu “gabinete”. É uma divisão diminuta, uma antiga cela individual, com uma mesa, quatro cadeiras, um telefone fixo e um
computador que lhe permite aceder à base de dados do
Tribunal, embora não ao mundo exterior.
Presidentes imaginários
Naturalmente, todos estes senhores Presidentes só estão
em funções nas suas imaginações ou nos panfletos dos
oásis
.
reportagem
A persistência dessas antigas relações hierárquicas torna ainda mais surpreendente
a harmonia que reina neste microcosmos, entre pessoas que ontem eram inimigas. Descobrimos uma velha
fotografia, simultaneamente bela e assustadora, tirada
numa das salas dos detidos na altura em que o ex- Presidente jugoslavo Slobodan Milosevic ainda lá estava,
antes de morrer na sua cela, em 2006. A imagem correu
toda a cidade de Haia. Hoje pode ser vista em privado,
mas não pode ser publicada: as pessoas nela retratadas
não querem que seja vista pelo mundo exterior. Apresenta sérvios, croatas e albaneses, responsáveis militares
de todos os campos inimigos do conflito bósnio, a posar
alegremente em volta da ceia de Natal. Alguns passam o
braço pelos ombros dos vizinhos, como se fossem velhos
amigos.
28/51
Tribunal Internacional de Haia
“Acho que existe uma regra tácita
entre os detidos, segundo a qual
não se fala de politica”, confidencia
o escocês Fraser Gilmour, diretor-adjunto da prisão e perito civil das
Nações Unidas, tal como o dinamarquês Klaus Hansen, com quem tem
em comum a longa cabeleira. “Tentamos criar uma miscelânea, uma
pequena sociedade sem segregação”.
Por isso, os responsáveis das Nações
Unidas não hesitam em colocar os
ultranacionalistas sérvios e croatas
em celas vizinhas. Desenganem-se
aqueles que pensavam que bastava
enviar os responsáveis pela guerra
dos dois campos para uma ilha deserta para que eles se matassem uns
aos outros, deixando assim em paz
o resto da Humanidade. Como confirma Fraser Gilmour,
em Scheveningen nunca houve brigas.
Na barra do tribunal, estes homens continuam a desempenhar o papel de irredutíveis: nunca nenhum deles mostrou sinais de arrependimento. Mas pode dizer-se que
toda a retórica que utilizam, ainda e sempre, para arengar
às suas hostes no exterior, se torna muito relativa quando
os responsáveis militares estão reunidos entre si. “Têm
mais pontos em comum do que pontos de divergência”,
afirma Klaus Hansen, responsável pela vigilância a estes
presos. E prossegue: “Fazem uma frente unida contra o
inimigo comum - a Justiça. Na prisão. tudo se resume a
coisas muito simples: não se trata de saber se alguém é
oásis
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reportagem
sérvio ou croata, mas se sabe jogar xadrez.”
Vinte celas à espera de Kony, Ianukovitch,
Bashir
É verdade que esta paz é artificial, porque a prisão é um
local de coexistência imposta. Por outro lado, a própria
vida impõe uma coabitação, não apenas nos Balcãs como
no Congo ou no Médio Oriente. Antigamente, os nacionalistas dos Balcãs classificavam a Iugoslávia como uma
“prisão dos povos”. Atiçavam o ódio, argumentando que
mais valia derramar sangue do que continuar a aceitar o
fato.
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Radovan Karadzic, ex-ditador da Sérvia
das, apenas uma cela vazia. Esta foi
recentemente remodelada e está
pronta para receber um detido.
Em Scheveningen, ainda há cerca
de 20 dessas celas disponíveis. Por
exemplo, para receber o chefe militar Joseph Kony, que arregimentou
exércitos de crianças- soldados. Em
Uganda, e que tem um mandado de
captura emitido pela ONU; ou para
Viktor Ianukovitch, antigo Presidente da Ucrânia, cuja violenta resposta
às manifestações está neste momento sendo investigada por Haia; ou
ainda para Omar al-Bashir, Presidente do Sudão, também com mandado de captura.
Talvez seja o vento do Mar do Norte que lhes arrefece os
ânimos. Nas celas individuais de Scheveningen, pode-se
entreabrir as janelas, o olhar pode vaguear e, quando se
permanece imóvel e se permite que o silêncio se instale na
divisão, é certo que, de inicio, a exiguidade do local se torna opressiva, já que as celas medem apenas 10,4 m2. Uma
cama, uma mesa, sanitários abertos. Mas a porta não está
fechada e pode-se circular livremente pelas outras salas
até às 20h30.
Os visitantes não são autorizados a visitar celas ocupaoásis
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reportagem
boas vindas.
Os dirigentes e vigilantes desta prisão não seriam os únicos a se congratular por poderem lhes dar as
Do poder à prisão: quatro casos
RADOVAN KARADZIC - 69 anos. Preso desde 2008, o
antigo líder político dos sérvios da Bósnia é acusado de
crimes contra a humanidade e de crimes de guerra, cometidos entre 1992 e 1995 na Bósnia- Herzegovina, durante a guerra na antiga Iugoslávia, o conflito mais mortífero (cerca de 100 mil mortos) desde o fim da Segunda
Guerra Mundial.
30/51
LAURENT GBAGBO - 69 anos. Preso desde 2011. Presidente da Costa do Marfim de 2000 a 2011, vai ser julgado por quatro crimes contra a humanidade. Está indiciado, na qualidade de coautor direto, pelo assassínio de
166 pessoas, por violações e violência sexual sobre pelo
menos 34 mulheres, por atos de perseguição contra pelo
menos 291 vítimas e por atos de barbárie contra 94 pessoas, com o objetivo de se manter no poder, na sequência
das eleições presidenciais de novembro de 2010.
Laurent Gbagbo, ex-tirano da Costa do Marfim
Ratko Mladic, o carniceiro de Srebrenica
RATKO MLADIC - 70 anos. Preso desde 2011. Conhecido
como o “carniceiro de Srebrenica”, o antigo comandante-em-chefe do Exército da República Sérvia da Bósnia é
acusado de ter massacrado entre 6 mil e 8 mil homens e
adolescentes bósnios muçulmanos daquela cidade, reivindicada pelos sérvios em 1995, bem como da morte de 10
mil civis durante os 43 meses que durou o cerco a Sarajevo.
oásis
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reportagem
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Charles Taylor,
ex-ditador da Libéria
CHARLES TAYLOR - 66 anos. Preso
em Scheveningen entre 2006 e 2013.
O antigo Presidente da Libéria pôs
em prática um plano de massacres, de
violações e de escravatura sexual com
o objetivo de controlar as minas de
diamantes (os “diamantes de sangue”)
da Serra Leoa, entre 1996 e 2002. Em
2012 foi considerado culpado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, tornando-se assim no primeiro
ex-chefe de Estado a ser condenado
pela justiça internacional desde os
julgamentos de Nurembergue. Condenado a 50 anos de prisão, encontra-se
atualmente cumprindo pena numa prisão britânica.
oásis
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reportagem
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oásis
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psicologia
psicologia
SORRIR, CHAVE
DA FELICIDADE
Os benefícios do
bom humor e do riso
para a saúde
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O bom humor é contagiante.
O som de gargalhadas é muito
mais contagioso do que qualquer
tosse, fungada ou espirro. Quando
o riso é compartilhado, une as
pessoas e aumenta a felicidade
e a intimidade. O riso também
desencadeia mudanças físicas
saudáveis no organismo. O
humor e o riso fortalecem seu
sistema imunológico, aumentam
sua energia, diminuem a dor e
protegem você contra os efeitos
nocivos do estresse. Melhor que
tudo, esse medicamento que
não tem preço é divertido,
livre e fácil de usar
S
oásis
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psicologia
Por: Equipe Oásis
eu senso de humor é uma das ferramentas mais poderosas que você tem
para se certificar de que seu humor
e seu estado emocional diários dão
suporte à boa saúde”, afirma o médico Paul E. McGhee, president do The
Laughter Remedy, em Wilmington, EUA.
McGhee está certo: O riso é um poderoso
antídoto para o estresse, a dor e o conflito.
Nada funciona de modo mais rápido ou confiável para trazer o corpo e a mente de volta
ao equilíbrio do que uma boa risada. O humor ilumina seus fardos, inspira esperança,
conecta você com os outros e o mantém ligado à terra, concentrado e alerta.
Com tanto poder de curar e renovar, a capacidade de rir com facilidade e grande frequência é um tremendo recurso para superar
os problemas, melhorando seus relacionamentos, e dar suporte à saúde física e emocional.
O riso é bom para a saúde
O riso relaxa o corpo inteiro. Uma boa risada
alivia a tensão física e o estresse, deixando
seus músculos relaxados por até 45 minutos
depois.
O riso estimula o sistema imunológico. Ele
reduz a liberação dos hormônios do estresse
e aumenta o número de células imunes e anticorpos que combatem as infecções, melhorando assim sua resistência às doenças.
O riso provoca a liberação de endorfinas,
substâncias químicas associadas ao bem-estar do corpo. As endorfinas promovem uma
sensação geral de bem-estar e podem até
aliviar temporariamente a dor.
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Os benefícios do riso Benefícios físicos para a saúde Benefícios mentais para a saúde Aumenta a imunidade Acrescenta alegria e entusiasmo à vida Reduz os hormônios do estresse Diminui a dor Relaxa os músculos Previne doenças cardíacas oásis
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Reduz a ansiedade e o medo Alivia o estresse Melhora o humor Amplia a resiliência Benefícios sociais Fortalece relacionamentos Atrai outras pessoas para nós Aprimora o trabalho em equipe Ajuda a resolver conflitos Promove a união do grupo 35/51
o riso lhe dá coragem e força para encontrar novas fontes
de significado e esperança. Mesmo nos tempos mais difíceis, um riso – ou até mesmo um simples sorriso – pode
fazer você se sentir melhor. E o riso é realmente contagiante – basta ouvir um para ativar seu cérebro e preparar você para sorrir e se divertir.
A ligação entre o riso e a saúde mental
O riso dissolve emoções angustiantes. Você não pode
sentir-se ansioso, irritado ou triste quando está rindo.
O riso o ajuda a relaxar e recarregar-se. Ele reduz o es
O riso protege o coração. Ele melhora a função dos vasos sanguíneos e aumenta o fluxo sanguíneo, ajudando a
proteger você contra um ataque cardíaco e outros problemas cardiovasculares.
O riso e o bom humor ajudam você a ficar
emocionalmente saudável
O riso faz você se sentir bem. E a boa sensação que experimenta quando ri permanece com você, mesmo depois
que o riso diminui. O bom humor o ajuda a manter uma
visão otimista e positiva diante de situações difíceis, decepções e perdas.
Mais do que apenas um alívio perante a tristeza e a dor,
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Os benefícios sociais do humor e do riso
O bom humor e a comunicação divertida fortalecem nossas relações ao desencadear sentimentos positivos e promover a conexão emocional. Quando rimos com outra
pessoa, uma ligação positiva é criada. Ela funciona como
um forte amortecedor contra o estresse, as divergências
e a decepção.
•
•
•
•
Rir com os outros é mais poderoso do que rir sozinho
Criar oportunidades para rir
Assista a um filme ou programa de TV engraçado.
Vá a um clube de comédia.
tresse e aumenta a energia, permitindo-lhe manter o foco
e realizar mais.
O bom humor muda a perspectiva, permitindo que você
veja as situações de modo mais realista e menos ameaçador. Uma perspectiva bem-humorada cria distanciamento
psicológico, que pode ajudá-lo a evitar se sentir sobrecarregado.
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compartilhamento emocional constrói laços de relacionamento fortes e duradouros, mas compartilhar o riso e
a diversão também acrescenta alegria, vitalidade e resistência. E o humor é uma maneira poderosa e eficaz para
curar ressentimentos, desavenças e mágoas. O riso une
as pessoas em momentos difíceis.
Incorporar mais humor e diversão em suas interações diárias pode melhorar a qualidade de suas relações com os
entes queridos, bem como suas conexões com os colegas
de trabalho, familiares e amigos. Usar o humor e o riso
nos relacionamentos permite:
• Leia as páginas de cartuns e piadas.
• Procure pessoas engraçadas.
• Compartilhe uma boa piada ou uma história engraçada.
• Confira a seção de humor da sua livraria.
• Convide os amigos para um jogo ou uma reunião em
sua casa.
• Divirta-se com seu animal de estimação.
• Divirta-se com as crianças.
• Faça alguma coisa boba.
• Arranje tempo para atividades divertidas (por exemplo, boliche ou karaokê).
O riso compartilhado é uma das ferramentas mais eficazes para manter as relações vivas e emocionantes. Todo
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vida. Mas você sabia que ter um animal de estimação é
bom para a sua saúde física e mental? Estudos mostram
que os animais podem protegê-lo da depressão, estresse
e até mesmo doenças cardíacas.
O riso é seu direito de nascença, uma parte natural da
vida. Crianças começam a sorrir nas primeiras semanas
de vida e riem em voz alta alguns meses após nascerem.
Mesmo se não cresceu em um lar onde o riso era um som
comum, você pode aprender a rir em qualquer fase da
vida.
Principie separando momentos especiais para buscar o
• Ser mais espontâneo. O bom humor o afasta de seus
problemas.
• Deixar de lado a postura defensiva. O riso o ajuda a
esquecer julgamentos, críticas e dúvidas.
• Soltar inibições. Seus temores e resistências são postos
de lado.
• Expressar seus verdadeiros sentimentos. Emoções
profundas são autorizadas a aflorar.
• Trazer mais humor e risos à sua vida.
• Quer mais risadas em sua vida? Arranje um animal de
estimação...
A maioria de nós já experimentou a alegria de brincar
com um amigo peludo, e animais de estimação são uma
forma gratificante para trazer mais risos e alegria à sua
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humor e o riso, como você poderia fazer com o trabalho
externo, e construa-os a partir daí. Futuramente, você
vai querer incorporar o humor e o riso à estrutura da sua
vida, encontrando-os naturalmente em tudo o que faz.
Aqui estão algumas formas de começar:
Sorria. O sorriso é o início do riso e, como este último,
é contagioso. Pioneiros da “terapia do riso” consideram
que é possível rir até sem vivenciar um evento engraçado.
O mesmo vale para sorrir. Quando você olha para alguém
ou vê algo mesmo que ligeiramente agradável, pratique o
sorriso.
Conte suas bênçãos. Literalmente, faça uma lista. O simples ato de considerar as coisas boas em sua vida vai distanciá-lo de pensamentos negativos que são uma barreira
para o bom humor e o riso. Quando você está em estado
de tristeza, tem um caminho mais longo para chegar ao
humor e ao riso.
Quando ouvir o riso, mova-se na direção dele. Às vezes,
o humor e o riso são privados, uma piada compartilhada entre um grupo pequeno, mas em geral não é assim.
Mais frequentemente, as pessoas ficam muito felizes de
compartilhar algo engraçado, porque isso lhes dá uma
oportunidade de rir de novo e se alimentar do humor encontrado. Quando você ouvir o riso, procure-o e pergunte: “O que é tão engraçado?”
Gaste tempo com pessoas brincalhonas e divertidas. Essas são pessoas que riem com facilidade, tanto de si mesmas quanto dos absurdos da vida, e que rotineiramente
encontram o humor em eventos do dia a dia. Seu ponto
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carrega uma devastadora sensação de tristeza ou alegria. Eles caem na zona cinzenta do
cotidiano, dando a você a escolha de rir ou
não.
Formas de se ajudar a ver o lado mais
leve da vida
Ria de si mesmo. Compartilhe seus momentos embaraçosos. A melhor maneira de se
levar menos a sério é falar de momentos em
que você se levou muito a sério.
Tente rir das situações, em vez de lamentá-las. Procure o humor em uma situação
ruim e descubra a ironia e o absurdo da
vida. Isso o ajudará a melhorar seu humor e
o humor das pessoas ao seu redor.
de vista divertido e suas risadas são contagiosos.
Traga o humor para as conversas. Pergunte às pessoas:
“Qual é a coisa mais engraçada que aconteceu com você
hoje? Esta semana? Na sua vida?”
Desenvolva seu senso de humor: Leve-se menos a sério.
Uma característica essencial que nos ajuda a rir é não
nos levarmos muito a sério. Todos nós conhecemos o rabugento clássico que encara tudo com seriedade mortal e
nunca ri de nada. Não tem graça ali!
Alguns eventos são ocasiões claramente tristes e impróprias para rir. Mas a maioria dos eventos na vida não
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psicologia
Cerque-se com lembretes para alegrar-se. Mantenha um
brinquedo em sua mesa ou no carro. Ponha um cartaz
engraçado em seu escritório. Escolha um protetor de tela
de computador que faça você rir. Enquadre fotos de você
e sua família ou amigos se divertindo.
Mantenha as coisas em perspectiva. Muitas coisas na
vida estão além de seu controle, particularmente o comportamento de outras pessoas. Embora você possa pensar que levar o mundo nas costas é admirável, no longo
prazo isso é irreal, improdutivo, insalubre e até mesmo
egoísta.
Lide com o estresse. O estresse é um grande impedimen
41/51
to para o humor e o riso.
Preste atenção nas crianças e imite-as.
Eles são especialistas em brincar, levar
a vida com leveza e rir.
Lista de verificação para descontrair
Quando você se encontra tomado por
aquilo que parece ser um problema
horrível, faça estas perguntas a si mesmo:
• Realmente vale a pena ficar chateado
com isso?
• Vale a pena perturbar os outros?
• Isso é tão importante assim?
• Isso é tão ruim assim?
• A situação é irreparável?
• Será que isso é realmente problema
meu?
Usar o humor e a brincadeira para superar
desafios e melhorar a sua vida
A capacidade de rir, brincar e se divertir com os outros
não só torna a vida mais agradável, mas também ajuda a
resolver problemas, conectar-se com os outros e ser mais
criativo. As pessoas que incorporam o humor e a brincadeira ao seu cotidiano descobrem que isso renova a elas e
a todos os seus relacionamentos.
A vida traz desafios que podem tirar o melhor de você ou
se tornam brinquedos para sua imaginação. Quando você
“se torna o problema” e se leva muito a sério, pode ser
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psicologia
difícil pensar de forma anticonvencional e encontrar novas soluções. Mas quando você brinca com o problema,
muitas vezes pode transformá-lo em uma oportunidade
de aprendizagem criativa.
Brincar com problemas parece ocorrer naturalmente
para as crianças. Quando estão confusas ou com medo,
elas transformam seus problemas em uma brincadeira,
o que lhes dá uma sensação de controle e uma oportunidade de experimentar novas soluções. Interagir com os
outros de forma brincalhona ajuda a manter essa capacidade criativa.
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do que em sua pontuação, ele ficava menos
crítico em relação a si mesmo. A partir de
então, o golfe ficou tão agradável quanto
Roy esperava que fosse. Ele melhorou sua
pontuação sem se esforçar mais. E a perspectiva mais otimista que estava recebendo
de seus companheiros e do jogo se espalhou
para outras partes de sua vida, incluindo seu
trabalho.
Aqui estão dois exemplos de pessoas que tiveram problemas cotidianos e os transformaram por meio do riso e da
brincadeira:
Roy, um homem de negócios semiaposentado, estava
animado por finalmente ter tempo para se dedicar ao
golfe, seu esporte favorito. Mas quanto mais ele jogava,
menos se divertia. Embora seu jogo tivesse melhorado
substancialmente, ele se enfurecia com cada erro cometido. Roy sabiamente percebeu que seus companheiros
de golfe afetavam sua atitude, então parou de jogar com
pessoas que levavam o jogo muito a sério. Quando jogava com amigos que se concentravam mais em se divertir
oásis
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psicologia
Jane trabalhava em casa desenhando cartões, um trabalho que adorava, mas a partir de certo momento sentiu que ele havia
se tornado uma rotina. Duas meninas que
gostavam de desenhar e pintar moravam ao
lado. Jane convidou as pequenas vizinhas
para brincar com todos os materiais de arte
que tinha. No início, ela só as observava,
mas com o tempo juntou-se a elas. O riso, as
pinturas e as brincadeiras com as meninas transformaram a vida de Jane. Brincar com elas não apenas acabou
com a solidão e o tédio que sentia; despertou sua imaginação e ajudou sua arte a florescer. O melhor de tudo,
isso reavivou a jovialidade e a centelha na relação de
Jane com o marido.
Quando o riso, o humor e as brincadeiras passam a integrar sua vida, sua criatividade floresce e novas descobertas para brincar com os amigos, colegas de trabalho,
conhecidos e entes queridos lhe ocorrem diariamente. O
bom humor leva você para um lugar mais alto, de onde
pode ver o mundo de uma perspectiva mais relaxada, positiva, criativa, alegre e equilibrada.
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natura
SALVAR AS FLORESTAS
A batalha pela preservação
das matas tropicais
oásis
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T
oásis
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natura
O ambientalista Tasso Azevedo
nos atualiza a respeito da luta em
prol da preservação das florestas
nos dias de hoje. Estimuladas
pelas terríveis perdas dos anos 90,
novas leis (e dados transparentes)
estão ajudando a desacelerar o
ritmo do desmatamento no Brasil.
Será que isso é o suficiente? Ainda
não. Ele tem cinco ideias sobre o
que devemos fazer a seguir, e se
pergunta se as lições aprendidas no
Brasil podem ser aplicadas em um
problema ainda maior: as mudanças
climáticas globais
outros lugares do mundo. Mais informação:
tassoazevedo.blogspot.com
É fundador da ong Imaflora, em 1995, uma
importante entidade de certificação ambiental no Brasil. Em 2003, foi indicado como
primeiro diretor geral do Serviço Florestal
Brasileiro. Nessa função, ele mostrou como
a saúde da floresta amazônica está diretamente conectada à estabilidade econômica
no país, bem como à questão da geração de
energia. Implementou também novos padrões de incentivos para a sustentabilidade
florestal. Estas medidas, segundo os especialistas, contribuíram para a redução, no Brasil, da taxa de deflorestação e das emissões
de gás de efeito estufa. Hoje, Tasso Azevedo
foca a sua atenção nas questões ligadas às
mudanças climáticas em nível global.
Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Aline Freixo
Revisão: Gustavo Rocha
asso Azevedo é ambientalista brasileiro
especializado na preservação das florestas e importante ativista na área da
sustentabilidade. Seu trabalho ajudou
na redução de 75% observada na taxa de
deflorestação da Amazônia brasileira,
e inspirou esforços similares em vários
O ambientalista
florestal Tasso Azevedo
45/51
Vídeo integral da palestra “Salvar as florestas”,
de Tasso Azevedo
oásis
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natura
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Tradução integral da palestra “Salvar as florestas”,
de Tasso Azevedo:
Quando os portugueses chegaram à América Latina, há cerca de 500
anos, eles se depararam com uma incrível floresta tropical. E entre
toda essa biodiversidade jamais vista, encontraram uma espécie que
rapidamente chamou sua atenção. Quando cortamos a casca dessa
espécie, vemos uma resina vermelha escura, que era muito boa para
pintar e tingir tecidos para fazer roupas. Os indígenas chamavam essa
espécie de pau-brasil, e é por isso que esta terra se tornou a “terra do
Brasil” e, mais tarde, Brasil. Este é o único país do mundo que tem o
nome de uma árvore. Então, vocês imaginam que é muito legal viver
na floresta no Brasil, entre outros motivos.
Os produtos da floresta estão em todo lugar. Além de todos esses
produtos, a floresta também é muito importante para a regulação do
clima. No Brasil, quase 70% da evaporação que gera as chuvas vêm
das florestas. Só a Amazônia bombeia para a atmosfera 20 bilhões de
toneladas de água todo dia. Isso é mais do que o rio Amazonas, o maior
rio do mundo, despeja no mar por dia, que são 17 bilhões de toneladas.
Se tivéssemos que ferver água para ter o mesmo efeito da evapotranspiração, precisaríamos de seis meses de toda capacidade de geração de
energia do mundo. É um grande serviço que ela nos presta.
florestas nos trópicos que perdemos de florestas temperadas em
2 mil anos. Esta é a velocidade da destruição que estamos causando.
O Brasil é uma peça importante desse quebra-cabeça. Nós temos a segunda maior floresta do mundo, depois da Rússia. Significa que 12% de todas as florestas do mundo estão no Brasil,
a maior parte na Amazônia. É a maior área de floresta que temos. É uma área muito vasta e ampla. Vejam que seria possível
acomodar vários países europeus lá. Nós ainda temos 80% de
área florestal coberta. Essa é a boa notícia. Mas perdemos 15%
em apenas 30 anos. Se as coisas continuarem assim, muito em
breve perderemos esta poderosa bomba de água que temos na
Amazônia, que regula o nosso clima.
O desmatamento estava crescendo rapidamente e acelerando
no final dos anos 90 e começo dos anos 2000. Vinte e sete mil
quilômetros quadrados em apenas um ano. São 2,7 milhões de
O mundo tem cerca de 4 bilhões de hectares de florestas. Isso é, mais
ou menos, a área da China, EUA, Canadá e Brasil juntos em termos de
tamanho, para se ter uma ideia. Três quartos dessa área estão na zona
temperada, e apenas um quarto, nos trópicos, mas este um quarto, um
bilhão de hectares, acomoda a maior parte da biodiversidade, além de
algo muito importante: 50% da biomassa viva, o carbono. Há dois mil
anos, tínhamos 6 bilhões de hectares de florestas - 50% mais do que
temos hoje. Perdemos 2 bilhões de hectares nos últimos 2 mil anos.
Mas, só nos últimos 100 anos, perdemos a metade disso. Isso se deu
quando deixamos de desmatar as florestas temperadas para desmatar
as florestas tropicais.
Pensem nisso: em 100 anos, nós perdemos a mesma quantidade de
oásis
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Tradução integral da palestra “Salvar as florestas”,
de Tasso Azevedo:
hectares. Quase metade da Costa Rica, todos os anos.
Naquele momento, entre 2003 e 2004, aconteceu de eu estar vindo
trabalhar no governo. Junto com outros colegas de equipe do Departamento de Florestas Nacionais, fui designado para me unir a uma equipe
formada para descobrir as causas do desmatamento e fazer um plano
para combatê-lo a nível nacional, envolvendo governos locais, a sociedade civil, empresas, comunidades locais, em um esforço que pudesse
confrontar essas causas.
mento acontece. Assim podemos agir no momento em que ele
acontece. Toda a informação é totalmente transparente para
que outros possam copiá-la em sistemas independentes. Isso
nos permite, entre outras coisas, apreender 1,4 milhão de metros cúbicos de toras retiradas ilegalmente. Parte disso nós serramos e vendemos, e toda a renda vai para um fundo que ajuda
projetos conservacionistas de comunidades locais como fundo
dedicado.
Estabelecemos um plano composto de 144 ações em áreas diferentes.
Agora, discorrerei sobre cada uma delas - não, apenas darei alguns
exemplos do que fizemos nos anos seguintes. Primeiro, nós montamos
um sistema junto com a agência espacial nacional que nos permitia ver
de fato onde o desmatamento acontecia, quase em tempo real.
Atualmente, nós usamos o sistema DETER no Brasil, onde a cada mês,
ou a cada dois meses, recebemos informações sobre onde o desmata-
Isso nos permitiu realizar uma grande operação para interromper a corrupção e outras atividades ilegais, o que acabou na prisão de 700 pessoas, incluindo muitos servidores públicos. Em
seguida, fizemos a conexão de que as áreas que vinham realizando o desmatamento ilegal não receberiam qualquer crédito ou
financiamento. E eliminamos isso junto aos bancos e fizemos a
ligação com os usuários finais.
Dessa forma, os supermercados, abatedouros, etc., que compram produtos de áreas desmatadas ilegalmente também podem ser responsabilizados pelo desmatamento. Nós fizemos
todas essas conexões para ajudar a reduzir o problema. Também trabalhamos muito em questões de posse de terras. Isso é
importante para resolver conflitos. Cinquenta milhões de hectares de áreas protegidas foram criados, o que é uma área do tamanho da Espanha. E, desses, 8 milhões eram terras indígenas.
Agora começamos a ver os resultados. Nos últimos 10 anos, o
desmatamento no Brasil caiu 75%.
Se compararmos com a média do desmatamento que tivemos
na última década, significa que salvamos 8,7 milhões de hectares, que é o tamanho da Áustria. Mas, o mais importante é que
isso evitou a emissão de 3 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. É a maior contribuição para reduzir a emissão de gases
oásis
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Tradução integral da palestra “Salvar as florestas”,
de Tasso Azevedo:
do efeito estufa até hoje, como uma ação positiva. Pode-se pensar que
com esses tipos de ações para reduzir, para eliminar o desmatamento,
haveria algum impacto econômico, porque você elimina a atividade
econômica local ou algo assim. Mas, é interessante notar que ocorre
exatamente o oposto. No período em que tivemos o maior declínio
do desmatamento, a economia cresceu, em média, o dobro da década
anterior, quando a atividade estava crescendo. É uma boa lição para
nós. Talvez não tenha ligação alguma, e foi algo que aprendemos com a
redução do desmatamento.
É claro que tudo isso é muito bom e é uma baita conquista, e obviamente deveríamos estar muito orgulhosos. Mas, isso não chega nem
perto do suficiente. Se pensarmos no desmatamento da Amazônia em
2013, que alcançou mais de meio milhão de hectares, o que significa
que, a cada minuto, uma área do tamanho de dois estádios de futebol
foi derrubada na Amazônia só no ano passado. Se contarmos o desmatamento que ocorre em outros biomas do Brasil, ainda estaremos
falando da taxa de desmatamento mais alta no mundo. É como se
fôssemos heróis da floresta, mas campeões do desmatamento ao mesmo tempo. Não podemos ficar satisfeitos, nem perto disso. Por isso,
acredito que o próximo passo é lutar para reduzir a zero a perda de
florestas no Brasil, e fazer disso uma meta para 2020. Esse é o nosso
próximo passo.
tes dos serviços florestais de outros países com os quais temos
um tipo de aliança, como Canadá, Rússia, Índia, China e EUA.
Quando estávamos lá, ficamos sabendo desse besouro que está
literalmente devorando as florestas do Canadá. O que vemos
aqui, aquelas árvores marrons, elas estão todas mortas. São árvores mortas graças às larvas do besouro. O que acontece é que
esse besouro é controlado pelo clima frio do inverno. Por muitos
anos, eles não têm tido um clima frio o bastante para controlar a
população desse besouro. E ele se tornou uma doença que está
matando bilhões de árvores. Eu retornei com a ideia de que a
floresta é, na verdade, uma das vítimas mais antigas e mais afetadas pela mudança climática.
Então pensei que, apesar do trabalho com meus colegas para realmente ajudar a eliminar o desmatamento, talvez perderemos
Eu sempre tive interesse pela relação entre a mudança climática e as
florestas. Primeiro, porque 15% das emissões de gases de efeito estufa
vêm do desmatamento, sendo uma grande parte do problema. Mas
as florestas também podem ser uma grande parte da solução, já que
são a melhor maneira conhecida de depositar, capturar e armazenar o
carbono. Existe outra relação entre o clima e as florestas que chamou
minha atenção em 2008, e fez com que eu mudasse de carreira das
florestas para trabalhar com mudança climática.
Fui visitar o Canadá, na Colúmbia Britânica, junto com os dirigenoásis
.
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Tradução integral da palestra “Salvar as florestas”,
de Tasso Azevedo:
a batalha para a mudança climática mais tarde, com enchentes, calor,
incêndios e assim por diante. Decidi deixar o serviço florestal e começar
a trabalhar diretamente na mudança climática; achar um jeito de pensar e entender o desafio, e seguir a partir daí.
O desafio da mudança climática é muito direto. A meta é muito clara.
Queremos limitar o aumento da temperatura média do planeta a dois
graus. Existem muitos motivos para isso. Não vou me aprofundar nisso
agora. Mas, para alcançar esse limite de dois graus, que torna a nossa
sobrevivência possível, o IPCC, ou Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas, definiu que o nosso orçamento de emissões é de
mil bilhões de toneladas de CO2, deste momento até o final do século.
Se dividirmos isso pelo número de anos, teremos um orçamento médio
de 11 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Mas o que é uma tonelada
de CO2? É, mais ou menos, o que um carro pequeno que percorre 20
quilômetros por dia emitirá em um ano. Ou um voo de ida de São Pau-
lo para Johanesburgo ou para Londres. Ida e volta seriam duas
toneladas. Onze bilhões de toneladas é o dobro disso.
As emissões atingem hoje 50 bilhões de toneladas, e estão
crescendo. Esse número está crescendo, e talvez chegue a 61
em 2020. Precisamos reduzi-lo a 10 até 2050. Enquanto isso
acontece, a população passará de 7 para 9 bilhões de pessoas; a
economia crescerá de 60 trilhões de dólares em 2010 para 200
trilhões. O que precisamos fazer é ser muito mais eficientes, de
maneira que possamos passar de sete toneladas de carbono per
capita por pessoa, por ano, para algo em torno de uma tonelada.
Será preciso escolher entre voar de avião ou ter um carro.
A grande pergunta é: será que somos capazes? Essa foi exatamente a mesma pergunta que ouvi quando estava desenvolvendo um plano para combater o desmatamento. É um problema
tão grande, tão complexo. Será que podemos mesmo resolvê-lo?
Eu acredito que sim. Pensem nisso: o desmatamento causou
60% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil na última década. Hoje, está em pouco menos de 30%. No resto do
mundo, 60% é energia. Se pudermos combater o problema da
energia da mesma forma como combatemos o desmatamento,
talvez tenhamos uma chance.
Existem cinco coisas que acho que devemos fazer. Primeiro,
precisamos separar a ideia de desenvolvimento das emissões
de carbono. Não precisamos eliminar todas as florestas para
criar mais empregos, áreas agrícolas e economia. Foi o que comprovamos quando reduzimos o desmatamento. e a economia
continuou a crescer. O mesmo poderia acontecer com o setor
energético. Em segundo lugar, precisamos colocar os incentivos
no lugar certo. Hoje, 500 bilhões de dólares por ano vão para
subsídios de combustíveis fósseis. Por que não colocamos um
oásis
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Tradução integral da palestra “Salvar as florestas”,
de Tasso Azevedo:
preço no carbono e o transferimos para energias renováveis? Em terceiro lugar, precisamos calcular e tornar visível onde, quando e quem
está emitindo gases do efeito estufa, para que tomemos medidas especificamente para cada uma dessas oportunidades. Quarto: precisamos
avançar nas rotas do desenvolvimento, ou seja, não é preciso ter um
telefone fixo antes de se conseguir um celular. Assim como não precisamos usar combustíveis fósseis para um bilhão de pessoas que não
têm acesso à energia antes de recorrermos à energia limpa. Em quinto
e último lugar, precisamos dividir a responsabilidade entre os governos, empresas e a sociedade civil. Existe trabalho para todo mundo, e
todos precisam se envolver.
Para terminar, acredito que o futuro não está pré-determinado, para
o qual não existe escapatória. Precisamos ter a coragem de alterar a
rota, investir em algo novo, e pensar que realmente podemos mudar o
rumo. Acho que estamos fazendo isso com o desmatamento no Brasil,
e espero poder fazer o mesmo para mudanças climáticas no mundo.
Obrigado.
oásis
.
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