Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Gustavo Schalka Quando mais é menos: a maldição dos recursos naturais existe? São Paulo 2016 Gustavo Schalka Quando mais é menos: a maldição dos recursos naturais existe? Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientadora: Prof.ª Dra. Luciana Yeung São Paulo 2016 1 Schalka, Gustavo Quando mais é menos: a maldição dos recursos naturais existe? / Gustavo Schalka. São Paulo, 2016. Monografia: Faculdade de Economia e Administração Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, 2016. Orientador: Prof.ª Dra. Luciana Yeung 1. Desenvolvimento Econômico 2. Maldição dos Recursos Naturais I. Gustavo Schalka II. Quando mais é menos: a maldição dos recursos naturais existe? 2 Gustavo Schalka Quando mais é menos: a maldição dos recursos naturais existe? Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. EXAMINADORES Prof.ª Dra. Luciana Yeung Orientadora Prof. Dr. Artur Rothstein Barreto Parente Prof. Dr. Eduardo Correia 3 Resumo SCHALKA, Gustavo. Quando mais é menos: a maldição dos recursos naturais existe? São Paulo, 2016. Monografia – Faculdade de Economia e Administração, Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. O objetivo deste trabalho é analisar o paradoxo da maldição dos recursos naturais. Tal contrassenso infere que países com uma maior dotação destes recursos, contraintuitivamente apresentam um menor grau de crescimento econômico. Assim, através da inclusão de variáveis relevantes para explicação de tal fenômeno no contexto do estudo, pretende-se formular uma metodologia empírica, através de uma regressão econométrica a fim de testar a pertinência de tal teoria. Ademais, objetiva-se a interpretação de alguns dos resultados individualmente, buscando trazer informações contemporâneas para a análise econômica destas implicações. O modelo comprovou-se estatisticamente relevante e em curso com as hipóteses destacas. Chega-se a um decréscimo de aproximadamente 0.0017p.p. na taxa média de crescimento de um determinado país a cada incremento de 1% de produtos advindos de recursos naturais em relação ao total da matriz econômica. À primeira vista irrisório, se exemplificarmos tal resultado com um país representativo (2% de crescimento econômico e 50% de sua matriz advinda de recursos naturais), tal estado nacional sofrerá, segundo o estudo, uma penalização de 4,25% em sua taxa de crescimento (ou 0.085p.p.) somente pela utilização destes recursos em detrimento da indústria. Palavras chave: Maldição dos Recursos Naturais, Desenvolvimento Econômico, Recursos Naturais, Instituições, Commodities, Matriz Econômica 4 Sumário 1. Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2. Objetivo Geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3. Revisão Bibliográfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 4. Metodologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . .11 4.1. Apresentação da base teórica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 4.2. O Modelo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 4.3. Variáveis: apresentação e discussão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 4.4. Modelagem Estatística. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 5. Resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 6. Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 7. Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 5 1. Introdução Paradoxo: declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica ou a uma situação que contradiz a intuição comum (Dicionário Aurélio, 2014). Esta é a definição do dicionário para uma expressão comumente usada, na matemática, na ciência, e, ocasionalmente, no âmbito econômico. Deste modo, o estudo pretende analisar uma destas situações que contrariam o senso comum: a fartura de recursos naturais pode levar um país a ter um crescimento econômico abaixo de seu potencial? Diversos pesquisadores mencionam os recursos naturais como fundamentais para o desenvolvimento de uma nação. Sala-i-Martin (1997) e Doppelhoer et al. (2000) chegam a classificar estes recursos como uma das dez mais robustas variáveis para o crescimento econômico de um estado (Sachs e Warner, 2001). Fontes de energia das mais diversas formas, campos de plantação, minérios são, verdadeiramente benéficos para o crescimento de um país. Todavia, essa dotação é favorável até um certo limite, há uma linha: abundância. “A maldição dos recursos naturais1” infere que países com enorme riqueza em recursos naturais tendem, em última instância, a ter um crescimento econômico inferior a nações com menor estoque destes produtos. A questão específica a ser estudada é se realmente há indícios deste paradoxo. E, se sim, entender os motivos deste contrassenso. Paremos agora para pensar no paradoxo e suas implicações intrínsecas. Vamos supor um país com muitos recursos naturais. Primeiro, há de se pensar que, dada esta “benção”, os setores relativos à estes recursos serão explorados de forma intensa. Assim, a economia se volta para este campo, marginalizando os produtos industrializados que, geralmente, carregam um valor agregado maior. Com maiores incentivos ao setor de recursos naturais, os salários aumentam, levando a estímulos para que trabalhadores entrem nesta esfera. O setor industrial perde força externamente. O país, enfim, dependerá somente de produtos de baixo valor agregado e regrados por preço internacional. Neste ponto, é importante ressaltar o 1 Maldição dos Recursos Naturais: Termo utilizado pela primeira vez por Richard Auty (1993) para contraintuitivamente discorrer sobre países que tiveram baixo crescimento econômico e concomitantemente proviam 6 arcabouço institucional do devido país. Tais diferenças e preferências por determinado setor podem, por exemplo, terem sido geradas em períodos de colonialismo e, ao passar dos anos, certas nações estagnaram no âmbito institucional (bem como a população política), gerando anormalidades enraizadas na formação do país. Tal assunto (instituições), devido a possíveis vieses e problemas relacionados a endogeneidade, será tratado de forma particular quando colocado à prova do modelo. Agora imaginemos uma nação com poucos recursos naturais. Este país terá, dado o ambiente econômico, produzir um bem de alto valor agregado. Este é fruto de educação e tecnologia que serão, em última instância, agentes transformadores de tal economia. Assim, para suprir tais necessidades, o país investe em educação e tecnologia. Ainda mais, o efeito crowding-out leva estes dois pilares para outros campos da economia, desenvolvendo não só o setor de recursos naturais como toda a matriz econômica nacional do suposto país. Como o desenho conglomera todos os países bem como suas repercussões internas e politicas econômicas internacionais, é importante ressaltar que a avaliação do âmbito dos recursos naturais sujeita-se a alterações em políticas de todo o globo, afetando câmbio, Balança Comercial, inflação, além de repercussões diretamente relacionadas a matérias extremamente conectadas aos recursos naturais, como a generalizada mudança nos preços das commodities, por exemplo. Outros fatores relevantes à esfera destes recursos por exemplo, são os crescentes ganhos de países africanos advindos de outros produtos, expondo a contínua busca por uma matriz econômica mais balanceada. Por exemplo, na maior economia africana (Nigéria), os serviços já são responsáveis por 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, os investimentos diretos estrangeiros no continente subiram de 5% em 2012 para 10% do PIB em 2013, apesar da estagnação mundial, como menciona o artigo “The twilight of the resource curse?” da revista semanal inglesa The Economist, no começo deste ano. Ademais a incessante busca por novas formas de energia, afeta incondicionalmente a economia do oriente médio principalmente, fortemente vinculados à exportação petrolífera. Assim, a escolha do tema referente a estes recursos advém de dois pilares fundamentais. Primeiro, a crescente diversificação da matriz econômica dos países 7 (principalmente africanos) indica um momento importante no que tange à relação dos recursos naturais para estes países, alinhando-se ao estudo em questão. Em suma, o estudo aponta possíveis explicações para o crescimento (ou não) das nações, de tal forma que este se traduz como importante índice para o caminhar de um estado. Por si só, o desenvolvimento de um país é extremamente relevante em quaisquer contexto. Entretanto, países dependentes de recursos naturais podem, dada sua matriz econômica fortemente correlacionada a preços internacionais de suas respectivas commodities, agoniar, com alta volatilidade no seu desenvolvimento (como mostra a Figura 1), engendrando, por consequência, uma enorme discrepância da renda de seus cidadãos em determinadas épocas, além de mudanças abruptas na balança de pagamentos e câmbio. Assim, a apreciação deste fenômeno através de variáveis particularmente peculiares abre um nicho de estudos que aprofundem um tema relevante e proporcionalmente pouco explorado. Ademais, o estudo procurará entender se a teoria em questão, com informações radicadas nos períodos posteriores à segunda guerra mundial, pode ser validada sobre a posição atual, entendendo se o recente cenário de queda universal nos preços das commodities pode novamente levar a prejuízos em países que tem bases econômicas em recursos naturais. Figura 1 - Volatilidade de crescimento do PIB dos países subsaarianos (The Economist, 2015) Fonte: The Economist, 05/2015 Nas próximas seções iremos discorrer sobre duas importantes perguntas acerca da maldição dos recursos naturais: esta teoria realmente é verdadeira? Isto é: o paradoxo da abundância realmente existe? Qual a robustez dos suportes empíricos? Ademais, caso de fato haja uma relação entre a alocação destes 8 recursos, entender o porquê há uma correspondência com o crescimento econômico. 2. Objetivo Geral O objetivo principal deste estudo é entender as razões pelas quais nações que foram abençoadas com um grande aporte de recursos naturais tenham, em geral, crescimento econômico inferior à aqueles que não tenham este tipo de auxílio (Gelb, 1988; Sachs e Warner 1995, 1999; Gylfason et al. 1999). Para tal finalidade, pretende-se alcançar um modelo robusto que aponte variáveis relevantes a fim de ilustrar o paradoxo em questão, através de insights contemporâneos. Assim o estudo poderá auxiliar investigações futuras acerca desta abordagem, bem como assessorar na ponderação imediata na busca de melhorias específicas no âmbito da eficiência do uso de recursos naturais. 3. Revisão Bibliográfica Para o desenvolvimento de tal estudo, artigos foram utilizados como base de formulação do projeto de entendimento da questão a ser discutida. Em 2000, Doppelhofer et al. examinaram a robustez de variáveis que possam explicar o crescimento econômico de um certo país. No paper, através de um método inovador (Bayesian Averaging of Classical Estimates, BACE), os autores encontraram dezoito variáveis significantes e robustas correlacionadas com o desenvolvimento de longo prazo, uma delas, o estoque de recurso natural de um certo país. Assim, este estudo apresenta provas empíricas da importância dos recursos naturais para o crescimento de um estado, dando suporte inicial ao estudo tratado. Um ano depois, 2001, Thorvaldur Gylfason, economista Islandês, discorre sobre os canais de transmissão entre a abundância de recursos naturais para o 9 entendimento do crescimento econômico nacional. Em seu artigo, Gylfason menciona quatro pontos importantes para a análise do estudo, sendo eles: doença holandesa2, rent-seeking, confiança exacerbada e negligencia ao sistema educacional. Tal artigo nos revela fatores extremamente ligados à questão institucional, como o rent-seeking (elos público-privados de parcerias informais que rotineiramente levam a queda de produtividade) e o sistema educacional. Alinhado com Gylfason, no ano seguinte, Woolcock et al., reiteram a abordagem socioeconômico e politica-instrucional para a âmbito do desenvolvimento atrelado à questão dos recursos naturais. Os autores, no paper “The Varieties of Rentier Experience: How Natural Resource Export. Structures Affect the Political Economy of Economic Growth”, através da análise de países óleo-exportadores, provam empiricamente a relação de abundância de recursos naturais e um respectivo arcabouço institucional mais fraco. Sachs e Warner (2001), em seu artigo “The curse of natural resources”, publicado no ano posterior, amplia essa gama de possibilidades. Os autores citam a fácil apropriação governamental de recursos naturais, mesclando essa possibilidade com a concentração presente neste setor aliado ao rent-seeking citado anteriormente. Ademais, Sachs e Warner fazem uma reflexão sobre se, dado uma dotação de recursos naturais aleatoriamente alocados, a posição geográfica é importante para entender desenvolvimentos econômicos discrepantes. A relação entre geografia, recursos naturais se dá através da logística de transporte dos mesmos, a definição de bens transacionáveis. Tais pontos serão fundamentais para o trabalho e servirão de variáveis controle para o modelo, de tal forma que não viese a regressão almejada. Humphreys (2007) escreve o primeiro livro dedicado somente a esfera dos recursos naturais como forma de desenvolvimento. Modelos implícitos, relevância de variáveis, além do entendimento aprofundado da maldição, são pautas presentes na 2 Doença Holandesa foi um termo inspirado na situação econômica holandesa nos anos 60. Neste período, um aumento do preço do gás teve como consequência final a valorização fez com que os outros setores da economia perdessem competitividade internacional levando a consequente queda da riqueza nacional. O termo também é comumente utilizado quando um país recebe um enorme donativo internacional, valorizando sua moeda e perdendo competitividade de setores exportadores. 10 publicação. O estudo de Humphreys é importante não só por trazer mais luz ao tema proposto, mas principalmente trazer um toque de contemporaneidade nas análises e dados. Assim, o autor cria sua importância para o estudo aqui discorrido por alinharse ao objetivo de atualização da teoria, dado que mudanças constantes e cada vez maiores podem enfraquecer ou até mesmo fazer a teoria obsoleta. Portanto, cada paper apresenta variáveis importantes para a análise do estudo. Sachs e Warner levam questões determinísticas para seu estudo enquanto, por exemplo, Woolcook e Gyfason abordam temas relacionados ao âmbito politicoinstitucional. Humphreys cria um entrelaçamento entre todos os pontos, e ainda se utiliza de dados e pesquisas mais atualizadas. Assim, a literatura discutida traz a tona possibilidades distintas e atualizadas de formas para o entendimento do problema a ser estudado. 4. Metodologia O estudo do caso será abordado de forma empírica, trazendo a análise de dados para o âmbito estatístico e econométrico. Almeja-se incluir elementos de importância de diferentes artigos-base que sejam relevantes para a solução do estudo. Além pretende-se alongar o período de avaliação destes artigos estudados, buscando pleitear informações do período contemporâneo. Esperando-se que artigos possam trazer luz a questão de variáveis relevantes para a explicação do modelo. Portanto, admite-se como metodologia: I. Discussão individual das variáveis e adequação das mesmas por meio de inferências econômicas e suportadas por seus respectivos casos; II. Abarcamento destas variáveis em um único modelo para análise estatística destas em conjunto dado (inclusão de variáveis de controle). Decomposição dos regressores e avaliação da relevância dos mesmos; 11 III. Definição do modelo econométrico adequado, utilizando de técnicas robustas para maior confiança nas conclusões. IV. Breve comentários sobre parâmetros relevantes e que possam guardar informação importante quanto ao tema proposto. Vale-se ressaltar que as variáveis analisadas serão, antes de tratadas para melhor formatação, avaliadas e limitadas por sua pertinência no modelo de acordo com os objetivos e motivações do trabalho citados anteriormente. 4.1. Apresentação da Base Teórica Traçado o rascunho metodológico, iniciamos com a discussão da base teórica com o propósito de, passo a passo, obter o direcionamento econométrico e as ferramentas que serão utilizadas. A teoria que permeia o trabalho é justamente a hipótese do paradoxo aqui tratado. Para tal análise, tal teoria será dissecada em dois pilares fundamentais que dão carga econômica para tal estudo. A primeira base é exatamente a intuição de que recursos (e a abundância destes recursos) leva a um maior desenvolvimento. Tal aspecto do desenvolvimento pautado em recursos foi amplamente rastreado pela literatura. Desde os primórdios, pela clássica corrente mercantilista que pregava o acúmulo e estocagem de recursos (no caso ouro), até recentes estudos, como em Bloom et al. (2005), não haveria, em princípio, nenhuma motivação para que uma grande quantidade de recursos seja fator restritivo para um desenvolvimento abaixo do esperado. Complementa-se como base teórica a forma de utilização destes recursos. Para ilustrar tal questão, o estudo de David Ricardo (1817) serve de linha de raciocínio. Em “The Principles of Political Economy and Taxation”, Ricardo traz a tona um ponto essencial em nossa análise: a questão da vantagem comparativa. 12 Brevemente: Inglaterra e Portugal produzem tecido e vinho, respectivamente. Através de um coeficiente técnico (análogo à produtividade), avalia-se que a Inglaterra, produzindo vinho, teria um custo de oportunidade relativamente grande em relação a Portugal e vice-versa. Portanto, Inglaterra se especializa na produção de tecidos e Portugal na de vinho. Ambos comercializam entre si e há ganhos de comércio dado uma mudança nos preços relativos. Assim, um outro fator glosado na literatura, a Doença Holandesa, se encaixa na teoria desenvolvida por Ricardo. Apresentaria-se, portanto, um país produzindo bens relativos à demandas naturais (assumindo que o estoque e produtividade da utilização destes recursos assim o fizesse, segundo as teorias apresentadas) enquanto outra nação possuiria intenções voltadas à indústria. Logo, com os três pontos apresentados, abre-se espaço para a análise das variáveis que serão contemplas a fim de entender esse processo contra intuitivo caracterizada como a Maldição dos Recursos Naturais. 4.2. O Modelo O estudo será construído segundo a modelagem neoclássica cross-country (cross-section entre países) de convergência de renda (Sala-i-Martin e Barro, 1992). Tem a seguinte forma: ! 𝑇𝑥𝐶𝑟𝑒𝑠! = 𝛽! 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝛽! 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠𝑁𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑖𝑠!,! + 𝛽!,! 𝑋!,! + 𝜀! !!! Onde: TxCres = Taxa Média de Crescimento da economia do país entre 1985-2014 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = Renda per Capita inicial do país em 1985 13 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠 𝑁𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑖𝑠 = Parcela do PIB que advém de recursos naturais do país 𝑋!,! = Vetor de variáveis controle 𝜀! = Termo de erro da regressão Portanto, nossa foco se volta ao coeficiente 𝛽! , que mostrará se há indícios da maldição dos recursos naturais. O vetor de variáveis instrumentais auxiliará na nossa conclusão de forma a tentar minimizar os ruídos externos que impactar a regressão e que não estão diretamente relacionados ao foco principal. 4.3. Variáveis: apresentação e discussão A inclusão de variáveis se dará por dois critérios: relevância para o assunto em pauta e relevância para o modelo estatístico. Todas as variáveis, com exceção da Renda per Capita inicial, simbolizada por “RendaPerCapitaInicial” têm como valor a média aritmética dos valores entre 1985 e 2014, espaço de tempo considerado satisfatório para análises de longo prazo. A amostra total compreende 55 países, de todos os continentes e de diversos tipos de estrutura econômica e política. a. Parcela do PIB advinda de Recursos Naturais (RecursosNaturais) – Banco Mundial Foco da pesquisa, este vetor será o centro de nossa análise estatística. Os fatores são calculados como a parcela da renda advinda de recursos naturais em relação à renda da economia total. Isto é, um número relativamente alto significa que um país é dependente de recursos naturais em sua matriz econômica. Um coeficiente negativo atrelado a este vetor, e relevante, nos revelará indícios da maldição dos recursos naturais. A relação entre a variável explicativa em questão e a variável resposta (crescimento médio da economia). b. Taxa de crescimento do PIB (TaxaDeCres) - PennTable 14 A taxa de crescimento médio será o output, ou variável resposta do modelo proposto. Entende-se que há a desconfiança de relação entre as variáveis explicativas e o crescimento médio do determinado país. Entretanto, o estudo objetiva-se em entender a relação desta variável com a importância de artigos advindos de recursos naturais na matriz econômica desta nação, sendo, os outros coeficientes colocados em análise posterior. O crescimento médio é a raiz enésima da multiplicação das n taxas de crescimento no período. Sendo, então: 𝑇𝑥𝐶𝑟𝑒𝑠 = !"#$ ! 𝑇𝑥𝐶𝑟𝑒𝑠! !!!"#$ Onde: TxCres = Taxa Média de Crescimento da economia do país 𝑇𝑥𝐶𝑟𝑒𝑠! = Taxa de Crescimento no ano i 𝑛 = Número de anos (1985-2014) c. Renda per capita Inicial (RendaPerCapitaInicial) - PennTable Uma das mais importantes bases de dados em relação à comparações entre nações, traz consigo a renda per capita ano a ano. Análogo à modelagem proposta por Mankiw, Homer e Weil (1992), este indicador pretende entender a convergência entre os países relacionados ao seus respectivos crescimentos. Espera-se que o vetor assuma um coeficiente negativo, assim, países que tinham maior renda per capta no inicio da amostragem, seriam mais fortemente “penalizados” por seus estados iniciais, enquanto países com baixa riqueza per capita inicial, seriam pouco afetados por tal coeficiente. Assim, sugere-se que haveria um processo de convergência de longo prazo entre estas nações, dada uma taxa de 15 crescimento maior nos países anteriormente com menor riqueza proporcional. O índice é calculado como o total da renda produzida pelo país dívida pelo número de habitantes no ano de 1985 (em USD de 2010), seguindo a Paridade do Poder de Compra (PPC). d. Vetor de variáveis controle (X) d.1. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – Organização das Nações Unidas (ONU) O IDH foi incorporado ao estudo a fim de captar efeitos de escolaridade saúde, que, por possível correlação com o crescimento do PIB, geraria viés caso não incluída. Neste ponto é importante ressaltar que a componente PIB per capita não foi levada em consideração (o cálculo com as componentes restantes foi implementado pela UNDP, United Nations Procurement Division) uma vez que tal fator já está sendo contemplado e analisado individualmente dado sua relevância para a questão da convergência entre países. O índice varia de 0 até 100 (melhor escore). d.2. Rule of Law (RuleOfLaw) – World Justice Project Entre tantos objetos institucionais, a variável “Rule of Law” (idealizada pelo World Justice Project) será essencial para captarmos a relação politicainstitucional em um ambiente majoritariamente cercado de monopolistas (ambiente rural) onde há um alto grau de correlação governamental com estes agentes (Auty, 2000 e Evans, 1996). La Porta et al (1997) também traça um paralelo sobre grandes organizações e o ambiente onde esta se insere. O Rule of Law Index quantifica, através de quarto principais 16 componentes3, a aderência, qualidade e enforcement das intuições dentro de um dado país. Altamente reconhecido como um dos mais importantes rankings de instituições, este índice foi justamente contemplado para captar o efeito político-institucional de uma nação. A falta de inclusão desta variável geraria erros estatísticos no principal efeito estudado (relação do crescimento do PIB em relação a dependência deste país em relação a seus recursos naturais), devido a sua indevida incorporação da componente de erro do efeito central. O índice varia de 0 até 1 (melhor escore). d.3. Tempo Requerido para Começar um Negócio (TempoNegócio) – Banco Mundial Também um indicador institucional, esse índice atua como proxy para a complexidade e burocracia de uma nação. Adjacente ao indicador Rule of Law, o índice captará os efeitos institucionais em relação à variável resposta, taxa de crescimento da economia, tornando o principal efeito em análise, a relação desta taxa de crescimento em relação à dependência da economia em recursos naturais, com um menor coeficiente de erro embutido. O tempo é demarcado em dias. d.4. Renda de exploração de Petróleo (Petróleo); Renda de exploração de Gás Natural (GásNatural); Renda de exploração de Florestas (Floresta); Renda de exploração de Carvão (Carvão); Renda de exploração de Metais (Metais); – Banco Mundial Divididos em componentes especificas, as rendas de acordo com cada modalidade de extração visa entender como o comportamento de cada fator interfere no estudo em questão. Também, percebe-se aqui a importância de cada recurso para soma da matriz econômica. Todos são 3 As quatro componentes são: os agentes governamentais e suas ações; as leis e sua claridade, divulgação, estável, justa e aplicada sem distinção; o processo de enforcement e; a ética, justiça neutralidade e a utilização de recursos adequados. 17 calculados como porcentagem do PIB de um país e são complementares, correlacionados ou não. d.5. Acesso a Internet (Internet) – Organização das Nações Unidas (ONU) Indicador voltado ao âmbito socioeconômico, a inclusão desta variável busca capturar efeitos relacionados ao estágio de amadurecimento de um dado país. Como proxy para desenvolvimento, o índice será também reflexo da facilidade confecção, transação e pagamento de bens da economia, tendo possível reflexo no crescimento do país, mas não necessariamente relacionado com a questão da dependência (ou não) de recursos naturais, foco do estudo. O índice é calculado como número de usuários da internet a cada cem habitantes. d.6. Abertura Comercial (AberturaComercial) – Banco Mundial Tomando como base a Teoria de Ricardo, percebemos que a troca comercial entre países é fundamental. Assim, O índice aqui proposto busca captar variações relativas entre tais países, buscando suas predisposições a troca e artifícios que as favoreçam ou não. O índice é como calculado como uma porcentagem de exportações e importações relativizado pelo dobro do PIB, uma vez que procura-se que efeitos de exportações e importações não se anulem. 4.4. Modelagem Estatística Os fatores aqui relacionados, à luz de estudos anteriores e pautados em modelos econômicos, têm, em suas principais características: capacidade de explicação da variável resposta; e propensão à apoderar-se de fatores diversos de modo que não interfira na análise do efeito da dependência dos recursos naturais. Ou seja: os vetores “Índice de Desenvolvimento Humano” (sem a componente PIB 18 per Capita), “Rule of Law”, “Tempo Necessário para Abrir um Negócio” e “Usuários Conectados à Internet”, visam absorver todos os efeitos relevantes para a explicação da “Taxa Média de Crescimento”, a fim de possibilitar que as variáveis “PIB per Capita Inicial” (para confirmarmos a hipótese de Mankiw, Homer e Weil, 1992) de convergência de renda entre países e o vetor de análise, “Parcela do PIB advinda de Recursos Naturais”, sejam avaliadas sem qualquer efeito ou estresse socioeconômico ali possivelmente embutido. Para primeira inferência, analisemos o gráfico abaixo: Fonte: Ilustração Própria Fica, portanto, evidente que há uma desconfiança que a Maldição dos Recursos Naturais esteja presente. Para tal, analisaremos estatisticamente tal aspecto. Comecemos, portanto, a modelagem estatística a partir da inclusão de todos os termos aqui relevantes para a análise: 𝑇𝑎𝑥𝑎𝐷𝑒𝐶𝑟𝑒𝑠 = 𝛽! + 𝛽! 𝐼𝐷𝐻 + 𝛽! 𝑅𝑢𝑙𝑒𝑂𝑓𝐿𝑎𝑤 + 𝛽! 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑁𝑒𝑔𝑜𝑐𝑖𝑜 + 𝛽! 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑒𝑡 + 𝛽! 𝐴𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝐶𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝛽! 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝜷𝟕 𝑹𝒆𝒄𝒖𝒓𝒔𝒐𝒔𝑵𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂𝒊𝒔 + 𝜀 (1) Estimada a equação (1), obtivemos a equação estimada do modelo geral: 19 𝑇𝑎𝑥𝑎𝐷𝑒𝐶𝑟𝑒𝑠 = 𝛽! + 𝛽! 𝐼𝐷𝐻 + 𝛽! 𝑅𝑢𝑙𝑒𝑂𝑓𝐿𝑎𝑤 + 𝛽! 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑁𝑒𝑔𝑜𝑐𝑖𝑜 + 𝛽! 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑒𝑡 + 𝛽! 𝐴𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝐶𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝛽! 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝜷𝟕 𝑹𝒆𝒄𝒖𝒓𝒔𝒐𝒔𝑵𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂𝒊𝒔 (2) Variável Coeficiente p-Valor Constante -0.0165 0.41 IDH 0.0221 0.22 RuleOfLaw 0.0312 0.32 TempoNegócio 0.0001 0.06 Internet 0.0008 0.05 AberturaComercial 0.0002 0.10 RendaPerCapitaInicial -3.94x10!! RecursosNaturais -0.0140 0.00 0.06 Primeiramente, percebe-se dois pontos importantes: (a) o coeficiente relativo ao vetor “RendaPerCapitaInicial” se mostrou relevante e negativo. Isto vai de acordo com a teoria de Makiw, Homer e Weil (1992), em que países com mais riquezas inicias seriam mais “penalizadas”, chegando em uma convergência. O coeficiente é, verdadeiramente, pequeno, entretanto este é um processo gradativo, de longo prazo e; (b) o coeficiente relativo à variável “RecursosNaturais”, foco de nossa análise, apresenta-se relevante e negativo, como esperado pela Maldição dos Recursos Naturais. Entretanto, este prévio resultado não pode ser tomado como verdadeiro, uma vez que há variáveis não relevantes que devem ser excluídas de nossa análise. Para isto, fazendo um simples teste t-Student (Gosset, 1908), bicaudal, onde: 𝐻! : 𝛽! = 0(A variável não é relevante) 𝐻! : 𝛽! ≠ 0(A variável é relevante) 20 percebe-se que, mesmo há níveis de 90% de significância, o vetor de informações “IDH” e “RuleOfLaw” não são relevantes para a explicação. Há, de fato, certa correlação entre as duas variáveis, podendo afetar a necessariariedade de ambas. Assim, como a variável “RuleOfLaw” têm ampla correspondência com o vetor “TempoNegócio”, que carrega a informação de tempo para se abrir um determinado negócio, relevante há nível de 10% de confiança, excluiremos este, “RuleOfLaw”, a fim de captar informações da variável “IDH”, sem perder referência ao âmbito político-institucional. Assim, da equação (2), excluímos a variável “RuleOfLaw”: 𝑇𝑎𝑥𝑎𝐷𝑒𝐶𝑟𝑒𝑠 = 𝛽! + 𝛽! 𝐼𝐷𝐻 + 𝛽! 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑁𝑒𝑔𝑜𝑐𝑖𝑜 + 𝛽! 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑒𝑡 + 𝛽! 𝐴𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝐶𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝛽! 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝜷𝟕 𝑹𝒆𝒄𝒖𝒓𝒔𝒐𝒔𝑵𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂𝒊𝒔 (3) Variável Coeficiente p-Valor Constante -0.0004 0.97 IDH 0.0020 0.25 TempoNegócio 0.0001 0.06 Internet 0.0011 0.00 AberturaComercial 0.0021 0.08 RendaPerCapitaInicial -3.77x10!! RecursosNaturais -0.0162 0.00 0.03 Com a retirada do vetor “RuleOfLaw”, agora, concentramos nossas atenções ao índice “IDH4”. Realizando o mesmo teste anterior, t-Student, podemos inferir, com 10% de significância, que a variável não é relevante para o modelo. Tal resultado pode se dever a alguns fatores como: nível de escolaridade e saúde refletido no índice “Internet”; volatilidade do índice. 4 Mais uma vez é de suma importância lembrar que o IDH aqui tratado, não traz consigo a componente Renda Per Capita 21 Assim, dado sua irrelevância estatística, passemos então para a próxima equação, 4, com a retirada do vetor “IDH”: 𝑇𝑎𝑥𝑎𝐷𝑒𝐶𝑟𝑒𝑠 = 𝛽! + 𝛽! 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑁𝑒𝑔𝑜𝑐𝑖𝑜 + 𝛽! 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑒𝑡 + 𝛽! 𝐴𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝐶𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝛽! 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 + 𝜷𝟕 𝑹𝒆𝒄𝒖𝒓𝒔𝒐𝒔𝑵𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂𝒊𝒔 (4) Variável Coeficiente p-Valor Constante 0.0118 0.01 TempoNegócio 0.0001 0.02 Internet 0.0013 0.00 AberturaComercial 0.0022 0.05 RendaPerCapitaInicial -3.64x10!! RecursosNaturais -0.0017 0.00 0.01 Avaliando a tabela acima, percebe-se que todos os vetores contemplados são relevantes, há níveis de 95% de confiança. Assim, nos deparamos com nossa equação estimada final, sendo ela: 𝑇𝑎𝑥𝑎𝐷𝑒𝐶𝑟𝑒𝑠 = 0.0018 + 0.0001𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑁𝑒𝑔𝑜𝑐𝑖𝑜 + 0.0013𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑒𝑡 + 0.0022𝐴𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝐶𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 − 3.64x10!! 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎𝑃𝑒𝑟𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝐼𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 − 0.0017𝑹𝒆𝒄𝒖𝒓𝒔𝒐𝒔𝑵𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂𝒊𝒔 (5) 𝑹𝟐 = 𝟎. 𝟑𝟗 𝑬𝒓𝒓𝒐 𝒅𝒂 𝑹𝒆𝒈𝒓𝒆𝒔𝒔ã𝒐 = 𝟎. 𝟎𝟏𝟑𝟏 𝒏 = 𝟓𝟓 22 5. Resultados a. RendaPerCapita: como modelado pelo experimento de Makiw, Homer e Weil (1992), o vetor, além de relevante, atua como uma “penalização” para os países que tinham riqueza inicial relativamente mais alta. Isto é demonstrado pelo sinal negativa que antecede o coeficiente, fazendo com que, a longo prazo, países convirjam para uma mesma renda per capita, uma vez que, tudo mais constante, nações relativamente mais pobres terão taxas de crescimento mais altas por certo período. Para cada 1 USD a mais na riqueza per capita de um determinado país, em 1985, influencia-se negativamente a taxa média de crescimento entre 1985 e 2014 em 0,00000364 pontos percentuais (p.p.) Ou melhor, para cada 1000 USD, a taxa de crescimento de um país cairá, em média, 0,00364p.p., tudo mais constante. Continuemos agora em nossa análise sobre o tema central do estudo: o efeito dos recursos naturais de subpotencializar o crescimento econômico de um dado estado. b. RecursosNaturais: como suspeitado pelo estudo em questão, a dependência de recursos naturais como porcentagem da matriz econômica de um país, é fator relevante para o nível de crescimento deste. O sinal negativo compreendido reflete a hipótese de que países com que produzem produtos de baixo valor agregado (que tem como grande expoente, aqueles advindos de recursos naturais que passam por poucas, ou nenhuma etapa de manufatura) têm menor crescimento econômico. Englobando-se todos os recursos naturais, podemos inferir que, a cada crescimento de 1% da parcela do PIB que advém de recursos naturais, este país tem queda na sua taxa média de crescimento, em média, de 0.0017p.p., tudo mais constante. O número, 0.0017p.p., a primeira vista parece irrisório. Então, tomemos a liberdade de analisar mais profundamente tal resultado através de um exemplo. Imaginemos, um país representativo: tal nação tem uma taxa média de crescimento de 2%, desconsiderando a componente dos recursos naturais. Assim, como visto anteriormente, para cada 1% adicionado à matriz econômica sob forma de produtos advindos da natureza, a nação sofrerá uma penalidade de 0.0017p.p 23 em sua taxa de crescimento. Observando a tabela abaixo, propõem-se uma quantificação desta penalidade de acordo com a porcentagem advinda destes recursos. País com Crescimento Econômico de 2% % Recursos Naturais % Indústria Penalização (p.p) Crescimento Econômico Final 0% 10% 20% 30% 40% 100% 90% 80% 70% 60% 0.00000 0.00017 0.00034 0.00051 0.00068 2.00% 1.98% 1.97% 1.95% 1.93% Crescimento Final/ Crescimento Inicial (2%) 0.00% 0.85% 1.70% 2.55% 3.40% 5.10% 5.95% 6.80% 7.65% 8.50% 50% 50% 0.00085 1.92% 60% 70% 80% 90% 100% 40% 30% 20% 10% 0% 0.00102 0.00119 0.00136 0.00153 0.00170 1.90% 1.88% 1.86% 1.85% 1.83% *(Sem a componente de Recursos Naturais) 4.25% Assim, para 50%, o país teria um desconto de 0.085p.p., deixando sua nova taxa de crescimento em 1.92%, um decréscimo de exatos 4.25%, altamente expressivo. Para melhor entendimento, daremos um passo adiante, estratificando essa parcela de recursos naturais em suas componentes. São elas: Floresta, Metais e Minérios, Petróleo, Gás Natural e Carvão. 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠𝑁𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑖𝑠 = 𝛼! + 𝛼! 𝐹𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎 + 𝛼! 𝑀𝑒𝑡𝑎𝑖𝑠 + 𝛼! 𝑃𝑒𝑡𝑟ó𝑙𝑒𝑜 + 𝛼! 𝐺á𝑠 + 𝛼! 𝐶𝑎𝑟𝑣ã𝑜 + 𝜀 (6) Em busca de concluir qual a relevância de cada componente específico, a variável RecursosNaturais, antes explicação do modelo, se instrui agora de outra função: variável resposta. Assim, pautado na equação (5), a regressão foi exposta: 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠𝑁𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝚤𝑠 = 𝛼! + 𝛼! 𝐹𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎 + 𝛼! 𝑀𝑒𝑡𝑎𝑖𝑠 + 𝛼! 𝑃𝑒𝑡𝑟ó𝑙𝑒𝑜 + 𝛼! 𝐺á𝑠 + 𝛼! 𝐶𝑎𝑟𝑣ã𝑜 (7) 24 Variável Coeficiente p-Valor Constante 0.13 0.48 Floresta 0.98 0.00 Metais 0.08 0.00 Petróleo 1.01 0.00 Gás 1.00 0.00 Carvão 1.55 0.00 𝑹𝟐 = 𝟎. 𝟗𝟖 𝑬𝒓𝒓𝒐 𝒅𝒂 𝑹𝒆𝒈𝒓𝒆𝒔𝒔ã𝒐 = 𝟎. 𝟗𝟐 𝒏 = 𝟓𝟓 Inicialmente é possível perceber a capacidade explicativa do modelo, com 98% da variação dos RecursosNaturais elucidado por estes cinco fatores. Posteriormente, podemos inferir que mesmo, ligeiramente maior, os coeficientes relacionados à recursos energéticos são maiores que os demais. Por Sachs e Warner (2001) este resultado já era esperado. Em seu artigo, os autores refletem este ponto, expondo à luz de concentração destes recursos. Embora a comparação tenha sido feita com a agricultura, que, na realidade poderia ser transformado em qualquer tipo de alimento, assim estratificando a oferta dos mesmos, outros recursos só podem ser encontrados em jazidas localizadas; os campos árabes de petróleo, ou os famosos diamantes de Serra Leoa. Sim, é fato que todos estes recursos tem suas especificidades naturais, mas há outro ponto a ser destacado neste momento: a oferta energética, comparada com os demais itens, é extremamente mais importante e valorizada. Assim, países que dispõem destes recursos, tendem a se concentrarem nestas setores. Isto é altamente perceptível quando observamos o gráfico abaixo: 25 Fonte: Banco Mundial É notória a correlação entre o preço da gasolina e o crescimento do PIB destes países, demonstrando alto grau de concentração do setor petroleiro na matriz econômica destes países. Logo, uma das consequências dessa maldição se torna, não só a dependência de produtos de baixo valor agregado, mas também uma volatilidade acima da média de suas taxas de crescimento anuais, uma vez que, primordialmente, dependentes de preços estabelecidos em um mercado interligado globalmente, com poucos, ou nenhum acesso a mudanças abruptas de preços. 6. Conclusão “O suporte empírico para o questionamento da Maldição dos Recursos Naturais não é à prova de balas, mas é muito forte” (Sachs e Warner, 2001). Com a relevância do coeficiente multiplicador do vetor em estudo, parcela do PIB advindo de recursos naturais, β! , apresenta-se indícios do paradoxo aqui discutido. Entretanto, julga-se difícil enfatizar tais resultados uma vez que o mesmo procura confirmar (ou não) uma teoria já anteriormente estipulada que foge aos padrões intuitivos inerentes (Gelb, 1988). Aprofundando o estudo, também percebese a discrepância da importância (mesmo que sutil) dos recursos energéticos. O trabalho ressalta uma maior importância para estes fatores (relativos à energia) em 26 detrimento de recursos florestais, por exemplo, preponderado pela escassez e valor de mercado. Outro importante ponto, um dos objetivos, a atualização da pesquisa se fez confirmada, seguindo padrões atuais, que vão de encontro ao dinamismo global. Além, a dependência destes países a preços internacionais, com restrito acesso à mudanças, faz com que a volatilidade de crescimento e dificuldade de criação de perspectivas e planos de longo prazo enfraqueçam a economia, permeando todos os setores da matriz econômica. Aqui, este estudo abre portas para uma análise específica brasileira. Notariamente exportador de commodities, o país se vê em uma encruzilhada para o desenvolvimento. A reflexão então se torna contemporânea e estratégica: a modernização da matriz econômica brasileira. Posta-se, de um lado, a possível melhora de performance, injeção de eficiência e potencial de “spill-overs” de knowhow e tecnologia para outros setores industriais e, de outro, uma histórica acomodação a estes recursos naturais. 27 7. Referências Auty, R.M., 2000. The political economy of resource-driven growth. Paper presented at the 15th Annual Congress of the European Economic Association, Bolzano August}September. Barro, Robert (1997) Determinants of Economic Growth: A Cross-Country Empirical Study Cambridge, MA: MIT Press Bloom D.E., D. Canning, and P. Malaney. 2000. “Population Dynamics and Economic Growth in Asia.” In: Chu CYC, Lee R (ed.) Population and Economic Change in East Asia. Population and Development Review, (Supplement), 26, 257– 290. 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