INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA E A REFLEXÃO SOBRE A REGIÃO DE FRONTEIRA POR MEIO DA LITERATURA INFANTOJUVENIL Daniela Carine Dohs Machado¹, Cristina Pureza Duarte Boéssio² 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional em Educação da Universidade Federal do Pampa, campus Jaguarão/RS. [email protected] 2 Doutorado em Educação. Professora da Universidade Federal do Pampa, campus Jaguarão/RS. [email protected] Palavras-Chave: Literatura Infantojuvenil, Região de Fronteira, História, Geografia, Memória. INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo apresentar uma pesquisa do tipo Intervenção Pedagógica, realizada com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental da Rede Estadual de Ensino, no município de Bagé/RS. Por meio deste trabalho, objetiva-se incentivar o reconhecimento das características Culturais, Históricas, Geográficas e da Memória do lugar em que os educandos vivem e, por meio da Literatura, refletir criticamente sobre elas, sendo que, no currículo escolar atual, não se privilegia o estudo das relações fronteiriças, mesmo o município de Bagé/RS fazer fronteira com o Uruguai. Os resultados iniciais demonstram que as concepções de fronteira e Região de Fronteira foram elucidadas e que os educandos conseguem reconhecer-se mais como cidadãos fronteiriços. No entanto, por se tratar de uma pesquisa em andamento, desejamos ainda oportunizar a reflexão sobre as suas memórias pessoais e que eles possam se sentir como cidadãos integrados ao meio em que vivem, pertencentes e conhecedores da História e da Geografia do lugar em que vivem. METODOLOGIA A abordagem metodológica para o desenvolvimento deste trabalho foi a Intervenção Pedagógica, baseada em Damiani (2003), que afirma que este tipo de pesquisa tem por objetivo a intervenção no fazer pedagógico para a melhoria da aprendizagem, seguido de uma avaliação dos efeitos dessa intervenção. Neste sentido, elaboramos uma proposta pedagógica composta de 12 aulas, em que utilizamos recursos visuais, imagéticos, literários e teóricos para a melhor compreensão da Região de Fronteira e posteriormente a reflexão por parte dos educandos sobre a sua realidade, oportunizando a reflexão sobre as suas memórias pessoais e de infância. Para a coleta de dados e diagnóstico dos saberes prévios dos alunos, utilizamos o questionário, que segundo Marconi e Lakatos (2003), é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito. Utilizamos também a observação, mais especificamente, como participante observador, que segundo Neto e Triviños (1999), o observador participa ativamente dos acontecimentos, em um procedimento de coleta, organização e registro das informações após o acontecimento. Com a observação, foi possível analisar fatos que não seriam possíveis por meio escrito, pois os educandos estavam no seu meio escolar. Adaptamos também o método da Caderneta de Metacognição de Damiani (2006), em que os educandos registraram as suas percepções sobre os processos de ensino e aprendizagem e consequentemente refletiram sobre eles, sendo que ao final de cada ação interventiva eles responderam três perguntas: O que aprenderam? Como aprenderam? O que gostariam de aprender? Utilizamos o livro ficcional Lata de Tesouros, de Carlos Urbim, em que propiciamos o despertar do interesse nos educandos sobre a História, Geografia e Memória da Região de Fronteira entre Brasil e Uruguai, no qual também, retomamos a memória de infância dos educandos, pois no livro o autor traça geograficamente as cidades do Brasil com o Uruguai e retrata as memórias e infância de um menino da mesma faixa etária dos educandos. Após a análise dos registros na Caderneta de Metacognição, realizamos uma pesquisa no laboratório de informática, em que os educandos puderam pesquisar o que mais gostariam de aprender e aprofundar-se nos assuntos que mais lhe chamaram a atenção. Os resultados destas pesquisas foram publicados em um blog intitulado Alunos fronteiriços1, em que nele também postei vídeo e imagens que retratam a fronteira do Brasil com o Uruguai. Realizamos uma visita para o município de Aceguá/RS, em que tivemos a oportunidade de reconhecer os Marcos Fronteiriços que há no local de divisa do Brasil com o Uruguai, no centro da cidade e tivemos contato direto com a fronteira. No último encontro, propomos a escrita de histórias ficcionais sobre a Região de Fronteira, sendo que, desta forma eles tiveram a oportunidade de manifestar a sua visão e percepção sobre a História, a Geografia da Região de Fronteira e suas Memórias pessoais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Por se tratar de uma pesquisa em andamento, os dados ainda estão em processos de análise. No entanto, com as observações realizadas durante as ações interventivas e a apreciação dos registros das Cadernetas de Metacognição, constatamos que a percepção dos educandos sobre Fronteira e Região de Fronteira foi elucidada e que eles conseguiram perceber as diferenças nos costumes brasileiros, mais especificamente nos gaúchos, com os costumes uruguaios. No questionário aplicado no início do processo interventivo, de um total de 27 alunos, apenas 12 alunos conheciam a definição de fronteira, sendo que após a intervenção, no relato das Cadernetas de Metacognição, este conceito foi elucidado, como pode ser observado no seguintes relatos: “Falamos sobre que o Uruguai fazia as mesmas coisas que nós, mas na verdade todos nós sabemos que não é verdade. ”, ou quando outro aluno escreveu, “Eu aprendi sobre a fronteira que há e porque foram criadas, aprendi o que tem no meu município, até porque a minha cidade é uma fronteira com o Uruguai. Lá no Uruguai tem coisas parecidas com as que a gente tem em minha cidade, as culturas”. CONCLUSÕES Com este trabalho concluímos que aliar a História, Geografia, Memória e Literatura estabelece uma ligação entre a imaginação sobre os acontecimentos passados e as relações com o presente, fazendo com que os educandos possam enxergar-se como integrantes e participantes da História da região em que vivem. Neste sentido, a Literatura ficcional Infantojuvenil envolve o educando pois ele é incentivado a refletir sobre o seu meio, suas vivências e percepções culturais. Concluímos que utilizar-se de uma gama variada de recursos, como vídeos, imagens, literatura, pesquisa e visita cultural, fez com que o aluno pudesse visualizar-se neste meio fronteiriço e assim desenvolver as suas próprias concepções de Região de Fronteira. REFERÊNCIAS a. Periódicos DAMIANI, Magda Floriana. A metacognição como auxiliar no processo de formação de professores: uma experiência pedagógica, UNI Revista, v. 1, n. 2, abri. 2006. DAMIANI, Magda Floriana; ROCHEFORT, Renato Siqueira; CASTRO, Rafael Fonseca de; DARIZ, Marion Rodrigues; PINHEIRO, Silvia Siqueira. Discutindo pesquisas do tipo intervenção pedagógica. Cadernos de Educação FaE/PPGE/UFPel. Pelotas, n. 45, p. 57 - 67, jul. /ago. 2013. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia científica. In: Fundamentos da metodologia científica. Altas, 2003. b. Livro TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva; NETO, Vicente Molina. A pesquisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Ed. Universidade, 1999. URBIM, Carlos. Lata de Tesouros. Porto Alegre. Projeto, 2005 1 Blog criado para registrar as pesquisas realizadas pelos educandos <http://alunosfronteiricos.blogspot.com.br/>