A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NA FRONTEIRA ENTRE O BRASIL E O PARAGUAI: BREVES CONTEXTUALIZAÇÕES JHERSYKA DA ROSA CLEVE¹ Resumo: A agricultura tem historicamente organizado a composição socioeconômica do Paraguai, ocorrendo por diversas etapas ora em momentos de prosperidade ou declínio por efeitos de guerras e instabilidade política, tendo prosperado em termos de crescimento econômico no período do governo de Stroessner (1954-1989). Atualmente, o Paraguai tem se inserido através da agricultura no contexto socioeconômico mundial, isso ocorre devido a sua inserção internacional, dessa forma o objetivo deste trabalho é contextualizar os conflitos de terra ocasionados a partir da expansão da fronteira agrícola no Paraguai. Palavras-chave: Fronteira; Paraguai; Luta pela Terra. Abstract: Agriculture has historically organized the socioeconomic composition of Paraguay, occurring several steps now in times of prosperity or decline by effects of war and political instability, having prospered in terms of economic growth in the government of Stroessner period (1954-1989). Currently, Paraguay has been inserted through agriculture in the global socio-economic context, this is due to its international insertion, so the aim of this study is to contextualize the land conflicts caused from the expansion of the agricultural frontier in Paraguay. Key-words: Border; Paraguay; Struggle for land. ________ 1. Acadêmica do programa de pós- graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail de contato: [email protected] 1156 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1 – Introdução História, povos, identidades, culturas, fronteiras naturais, soberania, limite, linha divisória, são termos que automaticamente se incluem à questão da fronteira, porém cabe a nós pesquisadores evidenciar o que realmente se trata as questões fronteiriças. Sabemos da existência dos inúmeros conflitos sociais presentes na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, sendo estes conflitos causados em suma pela expansão da fronteira agrícola no Paraguai. A distribuição de terra no Paraguai é bastante desigual, assim como é no Brasil, os projetos de reforma agrária no Paraguai ficam a cargo do Instituto de Bienestar Rural (IBR) desde a década de 1960. Ao imaginarmos a fronteira, no senso comum a primeira impressão que nos vêm à mente é o limite de um Estado-Nação, a divisa entre países, aqui é o Paraguai e do outro lado é o Brasil, essa forma de entender o termo caracteriza uma visão simplista, uma vez que o significado de fronteira deve levar em consideração toda a multiplicidade ela carrega. A fronteira envolve uma construção humana e na medida em que a fronteira começa a ser pensada no imaginário de cada pessoa passamos a construí-la e identificarmos o outro, ao abordar questões fronteiriças deve-se levar em consideração toda a complexidade que está por trás, pois a fronteira está muito além de separar dois países diferentes, abrange o estabelecimento de relações de grupos culturais distintos. Com a divisão criam-se distintos grupos sociais, com isso a vida da população que reside em territórios de fronteira é marcada por relações de contradições, ao mesmo tempo em que se integram por partilhar de costumes e tradições através do contato internacional separam-se devido o fato de o espaço ser delimitado por dois territórios com distintas jurisdições. As cidades que fazem parte do limite internacional apresentam problemas semelhantes a qualquer outra cidade (desemprego, acesso precário a saúde e à educação), porém essas questões se duplicam devido à condição da fronteira. 1157 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A esses sujeitos que vivem “na fronteira” ser um ou ser o outro é uma condição definitiva (nacionalidade) que permite mobilidade, uma vez que se o registro civil de cada um define a que lugar pertence, o “ir e vir” “de lá para cá e de cá para lá”, nos limites internacionais, se misturam e se confundem ao mesmo tempo em identificam uns aos outros. Sendo assim, as relações que estes sujeitos partilham não podem ser confundidas como relações harmoniosas, muito pelo contrário o fato de estarem na fronteira faz dessas relações mais conflituosas, não podemos apontar que na fronteira todos são iguais e partilham das mesmas angustias e sonhos, a fronteira é um território hibrido e por ser hibrido é que faz desse território cheio de contradições. A fronteira é também o lugar de desencontro de temporalidades históricas, “pois cada um desses grupos está situado diversamente no tempo da História” (MARTINS, 1997, p. 151). Para o autor: [...] o tempo histórico de um camponês dedicado a uma agricultura de excedentes é um. Já o tempo histórico do pequeno agricultor próspero, cuja produção é mediado pelo capital, é outro. E é ainda outro o tempo histórico do grande empresário rural. Como é outro o tempo histórico do índio integrado, mas não assimilado. [...] Como ainda é inteiramente outro o tempo histórico do pistoleiro que mata índios e camponeses a mandado do patrão e grande proprietários de terras [...] (MARTINS, 1997, p. 159). Na fronteira entre o Brasil e o Paraguai esse desencontro de temporalidades históricas torna-se evidente entre a relação dos imigrantes de descendência europeia e os camponeses paraguaios. Os imigrantes brasileiros em sua maioria oriundos do sul do Brasil e descendência europeia transferem as mesmas referencias as imagens que tem do nordestino, do negro e do índio ao camponês paraguaio, colocando os camponeses paraguaios como atrasados e preguiçosos. Esse discurso se intensificou no período da frente de expansão capitalista no Leste do Paraguai durante a década de 1970, momento em que 1158 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ocorreu uma forte imigração brasileira para o país vizinho, a imagem que os brasileiros construíram em relação aos paraguaios é semelhante ao que os empresários norte-americanos faziam em relação aos brasileiros e indígenas na exploração da Amazônia, o que os imigrantes brasileiros reproduzem no Paraguai vai além, pode-se dizer que o tratamento que os brasileiros têm em relação aos paraguaios é semelhante às formas que os colonizadores da América Latina davam aos índios, colocando o outro como atrasado, preguiçoso. Assim, a fronteira simbólica mais terrível é aquela que nega o outro, que tem como objetivo rebaixar a condição humana e social. Passaram-se décadas e muitos desses imigrantes brasileiros que foram para o Paraguai na década de 1970, hoje são os grandes empresários e produtores de soja com tecnologias avançadas em suas propriedades. E mesmo se passando décadas, o discurso em relação aos camponeses paraguaios permanece, as grandes propriedades de soja de brasileiros servem para aumentar o discurso do trabalho dos imigrantes em relação aos camponeses paraguaios, colocando os paraguaios como sujeitos que “vivem outro tempo” ou que “pararam no tempo”. Podemos apontar que a fronteira entre o Brasil e o Paraguai é marcada por temporalidades históricas, conflitos, contradições, hoje ela pode estar ocupada, como pode daqui a alguns anos não estar, a fronteira está relacionada a situações definidas, por exemplo, a fronteira entre o Brasil e o Paraguai tem servido desde a década de 1970 como ampliação da agricultura de exportação. Dessa forma, a fronteira esta intimamente ligada com as relações que constituem o poder, a fronteira vai estar presente onde o poder econômico e politico estiver abrangendo. Assim, buscaremos neste trabalho apontar breves contextualizações da expansão da agricultura de exportação no Paraguai e suas implicações. 1159 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1.1 O deslocamento dos brasileiros para o Paraguai e suas implicações Os conflitos sociais que ocorrem na fronteira se devem a construção da hidrelétrica de Itaipu e da modernização da agricultura, pois a partir desses dois momentos ocorreu uma grande expulsão e expropriação de pequenos agricultores de suas terras no Brasil. Com a construção da hidrelétrica de Itaipu aproximadamente 9.000 famílias de camponeses foram expropriadas, a área que foi inundada abarcou vários municípios do oeste do Paraná, restando aos camponeses brasileiros expropriados a esperança no país vizinho de comprar terras a preços mais baixos e o retorno ao campo. Durante a década de 1960 e 1970 os governos paraguaio e brasileiro favoreceram a ocupação da fronteira, SOUCHAUD (2002) aponta que a elevada aptidão dos solos, o apoio direto do governo na concessão e compra de terras, as agências de crédito, dos ministérios do governo de Paraguai e Brasil contribuíram na constituição desse território brasiguaio, visto que aqui aponto como território brasiguaio em virtude da base social, econômica e produtiva é brasileira, mas se dá em território paraguaio. Não podendo deixar de evidenciar que as construções da ponte da amizade e da represa de Itaipú também incidiram neste processo (MENEGOTTO, 2004). Não podemos apontar que a presença dos brasileiros na fronteira do Paraguai tenha ocorrido unicamente a partir das políticas governamentais do Brasil e do Paraguai. O que houve foi uma junção entre o processo e de deslocamento populacional, devido ao fato de ocorrei concentração da propriedade nos estados do Sul do Brasil, com os interesses geopolíticos tanto do governo brasileiro quanto do paraguaio em controlar e desenvolver a região leste daquele país. A modernização e mecanização da agricultura contribuíram para a expansão dos plantios de soja na década de 1970, favorecendo o deslocamento de muitos agricultores, arrendatários e posseiros de terras brasileiras para o Paraguai. 1160 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Os conflitos existentes na fronteira que hoje se acirram cada vez com maior intensidade devem-se ao governo ditatorial de Alfredo Stroessner, pois a ditadura implantada por Stroessner afetou profundamente o contexto agrário na fronteira, em seu governo foram disponibilizadas terras posicionadas na fronteira para produtores estrangeiros, grande parte brasileiros, em virtude de serem considerados mais “capazes” para ocupar estes espaços e introduzirem a agricultura moderna. É importante destacar que o governo paraguaio reformulou o estatuto agrário em 1963 permitindo a venda de terras aos estrangeiros nas zonas de fronteira, até este período essa região era ocupada por grupos indígenas e por empresas de extração da erva-mate, como por exemplo, a Mate Laranjeira. Os imigrantes brasileiros, que obtiveram êxito socialmente durante as últimas décadas, são reesposáveis por setores importantes da economia, da política e da cultura local em determinadas cidades paraguaias, como por exemplo, em Santa Rita, Santa Rosa de Monday, Naranjal, San Alberto, etc. A ação dos imigrantes brasileiros em seu início era basicamente com a exploração florestal destinada ao mercado brasileiro, com o passar do tempo os colonos brasileiros instauraram gradualmente uma agricultura baseada na revolução verde (genética e insumos químicos industriais). Cultivavam primeiramente o trigo e a soja, cultivo que já era amplamente difundido no cenário rural do sul e sudeste brasileiro. Esses brasileiros que migraram para o Paraguai não adquiriram apenas poder econômico, mas também conseguiram obter poder político. Em 2005, havia quatro prefeitos “brasiguaios” nessas pequenas cidades e inúmeros vereadores brasileiros nos departamentos de Alto Paraná e Canindeyú. É a partir da ditadura de Stroessner que os políticos brasileiros no Paraguai começaram a vida política como secretários de determinada seção do Partido Colorado. Um ponto que não deve ser deixado de lado é que estes imigrantes brasileiros não estão presentes somente no poder econômico e político local, a influência cultural predomina e vai desde a língua portuguesa, meios de 1161 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO comunicação, religião, música, danças, tradições e culinária do Brasil na zona de fronteira. Nas festas da Exposoja, que acontecem nessas localidades, sobressai a “cultura brasileira”, os meios de comunicação, sobretudo os canais de TV brasileiros, reforçam o “domínio” da língua brasileira nessas regiões nos últimos 20 anos. A intensa força no poder econômico, político e cultural dos imigrantes brasileiros no Paraguai tem causado uma reação do movimento camponês, os conflitos entre empresários da soja e algumas esferas da sociedade paraguaia têm provocado vários confrontos. O movimento campesino paraguaio tem reivindicando também os próprios latifundiários paraguaios, principalmente os militares que possuem grandes propriedades, sendo estas propriedades adquiridas durante a ditadura de Stroessner. Os conflitos de terra não estão presentes apenas na faixa fronteira, muitos trabalhos tem evidenciado que os conflitos têm ocorrido no interior do Paraguai e ocorrem em virtude da expansão agrícola dos últimos anos. Dessa forma, os projetos de colonização na fronteira tiveram profundo impacto nas relações entre os brasileiros e os paraguaios, mas em suma os brasileiros buscaram na fronteira com o Paraguai a possibilidade de reprodução da agricultura no território vizinho, construindo ideologicamente uma fronteira de oportunidades. Portanto, o avanço da agricultura em território paraguaio, enraizado no modo de produção capitalista é o grande gerador de conflitos agrários na fronteira, assim a fronteira entre o Brasil e o Paraguai não constitui apenas como o limite entre o território de dois países, mas, constitui também como possibilidade de novas relações de produção, sendo neste caso, relações capitalistas. 1162 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1.2 Contexto Atual A dinâmica no campo em território paraguaio tem passado por profundas transformações nos últimos anos, a expansão da lavoura da soja tem sido responsável por uma série de problemas sociais e ambientais, tem sido responsável também pela expulsão e expropriação de muitos brasiguaios e camponeses paraguaios. Diante do avanço do cultivo da soja a agricultura familiar tem passado por uma situação na qual vivenciam a falta do acesso aos financiamentos, não encontrando escolha a não ser vender suas propriedades aos produtores de soja. A presença brasileira no Paraguai representa um fato de consequências extraordinárias no que diz respeito à dinâmica social e econômica do Paraguai, sendo o espaço que se designado como território "brasiguaio" é decorrente da colonização dos últimos trinta anos. O termo brasiguaio que surgiu nos anos 80 é também usado para referir-se genericamente a todos os imigrantes brasileiros que residem no Paraguai, entretanto devemos saber diferenciar sobre o que são os brasiguaios e o que são brasileiros que vivem no Paraguai. Os brasileiros que “atravessaram” a fronteira e passaram a viver no Paraguai representam uma parcela dos agricultores paranaenses emigraram em direção à República do Paraguai, os quais se somaram aos brasileiros que já estavam se reproduzindo no vizinho país, "empurrados" por um sistema que visava a modernização do Brasil a qualquer preço. O Ministério de Relações Exteriores divulga que viviam no final da década de 1990, na República do Paraguai, 459.000 brasileiros. Os dados de censos mais recentes se referem a 98.000 brasileiros em situação legal e a imprensa vem trabalhando com uma cifra de 350.000 não regularizados. Estes brasileiros, legalizados ou não, representam oito décimas partes dos habitantes do Estado do Alto Paraná e seis por cento da população total do Paraguai, e são responsáveis por 80% da soja produzida naquele país” (Zaar, 2001). Entretanto, se atualmente o Paraguai é um dos principais exportadores de soja, é também um dos principais compradores de produtos manufaturados 1163 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO brasileiros, tendo este comércio facilitado em grande parte pelos brasileiros que residem no Paraguai. O papel do Estado paraguaio é também fundamental, pois ao invés de controlar o progresso da frente pioneira em seu território não faz vistas grossas à questão, dessa forma sustentando uma situação que é também o convém. Atualmente a região da fronteira é o principal ponto de discussão sobre o lugar do Paraguai no Mercosul, sobre a produção da soja podemos assegurar que os departamentos com maior área de produção desta são Alto Paraná, Canindeyú (divisa com o Paraná) e Itapuá (divisa com Argentina), os departamentos da região norte e central do Paraguai recentemente entraram no processo de expansão da soja. Nos últimos anos, alguns lugares de plantios da soja se localizam nas colônias de descendentes alemães, ressalta-se também a entrada de produtores brasileiros profundamente capitalizados, que compram ou arrendam terras de médios e grandes pecuaristas, em alguns locais a expansão ocorreu mediante a compra de quantias de terra de camponeses paraguaios. A expansão da fronteira agrícola implica em impactos ambientais provocando desmatamento por conta do uso de agroquímicos, não podemos deixar de lado que provoca consequências nos aspectos sociais, já que a agricultura mecanizada necessita de pouca mão de obra (qualificada). É importante apontar que o mesmo que acontece no Paraguai tem ocorrido no Brasil, o crescente aumento deste modelo baseado na grande propriedade, no intenso uso de agrotóxicos e no baixo emprego de mão-deobra. Sendo este modelo não compatível com as formas tradicionais de vida no campo, surgindo assim inúmeros conflitos agrários tendo como atores os entre grandes proprietários e militantes de movimentos sociais do campo dos dois lados da fronteira. No caso do Paraguai, o cenário dos conflitos tem se tornado ainda mais grave pela internacionalização extrema do setor da soja do país, existe um número alto de produtores são brasileiros que atuam de modo integrado com grandes conglomerados internacionais de grãos. Nota-se que o número de 1164 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO organizações instaladas no Brasil têm importado soja do Paraguai para a sustentação de suas atividades, das oito maiores companhias brasileiras importadoras de produtos paraguaios, cinco trabalham com soja: Bunge, ADM, Sadia, Agrícola Horizonte e Multigrain, também importam em menor escala empresas como Cargill, Caramuru e como por exemplo cooperativas como Aurora e Cocamar. Interessante apontar que na última década, a soja tem se tornado o principal item produzido pela economia paraguaia, sendo o maior produto de exportação. A importância da soja na economia paraguaia se deve a partir do ingresso no país durante a década de 1970, na fronteira Leste, divisa com o Brasil, dessa forma o grão teve um crescimento constante e, em alguns momentos, até acelerado, sobretudo nos últimos dez anos. Portanto, entendemos que o aumento do cultivo de soja no Paraguai seja reflexo do crescimento agrícola que tem ocorrido no Brasil nos últimos anos, como salienta Brandão, Castro de Rezende & Marques (2005). O modo que o cultivo de soja se expande no território paraguaio tem intensificado as lutas pela terra, o movimento campesino reivindica a reforma agrária e o combate à monocultura da soja, dessa forma a expansão da soja no Paraguai tem se caracterizado por inúmeros conflitos de luta pela terra. Considerações Finais Este trabalho teve como objetivo contextualizar brevemente a expansão da soja no Paraguai e as imbricações que essa expansão da fronteira agrícola tem causada na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. É necessário compreender que a fronteira não é algo estático, mas envolve uma construção histórica se deparando com diversas situações, como por exemplo, ela tem sido atualmente empregada como ampliação da agricultura de exportação. A expansão da soja na fronteira entre o Brasil e o Paraguai tem causado inúmeros conflitos agrários sendo estes conflitos desdobramentos do passado, conforme ocorre essa expansão da fronteira agrícola acirram-se os conflitos por terra, é necessário compreender que estes conflitos não se tratam apenas 1165 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de questões econômicas e politicas, vai, além disso, perpassando por questões culturais e simbólicas. Dessa forma, a fronteira entre o Brasil e o Paraguai está ligada desde a década de 1970 na expansão da agricultura de exportação como foi relatado no decorrer do trabalho, sendo a fronteira intimamente ligada com as relações que constituem o poder, dessa forma a fronteira vai estar presente onde o poder econômico e politico estiver abrangendo. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, José L. C. Campesinos paraguayos y “brasiguayos” en la frontera este del Paraguay. 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