1 ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS EM REVISTA ISSN 1676-9457 Administração de Empresas em Revista Curitiba a. 8 n. 9 p. 1-155 2009-2 2 EXPEDIENTE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS EM REVISTA é uma publicação do UNICURITIBA Endereço: Rua Chile, 1.678 – CEP 80220-181 – Curitiba, PR – Brasil Telefone: (41) 3213-8700 Site: www.unicuritiba.edu.br E-mail: [email protected] UNICURITIBA Reitor: Eric David Cohen Pró-Reitor Administrativo: Jamil Abdanur Júnior Comissão Editorial: Cristina Luiza C. Surek, Carlos Luiz Strapazzon, Isaak Newton Soares, Marlus Vinicius Forigo, Nilson Cesar Fraga, Benedito Costa Neto Filho e Gisela Maria Bester Benitez. Diagramação: Tatiane Andrade Impressão: Administradora de Ensino Novo Ateneu (AENA) Tiragem: 200 exemplares Data: 2009 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca do Centro Universitário Curitiba Administração de empresas em revista / UNICURITIBA – Centro Universitário Curitiba. – A.1, n. 1 (2002) . - Curitiba: UNICURITIBA, 2002 - . 24 cm. Anual. A partir do ano 3, n. 3, 2004, a revista sofreu reformulações quanto à padronização. ISSN 1676-9457 1. Administração – Periódicos. 2. Administração de empresas – Periódicos. I. UNICURITIBA. CDD (21. ed.) – 658.05 3 CONSELHO CIENTÍFICO Cláudio José Luchesa Edson Ademir Mantovan Glávio Leal Paura João Gustavo da Silva Freire Ritter Marcelo Fassina Marlus Vinicius Forigo Luciano Kingeski Mônica de Faria Mascarenhas e Lemos Patrícia Tendolini Oliveira de Melo CONSELHO EDITORIAL Ana Paula Celso de Miranda (FBV) Antonio Gonçalves de Oliveira (UTFPR) Edelvino Razzolini Filho (FCSA/UTP) Fernando António Gimenez (PUCPR) José Augusto Guagliardi (FEA/USP) Lucia Izabel Czerwonka Sermann (FAE) Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes (UFPR) Paulo Muller Henrique Prado (UFPR) Pedro José Steiner Neto (UFPR) Renato Zancan Marchetti (PUCPR) EDITOR Isaak Newton Soares COORDENADOR EDITORIAL Nilson Cesar Fraga 4 5 APRESENTAÇÃO Este é o segundo volume do ano de 2009, de Administração em Revista. Apresentamos mais sete artigos, com amplitude de discussão e conhecimento, nas mais diferentes áreas administrativas. Afinal, a pluralidade de conteúdos é uma das características que norteiam esta Revista. Em uma área tão vasta de conhecimentos, pensamentos e experiências como a Administração. E em um país não singular e com distinções tão grandes como é o Brasil; é natural que tenhamos uma produção acadêmica também diversificada. E a Administração em Revista faz questão em trazer esta riqueza de ideias aos seus leitores. Neste volume, serão vistos assuntos distintos como distribuição, mercadologia, análise de processos, impactos ambientais, cultura organizacional, competências profissionais e administração pública. Assuntos distintos, mas primordiais no cotidiano das organizações. De início, Otávio Alves Jr e Marcelo Andrade Ferreia discorrem sobre as consequências econômicas e sócio-ambientais do uso da estratégia de obsolescência programada nas organizações empresariais. A administração de processos por meio de ferramentas automatizadas é o assunto de Ricardo Mânica. O autor discute a aplicabilidade do BPM (Business Process Management) e da Rede Petri na gestão de transporte de carga. Uma preocupação da Administração em Revista é ser um espaço para a discussão de novas ideias. Com base nesse principio, André Rynaldo Calsavara nos explica uma nova tendência atacadista para oferecer serviços aos consumidores finais, competindo com os varejistas. Segundo o autor, isso se denomina atualmente “atacarejo”. As questões de relações humanas dentro da organização ficam a cargo do trabalho de David Bomfim, Marco Túlio Costa. Os autores estudam as competências operacionais de funcionários em montadores de medidores na indústria eletrônica. Maura Franco, Ghislaine Bonduelle e Paulo Eduardo Moraes nos oferecem o papel da gestão da qualidade impactando na gestão das empresas moveleiras de Arapongas (PR). Fechando as discussões, temos Ana Carolina Bustamante, Gislaine Potta e Osmar Ponchirolli tratando de questões de gênero dentro do universo organizacional. E Ana Cristina Luz e Ana Claudia Petri mostram como a questão da terceira idade é gerenciada na administração pública brasileira. Ou seja, a edição da revista se fecha com discussões de peso em nosso cenário social por meio da lente da Administração. 6 Estratégia de Obsolescência Programada... Queremos agradecer a todos os autores que participaram na edição desta produção acadêmica, submetendo seus artigos, reformulandoos a para adequação ao formato da Revista; e que sem eles, não teríamos chegando ao segundo volume da edição deste ano. Boa leitura. Isaak Newton Soares EDITOR Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 7 SUMÁRIO ESTRATÉGIA DE OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA: UMA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS E SÓCIO-ECONÔMICAS Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira ...................................................................... 9 ANÁLISE DE UM PROCESSO ATRAVÉS DA REDE PETRI NO SERVIÇO DE TRANSPORTE DE CARGA Ricardo Mânica ...................................................................................... 27 ATACAREJO: ESTRATÉGIA PLANEJADA OU MERA COINCIDÊNCIA? André Rynaldo Calsavara ...................................................................... 47 COMPETÊNCIAS OPERACIONAIS DOS MONTADORES DE MEDIDOR ELETRÔNICO SEGUNDO A AVALIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DOS GESTORES: UM ESTUDO DE CASO David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa ......................... 65 CULTURA E QUESTÃO DE GÊNERO NAS ORGANIZAÇÕES Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles Rodrigues Potta e Osmar Ponchirolli .................................................... 91 QUALIDADE E MARKETING: ASPECTOS CONVERGENTES DA ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA DE ARAPONGAS – PARANÁ Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes ....................................................... 109 Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 8 Estratégia de Obsolescência Programada... ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - A POPULAÇÃO IDOSA E AS IMPLICAÇÕES PARA O ESTADO Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri .................................. 131 NORMAS EDITORIAIS ....................................................................... 149 Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 9 ESTRATÉGIA DE OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA: UMA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS E SÓCIO-ECONÔMICAS. PLANNED OBSOLESCENCE STRATEGY: AN ANALYSIS OF THE ENVIRONMENTAL AND SOCIOECONOMICAL CONSEQUENCES ANTÔNIO OTÁVIO ALVES GONÇALVES JÚNIOR ___________________________________________________________ Mestrado de Administração na Universidade de Salvador - UNIFACS MARCELO ANDRADE FERREIRA ___________________________________________________________ Mestrado de Administração na Universidade de Salvador – UNIFACS Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 10 Estratégia de Obsolescência Programada... Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 11 RESUMO Este artigo tem como objeto de pesquisa as estratégias de obsolescência programada por parte das organizações empresariais, visando o estabelecimento de uma análise abrangente a respeito das consequências sócio-econômicas e ambientais que decorrem da adoção de tais estratégias. A análise contempla questões como o ciclo de vida dos produtos, as estratégias de obsolescência programada propriamente ditas, a importância do marketing como elemento propulsor destas estratégias, obedecendo a uma metodologia que se resume em uma pesquisa exclusivamente bibliográfica e que fez desta investigação um artigo de revisão. As conclusões que o artigo alcançou, em linhas gerais, após promover o diálogo entre os autores pesquisados, dizem respeito à necessidade de equilibrar a maximização dos lucros das empresas com a necessidade de estabelecer uma sociedade responsável socialmente e ambientalmente e que, principalmente, consome de forma ponderada. Palavras-Chave: Estratégia. Obsolescência programada. Ciclo de vida de produtos. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 12 Estratégia de Obsolescência Programada... ABSTRACT This article presents as search object the planned obsolescence strategies in business organizations focusing to establish a analysis about the socioeconomics and environmental consequences, result of adoption of these strategies. The analysis appreciate questions as the product life cycle, the planned obsolescence strategies, influence of marketing as a propellant component for these strategies, obeying to a methodology resumed in a restricted bibliographical search characterizing this investigation as a review article. This document concludes at general lines, after advance the dialogue between the authors researched, bring the necessity to equilibrate the maximization of gains to the companies with the needs to establish a responsible society, with responsible consumption habits. Keywords: Strategy; Planned obsolescence; Product life cycle. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 13 1 INTRODUÇÃO Este estudo propõe uma análise sobre um fenômeno que tem origem em um pressuposto básico do modo de produção capitalista, a necessidade de maximizar os lucros do setor empresarial. Ao longo da história, para alcançar tal intento, foram empreendidos intensos estudos a respeito do comportamento do consumidor, e desses estudos surgiram várias formas de estímulo ao consumo, sendo que provavelmente nenhuma delas é mais eficiente ou mais amplamente difundida do que a estratégia de obsolescência programada dos produtos, o objeto desta investigação. O problema a ser respondido por este artigo é: “Quais são as principais consequências para a sociedade, decorrentes da aplicação das estratégias de obsolescência programada de produtos?” Para responder ao problema exposto acima, este estudo prevê a adoção de 4 (quatro) objetivos, que consistem nos seguintes: ü Levantar e analisar referências bibliográficas que expliquem o conceito de ciclo de vida dos produtos; ü Levantar e analisar referências bibliográficas que abordem as estratégias de obsolescência programada dos produtos; ü Analisar exemplos práticos da adoção desta modalidade de estratégia; ü Estabelecer conexões entre os pressupostos teóricos e os casos práticos, com vistas a formular respostas para o problema proposto na pesquisa; O estudo aqui proposto tem evidente importância, já que contempla uma ampla análise teórica, conforme veremos mais à frente, que diz respeito às relações entre produtores e consumidores, ou seja, de cunho microeconômico, além dos aspectos sócio-ambientais e da influência desse conjunto de inter-relações na sociedade em geral. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS O ciclo de vida de um produto (CVP) está diretamente ligado à avaliação do mercado-alvo frente a este produto, aos benefícios propostos e às vendas que é capaz de gerar. Em uma visão mais generalista, o Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 14 Estratégia de Obsolescência Programada... CVP apresenta as fases de nascimento, crescimento, declínio e morte, sem que necessariamente um produto passe por todas as etapas (BALANZÁ E NADAL, 2003). Silva (2005, p.114) reforça a teoria das fases do CVP acrescentando que um produto não é capaz de se manter competitivo no mercado eternamente. Cabe à empresa analisar a passagem de um produto ou linha de produtos por cada uma destas etapas e desenvolver estratégias para que eles possam manter uma posição favorável frente aos concorrentes. Kotler (2003, p.153) infere que por meio da análise do ciclo de vida de um produto é possível escolher ferramentas apropriadas a cada estágio e cita como exemplo que uma intensa comunicação no lançamento de um produto (fase de nascimento) produz um retorno positivo nesta etapa. Desta forma, o CVP figura como um importante conceito na estrutura teórica do marketing, sendo o estudo deste ciclo extremamente relevante no lançamento de novos produtos e atendimento de novas necessidades, considerando que ao conhecer as demandas de um determinado grupo é possível decidir que tecnologia utilizar para satisfazê-la e o tempo mais adequado para transferir-se para uma nova (KOTLER, 1998). Richers (2000, p.226) afirma que um dos aspectos que incentivam a busca pela criação de novos usos ou novos produtos é o fato do consumidor simplesmente cansar do que lhe é oferecido. Além disto, o autor destaca ainda a pressão de novos entrantes no mercado e o lançamento de produtos substitutos por parte da concorrência. Entretanto, Silva (2007) apresenta uma razão pautada na premissa da oferta e demanda. Uma vez que os consumidores já possuem todos os produtos que uma empresa pode ofertar, torna-se difícil a manutenção da venda de um determinado produto ao mesmo cliente. Desta forma, as empresas se viam obrigadas a convencer os consumidores a substituir produtos, ainda que estivessem em perfeito estado de uso, incitando a obsolescência antecipada e a minimização da durabilidade. Brooks Stevens (1960) justifica a redução proposital do ciclo de vida dos produtos se apoiando no fato dos consumidores estarem constantemente buscando por novidades. Quanto a este aspecto, Jean Baudrillard (1981) entende que a busca por novos produtos sobrepõe-se em verdade à busca por novos signos em uma sociedade que passa a referenciar não a funcionalidade de um produto, mas sim a sua simbologia perante a sociedade. Desta maneira, a indústria apoia-se nesta busca por novos significados e associações para o desenvolvimento de novos produtos e conceitos para produtos. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 15 Entretanto, o fomento do desenvolvimento e consumo de novos produtos geram um acúmulo de produtos a serem descartados. A análise do CVP permite compreender o impacto ambiental ocasionado pelos produtos e seus resíduos desde a sua origem e desenvolver uma estratégia de descarte menos agressiva ao meio ambiente. GRÁFICO 1 – CICLO DE VIDA DO PRODUTO FONTE: Kotler (1998) 2.2 ESTRATÉGIAS DE OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA DOS PRODUTOS Partindo do suposto que o mercado capitalista pressiona a indústria para fazer com que produtos tenham vida útil cada vez menor, torna-se necessário compreender a dinâmica de atuação desta teoria. É sabido que o incentivo ao consumo aliado à vasta oferta de produtos e à franca concorrência fez, por exemplo, com que se tornasse mais barata a aquisição de um novo computador em vez do conserto ou upgrade de uma máquina já usada (Calvão, Rose, Ribeiro, Almeida, Lima, 1999). Tal efeito é justificado conforme os princípios da Lei de Moore, que afirma que a quantidade de elementos que compõe um circuito integrado dobra a cada 18 meses por conta do aumento do tamanho do chip e da diminuição dos transistores, elevando então a velocidade e a capacidade de processamento. Desta maneira, percebe-se que a aplicação prática da Lei de Moore permite que os custos sejam reduzidos a cada ciclo Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 16 Estratégia de Obsolescência Programada... de desenvolvimento conduzindo a indústria à produção de dispositivos de informática a custos cada vez menores. (OCDE, 2003) De fato, a Lei de Moore permite que produtos de ponta sejam ofertados no mercado a preços cada vez mais competitivos e que artigos de alta tecnologia estejam acessíveis a classes sociais menos abastadas, entretanto, deve-se entender também que a incessante oferta de produtos substitutos favorece o fenômeno da obsolescência prematura, onde são descartados itens ainda em plena capacidade de uso. As próprias estratégias de melhoria contínua são fatores que evidenciam a obsolescência prematura dos produtos. Ao observar a atuação da Nike em seu processo de pesquisa e desenvolvimento, percebese que esta companhia está pautada na constante melhoria dos seus calçados, apresentando em sua estrutura diferentes estágios de desenvolvimento em novas gerações de tecnologias para calçados. Quando seus últimos lançamentos estão chegando às lojas já existe um novo produto na linha de produção pronto para substituí-lo. (Sheth, 2008) Muito embora esta forma de obsolescência ainda apresente alguma vantagem ao consumidor, uma vez que estimula a substituição de um produto por outro superior, deve ser questionada quanto ao aspecto ético, já que há uma manipulação sobre a real necessidade de substituir um produto que já possui desempenho satisfatório. Ainda à questão da subutilização dos produtos, Silva (2007) trás à discussão o fato de que poucos são os usuários conhecedores de todas as funções de um celular ou vídeo-cassete e que não raro, as pessoas compram itens como relógios resistentes a 200 metros de profundidade sem que ao menos saibam nadar. Desta forma, pode-se se entender que o estímulo à desatualização de produtos pode favorecer as necessidades mais imediatas das empresas, contudo, apresenta risco à imagem da marca podendo gerar insatisfação pela necessidade constante de atualização e pela baixa qualidade dos produtos oferecidos. Aliado a isto, o descarte inadequado de produtos que caem em desuso representam uma grave ameaça ambiental. (Souza, Silva, Feijó, Ferrão, Madruga, Vieira, 2007) Utterback (1996) ao analisar as características dos mercados com relação à inovação, afirma que: “depois que um projeto ou padrão dominante é definido, os produtos ficam com uma tendência a se tornar mais parecidos com ‘commodities’ e não são mais diferenciados em termos de função ou característica. As funções-chave exigidas de um automóvel, uma máquina de escrever, um computador pessoal ou uma lâmpada Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 17 constituem praticamente uma unanimidade, e não dispor do conjunto completo de características e funções significa não ser competitivo na maior parte do mercado”. Utterback (1996, p. 92) Essa afirmação significa que, com a estabilização das grandes inovações de produtos, que se caracterizam de forma mais radical, há um maior equilíbrio entre os competidores nos mercados, minimizando as diferenças competitivas, exigindo então um grande volume de inovações incrementais que precisam ser amplamente divulgadas ao público consumidor. Porter (1980) observa o nível da rivalidade entre os concorrentes em seu propalado conceito de “cinco forças” como um elemento importante para a gestão estratégica das organizações. Quando se considera a abordagem de estabilização das inovações radicais de Utterback, citada anteriormente, e o consequente acirramento da rivalidade, obtémse a principal missão do marketing, que é sobressair sua organização perante o mercado e suplantar a concorrência. Essa é uma questão fundamental, sobre a qual trataremos mais à frente, em tópico específico. 2.3 A INFLUÊNCIA DO MARKETING NAS ESTRATÉGIAS DE OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA Um ponto fundamental que estimula a obsolescência programada de produtos na alta tecnologia é a capacidade que o marketing possui de decidir quais organizações lograrão êxito na competição pelo mercado, já que conforme Davidow (1991, p. 1), “o marketing é uma guerra civilizada. Se você achar esta metáfora muito brutal, ou se não estiver preparado para a luta, é melhor não se alistar.” Posto desta forma fica claro que há um evidente “vale-tudo” na disputa pelo consumidor, e que para superar os concorrentes as organizações precisam criar fortes apelos para que o consumidor adquira os seus produtos, e conforme dito antes, a estratégia de obsolescência programada faz com que haja o despertar da necessidade ou do desejo dos consumidores por novos produtos ou por versões melhoradas de produtos já existentes. Despertar necessidades ou desejos, ou ainda os dois juntos, por produtos é uma das mais comuns definições de marketing. Segundo João Severo Filho, o conceito de marketing sofreu mudanças através dos anos, deixando de ter como única responsabilidade as vendas e passando a interagir diretamente com todos os setores da companhia, agregando um vasto conjunto de tarefas (2006, p.101). Kotler acres- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 18 Estratégia de Obsolescência Programada... centa que Marketing tem recebido diversas definições e conotações diferentes, mas que a forma mais adequada de caracterizá-lo como conceito é defini-lo como “um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros.” (1998, p.27). Nos setores relacionados à alta tecnologia, que são intensivos em pesquisa e desenvolvimento, o marketing é um instrumento que dissemina os resultados práticos das pesquisas, concretizados sob a forma de novos recursos tecnológicos, utilizados como chamariz para a aquisição, pretensamente revestida de racionalidade e independência, mas que na prática é totalmente dirigida, ao nível do inconsciente dos indivíduos. Desta forma, a interpretação de Peter Drucker (2007, p. 32) acerca deste assunto aparece de forma muito pertinente, onde o autor coloca as funções de Inovação e Marketing como áreas de alicerce nos macroobjetivos das empresas, apontando o desempenho e contribuição destas duas áreas como fatores fundamentais para que os objetivos definidos sejam alcançados. Ao passo que os setores de pesquisa e desenvolvimento desenvolvem incrementos e inovações em produtos, a inteligência de marketing se encarrega de montar a estratégia para comunicar e comercializar os produtos. Fisk (2006, p.166) afirma estar na inovação a maior oportunidade de crescimento para os profissionais de marketing pela possibilidade de alinhar oportunidades de mercado, potencialidades da empresa e necessidades do cliente, confirmando a afirmação de que marketing e inovação são áreas que congruentes. 2.4 AS CONSEQUÊNCIAS DE ORDEM AMBIENTAL “A capacidade da natureza de se reestruturar frente aos danos causados para sustentar o estilo de vida dos indivíduos na sociedade de consumo, é inversamente proporcional à velocidade de destruição dos recursos naturais imposta pela necessidade de se cooptar a natureza. O tempo em milhares de anos que a natureza leva na produção de determinados recursos, o homem transforma em décadas de destruição.” (Calvão, Rose, Ribeiro, D’ Almeida, Almeida, Lima, 1999, p. 263) Essa afirmação deixa clara a necessidade de que as organizações ajustem a estratégia de obsolescência programada à agenda de discussão ambiental, tanto no que diz respeito à preservação do meioambiente, quanto à preservação dos recursos naturais, através de práticas de reciclagem. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 19 Entretanto, mesmo a reciclagem não é um processo simples quando se trata de resíduos de produtos de alta tecnologia, já que são poucos os países que detém o conhecimento para executar este processo (Calvão, Rose, Ribeiro, D’ Almeida, Almeida, Lima, 1999) A noção de re-utilização de materiais contidos entre os resíduos urbanos tem sido amplamente difundida nos grandes centros fazendo nascer uma falsa percepção de que lixo é riqueza e que a partir desta prática poder-se-ia extrair matéria prima suficiente para a substituição de diversos materiais empregados na produção de diversos materiais. (Valle, 2004) “Alguns desses materiais recicláveis têm seus programas de coleta seletiva estimulados e até patrocinados pelas próprias empresas produtoras, como parte da formação de sua imagem, evitando-se associar o produto à ideia de um resíduo disposto de modo inadequado.” (Valle, 2004, p.111) Como é possível perceber na fala de Valle, há uma preocupação comercial por parte das empresas, afim de não assinalar negativamente a lembrança de um determinado produto ou marca. Tal atitude pode ser comprovada nas palavras de Maurício Guizelli, diretor-comercial da empresa Itautec (fabricante de computadores e componentes eletrônicos): “Além do pós-venda, oferecemos um serviço de pós-consumo.”. Segundo Guizelli, a Itautec fechou a venda de computadores para um grande cliente apenas após se comprometer com a reciclagem das máquinas a serem trocadas, comprovando que na prática as empresas começam a ser pressionadas pelo mercado a terem um comportamento ambientalmente responsável. (Siqueira, 2009, p. 64) 2.5 AS CONSEQUÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS Visando maximizar a renda esperada dos investimentos, as organizações, especialmente aquelas ligadas a setores de alta tecnologia, praticam estratégias de obsolescência programada de produtos e estendem ao extremo a eficiência de suas estruturas produtivas, com o lançamento quase incessante de produtos, conforme citação a seguir: “Quando um indivíduo obtém um investimento ou um bem de capital, adquire o direito ao fluxo de rendas futuras que espera obter da venda de seus produtos, enquanto durar esse capital, feita a dedução das despesas correntes necessárias à obtenção dos ditos produtos. Convém chamar a essa série de anuidades Q1, Q2... Qn renda esperada do investimento.” (KEYNES, 1997, p. 149) Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 20 Estratégia de Obsolescência Programada... Ainda a este respeito, Schumpeter (1997) claramente defende o papel do empresário na economia, posicionando-o como aquele que inicia a mudança e influencia os consumidores a consumir produtos diferentes daqueles a que estão habituados. Então, ao atribuir ao empresário o papel de iniciador da mudança econômica por ser aquele que combina os fatores de produção para gerar inovação, Schumpeter e seu conceito de “destruição criativa” mostram que há a perspectiva de um círculo virtuoso formado por novos investimentos, principalmente aqueles em pesquisa e desenvolvimento, sucedidos por novos produtos, aumento dos lucros, geração de novos empregos, crescimento econômico e desenvolvimento econômico. Já do ponto de vista social, a obsolescência programada gera situações que descaracterizam o ser humano, tendo em vista que: “vivemos o tempo dos objetos: quero dizer que existimos segundo o seu ritmo e em conformidade com a sua sucessão permanente. Atualmente somos nós que os vemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em todas as outras civilizações anteriores eram os objetos, instrumentos ou monumentos perenes, que sobreviviam às gerações humanas.” (Andrade, 2008, p. 17 apud, Baudrillard, 1981, p. 15). A tendência de submissão do ser humano ao seu ímpeto de consumo é a essência da dissertação de Andrade (2008), que versa sobre a obsolescência de aparelhos celulares, citada acima. Entre outras informações, se destaca a média de lançamentos de aparelhos celulares pela Motorola, que é de 30 a 35 aparelhos novos por ano, uma quantidade que traz ao consumidor diversas possibilidades e que procura alcançar todas as faixas etárias e todos os estratos da sociedade. Outra consequência é a dificuldade na reposição de peças para aparelhos “obsoletos”, para que o consumidor tenha de adquirir um novo aparelho e despender mais dinheiro, conforme a pesquisa de Souza, Silva, Feijó, Ferrão, Madruga e Vieira (2007), que traz um relato importante, mostrando a ilegalidade desta prática, assim compreendida pelo Código de Defesa do Consumidor, que prevê a fabricação de peças de reposição por um período mínimo de cinco anos. A alta velocidade no lançamento de produtos somada à voracidade dos consumidores produz situações como à de uma entrevistada na pesquisa empreendida por Andrade (2008), que afirmou possuir três aparelhos celulares e mantê-los consigo todo o tempo, ou ainda, o fato também citado nesta mesma dissertação de que muitos consumidores Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 21 dão quase a mesma ênfase ao design dos aparelhos que se dá à funcionalidade, portanto, o fator lúdico opera de forma bastante incisiva nas relações de consumo. 3 METODOLOGIA O artigo pode ser caracterizado como sendo de revisão, posto que a pesquisa empreendida qualificou-se como de cunho exclusivamente bibliográfico, pautada pela busca de obras nos campos da Economia, Marketing e Engenharia de Produção que tratassem de ciclo de vida de produtos e de estratégias de obsolescência programada. Além de livros, foram utilizados artigos científicos e Dissertações para obtenção do grau de Mestrado. As dissertações foram obtidas após pesquisa nas bibliotecas de instituições de grande porte como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de São Paulo e Universidade Federal do Paraná. Quanto aos artigos, foram pesquisadas as bases disponíveis nos websites da Revista de Administração de Empresas e da Revista da Administração Contemporânea, além dos Anais da ENANPAD, estes últimos no período de 2002 a 2007. 4 ANÁLISES DAS INFORMAÇÕES OBTIDAS As informações obtidas com a pesquisa confluíram para a formulação de respostas concisas e abrangentes para o problema de pesquisa, haja vista não haver grandes divergências entre os autores pesquisados, mas sim, diferenças de abordagem sobre a obsolescência programada devido aos campos de pesquisa explorados por cada um dos autores. O grau de abrangência das respostas ao problema de pesquisa se deu não só pela confluência de opiniões citada anteriormente, mas pelo fato de que tais opiniões revelaram-se complementares, e quando combinadas, capazes de proporcionar uma análise do objeto de pesquisa, a obsolescência programada, em toda sua plenitude. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 22 Estratégia de Obsolescência Programada... 5 CONCLUSÕES O conceito de estratégias de obsolescência programada opera em um aspecto peculiar do ser humano, que consiste na sua vontade, muito bem definida pelo célebre filósofo alemão Arthur Schopenhauer: ‘’A vontade jamais pode ser satisfeita, posto que se ela fosse satisfeita deixaria de ser vontade; então, a cada satisfação se reproduz a necessidade, a cada desejo satisfeito um outro desejo surge, e assim infinitamente, nesse círculo infernal da vontade’’ Dessa forma, o transporte deste pensamento para a análise do objeto da pesquisa denota uma deliberada intenção do meio empresarial de obter proveitos da impossibilidade que acomete o ser humano e o impede de saciar alguns de seus ímpetos. Entretanto, por outro lado, há impactos altamente positivos no tocante ao crescimento econômico, decorrentes da inovação tecnológica e da elevação dos níveis de competitividade empresarial, mas que torna precárias as relações comerciais e trabalha sem nenhum alinhamento com as necessidades que os consumidores têm em relação à durabilidade dos produtos. É interessante também tentar compreender os impactos das estratégias de obsolescência programada de produtos no nível de empregos, já que ao menos na teoria, o lançamento constante de produtos geraria aumento dos empregos, mas por outro lado, eliminar a produção de peças de reposição, por exemplo, tenderia a eliminar empregos, especialmente nas assistências técnicas. Então, a essência da discussão sobre a obsolescência programada é exatamente a dicotomia que opõe de um lado a necessidade de maximizar os resultados financeiros das organizações, e do outro lado, a necessidade da sociedade de preservar e utilizar com parcimônia os recursos ambientais, ao mesmo tempo em que é necessário também salvaguardar os indivíduos de uma visão meramente materialista, capaz de estimular a aquisição de produtos que em alguns casos tem pouca ou nenhuma utilidade. O artigo não visa de forma alguma professar uma visão marxista, ou que condene a velocidade dos lançamentos tecnológicos, que decorre de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e tampouco condena a estratégia de obsolescência programada de produtos, apenas propõe uma discussão a respeito de suas consequências ambientais e só- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. Antônio Otávio Alves Gonçalves Júnior e Marcelo Andrade Ferreira 23 cio-econômicas, considerando que nas sociedades capitalistas, as decisões de consumo são livres, ainda que fortemente influenciadas pelo marketing. Por fim, a pesquisa empreendida atingiu seus objetivos e respondeu ao problema proposto ao evidenciar que a adoção de estratégias de obsolescência programada tem sérias consequências ambientais, refletidas principalmente nos altos volumes de lixo que são produzidos, e nas consequências sócio-econômicas já explanadas anteriormente. A resposta se deu através de elementos pertencentes a diversas áreas do conhecimento, como a economia, o marketing e a engenharia de produção, fato este que reforça a ideia de que este fenômeno é muito mais que meramente uma estratégia empresarial e merece análises ainda mais aprofundadas, o que se configura em uma boa perspectiva para novas pesquisas. REFERÊNCIAS ANDRADE, Priscilla da Silva Marx – A veloz obsolescência dos aparelhos celulares: o que pensam e sentem jovens usuários desta tecnologia. Dissertação de Mestrado em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. BALANZÁ, Isabel Milio; NADAL, Mônica Cabo. Marketing e comercialização de produtos turísticos. São Paulo: Ed. Pioneira Thomson Learning, 2003. BAUDRILLARD, J. A. A sociedade de consumo. São Paulo: Martins Fontes, 1981. CALVÃO, Alexandre Mondaini; ROSE, Daniel Edward; RIBEIRO, Débora de Sousa; D´ALMEIDA, Mário Henrique Braga; ALMEIDA, Renato Lima; LIMA, Rosângela Lopes. O Lixo Computacional na Sociedade Contemporânea. Cascavel: I ENINED - Encontro Nacional de Informática e Educação, 1999. DAVIDOW, William H. Marketing de alta tecnologia: Uma visão de dentro. Rio de Janeiro: Campus, 1991. DRUCKER, Peter. The pratice of management. Oxford: Elsevier, 2007. 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Foz do Iguaçu: XXVII Encontro nacional de engenharia de produção, 2007 STEVENS, Brooks. The Rotarian, an international magazine. The World Rotarian Press, 1960 Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 26 Estratégia de Obsolescência Programada... Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 9-25, 2009-2. 27 Ricardo Mânica ANÁLISE DE UM PROCESSO ATRAVÉS DA REDE PETRI NO SERVIÇO DE TRANSPORTE DE CARGA ANALYSIS OF A PROCESS THROUGH PETRI NET IN TRANSPORT OF CARGO RICARDO MÂNICA ___________________________________________________________ Mestrado de Engenharia de Produção, ênfase em Gestão Industrial pela UTFPR, Professor do UNICURITIBA [email protected] Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 28 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 29 Ricardo Mânica RESUMO Vive-se hoje uma competição acirrada, onde o desempenho organizacional é importante para escolha do produto e/ou serviço. Este artigo tem por objetivo analisar o processo de prestação de serviço de uma transportadora utilizando-se de um software que realiza análise de processo com conotação de rede petri. Para tanto será apresentado um estudo bibliográfico sobre BPM (Business Process Management), rede petri, transporte de carga, e uma simulação com base em um estudo de caso. Constatou-se que o processo analisado possui as características apresentadas na bibliografia. Palavras-chave: BPM; Rede petri; Transporte. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 30 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... ABSTRACT Today we are living a fierce competition, where organizational performance is so important to choose the product and/or service. This article aims to analyze the process of providing an transport service using a software that performs process analysis with connotation of petri net. For that will be presented a bibliographical study on BPM, preti net and cargo transport, and a simulation based on a case study. It was found that the process has analyzed the features listed in the bibliography. Key words: BPM, petri net, Transport. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 31 Ricardo Mânica 1 INTRODUÇÃO Em uma época de crescente competição, a importância de atingir elevados níveis de satisfação do cliente tem conquistado a atenção de pesquisadores e profissionais afins. Especialmente no setor dos serviços. (KUMAR et al 2008) Lee e Dale (1998) comentam que modelos de excelência empresarial são aqueles que auxiliam as empresas a identificar áreas de melhoria. Contribuindo a definir e comunicar os objetivos e estratégias. Baseadas nestas afirmações o presente artigo tem como objetivo analisar um processo no segmento de transporte rodoviário de cargas. Para tal será utilizado o software Woped que adota a conotação de W.M.P van der Aalst em redes Petri, existem outros softwares, porém neste artigo será utilizado o mencionado. O método aplicado foi inicialmente uma pesquisa exploratória sobre os temas BPM (Business Process Management), rede Petri e transporte de carga. Após essa etapa foi simulado um processo determinado no Woped e analisado conforme referências. O artigo está dividido em três partes sendo: Introdução e metodologia; referencial teórico e análise do processo e considerações finais. 2 GERENCIAMENTO DOS PROCESSOS DE NEGÓCIOS - BPM De acordo com DeToro e McCabe (1997) BPM é uma abordagem que apresenta uma gama de opções de melhorias e pode contribuir com as organizações evitando a tendência de queda proporcionada por uma nova moda de gestão. Talwar (1993) define um processo como uma sequência de atividades pré-definidas executadas para alcançar um ou uma série de resultados pré-determinados. Portanto o BPM destina-se a alinhar os processos empresariais com os objetivos estratégicos e as necessidades dos clientes, e para tanto exige uma mudança de ênfase na empresa, do setor departamental para o processual. Zairi (1997) coloca que o BPM está preocupado com os principais aspectos das operações de negócios em que há grande influência e um alto valor agregado para o consumidor e uma das formas mais eficazes para iniciar processo de gestão empresarial é o de inventário dos processos da organização (DeTORO e McCABE 1997) Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 32 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... Smart et al. (2007) identificam cinco componentes comuns a aplicar sendo: processo de estratégia; processo de arquitetura; processo de medição; processo de propriedade; processo de melhoria. Já Pritchard e Armistead (1999) determinam que o BPM possui três direcionadores principais: 1) a necessidade de melhorar a responsabilidade; 2) a ameaça da concorrência e 3) a necessidade de melhoria na qualidade. Através destes três pontos os autores relacionam três benefícios obtidos com o BPM sendo eles: a) melhoria nas relações com os clientes; b) melhor relacionamento interfuncional e c) mudança na cultura organizacional. Um processo de negócio é conjunto de atividades inter-relacionadas que possuem entradas definidas, e quando executado, resulta em saídas que agregam valor na perspectiva dos clientes, ou seja, é uma forma de como a organização realiza seu trabalho. Eles são interfuncionais e atravessam as funções organizacionais. É uma abordagem estruturada para entender, analisar, apoiar e melhorar continuamente os processos fundamentais, tais como fabricação, marketing, comunicações e outros elementos importantes de uma operação da empresa. (AL-MUDIMIGH, 2007) Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 33 Ricardo Mânica FIGURA 1 – AS TENDÊNCIAS DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO Fonte: AALST (2002, 2003 e 2004) A figura 1 apresenta na visão de Aalst (2002, 2003 e 2004) os quatro níveis de um sistema de informação, onde no núcleo vemos o sistema operacional que está “cercado” por aplicações genéricas, este por sua vez está contido em aplicativos de domínios específicos que por fim estão cercados de aplicações desenvolvidas sob medida para aquele negócio, ou seja, esta figura representa a evolução dos sistemas de informação. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 34 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... FIGURA 2 – RELAÇÃO DAS PERSPECTIVAS Fonte: AALST (2002 e 2003) Já na figura 2, Aalst (2002 e 2003) mostra quatro perspectivas, onde na base observa-se a perspectiva de processo. Para que o processo seja eficiente se faz necessário analisar as tarefas, os recursos e as informações. Quando uma empresa não está voltada ao processo, as três perspectivas são vistas individualmente, ocasionando assim uma menor eficiência na resposta, tanto interna, quanto externa. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 35 Ricardo Mânica FIGURA 3 – ESTRUTURA DO GERENCIAMENTO Fonte: AALST (2002) A figura 3 mostra a relação das pessoas, recursos e tecnologias aplicadas no BPM, juntamente com as atividades desempenhadas. Essa figura apresenta a importância da gestão por processo. Para Aalst (2004) o ciclo de vida do BPM compreende quatro fases sendo: desenho do processo; configuração do Sistema; promulgação do processo; e diagnóstico. O mesmo pode ser usado para identificar diferentes níveis de maturidade quando se trata do processo de de- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 36 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... senvolvimento de sistemas para informações empresariais. Essa evolução é vista na figura 4. FIGURA 4 – CICLO DE VIDA DO BPM AO LONGO DO TEMPO Fonte: Aalst (2004) Os sistemas de gestão de processos de negócios (BPMS) podem resultar em grandes recompensas para as empresas que a adotam. Com algumas vantagens para a mesma como: reduzir os prazos, diminuir o retrabalho e mais flexibilidade para mudar a estrutura de suporte aos processos de negócios (REIJERS, 2006). O autor coloca também que o apoio da BPMS a promulgação de processos de negócio ao longo de todo o fluxo da organização atravessa fronteiras departamentais. 3 REDE PETRI Para Rozinat e Aalst (2007), Aalst (2003 e 2004), Steglles et al (2007) e Bertolini et al (2006) conceituam que rede de Petri é uma estrutura dinâmica que consiste em um conjunto de transições, que são indicados por caixas e dizem respeito a algumas tarefas, ou ação que possa ser executada, um conjunto de lugares, que são indicados por círculos e Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. Ricardo Mânica 37 pode ser titular de uma ou mais fichas (indicada como pontos pretos), e dirigido a um conjunto de arcos que ligam estas transições e lugares uns com os outros, em uma forma bilateral onde as ligações entre os dois nós do mesmo tipo não são permitidas. De um ponto de vista de modelagem, lugares representam condições e transições representam eventos. A transição é caracterizada por um determinado número de lugares de entrada, as condições devem ser verificadas para o disparo da transição. (BERTOLINI et al 2006) Para Aalst (2003 e 2004) a rede é considerada viva se para todo estado alcançável e toda transição existe um estado seguinte alcançável quando a transição é habilitada. A rede é considerada limitada se para cada lugar há um número natural ao qual para todo estado alcançável o número de fichas é menor que o número natural. E ela é considerada segura se para cada lugar o número máximo de fichas não exceder 1. Os blocos de construção do fluxo de controle usados são ANDsplit, AND-join, OR-split e OR-join possuem as funções de sequenciar, paralelizar, condicionar e interagir o sequenciamento. Podem-se definir os blocos como: And-join: Processo em que duas ou mais atividades paralelas convergem em um único caminho comum à sequência do fluxo; And-split: Processo em que um único caminho da sequência do fluxo divide em duas ou mais atividades que são executadas em paralelo, permitindo que múltiplas atividades a sejam executadas simultaneamente; Or-split: Processo em que um único caminho do fluxo decide sobre qual sequência seguir sendo que possui várias alternativas; Or-join: Processo em que duas ou mais alternativas convergem para uma única atividade comum como o próximo passo dentro do processo. (OMG, 2006), OKAYAMA (2007) , AALST e HEE (2002), AALST (2003) Na figura 5 identificamos de forma gráfica essa conotação. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 38 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... FIGURA 5 – WORKFLOW PRIMÁRIO Fonte: Aalst (1996) 4 TRANSPORTE DE CARGA Bastidas et al (2001) apud (Bastos, 2003) conceitua transporte como: “De forma simples transportar significa conduzir ou levar de um lugar para outro... Sem o transporte (seja qual for o modo) de nada adiantaria a produção dos demais setores econômicos, uma vez que os bens produzidos não teriam como chegar a seus consumidores finais. De certa forma, todos os agentes econômicos dependem direta ou indiretamente do transporte para a satisfação das suas necessidades, sendo este um elo de ligação socioeconômico.”. O transporte é fundamental, pois na sua ausência o produto não poderia chegar ao cliente. O transporte é considerado o principal componente do sistema logístico. Sua relevância pode ser medida através de pelo menos três indicadores financeiros: custos, faturamento, e lucro. O transporte representa, aproximadamente, 60% dos custos logísticos, 3,5% do faturamento, e em alguns casos, mais que o dobro do lucro. Além disso, o transporte tem um papel primordial na qualidade dos serviços logísticos, pois impacta diretamente no tempo de entrega, na confiabilidade e na segurança dos produtos (Fleury, 1999). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 39 Ricardo Mânica 4.1 MODAIS DE TRANSPORTE Modal dutoviário: apresenta os custos fixos mais elevados, em decorrência de direitos de passagem, construção, estações de controle e capacidade de bombeamento. Em contrapartida, apresenta custos variáveis mais baixos, muitas vezes desprezíveis. Modal aeroviário: apresenta custos fixos baixos (aeronave e sistemas de manuseio). Seus custos variáveis são os mais elevados: combustível, mão-de-obra e manutenção. De acordo com Bowersox e Closs (1996) e Fleury (2000), a qualidade do serviço oferecido pelos diversos modais de transporte pode ser medida por meio de cinco dimensões principais: tempo de entrega médio (velocidade), variabilidade do tempo de entrega (consistência), capacitação, disponibilidade e frequência. Tempo de entrega médio (velocidade): o modal aéreo é o mais veloz, seguido pelo rodoviário, ferroviário, aquaviário e dutoviário. Porém, se for considerado o tempo de entrega door to door, os benefícios da velocidade no transporte aéreo são percebidos, sobretudo, nas grandes distâncias, tanto em termos relativos quanto em termos absolutos. Além disso, deve ser ressaltado que, os tempos de entrega do modal rodoviário e do modal ferroviário dependem fundamentalmente do estado de conservação das vias e do nível de congestionamento destas. Variabilidade do tempo de entrega (consistência): O modal dutoviário é a melhor opção. Isso por que os dutos não são afetados por condições climáticas, tráfego ou verificações de segurança. O baixo desempenho do modal aéreo em termos de consistência, entretanto, resulta de sua grande sensibilidade a questões climáticas e de segurança. Vale lembrar que assim como no caso da velocidade, o desempenho do modal rodoviário e do modal ferroviário na dimensão consistência, depende fortemente do estado de conservação das vias. Capacitação: o modal aquaviário é a melhor opção. Basicamente por que não apresenta limites sobre o tipo de produto que pode transportar, assim como o volume que pode atingir centenas de milhares de toneladas. Os modais dutoviário e aéreo apresentam sérias restrições em relação a essas dimensões. O dutoviário só trabalha com líquidos, gases e grãos; o aeroviário, com produtos seguros de pequeno a médios volumes. Disponibilidade: o modal rodoviário é a melhor opção, pois quase não apresenta limites de onde chegar. Teoricamente, a segunda opção em disponibilidade é o ferroviário, mas isso depende da extensão da malha ferroviária de um determinado país ou de uma região específica. De forma aná- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 40 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... loga ocorre com a disponibilidade do modal aquaviário, com a função da infra-estrutura portuária, de terminais e de sinalização. Frequência: o modal dutoviário é a melhor opção. Os dutos operam 24 horas por dia, sete dias por semana, podendo ser acionados a qualquer momento. Por ordem de desempenho seguem os modais rodoviários, ferroviários, aeroviários e aquaviário. A baixa frequência do modal aquaviário resulta dos altos volumes envolvidos na operação, normalmente consolidados. Wanke (2003) afirma que, de modo abrangente, as decisões de transporte afetam consideravelmente a relação entre custos fixos e variáveis no transporte de cargas, o que seria fator determinante para a formulação de estratégias pelas empresas que contratam e que prestam os serviços de transporte. Por exemplo, na escolha do modal de transporte, deve ser observado que os custos de operação dos modais aquaviário e ferroviário são praticamente todos fixos, ao passo que no modal rodoviário e no aéreo predominariam os custos de natureza variável com a distância e o peso ou volume. Entretanto, em situações onde os volumes / peso totais a ser transportado e a distância a ser percorrida são pequenos, o coeficiente de variação das vendas é alto e os produtos, os clientes ou as rotas são heterogêneos, a ênfase seria maior por flexibilidade de resposta. De modo análogo, decisões de transporte de carga que refletissem maior proporção de custos variáveis e de custos diretos deveriam ser consideradas 5 Análise do processo O processo analisado é de uma transportadora de carga rodoviária que atende ao segmento de materiais de construção e madeireiro. Ela possui uma frota de 5 carretas e conta atualmente com 12 funcionários. O processo escolhido para simulação foi o macro processo de viagem de um caminhão. Para tanto far-se-á uma breve descrição, através do fluxograma, das atividades inerentes. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 41 Ricardo Mânica FIGURA 6 – FLUXO DE TRANSPORTE Fonte: Autor A seguir será apresentado a simulação do processo utilizando o software Woped, a mesma está representada conforme figura 7 abaixo. FIGURA 7 – FLUXO DE TRANSPORTE UTILIZANDO WOPED Fonte: Autor Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 42 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... FIGURA 8 – ANÁLISE QUALITATIVA DO WORKFLOW Fonte: Woped Através da análise qualitativa constatou-se que a rede é viva, limitada e segura. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 43 Ricardo Mânica 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente estudo foi possível identificar a importância da análise dos processos através da simulação. Os resultados foram satisfatórios pois possibilitaram a visualização da identificação das características do processo através da simulação computacional. Verificouse que o processo é vivo, limitado e seguro. Como pesquisas futuras sugere-se realizar essa simulação em outros canais de serviços, como por exemplo na indústria automotiva, no setor têxtil e também no segmento da alimentação. Uma segunda sugestão seria de estratificar o processo em sub-processos e identificar novamente as características da rede, assim seria possível vislumbrar novas características detalhadamente. 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Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 27-45, 2009-2. 44 Análise de um Processo Através da Rede Petri no Serviço... AALST, W.M.P van der; HEE, K.M.van; Workflow management: models, methods, and systems. The MIT Press Cambridge, Massachusetts London, England, 2002 AL-MUDIMIGH, A. S.; The role and impact of business process management in enterprise systems implementation. Business Process Management Journal, Vol. 13 No. 6, 2007 BASTOS, I.D.; Avaliação do Desempenho Logístico do Serviço de Transporte Rodoviário de Cargas – Um Estudo de Caso no Setor de Revestimentos Cerâmicos. 2003. 168f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis. BERTONLINI, M.; BEVILACQUA, M.; MASON, G.; Reliability design of industrial plants using Petri nets. Journal of Quality in Maintenance Engineering Vol. 12 No. 4, 2006 BOWERSOX, D.; CLOSS, D.J. Logistical management: the integrated supply chain process. 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ANDRÉ RYNALDO CALSAVARA ___________________________________________________________ Mestrado em Administração – PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PPAD - Programa de Mestrado e Doutorado em Administração [email protected] Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 48 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 49 André Rynaldo Calsavara RESUMO O presente artigo retrata o grande fenômeno de venda realizado pelas grandes redes de atacado diretamente para o consumidor final, intitulado de “Atacarejo”, ou seja atacado, voltado para o público varejista, estudo este focado na abordagem de uma “instituição” intitulada com o seguinte slogan “o atacado do comerciante e da dona de casa”. O tema foi escolhido em razão de sua atualidade e da necessidade de resposta, por parte do pesquisador, das razões pelas quais o atacado está adotando esta estratégia de distribuição. O artigo apresenta uma conclusão final superficial sobre o tema uma vez que se trata de um estudo exploratório e um assunto novo e pouco explorado no Brasil. Palavras-chave: Comportamento do consumidor, atacado, varejo e atacarejo Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 50 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? ABSTRACT This article portrays the great phenomenon of selling out by the major chains directly attacked for the final consumer, titled “Atacarejo” that is attacked, targeted to the retailer, this study focused on the approach of an “institution” entitled to slogan “the wholesale merchant and a housewife”. The theme was chosen because of their timeliness and the need to answer, by the researcher, the reasons why the attack is adopting this strategy of distribution. The article presents a final surface on the subject since it is an exploratory study and issue a new and little explored in Brazil. Keywords: Consumer behavior, wholesale, retail and atacarejo RESUMEN En este artículo se describe el gran fenómeno de la venta a cabo por las principales cadenas atacado directamente al consumidor final, titulado “Atacarejo” que es atacado, dirigido a los minoristas, este estudio se centró en el enfoque de una “institución” con derecho a lema “el comerciante al por mayor y de un ama de casa”. El tema fue elegido por su actualidad y la necesidad de responder, por el investigador, las razones por las que el ataque es la adopción de esta estrategia de distribución. El artículo presenta una superfície final sobre el tema ya que es um estudio exploratorio y emitir um nuevo y poco explorado em Brasil. Palabras clave: comportamiento del consumidor, mayoristas, minoristas y atacarejo. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. André Rynaldo Calsavara 51 1 INTRODUÇÃO O mercado brasileiro passa por mudanças sensíveis em todos os setores, mais ainda são os valores e atitudes, levadas em consideração pelos consumidores, que estão fazendo as empresas repensarem estratégias e posicionamentos, esta mudança de atitudes tem feito empresas redesenharem suas formas de atuação, dando espaço para um “novo mercado”, o atacarejo. O conceito de atacarejo é uma modalidade de distribuição onde o atacado vende diretamente para o consumidor final, substituído o papel desempenhado pelo varejista. Pouco estudado, é um mercado em expansão, onde os dados divulgados pela Associação Brasileira dos Atacadistas e Distribuidores (ABAD) são animadores. O segmento atacadista distribuidor apresentou faturamento de R$ 120,8 bilhões em 2008, um crescimento real de 8,5% e nominal de 14,2% em comparação com 2007. Os dados constam no Ranking ABAD/Nielsen 2009, pesquisa anual realizada com empresas do segmento em todo o Brasil. O faturamento significa 53,4% do mercado de consumo do varejo alimentar, que somou R$ 226 bilhões em 2008, contra uma participação de 53,3% em 2007, em um mercado de R$ 180,5 bilhões, de acordo com o levantamento realizado pela Nielsen. Mesmo diante de um mercado extremamente competitivo, percebe-se o espaço para o crescimento do “atacarejo”, uma vez que o seu objetivo é atrair o consumidor que esteja disposto a aceitar poucos serviços e uma loja pouco despojada em troca de preços, criando um novo nicho de mercado não sendo, portanto, um concorrente direto dos supermercados e hipermercados. Neste trabalho será visto o funcionamento de uma organização comercial, de origem varejista, mas definimos à título de apresentação como Mercado X. O Mercado X é um exemplo de atacarejo bem sucedido e bem posicionado. Foi criado em 1983, em Midwest City EUA, e está presente no Brasil desde 1995. Inicialmente sua proposta mercadológica era oferecer ao pequeno comerciante, as melhores oportunidades de compras. Alguns anos depois, o Mercado X passou a oferecer os benefícios também para o consumidor final, que aproveita as diferenças de preços de em média 6% na cesta de compra. (FONSECA, 2005, p.54). Assim, mantendo como ponto de partida o consumidor e explorando a realidade do atacado e do varejo é desenvolvido o tema, onde são abordados os motivos que levam o atacado buscar o consumidor final, apresentado, contudo, uma análise conclusiva superficial, haja vista a re- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 52 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? lativa novidade desta estratégia de distribuição e o fato da mesma ainda não contar com um número significativo de estudos científicos no Brasil. 2 O PROCESSO DE COMPRA Os estudos do comportamento do consumidor no processo de compra são muito importantes para se avaliar o seu grau de envolvimento. O esforço que o varejo ou o atacado faz para atingir o seu objetivo principal de satisfação das necessidades, desejos e exigências dos consumidores finais passam pelo entendimento de todo o processo de avaliação de alternativas pré, durante e pós-compras. Todo o processo de compra tem o início em uma necessidade não satisfeita por parte do consumidor como afirmam Engel, Blackwell e Minard (2000, p.115) que, a partir da demanda começa a realizar uma busca por informações para a sua satisfação. Esse processo é chamado de avaliação de alternativa pré-compra, feita através de amigos e parentes (fontes pessoais), lojas e vendedores (fontes comerciais) e testes de produtos (experimentais). A compra pode ser dividida em totalmente planejada, aonde o cliente já vai ciente do produto e a marca que deseja comprar e parcialmente planejada, onde existe a intenção de comprar um dado produto, mas a escolha é adiada até a compra ser completada e a compra não planejada, onde a marca e o produto são escolhidos no ponto-de-venda. (ENGEL, BLACKWELL E MINARD, 2000, p.154) Para Levy (2000, p. 120) o processo de compra se divide em três tipos: “solução extensa de problemas, solução limitada de problemas e tomada de decisões habitual”. A primeira demanda maior estudo pelo cliente, que geralmente demora mais até a tomada de decisão; já a segunda não envolve tamanho esforço e é onde os grandes varejistas e atacadistas tentam tomar a atenção pelos displays ou através do preço mediante produtos iscas. E por último ocorre a tomada de decisão habitual envolvendo pouco ou nenhum esforço consciente. Pode-se classificar a compra por impulso nesse quesito uma vez que ela ocorre quando um consumidor vivencia um anseio repentino e persistente de compra, como no caso dos produtos que são colocados perto dos caixas ou em locais específicos dentro da loja. Estes, estrategicamente posicionados. Uma área pouco explorada é a pós-compra ou pós-venda. Diferentemente das demais áreas, como o cliente é tratado se torna mais Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 53 André Rynaldo Calsavara importante na avaliação em aspectos como: aparência da loja, aparência dos vendedores, opção de produtos, sentir-se seguro no estacionamento, pouca espera para completar a transação de vendas muitas vezes solucionadas pelo modelo de gaps, que segundo Levy (2000) gap de conhecimento, ou seja, a diferença entre as expectativas dos clientes e a percepção do varejista em relação às expectativas dos clientes; gap de padrão, que é a diferença entre as percepções dos varejistas em relação às expectativas do cliente e os padrões definidos de atendimento; gap de comunicação sendo a diferença entre o serviço atual fornecido aos clientes e os serviços prometidos no programa de promoção do varejista e o gap de entrega, que relaciona a diferença entre os padrões de atendimento dos varejistas e o fornecimento aos clientes. Esse estudo avalia a venda como um todo, uma vez que a compra é uma via de mão dupla, importando também como o cliente é visto e atendido em uma possível necessidade pós-compra que muitas vezes é esquecida. 3 CANAL DE DISTRIBUIÇÃO O canal de distribuição pode ser conceituado como “um sistema inter-empresa, ou seja, uma forma de organização das relações entre as empresas, que tem como objetivo tornar um produto disponível ao usuário final”. Nobre (2001, p. 75). O canal de distribuição tem especial destaque no marketing porque ele fica no meio entre bens e serviços dos produtores até os usuários finais. Segundo Boone e Kurtz (1998, p.320) o canal de distribuição tem quatro funções: “Primeiro, facilitar o processo de troca (...). Segundo, ajustam as discrepâncias na seleção de bens e serviços, através de um processo conhecido como seleção. (...). A terceira função desempenhada pelos canais de distribuição envolve a padronização das transações mercantis em termos de produto e do próprio processo de transferência. (...) Por fim os canais de distribuição facilitam o comportamento de busca tanto dos compradores como dos vendedores.” O profissional de marketing envolvido no processo é chamado de intermediário de marketing uma vez que “as funções de marketing devem ser desempenhadas por algum membro integrante do canal. Embo- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 54 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? ra elas possam ser mudadas, não podem ser eliminadas”. (BOONE E KURTZ, 1998, p.322). Os canais de distribuição segundo Kotler e Armstrong (1998) podem se dividir em quatro, dependendo do seu nível de intermediários. Primeiro, o canal de marketing direto que consiste em uma venda direta que envolve contatos de venda diretos entre o comprador e o vendedor, como, por exemplo, a Avon ou através de marketing direto via catálogos, Revista Hermes (TV), telefone, correios e computador, como, por exemplo, a estratégia da TV Balcão. Os demais canais são chamados de canais de marketing indireto. O segundo canal tem apenas um nível de intermediário, sendo ele o varejista, podendo-se citar como exemplo o Magazine Luiza, varejista de eletroeletrônicos e móveis. O terceiro canal contém dois níveis de intermediários, além do varejista aparece também o atacadista, a exemplo da rede norte-americana Wal Mart, sob a bandeira Sam´s Club. O quarto canal contém três tipos de intermediários, entrando a figura do atravessador entre o atacadista e o varejista. Para Boone e Kurtz (1998) esse intermediário se encontra entre o produtor e o atacadista e diferentemente de Kotler e Armstrong (1998), dão o nome de agente ou corretor que serve tanto ao mercado empresarial quanto a pequenos produtores que tentam vender suas ofertas para grandes atacadistas. Pela sequência pode-se verificar que o varejista dentro do canal de distribuição é o último negociante e os atacadistas compram os produtos dos fabricantes e revendem esses produtos para os varejistas, para os intermediários ou diretamente para o consumidor final. 3.1 SISTEMA VERTICAL DE MARKETING Segundo KOTLER (2000, p. 526) “sistema vertical de marketing é formado pelo fabricante, pelos atacadistas e pelos varejistas, todos atuando como um sistema unificado” e divide-se em: - SVM corporativo: combina estágios sucessivos de produção e distribuição sob o comando de um único proprietário. A integração vertical é favorecida por empresas que desejam um elevado nível de controle sobre seus canais. - SVM administrado: coordena sucessivos estágios de produção e distribuição devido ao tamanho e ganho e ao poder de um dos membros. Os fabricantes de uma marca dominante podem contar com a garantia de cooperação comercial e o apoio de revendedores. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 55 André Rynaldo Calsavara - SVM contratual: consiste em empresas independentes em diferentes níveis de produção e distribuição que integram seus programas por meio de contrato para obter mais economias ou impacto nas vendas do que poderiam conseguir sozinhas. 3.2 SISTEMA HORIZONTAL DE MARKETING Segundo Kotler (2000, p.527) é o sistema “no qual duas ou mais empresas não relacionadas unem recursos ou programas para explorar uma nova oportunidade de mercado”. 3.3 SISTEMA MULTICANAL DE MARKETING Ocorre quando uma única empresa utiliza dois ou mais canais de marketing para atingir um ou mais segmentos de clientes (KOTLER, 2000, p.527). 4 VAREJO Um varejista é um negociante que vende produtos e serviços de uso pessoal ou familiar aos consumidores (LEVY, 2000 p.26). Para melhor atender ao consumidor o varejista deve atentar para a diversificação e suprimento de produtos, avaliando aspectos como amplitude e profundidade do sortimento e itens como o uso de marca própria, marcas nacionais, sortimento altamente direcionado, entre outros dentro de sua estratégia de vendas e público alvo. Segundo a definição de Levy e Weitz (2000), a estratégia EDLP ou “Preços Baixos Todos os Dias” enfatiza a continuidade dos preços em um nível entre o preço normal não-promocional e o preço de venda com grandes descontos de varejistas concorrentes. De acordo com Levy e Weitz (2000), o varejista que utiliza a estratégia HILO ou “Preços Promocionais” oferece preços que são, algumas vezes, mais altos que os dos seus concorrentes EDLP, mas usam a publicidade para promover ofertas frequentes. Segundo Kotler (2000) o varejo subdivide em varejo com loja e varejo sem loja. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 56 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? 4.1 VAREJO COM LOJA O formato clássico do varejo é de uma existência por meio de um espaço localizado, que pode ser divididos de acordo com a categorização abaixo, segundo (KOTLER, 2000): - Loja de especialidades: lojas que trabalham como uma linha restrita de produtos e com uma grande variedade podendo ser compostas por uma loja de linha única, loja de linha limitada, loja superespecializada; - Loja de departamentos: trabalham com várias linhas de produtos de maneira departamentalizada; - Supermercados: atuam em operações de auto-serviço relativamente grandes, de baixo custo, baixa margem e alto volume; - Lojas de conveniência: lojas relativamente pequenas, localizadas próximo a áreas residenciais, funcionando em horários prolongados durante todos os dias; - Superloja: ocupa um espaço médio de 3.500 m2 de área de vendas e vende praticamente todos os itens, de alimentação ou não, diretamente aos consumidores; - Hipermercado: têm entre 8 mil m2 e 22 mil m2 de área e combinam os princípios de supermercados, lojas de descontos e varejo de grandes estoques. - Lojas de descontos: trabalham com mercadorias-padrão vendidas a preços mais baixos, com margens menores e maior volume e; - Clube de atacadistas: vendem uma seleção limitada de produtos de mercearia, utensílios e roupas de marca e uma variedade de outros produtos com grandes descontos a seus sócios, que pagam anuidades. 4.2 VAREJO SEM LOJA Todavia, há operações varejistas sem um espaço físico apropriado ou sem a intermediação de um profissional para concretizar a transação de compra e venda. Pode-se chamar de varejo sem loja, com operações através do marketing direto, vendas diretas e venda automática que pode contar com um ponto fixo, como, por exemplo, instalada dentro de um shopping ou uma escola, ( KOTLER, 2000). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 57 André Rynaldo Calsavara 5 ATACADO Para Kotler e Armnstrong (1998, p.308) o atacado reúne “todas as atividades ligadas à venda de bens ou serviços para aqueles que compram para revenda ou uso organizacional” e subdivide-se em: Atacadistas puros; atacadistas de serviços plenos e atacadistas de serviços limitados. 5.1 ATACADISTAS PUROS OU COMERCIAIS São empresas independentes que assumem a posse dos produtos que manipulam; - Atacadistas de serviços plenos ou completos: oferecem uma estrutura completa de serviços como estoque próprio, força de vendas, crédito, entrega e assistência administrativa. Fazem parte deste grupo os intermediários atacadistas, que atendem não só os atacadistas que têm o direito dos bens que comercializam (instalações de propriedade do fabricante), mas também os representantes e corretores, sendo sua função a comercialização e sua importância pode ser explicada em termos de utilidade que criam, do serviço que prestam e da sua capacidade de reduzir custos. Segundo relatam Boone e Kurtz (1998) os abastecedores (rack jobbers) são comerciantes atacadistas que comercializam linhas especializadas de mercadorias para lojas varejistas. 5.2 ATACADISTAS DE SERVIÇOS LIMITADOS Oferecem menos serviços aos seus fornecedores e clientes, se subdividindo em: - Representantes e corretores que são intermediários atacadistas independentes que desempenham funções típicas de atacadistas, mas sem assumir a propriedade dos bens; - Cooperativas de produtores reunindo produtos agrícolas para vendê-los em mercados locais; - Atacadistas do tipo “pegue-e-pague” (cash-and-carry wholesaler) desempenhando quase todas as funções de atacado, com exceção de financiamento e entrega; - Atacadistas ambulantes comerciantes de produtos alimentos perecíveis, como pão, fumo, batatas fritas, balas e chocolates e laticínios de forma itinerante; Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 58 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? - Atacadistas por reembolso postal, comerciantes atacadistas com função limitada que utilizam catálogos em vez de equipes de vendas para contatar os clientes de varejo, empresariais e institucionais, que por sua vez fazem as suas compras por correspondência ou telefone. Para o atacado o mais importante é o sortimento e o giro de seu estoque, além disso, a política de preços mais usual é a EDLP (Everyday Low Price), devido a seus preços necessitarem ser abaixo do padrão do mercado, uma vez que atendem a clientes pessoa jurídica ou associados. Para estes autores o investimento em ambientação é menor do que no varejo pelo fato de possuir grandes lotes de produtos de diferentes tamanhos e um grande leque de marcas e produtos. 6 ATACAREJO O “atacarejo” ou o atacado de cash and carry faz parte do fenômeno atual da integração vertical onde ocorre à venda do atacadista tanto para o varejista quanto diretamente aos consumidores finais. “Antes de entender o crescimento desse mercado é preciso entender que seu cliente forma um nicho de mercado não atingido, nem pelo varejo de auto-serviço nem pelo atacado” (FÁVERO citado por FONSECA, 2005, p.53) É difícil elaborar um histórico do atacarejo no Brasil visto que seu nome se confunde e torna-se quase uma tradução para o Brasil do atacado cash and carry. Esta modalidade de distribuição teve como pioneiro o Makro Atacadista, que atua no mercado há 34 (trinta e quatro) anos, destes aproximadamente 10 (dez) anos dedicados ao cash and carry. Uma de suas características é de oferecer um sortimento de mercadorias limitado a preços baixos para consumidores finais e pequenos negócios, além da localização e do design de loja de baixo custo. O modelo reduz os custos de manutenção de estoque trabalhando com um sortimento limitado de itens de venda rápida, como afirma Levy (2000), além das poucas opções de pagamento, geralmente na primeira compra, e em alguns casos com cartões com bandeiras próprias ou clubes de vantagens (FÁVERO citado por FONSECA 2005, p.54). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. André Rynaldo Calsavara 59 7 METODOLOGIA A metodologia utilizada no trabalho apresentado, foi um estudo de caso, utilizando a pesquisa exploratória como meio da obtenção das informações necessárias. Portanto os questionamentos levantados para a pesquisa foram relativos às razões pelas quais os consumidores escolhem locais com a característica de “atacarejo” para a realização de suas compras e as estratégias utilizadas por este tipo de estabelecimento, em especial aquele alvo da pesquisa in loco para atender as necessidades e desejos do consumidor. As conclusões levantadas para explicar o porquê da busca do atacado pelo consumidor final são: o preço, a localização, a fidelização do cliente e o custo operacional total. Através desta pesquisa alguns desses aspectos foram confirmados e outros refutados. Para o presente artigo foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e a pesquisa exploratória, onde se buscaram em livros e artigos diversos materiais com informações para a realização do marco teórico e conhecimento do nosso objeto. Em seguida, foi utilizado como método de coleta de dados o método da observação, fazendo uso de um roteiro parcialmente estruturado para análise do comportamento do consumidor no local de compra analisando aspectos como: espaço físico, localização, layout, gôndolas e variedade de produtos disponíveis e mais procurados pelo consumidor. O outro método de coleta de dados utilizado foi através de entrevistas com os gerentes deste tipo de estabelecimento, que foram realizadas em uma empresa comercial atacadista, que hoje também atende a consumidores finais, e por motivos profissionais, não será apresentado o nome do estabelecimento, sendo denominado doravante de Mercado X. Nas entrevistas como os gerentes usou-se um roteiro de entrevista que visou conhecer aspectos diversos referentes ao negócio, suas relações com seus diferentes clientes, as suas práticas de gestão no Brasil e as principais diferenças com a matriz, entre outros assuntos. 8 RESULTADO Observou-se que a localização do Mercado X é um fator determinado para o sucesso deste mercado, corredores amplos, localização distante de outros concorrentes, contando com estacionamento próprio e amplo, fácil acesso para automóveis de pequeno, médio e grande porte. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 60 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? As lojas são localizadas em regiões com grande densidade demográfica, distante do centro da cidade porém com fácil acesso. O espaço físico total é de mais de 9.000 m2 contando com o depósito de armazenamento e estacionamento. O giro médio da mercadoria é de 27 dias. O Mercado X disponibiliza a quantidade de produtos que o cliente quiser comprar, não limitando a compra do cliente e para tanto a reposição do estoque é feita por um centro de distribuição onde são recebidos as mercadorias e o armazenamento e abastecimento nos mercados consumidores. O layout da loja proporciona grandes espaços para passagem tanto do carrinho quanto das empilhadeiras, com sinalização das áreas em todos os departamentos. A divisão da loja é feita por áreas ou seções bem definidas, sendo elas: de não-alimentos (cama, mesa e banho), área de alimentos, área de alimentos perecíveis, eletroeletrônicos, ferramentas, confecção e a área central contendo espaços para móveis, jardinagem, papelaria, escritório e restaurante. O estabelecimento conta com um caixa rápido para compras até 15 (quinze) volumes e caixa preferencial para idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais além de vários caixas para grandes quantidades de itens. Verificou-se que o perfil de clientes são homens e mulheres das classes A e B (segundo o critério Brasil de classificação sócio-econômica), acima dos 28 (vinte o oito) anos que vão ao estabelecimento com a família, ou até mesmo sozinhos. Os clientes demoram um tempo relativo nas prateleiras um pouco superior ao gasto no processo de escolha em supermercados e hipermercados, devido à necessidade da avaliação da quantidade oferecida em cada embalagem em relação ao preço unitário nos packs ou fardos, sobretudo nos casos dos produtos de limpeza, alimentação e vestuário. As formas de pagamento disponíveis são dinheiro, cheque, cartão de débito e o cartão de crédito Hipercard, estratégia adotada para melhor poder de barganha com o fornecedor de crédito. O Mercado X, por ser um clube de compras, reserva o direito de vender somente para quem é associado e que paga uma anuidade, recebendo um cartão de sócio. O Mercado X tem um custo operacional mais baixo em relação à mercados e hiper mercados, não dispondo de sacolas para carregar as compras, mas dispõe de guarda-volumes e embaladores e funciona no sistema de auto-atendimento. São oferecidas como facilidades para o Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. André Rynaldo Calsavara 61 cliente: carrinho para bebês, balcão de informações para atividades de pré e pós-venda e associação de novos clientes e seguranças na entrada e saída das lojas. Na entrevista com o gerente de uma das unidades do Mercado X em Curitiba, foram colocadas questões diversas que se pautaram desde aspectos relativos à história do clube de compras no Brasil até aspectos específicos do processo de comercialização e relacionamento com os seus clientes. Quando questionado sobre a história do Mercado X no Brasil o gerente afirmou que a rede foi estabelecida há 13 (treze) anos no mercado nacional e a sua primeira unidade foi instalada no município de São Caetano do Sul, São Paulo. Em seguida foram abertas outras lojas na Grande São Paulo, estando hoje presente em 11 (onze) estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo), em um total de 22 (vinte e duas) unidades. Segundo informações deste entrevistado o Mercado X é considerado um clube de compras direcionado a classe A e B e que vende tanto para pessoa física quanto para a pessoa jurídica. Do ponto de vista da venda para o consumidor final a preços normalmente inferiores aos praticados pela concorrência, a empresa pode ser considerada como participante do segmento atacarejo, com a ressalva de só comercializar com clientes associados. O diferencial competitivo do Mercado X em relação a sua concorrência é, segundo o gerente da uma das unidades é o atendimento diferenciado prestado ao associado, com uma política de fidelização que conta com ações de tele-vendas, política de devolução e trocas de acordo com a necessidade do consumidor, contatos pós-venda com ligações efetuadas diretamente para o cliente questionando se gostou do atendimento prestado em todo o processo de venda. A empresa possui um sistema chamado “try and rand” ou mina do tesouro, que oferece produtos não ofertados pelos concorrentes e busca se antecipar às necessidades do mercado atuando de forma agressiva nas sazonalidades, oferecendo, por exemplo, produtos para halloween que começam a ser vendido em julho, o mesmo acontecendo para as venda do dia das crianças. Os produtos natalinos têm sua comercialização iniciada em outubro. Quanto à concorrência, o entrevistado afirmou que a rede detentora dos direitos do Mercado X faz parte é a terceira colocada no ranking nacional varejista e o primeiro no mercado mundial. Para o Mercado X o concor- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 62 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? rente é importante e deve ser monitorado através de pesquisas para que possa ser mantido o preço mais baixo possível. Os principais concorrentes da loja, apontados foram o Makro Atacado, Maxxi Atacado, Atacadão. O Mercado X mantém um padrão mundial em suas lojas, observadas as características locais do mercado e do consumidor, segundo afirmou o gerente. Segundo ele ocorreu um período de adaptação ao mercado brasileiro durante os quatro primeiros anos da empresa no País. Dentre as principais dificuldades apontadas foi evidenciado o relativo desconhecimento no Brasil sobre os direitos de consumo, o que gera algumas dificuldades de relacionamento, sobretudo quando são cobrados direitos não existentes. Como diferenças fundamentais entre os estabelecimentos da rede em outros países como o México e os Estados Unidos e o Brasil, foi apontado o hábito de compra em grandes volumes. Segundo o entrevistado o consumidor brasileiro tem o hábito da compra fracionada e de uma maior amplitude de itens o que obriga a loja a trabalhar com uma extensão de produtos que vai de 5.000 a 9.000 itens. A política de preços da rede não privilegia nenhum segmento de associados, sendo o preço o mesmo para uma ou diversas unidades, o que evidencia tanto a estratégia de vendas para pequenos comerciantes quanto à estratégia de “atacarejo”, quando ocorre a venda para o consumidor final. 9 CONCLUSÃO A estratégia de distribuição atacarejo foi evidenciada tanto nos estudos teóricos quanto no estudo de caso nas unidades de Curitiba do Mercado X. Alguns questionamentos foram confirmados, evidenciado que o consumidor do atacarejo é diferenciado e que estes exigem diferenciais no atendimento, nos processos, e grande gama de opção de produtos, o contato pós-venda é um fantástico canal de comunicação com o consumidor, sendo utilizado como porta-voz e auxiliando nas correções necessárias. Foi percebido que a empresa comerciante que atua no segmento não privilegia somente a venda em grandes quantidades, mas também a assiduidade e fidelidade do cliente. O cliente do atacarejo, especialmente aquele do estabelecimento pesquisado, valoriza o fácil acesso, mesmo que em distâncias maiores daquelas percorridas até um supermercado ou hipermercado e o fato de encontrar alguns itens não comercializados por estes. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 63 André Rynaldo Calsavara O Mercado X atua no segmento atacarejo, sobretudo em clientes de maior poder aquisitivo, não impõe limites mínimos de compra e caracteriza-se como um clube de compras na medida em que vende somente para clientes cadastrados que pagam uma taxa anual. Percebeu-se que, além do preço, o consumidor do atacarejo busca novidades em produtos não comercializados por outros estabelecimentos, sendo esta uma das marcas do “atacarejo”. O espaço físico também é importante e deve favorecer o conforto para o consumidor. As divisões em seções bem definidas e não modificadas com frequência como ocorre nos supermercados, proporciona maior agilidade na compra fazendo o cliente percorrer as seções e realizar suas compras tranquilamente sabendo onde encontrar o que procura e contando com a entrega do produto quando necessário. O custo operacional é realmente mais baixo por ser um serviço de auto-atendimento, não sendo necessário repassar para o cliente custos com empregados que não estão envolvidos com as atividades de suprimento e manipulação dos produtos na loja, sacolas, guarda-volumes e outros, o que impacta diretamente nos preços finais dos produtos. Estudos posteriores podem ser realizados, sobretudo envolvendo outras cidades, concorrentes e até mesmo os atacarejos, direcionados para as classes C, D e E, contribuindo para evidenciar um pouco mais sobre o tema, que é ainda pouco explorado do ponto de vista científico, haja vista a ausência de um número significativo de estudos que tratam sobre o mesmo. REFERÊNCIAS ABAD - http://www.abad.com.br/index2.html > acesso em 06/02/2010 WAL MART BRASIL h t t p : / / w w w . s a m s c l u b . c o m . b r / ?sid=39&p=sam’s&gclid=CJrx8NXrqJ4CFQZinAod8y8PmQ > acesso em 20/02/2010 ANGELO, Cláudio Felisoni de (org.). Varejo competitivo. 3ª ed. São Paulo: Atlas/ PROVAR, Programa de Administração de varejo, 1998. BOONE, Louis E, KURTZ, David L. Marketing Contemporâneo. 8ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1998. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 47-64, 2009-2. 64 Atacarejo: Estratégia Planejada ou Mera Coincidência? ENGEL, James F.; BLACKWELL, Roger D.; MINIARD, Paul W. 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David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 65 COMPETÊNCIAS OPERACIONAIS DOS MONTADORES DE MEDIDOR ELETRÔNICO SEGUNDO A AVALIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DOS GESTORES: UM ESTUDO DE CASO OPERATIONAL COMPETENCES OF THE ASSEMBLERS OF ELECTRONIC METER ACCORDING TO THE EVALUATION OF THE ORGANIZATION AND THE MANAGERS: A CASE STUDY COMPETENCIAS OPERACIONALES DE LOS MONTADORES DE MEDIDOR ELECTRÓNICO SEGÚN LA EVALUACIÓN DE LA ORGANIZACIÓN Y DE LOS GESTORES: UN ESTUDIO DE CASO Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 66 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... DAVID FERREIRA BONFIM ____________________________________________________________________ Doutor FEAD-MG Professor do Mestrado em Administração FEAD-MG [email protected] MARCO TÚLIO RODRIGUES COSTA ____________________________________________________________________ Mestre em Administração pela FEAD-MG Doutorando em Administração pela UNAM - Argentina FGV-RJ [email protected] Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 67 RESUMO A pesquisa que sustenta este artigo avaliou as competências operacionais de trabalhadores que atuam no setor operacional de uma empresa na grande Belo Horizonte - Minas Gerais. Embora o tema competências tenha expressiva produção acadêmica, na área de profissionais de nível operacional - montadores de medidor eletrônico – ela é inédita. Metodologia qualitativa sustentada por entrevista junto a ocupantes de cargos estratégicos e táticos da empresa, uma vez que os gestores são os principais elos entre as pessoas e a organização, além de terem como responsabilidade a articulação cotidiana entre eles, a empresa e as pessoas. Os dados colhidos mostram que nem os gestores nem a organização têm claramente definidos as competências operacionais para seus montadores. Também não há definição clara sobre os conhecimentos, habilidades intelectuais, sociais e atitudes necessárias aos trabalhadores de nível operacional. Palavras-chave: competências, competências operacionais, montadores de medidores eletrônicos. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 68 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... ABSTRACT The survey that supports this article valued the operational competences of workers who act in the operational sector of an enterprise in Belo Horizonte - Minas Gerais. Though the subject competences has expressive academic production, in the professionals’ area of operational level assemblers of electronic meter – it is a new survey. Qualitative methodology was used supported by interview with the occupants of strategic and tactic posts of the enterprise, because the managers are the principal link between the persons and the organization, besides taking the daily articulation as a responsibility between them, the enterprise and the persons. The gathered data show that not even the managers not even the organization have clearly defined the operational competences for the assemblers. Also there is no clear definition on the knowledges, intellectual and social skills and necessary attitudes to the workers of operational level. Key-words: competences, operational competences, assemblers. RESUMEN La pesquisa que apoya este artículo valoró la competencia operacional de trabajadores que actúan en el sector operacional de una empresa en Belo Horizonte – Minas Gerais. Aunque el tema competencia tenga la producción acadêmica expresiva, en el área de los profesionales del nivel operacional - los ensambladores del metro electrónico – esto es una nueva revisión. La metodología cualitativa apoyada por la entrevista fue utilizada con las personas de los niveles estratégicos y táctico de la empresa, porque los gerentes son el principal enlace entre lãs personas y la organización, además de la toma de la articulación diaria como uma responsabilidad entre ellos, la empresa y las personas. Los datos de esta pesquisa muestran que los gerentes y la organización no tienen claramente definida la competencia operacional para los ensambladores. También, no hay ninguna definición clara de conocimientos, habilidades intelectuales y sociales y actitudes necesarias a los trabajadores del nivel operacional. Palabras claves: competência, competência ensambladores. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. operacional, David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 69 1 INTRODUÇÃO O conceito de competências envolve um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para a pessoa exercer seu trabalho (DUTRA, 2004). No estudo sobre competências, há ênfases voltadas para a competência relacionada a um indivíduo, a equipes de trabalho ou mesmo às organizações. Em que pese a diversidade de estudos sobre competências tais como: Lé Boterf (2003); Dutra (2004); Dugué (2004); Kober (2004), não foram encontrados quaisquer um que se ocupe d as competências individuais de profissionais que ocupam cargo de nível operacional no setor de medição eletrônica, especificamente aqueles denominados montadores de medidores eletrônicos. A relevância do estudo no segmento escolhido se deve ao fato que no início dos anos 1990, o setor eletrônico tomou força. Segundo Martins (1999), foi um período em que o país investiu em novas tecnologias, através de pesquisas no segmento eletrônico, o que fez com que a medição eletrônica tivesse um grande desenvolvimento. Tal desenvolvimento também foi sentido na área de medição da empresa estudada. Buscando se adaptar às novas tecnologias eletrônicas, essa organização também começou a investir na medição eletrônica, o que pode gerar implicações relativas às competências operacionais requeridas no segmento profissional em análise. No final dos anos 1990, quando este pesquisador começou a atuar na empresa, então como funcionário, já se verificava uma preocupação com os trabalhadores de nível operacional para que desenvolvessem as competências necessárias para montar um medidor eletrônico com qualidade. No período compreendido entre 1999 e 2004, já se constatavam na empresa investimentos expressivos no segmento eletrônico. Esses investimentos perduraram até o período em que o pesquisador lá atuou. Certamente estes investimentos continuaram, porém não foi objeto deste estudo avaliar tal quesito. A importância de se ter um quadro claro sobre essas competências para o segmento dos montadores de medidores eletrônicos sinaliza como estratégia a ser considerada neste estudo, na medida em que as demandas requeridas pelo advento da tecnologia eletrônica passarão a exigir cada vez mais precisão. Neste sentido foi importante considerar as competências operacionais necessárias a estes montadores, para que os padrões de precisão sejam garantidos. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 70 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... Neste estudo, o embasamento sobre a importância de se obter a avaliação dos gestores de nível estratégico e tático a respeito das competências operacionais dos montadores, recai sobre o fato de que segundo Dutra (2004), são esses gestores os principais elos entre as pessoas e a organização, e são responsáveis pela articulação cotidiana entre a empresa e as pessoas. Competências neste estudo dizem respeito tão somente a determinadas atribuições voltadas para o processo operacional, no qual o montador deve aplicar seus conhecimentos na prática. Refere-se, portanto, às habilidades operacionais requeridas durante a montagem dos medidores eletrônicos, que constituem o saber fazer, embora, na literatura, tratar competências implique considerar o saber, o saber fazer e o saber ser. O objetivo deste artigo é analisar as competências motoras que esses montadores precisam ter durante o processo de produção do medidor eletrônico. Segundo Leite e Goulart (2006) existem habilidades físicas, intelectuais e sociais. No estudo tratado, o foco foi as habilidades físicas, que dizem especificamente às motoras e são aqui tratadas sob o nome de competências operacionais. Para efetuar a medição da energia elétrica consumida pelos seus clientes, as concessionárias utilizam medidores de energia. Os modelos mais comuns são os eletromecânicos aqueles popularmente denominados “relógios” em que o disco do medidor gira e marca o consumo. Esses modelos são, ainda hoje, muito encontrados nas residências e podem ser de uma só fase (monofásicos) ou mais de uma fase (polifásicos). O medidor eletrônico também pode ser monofásico ou polifásico e sua grande vantagem é que é mais moderno e mais fácil de calibrar e de testar, além de mais simples de instalar. Com tantas vantagens, os eletromecânicos estão sendo substituídos aos poucos pelos eletrônicos nas concessionárias de energia elétrica, o que implica que progressivamente serão instalados em praticamente 100% das residências no Brasil. Se os medidores eletrônicos já começaram a ser utilizados no Brasil, justifica-se avaliar as competências de quem produz este produto. Este estudo dará ênfase aos aspectos operacionais no campo das habilidades motoras de quem produz o medidor. Além disso, há escassez de produção bibliográfica voltada para o setor operacional (BOMFIN e COSTA, 2008) e, muito menos para o segmento profissional montador de medidor eletrônico. No entanto, o volume de pesquisas que estuda competências nos níveis gerenciais em detrimento dos operacionais, é abundante. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 71 O estudo concentre-se em uma das cinco empresas tidas como referência no Brasil de medidor eletrônico. O problema orientador da pesquisa foi: Quais as competências operacionais requeridas dos montadores de medidores eletrônicos segundo a avaliação dos ocupantes de cargos estratégicos e táticos de uma empresa e segundo a concepção da referida empresa? Para responder a esta pergunta foram elaborados os seguintes objetivos: • Analisar a relação entre as competências operacionais concebidas pela empresa para os montadores de medidores eletrônicos e a avaliação dos gestores, de níveis estratégico e tático, sobre as competências operacionais requeridas para esses montadores. • Verificar se as competências estão formalmente redigidas em algum documento ou se elas existem de maneira informal na organização; • Analisar a avaliação feita pelos gestores de níveis estratégicos e táticos sobre as competências operacionais requeridas para um montador de medidor eletrônico. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 SOBRE HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO SOBRE COMPETÊNCIAS É importante analisar a relação entre dois conceitos: o de qualificação e o de competências. Tomasi et al. (2004) afirmam que a noção de qualificação torna-se cada vez mais frequente na literatura a partir da Segunda Guerra Mundial. Ela nasce após a guerra de 1945, momento que formaliza as aquisições dos movimentos sociais precedentes, em particular das grandes greves de 1936. Após a Segunda Guerra Mundial, os esforços europeus, sobretudo os franceses, reconstruindo seu país, oportunizaram o desenvolvimento e o emprego de tecnologias e o avanço do taylorismo. O momento se apresentava como de profunda transformação e, materializado no desaparecimento dos ofícios, ameaçava o trabalhador. Nessa época, havia grande reivindicação para limitar as grandes disparidades de salário, provenientes do modo incerto de fixação da remuneração para capacidades de trabalho. Os trabalhadores se organizaram e negociaram normas de referência, primeiro no nível da empresa, depois da localidade e, finalmente, do ramo profissional. As normas cons- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 72 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... tituíam tentativas de padronização e objetivação dos modos de comparação de diferentes capacidades de trabalho, visando a torná-las relativamente independentes dos atributos individuais dos trabalhadores. Dugué (2004) afirma também que o sistema de qualificação é concebido em torno da noção de nível padrão homologado pelo diploma, o que corresponde ao crescimento da divisão e da padronização do trabalho. A noção de qualificação representa, igualmente, uma base para pensar e construir a transmissão de conhecimentos profissionais. Nesse sentido, ela não pode ser dissociada da criação do ensino profissional que se instala progressivamente na primeira parte do século, durante um longo processo conflituoso. Leite e Goulart (2006, p. 81) afirmam que: No contexto de qualificação, o que foi aprendido pelo trabalhador no seu ofício permanece em segundo plano, a trajetória formal da sua qualificação continua prevalecendo. Esse cenário vai ser modificado pela necessidade de comprometimento do trabalhador em novos modelos de gestão no trabalho. Com o surgimento de novos modelos de gestão, a partir dos anos 1970, assistiu-se ao surgimento do conceito de competências. Começou a ser exigido do trabalhador não apenas conhecimentos formais e explícitos objetivados pelo diploma, mas também amplas habilidades cognitivas e comportamentais, tais como iniciativa, responsabilidade, autonomia, criatividade, cooperação, liderança, flexibilidade etc., para lidar com tarefas cada vez mais abstratas e complexas. Tomasi et al (2004, p.09) dizem que “não basta ser qualificado, é preciso ser competente”. O conceito de competência emerge em um contexto de mudança, apresentando-se como mais uma tentativa de se garantir melhor desempenho dos trabalhadores, maior comprometimento com o trabalho e, por consequência, maior produtividade. Kober (2004) também defende que a noção de competência foi colocada como uma alternativa mais adequada à noção de qualificação, por estar mais sintonizada com o progresso técnico que aconteceu no mercado. Segundo Kober (2004), passa-se de um modelo de carreiras baseadas em tempo de serviço negociadas coletivamente, para outro de trajetórias individuais. Segundo Dugué (2004), o que ocorreu foi que o sistema de qualificação passou a ser fortemente atacado por não se adaptar às grandes evoluções do sistema de produção. Autores franceses como Zarifian (2001), por exemplo, associa a competência não a um conjunto de qualificações do indivíduo, mas sim Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 73 às realizações da pessoa em determinado contexto, ou seja, àquilo que ela produz ou realiza no trabalho. Já, no contexto americano, a competência é pensada como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que justificam uma alta performance (FLEURY, 2002). Os conceitos de conhecimento, atitude e habilidade podem ser ampliados quando Leite e Goulart (2006, p. 89) afirmam que “a competência individual inclui conhecimentos, habilidades e atitudes que o profissional deve apresentar, a fim de assumir as atividades previstas no processo de organização do trabalho sempre que um plano de gestão é efetivado”. Os autores definem cada um dos termos como sendo: Conhecimento pode ser definido como o conjunto de crenças mantidas por um indivíduo acerca de relações causais entre fenômenos, entendendo-se por relações causais as relações de causa e efeito entre ações e eventos imagináveis e suas prováveis consequências [...]. As atitudes, por sua vez, encontram-se na base de uma série de situações sociais e desempenham a função de ajudar na formação de uma ideia mais estável da realidade em que vivemos. Elas constituem relações duradouras de diversos aspectos do mundo social, que se armazenam na memória, tornando mais previsível o ambiente circundante. A expressão habilidade refere-se à capacidade do indivíduo de aplicar seus conhecimentos na prática, é o saber fazer. É constituída por aptidões aprendidas pelo sujeito, que são necessárias à atuação em papeis ocupacionais determinados (LEITE e GOULART 2006, p.89). Leite e Goulart (2006) afirmam que, no campo das habilidades, existem as físicas, intelectuais e sociais. Entre as habilidades físicas, existem as que são especificamente motoras. As habilidades intelectuais, por sua vez, podem incluir a de lidar com números, a de redigir textos, a de resolver problemas que requerem raciocínio. Existem, ainda, as habilidades sociais, que se aproximam significativamente das atitudes e que incluem conceitos como conduta assertiva, liberdade emocional, relacionamento interpessoal e convivência social. Na linha francesa, a produção científica de Dadoy (2004) e Dugué (2004) entre outros, discute, ainda hoje, o conceito de competência e o diferencia, progressivamente, do conceito de qualificação profissional. Por exemplo, Lê Boterf (2003) aborda o fato de que competência é colocar em prática o que se sabe em determinado contexto, marcado geralmente pelas relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos limitações de tempo, recursos, etc. Além disso, Lê Boterf (2003) considera que a com- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 74 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... petência é poder improvisar onde os outros não fazem mais do que repetir. Zarifian (2001, p.62) afirma que “competência é tomar iniciativa e assumir responsabilidade diante de situações profissionais com as quais o indivíduo se depara”. É oportuno lembrar que no estudo que sustenta este artigo, não foram avaliadas competências organizacionais e de grupo, mas, sim, competências operacionais individuais dos montadores de medidores eletrônicos. 2.2 SOBRE COMPETÊNCIAS DO NÍVEL OPERACIONAL O nível operacional é onde as tarefas são executadas. Zarifian (1996) aponta para a importância das competências no nível operacional quando diz que os trabalhadores precisam enfrentar o aumento da complexidade do trabalho, da complexidade técnica e realizarem arbitragens em tempo real, no momento em que essas necessidades aparecerem. A maior participação do trabalhador operacional é percebida, pois a tendência das organizações é aumentar a responsabilidade dos operadores sobre processos cada vez mais amplos e integrados. A competência sobre os processos aumentou e as competências individuais tendem a se aproximar da competência coletiva em uma linha de produção. Não basta mais o trabalhador que desempenha funções repetitivas, mecânicas e sem iniciativa. É importante também destacar o argumento apresentado por Schermerhorn Jr. e JOHN (1999) ao dar ênfase aos operadores em geral, colocando-os no topo das organizações para que se possa atender às demandas dos clientes. Segundo esse autor: As organizações realmente progressistas estão fazendo muito mais do que simplesmente reduzindo a escala operacional, cortando empregos e introduzindo novas tecnologias na busca de uma melhor qualidade. Elas estão mudando a verdadeira essência da forma de fazer as coisas. A reengenharia de processos repensa e radicalmente modifica os processos organizacionais a fim de inovar e melhorar medidas críticas de desempenho, tais como custo, qualidade, serviço e rapidez. Para atingir esses padrões, operários de todos os setores são convidados a esquecer como as coisas eram feitas no passado e como elas poderão ser feitas de forma melhor no futuro. Também consistente com esses novos valores está a pirâmide invertida da organização (SCHERMERHORN JR. e JOHN, 1999, p.27). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 75 A pirâmide invertida destaca o foco nos clientes, que ocupam a parte superior da pirâmide e recebem os serviços diretamente dos funcionários operacionais, apoiados pelos supervisores e gerentes de nível intermediário. Os gerentes gerais, por sua vez, dão apoio direto ao nível intermediário (SCHERMERHORN JR. e JOHN, 1999). FIGURA 1: VISÃO DA “PIRÂMIDE INVERTIDA” DE ORGANIZAÇÕES E GERÊNCIA. Fonte: SCHERMERHORN JR. e JOHN, 1999, p. 28. Por fim, cabe ressaltar que, apesar de poucas produções voltadas para o setor operacional (BOMFIN & COSTA, 2008), a área de produção se configura como setor importante nas organizações, e, como tal, requer que se estude sobre a problemática das competências individuais dos seus trabalhadores. Percebe-se que para o profissional se manter na função, não é mais suficiente a qualificação. É necessário ir além. Por isso, se faz urgente enfatizar as competências como alternativa de melhor avaliar o desempenho de cada funcionário, bem como evidenciar o potencial de cada um. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 76 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... 2.3 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA A história da empresa X inicia-se na década de 1930. A marca da empresa nasce baseada na natureza de um produto especializado e de alta precisão, características que permanecem em sua cultura até o momento atual. Em 1937, época de desenvolvimento industrial no país, a empresa X recebeu uma encomenda feita pelo então prefeito de Belo Horizonte, Otacílio Negrão de Lima, para a produção de 10.000 medidores de água (hidrômetros), a fim de medir a água fornecida a todas as residências de Belo Horizonte. Inicia-se a produção de hidrômetros que até hoje são fabricados em uma unidade industrial. Em 1939, a empresa X torna-se sociedade anônima. Nessa época, um fato que marca sua história foi que em 1941, produziu material bélico para as forças armadas do Brasil na segunda guerra mundial. A visão empreendedora do seu fundador conduziu a empresa X para uma posição de fabricante de hidrômetros muito respeitado. Com o advento do regime militar na década de 60, expandiu sua produção de hidrômetros. Essa produção foi alavancada pelo Plano Nacional de Água e Saneamento – PLANASA, que previa a distribuição de água potável a 90% dos Brasileiros. Em busca de novos desafios e liderada por seu fundador em 1970, com o objetivo de expandir seus negócios, firma um contrato de licenciamento com a “Sangamo Company Limited” do Canadá para fabricação de medidores de energia elétrica monofásicos. Em 1974, buscando uma produção própria, a empresa X contratou um engenheiro consultor para implantar novos processos produtivos. A expectativa na época era de aprimorar a produção e, principalmente, o desenvolvimento de novos produtos – a engenharia de desenvolvimento. O filho do fundador, nessa ocasião assumiu a diretoria industrial. Com o seu perfil voltado para o desenvolvimento de novos produtos iniciou-se a produção de medidores de energia elétrica. Os anos de 1970 foram de organização da fábrica para a produção e futura comercialização de medidores. Inicialmente foram concebidos os “medidores monofásicos”, que realizavam leituras contínuas, de aplicação em residências. Com o término da parceria com a empresa canadense, em meados da década de 70, a empresa X partiu para o desenvolvimento de projeto e fabricação do “medidor polifásico”. Nessa ocasião, era a única empresa brasileira que detinha a produção de todas as linhas de medidores consumidos no país. Consolidava-se o nome da empresa X nesse segmento, marcado como uma empresa inovadora e que primava pela qualidade de seus produtos. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 77 Os anos 1990 foram marcados por inovações no modelo de gestão da empresa. Nesta década, inovações são introduzidas na gestão da empresa X, na tentativa de responder à abertura do mercado brasileiro, à globalização e à desregulamentação do setor elétrico. Em um período de predomínio da competição internacionalizada, o estilo do fundador voltado para a precisão, mais o estilo do seu sucessor, baseado na descoberta e no desenvolvimento, pautaram as decisões relativas às mudanças implantadas na década de 90. A empresa X focou mais na montagem do que na produção e o controle de qualidade final da produção transferiu-se para o processo, o que fez com que os funcionários operacionais e os montadores de medidores eletrônicos tivessem um papel fundamental. Surge na década de 1990 o medidor eletrônico na empresa. Nesta década inicia-se o programa de privatizações das empresas estatais no Brasil. A empresa X até então tinha um mercado estabilizado; ou seja, era fornecedora das concessionárias de energia elétrica e das companhias de tratamento de água, até então empresas estatais, situação que lhe oferecia segurança. Diante das privatizações a empresa X passou a buscar, com mais intensidade, alternativas de atuação e também de gestão dos seus negócios. Ao mesmo tempo em que passa a concorrer no mercado brasileiro com outras empresas internacionais, ela também passa a introduzir seus produtos no mercado internacional, exportando, principalmente, para os países da América Central e para a América do Sul, sendo os medidores de energia elétrica o principal item comercializado. Foi no início de 1990 que a empresa X investiu em P&D – pesquisa e desenvolvimento – como uma estratégia competitiva/exportadora. Surge, então, a era do medidor eletrônico, um produto de tecnologia avançada para fazer frente às demandas do mercado. Sem dúvida, a evolução tecnológica da medição também está associada à relação de custos e benefícios. Hoje, o medidor eletrônico passa a ser um bem necessário para uma sinalização de consumo de energia elétrica. Esse medidor, para além das funções de medição, visa sinalizar o consumo em horas indevidas, entendidas como “hora de pico”, quando o consumo de energia é genérico e elevado. Busca-se, assim, “não incentivar” o consumo nas “horas-depico” a fim de se evitar blecautes. A empresa X além de produzir produtos com precisão durante toda sua história teve sempre uma preocupação quanto à responsabilidade social sustentando, no âmbito externo, alguns projetos sociais como a parceria empresa-escola e o projeto “Empresa amiga da criança”. Hoje é gerida por um conselho de acionistas, soberano para deliberar sobre qualquer assunto relativo a negócios da instituição. Respon- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 78 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... dendo diretamente ao conselho de acionistas, a Diretoria Executiva, sob a responsabilidade do Diretor Presidente, é responsável pela operação da empresa. Atualmente, está estruturada em quatro segmentos de negócios que conjuntamente, atuam em um mercado global, altamente exigente e dinâmico. Os Negócios Medidores de Energia Elétrica, Equipamentos & Instrumentos, Soluções em Medição de Energia e Automação Predial formam um comprometimento comum com os resultados dos seus clientes e acionistas, preocupados em manter viva a parceria com todos os seus públicos de relacionamento e de ter uma atuação socialmente responsável, embasada por estratégias que possibilitem seu desenvolvimento contínuo. O negócio equipamentos e instrumentos oferecem aos seus clientes soluções em inspeção e calibração na medição de energia, perdas na medição de energia, manutenção do sistema elétrico, compensação de reativos e teleproteção de linhas de transmissão. A área de Soluções em Medição de Energia atua no gerenciamento do consumo e no uso racional de energia elétrica. Seus produtos e serviços possibilitam, entre outros, o estudo para a compensação da energia reativa, a automação da medição através da telemedição com possibilidades de aplicação de tarifas especiais, o controle da medição tendo como objetivo a redução de perdas comerciais e o gerenciamento de carga pelo lado da demanda com corte e religamento de cargas no ponto de medição ou do faturamento de consumidores selecionados. Tais soluções visam atender, principalmente, às concessionárias de energia, grandes indústrias, centros comerciais e os condomínios. O negócio automação predial trata de uma solução que visa automatizar a leitura e o bloqueio individual de água, gás e energia elétrica em condomínios residenciais e comerciais. O grande diferencial desse projeto é a individualização da medição, ou seja, com sua implementação nos condomínios, cada unidade passa a pagar exatamente por aquilo que consumir. A empresa X conta, atualmente, com cerca de 500 funcionários sendo que, aproximadamente, 90 funcionários atuam no setor operacional de produção do medidor eletrônico. Os medidores de energia, principalmente o eletrônico, configuram-se hoje como o carro chefe da empresa e é sem duvida, um grande aliado ao consumo racional de energia elétrica no Brasil. Esses medidores são projetados e fabricados de acordo com as principais normas de qualidade atualmente existentes: ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), NEMA (National Electrical Manufactors Association), ANSI (American National Standards Institute), Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 79 IEC (International Electrotechinical Comission) e estão presentes em diversas empresas no Brasil e exterior, assegurando um alto desempenho de funcionamento. 3 METODOLOGIA: ETAPAS, MÉTODOS E POPULAÇÃO DA PESQUISA Esta pesquisa foi desenvolvida através de três etapas, compreendendo: Entrevista informal com a direção para coleta de dados sobre a empresa, realização de entrevista individual junto aos gestores, análise dos dados coletados. • ETAPA I – Entrevista informal com a direção Foram coletados dados via entrevista informal junto à direção, o que, somado à experiência do pesquisador, por ter trabalhado na referida organização, facilitou a interação, entendimento e atualização de dados após quatro anos do seu desligamento da empresa. Através da entrevista informal, também foram coletados outros dois dados: Todos os gestores participantes da entrevista desta pesquisa possuem pelo menos curso superior completo, além de terem participado de um treinamento gerencial sobre competências no ano de 2004. Complementando dados sobre o histórico da organização, também através desta entrevista informal, observou-se que a empresa X atualmente conta com 4 unidades de negócio, com cerca de 500 funcionários sendo que, aproximadamente, 90 funcionários atuam no setor operacional de produção do medidor eletrônico. Os medidores de energia principalmente o eletrônico, configura-se hoje como o “carro chefe” da empresa e é um grande aliado ao consumo racional de energia elétrica no Brasil. • ETAPA II – Entrevista individual junto aos gestores As entrevistas sobre competências com os gestores ocorreram no período compreendido em maio de 2008. Participaram 2 gestores do nível estratégico (Presidente da empresa e Diretor geral) e 7 gestores do nível tático totalizando nove entrevistas. As entrevistas foram conduzidas pelo pesquisador. Com relação aos cargos da empresa, verifica-se: • O diretor geral tem ascendência sobre todos os outros cargos • Os cargos de coordenador de produção, coordenadora operacional e líder de qualidade estão subordinados ao Gerente de produção, Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 80 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... • A gerência de suporte técnico está ligada diretamente ao Diretor Geral • A gerência de RH está ligada diretamente à presidência da empresa As entrevistas foram realizadas no ambiente de trabalho do entrevistado, em local pouco sujeito a interrupções e interferências externas. Cada entrevista teve uma duração aproximada de meia hora, com algumas variações para mais e menos de 10 minutos causadas pela maior ou menor eloquência de cada entrevistado. Cabe ressaltar que todos os entrevistados foram extremamente cooperativos e gentis, contribuindo de forma muito positiva com a pesquisa. 3.1 SOBRE AS COMPETÊNCIAS DEFINIDAS PELA EMPRESA Buscando responder ao primeiro objetivo específico, foi pesquisada qual a avaliação da empresa sobre as competências operacionais dos montadores. Foi verificado com a direção da empresa e o departamento de RH que as competências estão redigidas num documento formal da empresa. Ao analisar o respectivo documento observa-se que não existem competências operacionais claramente definidas. Conforme estabelecido por Dutra (2004), existem no documento da empresa determinados conhecimentos, habilidades e atitudes para o montador, mas nota-se que as habilidades e atitudes não são diferenciadas, além disso, não existem definições de habilidades motoras, intelectuais e sociais conforme estabelecido por Leite e Goulart (2006). • ETAPA III – Análise dos dados Entre os dados coletados chamou a atenção o fato de que todos os entrevistados citaram competências de maneira geral, não se limitando somente às operacionais, como questionado pela entrevista. Nenhum dos entrevistados citou claramente o conceito sobre competências operacionais. Registra-se, também, o fato de que nenhum dos gestores explica o termo competências de acordo com o conceito estabelecido por Dutra (2004, p.30) que afirma que “Competências envolve um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para a pessoa exercer seu trabalho”. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 81 Não existe consenso entre os gestores sobre a concepção da empresa, pois, o gerente de produção afirma que as competências estão estabelecidas, porém, e sabendo-se que o coordenador de produção e a coordenadora operacional são subordinados a este gerente de produção, é de se estranhar o fato do coordenador de produção afirmar que “Estão em fase de formação” e a coordenadora de produção afirmar que “Devem estar, mas se estiver, com certeza está desatualizada”. Ou seja, dentro do setor de produção onde são produzidos os medidores eletrônicos, não existe alinhamento entre os gestores sobre o tema de pesquisa. Outro fato que merece destaque é o gerente de vendas afirmar que: “Devem estar concebidas, não sei”. Ou seja, o fato do gestor responsável pela venda dos medidores ao mercado nacional e internacional não ter conhecimento, se as competências de quem fabrica o produto que ele vende estão estabelecidas, reforça a falta de alinhamento entre os gestores da empresa. Verificou-se que somente o presidente, diretor geral, gerente de produção e gerente de RH, informam saber que existe na empresa um registro das competências operacionais dos montadores de medidores eletrônicos, o que demonstra falta de alinhamento na empresa. Constatou-se que o líder de qualidade e o gerente de suporte técnico, nunca tiveram acesso ao documento de registro das competências. Uma contradição observada, neste caso, é que estes gestores afirmam que as competências já se encontram concebidas pela empresa. Este fato reforça a ideia de que existe uma falta de alinhamento entre os gestores e consequentemente as orientações para os respectivos montadores. Buscou-se detectar qual era a avaliação dos gestores com relação às competências operacionais requeridas para os montadores. Cabe ressaltar que todos os entrevistados (num total de 9 pessoas) não se limitaram a responder somente sobre as competências operacionais, mas, de forma espontânea, responderam sobre as competências de maneira geral que consideram importantes para um montador de medidor eletrônico. O QUADRO 1 apresenta a avaliação de cada gestor sobre as competências dos montadores. Todas as competências apontadas pelos gestores na entrevista fazem parte deste QUADRO, com a correspondência do gestor ou gestores que a citaram. Observa-se claramente que, apesar do questionamento ter sido feito sobre as competências operacionais dos montadores, os gestores não se limitaram a falar somente das competências operacionais, mas também citaram outras competências. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 82 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... QUADRO 1 - AVALIAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS OPERACIONAIS PELOS GESTORES Cargo Presidente Avaliação Eles precisam de visão sistêmica, do conhecimento do todo, ou seja, saber o que o trabalho deles interfere para a empresa, conhecer bem do processo que fazem. Hoje a tecnologia é que impulsiona nossa empresa e os montadores precisam conhecer bem esta tecnologia. Ter habilidade e conhecimento para trabalhar com a tecnologia eletrônica é fundamental. Precisam de habilidades de montagem e conhecer os padrões operacionais que regem seu trabalho. Precisam ter um bom conhecimento técnico do produto e coordenação motora, além de prática na montagem, se possível de outras empresas. Meu foco maior esta nas competências dos gerentes e outros diretores da empresa. Eles precisam estar em sintonia um com o outro. Diretor Geral Gerente de Produção Tudo é uma cadeia só, os operadores precisam ter um conhecimento do todo, conhecer o padrão operacional do trabalho deles, ter habilidades de montagem e fazerem as coisas acontecerem. Eles precisam ter pelo menos primeiro grau completo. Nas competências motoras, vejo que quanto maior a prática para eles montarem, melhor. Eles precisam ter habilidades para soldar, precisam de habilidade para montar uma placa de circuito impresso, pois, às vezes, o componente vem montado errado ou até mesmo com defeito. Precisam ter um bom conhecimento da calibração final, pois, quem faz isso é o operador, a inspeção final é responsabilidade dele e dessa maneira que a empresa acha que deve acontecer: Eles têm que ser responsáveis por tudo, precisa resolver os problemas na hora que aparecerem, precisam consertar o problema no momento em que acontecer. O pessoal tem que ser mais mão na massa, ter vontade de fazer as coisas acontecerem, ter boas noções de informática, saber trabalhar em equipe e, sem dúvida, pró atividade, pois acontecem problemas todos os dias na linha de produção. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa Cargo 83 Avaliação Líder de Qualidade O medidor eletrônico foi um grande avanço da empresa. Sinto muito orgulho de participar disso e todos nós hoje precisamos para nos manter no mercado estar atentos a tecnologia que muda constantemente. Na minha opinião, ser competente hoje é saber se adaptar a esta tecnologia eletrônica que veio para ficar e cada dia nos surpreende com novas coisas. Mesmo com esta tecnologia eletrônica, não significa que o montador não precisa ser competente, pelo contrário, ele só tem que agora ter uma competência diferente. De maneira geral, os montadores precisam seguir o procedimento, pois existe um padrão operacional que deve ser seguido, eles não podem ficar inventando muito, é só seguir o procedimento, precisam ter organização, paciência para montar o medidor, resolver os problemas que aparecem na linha de produção todo momento. Saber trabalhar em equipe e estabelecer planos de ação para solução de problemas. Precisam ter pelo menos segundo grau completo, senão fica difícil para seguir os padrões operacionais. Em termos de habilidades motoras precisam ter habilidade manual, habilidade para soldar e habilidades para lidar com eletrostática na linha de produção. Gerente de Vendas Na minha visão, os operadores precisam ter nível mínimo de segundo grau completo, ter uma visão geral da empresa e também pensarem em inovações para melhorar a produção. Em termos de competências motoras, enxergo a habilidade de montar o medidor de maneira geral, eles precisam montar com qualidade o medidor porque preciso de muita produção para vender. Os pedidos estão crescendo muito a nível Brasil e exterior e não podemos perder esta oportunidade de vender muito. Não adianta também só ter habilidade motora, este pessoal precisa ter atitude pró-ativa e saber fazer as coisas bem feitas para não ter problema. Pró-atividade deles é fundamental. Coordenador de Produção Ele precisa ter muita coordenação motora e habilidade manual para trabalhar no processo do medidor eletrônico e no mínimo segundo grau completo. Ele precisa também ter habilidade com solda, pois precisa soldar alguns cabos e às vezes até componentes. É fundamental visão sistêmica da empresa e também ter habilidade de montar placa de circuito impresso caso seja necessário. A placa vem pronta do fornecedor, mas pode ser que em algum caso, seja necessário mexer nela. Estou avaliando uma matriz de treinamento para os operadores e acho que sua pesquisa vai me ajudar. Aqui na produção, estamos sentindo que precisamos definir melhor os treinamentos para o montador exercer seu trabalho com precisão. Mesmo com esta tecnologia eletrônica, não significa que o montador não precisa ser competente, pelo contrário, ele só tem que agora ter uma competência diferente. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 84 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... Cargo Avaliação Coordenador Operacional De maneira geral, na minha opinião, competentes eles são e muito, pois a todo momento produzem e realizam um trabalho que dá lucro para a empresa. Dá gosto de ver. Eles precisam conhecer a empresa como um todo. As habilidades operacionais são eles que vão adquirir, na prática do dia a dia do conhecimento que eles possuem, eles vão adquirindo estas habilidades. Eles precisam saber encaixar e conectar as peças, trabalhar com solda, pois tem que avaliar se a solda ficou bem feita e saber também trabalhar com estática na hora da operação. O ideal é que eles já tenham uma experiência mínima industrial com prática de montagem, só o segundo grau completo não adianta nada, mas pelo menos acho interessante o segundo grau. Eles precisam fazer de tudo aqui dentro: montam, aferem e testam os medidores. Eles precisam ter pró-atividade, saber trabalhar em equipe, ou seja, um ajuda o outro. Aqui dentro, nós somos uma família. Gerente Suporte Técnico A pessoa precisa possuir habilidade e um perfil para trabalhar com um produto eletrônico, pois este equipamento é muito mais sofisticado que o eletromecânico, requer muito mais precisão. Quando digo perfil, é ser organizada, saber lidar com equipamentos eletrônicos com estática, Além disso, precisa ter um conhecimento técnico básico do produto, só montar e não saber o que esta montando não e válido.Habilidade manual que pode desenvolver a medida que vai tendo mais pratica , saber olhar os resultados dos testes e dizer se estão bons ou não. O operador não mexe na placa eletrônica, portanto, precisa basicamente saber encaixar peças. A visão sistêmica da empresa e visão da importância dos clientes também e fundamental. Esse pessoal tem uma visão muito restrita e por isso, os problemas são muitos. Precisam ter muito mais habilidades e competências. Gerente de RH As habilidades motoras são as que constam na descrição de competências para estes operadores. De maneira geral, o operador precisa ter um treinamento mais refinado do medidor eletrônico, conhecendo a técnica mais de perto, ele precisa de mais visão sistêmica, saber como a empresa funciona e como o trabalho dele interfere para o futuro da empresa. Ele precisa se sentir fazendo parte do produto. Penso que a empresa ainda precisa consolidar a produção do medidor eletrônico e isto vai fazer os gestores darem mais atenção a eles, pois as exigências para os montadores de medidores eletrônicos são muito maiores do que para os montadores de medidores eletromecânicos. Quem se destaca no eletromecânico tem a chance de ir para o eletrônico. Agora, o produto é bem sensível e se não tiver coordenação motora e paciência, não dá certo. O produto é muito sensível e delicado, precisa ter muito cuidado para montar. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 85 Fonte: dados das entrevistas. Ainda em relação a este quadro, verifica-se que com relação às competências operacionais o foco desta pesquisa, pode-se retirar do quadro acima as seguintes indicações de competências apresentadas pelos gestores: habilidade manual, coordenação motora, prática em montagem, habilidade em montar placas de circuito impresso, habilidade com solda, habilidade com descargas eletrostáticas. Observa-se que não existe um consenso entre os gestores sobre estas habilidades motoras requeridas aos montadores. O QUADRO 2 apresenta as competências requeridas aos montadores de medidores eletrônicos na concepção dos gestores. Podese observar que não existe alinhamento entre os gestores. Observou-se que todos os gestores consideram preocupante a falta de alinhamento e embora o foco da pesquisa tenha sido competências operacionais, o presidente da empresa sinaliza preocupação com a falta de alinhamento entre os gestores, o que pode trazer impacto para a empresa não somente para o tema competências operacionais, mas também para outros temas de debate na empresa. QUADRO 2 - COMPILAÇÃO DAS RESPOSTAS DA AVALIAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS OPERACIONAIS PELOS GESTORES Fonte: dados da pesquisa. Vale ressaltar o fato de que o Gerente de Produção tem uma visão diferente sobre qualificação para demonstrar as competências, quando comparado com o coordenador de produção, assim como em relação à coordenadora operacional e o líder de qualidade. Ele defende a ideia de Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 86 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... que os operadores precisam ter pelo menos primeiro grau completo, e seus subordinados afirmam que esses operadores precisam de, pelo menos, o segundo grau completo. Lê Boterf (2003) aponta para o fato de que a noção de qualificação reconhece em uma ou mais pessoas capacidades requeridas para exercer uma profissão, um emprego ou uma função. Tais capacidades requeridas não estão alinhadas no departamento de produção. Outro dado importante são os relatos individuais dos gestores do departamento de produção, onde se constatam posicionamentos bem divergentes. Como exemplo cita-se o fato de que os coordenadores de produção e líder de qualidade afirmam que não existe alinhamento entre os gestores, enquanto o gerente acha estranho não haver, pois todos são da mesma empresa. As opiniões também são divergentes quanto à experiência em indústria eletrônica, como condição fundamental de qualificação para que o profissional desempenhe com eficácia as suas competências. O diretor geral e a coordenadora operacional citam como importante ter esta experiência, enquanto os outros gestores nada mencionaram sobre isso. Outro ponto de destaque é que todos os gestores afirmam que os montadores precisam ter uma visão sistêmica da empresa. Quando citado este item, todos foram unânimes em dizer que visão sistêmica seria conhecer a empresa como um todo e saber o que o trabalho deles influencia no futuro dela. Nota-se que, apesar de citado por oito gestores, este item não faz parte das competências requeridas aos montadores. 4 CONCLUSÃO A pesquisa realizada permitiu evidenciar que, na organização pesquisada, a maior preocupação, desde o início da produção do medidor eletrônico até o momento atual, foi com as competências gerenciais, em detrimento das competências do nível operacional. Os resultados mostraram uma fragilidade da empresa no que diz respeito ao conhecimento do corpo de gestores sobre competências operacionais. Evidenciou-se, também, que apesar de todos terem pelo menos o curso superior, conforme confirmado na entrevista informal feita junto à direção da empresa, e embora este dado não fosse alvo da pesquisa, chamou atenção do pesquisador o fato de que os gestores não têm qualquer informação sobre o conceito de competências. Nenhum deles citou o conceito de competências como sendo conhecimento, atitude e habilidade, segundo visão de Dutra (2004). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 87 Evidenciou-se que na organização pesquisada não existe uma relação entre as competências operacionais concebidas pela empresa para os montadores de medidores eletrônicos – e a avaliação dos gestores de níveis estratégico e tático sobre as mesmas, ainda que tais competências não sejam claramente definidas. Com relação às competências operacionais, ou habilidades motoras, algumas são citadas pelos gestores, tais como: habilidade manual, coordenação motora, prática de montagem, habilidade para montar placas de circuito impresso, habilidade com solda, habilidade com descargas eletrostáticas. Tais competências não são um consenso entre os gestores, o que reforça falta de alinhamento de pensamentos entre eles sobre as competências operacionais requeridas para o nível operacional. Tais resultados indicam que não foi possível, neste momento da empresa estudada, estabelecer quais competências operacionais serão mantidas, retiradas ou acrescentadas no documento formal da mesma. Cabe acrescentar mais algumas impressões do pesquisador a respeito do tema e também para futuros estudos. Foi evidenciado que existe uma preocupação dos gestores com relação à mobilização de conhecimentos e competências por parte dos montadores para fazer frente aos desafios do mercado. Tal impressão deve-se ao fato de que todos os gestores pesquisados não terem se limitado a citar somente as competências operacionais dos montadores, mas também citaram outras competências que, apesar de não estarem alinhadas entre eles, mostram que se preocupam com a preparação dos montadores de medidores eletrônicos. Essa preocupação parece ser válida devido à importância dada por estes profissionais. Contudo, fica uma questão para estudos posteriores no que diz respeito a investigar sobre a formação dos gestores e sua capacitação em termos de competências para que possam determinar de maneira eficaz não somente as competências operacionais, mas também, os conhecimentos, atitudes, habilidades sociais e intelectuais para estes profissionais. Espera-se que este estudo possa servir como uma das referências sobre competências do nível operacional nas empresas, assim como para que outros estudos complementares sejam conduzidos pela empresa estudada para aprofundar o entendimento das competências requeridas aos montadores de medidores eletrônicos. Por fim, tendo em vista que toda e qualquer organização do setor produtivo tem, em seus quadros, profissionais de níveis operacionais e, que, como tais, são diretamente responsáveis pela produção entende-se que necessário se faz difundir mais sobre competências para o segmen- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. 88 Competências Operacionais dos Montadores de Medidor... to operacional. Desta forma, pode-se contribuir para melhor alinhamento entre as competências organizacionais e gerenciais que, em geral, apresentam número expressivo de pesquisas e publicação, conforme foi alertado nos argumentos para a condução desta pesquisa. REFERÊNCIAS BOMFIN, D. F.; COSTA, M. T. R.. Competências operacionais: uma análise do banco de teses da CAPES, mimeo. 2008. DADOY, M.. As noções de competência e competências à luz das transformações na gestão da mão de obra. In: TOMASI, A. et al. Da qualificação a competência: pensando o século XXI. Campinas: Papirus, 2004. DUGUÉ, E.. A lógica da competência: o retorno ao passado. In.: TOMASI, A. et al. Da qualificação a competência: pensando o século XXI. Campinas: Papirus, 2004. p. 19-32. DUTRA, J. S.. Conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Atlas, 2004. FLEURY, M. T. L.. A gestão de competência e a estratégia organizacional. In: FLEURY, M. T. L. et al. As pessoas na organização. 6 ed. São Paulo: Gente, 2002. KOBER, C. M.. Qualificação profissional: Uma tarefa de Sísifo. Campinas: Autores Associados, 2004. LÊ BOTERF, G.. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre: Artmed, 2003. LEITE, A.; GOULART, I. B.. Competência na perspectiva do trabalho In: GOULART, I. B. (Org). Temas de psicologia e Administração. São Paulo: Casa do psicólogo, 2006. MARTINS, A. R. et al. Eficiência Energética: Integrando usos e reduzindo desperdício. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL e Agência Nacional do Petróleo -ANP, 1999. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. David Ferreira Bonfim e Marco Túlio Rodrigues Costa 89 NANSEN S/A. Instrumentos de precisão. Disponível em: <http:// www.nansen.com.br>. Acesso em: 04/02/2008. SCHERMERHORN, Jr.; JOHN, R.. Fundamentos de comportamento organizacional. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 1999. TOMASI, A. et al. Da qualificação a competência: pensando o século XXI. Campinas: Papirus, 2004. ZARIFIAN, P.. A gestão da e pela competência. In: Seminário internacional Educação profissional, Trabalho e Competências. Rio de Janeiro, 1996. ___________.. Objetivo e competência: por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2001. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 65-89, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 91 CULTURA E QUESTÃO DE GÊNERO NAS ORGANIZAÇÕES CULTURE AND GENDER IN ORGANIZATIONS ANA CAROLINA BUSTAMANTE ___________________________________________________________ mestranda em Organizações e Desenvolvimento da UNIFAE - UNIFAE – Centro Universitário Franciscano do Paraná GISLAINE TELES RODRIGUES POTTA ___________________________________________________________ mestranda em Organizações e Desenvolvimento da UNIFAE - UNIFAE – Centro Universitário Franciscano do Paraná. OSMAR PONCHIROLLI ___________________________________________________________ Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina e Professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da UNIFAE - UNIFAE – Centro Universitário Franciscano do Paraná. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 92 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 93 RESUMO Na chamada era industrial, da era Taylorista, a aceitação da mulher no mercado de trabalho era altamente restrita, mínima, o sexo masculino era quase que absoluto nas indústrias e fabricas. Mas as mudanças veem acontecendo em um ritmo nunca visto anteriormente. Verifica-se cada vez mais o ingresso do sexo feminino nas instituições de ensino superior e nas organizações. Entretanto esse percentual de inserção do sexo feminino ainda é muito baixo e inferior ao sexo oposto. Então se questiona: apesar de toda essa mudança até mesmo na cultura das organizações, porque ainda existe um diferencial tão substancial entre os sexos no que tange o mercado de trabalho? Para tanto este artigo tem como objetivo analisar a disparidade de sexo e suas relações de trabalho nas organizações, a partir do estudo da cultura no conceito da antropologia e nas teorias organizacionais. Verificando as transformações sociais a partir da inserção da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho e em outros segmentos. Analisando os impactos econômicos-políticos e sociais, segue um panorama de perspectivas de melhorias tanto para a mulher quanto para a sociedade. A metodologia utilizada neste artigo possui caráter descritivo, pois expõe características de determinado assunto ou fenômeno, buscando explicá-lo e estabelecer correlações entre as variáveis. Após toda a pesquisa efetuada a diversos autores, observou-se que embora a mulher esteja conseguindo aumentar a sua participação no mercado, essa ainda é muito pequena, necessitando de maiores transformações na maneira de pensar dos autores das organizações, na sua cultura e uma incessante busca por parte do sexo feminino em se sobressair neste mercado. Palavras-chave: Cultura, Educação, Gênero, Organização, Trabalho. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 94 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações ABSTRACT In so-called industrial era, Taylorist era, the acceptance of women in the labor market was highly restricted, the male was almost absolute in the industries and factories. But the changes is happening as we never seen before. It is increasingly the entry of women in higher education institutions and organizations. However, this percentage insertion female is still very low and below the opposite sex. Then the question: despite all this change even in organizational culture, why there is still a very substantial difference between the sexes in the labor market? This paper is to analyze the difference in sex and their working relationships in organizations, from the study of culture in the concept of anthropology and organizational theories. Checking the social changes from the insertion of the labor force of women in the labor market and other segments. Analyzing the impacts of economic and social policy, follows an overview of prospects for improvements to both the woman and for society. The methodology used in this article is descriptive, because it exposes the characteristics of a subject or phenomenon, seeking to explain it and to establish correlations between variables. After all the research done several authors observed that although the woman is able to increase their market share, this is still very small, requiring major changes in the minds of the authors in organizations, in their culture and a relentless quest for the female to excel in this market. Keywords: Culture, Education, Gender, Organization, Work. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 95 1 INTRODUÇÃO O estudo das questões relacionadas às mulheres vem ganhando cada vez mais espaço em diversas literaturas como sociais, organizacionais, econômicas, dentre outras. O interesse por este tema se deve a diversos fatores como mudanças nos hábitos culturais, comportamentos e pensamentos ocorridos a partir do século XX. Uma mudança cultural que marcou bastante foi o fato da transformação do papel da mulher de dona de casa, responsável por apenas afazeres domésticos, para um horizonte que se abria com oportunidades de trabalho remunerado. As mulheres foram ganhando espaço no mercado de trabalho, embora ainda exista uma diferença de gênero no que tange as atividades e remunerações. Diante deste contexto, o presente artigo promove uma visão do ambiente organizacional e de sua cultura, uma vez destacando a questão de gênero recorrente da disparidade do sexo nas organizações. Quando se fala da inserção da mulher no mercado de trabalho é imprescindível destacar a divisão sexual do trabalho em que a partir dos anos 80 surgem diversos estudos sobre a participação feminina no trabalho, sendo ainda difícil encontrar dados precisos não somente da participação feminina, mas da valorização do seu trabalho e elucidar os desafios enfrentados pela mulher em diversos setores – familiar, social, profissional. A entrada da mulher no mercado de trabalho é mais recente que a do homem, porém com a inserção da mão-de-obra feminina tanto no mercado de trabalho quanto em outros segmentos, provocaram mudanças profundas na sociedade como: econômicos-políticos e sociais. Embora haja as disparidades do sexo, luta de classe e gênero, mulher submissa ao homem, inferiorizada, duplamente explorada pelo capital, é a mulher capaz de lutar por sua emancipação e fazer uma ação transformadora contra as formas histórico-sociais da opressão masculina, a nova realidade surge desenhada, com novas conquistas e novos valores, buscando uma sociedade mais democrática, onde as diferenças sejam livremente, expressas aceitas e utilizadas nas relações entre homens e mulheres, pois vivemos em um cenário dinâmico e competitivo, as mudanças acontecem em velocidade nunca antes vivenciada, a educação passa a ser um fator chave para a mudança de cultura, para a quebra do paradigma de que apenas o sexo masculino pode ocupar cargos elevados nas organizações, cada vez mais se verifica o ingresso feminino nas instituições de ensino superior em cursos que antes eram ocupados apenas pelo sexo oposto, é a mulher conquistando seu espaço pela educação. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 96 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações 2 A EDUCAÇÃO E CULTURA NAS ORGANIZAÇÕES 2.1 A EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA DA CULTURA As mudanças na sociedade ocorrem como processos históricos norteadas em ações de: romper, adaptar, inovar, reelaborar, dar respostas novas às mesmas situações, mas que também são capazes de criar situações novas (FREITAS, 2000). Assim surgem as mudanças no processo cultural, social e histórico, cada vez mais aceleradas, diferente das outras mudanças ou até mesmo do desenvolvimento, a complexidade é vivenciada num contexto dinâmico, com elementos das forças sociais numa sociedade em produção contínua e inacabada. Temos uma educação que em todos os cantos do mundo está na berlinda, os educadores tem uma gama de aprendizagem e ao mesmo tempo criados pela complexidade, questiona-se a rapidez de informação com que são afirmados, integrados (FREITAS, 2000, p. 21) e tentam contribuir para que os alunos desenvolvam a capacidade de aprenderem com as próprias circunstâncias e que o aluno aprenda a aprender. A mudança cultural e educacional provoca um choque entre duas instituições: família e escola: Duas grandes cobranças têm sido feita às escolas, e elas estão sem saber agir. A primeira diz respeito ao seu papel como substituto da família e daquilo que era transmitido às crianças durante a primeira infância. Quer-se deixar a cargo da escola o aspecto afetivo, formador da auto-estima, e também a noção de limites. Formadora de responsabilidade para consigo e para com os outros, mas ela não tem estrutura para assumir uma tarefa desse porte. [...] A segunda cobrança está diretamente ligada à primeira, mas é de caráter moral: ou seja, a família, escudada na religião, era responsável pela transmissão dos conteúdos que fundam uma ética, uma responsabilidade, uma noção de transcendência, uma imagem do outro. Sem “família” e sem “religião”, caberia às escolas fornecer os inputs para o desenvolvimento moral dos futuros adultos. (FREITAS, 2000, p. 21). Vivemos numa sociedade dinâmica, com tecnologia de informação em tempo real e o conhecimento é cada vez mais provisório, instrumentalizado e fragmentado. A utilização do conhecimento está conforme sua valorização de “serve ou não serve”, para ser ensinado e aprendido conforme sua prática. Lembrando que a escola é o primeiro lugar de competição, a capacidade adaptativa e o melhor aproveitamento do tempo, ajuda a melhorar a qualidade do competidor, o mundo mais competiti- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 97 vo prepara a criança desde cedo para uma sociedade de ganhadores e perdedores. (FREITAS, 2000). Estamos numa crise, em que se discute sobre educação e cultura buscando caminhos e respostas para conduzirem novas ações, ao novo mundo altamente competitivo, formando pessoas desde cedo para competirem entre si, em que todo o conhecimento disponível deve ser capitalizado, no critério da utilização de que serve ou não serve para a prática. E esse novo mundo competitivo muitas vezes pode gerar um entendimento errôneo do que vem ser a cultura, pois a cada momento é uma nova exigência imposta por supostas regras da sociedade e as pessoas tendem muitas vezes a perder a noção de valores, atitudes, entre outros. Diante disso, se faz necessário apresentar os conceitos abordados por diversos autores sobre a terminologia cultura. 2.2 O PROCESSO DE CULTURA E ORGANIZAÇÃO A cultura é um conceito multifacetado, difícil de ser medido e complexo, ao mesmo tempo existe uma variedade de definições para cultura. Viajemos pelos antecedentes históricos do conceito de cultura e encontramos uma definição segundo Edward Tylor1 (1958, apud LARAIA, 2001, p.25) “tomado em seu amplo sentido etnográfico é esse todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo jovem como membro de uma sociedade”. Torna-se assim base da cultura como o indivíduo sendo o perpetuador da cultura fortemente marcada pelo caráter de aprendizagem em oposição a ser transmitido por mecanismos biológicos, por sua vez Tylor define pela primeira vez o conceito de Cultura. Lembrando que para Tylor a cultura é todo comportamento que pode ser aprendido, tudo aquilo que independe de transmissão genética, do ponto de vista da antropologia é um fenômeno natural. Segundo Edward Tylor (1958, apud LARAIA, 2001, p.30-32): Nossos investigadores modernos nas ciências de natureza inorgânica tendem a reconhecer, dentro e fora de seu campo especial de trabalho, a unidade da natureza, a permanência de suas leis, a definida sequência de causa e efeito através da qual depende 1 Edward Taylor, 1871 Primative Culture, Londres, John Murray & Co. Nova Iorque, Harper Torchbooks. 1958 parte I, p.1]. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 98 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações cada fato. Apoiam firmemente a doutrina pitagoriana da ordem no cosmo universal. Afirmam, como Aristóteles, que a natureza não é constituída de episódios incoerentes, como uma má tragédia. Concordam com Leibniz no que ele chamou “meu axioma, que a natureza nunca age por saltos”, tanto como em seu “grande princípio, comumente pouco utilizado, de que nada acontece sem suficiente razão”. Nem mesmo no estudo das estruturas e hábitos das plantas e animais, ou na investigação das funções básicas do homem, são ideias desconhecidas. Mas quando falamos dos altos processos cio sentimento e da ação humana, do pensamento e linguagem, conhecimento e arte, uma mudança aparece nos tons predominantes de opinião. O mundo como um todo está fracamente preparado para aceitar o estudo geral da viela humana como um ramo ela ciência natural. Para muitas mentes educadas parece alguma coisa presunçosa e repulsiva o ponto de vista de que a história da humanidade é parte e parcela da história da natureza, que nossos pensamentos, desejos e ações estão eles de acordo com leis equivalentes àquelas que governam os ventos e as ondas, a combinação elos ácidos e das bases e o crescimento das plantas e animais. Continuando a passear pelo desenvolvimento do conceito de cultura Laraia percorre pesquisando um antropólogo americano chamado Alfred Kroeber2 (1876-1960) que se preocupa em evitar a confusão entre orgânico e cultural, mostrando como a cultura atua sobre o homem: O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (ALFRED KROEBER, 1949, apud LARAIA, 2001, p.45) Com isso verifica-se que o processo de conceituação do que é cultura não circula somente no âmbito etnográfico, natural, e orgânico, é fragmentado por várias reformulações até chegarmos às teorias modernas sobre cultura e o que se aplica no meio organizacional. Para Laraia (2001) a perspectiva das teorias modernas é facilitada quando se estuda o antropólogo Roger Keesing3 que apresenta em seu artigo “Theories of 1 2 Alfred Kroeber, 1949, “O Superorgânico”, in Donald Pierson (org). Estudos de organização social São Paulo: Livraria Martins, p.231-81. Roger Keesing, 1974, “Theories of Culture”. Annual Review of Anthopology, vol.3.Palo Alto. California. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 99 Culture” um esquema que classifica as tentativas modernas de se obter uma conceituação: 1. “Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante.” 2. “Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação equivalente à seleção natural.” (“O homem é um animal e, como todos os animais, deve manter uma relação adaptativa com o meio circundante para sobreviver. Embora ele consiga esta adaptação através da cultura, o processo ê dirigido pelas mesmas regras de “seleção natural que governam a adaptação biológica.” B. Meggers, 1977) 3. “A tecnologia, a economia de subsistência e os elementos da organização social diretamente ligada à produção constituem o domínio mais adaptativo da cultura. É neste domínio que usualmente começam as mudanças adaptativas que depois se ramificam. Existem, entretanto, divergências sobre como opera este processo. Estas divergências podem ser notadas nas posições do materialismo cultural, desenvolvido por Marvin Harris, na dialética social dos marxistas, no evolucionismo cultural de Elman Service e entre os ecologistas culturais, como Steward.” 4. “Os componentes ideológicos dos sistemas culturais podem ter consequências adaptativas no controle da população, da subsistência, da manutenção do ecossistema etc.”. (ROGER KEESING, 1974 apud LARAIA, 2001, p.59-60) Para Srour (1998) a cultura organizacional assume forma decifrável, é moldada as representações imaginárias, símbolos das imagens e das ideias, configurando relações entre os agentes coletivos bem definidos. Os modelos mentais são representados pelas práticas cotidianas e apenas com uma observação mais profunda pode ser revelada: Suas manifestações assumem formas variadas: princípios, valores e códigos; conhecimentos, técnicas e expressões estéticas; tabus, crenças e pré-noções; estilos, juízos e normas morais; tradições, usos e costumes; convenções sociais, protocolos e regras de etiqueta; estereótipo, clichês e motes; preconceitos, dogmas e axiomas; imagens, mitos e lendas [...]. (SROUR, 1998, p.168 -169). A cultura é interligada pelos seus membros como uma teia da aranha, formam-se modelos mentais coletivos cheios de definições e saberes, Srour descreve sendo: “um sistema coerente de significações e fun- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 100 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações ciona como um cimento que procurar unir todos os membros em torno dos mesmos objetivos e dos mesmos modos de agir”. A cultura organizacional expressa sua identidade e são as mais variadas possíveis, quando acontecem casos de fusões, incorporações de empresas, cada tipo de cultura mostra sua cara, e a maneira de ser. Neste momento, um choque-cultural acontece e até pode paralisar as atividades da empresa, devido fortes resistências de seus membros os quais deflagram padrões culturais diferentes ficando-os desorientados. Nossa sociedade está em constante transformação, com isso a estrutura organizacional também tem que se adaptar às mudanças, e surge na cultura organizacional os valores, substituídos pelo poder institucional, expresso na adesão a missão da empresa e na responsabilidade interiorizada no sujeito. A empresa desenvolve uma cultura que estimula cada vez mais seus membros a exercerem maior controle de suas atividades e superação de metas, tornando o sujeito mais participativo. Para Freitas (2000, p.76) a interiorização do sujeito é cada vez mais frequente: A sutileza do controle se reflete também na disseminação da crença de que todos podem ser herois. Considerando cada um de seus membros a encarar a sua vida como “um capital a dar retorno”, “um projeto a realizar”, ou ainda, a ser “o empreendedor de sua própria vida”, a organização moderna tenta criar um vínculo baseado na cumplicidade e na “perfeita” convergência de interesses entre o indivíduo e a organização, especialmente quando ela se apresenta como único lugar onde se pode realizar a conquista. No cenário atual há uma busca constante por melhorias contínuas, o mercado global exige práticas mais acirradas, eficientes, modernas, as quais proporcionem resultados rápidos para as organizações. Para que ocorram essas transformações a cultura organizacional compreende um conjunto de forças (normas, regras, crença, valores e expectativas) importantes que influenciam o comportamento organizacional, mas não podemos confundir cultura organizacional com clima organizacional. Segundo Srour (1998, p.176) o clima é subjetivo e não representa os modos institucionais de agir e pensar, as regularidades simbólicas da coletividade, o clima é apenas um termômetro um flash de sua conjuntura. Já a cultura organizacional constitui num sistema de referências simbólicas e molda as ações de seus membros segundo um certo figurino. No entanto há uma busca constante por melhoria contínua, o mercado global exige práticas mais acirradas, eficientes, modernas, as quais Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 101 proporcionem resultados rápidos para as organizações. Para que ocorra transformação é preciso fazer uma auto-análise, conhecer seus traços de cultura, que contribuirá para um futuro gerenciamento das mudanças organizacionais. Porém as organizações muitas vezes se preocupam demasiadamente com a concorrência, buscando maior agilidade nos resultados, fazendo diversas alterações internas e se esquecem do seu capital mais importante, o intangível, o ser humano. Muitas vezes essas transformações exigem demasiadamente dos funcionários e esses por necessitarem tanto das organizações, se submetem ao exaustivo trabalho, pois enxergam nas organizações seu meio de sobrevivência. 2.3 RELAÇÕES HUMANAS, PSICANÁLISE E CULTURA ORGANIZACIONAL Para Motta e Freitas (2000, p. 42) as empresas têm cada vez mais importância na vida dos indivíduos e as relações estabelecidas no mundo do trabalho tendem a monopolizar a vida social dos sujeitos. Na verdade o indivíduo busca mais que relação de trabalho, recompensa financeira e status do que a empresa pode lhe proporcionar. No ambiente de trabalho o indivíduo consegue construir seu social e sua estima, tendo uma relação tanto afetiva quanto psicológica com o trabalho. Nas organizações não existe só o trabalho, nelas são construídas as relações humanas, desejos e aspirações podem encontrar espaço para se realizarem e onde a excitação e o prazer da conquista convivem com os pesadelos e angústias do fracasso. Isso mostra que há vida nas empresas (organizações) o ser humano não é máquina, ele sonha e realiza sonhos, expressa alegrias, frustrações, inquietações, grandiosidade e fragilidades, e é na empresa que ele vai ter possibilidades de realização da fantasia e da conquista, do reconhecimento e do poder, atingindo seu ideal. (MOTTA E FREITAS, 2000, p. 43) As relações humanas são complexas e surge a inquietação em compreender a natureza dos vínculos psicológicos e afetivos que se desenvolvem na relação indivíduo/empresa, como laços de lealdade e adesão, é de extrema importância uma análise ancorada no conhecimento psicanalítico, para desvendar essa vida que há nas organizações, pelo simples fato da descoberta do inconsciente marcar um momento revolucionário no domínio do conhecimento e das ciências humanas que sofrem modificações dia após dia. Sendo assim, através da abordagem da psicanálise os fenômenos organizacionais, são compreendidos e é re- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 102 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações cente a compreensão desses aspectos imaginários e simbólicos, pois até então negligenciados. Segundo Motta e Freitas (2000, p. 44) as organizações não criam as estruturas psíquicas dos indivíduos, mas delas se utilizam. As empresas exercem enorme poder de atração sobre os indivíduos, pois é ali que elas realizarão seus desejos, fantasmas e temores, sendo estas fontes de prazer e motivação, aprovação e desaprovação, aceitação, rejeição, capaz de reconhecer atributos ímpares do indivíduo e capitalizar para a realização de seus objetivos, como retrata um estudo de Pagés que analisa numa empresa “hipermoderna”, o entrelaçamento das dimensões econômicas, políticas, ideológicas e psicológicas, citado por Motta e Freitas (2000, p. 65): Eles tratam a organização como um sistema de mediação de contradições, no qual ela assume o lugar da mãe e busca captar o ideal de ego de seus membros. A dominação que se exerce sobre o indivíduo só é possível pelo fato de a organização ter capacidade de influenciar o inconsciente de seus membros, fazendo deles aliados na busca de poder e de perfeição, razão pela qual os indivíduos se veem como sujeitos de seus desejos e de suas ações. A cultura organizacional age como instrumento de poder institucional e como conjunto de representações imaginárias, projeta valores e missões, através de elementos culturais, personifica-se e tornam-se onipotente, as empresas aparecem como perfeitas e fazem com que os indivíduos a idealizem e pensem que ali é o único lugar onde eles podem almejar realização profissional, garantir sua fonte de identidade pessoal. É possível verificar a fragilidade do indivíduo perante a grandeza e potência da organização, que usa o indivíduo, envolvendo-lhe numa trama de idealização desde que ele seja parte dela. Tornando o imaginário do sujeito em real, através de uma conciliação ilusória do indivíduo frágil, desejoso e carente de amor com a empresa forte e potente, que pode preenchêlo (MOTTA E FREITAS, 2000). Contudo é importante ressaltar que a cultura organizacional continua sendo objeto de estudo para o entendimento das relações humanas, como um sistema cultural, simbólico e imaginário de grandiosa e inestimável riqueza e complexidade, formando vínculo social, com desejos, frustrações, crenças, valores e normas, para serem compartilhados entre os membros da organização. Tendo este artigo o objetivo de apresentar principalmente a questão do gênero nas organizações, foram apresentados os temas adjacen- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 103 tes a este artigo para que neste momento possam ser correlacionados os temas na questão do gênero, para tanto se faz primeiramente um breve histórico da inserção da mulher no mercado de trabalho, sua evolução e a questão cultural. 3 MULHER NO MERCADO DE TRABALHO 3.1 BREVE HISTÓRICO Historicamente, antes da era cristã, o espaço de trabalho da mulher, esteve restrito às atividades domésticas. Era de sua responsabilidade a alimentação e higiene dos homens e crianças. Na idade média o trabalho era dividido por categorias, sendo as solteiras responsáveis por lavar e tecer, as mães eram responsáveis por cuidar das crianças, as mulheres de meia idade eram responsáveis pela cozinha e pelas tarefas junto aos adolescentes. Ainda existia a categoria das mulheres de camponeses que além de serem responsáveis pelas tarefas domesticas, ainda tinham que ajudar seus maridos na agricultura. (MENICICCI, 1999). Ainda de acordo com o autor, no período compreendido entre os séculos XVI e XVIII, a mulher casada, mas principalmente as solteiras da Europa Ocidental, já tinham atividades fora do lar, trabalhavam no comércio ou como prestadoras de serviços domésticos nos clãs de terceiros, como faxineiras, lavadeiras e amas. Eram mulheres que faziam parte das classes mais baixas. E no final do século XVIII, há uma expressiva migração do campo para a cidade, surgindo o proletariado feminino que se caracteriza pelo trabalho feminino em domicilio. No período da Revolução Industrial, com a entrada de máquinas e consequentemente redução da exigência de força física, intensifica-se o trabalho feminino, pois as fábricas abrem as suas portas para esse gênero de trabalhador. Porém sua entrada já se faz com salário defasado devido o fato de as considerarem ainda não qualificadas e outro fato é que as indústrias aceitavam mulheres solteiras ou que ainda não tivessem filhos preferencialmente, pois para as empresas, era impossível combinar trabalho com afazeres domésticos familiares (amamentação e cuidar dos filhos). No final do século XIX, com o desenvolvimento dos setores comerciais e de serviços, foram criados postos de trabalho considerados femininos como secretária, enfermeiras, professoras, dentre outros. O mercado de trabalho dividiu as atividades sexualmente, reservando para Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 104 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações as mulheres trabalhos determinados que fossem caracterizados por sua inferioridade hierárquica com salários menores. A força de trabalho era sexualmente segregada. (NOGUEIRA, 2004). No Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, Um grande contingente de mulheres ocupa posições não qualificadas, com vinculo empregatício e condições de trabalho precários, mal remunerados e sem proteção social. (ARAUJO, 2001, p.133). O cenário econômico e cultural se alterou consideravelmente, causando uma mudança também significativa no comportamento da mulher, pois essa passou a ter mais informações, começou a trabalhar e estudar. A participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro ampliou-se significativamente nas últimas décadas do século XX, o aumento da força de trabalho da mulher foi de forma linear e alheia às flutuações das atividades econômicas. Na década de 1990, essa tendência foi mantida e a mulher continuou ampliando sua participação, a absorção de mão-deobra feminina tem sido superior a masculina em todas as fases recentes da economia brasileira, sendo que esta participação tem aumentado cerca de 15% por década (ARAUJO, FONTENELE-MOURÃO, 2007). 3.2 DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO: MUDANÇA DE PENSAMENTO E CULTURA Verifica-se que a divisão do trabalho é explicada pela cultura num dado ambiente, a antropologia tem mostrado que muitas atividades atribuídas às mulheres em uma cultura podem ser atribuídas aos homens em outra. Para Laraia (2001) isso é um fato: “A verificação de qualquer sistema de divisão sexual do trabalho mostra que ele é determinado culturalmente e não em função de uma racionalidade biológica”. (2001, p. 19). Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada. (Laraia, 2001, p. 20). Humprey (1987, p.229) cita que a divisão sexual de trabalho é um processo que não se resume a alocar homens e mulheres em estruturas ocupacionais e postos de trabalho pré-definidos. A partir do momento em que eles ingressam no mundo do trabalho, ainda no processo de recrutamento e seleção, os mesmos já são classificados pelos gestores de forma Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 105 diferenciada como homens e mulheres no trabalho ou trabalhadores e trabalhadoras, ocasionando assim uma identidade cultural, isto é, a mulher adquire muitas vezes a rotulagem de força de trabalho secundária, devido à “cultura” da entrada da mulher no mercado de trabalho estar associada basicamente aos papeis domésticos que sempre desempenharam. O estudo de gênero e classe nas organizações segundo Antunes (2000), permite constatar que vivenciamos uma construção social sexuado, onde homens e mulheres que trabalham são, desde a família e a escola, diferentemente qualificadas e capacitadas para o ingresso no mercado de trabalho. Em muitos países há pouco tempo atrás, existia uma desigualdade salarial entre os sexos muito grande quando comparada a nossa realidade atual. As mulheres recebiam menos, pois precisavam apenas de “salário para viver”, já que eram sustentadas por seus maridos. O mesmo ocorre com os direitos e condições de trabalho: as atividades de concepção ou aquelas baseadas em capital intensivo são exercidas pelo trabalho masculino, enquanto as atividades de menor qualificação, mais elementares e muitas vezes fundadas em trabalho intensivo, são destinadas às mulheres. A mulher trabalhadora tem uma jornada dupla de trabalho dentro e fora da fábrica, ela é duplamente explorada pelo capital (ANTUNES, 2000). Devido a esses fatores culturais a mulher teve que se impor neste mercado de trabalho tão masculinizado. Os dados que se referem à evolução do emprego feminino em vários países, demonstra uma mudança cultural, a participação feminina no mercado de trabalho vem aumentando consideravelmente. Este contínuo crescimento da participação feminina é explicado por uma combinação de fatores econômicos e culturais. O avanço da industrialização transformou a estrutura produtiva, proporcionando um aumento das possibilidades das mulheres encontrarem postos de trabalho. As mulheres se empregam e entram na disputa por cargos cada vez melhores e estão se tornando responsáveis por parte dos gastos familiares por meio de salários. Visualiza-se que a taxa de participação feminina no mercado de trabalho tem aumentado consideravelmente nos últimos 30 anos, como também o tempo que elas dedicam ao trabalho remunerado, sua participação na renda familiar e sua trajetória profissional. Embora tenha ocorrido maior inserção feminina no mercado de trabalho, ainda são persistente e significativa as diferenças salariais entre homens e mulheres e as estatísticas apontam que as mulheres apresentam nível de escolaridade superior à dos homens e que estão ocupando cada vez mais posições de chefia em níveis mais baixos (ARAUJO, FONTENELE-MOURÃO, 2007, p. 145). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. 106 Cultura e Questão de Gênero nas Organizações Verifica-se que cada vez mais o reconhecimento dos direitos das mulheres ao mercado de trabalho é ampliado, estudos analisam se há diferenças nas formas diferentes de compreensão e de explicação do gerenciamento realizado por mulheres, pois as mulheres estão adaptando as experiências obtidas no desempenho dos papeis femininos em sua vida pessoal, correspondendo às mudanças atuais das organizações seja como forma de auto-realização, autonomia pessoal e ou como forma de contribuir para o sustento e sobrevivência de sua família (ARAUJO, FONTENELE-MOURÃO, 2007). Apesar de todos os esforços e da evolução da mulher no mercado de trabalho, ainda sim, ela é relegada a uma posição secundaria nesse mercado, a questão de gênero ainda é muito presente nas organizações e em nossa sociedade as relações de poder entre homem e mulher está presente na socialização desde o ambiente familiar até ao escolar, refletindo como se relaciona emocionalmente organizam-se socialmente e se definem intelectualmente, enaltecendo o sistema social como fonte de subordinação e alienação. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sendo uma pesquisa ampla e complexa, que surge de uma inquietação em busca de uma caminhada pela igualdade de gênero nas organizações, sistematizada pelo entendimento multifacetado da cultura organizacional e seus estudos priorizando o imaginário do sujeito e trazendo para a discussão como os indivíduos são utilizados e manipulados pelos objetivos da organização, é compreensível analisar o conjunto de regras, valores, mitos, símbolos, que são interiorizados por homens e mulheres e que passam a maior parte de suas vidas, envolvidos com a cultura da empresa, e as empresas retiram desses indivíduos sua subjetividade, interioridade e o universo inconsciente do sujeito. Fica claro que nesse aspecto a mulher e o homem estão em igualdade, porém observou-se pelo histórico-social na divisão sexual do trabalho que a mulher ainda terá que carregar sua dupla jornada e, contudo ter conseguido sua emancipação parcial frente à exploração do capital e da opressão masculina, a mulher ainda tem o desafio de se emancipar do domínio do capital, o qual tem intensificado a desigualdade, ou seja, ainda terá que continuar lutando para cada vez mais ser reconhecida, derrubando o tabu da divisão sexual que ainda prioriza o sexo masculino. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Ana Carolina Bustamante, Gislaine Teles R. Potta e Osmar Ponchirolli 107 Este artigo pode ser considerado um ensaio de uma busca incessante de respostas a este tipo de questionamento e situação, porém este tema não se esgota por aqui, pois se trata de um tema vasto que nos permite diversas ramificações de pesquisa. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000. ARAUJO, Adriane Reis de, FONTENELE-MOURÃO, Tânia. Trabalho de mulher: mitos, riscos e transformações. São Paulo: LTr, 2007. ARAUJO, A. M. C. Apresentação do dossiê gênero no trabalho. Cad Pagu, 2001. FREITAS, Maria Ester de. Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma? 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. HUMPHREY, J. Trabalho no terceiro mundo: a divisão sexual nas indústrias brasileiras. Londres: Tavistock, 1987. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14 ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001. MOTTA, Fernando C. Prestes e FREITAS, Maria Ester de. Vida psíquica e organização. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. NOGUEIRA. C. M. Feminização no mundo do trabalho. Campinas: Autores Associados, 2004. SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 91-107, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 109 QUALIDADE E MARKETING: ASPECTOS CONVERGENTES DA ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA DE ARAPONGAS – PARANÁ QUALITY AND MARKETING: CONVERGING ASPECTS OF THE BUSINESS STRATEGY OF THE FURNITURE INDUSTRY OF ARAPONGAS - PARANÁ MAURA REGINA FRANCO ___________________________________________________________ Administradora de Empresas, Mestre em Administração, Doutora em Engenharia Florestal, Professora na Universidade Federal do Paraná GHISLAINE MIRANDA BONDUELLE ___________________________________________________________ Engenheira, Mestre e Doutora em Engenharia Florestal, Professora na Universidade Federal do Paraná PAULO EDUARDO SOBREIRA MORAES ___________________________________________________________ Engenheiro Químico, Licenciado em Administração, Mestre em Tecnologia, Doutor em Engenharia Florestal, Professor na Universidade Federal do Paraná Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 110 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 111 RESUMO As necessidades do consumidor quanto a padrões de qualidade de produtos moveleiros carecem de maior ponderação junto às empresas da área como estratégia organizacional de gestão da qualidade. Assim, cada mercado e cada segmento deste propiciam às organizações moveleiras a oportunidade de estabelecer princípios pelos quais se orientar, constituindo-se em oportunidade para o desenvolvimento do produto e da instituição. Deriva deste conveniente estado de mercado à oportunidade de evidenciar padrões de qualidade de produto que atendam aos diversos tipos de consumidores. Palavras chave: Qualidade, estratégia, produtos moveleiros. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 112 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... ABSTRACT Customer’s needs in that what refers to quality patterns of furniture products require more reflection from furniture companies as an organizational strategy of quality management. However, the creation of such patterns requires an adequate view on the part of organizations concerning the acceptance of their products in the market. This way, each market and each segment of this market provide the furniture companies the opportunity to establish guiding principles, creating opportunities for the development of the product and the institution. The opportunity to highlight product quality patterns which meet the demands of different kinds of customers stem from this convenient market state. Keywords: Quality, strategy, furniture products RIASSUNTO Le necessità del consumatore rispetto allo standard di qualità dei prodotti mobili richiedono la più grande ponderatezza dalle aziende come una strategia organizzativa di gestione della qualità. Tuttavia la standardizzazione delle biette richiede una visione appropriata rispetto all’accettazione di loro prodotti dal mercato. Ciascuno mercato e ciascuno settore permettono alle imprese mobili di stabilire dei principi su cui si guideranno, quello che diventa un’opportunità di perfezionamento dei prodotti e dell’impresa. Deriva di queste propizie condizioni del mercato l’opportunità di evidenziare standard di qualità di prodotti che soddisfacciano tutti i tipi di consumatori. Parole-chiave: Qualità, strategia, prodotti mobili Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 113 INTRODUÇÃO Para as empresas, trabalhar com parâmetros de qualidade pode trazer benefícios, como por exemplo às certificações, conforme aponta BONDUELLE (1997; p. 21) em sua tese. “A certificação é o reconhecimento por um órgão oficial que trata da conformidade do sistema de qualidade de uma empresa com relação às normas ISO 9000. Ela não trata do reconhecimento de um produto, de um processo ou de uma pessoa com relação às exigências de um referencial internacional. A certificação é um elo entre o cliente e fornecedor que garante a performance da empresa. Atualmente, obter a certificação tornouse uma forma de marketing para a empresa, pois mesmo que a certificação não garanta a qualidade do produto, ela promove a organização do processo através da sua documentação. A qualidade também é fator de relevância para o desenvolvimento empresarial e parâmetro de escolha para os clientes, seja ele de baixa ou grande escala, KOTLER (2000). Assim, identificar parâmetros de qualidade no pólo Moveleiro de Arapongas, bem como os fatores de sua implementação ou não, torna-se um referencial relevante para o desenvolvimento empresarial no setor. E, afinal, o desenvolvimento empresarial com qualidade é uma meta social, na argumentação de MAXIMIANO (2002). A qualidade na visão de PARANTHAMAN (1990) não apresenta somente o significado de um resultado final bem sucedido, tanto para um processo, bem como para um produto. Porém é pertinente salientar que tanto os consumidores finais e empresários esperam por parâmetros de qualidade satisfatórios, com o intuito de atingirem seus objetivos pessoais e organizacionais, respectivamente. À palavra qualidade podem ser atribuídos dois significados distintos a saber: • Qualidade da conformidade e • Qualidade do projeto. Em argumentação bastante pertinente PALADINI (2004; P. 225), aborda: “A Gestão da Qualidade compreende muitos conceitos. Com efeito, fazendo uma análise de textos extraídos de livros, artigos, normas, diretrizes e procedimentos formais das empresas, nota-se grande diversidade de definições acerca da Gestão da Qualidade. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 114 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... Essa variedade de conceitos interfere diretamente nos processos de implantação por razões compreensíveis, afinal, as ações práticas da empresa decorrem de políticas, decisões e métodos que, por sua vez, refletem o entendimento que se tenha acerca do funcionamento da organização e do direcionamento que se pretende dar a ela”. Analisando os conceitos e aplicações de ferramentas, bem como mecanismos de Gestão da Qualidade aplicáveis em ambientes fabris é importante salientar que o que as organizações de fato procuram é a excelência e a agregação de valor, conforme aponta MAGRETTA (2002). Muitas vezes esta agregação de valor está vinculada às questões de qualidade, foco de estudo desta tese. FRANCO, MORAES e BONDUELLE (2), (2004; p. 26), apontam em um estudo realizado entre 2003 e o primeiro semestre de 2004, os seguintes fatos: “... procurou-se perceber qual seja o modelo de gestão da qualidade que adotou, bem como estratégia e técnicas de implantação... As percepções emergentes foram tais que o modelo adotado pela empresa centra-se na redução de perdas de produção e na eliminação das causas das perdas, controle estatístico do processo de produção, perfaz-se no núcleo do modelo adotado. A estratégia de implantação mescla o uso de técnicas de co0ntrole e melhora contínua com o uso dos seguintes métodos: como Kaizen (melhora contínua), Pokayoke (prevenção e eliminação de erro e não conformidades) e controle estatístico do processo produtivo...” Deste modo, verificou-se que para entender e compilar este estudo foi necessário realizar um mapeamento de parâmetros de qualidade utilizados pelas indústrias moveleiras do Pólo de Arapongas. Portanto, o estudo no pólo Moveleiro de Arapongas, Paraná é além de uma pesquisa um incentivo aos fabricantes do setor a trabalharem com maior qualidade, descobrindo quais parâmetros são mais convenientes para seus empreendimentos e para o público consumidor, compactuando com CHIAVENATO (2000). 2 DESENVOLVIMENTO Torna-se claro, no atual ambiente competitivo ora posto em estudo: o de móveis populares, que a adoção de estratégias de marketing para se conquistar clientes, ou simplesmente se manter competindo no Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 115 mercado, é uma função de suma e vital importância para a sobrevivência das empresas. Nesse contexto, o estudo do Marketing adquire importância, pois é ele que irá pôr em prática boas ideias, através de: pesquisas, coleta de dados, investigação na busca para satisfazer plenamente o seu cliente. Pessoas procuram realizar suas aquisições com base em informações obtidas através dos grupos de interesse, amigos e familiares; então se torna mais do que necessário elaborar planos e táticas para a constante satisfação do consumidor. Assim o Marketing desempenha papel fundamental na busca da plena satisfação, fazendo a ligação de forma eficiente entre empresa e cliente, independentemente do ramo atividade, conforme FRANCO (2006). Com esta fundamentação é possível argumentar que esse conceito é plenamente aceitável na atividade em estudo, no caso: ramo moveleiro. Na concepção de SCHIMITZ (2002), a definição específica de Marketing é que é um processo de planejamento e execução. Isto é, o Marketing representa uma série de decisões e atividades integrais. Reportando-se à questão de fabricação de móveis, isso não é diferente porque a satisfação dos desejos e necessidades dos clientes, para FRANCO (2006), é uma decisão estratégica de negócios. Além disso, necessita de atividades integrais dentro de um enfoque sistêmico das organizações (MORAES, 2004), isto é, todos envolvidos na dinâmica organizacional com um objetivo comum: o sucesso empresarial. Em segundo, o Marketing pressupõe um grande leque de responsabilidades associadas com o desenvolvimento de produtos, decisões de preço, decisões promocionais e de distribuição. Em terceiro lugar, a definição se refere não apenas a produtos tangíveis, como também o marketing de serviços e de ideias. É o processo de estabelecer e manter relacionamento de troca mutuamente de benefícios com clientes e outros grupos de interesse. A ideia de Marketing surge devido ao desequilíbrio da economia de mercado, da relação não-harmoniosa entre capacidade de produção e capacidade de consumo, na abordagem de COBRA (1987). No estudo em questão é importante salientar que um mesmo consumidor não compra um determinado móvel todos os meses, e sim em compras necessárias para o atendimento de suas necessidades. Nesse conturbado contexto entra o Marketing para traçar estratégias, objetivos, metas, planos táticos e de vendas, com a finalidade de atingir resultados, tais como: expansão, retração ou manutenção da posição no mercado (FRANCO, 2006). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 116 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... O Marketing se utiliza dos 4 P´s, também chamados de comporto Mercadológico que englobam a missão e o objetivo da empresa, que são, COBRA (1991; p. 23): Produto: Qualidade, características, opções, estilos, embalagem, tamanho, serviços e garantia; Preço: Listas de preços, descontos, subsídios, período de pagamento e termos de crédito; Promoção: Propaganda, venda pessoal, promoção de vendas, relações públicas e merchandising; Ponto: Canais, cobertura, localização, inventário e transporte. A descrição de KOTLER (1996) sobre Marketing o aponta como um compromisso da empresa em satisfazer exclusivamente o consumidor. O consumidor é que determina o que deve ser produzido, pois é ele que vai comprar e usar o produto, tendo a empresa que se adaptar em função dos desejos dos consumidores. Porém, esse conceito é questionado se as empresas, além de servir e satisfazer aos desejos dos consumidores está agindo em longo prazo, se preocupando com o bem-estar dos consumidores e da sociedade. O conceito societal de Marketing abordado com ênfase por FORTE (2004) nos remete ao entendimento de que é uma orientação da administração que visa proporcionar a satisfação do cliente e o bem-estar do consumidor e do público em longo prazo, como a solução para satisfazer aos objetivos e as responsabilidades da organização. Observa-se que em KWASNICKA (1995), posteriormente em MAXIMIANO (2002) e MORAES (2006) comungam que a principal missão da organização, além de satisfazer os clientes, é contribuir para a qualidade de vida e promover os benefícios que são do interesse dos consumidores, mesmo se eles não estivessem conscienciosos disso. As empresas devem evitar produtos que não se enquadram dentro dos melhores interesses do comprador, buscando sempre o melhor e o menos poluente. As considerações de KOTLER (1996) e RICCIOPO (2002) sobre o profissionalismo das organizações estão calcadas nos indivíduos e nos processos de troca, pois precisam atrair recursos de um conjunto de mercado, convertê-los em produtos úteis e negociá-los em outro conjunto de mercados. É preciso planejamento, análise e um controle de programas destinados a realizar as trocas desejadas com os mercados–alvo com o propósito de atingir as metas da organização, segundo aborda FRANCO (2006). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 117 As organizações buscam no mercado todas as informações sobre seus desejos e necessidades, recebendo em troca, primeiramente as informações desejadas. Depois de realizadas estas pesquisas, as organizações passam a oferecer ao mercado seus produtos e serviços que atendam aos desejos e necessidades dos clientes, tendo como retorno clientes satisfeitos e recursos financeiros, de acordo com SHIMOYAMA e ZELA (2002). Para as empresas conseguirem vender seus produtos e serviços, elas adotam uma orientação estratégica, que norteará todos os negócios da empresa e a sua forma de agir diante do mercado e dos seus clientes, que são esses na exposição de FORTE (2004) e FRANCO (2006), conforme segue: a) Orientação para a produção b) Orientação para o produto c) Orientação para as vendas d) Orientação para o marketing Assim, na abordagem sugestionada por GRACIOSO (1997) há um alerta que a falta de conhecimento de Marketing é a principal causa do fracasso de pequenos empresários que resolvem abrir uma pequena empresa. A essência do marketing consiste em planejamento para sempre estar na frente de seus competidores, procurando servir o consumidor antes e melhor do que a concorrência. Essa é a vantagem que os pequenos empreendedores têm em relação aos concorrentes de grande porte, pois possuem mais proximidade com os consumidores, onde conhecem melhor suas necessidades, anseios e aspirações. Após a abordagem de questões concernentes à mercadologia do produto serão expostos conceitos e aplicações da qualidade, bem como aspectos de sua gestão para o estudo proposto. De acordo com UHLMANN (1997) e MAXIMIANO (2002) foi devido à Revolução Industrial e à influência dos conceitos de Frederick W. Taylor (1911 – Administração Científica do processo produtivo, que produtos passaram a ser manufaturados em maior quantidade e preços mais baixos. Os conceitos tayloristas de produção em série estavam focados no aumento da produtividade e na eliminação de desperdícios. Esse aumento significativo no volume de produção a um preço mais baixo provocou um desequilíbrio na qualidade e começou a aumentar o índice de produtos que apresentavam defeitos de fabricação. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 118 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... Assim e por isso em 1931, o Dr. W. A. Shewhart, aplicando os conhecimentos de probabilidade e estatística, e se baseando na fundamentação de Taylor, criou um processo conhecido como Controle Estatístico de Qualidade (CQE). O CQE foi implementado no Japão no pósguerra, segundo argumentação de KWASNICKA (1995) e MAXIMIANO (2002). CERQUEIRA NETO (1991) e PALADINI (2002) explanam historicamente que a economia japonesa estava arruinada e praticamente à totalidade das empresas tinham sido destruídas. Com a ocupação americana surgiram mecanismos de reconstrução do país derrotado, bem como implementação de técnicas para realizar um processo de produção adequado e com pouco desperdício. Essas técnicas foram rapidamente absorvidas pelos profissionais japoneses que foram além de seu território. Profissionais de todas as áreas começaram uma empreitada de visitas a inúmeros países como o objetivo de conhecerem novos processos produtivos, com avanços tecnológicos, visando principalmente a melhora contínua de seus produtos, não apenas como um aparato estético, mas sim funcional. Alguns fatos cronologicamente registrados apresentam que no ano de 1946 surgiu a JUSE – Union Japanese Scientis and Engineers, com a finalidade de idealizar e executar atividades de Controle de Qualidade no Japão. A JUSE em 1950 trouxe ao Japão o Dr. Willian Edwards Deming, estatístico americano com amplo conhecimento na área de amostragem. Deming realizou cursos e treinamentos para engenheiros e técnicos japoneses, porém percebeu que não havia por parte da alta administração empresarial um envolvimento adequado para com as questões de qualidade. E, para DERESKY (2004), em uma visão sistêmica idealizada por Bertalanffy, se não há um envolvimento de toda empresa para qualquer empreendimento, este não será bem sucedido. Com o reconhecimento da importância do envolvimento de toda a empresa com relação aos aspectos de qualidade orientados por Deming, este passou a viajar frequentemente para o Japão para realizar treinamentos empresariais. Nesses treinamentos foram apresentados aspectos da importância da prevenção de falhas ao invés de apenas realizar ações corretivas. A JUSE também convidou o Dr. Joseph M. Juran que em 1954 ministrou cursos e seminários sobre Controle de Qualidade aos gerentes superiores e intermediários. Por ser Juran um profissional renomado e experiente, seus cursos surtiram efeito considerável no Japão, sendo que os profissionais adotaram o Controle de Qualidade como uma ferramenta Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 119 gerencial, evoluindo assim para o Controle de Qualidade Total, historicamente relatado por JURAN (1992). O termo qualidade pode ser definido como sendo a propriedade que leva em conta as especificações iniciais de um determinado produto ou processo produtivo, atendo expectativas e especificações prévias. RUMMLER e BRANCHE (1990) sinalizam que as organizações devem pensar em qualidade desde a concepção de um produto até a sua permanência com o cliente, por isso a qualidade apresenta dois aspectos ou visões distintas, a saber: Na visão do consumidor a qualidade é mensurada pelo grau de satisfação que um produto ou serviço possam oferecer, apresentado assim um grau de subjetividade entre consumidores, conforme afirma COBRA (1993). Com isso as empresas devem fixar padrões de qualidade, bem como atender às expectativas de seus consumidores, o que se aproxima muito da questão mercadológica, exposta por FRANCO (2006). Já na visão da produção há a necessidade que o produto ou serviço esteja de acordo com as especificações iniciais do projeto, em consonância com GAVIN (1992; p. 53) “uma vez estabelecido um projeto ou uma especificação, qualquer desvio implica uma queda da qualidade”. Essa abordagem também é sustentada por UHLMANN (1997) e por SLACK (1999) quando o processo produtivo é tido como estratégia principal na dinâmica organizacional. Com a apresentação dessas visões distintas é possível observar que os estudos e aplicações de técnicas que visem à busca pela qualidade têm agregado ao longo do tempo mais e mais quesitos, indo de questões racionais e cartesianas até a subjetividade dos desejos de satisfação dos seres humanos com relação a um produto ou serviço. O objetivo do controle da qualidade total ou TQC é buscar, além da qualidade uma melhoria no desempenho produtivo, aumentando a eficácia sistêmica organizacional, ANSOFF (1990) e MORAES (2006). No TQC todos os componentes da organização, independentemente de seu nível hierárquico devem ser responsáveis pela qualidade. É sabido que o Japão no pós-guerra foi o primeiro país a utilizar os conceitos estabelecidos pelos precursores do Controle de qualidade total, através da JUSE; são os precursores ou “gurus” da qualidade: Deming, Juran, Crosby e Ishikawa. MORAES (2006) historia que Deming foi audacioso ao divulgar e difundir o “Ciclo de Shewhart”, que posteriormente ficou mundialmente conhecido no “Ciclo de Deming” ou ainda “Ciclo PDCA”. Assim entende-se que os princípios de Deming podem e devem ser utilizados em toda a organização dentro de uma Abordagem Sistêmica onde Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 120 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... cada setor, departamento ou gerência são unidades imprescindíveis para o sucesso do programa de qualidade. As organizações não devem apenas se preocupar em cumprir com as especificações do projeto dos produtos, mas também com sua adequação ao uso. JURAN (1990) defende que a gestão da qualidade divide-se em três pontos fundamentais: 1) Melhoria da qualidade 2) Planejamento da qualidade 3) Controle de Qualidade Ainda é possível comentar que as relações dos custos envolvidos com a qualidade, vinculados aos gastos de não conformidades como os custos de erros e defeitos, elaboram-se uma matriz de cinco estágios, a saber, na abordagem de BRASSARD (1985) : 1) Incerteza; 2) Despertar; 3) Esclarecer; 4) Sabedoria e 5) Certeza. Outra abordagem igualmente importante foi de Ishikawa. Esta abordagem, exposta por MAXIMIANO (2002) e MELLO (2002), se baseia em conceitos de Deming e Juran aplicados à cultura e à tradição japonesa. Uma das principais contribuições foi à criação dos sete instrumentos no Controle de Qualidade. Seguindo o sucesso atingido por Ishikawa, Taguchi também qual ganhou destaque internacional pelo processo de desenvolvimento e design de novos produtos. Sua concepção filosófica está baseada em todo o ciclo produtivo: do projeto ao produto acabado, em uma visão sistêmica. Ele define a qualidade em termos de perdas geradas para a sociedade. Isto pode ser estimado pela vida útil do produto. Assim o fator preponderante para redução de perdas está na redução estatística em relação aos objetivos fixados. As atividades do 5 S´s tiveram início no Japão, logo após a Segunda Guerra Mundial, para combater a sujeira das fábricas, tendo sido formalmente lançado no Brasil em 1991. UHLMANN (1997) descreve que o termo 5 S´s é derivado de cinco palavras em japonês, todas iniciadas com a letra S, porém na tradução para o português não se conseguiu encontrar palavras que começassem com a letra S. Sendo a melhor for- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 121 ma encontrada acrescentar o termo “senso de” antes de cada palavra, que tem o significado de “aplicação correta da razão para julgar ou raciocinar em cada caso particular. Devido ao aumento da concorrência, MORAES (2006) argumenta que uma maior exigência dos clientes e desenvolvimento da tecnologia, a qualidade de serviços dentro de uma empresa ganhou grande importância, por isso da necessidade das empresas instalarem o Programa 5 S´s. O programa 5 S´s tem o objetivo específico de melhorar as condições de trabalho e criar na organização o “ambiente da qualidade”, tornando-o altamente estimulador para que as pessoas possam transformar os seu potenciais em realização, expõe MORAES (2006). A prática nas empresas tem mostrado que o Programa 5 S representa uma oportunidade inigualável de mobilização dos empregados, preparando o caminho para a introdução de programas de qualidade mais avançados. Durante a Segunda Guerra Mundial as empresas Britânicas de alta tecnologia, como de munição, estavam tendo diversos problemas com a qualidade de seus produtos, na época muitas bombas acabavam explodindo dentro das empresas no momento da fabricação ou no transporte. Segundo abordagem de CORRÊA e CORRÊA (2006) a solução adotada foi de começar a solicitar aos fabricantes procedimentos de fabricação e ainda deveriam apresentar esse documento por escrito – garantindo que os procedimentos estavam sendo seguidos. O nome desta norma era BS 5750, ela era conhecida como uma norma de gestão, por que ele não somente especificava como se produzir, mas também como gerenciar o processo de produção. Em 1987, o governo britânico convencido pela Organização Internacional de Padronização aceitou a BS 5750 como uma norma padrão internacional. A BS 5750 tornou-se a ISO 9000.” A série ISO 9000 é um conjunto de normas que formam um modelo de gestão da qualidade para organizações que podem, se desejarem, certificar seus sistemas de gestão através de organismos de certificação. Embora a padronização tenha surgido nas indústrias e com foco na fabricação, atualmente a norma vem sendo implementada por outros tipos de organizações. No entendimento de CAMPOS (1992; p. 100) a garantia de qualidade é “(...) uma função da empresa que tem como finalidade confirmar que todas as atividades estão sendo conduzidas da forma requerida”. Portanto, é necessário que as empresas adorem sistemas de gestão de qualidade para fornecer aos clientes uma evidência tangível da sua preocupação com a qualidade. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 122 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... Assim expostos conceitos acerca da qualidade passaremos a relatar aspectos sobre Pólos Moveleiros, objeto deste trabalho, como segue: No começo do século XX, a cidade de São Paulo e seus municípios limítrofes - Santo André, São Caetano e São Bernardo - assistiram ao surgimento de pequenas marcenarias de artesãos italianos, gerado pelo grande aumento do fluxo imigratório. A indústria moveleira surgia, então, agregada ao primeiro estágio de desenvolvimento da indústria em São Paulo, com a maior parte da sua produção voltada para o mercado popular em formação, SILVA (2003). Os pólos localizados nos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina podem ser igualmente caracterizados como pólos pioneiros, de modo que, também nesses Estados, a atividade moveleira foi contemporânea de um contexto industrial embrionário de formação do mercado interno baseado no trabalho assalariado e do incremento do movimento imigratório que se delineava. Os outros pólos moveleiros - Mirassol, Votuporanga, Ubá e Arapongas - foram implantados mais recentemente, no ciclo de substituição de importações do pós-guerra, a partir de iniciativas empresariais, conjugadas com estímulos e linhas de financiamento governamentais, sobretudo aquelas datadas do fim da década de 60 até o início da de 80. Para COELHO e COELHO-FUENTES (2002; p. 1): “o setor moveleiro é composto por pequenas e médias empresas, que atuam em um mercado muito segmentado”, assim a escolha do Pólo Moveleiro de Arapongas, Paraná foi o elencado como o mais propício para o desenvolvimento desta pesquisa por sua localização geográfica, bem como por atender as características desejadas para a realização do estudo. Um dos aspectos apontados por FRANCO, MORAES e BONDUELLE (2003) como parâmetro de qualidade nas indústrias moveleiras é a certificação ambiental adquirida pelas indústrias. Através da certificação há uma alavancagem de vendas motivada pela “imagem verde” que a empresa adquire perante o público consumidor, além de estar contribuindo para o consumo sustentável, concepção apoiada por DONAIRE (1999). Além de ser um parâmetro de qualidade a certificação ambiental abre caminhos aos mercados interno e externo sendo que o último apresenta uma maior exigência de procedência dos materiais, conforme apontam ZABLONSKI e BONDUELLE (2002). A interação de todos os aspectos de qualidade que permeiam a fabricação de móveis, tais como escolha de materiais ambientalmente selecionados, processos fabris, entre outros, como argumentam YAMAJI e IWAKIRI (2002). Porém, PEREIRA (2000) em uma visão realista da situ- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 123 ação das indústrias moveleiras no Estado do Paraná afirma que existem poucos levantamentos sobre produtividade e qualidade no setor. O pólo moveleiro de Arapongas surgiu nos anos 60 e, atualmente, é o principal no estado do Paraná, contando com cerca de 140 empresas e 5 mil trabalhadores, além de gerar mais de 60% das receitas do município. Conforme VENÂNCIO (2002) este pólo está voltado para produção de móveis populares, destacando-se o segmento de estofados, que conta com mais de 40 empresas, entre elas a Simbal, a maior produtora de estofados do país, fundada em 1962. A indústria moveleira de Arapongas concentra-se na produção de móveis residenciais populares destinados ao mercado interno. Entretanto, possui também algumas médias e grandes empresas de alta tecnologia que exportam parte da sua produção. Cabe ainda destacar a existência de certo grau de associativismo entre as empresas da região, o que permitiu a construção, em 1997, de um grande centro de eventos, com mais de 20 mil metros quadrados, onde se realizou a primeira Movelpar - Feira de Móveis do Paraná. Arapongas é considerado o segundo maior pólo de móveis em faturamento e o primeiro em volume de peças. Exporta atualmente para países da África e América Central e representa 9% do volume de exportações do setor no País. De forma predominante, o pólo fabrica móveis e estofados seriados de placas de madeira para mercados populares; mas conta também com um expressivo número de empresas que, além dos móveis populares, fabricam móveis linha alta de maior valor agregado; além de marcenarias que fabricam sob medida. O Pólo Moveleirom de Arapongas também é denominado Arranjo Produtivo Local (APL). O padrão tecnológico da indústria brasileira de móveis é reconhecidamente muito heterogêneo, variando de pólo para pólo, e também de acordo com o porte das empresas. As empresas líderes dos diversos pólos moveleiros encontram-se, em geral, em fase avançada de atualização tecnológica e de modernização administrativa, o que acarretou reduções significativas. Por outro lado, as empresas menores apresentam processos de produção intensivos em mão-de-obra, combinados com uma surpreendente capacidade de introduzir mudanças nos modelos produzidos (com rápida capacidade de absorção, por meio da cópia, também chamada de benchmarking, em uma abordagem exposta por FRANCO (2006), dos novos modelos das empresas maiores), decorrente da grande flexibilidade e aptidão produtiva que caracteriza essas empresas. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 124 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... Em suma, a “estratégia” adotada pelas empresas menores consiste na rápida atualização tecnológica de produtos, fomentada pela cópia de modelos lançados pelas empresas maiores. Desta forma, GIOVANNINI (2002) argumenta que o sistema generalizado de cópia introduz uma dinâmica própria no processo de capacitação produtiva e tecnológica que não deve ser ignorada. As empresas de maior porte, por outro lado, ao recorrer à padronização em maiores escalas produtivas apresentam menor flexibilidade para os novos lançamentos, pois demandam maior tempo para sincronizar todas as interfaces dos seus processos de produção. Cabe apontar que a tecnologia mais sofisticada se concentra particularmente na produção de móveis planos. Tem-se, portanto, a formação de uma cultura industrial na qual os processos produtivos e a maquinaria passaram a determinar a forma do produto final, a matéria-prima utilizada e a qualificação da mão-de-obra envolvida na fabricação dos produtos. Toda essa estratégia produtiva conduziu a padronizações que restringiram as alternativas de um design diferenciado, de “identidade nacional”, tornando a aparência dos móveis mais atrativa ao consumidor final. 3 CONCLUSÕES Nesta pesquisa procurou-se buscar respostas e um entendimento sobre questões, métodos e técnicas de qualidade utilizadas por empresas produtoras de móveis no Pólo de Arapongas - Pr. Foi escolhido o segmento de móveis de cozinhas em comum acordo com a orientadora deste trabalho. As empresas estudadas são fabricantes de móveis de cozinha, situadas no Arranjo Produtivo Local ou Pólo Moveleiro de Arapongas - PR. E utilizam algum tipo de ferramenta de qualidade em seus processos. No entanto, faz-se mister salientar que nem todos os procedimentos apontados por alguns pesquisados refletem realmente a dinâmica de um contexto de Qualidade Total que pode ser considerado como mínimo e ideal para uma empresa de médio e grande porte. Ficou bastante claro neste estudo que a teoria enfatizada no mundo acadêmico nem sempre está presente na realidade empresarial por inúmeras situações contingenciais, tais como falta de recursos tecnológicos, financeiros e de educação tácita e explícita. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 125 No que se refere ao desenvolvimento de ações voltadas à qualidade observou-se que as empresas pesquisadas apresentam estilos e dinâmicas organizacionais bastante distintos e característicos. Apesar de pertencerem a um mesmo APL ou Pólo as empresas estão acostumadas a trabalharem isoladamente, atendendo suas clientelas em suas especificidades. Os programas que foram apontados como os utilizados pelas empresas em estudo são: Programa 5 S´s; Ciclo PDCA, Kanban, Série ISO 9000, Just-in-time, quase que certamente por serem menos complexos em sua operacionalização. A procura pela certificação ISO – mais complexa e onerosa, foi destacada apenas por duas empresas, sendo estas de maior porte e complexidade organizacional. Já o Programa 5 S´s foi apontado como utilizado pela maioria dos pesquisados, talvez por ser um programa pouco oneroso para a organização, ao contrário de outros programas expostos. Algumas empresas salientaram que o APL não induz a uma cultura cooperativista, talvez por terem vários tipos de empresas associados a ele, desde pequenos a grandes fabricantes. Essa gama variada de empresários, bem como de portes empresarias, além de tipos de produtos diferentes não proporciona a uma cultura organizacional efetiva, voltada ao tipo de produção cooperativa. Tudo isso gera uma desunião do setor, gerando o que podemos falar sociologicamente como autofagia corporativa, isto é, cada um por si, tentando “desqualificar” o outro, isto em uma linguagem popular. Também ficou explicitado por algumas empresas, de forma verbal, que há pouca integração e cooperação com instituições que possivelmente poderiam dar apoio técnico/tecnológico e administrativo, tal como SENAI, SESI, Universidades da região, entre outros. Há também uma ausência de visão empreendedora por parte do APL que poderia estimular melhor os negócios das empresas filiadas, principalmente com relação ao esclarecimento da importância deste cluster. As empresas que desejam inserir seus produtos no mercado exterior salientaram que falta a estimulação de parecerias com institutos e centros de tecnologia no exterior. Os contatos realizados com instituições do exterior são realizados por conta e custo próprios e não através do APL. Poucas empresas manifestaram o desejo de atuar no mercado internacional, isto demonstra a ausência de percepção de ampliação de negócios. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. 126 Qualidade e Marketing: Aspectos Convergentes da Estratégia... Outro ponto interessante que foi exposto por uma das pesquisadas é que o APL deveria estimular a aquisição de recursos tecnológicos consorciados entre as empresas. Caso essa conduta fosse efetivada as empresas conseguiriam baixar significativamente seus custos e consequentemente se tornarem mais competitivas. As empresas que possuem capacidade financeira para aquisição de novas tecnologias esbarram em outras questões, tais como a falta de assessoria para a aquisição das mesmas, o que pode gerar gastos desnecessários. Observou-se que a iniciativa de implantação de programas de qualidade ocorre de forma isolada, o que é incompatível em uma situação onde existe um APL. Questões mercadológicas são confundidas com ações de qualidade. Parâmetros apontados como diferencial pelos clientes, tais como o preço, deveriam ser trabalhados pelo marketing juntamente com outros setores empresariais e não apenas como um fator de qualidade. Com relação às orientações mercadológicas propostas pela teoria anteriormente exposta, foi constatado que as empresas do APL em estudo utilizam a orientação para a produção, para o produto e para as vendas. Na orientação para a produção o foco principal é a diminuição dos custos para provocar uma disseminação dos produtos. A orientação com foco no produto há uma melhor busca pela qualidade e desempenho dos produtos. Já na orientação para as vendas há uma indução para que o cliente consuma direcionadamente algum produto. Ainda focando mercadologicamente não há como não contestar que quanto ao produto em si e ao mercado que se destina a questão de similaridade e concentração de empresas no mesmo segmento é um agente dificultador de negócios. Percebeu-se que não há um delineamento exato do perfil do consumidor final, estando às empresas focadas apenas no consumidor intermediário, fazendo assim somente um marketing de manutenção e revitalização. Com a governança do APL instituída há a possibilidade, se bem estruturada, de grande potencial de crescimento e ampliação do pólo estabelecido. A localização estratégica do APL pode ser utilizada como um fator logístico diferenciado para o comércio exterior, principalmente com países do MERCOSUL. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 109-130, 2009-2. Maura Regina Franco, Ghislaine Miranda Bonduelle e Paulo Eduardo Sobreira Moraes 127 Existe muito a ser estudado no APL de Arapongas, desde questões de qualidade, dando continuidade a esta tese; a formulação de um modelo de parâmetros de qualidade a ser implantado pela governança; questões florestais de sustentabilidade e aproveitamento de matérias-primas; entre outros. Outra consideração bastante importante a ser tecida é que o APL ou Pólo de Arapongas mesmo apresentando dificuldades estruturais tem conseguido obter êxito em suas atividades e conseguido significativa representatividade em nível nacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANSOFF, Igor. A nova estratégia empresarial. São Paulo: Atlas, 1990. BONDUELLE, Ghislaine Miranda. Avaliação e análise dos custos da má qualidade na indústria de paineis de fibras. (Tese de Doutorado). Florianópolis: Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, 1997. BRASSARD, Michel. Qualidade – Ferramentas para uma Melhoria Contínua – “The Memory Jogger”. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1985. CERQUEIRA NETO, Edgar Pereira. Gestão da Qualidade: Princípios e Métodos. São Paulo: Pioneira, 1991. COBRA, Marcos. Marketing Básico: Uma perspectiva brasileira. São Paulo: Atlas, 1987. ______. Marketing Competitivo. São Paulo: Atlas, 1993. COELHO, M. H. e COELHO-FUENTES. 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Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 131 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A POPULAÇÃO IDOSA E AS IMPLICAÇÕES PARA O ESTADO PUBLIC ADMINISTRATION – THE EDRELY POPULATION AND THE IMPLICATIONS TO THE STATE ANA CRISTINA DE SOUZA LUZ ___________________________________________________________ Mestre em Linguísticapela PUC-PR Professora do Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA ANA CLAUDIA PETRI ___________________________________________________________ Fisioterapeuta, Gerontóloga e Mestre em Tecnologia em Saúde pela PUC-PR Acadêmica do Curso de Administração - UNICURITIBA Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 132 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 133 1 INTRODUÇÃO Segundo estatísticas, quando 10% da população de um determinado país possuem idade superior a 60 (sessenta) anos, a sociedade que o compõe é caracterizada como “em fase de envelhecimento”. Dados da Administração Estatal da China já acusaram este limite; dados estatísticos revelam que para 2010, a porcentagem de idosos naquele país seja de 174 milhões de pessoas; 12,75% da população. Nas últimas décadas, o envelhecimento populacional repercute mundialmente trazendo a tona um grande desafio, a OMS afirma que em 2025 atingiremos 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos em todo planeta e em 2050 existirão 2,5 bilhões de pessoas com 65 anos ou mais, representando 20% da população total. Grande parte destes idosos viverá nos países desenvolvidos. (SOUSA, GALANTE e FIGUEIREDO, 2003). O relatório “Building a society for all ages”, da Segunda Assembleia Mundial sobre Envelhecimento ocorrida em abril de 2002, mostrou que em 2050 estima-se que a população idosa no mundo ultrapassará a população jovem. Este processo tem suas origens, principalmente, na queda da fecundidade e queda das taxas de mortalidade da população. (CHAIMOWICZ, 1997). Com o declínio das taxas de fecundidade a idade média da população tende a aumentar. Numa situação em que a taxa de mortalidade da população se mantém estável e há uma diminuição das taxas de fecundidade, ocorre o envelhecimento populacional, chamado de envelhecimento pela base. (TELLES, 2003). Em contra partida, o envelhecimento pelo topo ocorre quando há diminuição nas taxas de mortalidade da população sem que haja queda significativa nas taxas de fecundidade da população. Em 1940 a pirâmide populacional brasileira apresentava a base alargada e ápice estreito, caracterizando uma população bastante jovem com alta taxa de fecundidade. Em 1980 já se observava um estreitamento da base da pirâmide, demonstrando um envelhecimento populacional e diminuição da taxa de fecundidade (CHAIMOWICZ, 1997). A combinação de menores taxas de mortalidade com elevadas taxas de fecundidade determinou um salto populacional no Brasil. De 41 milhões para 93 milhões de pessoas, entre 1940 e 1970. A estrutura etária brasileira não se alterou neste momento porque a queda nas taxas de mortalidade deveu-se principalmente a diminuição de mortes entre as cri- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 134 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... anças. Desta forma, ocorreu um rejuvenescimento da população. Foi somente a partir da década de 60, com o declínio da fecundidade nas regiões mais desenvolvidas do Brasil, que deu início o processo de envelhecimento populacional brasileiro (CHAIMOWICZ, 1997). Em estudo divulgado no mês de maio de 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstrou-se por meio dos censos de 1940 e 2000 que a população brasileira cresceu quatro vezes neste período, passando de 41 milhões para 169,8 milhões de habitantes. Destaca-se também o aumento de pessoas na faixa de 15 a 59 anos, que aumentou de 53% para 61,8%. No Brasil, em 1900, a expectativa de vida ao nascer era de 33,7 anos. Nos anos 40, passou a 40 anos e em 1970 alcançou 53,7 anos. Em 1980, essa expectativa ampliou-se para 63,4 anos. Concomitantemente a este aumento da expectativa de vida ocorreu um declínio na taxa de fecundidade o que levou a um aumento da proporção do número de idosos em nosso país. Em 1970 a média de filhos por família era de 5,76 e atualmente 2,24 (RAMOS, 2003; TELLES, 2003). Estima-se que em 2025, 14% da população brasileira será composta por pessoas com 60 anos ou mais; em números absolutos, uma das maiores populações de idosos do mundo. (COELHO FILHO e RAMOS, 1999; RAMOS, 2003) As perspectivas apontam para uma população de idosos em torno de 32 milhões, em 2020. Tal fato colocará o país na sexta posição em índice de envelhecimento humano no mundo (LOURENÇO et al., 2005). Pesquisas anteriores mostram que em 1940 2,4% da população tinham 65 anos ou mais. Em 1991, 4,8% da população eram idosos e espera-se que em 2020, 7, 6% da população pertençam a este grupo, totalizando cerca de 16 milhões de pessoas. Independentemente de qual pesquisa chegará mais próxima da nossa realidade em 2020, o fato é que o Brasil passa por este processo de envelhecimento populacional de maneira rápida e intensa e é isso que nos diferencia do processo de envelhecimento dos países desenvolvidos. Nestes países, o envelhecimento ocorreu de forma lenta e acompanhada pelo melhoramento das condições sanitárias, econômicas e sociais tanto das populações urbanas quanto rurais, pode-se, portanto, dizer que o aumento do número de idosos foi acompanhado pelo aumento da qualidade de vida desta população. A taxa de fecundidade caiu lentamente, assim como cresceu a expectativa de vida, gerando um equilíbrio e possibilitando adequação social, pois a taxa de fecundidade sofreu di- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 135 minuição graças ao incremento cultural das mulheres e sua inserção no mercado de trabalho (CHAIMOWICZ, 1997, LEME e CARVALHO FILHO, 1998; RAMOS, 2003). Em nosso país, o envelhecimento é um fenômeno predominantemente urbano, e o aumento da expectativa de vida não aumentou em harmonia com o declínio das taxas de fecundidade e melhorias sociais, demonstrando que o Brasil não está amadurecido para acolher esta mudança na pirâmide populacional. (LEME e CARVALHO FILHO, 1998). O declínio da fecundidade ocorreu num ritmo acelerado, gerando no país uma população mais jovem que a população dos países desenvolvidos. Este fato leva a um estreitamento contínuo da base da pirâmide populacional e constante envelhecimento da população. (CAMARANO, 1999; WONG, 2001). Nos países em desenvolvimento, o envelhecimento populacional impõe-se: “como realidade e ao mesmo tempo presente e desconhecida. Ganham um número cada vez maior de idosos e falta-lhes, ainda, além de recursos materiais e humanos, uma concepção da velhice” (CARVALHO, 1998). Hoje, no Brasil, conforme o censo de 2000, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 14,5 milhões, ou seja, 8,6% da população são compostos de idosos.1 Estima-se que a atual população idosa em Curitiba chegue a 8%. O estudo ainda mostrou que 85% dos idosos curitibanos vivem com a família e 80% vivem com o dinheiro recebido pela aposentadoria. 87% dos idosos são alfabetizados e o SUS atende a 63,53% da população idosa (PAIVA, 2007). Apesar da criação do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 01 de outubro de 2003) que tem como objetivo principal priorizar o idoso a fim de preservar-lhe sua saúde física e mental, sua moral, sua liberdade e sua dignidade e da Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994) que não foi revogada pelo Estatuto mas, sim, complementado por ele, muitas atitudes ainda precisam ser tomadas a fim de que nossa população idosa possa ter seus direitos cumpridos (não somente assegurados por Lei) e efetivamente concretizados. Juntamente com estes dados, há a certeza de que os jovens de hoje serão os velhos, amanhã; acrescido ao fato de que os atuais adultos serão cuidados por esta juventude atual, resta uma incerteza: o que será 1 www.ibge.gov.br Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 136 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... do nosso país? Qual o impacto do envelhecimento do país, nas políticas públicas, ou seja, como a administração pública observa a questão do envelhecimento de seus cidadãos? 2 CONSEQUÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL O processo de envelhecimento mundial tem suas origens nas transformações sociais e econômicas vividas no século XIX, mas que, no entanto, geraram alterações demográficas significativas no século XX. Este fato gerou grande impacto na sociedade e nos sistemas de saúde (LOURENÇO et al., 2005). Nos dias de hoje, o relógio biológico da espécie humana chega aos 90-95 anos. Pesquisadores acreditam que o limite da expectativa humana já foi praticamente alcançado, porque ao se eliminar todos os tipos de câncer, a expectativa de vida humana aumentaria aproximadamente a 3 anos. Tal constatação é feita depois de pesquisadores verificarem que 1/5 de todas as mortes ocorridas nos Estados Unidos são devido ao câncer e outra grande parte de doenças cardíacas. (SPIRDUSO 2005 apud OLSHANSKY et. al., 1990). Porém, Veras (2003) aponta que nas próximas décadas, o relógio biológico humano possa chegar aos 120130 anos, com a ajuda de medicamentos e novos tratamentos que terão capacidade de acabar ou conter algumas doenças, hoje, sem tratamento efetivo. Desta forma, apresenta-se um novo desafio: estabelecer circunstâncias nas quais os avanços tecnológicos e da saúde possam ser usufruídos em sua totalidade, favorecendo a chegada do ser humano em sua idade limite com autonomia, não fragilizado e livre de diversas doenças. Dentro de alguns anos, indivíduos irão se aposentar aos 60 e darão início a uma nova etapa de trabalho por mais 30 ou 40 anos. A educação poderá receber um novo tipo de demanda, exclusivamente formada por indivíduos com mais de 60 anos e em função disso, nascerão cursos especiais para atender a tal grupo. Medicamentos chegarão ao mercado e sua atuação amenizará os agravos de muitas doenças e curarão tantas outras, fazendo com que seja possível existir famílias com 5 gerações, algumas delas podendo sofrer com o desemprego e necessitando da ajuda do idoso aposentado re-inserido no mercado de trabalho para sua sobrevivência. (VERAS, 2003). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 137 2.1 CONSEQUÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NA PREVIDÊNCIA SOCIAL E ECONOMIA Segundo Negri et al. (2004), “O grande desafio para todos nesse novo milênio é a construção de uma consciência coletiva de forma que seja encarada com justiça social e garantia plena de direitos, independente da faixa etária”. Há certo tempo tem-se escutado por meio da mídia inúmeros comentários de estudiosos da área previdenciária sobre o eminente colapso no sistema previdenciário brasileiro considerando-se a dificuldade existente em manter os inativos. Faria (1990) afirma que: “Na medida em que o processo de modernização deteriora os mecanismos tradicionais de cuidados com a velhice ainda tem o desafio de conseguir novas formas de proteção social”. O principal objetivo do sistema previdenciário não é cumprido. O sistema existe no intuito de prover as pessoas que não têm mais condições de manter-se ativas, com dignidade e segurança para viver mantendo um padrão de vida aceitável (TELLES, 2003). Existe a necessidade de se repensar o atual sistema previdenciário, cujos atuais contribuintes sustentam as gerações anteriores. É evidente que este modelo de previdência não serve mais para a atual sociedade e a tendência é que a situação se agrave cada vez mais, uma vez que a população contribuinte tende a diminuir e a população aposentada tende a aumentar e a utilizar tais recursos por mais anos, já que a expectativa de vida tende a aumentar paulatinamente. (TELLES, 2003) Ainda segundo a autora, as saídas encontradas por muitos países são: ou o aumento da idade legal para a aposentadoria ou a diminuição dos valores dos benefícios, fato que é questionável, pois, ao se tomar tais atitudes coloca-se em risco, mais uma vez, a qualidade de vida do idoso que terá seus recursos diminuídos. Estima-se que a população idosa crescerá com taxas altas até 2030. Após este período a taxa de crescimento encontrará uma constante ou, inclusive, chegará a taxas mais baixas. A situação poderá ser difícil durante todo este processo, pois as condições fornecidas pelos Sistemas Públicos possivelmente não estarão suficientes para receber esta demanda. (TELLES, 2003) Com a modificação na pirâmide populacional de nosso país, com taxa de crescimento populacional cada vez mais baixa e consequente envelhecimento populacional cada vez mais alto, afeta-se a estrutura de gastos governamentais. Observando a realidade de países desenvolvi- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 138 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... dos espera-se que o Brasil, que é um país em desenvolvimento, chegue aos índices de fecundidade abaixo do nível de reposição, como já é visto em nações desenvolvidas. Lee (1994) em seus estudos na Malásia, afirma que nos países em desenvolvimento os pais tendem a depositar nos filhos a esperança de uma velhice segura, investindo na educação dos mesmos na crença de que os filhos serão capazes de prover seu sustento no futuro. A esse pensamento dá-se o nome de transferência intergeracional. Acredita-se que tal pensamento venha da fragilidade das instituições financeiras e governamentais em países nos quais os serviços como saúde e previdência social são ineficazes. O autor acima citado pode ter razão, uma vez que se percebe que em países desenvolvidos, a transferência intergeracional perde força, pois as instituições financeiras e os serviços prestados pelo governo tornamse mais sólidos e eficazes. Outro fato observado por Lee é o de troca de recursos entre as gerações, ou seja, o idoso se dispõe a cuidar dos netos e seus filhos têm a chance de investir mais em sua casa, entre outras trocas. São estes movimentos familiares que suavizam a dificuldade imposta pela sociedade moderna. Ramos et. al. (2003, pág. 795), dispôs o seguinte trecho sobre os novos arranjos familiares no Brasil: [...] os arranjos domiciliares multigeracionais, além de serem extremamente prevalentes, associavam-se significativamente com um nível socioeconômico baixo, geralmente afetando mulheres viúvas com várias doenças e um grau de moderado a severo de dependência no diaa-dia. Mais do que uma opção sócio-cultural, tais arranjos mostraram-se uma forma de sobrevivência. Na verdade, os idosos com nível socioeconômico mais alto viviam majoritariamente apenas com o cônjuge ou sós, reproduzindo o modelo verificado nos países mais desenvolvidos. Vale referir que nesses casos não havia, necessariamente, uma falta de suporte familiar; havia, sim, um esquema de intimidade a distância entre os membros da família, nos moldes que se verificam nos países mais desenvolvidos. Guzmán (2000 apud TELLES 2003) demonstra que nos países latinoamericanos, 30% da população idosa permanece trabalhando ativamente enquanto que na Europa, tal porcentagem chega somente a 15%. A carente situação econômica que é imposta aos idosos nos países em desenvolvimento, obriga-os a manter-se na força de trabalho. Obviamente que a volta ao mercado de trabalho pode ser algo voluntário, mas, le- Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 139 vando-se em conta a situação em que estes países, incluindo o Brasil, se encontram, o mais provável é que este retorno seja para complementar a renda familiar. Apesar de todas as dificuldades supracitadas nota-se que a sociedade já apresenta maior consciência do aumento do número de idosos. Tanto a sociedade quanto o governo apresentam constantemente movimentos para melhoria da qualidade de vida desta população, por exemplo: campanha de vacinação contra gripe, faculdade da terceira idade, caminhadas e passeios direcionados a este grupo, etc. Embora não se possa afirmar que as atitudes sejam suficientes pode-se afirmar que nasce discretamente entre todos os grupos etários a consciência de um envelhecimento populacional. 3 ORGANIZAÇÕES MUNDIAIS, CONSTITUIÇÕES, CÓDIGO CIVIL E O ESTATUTO DO IDOSO Há dois Organismos Oficiais que mantêm certos parâmetros no que diz respeito à sociedade humana como um todo, no mundo globalizado: Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). 3.1 ONU Um de seus feitos mais destacáveis foi a proclamação da Declaração dos Direitos Humanos, ainda em 1948. Sua Resolução 46/91, aprovada em Assembleia Geral em 16 de dezembro de 1991, trata a respeito do Idoso e diz que este deve ter direito à sua: a) Independência: acesso à alimentação, água, moradia, vestuário, à saúde, ter apoio familiar e comunitário; ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de renda; poder determinar em que momento deverá afastar-se do mercado de trabalho; ter acesso à educação e programa de qualificação profissional; poder viver em ambientes seguros e adaptáveis à sua preferência pessoal, que sejam passíveis de mudança; poder viver em casa, pelo tempo que for viável. b) Participação: permanecer integrado à sociedade, participar ativamente na formulação e implementação de políticas que afetem diretamente seu bem-estar e transmitir aos mais jovens conhecimentos e habilidades (...). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 140 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... c) Assistência: beneficiar-se da assistência e proteção da família e da comunidade de acordo com os valores culturais da sociedade; ter acesso à saúde para manter ou adquirir o bem-estar físico, mental e emocional, prevenindo-se da incidência de doenças; ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcione proteção e reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, em um ambiente humano e seguro; ter acesso a serviços jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de autonomia, proteção e assistência; desfrutar dos direitos de liberdade fundamentais, quando reside em instituições que lhe proporcionem os cuidados necessários, respeitando-se a dignidade, crença e intimidade. Deve desfrutar ainda do direito de tomar decisões quanto à assistência prestada pela Instituição e à qualidade de vida. d) Auto-realização: poder viver com dignidade e segurança, sem ser objeto de exploração e maus – tratos físicos e/ou mentais; ser tratado com justiça, independente de idade, sexo, raça, etnia, deficiências, condições econômicas ou outros fatores.2 3.2 A OMS A OMS é uma Organização subordinada à ONU e responsável por prestar serviços relevantes e imprescindíveis ao mundo globalizado. A OMS divide os Idosos em três categorias: os pré-idosos – com idade de 55 a 64 anos; os idosos jovens – de 65 a 79 anos e os idosos de idade avançada – dos 80 anos em diante. Tal Organização prevê que, até 2025, a população mundial será composta mais de idosos do que de crianças, tendo em vista dois pontos principais: o avanço da medicina e a melhora da qualidade de vida. Em virtude de vários fatores, inclusive a preocupação da população idosa estar crescendo mundialmente, algo necessita ser realizado no sentido de proteção a esta população nem um pouco interessante aos Estados constituídos, mas, que apesar de e por existir e representar um relevante “prejuízo” aos cofres públicos, ela necessita de algum modo, ser considerada. 2 www.bioetica/onuido.htm Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 141 3.3 A PREOCUPAÇÃO COM O IDOSO NO ESTADO BRASILEIRO A PARTIR DAS CONSTITUIÇÕES DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Conforme é observado a seguir, desde o início do século passado, com as diferentes Constituições do Estado brasileiro, há aspectos jurídicos que demonstram uma preocupação com o idoso no país, e que se é elemento constitucional, deve ser respeitado e exacerbado pela Administração Pública. 3.3.1 A Constituição de 1934 mencionava o idoso, ao tratar da Ordem Econômica e Social que, em seu Art. 121, trazia algo a respeito da assistência médica e sanitária ao trabalhador (...) e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, (...) e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte; [...]3 3.3.2 A Constituição de 1937 já encontrava instituídos seguro de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes de trabalho, em seu Art. 137, alínea “m”. 3.3.3 A Constituição de 1946 apenas acrescentou a aposentadoria por idade, em seu Art. 157; também substituiu a expressão “seguro social” por “previdência social”. 3.3.4 A Constituição de 1967 assegurou, em seu Art. 158, inciso XVI: previdência social, mediante contribuição à União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego, (...) e nos casos de doença, velhice, invalidez ou morte. 3.3.5 A Constituição Federal de 1988 consolidou o que as anteriores já haviam tratado, conferindo aos idosos outros direitos, tais quais: - Art. 1º - assegura a cidadania e a dignidade humana; - Art. 3º - adota a noção de ação afirmativa ao ampliar o princípio de igualdade: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e 3 www.planalto.gov.br/ccivil.br Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 142 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e outras quaisquer formas de discriminação; - Art. 201 – o idoso tem assegurado direito ao seguro social, à aposentadoria, prestação de assistência social na velhice; - Art. 230 - § 1º: Os Programas de Amparo aos Idosos serão executados preferencialmente em seus lares; § 2º: Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos é garantido a gratuidade nos transportes coletivos urbanos. 3.4 POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO O objetivo desta Lei (nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994) não foi revogado pelo Estatuto do Idoso mas, sim, complementado por ele. A política de atendimento ao idoso acontecerá por meio de entrosamento das ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. As linhas de atendimento da Administração Pública abrangem áreas de promoção e assistência social, saúde, educação, trabalho e previdência social, habitação e urbanismo, justiça, cultura, esporte e lazer. Trata das políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, complementar, para os que necessitem (inc. II) de serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade, opressão (inc. III), serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência (inc. IV); proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos (inc. V) e mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento ao idoso (inc. VI). 3.5 O ESTATUTO DO IDOSO Conforme pode ser percebido nos 2 tópicos anteriores, com o passar do tempo, a sociedade brasileira vai amadurecendo e as Instituições tornam-se mais sólidas, há um crescimento dos dispositivos legais que salientam os direitos do idoso. Isto tende a se tornar mais pleno, no início do século XXI, com o estabelecimento do Estatuto do Idoso, a partir da lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003., que diz: Art. 1º: É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 143 (...) Art. 3º: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção do idoso. Art. 9º: É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. Art. 15: É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços para a prevenção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. Art. 19: Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra o idoso serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos: I – Autoridade policial. II – Ministério Público. III – Conselho Municipal do Idoso; IV – Conselho Estadual do Idoso; V – Conselho Nacional do Idoso. O Estatuto contém ainda diversos artigos referentes à saúde, bemestar, moradia, que seria o caso da pessoa interessada buscar referências nele, propriamente ditas. Porém, como se pode notar nestes casos referidos acima, acrescidos à experiência de conhecimento individual e de referências de artigos publicados e casos revelados pela mídia, podese perceber que a nossa realidade difere em muito daquilo que ele apresenta. Ou seja, há um estabelecimento por lei, mas os aspectos práticos ainda são mais lentos. E a administração pública tem um papel relevante, não só na fiscalização para o cumprimento legal, mas também nas suas práticas de gestão que promovam tanto o cidadão idoso atual, como as demandas que surgiram em um futuro próximo. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 144 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... 4 PLURALISMO – DISCRIMINAÇÃO As Leis que tratam sobre o idoso contêm aspectos que privilegiam a situação daqueles que mais precisam de proteção, por Lei, em virtude da própria fase de sua vida. Foram criadas e elaboradas com a maior das boas intenções, uma vez que nosso país está se transformando em um país de idoso; legisladores debruçaram-se sobre o tema e, com sua competência, criaram aquelas normas todas direcionadas à proteção de um ser humano; entretanto, valendo-me das palavras se BEAUVOIR: “ o fato mais importante é sublinhar que o estatuto do velho nunca é conquistado por ele, mas lhe é outorgado”.4 SIQUEIRA, na Introdução de sua obra diz que “Muitos, já nos primeiros dias da vigência da Lei, indagam-me se ela sairá do papel ou não. Triste esta peculiaridade brasileira, a das Leis que “pegam” ou “não”. Posso atribuir isso a uma tendência dos nossos legisladores, que muitas vezes acreditam que, com a aprovação de uma Lei, resolvem-se problemas seculares. Questões que não tocam apenas na falta de verbas, na malversação do dinheiro público, mas na formação do povo, nos costumes, e na estrutura de hábitos.”5 BESTER, comentando sobre pluralismo, revela que “... É para honrar a igualdade como um princípio que os seres humanos devem respeitar as diferenças dos seus semelhantes, haja vista serem empíricas e facilmente verificáveis muitas dicotomias entre si (homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, feios e belos, altos e baixos, sãos e doentes, instruídos e analfabetos, cultos e incultos, sadios e deficientes, magros e gordos, jovens e velhos, agnósticos e crentes, nacionais e estrangeiros, brancos e negros, brancos e índios, etc.. (...) Assim, é o complemento igualdade-diferença, embora conflituosos, que transmite o real conteúdo da igualdade. Em outros termos, o direito à igualdade pressupõe o direito à diferença exata na medida em que a igualdade só existe com a diferença. E isto tudo é reflexo de outro importante princípio de status social: o do pluralismo.6 4 5 6 BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 106. SIQUEIRA, Luiz Eduardo Alves de. Estatuto do Idoso de A a Z. 2.ed. São Paulo: Ideias & Letras, 2004. BESTER, Gisela Maria. Direitos das Minorias e Grupos Vulneráveis. Rio Grande do Sul: Ijui 2008. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 145 Será apenas na medida em que a sociedade perceber que ela envelhece é que passará a compreender que alguma conduta precisa ser estipulada? Por enquanto, o idoso é “problema da família” e ainda mais: “a sociedade só está enxergando o outro como velho, e não a si mesmo”. “Paremos de trapacear; o sentido de nossa vida está em questão no futuro que nos espera; não sabemos quem somos, se ignorarmos quem seremos: aquele velho, aquela velha, reconheçamo-nos neles. Isso é necessário se quisermos assumir em sua totalidade nossa condição humana. Para começar, não aceitaremos mais com indiferença a infelicidade da idade avançada, mas sentiremos que é algo que nos diz respeito. Somos nós os interessados. Essa realidade denuncia contundentemente o sistema de exploração no qual vivemos: no mundo capitalista, o interesse em longo prazo não conta mais e o velho incapaz de suprir suas necessidades representa sempre uma carga”.7 5 A SITUAÇÃO ATUAL – GESTÃO PÚBLICA “O desafio da busca em compreender melhor as transformações ocorridas no mundo, na estrutura familiar, no aumento da longevidade, nas inovações tecnológicas e nos paradigmas de gestão pública são os fatores preponderantes para qualquer tipo de ação na formulação de políticas públicas de atendimento ao idoso”.8 A forma de gerir políticas públicas requer tempo e persistência. No Paraná, a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP) mostra-se empenhada no que diz respeito ao reordenamento político, jurídico e administrativo da Política de Assistência Social, e tenta buscar respostas efetivas às necessidades e demandas da população idosa, no que diz respeito à comunidade, órgãos públicos, entidades privadas e organizações sociais. Alguns estudos já realizados no Paraná revelam que o envelhecimento populacional é visto com preocupação, por acarretar mudanças no perfil das demandas por políticas públicas e por apresentar novos desafios ao Estado. Existem itens que estão sendo vistos com “relativa” prioridade, tais quais as necessidades de aprimoramento da rede 7 8 BEAUVOIR, Simone. Op.cit. p. 12. STEP – Indicadores Socioeconômicos do Idoso Residente no Estado do Paraná. Curitiba, 2004. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. 146 Administração Pública - A População Idosa e As Implicações... prestadora de serviços e das respectivas dotações orçamentárias, especialmente nas áreas da Assistência Social, Saúde, Educação, Habitação e Urbanismo, Justiça, Cultura, Previdência Social, Esporte e Lazer, isto tudo a médio e longo prazo. Em 2004, já havia esforços concentrados na sistematização e integração de programas e ações setoriais de atendimento ao idoso que usaram como referência a Lei nº 8.842/94 (Política Nacional do Idoso), Lei nº 11.863/97 (Política Estadual dos Direitos do Idoso) e a Lei nº 10. 741/03 (Estatuto de Idoso) para a criação de um novo modelo de gestão de Políticas Públicas de Atenção à Pessoa Idosa, nas três esferas de governo, que tinham com objetivo cumprir a democratização dos processos de gestão, financiamento e controle social. No que diz respeito à renda do idoso, estudos demonstram que a maior fonte de renda está vinculada a proventos advindos da Previdência Social: 80,4%: aposentadoria – 69,2%; pensão – 9,2%; auxílio doença – 1,08%; benefício de prestação continuada – 0,77%.9 A crise do sistema previdenciário do País oriunda de más administrações públicas, o processo de envelhecimento populacional e seu grau de dependência tendem a levar os governos a buscarem novas alternativas de regras ao sistema previdenciário; não a médio e longo prazo, mas a curto e/ou curtíssimo prazo. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A posição de “idoso” que ora se estabelece em nosso país é bem cruel. A falta de cooperação da própria população, ao insistir em considerar o idoso como “invisível”, haja vista a educação indesejável como o trata, já é o reflexo da cultura antiidade que mina na maioria as áreas familiares e na sociedade em geral. A falta de cooperação no que diz respeito a lazer e cultura quando se observa a pouca divulgação de Cursos, de ambientes nos quais o idoso possa exercer alguma atividade física: exercícios ministrados e acompanhados por um profissional da saúde. O idoso pode, sim, ser “levado” a alguma apresentação cultural; diga-se assim: se não houver quem o conduza, ele estará fadado a não poder sair. 9 Op. cit. – p. 65. Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 131-148, 2009-2. Ana Cristina de Souza Luz e Ana Claudia Petri 147 O abuso pelo qual ele tem passado ao contribuir por uma vida inteira à Previdência Social e, ao final de sua vida, poder ter sua aposentadoria “cortada” caso não comprove estar vivo: ou indo ao local pré-determinado, ou mandando buscar um cartorário em sua residência. Ora, por vezes, nem uma nem outra opção pode ser realizada pelo idoso; então, o que fazer? O governo é responsável por sua população, seja ela idosa, jovem ou infantil, no que diz respeito à dignidade humana. A pergunta que fica é esta: até quando poderá ele arcar com toda esta população que tende a aumentar a cada dia, a cada ano? E como poderemos alcançar uma seguridade nós, os jovens de hoje, que seremos velhos amanhã? REFERÊNCIAS BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. 6.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BRASIL. Lei n° 10741 de 1 de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. São Paulo: Escala, 2003. CAMARANO, Ana Amélia (org.) Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1999. CARVALHO, Maria do Carmo. Programas e Serviços de Proteção e Inclusão Social dos Idosos. Brasília: Secretaria de Assistência Social/ MPAS, 1998. CHAIMOWICZ, Flávio. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev. Saúde Pública, v. 31, p. 184-200, 1997. COELHO FILHO, João Macedo; RAMOS, Luiz Roberto. Epidemiologia do Envelhecimento no Nordeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev. 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Normas Editoriais 151 Conselho Editorial NORMAS EDITORIAIS A Administração de Empresas em Revista, publicação oficial do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), de circulação nacional e internacional, com periodicidade anual, destina-se à veiculação de artigos científicos e resenhas, frutos das atividades de pesquisas, leituras e discussões acadêmicas relativas a todos os assuntos de relevância para a área de Administração tanto de micro, pequena, média ou grande Empresa, em diálogo interdisciplinar. Sua principal vocação é agregar valor científico ao debate sobre os temas relacionados à Administração de Empresas, trazendo a contribuição de trabalhos vinculados a programas de graduação e pós-graduação do Brasil e do exterior. Visando à qualificação dos debates e tendo em vista o projeto de inserção da Revista no sistema Qualis, da CAPES (órgão oficial do Ministério da Educação brasileiro), rege-se a publicação pelas normas editoriais a seguir, para a elaboração, a apresentação e a análise de textos, propostas pela Editoria da Revista e aprovadas pela Comissão Editorial Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). 1) Só veicula artigos inéditos, os quais deverão contribuir para a compreensão da Administração de Empresas. Deverão ser enviados à Editoria da Revista, em meio eletrônico (arquivos para o seguinte endereço: [email protected] ou [email protected]), conforme datas a serem estipuladas anualmente nas chamadas de artigos para a Revista. 2) Todos os artigos devem apresentar a seguinte estrutura: a) como elementos pré-textuais – título (em fonte tamanho 14, em negrito e centralizado, com versões em inglês e em algum outro idioma de caráter internacional) seguido, à direita, da identificação da autoria e das credenciais desta (nomes completos de autores e co-autores, titulações, vínculos institucionais e atividades profissionais atuais), menção às subvenções recebidas, apoios e financiamentos, sumário (contendo os tópicos em que se divide o artigo, logo abaixo do título e dos nomes dos articulistas), resumo e palavras-chave em língua vernácula, resumo e palavras-chave em inglês e resumo e palavras-chave em outra língua estrangeira; Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 149-155, 2009-2. 152 Normas Editoriais b) como elementos textuais – introdução, desenvolvimento e conclusão; c) como elementos pós-textuais – lista de referências (somente as obras efetivamente citadas no texto deverão aparecer nas referências). 3) Os trabalhos para a seção “Artigos Científicos” deverão ter entre 10 e 25 páginas e ser digitados em Word 7.0 ou versão mais atualizada, formato do papel A4, fonte arial tamanho 12 e com espacejamento 1,5 entre as linhas, para o texto normal; para as citações diretas de mais de três linhas, notas de rodapé, paginação e legendas de ilustrações e tabelas, o tamanho da fonte passa a ser o 10, e o espacejamento, simples. 4) As páginas devem apresentar margem esquerda e superior de 3 cm, direita e inferior de 2 cm, e as citações diretas de mais de três linhas devem ser destacadas em parágrafo próprio com recuo de 4 cm da margem esquerda e sem aspas. 5) No texto, as citações devem ser indicadas pelo sistema de chamada autor-data (exemplo: WARAT, 1985, p. 30), o qual admite somente notas de rodapé explicativas. 6) As referências bibliográficas devem vir em lista única ao final do trabalho, ordenadas pelo sistema alfabético, digitadas em espaço simples, separadas entre si por espaço 1,5. 7) As locuções em língua estrangeira e destaques deverão ser redigidos em itálico. 8) Todos os textos devem seguir as demais normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre citações e notas de rodapé, referências em documentos e outras especificidades (ver, notadamente a NBR 14724, a NBR 10520 e a NBR 6023, todas de agosto de 2002). 9) Os artigos (de ambas as seções) deverão ter suas introduções antecedidas por resumos em português e correspondentes em inglês (abstract) e em mais um idioma de divulgação internacional que não o do próprio texto (résumé, resumen, riassunto, resumo etc.) de até 10 linhas, Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 149-155, 2009-2. Conselho Editorial 153 bem como de 3 a 6 palavras-chave também com as correspondentes em inglês (keywords) e em mais um idioma de caráter internacional que não o do próprio texto (mots clés, palabras clave, parole-chiave, palavras-chave etc.), para fins de adequada indexação. 10) As colaborações para a seção “Resenha” deverão conter de 2 a 5 páginas, enquadrar-se na temática do número da Revista e versar sobre obra clássica, ainda não publicada no Brasil ou muito recente, desde que tenha impacto na temática da Revista, nada obstando que a obra reúna mais de uma dessas características 11) Artigos científicos e resenhas não poderão ser assinados por meio de pseudônimos. A identificação da autoria das resenhas segue os mesmos requisitos da dos artigos. 12) Tanto no caso de artigos quanto no de resenhas, os autores ou co-autores deverão encaminhar seus trabalhos com ofício datado, contendo a declaração de ineditismo do texto, além dos seguintes dados: título do trabalho, nomes completos, endereços completos (inclusive os eletrônicos) e telefones. Deverão ainda veicular a autorização para a publicação e a cedência formal dos direitos de publicação, pelo preenchimento e anexação da Ficha de Autorização de Publicação de Obra Intelectual, disponível em www.unicuritiba.edu.br, link Núcleo de Pesquisa Publicações Revista de Relações Internacionais no Mundo Atual. 13) A permissão para o uso de ilustrações, imagens, tabelas, etc., extraídas de outras publicações, bem como quaisquer outras licenças ou aprovações perante entidades detentoras de direitos autorais, é de plena responsabilidade dos autores dos artigos e das resenhas. 14) Os artigos ou resenhas internacionais redigidos em espanhol deverão ser encaminhados e serão publicados em seu idioma original, caso em que, além dos resúmenes e palabras clave traduzidos em inglês, poderão também ter esses correspondentes em língua portuguesa. 14.1) Artigos ou resenhas internacionais redigidos em outros idiomas, que não o espanhol, deverão ser encaminhados nos idiomas originais e terão tradução para o vernáculo (publicação bilíngüe). Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 149-155, 2009-2. 154 Normas Editoriais 14.2) Artigos ou resenhas escritos por acadêmicos somente serão recebidos para análise se apresentados em co-autoria com professores orientadores de projetos de pesquisa, de extensão, de trabalhos de conclusão de cursos de graduação ou de pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado). 15) A publicação das colaborações recebidas estará condicionada à avaliação do Conselho Científico da Revista e de eventuais avaliadores ad hoc, que poderão aprová-las na íntegra, sugerir alterações ou recusálas definitivamente. 16) A Editoria da Revista enviará correspondência eletrônica confirmando o recebimento dos trabalhos, bem como a lista daqueles que forem selecionados para a respectiva publicação. 17) A Editoria da Revista poderá executar, com ou sem recomendação do Conselho Científico e dos avaliadores ad hoc, pequenas alterações de caráter meramente formal nos textos recebidos, de modo a adequá-los aos padrões da ABNT, não sendo admitidas modificações de estrutura, conteúdo ou estilo, sem o prévio consentimento dos autores. 18) Os autores de artigos e resenhas aprovados para publicação com sugestões de alterações (correções de linguagem, adequações à ABNT etc.) por parte dos avaliadores ou da Editoria da Revista serão contatados pela Instituição para realizá-las e, depois disso, emitir nova autorização de publicação. A Editoria pode recusar a publicação dos artigos ou das resenhas em relação aos quais foram feitas ressalvas pelos avaliadores, caso essas não tenham sido consideradas pelos respectivos autores. 19) É o Conselho Editorial, integrado por membros dotados de maturidade científica e senioridade em pesquisa, representantes de mais de um Estado da Federação brasileira e futuramente de alguns países, que auxilia a Editoria na definição do projeto editorial (temática) de cada número da Revista e na resolução de dúvidas a ele pertinentes. 20) É o Conselho Científico, composto pelos professores do Curso de Administração de Empresas do UNICURITIBA e de alguns convidados externos, que auxilia a Editoria da Revista tanto na revisão dos artigos Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 149-155, 2009-2. 155 Conselho Editorial recebidos (Ficha de Avaliação de Artigos) e na indicação de avaliadores ad hoc (internos ou externos à Instituição), quando necessário, como na captação de artigos conforme as temáticas da Revista. Na avaliação dos artigos serão mantidas em sigilo suas autorias. 21) A Revista adota uma política de combate à endogenia, seguindo as diretrizes da CAPES, no sentido de que seja o menor possível o número de artigos publicados de autoria de professores da própria Instituição. 22) A publicação não implica nenhuma espécie de remuneração, somente cabendo aos autores de artigos e resenhas o encaminhamento, gratuito, de 3 (três) exemplares do número da Revista em que tiver sido veiculada sua colaboração, havendo também o encaminhamento de 1 (um) exemplar para cada membro dos conselhos e aos revisores ad hoc. Curitiba, 9 de dezembro de 2009. COMISSÃO EDITORIAL e EDITORIA DA REVISTA Adm. de Emp. em Revista, Curitiba, n. 9, p. 149-155, 2009-2.