EDUCAÇÃO EM DIABETES MIRANDA, Silvio Cesar Universidade Paulista (UNIP) Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI) [email protected] OLIVEIRA, Daniela Soares Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] RESUMO: O Diabetes Mellitus tipo I (DM1) é uma doença crônica caracterizada pela destruição parcial ou total das células beta das ilhotas de Langerhans pancreáticas, resultando na incapacidade progressiva em produzir insulina. Esse processo pode levar meses ou anos, mas só aparece clinicamente quando já houve a destruição de pelo menos 80% da massa de ilhotas. Há inúmeros fatores, genéticos e ambientais que contribuem para que haja ativação imunológica desencadeando esse processo destrutivo. O Diabetes Mellitus tipo II (DM2) é a forma presente em 90%-95% dos casos e caracteriza- se por defeitos na ação e na secreção da insulina. Em geral ambos os defeitos estão presentes quando a hiperglicemia se manifesta, porém pode haver predomínio de um deles. O DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas é geralmente diagnosticado após os 40 anos. Os pacientes não são dependentes de insulina exógena para sobrevivência, porém podem necessitar de tratamento com insulina para a obtenção de um controle metabólico adequado. Diferentemente do DM1 auto-imune não há indicadores específicos para o DM2. Existem provavelmente diferentes mecanismos que resultam nessa forma de DM, e com a identificação futura de processos patogênicos específicos ou defeitos genéticos, o número de pessoas com essa forma de DM irá diminuir à custa de uma mudança para uma classificação mais definitiva em outros tipos específicos de DM. O número de indivíduos diabéticos está aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida do paciente com DM. Quantificar a prevalência de DM e o número de pessoas diabéticas, no presente e no futuro, é importante para permitir uma forma racional de planejamento e alocação de recursos e ações educacionais, para a construção de um comportamento saudável de pacientes diabéticos. PALAVRAS-CHAVE: Diabetes Mellitus; insulina; ações educacionais. ABSTRACT: Diabetes Mellitus type I (T1DM) is a chronic disease that is characterized by partial or total destruction of the Beta Cells of the Langerhan’s pancreatic islets which results in the progressive inability to produce insulin. This process may take months or years, but it only occurs clinically when the body’s immune system attacks and destroys at least 80% of the pancreatic islet cells. There are numerous genetic and environmental factors that contribute to this destructive process. Diabetes Mellitus type II (T2DM) present in 90% – 95% of the cases is characterized by the disability in producing and secreting insulin. Both disabilities are presented when hyperglycaemic reactions manifest themselves, but there may be preponderance of one of them. The T2DM may occur at any age but it is normally diagnosed in adults over 40. Patients are not dependent on exogenous insulin for survival, but they may need treatment with insulin in order to obtain an adequate metabolic control. There is no specific indicator for T2DM. There are probably different mechanisms that result in this type of DM, and with the future identification of specific pathogenic processes or genetic disabilities, the number of people with T2DM will decrease due to a conclusive classification of the other specific types of DM. The number of diabetics is increasing because of the growth and the ageing of the population, the stress, the obesity, the sedentary habits as well the increase of their survival rate. To quantify the prevalence and the number of the cases of DM nowadays and in the future is Important in order to allow a rational planning, resources and educational activities to build a healthy behaviour for diabetic patients. KEYWORDS: Diabetes Mellitus; insulin; educational activities. Interciência & Sociedade 85 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. 1. INTRODUÇÃO O Diabetes Mellitus configura-se hoje como uma epidemia mundial, e um grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. O envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. Um indicador macroeconômico a ser considerado é que o diabetes cresce mais rapidamente em países pobres e em desenvolvimento e isso impacta de forma muito negativa devido à morbimortalidade precoce que atinge pessoas ainda em plena vida produtiva, onera a previdência social e contribui para a continuidade do ciclo vicioso da pobreza e da exclusão social (MONTENEGRO, 2003). O diabetes pode ser ocasionado por carência de insulina, pela resistência a esse hormônio ou pelas duas razões. No processo normal a refeição, usada pelo corpo como energia, é transformada em glicose que é uma fonte de combustível para o corpo e entra na circulação sanguínea. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas para controlar a glicose sanguínea, ou seja, transporta a glicose da corrente sanguínea até as células dos músculos, de gordura e do fígado, onde esse açúcar é usado como combustível. (COLLET-SOLBERG, 2001). As pessoas com diabetes possuem muita glicose no sangue. Isto se deve ao fato do pâncreas não produzir insulina suficiente para as células dos músculos, de gordura e do fígado (COLLET-SOLBERG, 2001). O diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos,especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogê- 86 nicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros (KUMAR,2008). Há duas formas atuais para classificar o diabetes, definidos de acordo com defeitos ou processos específicos, e a classificação em estágios de desenvolvimento, incluindo estágios pré-clínicos e clínicos (KUMAR, 2008). O sucesso de tratamento e controle do diabetes caminha em conjunto com uma educação para o diabetes. Desta forma torna-se fundamental fazer uma breve reflexão sobre o comportamento alimentar e a assimilação de informações pertinentes à patologia do diabetes. A educação é uma forma de socialização, ou seja, uma ferramenta para incluir o indivíduo na sociedade (BRANDÃO, 2007). Atualmente existe uma obsessão pela boa mesa e pela forma física, amplamente divulgado pelos meios de comunicação, nem sempre contribuindo para um comportamento alimentar adequado e preventivo à inúmeras patologias, entre elas o diabetes. Observa-se uma necessidade de uma política educacional voltada para a educação alimentar dos indivíduos já na fase escolar, possibilitando a construção de um conhecimento e comportamento na vida adulta para à saúde. 2. Metodologia A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho foi uma revisão bibliográfica, em obras de cunho acadêmico nacional e internacional. A pesquisa bibliográfica é considerada o primeiro passo de toda a pesquisa científica (LAKATOS,1996). Por se tratar de um trabalho acadêmico, portanto um saber organizado e sistemático faz-se necessário argumentar sobre o conhecimento e metodologia. O conhecimento classifica-se em vulgar, a alcance de todos, da massa; esse tipo de conhecimento na maioria das vezes apresenta-se soluções rápidas e simples. Científico, foge do alcance da massa, preocupa-se não só com os problemas, bem Interciência & Sociedade Educação em diabetes como, com as soluções nascidas de observação sistemática e análise do interrelacionamento das partes no conjunto e na compreensão do todo (CASTRO,2000). Para o desenvolvimento do presente trabalho utilizamos o método acima citado, compreendendo que o mesmo contribuiria para evidenciar a interface entre educação e diabetes. 3. Tipos de Diabetes - classificação etiológica Os tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo I, anteriormente conhecido como diabetes juvenil, que compreende cerca de 10% do total de casos, e o diabetes tipo II, anteriormente conhecido como diabetes do adulto, que compreende cerca de 90% do total de casos. Outro tipo de diabetes encontrado com maior frequência e cuja etiologia ainda não está esclarecida é o diabetes gestacional, que em geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento pré-natal (NAVES et al.,2003). Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes (NAVES et al.,2003). 3.1. Diabetes tipo O termo tipo I indica destruição das células beta que eventualmente leva ao estágio de deficiência absoluta de insulina, quando a administração de insulina é necessária para prevenir cetoacidose, coma e morte. A destruição das células beta é geralmente causada por processo auto-imune, que pode se detectado por auto-anticorpos circulantes como anti-descarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina, e, algumas vezes, está associado a outras doenças auto-imunes como a tireoidite de Hashimoto, a doença de Addison e a miastenia grave. Em menor proporção, a causa da destruição das células beta é desconhecida (tipo 1 idiopático).O desenvolvimento do diabetes tipo I pode ocorrer de forma rapidamente progressiva,principalmente, em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 e 14 anos), ou deforma lentamente progressiva, geralmente em adultos, (LADA - Latent Autoimmune Diabetesin Adults). Esse último tipo de diabetes, embora assemelhando-se clinicamente ao diabetes tipo I auto-imune, muitas vezes é erroneamente classificado como tipo II pelo seu aparecimento tardio. Estima-se que 5% à 10% dos pacientes inicialmente considerados como tendo diabetes tipo II podem, de fato, ter LADA (ALBERTI,1999). 3.2. Diabetes tipo II O termo tipo II é usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses casos, quando efetuada, não visa evitar cetoacidose,mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e, quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. A maioria dos casos apresenta excesso de peso ou deposição central de gordura. Em geral, mostram evidências de resistência à ação da insulina e defeito na secreção de insulina, manifesta-se pela incapacidade de compensar essa resistência. Em alguns indivíduos, no entanto, a ação da insulina é normal, e o defeito secretor mais intenso (ALBERTI,1999). 3.3. Diabetes gestacional É a hiperglicemia diagnosticada na gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no período pós-parto, mas retornando anos depois em grande parte dos casos. A OMS (Organização Mundial de saúde) recomenda detectá-lo com os mesmos procedimentos diagnósticos empregados fora da gravidez, considerando como diabetes gestacional valores referidos fora da gravidez, como indicativos de diabetes ou de tolerância à glicose diminuída (KUMAR, 2008). Cerca de 80% dos casos de diabetes tipo II podem ser atendidos predominantemente na atenção básica, enquanto que os casos de diabetes tipo I requerem maior Interciência & Sociedade 87 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. colaboração com especialistas em função da complexidade de seu acompanhamento. Em ambos os casos, a coordenação do cuidado dentro e fora do sistema de saúde é responsabilidade da equipe de atenção básica à saúde (KUMAR, 2008). 4. Diagnóstico O diagnóstico do diabetes é estabelecido quando o indivíduo apresenta uma concentração sérica alta de glicose. Frequentemente, a concentração sérica de glicose (glicemia) é verificada durante um exame anual de rotina, no exame pré-admissional ou no exame para liberar um indivíduo para a prática esportiva. Além disso, o médico pode verificar a concentração sérica de glicose para descobrir a possível causa de sintomas como o aumento da sede, da micção ou do apetite, ou quando o indivíduo apresenta fatores de risco típicos como, por exemplo, uma história familiar de diabetes, obesidade, infecções frequentes ou qualquer uma das complicações associadas ao diabetes. Para dosar a concentração sérica de glicose, uma amostra de sangue é comumente coletada após o indivíduo realizar um jejum de aproximadamente 8 horas. Porém, a amostra pode ser coletada após uma refeição. Uma certa elevação da concentração sérica de glicose após comer é normal, mas assim mesmo ela não deve atingir valores muito elevados. Nos indivíduos com mais de 65 anos de idade, o melhor é realizar o exame após um período de jejum, uma vez que os idosos apresentam um maior aumento da concentração de glicose no sangue após comer. Um outro tipo de exame de sangue, o teste de tolerância à glicose oral, pode ser realizado em determinadas situações, como por exemplo, quando o médico suspeita que uma gestante apresenta diabetes gestacional. Neste teste, o indivíduo jejua durante um período, uma amostra de sangue é coletada para a dosagem da concentração sérica de glicose de jejum e, em seguida, o indivíduo ingere uma solução especial contendo uma quantidade padronizada de glicose. Outras amostras serão coletadas num período entre 2 e 3 horas seguintes, após a coleta da primeira amostra (COLLET, 2001). 88 5. Tratamento O principal objetivo do tratamento do diabetes é manter o máximo possível a concentração sérica de glicose dentro dos limites de normalidade. A manutenção da concentração de glicose completamente normal é difícil, mas quanto mais ela for mantida dentro da faixa de normalidade, menos provável será a ocorrência de complicações temporárias ou de longo prazo. O principal problema ao se tentar manter um controle rígido da concentração sérica de glicose é a maior chance de se produzir uma redução exagerada da mesma (hipoglicemia). O tratamento do diabetes requer atenção ao controle do peso, à atividade física e à dieta (ALBERTI, 1999). Indivíduos obesos com diabetes tipo II não necessitariam de medicação, caso perdessem peso e mantivessem uma atividade física regular. Contudo, a redução de peso e o aumento do exercício físico, são para a maioria dos indivíduos diabéticos é difícil. Por essa razão, a terapia de reposição de insulina ou com medicamentos hipoglicemiantes orais é frequentemente necessária. O exercício reduz diretamente a concentração sérica de glicose e, também, a quantidade de insulina necessária (ALBERTI, 1999). A dieta é muito importante, geralmente, os indivíduos diabéticos não devem consumir alimentos doces em excesso e devem alimentar-se dentro de um esquema regular. No entanto, o consumo de um lanche no momento de deitar ou no final da tarde frequentemente previne a hipoglicemia em indivíduos que auto-aplicam uma insulina de ação intermediária pela manhã ou à noite. Como os indivíduos diabéticos apresentam uma tendência a apresentar concentrações altas de colesterol, os nutricionistas normalmente recomendam a limitação da quantidade de gorduras saturadas na dieta. No entanto, a melhor maneira de se reduzir a concentração de colesterol é controlar a concentração sérica de glicose e o peso corpóreo. A maioria dos diabéticos beneficia-se com o fornecimento de informações sobre a doença, e sobre o que eles podem fazer para controlá-la. Essa orientação é mais adequadamente provida Interciência & Sociedade Educação em diabetes por uma equipe multidisciplinar, preparada em educação sobre diabetes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Todos os diabéticos devem compreender como a dieta e o exercício físico, afetam a concentração sérica de açúcar e devem estar conscientes de como evitar as complicações como, por exemplo, examinar a pele em busca de ulcerações. Também devem tomar um cuidado especial para evitar infecções nos pés, podendo ser benéfico lançar mão de um podólogo para o corte das unhas dos pés (Figura 1). É essencial a realização anual de um exame oftalmológico para se investigar alterações dos vasos sangüíneos que podem levar à cegueira (retinopatia diabética). Os indivíduos diabéticos sempre devem carregar consigo um cartão ou uma pulseira de alerta médico, que identifique a patologia na eventualidade de sofrerem uma lesão ou apresentarem uma concentração sérica alta ou baixa de glicose. Alertar os profissionais da saúde para a presença do diabetes permite que eles instituam rapidamente um procedimento adequado ao portador de diabetes, fundamental para salvar a vida do indivíduo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Figura 1: Lesão dos vasos sanguíneos dos pés. Fonte: <http://saude.ig.org.br> 5.1. Terapia de Reposição da Insulina No diabetes tipo I, o pâncreas não consegue produzir insulina e, por essa razão, ela deve ser reposta. A reposição pode ser realizada somente através de injeção. Como a insulina é destruída no estômago, ela não pode ser administrada pela via oral. A insulina é injetada sob a pele, na camada de gordura, normalmente no membro superior, na coxa ou na parede abdominal. O uso de seringas pequenas com agulhas muito finas torna as injeções praticamente indolores. Um dispositivo de bomba de ar que injeta a insulina sob a pele pode ser utilizado nos indivíduos que não suportam agulhas. Uma caneta de insulina, a qual contém um cartucho com insulina e é fechada como uma caneta grande, é um modo conveniente para o transporte da insulina, especialmente para aqueles que administram várias injeções diárias longe de casa. Outro dispositivo é a bomba de insulina, a qual bombeia a insulina continuamente de um reservatório através de pequena agulha que é mantida na pele (NAVES, 2003). Interciência & Sociedade 89 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. Doses adicionais de insulina podem ser programadas ou disparadas de modo que a bomba simule o máximo possível a maneira como ela é normalmente produzida pelo organismo. Para alguns indivíduos, a bomba oferece um maior grau de controle, enquanto outros consideram o seu uso desconfortável ou apresentam feridas no local de inserção da agulha. A insulina encontra-se disponível sob três formas básicas, cada qual com velocidade e duração da ação diferente. A insulina de ação rápida, como a insulina regular, é a que possui a ação mais rápida e curta. Este tipo de insulina frequentemente começa a diminuir a concentração sérica de glicose em 20 minutos, atinge a atividade máxima em 2 a 4 horas e sua ação dura 6 a 8 horas. A insulina de ação rápida é comumente utilizada por indivíduos que tomam várias injeções diárias e é injetada de 15 à 20 minutos antes das refeições. A insulina de ação intermediária, como a insulina zinco em suspensão ou a insulina isofano em suspensão, começa a agir em 1 à 3 horas, atinge a atividade máxima em 6 à 10 horas e a sua ação dura de18 à 26 horas (NAVES, 2003). Este tipo de insulina pode ser utilizado pela manhã, para dar cobertura durante a primeira parte do dia, ou ao entardecer, para prover a quantidade necessária durante a noite. A insulina de ação prolongada, como a insulina zinco em suspensão de ação prolongada, tem um efeito muito reduzido durante as 6 primeiras horas (NAVES, 2003). 5.2. Controle do Tratamento O controle da concentração sérica de glicose é uma parte essencial do tratamento do diabetes. Embora possa ser verificada a presença de glicose na urina, o exame de urina não é uma boa maneira para se controlar o tratamento ou para se realizar ajustes da terapia. Atualmente a concentração sérica de glicose pode ser facilmente aferida em casa. Uma gota de sangue é obtida através da punção da ponta do dedo, com uma pequena lanceta. A lanceta pode puncionar o dedo ou pode ser colocada em um dispositivo com uma mola que perfura a pele rápida e facilmente (Figura 2). Quase todos os diabéticos consideram a perfuração praticamente indolor. A seguir, uma gota de sangue é colocada sobre uma tira reagente. Na presença de glicose, a tira reagente muda de cor ou apresenta alguma outra alteração química (OLIVEIRA, 2001). Existem vários aparelhos disponíveis, e eles usam apenas uma gota de sangue. A automonitoração indica se a dieta, a medicação e os exercícios físicos combinados e sob orientações de uma equipe multidisciplinar, estão sendo eficazes para controlar o diabetes. (DUNCAN, et al., 1993). Figura 2: Autoteste de Glicemia Capilar. Fonte: :<http://saude.ig.org.br> 90 Interciência & Sociedade Educação em diabetes Algumas tiras mudam de cor o bastante para permitir a leitura da concentração sérica de glicose através da sua comparação com as cores impressas em um gráfico. Outro sistema possível e mais preciso consiste no uso de um aparelho que lê as alterações da tira de teste e apresenta o resultado em um monitor digital. A maioria desses aparelhos cronometra a reação e lê o resultado automaticamente. Os aparelhos são pequenos, possuindo um tamanho que varia do tamanho de uma caneta ao de um maço de cigarros. Os indivíduos diabéticos devem anotar os valores de suas concentrações séricas de glicose e informá-los ao médico ou ao enfermeiro para orientação sobre o ajuste da dose de insulina ou de um hipoglicemiante oral. Em alguns casos e durante as visitas sucessivas do paciente, o médico ou o enfermeiro podem ensiná-lo como ajustar a dose da insulina (DUNCAN, 1993). Os profissionais da área da saúde utilizam um exame de sangue denominado hemoglobina glicosilada (ou hemoglobina A1C) para controlar o tratamento. Quando a concentração sérica de glicose encontra-se elevada, ocorrem alterações na hemoglobina, a substância que transporta o oxigênio no sangue. Essas alterações são diretamente proporcionais à concentração sérica de glicose durante um longo período. Portanto, ao contrário da dosagem da concentração de açúcar no sangue, a qual revela o nível em um determinado momento, a dosagem da hemoglobina glicosilada revela o grau de controle da concentração sérica de açúcar nas últimas semanas. A concentração normal da hemoglobina glicosilada é inferior a 7%. Os indivíduos diabéticos raramente atingem esses níveis, mas o objetivo do controle rigoroso é aproximar-se deles. A concentração superior a 9% revelam um mau controle e a superior a 12% revela um controle muito ruim. A maioria dos profissionais especializados no tratamento do diabetes recomendam a dosagem da hemoglobina glicosilada no período de 3 à 6 meses (KUMAR, 2008). Um nutricionista pode ajudar no planejamento das suas necessidades dietéticas. Diabéticos tipo I devem comer nos mesmos horários todos os dias e tentar ser consistentes com os tipos de alimentos selecionados. Isso ajuda a impedir que o nível glicêmico fique extremamente alto ou baixo. Diabéticos tipo II devem seguir uma dieta bem balanceada com pouca gordura (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). A medicação para tratar o diabetes consiste em insulina e comprimidos que reduzem o nível de glicose no sangue, chamados de drogas hipoglicêmicas. Diabéticos tipo I não conseguem produzir sua própria insulina. Por isso, eles precisam de injeções de insulina. A insulina não é apresentada em comprimidos. Geralmente, são necessárias de uma a quatro injeções por dia. Algumas pessoas usam uma bomba de insulina. Ela é usada o tempo todo e secreta um fluxo constante de insulina durante o dia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Diferentemente do tipo I, o diabetes tipo II responde a um tratamento com exercícios físicos, dieta e medicamentos orais. Existem diversos tipos de remédios usados para reduzir a glicose sanguínea no diabetes tipo II (KUMAR, 2008). Durante a gravidez e a amamentação, os medicamentos podem ser trocados pela insulina. A diabetes gestacional pode ser tratada com exercícios físicos e mudanças na dieta (DUNCAN et al., 1993) A prática regular de exercícios físicos é muito importante para os diabéticos. Ela ajuda no controle da glicemia, do peso e da hipertensão. Diabéticos que praticam exercícios têm menor probabilidade de sofrerem um ataque cardíaco ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), em comparação àqueles que não praticam exercícios regularmente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Com um bom controle da glicose e da pressão arterial, muitas das complicações do diabetes podem ser evitadas. Estudos mostram que o controle rígido dos níveis de glicemia, de colesterol e de pressão arterial nos diabéticos ajuda a minimizar o risco de doença hepática, ocular, do sistema nervoso, ataque cardíaco e AVC (ALBERTI, 1999). Manter o peso ideal e um estilo de vida ativo pode evitar o diabetes tipo II. AtuInterciência & Sociedade 91 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. almente, não existe nenhuma maneira de prevenir o diabetes tipo I. Não existem exames de triagem eficazes para o diabetes do tipo I em pessoas que não apresentam os sintomas. A realização de exames de triagem para o diabetes tipo II em pessoas que não apresentam os sintomas é recomendado para: crianças acima do peso que apresentam outros fatores de risco para o diabetes (começando aos 10 anos de idade e repetindo a cada 2 anos), adultos acima do peso (com índice de massa corporal acima de 25) que apresentam outros fatores de risco, adultos acima dos 45 anos (repetindo a cada 3 anos) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,2000). 6. Educação Após ampla pesquisa e discussão sobre a patologia do diabetes, com os alunos do sexto semestre do Curso de Nutrição, da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, localizada no município de Mogi Guaçu, estado de São Paulo, consideramos de fundamental importância, para a construção do conhecimento, fazermos uma breve reflexão sobre o papel da educação no controle e acompanhamento do diabetes. O controle da doença perpassa pela educação alimentar, desta forma as unidades de ensino em seu trabalho pedagógico constituem um importante elemento na orientação sobre a patologia. Com um perfil inovador os Parâmetros Curriculares Nacionais- PCNs, constituem a orientação curricular oficial para a Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental I e II, ensino médio). Trazendo as disciplinas tradicionais com os seis temas transversais: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual e trabalho-consumo. Devendo ter um lugar de destaque nas escolas, e, por isso a educação nutricional deve estar inserida no universo escolar. Como o controle do diabetes está diretamente ligado ao comportamento alimentar, e a criança, o adolescente na sua fase escolar devem ser alvo de orientação. A implantação da educação nutricional no ensino fundamental é uma questão política 92 (HABERMAS,1990). A implantação da educação alimentar nas unidades de ensino receberiam críticas por desafiar o modelo vigente. Convivemos com uma cultura alimentar onde encontramos os excessos ou exageros gastronômicos, amplamente divulgados pelos compêndios médicos, artigos científicos e pelos meios de comunicação de massa (HABERMAS, 1990). Para a educação em relação ao diabetes, seria necessário uma construção coletiva do conhecimento mediante planejamento didático participativo de todo o corpo docente das unidades de ensino, sociedade, equipes de saúde, escola, a criança e a família, e tendo como meta o comportamento adulto saudável, no que se refere a alimentação, atividades físicas e exames médicos preventivos. Diante de tais reflexões e pesquisas, verificou-se a necessidade de uma palestra orientativa junto às unidades de ensino, da rede Estadual e Municipal de ensino. Com uma postura e procedimento educativo, observamos uma variada rede de informações sobre o diabetes, porém nem sempre compatível e coerente aos procedimento corretos e profiláticos do diabetes. Confirma-se a concepção que a educação determina o indivíduo, e a sociedade determina a educação (FERREIRA, 2000). 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos que a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, que é necessário para as células utilizar o açúcar no sangue, e que os indivíduos com diabetes possuem uma alta taxa de açúcar no sangue, devido ao fato de que o pâncreas não produz insulina suficiente para as células dos músculos, de gordura e do fígado. É uma doença que pode ser controlada com dieta e medicamentos específicos, porém quando não tratada pode causar perda de visão, ulcerações na pele e problemas cardíacos e renais. Os sintomas apresentados, geralmente é vontade frequente de urinar, sede exagerada, cansaço constante, infecções urinárias ou de pele, visão turva, coceira, perda de peso, eventuais feridas que Interciência & Sociedade Educação em diabetes demoram a cicatrizar. O diabetes apresenta dois grupos: diabetes Mellitus tipo I - ocasionado pela destruição da célula beta do pâncreas, em geral por decorrência de doença auto-imune, levando a deficiência absoluta de insulina, e, diabetes Mellitus tipo II - provocado predominantemente por um estado de resistência à ação da insulina associado a uma relativa deficiência de sua secreção. Outro tipo de diabetes encontrado com maior frequência é o diabetes gestacional, detectado no rastreamento pré-natal. Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes. De acordo com a importância da patologia diabetes, a educação e a informação se fazem necessário, para evitar perdas da função biológica e consequência econômicas. Educação em saúde possibilita capacitação e ações transformadoras que favorecem mudança de pensamentos e ações, se aplicando bem às doenças crônicas, dentre as quais, destaca-se o diabetes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTI KGMM, ZIMMET PZ, for the World Health Organization Consultation. Definition, diagnosis and classification of diabetes mellitus and its complications. Part 1: Diagnosis and classification of diabetesmellitus. Report of a WHO Consultation. Geneva:; 1999. BRANDÃO, C. R. O que é Educação? Editora Brasilense. São Paulo,2007. COLLET-SOLBERG, PF. Cetoacidose Diabética em Crianças: Revisão da fisiopatologia e tratamento com o uso do “método de duas soluções salinas”. J Ped 2001;77:9-16. DUNCAN, B.B., SCHIMIDT, M.I., POLANCZK, C.A., et al. Risk Factors for non-communicable diseases in a metropolitan area in south of Brazil: prevalence and simultaneity. Rev. Saúde Pública 1993;27:43-8. FERREIRA, R. M. Sociologia da Educação. Editora Atica: São Paulo, 2000. HABERMAN, J. 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Atualmente é coordenadora do curso de Nutrição e Docente na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro. Interciência & Sociedade 93