12º Simpósio de Geologia da Amazônia, 02 a 05 de outubro de 2011 - Boa Vista - Roraima Caracterização petrográfica das rochas vulcânicas do Grupo Iricoumé, Projeto UatumãAbonari bloco II Paloma Gabriela Rocha1, Desaix Paulo Balieiro Silva1, Júlio César Lombello2, Marcelo Esteves Almeida1, Marcely Pereira Neves1 1 CPRM – Serviço Geológio do Brasil, Superintendência Manaus, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]; 2 CPRM – Serviço Geológio do Brasil,Superintendência Belo Horizonte, [email protected]. Resumo Os dados apresentados neste trabalho são referentes às rochas vulcânicas do Grupo Iricoumé e representam os resultados preliminares do mapeamento geológico das folhas SA-20-X-B-VI e SA-21-V-A-IV (escala 1:100.000), pertencentes ao Bloco-2 do Projeto Uatumã-Abonari, desenvolvido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM-Superintendência Regional de Manaus). A área localiza-se a aproximadamente 300 km de Manaus, setor nordeste do Estado do Amazonas. O Grupo Iricoumé é constituído por depósitos piroclásticos intercalados com derrames vulcânicos ácidos a intermediários de composição subalcalina e são intrudidos por granitos da Suíte Mapuera e da Suíte Água Branca. Este estudo tem por objetivo auxiliar na individualização das diferentes fácies vulcânicas do Grupo Iricoumé através das descrições petrográficas das amostras coletadas no mapeamento da área. Palavras –chave: rochas vulcânicas, petrografia, Grupo Iricoumé. INTRODUÇÃO A área do projeto Uatumã-Abonari (Bloco II) localiza-se na borda sul do Escudo das Guianas, no seu contato com as unidades sedimentares paleozóicas da Bacia Amazônica, e é ocupada, em sua maior parte, por granitóides paleoproterozóicos das suítes Água Branca e Mapuera, e por rochas vulcânicas de mesma idade atribuídas ao Grupo Iricoumé (Figura 1). As rochas do Grupo Iricoumé foram classificadas como efusivas e hipabissais ácidas a intermediárias, e piroclásticas de composição predominantemente ácida (Ferron 2006). Essa unidade foi datada por Macambira et al.(2002) em 1.893 ± 2 Ma, a partir do método de evaporação de Pb-Pb. Figura 1 - Mapa de localização do Projeto Uatumã-Abonari dentro do contexto do Escudo das Guiana modificado de Dreher (2009). MATERIAIS E MÉTODOS A caracterização petrológica das rochas vulcânicas do projeto UatumãAbonari (Bloco II) foi realizada por meio de análise petrográfica. A análise petrográfica compreendeu a descrição de seções delgadas das rochas da região em estudo utilizando microscópio binocular 12º Simpósio de Geologia da Amazônia, 02 a 05 de outubro de 2011 - Boa Vista - Roraima petrográfico polarizador do Laboratório de Microscopia da CPRM, SUREG-Manaus. As rochas foram classificadas segundo o diagrama QAPF (Le Maitre, 1989) totalizando 15 amostras descritas. RESULTADOS Com base nos dados de campo e análises petrográficas, foi possível separar as rochas nos seguintes grupos: Piroclásticas ácidas a intermediárias (amostras JL157, JL170, JL161, MA040, MA041, MN05, MN010, MN017); Vulcânicas ácidas a intermediárias (JL 155, JL164, MA037); Sedimentares vulcanogênicas (JL158 e MN009b). Piroclásticas ácidas a intermediárias O estudo petrográfico possibilitou a subdivisão das rochas piroclásticas em ignimbritos (amostras JL157, JL170 JL161, MA40 e MN005) e tufos de queda riolíticos (amostras MA041, MN010 e MN017). Os ignimbritos são riolíticos e riodacíticos, em geral fortemente soldados e ricos em fenocristais (cerca de 40% do volume das rochas) que variam de 0,5 a 8mm. O fenocristais de feldspato alcalino são normalmente pertíticos e bastante fragmentados e corroídos. Os fenocristais de quartzo apresentam extinção ondulante como principal característica. Plagioclásio são mais raros e predominantemente tabulares e maclados. Fenocristais menores, de opacos, biotita, titanita, clorita e epidoto também ocorrem. A matriz é félsica, cripto a microcristalina e com textura de intercrescimento (textura microgranofírica) no caso da amostra MN005. Partículas vítreas podem ser reconhecidas em todas as lâminas, sendo os fiammes mais frequentes e partículas de shards encontradas apenas na lâmina JL157 (Fig. 2A), indicando o pouco soldamento desta rocha. Grandes fragmentos de púmice foram descritos nas amostras JL157 e MN005 (Fig. 2B). Fraturas estilolíticas foram verificadas na lâmina MN005, indicando dissolução de material vítreo durante a diagênese. Os tufos de queda riolíticos apresentam textura porfirítica seriada formada por pequenos fenocristais (até 0,5mm) de quartzo, plagioclásio, feldspato alcalino; vitroclastos (púmices e shards, Fig. 2C); e litoclastos imersos em uma matriz cinerítica (Fig.3D). A C B D Figura 2 - Fotomicrografia – A) partículas de shards, na lâmina JL157; B) grande fragmento de púmice, lâmina JL157; C) fragmento de púmice, lâmina MA41; D) textura porfirítica seriada em uma matriz cinerítica, lâmina MN02. 12º Simpósio de Geologia da Amazônia, 02 a 05 de outubro de 2011 - Boa Vista - Roraima Vulcânicas ácidas a intermediárias As rochas vulcânicas ácidas a intermediárias foram classificadas como riolitos e riodacitos de textura porfirítica definida pela grande quantidade de fenocristais de feldspato alcalino, quartzo e plagioclásio que variam de 0,5mm a 3mm em meio a uma matriz fina a microcristalina de composição quartzo feldspática, enquanto a amostra MA037 apresenta uma matriz microgranofírica levemente foliada (Fig 3A). O agrupamento localizado de fenocristais na lâmina JL 164 permite definir como subordinada a textura glomeroporfirítica (Fig 3B). Os fenocristais de feldspato alcalino, geralmente ortoclásio e eventualmente microclínio, variam de anédricos a subédricos, estão sericitizados com pertitização incipiente. Os fenocristais de plagioclásio são euédricos a subédricos e saussuritizados. Fenocristais de quartzo subédricos a euédricos, bastante fraturados e fragmentados com golfos de corrosão. Quartzo também como produto secundário preenchendo fraturas e preenchendo pequenas sombras de pressão nos fenocristais. Pequenos cristais de biotita, geralmente associados aos opacos, apatita e epidoto ocorrem subordinadamente. A B Figura 3 - Fotomicrografia – A) matriz microgranofírica levemente foliada, lâmina MA037; B) textura glomeroporfirítica, lâmina JL 164. Sedimentares vulcanogênicas Os litoarenitos vulcanogênicos são sustentados pelos clastos, mal selecionados de granulometria fina a média, com grãos predominantemente angulosos a subangulosos em uma matriz sericitizada (Fig.4A). Os litoclastos compõem cerca de 60% das amostras e predominam os fragmentos de rochas plutônicas ácidas, piroclásticas e vulcânicas. Os litoclastos de rocha plutônica são mais arredondados mostrando um maior retrabalhamento. Os litoclastos de rocha piroclástica são mais angulosos e fragmentados, é possível observar shards bem preservados em alguns grãos (Fig.4B). Os litoclastos de rocha vulcânica são mais raros e apresentam uma grande quantidade de fenocristais de quartzo. Quartzo fragmentado, subarredondado a arredondado e com forte extinção ondulante e também formando agregados monominerálicos. Feldspato alcalino também fragmentado, subarredondado a subanguloso. A B SHARDS Figura 4 - Fotomicrografia – A) matriz sericitizada, lâmina JL 158; B) litoclastos de rocha piroclástica com shards bem preservados. DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS As amostras estudadas são dominantemente de origem piroclástica, representadas por ignimbritos riolíticos a dacíticos e tufos de queda também de composição riolítica que indica um vulcanismo de caráter dominantemente subaéreo, relacionado às 12º Simpósio de Geologia da Amazônia, 02 a 05 de outubro de 2011 - Boa Vista - Roraima caldeiras. A escassez de lavas ácidas em comparação às ocorrências piroclásticas na região é normalmente explicada pela alta viscosidade e alto teor de voláteis dos magmas félsicos, que tendem a produzir erupções de caráter altamente explosivo e extensos depósitos de cinzas e de fluxo piroclástico. As rochas efusivas, quando ocorrem, são restritas e tendem a cobrir distâncias pequenas a partir dos centros vulcânicos. Referências Bibliográficas Dreher A.M. 2009. Rochas vulcânicas da área do projeto Uatumã-Abonari (bloco I). Relatório de Supervisão Técnica. CPRM-Serviço Geológico do Brasil, Programa Geologia do Brasil – Cartografia da Amazônia, Rio de Janeiro. Ferron J.M.T.M. 2006. Geologia regional, geoquímica e geocronologia Pb-Pb de rochas graníticas e vulcânicas paleoproterozóicas da Província Pitinga, Craton Amazônico. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 331p. Le Maitre R.W. (Ed.) 1989. A Classification of Igneous Rocks and Glossary of Terms: Recommendations of the International Union of Geological Sciences Subcommission on the Systematics of Igneous Rocks. Blackwell Scientific Publications,193p. Macambira M.J.B., Almeida M.E., Santos L.J. 2002. Idade de zircão de vulcânicas Iricoumé do sudeste de Roraima:contribuição para a redefinição do Supergrupo Uatumã. In: Simpósio sobre Vulcanismo e Ambientes Associados, 2. Boletim de Resumos e Guia de Excursão. UFPA-CG/SBG-NO,Belém.p.22.