UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA –MESTRADO ILSON JULIANO BARRETO A VERTICALIZAÇÃO E O BAIRRO: O CASO DO PARQUE CAMPOLIM – SOROCABA, SP, PERÍODO DE 1990 A 2004 MARINGÁ 2007 A VERTICALIZAÇÃO E O BAIRRO: O CASO DO PARQUE CAMPOLIM – SOROCABA, SP, PERÍODO DE 1990 A 2004 Dissertação apresentada à Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em concentração: Geografia, Análise área Regional Ambiental Orientador: César Miranda Mendes MARINGÁ 2007 de e Dedico este trabalho ao meu pai, João Juliano Barreto ( in memorium ). Ele, companheiro de todas as horas. Ontem, hoje e sempre. Saudades... E também, à minha esposa Luciene e minha filha, Milena Sophia. A primeira, incentivadora incansável do meu trabalho na Academia; a segunda, a energia que me renova a todo instante e me faz lembrar que a vida é um bem de valor inestimável. Agradecimentos Ao professor César Miranda Mendes, pela sempre confiança em meu trabalho e que, quando preciso, soube conciliar a tarefa de orientar com a singeleza da amizade; Ao meu irmão, Adilson Barreto, por ter me acompanhado nos vários finais de semana em que precisei fazer as minhas pesquisas de campo; À minha mãe, Maria Francisca Cardoso Barreto, pelo carinho de sempre; Ao Senhores Rodnei Vieira e Edison Rosa, gestores de negócios imobiliários, pelo carinho e boa vontade em todos os momentos em que precisei de informações sobre o mercado imobiliário sorocabano; Aos meus amigos, Maurício Dal Molin, Eder Fernando dos Santos e Fernando Baleeiro que, sempre estiveram presentes nesses anos de Mestrado, em especial, quando da minha presença em Maringá. _________________________________________________________________SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS................................................................................................................I LISTA DE FOTOS...................................................................................................................II LISTA DE TABELAS.............................................................................................................III LISTA DE GRÁFICOS...........................................................................................................IV LISTA DE SIGLAS..................................................................................................................V RESUMO.... ...........................................................................................................................VII ABSTRACT.......................................................................................................................VIII 1.INTRODUÇÃO .......................................................................................................................1 2.A CIDADE DE SOROCABA..................................................................................................11 2.1. Um Pouco de sua História.................................................................................................12 2.1.1-A Fundação da cidade.....................................................................................................12 2.1.2- A importância econômica do tropeirismo.....................................................................15 2.1.3- O surgimento das ferrovias...........................................................................................17 2.1.4-E chegam as primeiras indústrias..................................................................................18 2.1.5-Evolução da mancha urbana..........................................................................................21 2.2. A Sorocaba de hoje..........................................................................................................27 2.2.1-População, economia e dados gerais sobre a “Manchester Paulista”............................27 2.2.2- Algumas considerações a respeito do novo Plano Diretor aprovado em junho de 2004 ........................................................................................................................30 2.2.3-A verticalização do Centro...........................................................................................35 2.3-Sorocaba em vias de se tornar a quarta região metropolitana do Estado de São Paulo.....................................................................................................................................49 3. URBANIZAÇÃO E VERTICALIZAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS..............54 3.1- A complexidade e dinamicidade do espaço urbano........................................................55 3.2- Sobre a verticalização das cidades.................................................................................59 3.3- O capital multifacetado na figura dos promotores imobiliários.....................................63 3.3.1- O Estado capitalista....................................................................................................66 3.3.2- O Capital................................................................................................................... 69 3.2.1- O Capital na figura do Incorporador.........................................................................71 4.O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DO PARQUE CAMPOLIM....................75 4.1- Breve histórico sobre a formação do bairro..................................................................76 4.2- A inauguração do binômio Hipermercado Carrefour e Esplanada Shopping...............78 4.3- A importância da rodovia Raposo Tavares...................................................................80 4.4 - A verticalização do bairro............................................................................................82 4.4.1-Estado: a importância da legislação urbana para o expressivo adensamento vertical na porção sul do bairro................................................................................82 4.4.2- A estrutura do Parque Campolim..............................................................................84 4.4.3- Capital: ações e estratégias dos promotores imobiliários.........................................89 4.4.3.1-A força da propaganda e do marketing na promoção das vendas dos apartamentos..........................................................................................................97 4.4.3.2 -O papel da associação de moradores na ocupação do Parque Campolim...........106 4.4.3.3- O futuro da verticalização do Parque Campolim................................................109 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................120 6. REFERÊNCIAS.....................................................................................131 7. ANEXOS.................................................................................................139 I LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Localização da cidade de Sorocaba.......................................................................09 Figura 02 – Localização da cidade de Sorocaba e cidades circunvizinhas................................10 Figura 03 – Planta da área central da cidade de Sorocaba........................................................23 Figura 04 – Mapa da evolução da malha urbana de Sorocaba...................................................26 Figura 05 – Mapa da Região Administrativa de Sorocaba....................................................... 28 Figura 06 – Mapa de Zoneamento Urbano da cidade de Sorocaba ..........................................34 Figura 07 – Municípios que compõem a Região Administrativa da cidade de Sorocaba.........53 Figura 08 – Planta do Parque Campolim..................................................................................85 Figura 09 – Matéria de jornal destacando o crescimento do Parque Campolim......................99 Figura 10 – Propaganda do edifício Châteaux de France – Campolim ..................................100 Figura 11 – Propaganda do edificio Highlander’s – Campolim........... ..................................101 Figura 12 – Propaganda dos edifícios Matisse e Mistral – Campolim .................................102 Figura 13 – Croqui do edifício Campolim Office – Campolim .............................................103 Figura 14 – Propaganda do edifício Ravenna – Campolim....................................................104 II LISTA DE FOTOS Foto 01 – Panorâmica do Mosteiro de São Bento.................................................................14 Foto 02 – Fachada da antiga Estação Ferroviária de Sorocaba..............................................19 Foto 03 – Edifício Nossa Senhora da Penha .........................................................................35 Foto 04 – Panorâmica do centro da cidade de Sorocaba........................................................ 37 Foto 05 – Panorâmica do centro da cidade de Sorocaba.........................................................37 Foto 06 – Prédio da antiga fábrica Nossa Senhora da Ponte...................................................39 Foto 07 – Prédio do Museu da EFS com Palacete Scarpa ao fundo.......................................39 Foto 08 – Avenida Carlos Cômitre - Parque Campolim.........................................................77 Foto 09 – Avenida Carlos Cômitre – Parque Campolim......................................................77 Foto 10 – Placa comemorativa de inauguração da ponte sobre a rodovia Raposo Tavares.. 79 Foto 11 – Ponte sobre a rodovia Raposo Tavares ................................................................ 79 Foto 12 – Rodovia Raposo Tavares .................................................................................... 81 Foto 13 – Agência do Banespa no interior do Parque Campolim ....................................... 86 Foto 14 – Hipermercado Wal Mart – Campolim ..................................................................87 Foto 15 – Outdoor de edifício em construção no Parque Campolim ...................................87 Foto 16 – Pista de caminhada do Parque Campolim .............................................................88 Foto 17 – Início da verticalização do bairro em meados da década de 1990 ....................... 90 Foto 18 – Prédio da NET – Parque Campolim ...................................................... .109 Foto 19 –Verticalização em áreas limítrofes ao estacionamento do Carrefour .................112 Foto 20 – Edifícios na parte sul do bairro com os mais variados números de pavimentos..112 Foto 21 – A intensa verticalização da porção sul do Parque Campolim ........................... 113 Foto 22 – A parte sul do bairro com edifícios de diferentes números de pavimentos .........113 Foto 23 – Edifício Manhatan – Parque Campolim..............................................................114 Foto 24 – Edifício Crystal Plaza – Parque Campolim ...................................................... 115 III LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Relação dos edifícios do centro de Sorocaba - 2006........................................... 44 Tabela 02 – Relação dos municípios componentes da futura RM de Sorocaba ..................... 52 Tabela 03- As principais incorporadoras/construtoras que atuam no Parque Campolim..... 105 Tabela 04 –Relação dos edifícios do Parque Campolim com respectivos anos de aprovação técnica junto ao Corpo de Bombeiros – 1996 a 2004.......................................... 116 IV LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Participação de Sorocaba nas exportações do Estado de São Paulo - 2003...... 28 Gráfico 02 – PIB per capita do município de Sorocaba em comparativo com o Estado de São Paulo e sua Região de Governo - 2005.............................................................. 30 Gráfico 03 – Número de edifícios em construção no centro e no Parque Campolim em Sorocaba – 2006 ................................................................................................. 40 Gráfico 04 – Escala de pavimentos e quantificação de unidades dos edifícios da área central de Sorocaba - 2006............................................................................................ 41 Gráfico 05 – Disposição dos 900 edifícios com 4 ou mais pavimentos ao longo da cidade de Sorocaba - 2006.................................................................................................. 42 Gráfico 06 –Disposição dos edifícios com 4 ou mais pavimentos ao longo do Parque Campolim – 2006 ............................................................................................. 83 Gráfico 07 – Número de pedidos de aprovação técnica junto ao Corpo de Bombeiros – Parque Campolim – período de 1996 a 2004 ................................................................. 92 Gráfico 08 – Soma total dos pavimentos com pedido de aprovação técnica junto ao Corpo de Bombeiros – Parque Campolim – Período de 1996 a 2004 .............................. 94 Gráfico 09 – Pedidos de aprovação técnica, ano a ano, por número de pavimentos dos edifícios do Parque Campolim – Período de 1996 a 2004 ................................. 96 V LISTA DE SIGLAS AMO – Associação dos Moradores do Campolim CA – Coeficiente de Aproveitamento CCR – Corredor de Circulação Rápida CCS1 – Corredor de Comércio e Serviços 1 CCS2 – Corredor de Comercio e Serviços 2 CCI – Corredor de Comércio e Indústria EFS – Estrada de Ferro Sorocabana IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas IPC – Índice de Preços ao Consumidor IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano ISS – Imposto Sobre Serviço NET – Network Television PIB – Produto Interno Bruto RM – Região Metropolitana UFSCAR – Universidade Estadual de São Carlos UNESP – Universidade Estadual Paulista ZAE – Zona de Atividades Especiais ZC – Zona Central ZCA – Zona de Conservação Ambiental ZCH – Zona de Chácaras Urbanas ZI – Zona Industrial ZPI – Zona Predominantemente Institucional ZR1 – Zona Residencial 1 VI ZR2 – Zona Residencial 2 ZR3 – Zona Residencial 3 ZR – Zona Rural. VII RESUMO Esta Dissertação de Mestrado tem como objeto principal analisar o papel dos agentes imobiliários no processo de verticalização do Parque Campolim, na cidade do Sorocaba, SP, baseado fundamentalmente em duas categorias de análise, a saber, Estado e Capital. O Parque Campolim, surge em 1976, assentado sobre uma antiga chácara e, nesse anos iniciais, tem sua área dotada de infra-estrutura para posterior comercialização de seus terrenos. Tais terrenos foram liberados por fase, sendo que a primeira acontece em 1981; a última, em 1985. Nesta década, o crescimento é discreto, com ocupação essencialmente feita por residências horizontais e, no máximo, alguns sobrados. A avenida Carlos Cômitre, atualmente o principal corredor comercial do bairro, nesta época é permeada por grandes áreas de terrenos desprovidos de construção. Com a chegada do corredor comercial ancorado pelo Esplanada Shopping Center e Hipermercado Carrefour, em 1990 e 1991, respectivamente, o bairro desperta para um crescimento rápido, sem precedentes em sua história, e, no que tange diretamente esta pesquisa, de construções verticais, com destaque para sua porção sul, nos arredores do referido corredor comercial, local onde, até então, havia permissividade para a construção destes edifícios. Estes começam a surgir em 1996 e, somam atualmente 82; construídos ou em fase de construção. O metro quadrado das partes mais valorizadas do Parque Campolim, parte delas na avenida central, a Carlos Cômitre, oscila hoje em torno de US$ 400 a 500. É o metro quadrado mais caro da cidade. Dotado de excelente aporte de equipamentos de uso coletivo, tem cada vez mais atraído incorporadores que vêem ali chance líquida e certa de maximizar seus lucros. A inauguração do Esplanada Shopping Center e do Hipermercado Carrefour, aliada à proximidade com a rodovia Raposo Tavares, em especial, depois de sua duplicação, foram indubitavelmente, as molas propulsoras da intensa verticalização do bairro, aliadas é claro, à permissividade dada pelo Zoneamento Urbano da cidade. Palavras – chave: Estado; Capital; Promotor Imobiliário; Verticalização; Campolim; Sorocaba. VIII ABSTRACT This dissertation has the main objective to analyze the role of the Real Estate Agents in the process of verticalization of Campolim Park in the city of Sorocaba, SP, based on two cathegories of analysis: State and Capital. Campolim Park emerged in 1976, placed on a former small farm and in these initial years, has in this area infrastructure for further commercialization of the lands. Such lands are released in phases; the first ocurred in 1981; the last in 1985. On this decade, the growth has been discreet, and the occupation was basically for horizontal houses; just some two storey houses. Nowadays, Carlos Cômitre Avenue, the main business corridor in the neighbourhood, had large areas of lands without any building. When Esplanada Shopping Mall and Carrefour Supermarket arrived in 1990 and 1991, respectively, the place started growing as fast as it has ever been known and referring to this research of vertical constructions, detaching its south portion, around the referred business corridor, where it was allowed to build those buildings. These ones started in 1996 and are, at present time a sum of 82; built or being built. The square meter of the most valuable parts in the Campolim Park in the central avenue (Carlos Cômitre), fluctuates around US$400 and US$500. It’s the most expensive square meter in the city. It excells at having collective equipment and has attracted corporators who foresees the place as a chance to maximize the profits.The inauguration of Esplanada Shopping Mall, Carrefour, and the nearness to Raposo Tavares Highway, mainly after its duplication are the most important reasons for the verticalization of the noeighborhood, joined to the possibility given on the map of the Urban Zoning of the city. Key words: Real Estate Promoter, Capital, State, Campolim, Verticalization, Sorocaba. CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Ao se observar o bairro [...] quase sempre se guarda nitidamente a paisagem e o lugar: casas, ruas, praças e calçadas assomam nos meandros da memória impregnada de um sentido apenas divisado por aqueles que ali vivem ou viveram. Desse universo de paredes e pedras aparentemente inerte, saltam vidas que, no dia-a-dia fazem parte do mundo cheio de sentimento que se estabelece a partir das relações cotidianas das pessoas na construção e transformação do lugar ( SILVA, 1999, p. 9 ) 2 1. INTRODUÇÃO Eleger a cidade como alvo de estudo é, indubitavelmente, um desafio. Entre outras coisas, porque a cidade apresenta uma dinâmica extremamente complexa e estudar os elementos que a compõem e a transformam requer, de quem o faz, um olhar apurado e atento, uma vez que os elementos envolvidos em tal processo, na grande maioria das vezes, se apresentam de maneira bastante sutil e camuflada. Por outro lado, muitos autores têm apontado para o fato de que diante da dinamicidade e velocidade com que os fenômenos urbanos vêm se apresentando, as disciplinas que procuram dar conta de sua explicação, têm que se revestir de novos pressupostos teóricometodológicos, já que tais fenômenos se apresentam, cada vez mais, com intensa complexidade no contexto da urbe. [ ...] Também tenho insistido no fato de que a geografia vem sido invadida pela necessidade de sua aplicação revelando o discurso do mercado em direção a um pragmatismo que se não impede a teorização, descarta – a de forma preconceituosa. Esse fato nos revela que vivemos uma crise da cidade, como decorrência do aprofundamento das contradições do processo de realização da acumulação em escala ampliada ( sinalizada pelo aprofundamento dos processos de segregação urbana); presenciamos, também, uma crise teórica,o que indica que a análise do mundo deve considerar uma articulação necessária entre teoria e prática. Portanto a geografia urbana deve contemplar em sua análise sobre o fenômeno urbano, uma crítica à formulação do saber sobre a cidade. ( CARLOS, 2004, p. 17 ). Assim sendo, a cidade como espaço socialmente construído, nos revela em suas formas e funções, a tônica das sociedades que habitaram e habitam determinada porção territorial. O espaço urbano tem impresso em seu interior, todas as contradições e singularidades marcadas ali, ao longo do tempo, pelas intensas e complexas relações sociais. 3 Ao lançarmos um olhar sobre a cidade e todas as particularidades que ali afloram a partir deste olhar, nos vimos há algum tempo, instigados a procurar um entendimento a despeito dos pluralismos e singularidades tão característicos dos espaços urbanizados. Obviamente, é só na medida em que nos aprofundamos em tais estudos, que percebemos a sua amplitude, o que não desencoraja; nos provoca uma ebulição interna no sentido de elucidar ou entender esses fenômenos. Dentre os agentes responsáveis pela produção e reprodução do espaço urbano – e por nós escolhidos propositalmente como categorias de análise – podemos destacar como principais o Estado e o Capital. Embora ajam aparentemente como forças antagônicas, na prática, existe um constante “namoro” entre os dois, sendo que o primeiro, muitas vezes, poderá dar vazão ou frustrar os interesses do segundo, em especial, através da legislação urbana. Os nossos estudos nos mostram que na grande maioria das vezes, o Estado capitalista tem sido extremamente permissivo e flexível com relação às leis urbanas, favorecendo assim, o capital, em especial, o capital imobiliário. Não nos esqueçamos que distante das ideologias nas quais foi concebido, o Estado é um fiel representante das classes dominantes e dos seus interesses. Ainda recentemente, acreditava-se que o processo de urbanização materializava-se na produção das coisas que constituíam um espaço chamado cidade que era o lugar da esperança dos pobres,o lugar da individualidade e do anonimato. Nossa hipótese, no entanto, foi a de que, antes de se constituir no lugar das coisas, produzir esse mesmo lugar passou a ser um alvo extremamente interessante para o modo de produção capitalista: daí as estratégias do capital nas suas múltiplas aparências, a reflexão sobre a renda e a valorização da terra, a identificação dos agentes, a ação do Estado. (SOUZA, 1994 p. 244). Intrinsecamente ligada ao fenômeno da urbanização, em especial, da urbanização brasileira, a verticalização vem – há algum tempo – se destacando no ambiente de muitas cidades brasileiras e tem sido alvo de estudo, em especial, de profissionais como os geógrafos 4 e arquitetos, principalmente a partir da década de 1980. Devido a pouca importância dada ao termo “verticalização”, o mesmo não aparece nem mesmo nos mais conceituados dicionários de Língua Portuguesa. Sendo assim, podemos dizer que: Verticalizar, significa criar novos solos, sobrepostos, lugares de vida dispostos em andares múltiplos, possibilitando pois, o abrigo, em local determinado, de maiores contingentes populacionais do que seria possível admitir em habitações horizontais, e, por conseguinte, valorizar e revalorizar estas áreas urbanas pelo aumento de seu potencial de aproveitamento. ( RAMIREZ, 1998, p.5). O mesmo autor ainda esclarece que o processo de construções verticais presentes no ambiente das cidades, não foi desencadeado naturalmente pelo processo de urbanização e sim, por estratégias muito bem planejadas pelos agentes interessados em maximizar seus lucros no locus urbano: A verticalização pode ser apontada como um exemplo de materialização das transformações técnicas que atingem a cidade contemporânea de forma contundente. Tal fato não deve ser considerado como uma conseqüência natural da urbanização, mas uma das possíveis opções traçadas e definidas pelos diferentes atores sociais e interesses econômicos que envolvem a estruturação interna das cidades. ( RAMIREZ, 1998, p. 9 ). A cidade de Sorocaba, - seguindo a tendência de importantes cidades brasileiraspossui em seu interior uma significativa concentração de construções verticais, embora sua área central - como muitas cidades antigas ( Sorocaba tem 352 de fundação ) – tenha como limitador, alguns “ bolsões” de áreas preservadas pelo Patrimônio Histórico, o que obviamente inviabiliza a ocupação e o eventual surgimento de construções verticais nestes locais. Além disso, o centro tradicional da cidade, assentado sobre pequena área e permeado por ruas e calçadas estreitas, parece-nos como mais um evidente cerceador de um maior adensamento vertical no local. 5 Ao analisar o trabalho de Mendes ( 1992 ), onde o mesmo faz uma análise do processo de verticalização da cidade de Maringá, no estado do Paraná, identificamos ali, várias semelhanças entre aquele processo e o nosso alvo de estudo, principalmente no tocante à verticalização e ao fato de atualmente a cidade de Sorocaba estar em eminência de se tornar a quarta região metropolitana do estado de São Paulo. É fundamental estar em uma cidade em fase de formação de dois processos: metropolização e verticalização, pois observa-se como na gente que nela vive, reivindica, sonha, luta pela sobrevivência. É importante conhecer e descobrir novos espaços produzidos, construídos e apropriados da cidade, difundidos entre os urbanistas do Terceiro Mundo, bem como as relações existentes entre conceitos de necessidades e potencialidades, os agentes produtores: o público e o privado, as novas formas urbanas, as noções estéticas de belo e feio, a apreensão da realidade, seja ela caótica ou ordenada. Dessa forma, emergem aparentes dualidades que se constituem em pares dialéticos a reger o processo de formação, produção e apropriação da metrópole em formação e sua verticalização, caso de Maringá. ( MENDES, 1992, p. 1 ). O Parque Campolim, relativamente novo se comparado a outros bairros de uma cidade que hoje acumula três séculos e meio de existência, começou a ser dotado de infra- estrutura para posterior comercialização de seus lotes somente na segunda metade da década de 1970. Porém, foi somente nos primeiros anos da década vindoura que os seus lotes foram liberados para a referida comercialização. Bairro de alto padrão – condição conquistada ao longo de duas décadas e meia de existência, por motivos que discutiremos oportunamente neste trabalho - abriga, em função disso, ótimas construções e, conseqüentemente, moradores de uma classe social com padrão de consumo bastante elevado. Localizado na zona Sul da cidade e com uma área total de 936.237.09 km2, o Parque Campolim vem desenvolvendo a partir da década de 1990, um impressionante processo de verticalização, com destaque para a sua porção sul, comumente chamada de “Altos do Campolim”. 6 O visível adensamento vertical no extremo sul do bairro, não ocorreu e nem ocorre por acaso. A inauguração do corredor comercial ancorado pelo Hipermercado Carrefour ( 1990 ) e Esplanada Shopping Center ( 1991 ) aliado à Legislação Urbana, apoiada no Plano Diretor, vigente até então, indubitavelmente, foram importantes molas propulsoras e fomentadoras de tal concentração na referida área. O crescimento singular dentro da cidade, principalmente no tocante às construções verticais, aponta para o fato de o mesmo ser dotado de um excelente conjunto de equipamentos urbanos comunitários (escolas, telefonia pública, pista de caminhada, igreja, entre outros), além de padarias, bancos, farmácias, clínicas médicas, supermercados, lanchonetes, aqui tomadas como exemplo. Cabe ainda frisar que o bairro é hoje importante ponto de lazer da população jovem da cidade, que encontra em sua avenida principal, a Antonio Carlos Cômitre, dezenas de bares e danceterias que, também garantem ao bairro uma certa autonomia em relação à área central da cidade, onde normalmente se busca os serviços acima citados. Sobre a importância de se estudar o bairro relevante que se diga que: Falar do cotidiano de um bairro nos remete à investigação das diferentes situações sociais vividas por seus moradores a partir do trabalho, dos valores, através das relações de vizinhança, costumes e da reprodução da vida social que leva o indivíduo a reconhecer-se no espaço, construindo a sua referência com o bairro e com a cidade. ( AZAMBUJA, 1991, p. 81 ) Este trabalho tem como objetivo geral resgatar no contexto da Geografia Urbana as estratégias e ações de Estado e Capital na produção e reprodução do espaço urbano da cidade de Sorocaba, em especial, no que se refere ao Jardim Campolim, dando ênfase às construções verticais ali presentes. No que se refere aos objetivos específicos, esse trabalho pretende: • Mapear a evolução do processo de verticalização ocorrido no bairro; 7 • Verificar as estratégias e ações do Poder Público, contidas nas Leis de Uso e Ocupação do Solo, Código de Obras e Plano Diretor do Município; • Apontar as ações do capital imobiliário no sentido de viabilizar as construções verticais na área, resgatando a evolução da expansão territorial de Sorocaba e as possíveis implicações desta, no processo de verticalização do Parque Campolim. O referido trabalho é composto pelos seguintes capítulos: 1) Introdução; 2) A cidade de Sorocaba; 3) Urbanização e verticalização: considerações teóricas; 4) O processo de verticalização do Parque Campolim; 5) Considerações finais. Por fim, achamos importante ainda ressaltar que, em nossos levantamentos realizados por toda a extensão do bairro no sentido de quantificar os edifícios ali existentes – trabalhamos com edificações de quatro ou mais pavimentos – pudemos perceber o quanto a verticalização da área é significativa – em especial em sua porção sul -, dando à morfologia do bairro uma visível singularidade em relação aos outros bairros da cidade. A escolha de se trabalhar com edifícios de 4 ou mais pavimentos se justifica pelo fato de que, na área alvo desse estudo, existam uma quantidade relevante de prédios com esse número de pavimentos, o que nos fez pensar no porquê desta escolha por parte do capital imobiliário. Seria o pouco investimento exigido para esse porte de construção? O fato da não exigência de elevadores para edifícios deste tamanho seria um atrativo significativo? No momento oportuno, tentaremos responder a essas perguntas, alicerçadas principalmente em entrevistas que fizemos com estes agentes. 8 Na parte sul do Parque Campolim, não encontramos, em nossas constantes visitas ao bairro, sequer uma residência térrea. Isso reforça mais uma vez a previsão de que, além dos prédios horizontais comerciais existentes nessa porção , o restante da área inevitavelmente será preenchido por construções verticais. A relação dos edifícios e seus respectivos endereços, contidos no interior deste trabalho, reforçam bem esta firmação. Sobre a metodologia, foram três os referenciais básicos desenvolvidos: 1- Teórico-metodológico - O teórico metodológico se refere às categorias Estado e Capital como norteadoras para apreensão do objeto em estudo. Aqui será desenvolvida uma reflexão teórica, já feita por vários autores, e materializada com a legislação desenvolvida pelas gestões conforme a Lei de Uso do Solo, Código de Obras, Plano Diretor entre outras políticas de planejamento urbano desenvolvidas; 2) Empírico- O referencial empírico se refere as eventuais pesquisas de campo necessárias para apreender a atual utilização do solo urbano, bem como ações dos agentes envolvidos em tal processo; 3) Técnico - O referencial técnico diz respeito aos mapas, gráficos, tabelas, entre outros recursos que serão utilizados ao longo da confecção deste trabalho. As nossas entrevistas foram feitas pessoalmente, pois, embora, demandasse mais tempo, no “cara a cara” com o entrevistado, conseguimos com certeza extrair muitas outras informações além das que tínhamos previamente elaboradas. Além disso, este contato direto com os agentes imobiliários, nos deu posteriormente, credibilidade para recorrermos à eles em eventuais dúvidas sobre o comportamento do mercado imobiliário ao longo da construção dessa Dissertação. Os critérios que utilizamos para seleção dos entrevistados foram: 1) No caso das imobiliárias, a que mais comercializavam imóveis na área; 2) No caso dos incorporadores, os que se faziam mais presentes com suas construções no interior do bairro. 9 10 Figura 2- Localização da cidade de Sorocaba - Escala: 1: 1300000 Fonte: www.vivacidade.com.br, 15/12/2006. Organização: Barreto, I. J. CAPÍTULO 2 A CIDADE DE SOROCABA Falar sobre o futuro da urbanização e das cidades é coisa temerária. Mas não falar sobre o futuro é deserção. Não se trata do futuro como certeza, porque isso seria desmentir a sua definição, mas como tendência. ( SANTOS, 1993, p. 117) 12 2.1. UM POUCO DE SUA HISTÓRIA 2.1.1. A fundação da cidade A cidade de Sorocaba comemorou no dia 15 de agosto deste ano, seus 352 anos de fundação. Embora muitos historiadores confirmem o ano de 1654 como ano da efetiva ocupação do sítio urbano, outros acham precipitadas afirmações fechadas sobre esse período, principalmente pelas poucas fontes históricas primárias que tratam o assunto. Sobre o primeiro núcleo habitacional e que posteriormente se transformaria na cidade de Sorocaba, nos parece bastante coerente a citação descrita abaixo: O historiador Porphirio Rogick Vieira, em avançada hipótese ao povoamento, não hesita em afirmar que a chegada de Baltazar Fernandes, junto com seus genros castelhanos, data de 1641, quando os castelhanos residentes em São Paulo se rebelaram com a separação de Portugal da Espanha em 1640 e estabeleceram como rei de São Paulo, Amador Bueno. Essa primeira revolta paulista foi duramente reprimida pelos portugueses do Rio de Janeiro e só restou ao castelhanos “ abrigar-se nas matas seguras do rio Sorocaba”. Iniciando assim o povoamento da região. Foi tempo suficiente para a construção da casa grande junto à foz do córrego Lageado, na margem direita do rio Sorocaba e a construção da capela, curiosamente, no alto da colina, formando junto com a ponte sobre o rio, um triângulo que agora dá origem ao povoamento definitivo.(FRIOLI, 2002 p. 12). O efetivo povoamento se inicia com a chegada de Baltazar Fernandes e seus “escravos índios”. Baltazar vinha com o intuito de se apossar de suas sesmarias e trazia seus “escravos” para cuidar no trato diário das referidas terras. Assim sendo, há o início do já referido povoamento, nas margens do rio Sorocaba, tendo como mola propulsora inicial, o triângulo formado por este rio, a Casa Grande e por fim, a capela. 13 A descoberta do testamento e inventário de Izabel de Proença, segunda esposa de Balthazar Fernandes, levou à informação de que em Novembro de 1654 já estava toda a família reunida em volta da casa grande. A morte de D. Izabel, em 1655, e o andamento do inventário proporcionaram indícios do alto valor do empreendimento da mudança para as paragens do Sorocaba. Essa valorização inclui também o crescimento populacional de toda região. A ocupação do terreno e a construção de casas operaram-se conforme as necessidades do momento. Essa forma de ocupação do espaço implicou na atual configuração das ruas centrais, no arruamento da cidade, pois os caminhos (que dariam origem às ruas) foram sendo abertos contornando todos os obstáculos naturais e pessoais. (FRIOLI, 2002 p. 13) Com o crescimento significativo de suas sesmarias, Balthazar Fernandes procurou os monges beneditinos de Santana do Parnaíba para um acordo com os mesmos, onde o primeiro forneceria frações de suas terras em troca da efetiva presença dos últimos, com construção de um mosteiro onde os referidos beneditinos ministrariam aulas de latim aos moradores além, obviamente, do conforto espiritual. O acordo, frisado no parágrafo anterior, feito em 1660, deu sustentação à efetiva fundação de Sorocaba. O documento oficial foi assinado na propriedade do genro de Balthazar, sendo concordantes os Freis Tomé Batista e Anselmo da Anunciação. Logo em seguida, inicia-se a construção do referido Mosteiro. O Mosteiro de São Bento, com a forte presença dos freis beneditinos, começou a atrair moradores de vários locais, em especial, aquele sem sesmarias ( Foto 1 ). No mesmo período, aproveita-se da presença do governador, Balthazar Fernandes para cogitar a elevação de sua paragem à categoria de vila. O governador argumentou que não poderia fazê-lo, pois, a decisão nesse caso, deveria partir do capitão-mor da capitania de São Vicente. Além disso, outro argumento que pesava contra Balthazar era o fato de que a vizinha vila de São Felipe, no Itavuvu, estava em decadência. Neste momento, alguém se lembrou que, desde que provada a existência de apenas 30 fogos ( fogões, casas e famílias ), o Pelourinho de São Vicente poderia ser transferido para outro local. Foi o que aconteceu. 14 Foto 1– Panorâmica do Mosteiro de São Bento construído na segunda metade do século XVII. Autor: BARRETO. I. J. – Novembro/2006 15 2.1.2. A importância econômica do tropeirismo O bandeirante é substituído diretamente pelo tropeiro. Em função da grande dificuldade para se transportar as valiosas cargas produzidas na região das Minas Gerais, além de mantimentos para abastecer a referida região, alguns paulistas atinaram para o fato de que no sul do país havia uma significativa criação de muares. Segundo Cezar ( 2002 ) a origem dessa pecuária se encontra nas missões jesuíticas que se estabeleceram na região do Prata, sendo os jesuítas os introdutores desse tipo de gado no país. Os bandeirantes, como já dito anteriormente, antecessores dos tropeiros, na sua gana de capturar e escravizar os indígenas, atacava as reduções e desprezava seus rebanhos. Com isso, enormes rebanhos selvagens foram formados e, há tempo, com ótimas condições de pastagem. Sorocaba estava então ligada ao Sul, ou porque não dizer, à grande concentração de gado desta região. Em 1732, Cristóvão de Abreu chega a cidade com a primeira tropa e, depois desta, vieram várias delas. Na cidade, pela intensidade e volume desse tipo de gado, criaram-se postos oficiais para registro de animais, onde se pagava ao governo uma taxa pela passagem dessas tropas de muares. Registros mostram que os tropeiros além de chegarem ao extremo sul do país, mantiveram intensa relação com regiões do território uruguaio. A quantificação exata dos animais trazidos até a Feira de Muares para posterior comercialização durante o período de ação intensa dos tropeiros é divergente entre os autores que tratam do tema, mas muitos falam em algo em torno de 40 mil animais. As tropas normalmente chegavam entre o final de abril e o começo de junho. Os tropeiros levantavam seus acampamentos no entorno da cidade. Nessas áreas era possível ver à noite, o forte clarão das fogueiras acesas por eles. Antes do comércio nas feiras, os animais ficavam nestes locais, descansando e em regime de engorda, para maior valorização na hora da venda. 16 Muitos autores afirmam que no auge das Feiras de Muares, Sorocaba era o entreposto comercial mais movimentado do interior do Brasil. Para a cidade, vinham pessoas oriundas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e também do Nordeste do país. Do Sul, vinham os que “tocavam” o gado, para fomentar e incentivar o comércio dos animais e para promover espetáculos como por exemplo, a doma. Além do intenso comércio de animais, as feiras acabaram por fomentar outras atividades comerciais. Eram várias as casas para pernoite e até hospedagem para vários dias, lojas de artigos de couro e seus derivados, lojas de artefatos de metais. Até mesmo as rendeiras tinham seu trabalho multiplicado pela infinidade de encomendas. Os ferreiros, atarefados pelos inúmeros pedidos de consertos que a eles eram solicitados. À noite, de maneira discreta, em algumas ruas da cidade, “ as damas da noite” também ofereciam seus préstimos. O tropeirismo foi extremamente importante para a cidade de Sorocaba. Além disso, os tropeiros contribuíram, e muito, para a integração nacional uma vez que os mesmos deram um dinamismo sem precedentes ao nosso mercado interno. Com a chegada das ferrovias, na segunda metade do século XIX , no caso de Sorocaba, em 1875, a ação dos tropeiros foi se enfraquecendo, principalmente pelo fato de que os vagões apresentam a possibilidade infinitamente superior de capacidade de carga. No próximo item, trabalharemos exatamente a importância das ferrovias para o crescimento da cidade. [...] O comércio de tropas de muares diminuía a cada ano e não havia mais interesse em seu comércio. A Câmara Municipal sugeriu a abertura do derradeiro caminho em 1897, pela passagem das tropas, saindo do Ipatinga e seguindo pela Terra Vermelha atingindo diretamente o Alto da boa Vista. Com a República o Registro de Animais deixou de cobrar os impostos, inclusive o “novo imposto”, que desde o terremoto de Lisboa era cobrado, e continuou a ser mesmo depois da proclamação da Independência do Brasil. Esse projeto não foi realizado porque, no período das feiras de muares, em 1897, aparecia a epidemia de febre amarela e espantou de vez os poucos comerciantes desses animais. ( FRIOLI, 2002 p. 17 ). 17 2.1.3. O surgimento das ferrovias O bandeirante e o tropeiro, indiscutivelmente contribuíram – e muito – para o desenvolvimento da cidade. Porém, é oportuno que se destaque a importância do sistema ferroviário em tal processo. A ferrovia surge de um intenso clima de competição e, em razão da importância da cidade, como entreposto comercial. Com uma rapidez que até hoje causa assombro, constitui-se a companhia por ações baseadas unicamente no capital particular e no prazo recorde de um ano é efetivamente implantado o trajeto entre Sorocaba e São Paulo, em sua primeira fase. Pode-se imaginar o ritmo febricitante em que tiveram lugar esses trabalhos: abertura de valas, a nivelação do terreno, a fixação dos dormentes, a colocação dos trilhos, as obras de arte ( túneis e pontilhões), as estações...(CEZAR, 2001) A figura do ferroviário surge exatamente neste momento, mais precisamente, no último quartel do século XIX. O nome ferroviário acaba sendo extensivo a todos aqueles que trabalham ao longo das ferrovias. O maquinista, o foguista e o condutor, agora são elementos que se percebe ao longo das áreas próximas das estações e porque não dizer, no dia-a-dia da cidade. O som da “Maria fumaça”, absolutamente singular, se podia ouvir à distância e se acentuava a medida em que a mesma ia se aproximando da estação. Naquele momento, a presença da ferrovia significava à cidade estar integrada efetivamente ao que havia de mais moderno quando o assunto era transporte. Os detentores do grande capital não hesitavam ao anunciarem a disposição de se investir maciçamente nos trilhos e vagões e, por força da ação, do simbolismo que os mesmos traziam. Indiscutivelmente, a Estrada de Ferro Sorocabana consolidou-se com o tempo - pouco tempo – em uma das mais bem estruturadas Companhias do setor trazendo à cidade novas possibilidades ao seu já visível crescimento. 18 Com a instalação da ferrovia em 10 de julho de 1875 e a construção da Estação nas proximidades do córrego Supiriri houve um expressivo crescimento da malha urbana para a região. As áreas que margeavam os trilhos foram densamente povoadas. A Fábrica de Tecido Santa Rosália, também instalada às margens do caminho dos trens, em 1890, pelo grande número de empregados contratados, fez com que surgisse nas proximidades, um grande bairro operário: atualmente conhecido por Santa Rosália e, diga-se de passagem, um dos bairros mais valorizados da cidade. Os trabalhadores da ferrovia, ou ferroviários, tornaram-se também neste período uma categoria social e política respeitável. Com a forte união que a eles era peculiar, promoviam manifestos e protestos voltados aos interesses de sua categoria profissional e, comumente, de forte cunho ideológico. A foto 2, mostra a fachada atual do antigo prédio da EFS. 2.1.4. E chegam as primeiras indústrias... O advento da indústria em Sorocaba foi bastante precoce, sendo beneficiária direta da revogação do alvará escravizador de D. Maria I ( 1785 ). Teve como fomentador dessa modalidade econômica o próprio governo. A presença da Família Real no Brasil e os sonhos do Príncipe Regente D. João, e de seu ministro Conde de Linhares, de proporcionar ao Império Português a independência técnica e econômica, fizeram com que fossem contratados na Europa, técnicos suecos e determinada a fundação do Estabelecimento Montanístico das Minas e Ferrarias de Sorocaba, mais tarde, Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema. [...} Essa fábrica vai se constituir no berço da siderurgia brasileira. Em 1º de novembro de 1818, de seu alto-forno geminado, verterá o primeiro ferro-gusa, fundindo-se com ele três cruzes. A fábrica, entretanto, sofrerá através do tempo avanços e recuos, vindo a desaparecer totalmente em 1820. No decorrer do século XIX a iniciativa particular vai fazer tentativas, fracassando entretanto.(CESAR, 2001, P. 14) 19 Foto 2 – Fachada atual da antiga Estação Ferroviária de Sorocaba – Sorocabana. Autor: BARRETO, I. J. – Novembro/2006 20 Após alguns fracassos ocorridos ao longo de boa parte do século XIX e já descritos no parágrafo anterior, a cidade começa a presenciar nas duas últimas décadas do referido século, um despertar amadurecido de algumas indústrias; estas agora, no espaço urbano. Destaca-se ai, a Tecelagem e Estamparia Nossa Senhora da Ponte, em 1882, que efetivamente dá o “arranque” inicial da industrialização em Sorocaba. Já com certa experiência em todas as fases do processo industrial, faz-se bastante presente nesse início da industrialização na cidade, ingleses, suecos, húngaros e italianos, aqui tomados por exemplo. Surgem então, outras várias indústrias de tecelagem, com destaque à Santo Antonio e a Santa Rosália, ambas, como a primeira, muito próximas dos trilhos da Sorocabana. Por conta disso, fábricas de produtos ligados diretamente à produção das mesmas surgiram abundantemente neste período. A Proclamação da República teve influência direta e positiva no processo de industrialização de Sorocaba. No contexto das transformações republicanas, o chamado “encilhamento”, adotado por Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda, viabilizou a criação de duas áreas industriais em Sorocaba. Neste período podemos destacar as criações das indústrias têxteis Santa Rosália e Votorantim. Mesmo com o forte surto de febre amarela que naquele momento assolava a cidade, o século XX surgiria como extremante promissor no que tangia o processo industrial na cidade. Único e preocupante empecilho: a produção de energia para consumo de tais indústrias, uma vez que uma fonte de energia que poderia se cogitar, a produzida em Ipanema, encontrava problema em sua geração, em função do sistema hidráulico que se encontrava obsoleto e limitado. A energia a vapor era inviável. Porém, a localização geográfica da cidade era extremamente favorável, uma vez que forte declividade do terreno onde está assentada a cidade, na chamada depressão periférica paulista, era altamente benéfica à construção de usinas hidrelétricas. 21 Em 1914, surge então a represa de Itupararanga, e já naquele momento, a maior de todo o Estado. Com boa produção de energia elétrica e uma forte presença de trabalhadores imigrantes, oriundos de países com grande tradição industrial, portanto, dotados de experiência, Sorocaba passou a reunir a partir de então, duas condições básicas para o seu crescimento industrial. Em pouco tempo, a cidade se firma como importante centro industrial, o que a levou a ser chamada de “Manchester Paulista”. Com a barragem de Itupararanga, Sorocaba começou a contar com energia elétrica, permitindo o uso de energia elétrica nas casas, nas indústrias e até a inauguração de moderno sistema de bondes elétricos, ligando o Largo da Independência ( 9 de Julho ) ao bairro dos morros, na esquina da rua Olivério Pilar, em 30 de dezembro de 1914. No ano seguinte, 1915, surgiu a Fábrica de Enxadas Nossa senhora aparecida, na rua da Ponte ( atual XV de novembro ), colocando a cidade na era da metalurgia ( a Fábrica de Ferro de São João do Ipanema ficou em Campo Largo de Sorocaba, Araçoiaba da Serra, com seu desmembramento em 1857 ). (FRIOLI, 2002, p. 19) Nos dias atuais, a cidade possui um dos maiores parques industriais do país, abrigando em seu interior, algo em torno de 1600 indústrias, dos mais variados ramos produtivos. Muitas delas, dotadas de alto padrão tecnológico em sua linha de produção, em especial, as chamadas multinacionais, presença forte em seu vasto Parque Industrial. 2.1.5. Evolução da Mancha Urbana Como não poderia deixar de ser, os ciclos econômicos vivenciados pela cidade e descritos até aqui, nortearam a evolução urbana da mesma e acabaram por determinar áreas de maior ou menor adensamento populacional. O núcleo central, já no final do século XIX, apresentava uma ampliação significativa para as áreas localizadas atrás do Mosteiro de São Bento, com a abertura do Chamado Largo do Jardim ( atual praça Frei Baraúna ), com as ruas 22 da Bica ( Voluntários de Sorocaba ). Também algumas de suas travessas, ruas Machado de Assis e João José da Silva. A chamada rua da Boa Vista foi dividida em duas, com a construção ali, de um imponente paredão que ainda hoje existe. A partir de então, com a divisão, passou a se chamar Boa Vista de Cima (atual Nogueira Martins) e Boa Vista de Baixo (atual Senador Feijó ). A rua da Lama, hoje rua Visconde de Porto Seguro, fazia a ligação entre as atuais Capitão José Dias e Dr. Nogueira Martins. Segundo Frioli (2002, p. 19) a malha urbana da cidade começou a presenciar alterações significativas a partir das primeiras décadas do século XIX. O mesmo afirma que: A malha urbana começa a sofrer alterações importantes, como em 1916, com o alargamento e prolongamento do Largo dos Prazeres ( rua Miranda Azevedo ), desapropriando-se várias casas que faziam fundo com o Largo de Santa Cruz de São Bento, para a posterior abertura do Largo, hoje, praça Carlos de Campos, fazendo ângulo com a rua do Jardim ( atual Cesário Mota ) o que já era o início da estrada para Piedade pela estrada D`água Vermelha, ( Barão de Tatui ). Ainda em 1916 a Câmara determina, através de lei, a troca dos grandes beirais por platibandas ou colocação de calhas, para evitar a queda da água da chuva sobre a calçada. Essa Lei e a que determinou a alteração das fachadas do todos os prédios remanescentes dos períodos português e imperial, modificou a arquitetura de quase toda a cidade. Observe na figura 3, na página seguinte, a atual disposição das ruas da área central da cidade A chamada região do Além da Ponte, localizada na região centro-leste da cidade, também começou apresentar crescimento significativo nas primeiras décadas do século XX. Novas ruas foram abertas junto a chamada região dos Morros, como por exemplo a rua Coronel José Tavares e suas travessas. Na região, existia o Cine Teatro Coronel José Tavares ( importante símbolo da colônia espanhola ) um reconhecido centro polarizador de construções e por conseqüência, de contingente populacional. 23 Figura 3 – Planta da área central da Cidade de Sorocaba. Fonte: www.vivacidade.com.br - 15/12/2006 Em meados do século XX, há uma nova aceleração no crescimento da malha urbana, com o surgimento de vários bairros no Além Linha, região localizada próximo a parte central. Entre esses bairros, Vila Santana, Vila Santa Rita e Santa Rosália, entre o cemitério da Saudade e o rio Sorocaba. Surgem também na região, bairros com grande concentração populacional nos dias atuais: Vila Barão e Vila Carvalho. Em direção a General Carneiro, em função da abertura da Avenida Eugênio Salerno, as vilas Casanova e Santa Terezinha. Nas proximidades da região denominada de Cerrado, também próxima à área central, surgem bairros como a Vila Leão, Vila Gandino e João de Camargo. Este último, místico escravo negro que reunia seguidores às margens do Córrego D´água Vermelha, desde os idos anos de 1906. Também junto à Avenida General Carneiro, corredor importante de acesso ao 24 lado sul da cidade, a construção do então Quartel da Força Pública, hoje Polícia Militar, surgiu em 1950, a Vila São Caetano. Ainda no mesmo período, na área chamada de Região dos Morros, na porção leste da cidade, onde se localiza nos dias atuais o Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, os bairros de Vila Astúrias e Barcelona e entre essa região e o rio, o bairro de Pinheiros. A partir de 1950, a expansão da mancha urbana da cidade ia, partindo do centro, e de maneira rápida, preenchendo os vazios entre os bairros. A presença dos bondes elétricos facilitava a circulação das pessoas e era elo de ligação entre alguns bairros próximos ao centro, promovendo via-de-regra, uma densa ocupação dessas áreas. Outros atrativos para a efetiva ocupação das áreas onde estão instalados, foram as construções do Ginásio Municipal de Esportes, na antiga Chácara Amarela e construção da então nova Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, esta na rua Nogueira Padilha. A efetiva utilização do já citado Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, pertencente à família Prestes de Barros, como área de recreação e lazer do SESI e o rápido crescimento do já citado bairro da Vila Hortênsia e de núcleos populacionais na região da chamada Árvore Grande, desencadeia uma significativa ocupação da porção leste da cidade até o seu limite com a rodovia Raposo Tavares. A partir da década de 1980, a cidade começa a presenciar surgimento de vários bairros no extremo norte de seu território, em especial, nas proximidades da avenida Itavuvu, cabendo destacar bairros como o Vitória Régia, Santo André, São Guilherme, Jardim Bonsucesso, Parque das Palmeiras, entre outros. Também nas proximidades da década de 1980, embora modestamente num primeiro momento, a porção sul da cidade começa a ser ocupada, com o surgimento de loteamentos como o Elton Ville e o alvo principal deste estudo, o Parque Campolim, nas proximidades da Rodovia Raposo Tavares e na direção dos limites com a vizinha cidade de Votorantim. 25 Nos últimos anos, tem havido uma efetiva e intensa ocupação da porção extrema sul, destacada no parágrafo anterior, inclusive com a presença de vários condomínios horizontais, nos limites com o Parque Campolim, caso dos Condomínios Tívoli, Sunset e do Alphaville, este último, empreendimento que acaba de chegar à cidade. Ainda cabe ressaltar, a ocupação recente da região oeste de Sorocaba, com destaque ao Empreendimento Wanel Ville, que se encontra na sua fase V e com espaço ocioso significativo, o que aponta para várias outras várias fases de seus loteamentos. Ao se andar pelas ruas da cidade, comumente podemos ver uma série de propagandas, em especial, nos outdoors, dos mais variados tipos de loteamentos, edifícios e condomínios horizontais, o que indica um fomento sem precedentes na história da imobiliária da cidade, o que nos leva a crer que os agentes envolvidos em tal processo estão, incansavelmente, à procura de novos espaços, dando, ano a ano, uma nova configuração no mapa da evolução da malha urbana da cidade. A figura 4 mostra a expansão territorial urbana de Sorocaba que acaba de ser descrita neste item. 26 Figura 4 – Mapa com evolução da malha urbana de Sorocaba a partir do seu núcleo inicial. Fonte: Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba – Julho/2006. Organização: BARRETO, I.J. 27 2.2. A SOROCABA DE HOJE 2.2.1.População, economia e dados gerais sobre a “Manchester Paulista” Recentemente, o IBGE1 divulgou a estimativa de população para as cidades brasileiras, que aponta Sorocaba com uma população de 578.068 habitantes. Assim sendo, a cidade se configura como quarta mais populosa do interior paulista, atrás apenas de Campinas, Ribeirão Preto e São José dos Campos. Localizada na região sudoeste do Estado de São Paulo, é sede de Região Administrativa polarizando 79 cidades ( figura 5). Juntas somam uma população em torno de 2,5 milhões de habitantes, geradora de significativa receita no contexto estadual. Ponto de passagem para importantes cidades do sul e centro-oeste do país, concentra hoje, algo em torno de 1600 indústrias, dos mais variados segmentos, que contam ao seu favor, com o fato de serem bem servidas por duas das principais rodovias brasileiras – a Raposo Tavares e a Castelo Branco – , vias de escoamento fácil da produção em direção à capital, de onde dista 87 km e Porto de Santos, distante a apenas 159 km ( gráfico 1 ). No dia 15 de agosto de 2006 Sorocaba completou 352 anos. Além da forte industrialização – um dos maiores parques industriais do interior do país – já citada no parágrafo anterior, possui aproximadamente 13000 pontos de comércio e 8500 prestadoras de serviço. Aliás, apesar da grande dependência que o governo local tem dos impostos gerados no setor industrial, é oportuno que se diga que, apesar da pujança da indústria local, é o setor de prestação de serviços o que mais emprega na cidade. 1 Dados de 01 de julho de 2006. 28 Figura 5 – Região Administrativa de Sorocaba. Fonte: Fundação Seade – novembro/2006 Gráfico 1– A participação de Sorocaba nas Exportações do Estado de São Paulo. Fonte: Fundação Seade – novembro/2006 29 A rede hoteleira tem crescido significativamente na cidade. Cerca de 150% de 1999 para cá, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento da Prefeitura Municipal de Sorocaba. Porém, a mesma Secretaria ressalta que, embora haja relevância neste aumento, ele é resultado basicamente das ocupações ocorridas nos dias de semana, o que mostra que durante os dias úteis, muitos vêm à cidade para cuidar de negócios, esvaziando esses hotéis nos finais de semana. É o chamado turismo de negócios. Um outro setor que há algum tempo tem gerado empregos e tornando a cidade ainda mais conhecida, é o relacionado aos serviços prestados pelos SPAs. Muitas pessoas vêm à cidade para tratamento de emagrecimento ou até mesmo para descansar. A educação também merece destaque. Com o dinamismo de seu crescimento econômico, várias instituições de ensino, com destaque ao ensino superior, estão instaladas ou em vias de instalação na cidade. Com a fixação efetiva do campus da UFSCAR ( Universidade Federal de São Carlos ) serão cinco universidades. Além desta última, PUC, Uniso, Unip e Unesp, completam o quadro. A cidade de Sorocaba apresenta um consumo urbano per capita de R$ 9033,39. Esse número é superior às médias estadual e brasileira, segundo pesquisa da Target Marketing e Pesquisas2. A empresa também apurou que os sorocabanos gastaram em 2005, algo em torno de R$ 5 bilhões, número que mais uma vez destaca o município no cenário nacional. Ainda Segundo pesquisas da empresa, Sorocaba está entre as 25 cidades brasileiras em potencial de consumo ( IPC ). Os gastos anuais com bens e serviços chegam a US$ 2,1 bilhões e isso significa 0,5% de todo o consumo nacional. A renda per capita , segundo o IPEA é de R$ 5780,00, também acima da média brasileira. O PIB per capita é maior que a média estadual e à média de sua Região de Governo ( Gráfico 2 ). 2 Pesquisa realizada em 2005. 30 Gráfico 2 – PIB per Capita do município de Sorocaba em comparativo com o Estado de São Paulo e sua Região de Governo. Fonte: Fundação Seade. A consolidação da cidade como centro de compras para toda a região, em especial a partir da década de 1990, fez com que várias loja de renome nacional procurassem a cidade para ali instalar as suas filiais, o que fomentou ainda mais o comércio local e, em decorrência disso, proporcionou aos sorocabanos, milhares de novas oportunidades de trabalho. Entre essas grandes lojas, magazines, podemos citar: Lojas Americanas, Carrefour, Wal Mart, Extra, Renner, Riachuelo, entre outros. 2.2.2. Algumas considerações a respeito do novo Plano Diretor aprovado em junho de 2004 Seguindo a exigência da Lei 10.257/01, mais conhecida como Estatuto das Cidades, foi aprovado no mês de junho de 2004, o novo Plano Diretor da cidade, em substituição ao 31 que vigorava desde o ano de 1967. Segundo a referida Lei, os municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes obrigatoriamente teriam que elaborar seus Planos Diretores até o mês de outubro do ano de 2006. Cabe ainda ressaltar, que no caso dos municípios com mais de 500 mil habitantes – caso de Sorocaba – o Plano Diretor tem que integrar ao desenvolvimento físico e territorial, planos voltados ao sistema viário do município. O novo Plano Diretor traz uma divisão da cidade baseada em três macrozoneamentos, com indicações de intensividade do uso do solo do município que culminou no já referido Mapa de Zoneamento Urbano. As áreas com sérias restrições à urbanização, são aquelas onde há reservas ambientais e também regiões próximas aos mananciais, caso do lado leste da cidade, na direção dos municípios de Alumínio e Mairinque. Na zona sul, áreas próximas da represa de Ipaneminha. As áreas de ocupação moderada, são encontradas nas regiões noroeste e oeste da cidade, cabendo destacar na primeira o Parque São Bento e, na segunda, áreas ao Condomínio Vivendas do Lago e regiões no entorno do aeroporto. Essas áreas, são apontadas como susceptíveis à erosão o que justifica as ponderações com relação à sua ocupação. As áreas centrais, seguidas das regiões norte e sul, são áreas com pequenas restrições à ocupação do solo, ressalvado obviamente, algumas condições específicas. Passado o período da elaboração e efetiva aprovação por parte da Câmara dos Vereadores, vieram em seguida, as etapas para a adequação de todos os seguimentos envolvidos em tal processo: Poder Público, Empresas e Sociedade Civil, de maneira geral. Aliás, prazos previstos nas entrelinhas do próprio Plano. Um bom exemplo é a área próxima à rodovia de acesso à Rodovia Castelo Branco, a chamada “Castelinho”, onde nas proximidades, o zoneamento permite as atividades industriais especiais que carecem de detalhamento mais específico. 32 O Plano Diretor também dá um prazo de dois anos para que a Prefeitura aprove os planos voltados ao setor de transporte e de habitação. Outra incumbência do Poder Executivo é a de adequar o Código de Obras e Postura ao Novo Plano Diretor. Passados dois anos e meio da sua aprovação, um dos pontos mais elogiados do Plano Diretor é a ressalva que existe em um de seus parágrafos que diz que, eventuais mudanças em sua redação original só podem ser feitas a partir de consulta popular, as chamadas, audiência públicas. As audiências citadas no parágrafo anterior aconteceram, recentemente, no mês de outubro de 2006, e foi estipulado o dia 6 de novembro, também do mesmo ano, como data máxima para que as sugestões de emendas fossem protocaladas junto à Prefeitura e encaminhadas à Secretaria de Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente. Esta última, registrou o recebimento de mais de cem sugestões para emendas ao Plano Diretor Municipal. Entre os que mais se apresentaram nas audiências públicas, destacam-se, os representantes das Sociedades de Amigos de Bairro, do Mercado Imobiliário, dos Arquitetos e Engenheiros e, por fim, da população em geral. É evidente que, seguindo a lógica capitalista de produção e reprodução do espaço urbano, as reivindicações ou sugestões ao Plano são oriundas de interesses antagônicos. Se por um lado, as Sociedades Amigos de Bairro defendem por exemplo, uma maior limitação e controle da ocupação das áreas dos bairros que representam, por outro, os promotores imobiliários, em especial os incorporadores e construtores, muitas vezes na composição de uma única pessoa jurídica, querem a abertura de novos espaços para suas produções, cabendo destacar, uma reivindicação que muito ouvimos em nossas entrevistas que é a transformação das avenidas e ruas de bairros com significativo fluxo de pessoas, em corredores comerciais. Outra reivindicação que merece destaque, e que vem ao encontro do alvo principal de nossos 33 estudos, a verticalização, é a permissividade para novas áreas para esse tipo de construção, caso do Parque Campolim, que abordaremos com mais profundidade em capítulo específico. As nomenclaturas utilizadas no Mapa de Zoneamento de Sorocaba São: ZC – Zona Central; ZPI – Zona Predominantemente Institucional; ZI – Zona Industrial; ZR1 – Zona Residencial 1; ZR2 – Zona Residencial 2; ZR3 –Zona Residencial 3; ZCH – Zona de Chácaras Urbanas; ZAE – Zonas de Atividades Especiais; ZCA- Zona de Conservação Ambiental; ZR – Zona Rural; Área de Expansão Urbana em Zona Residencial 3; CCR – Corredor de circulação Rápida; CCS1 – Corredor de Comércio e Serviços 1; CCS2 – Corredor de Comércio e Serviços 2; CCR – Corredor de Circulação Rápida; CCI – Corredor de comércio e indústria. Observe na página seguinte, a Figura 6 com o Mapa do Zoneamento Urbano atual em conformidade com o novo Plano Diretor do Município. 34 Figura 6: Mapa de Zoneamento Urbano de Sorocaba segundo o Plano Diretor Urbano aprovado em 2004. 35 2.2.3. A verticalização do centro O centro das cidades foi, num primeiro momento, o local privilegiado para a existência das construções verticais. Com a cidade de Sorocaba não foi diferente. Os primeiros edifícios começam a surgir na década de 1950, com destaque ao Nossa Senhora da Penha, o primeiro deles e o primeiro também a possuir elevador. Este, inaugurado em 1956. Nas décadas seguintes vieram outros. A foto 3 , abaixo, mostra a fachada do referido edifício. Foto 3 – Edifício Nossa Senhora da Penha. Inaugurado em 1956, foi o primeiro edifício da cidade . Autor: BARRETO, I. J. – Dezembro/2006. 36 Ao se visualizar o centro, sobre uma visão oblíqua ( de cima ), podemos facilmente constatar a sua pouca verticalização. Há uma maior densidade somente no canteiro central, no entorno da praça Coronel Fernando Prestes. No restante, o que se observa é a descontinuidade desses edifícios, inclusive com algumas regiões que apresentam muito pouco dessas construções. ( Fotos 4 e 5 ). Os motivos para essa pouca verticalização do centro foram tomando forma à medida que nossas entrevistas com o mercado imobiliário foram sendo realizadas. Por possuir imobiliárias tradicionais e que há muito tempo atuam no mercado da cidade, pudemos encontrar nestas, profissionais que têm um profundo conhecimento da evolução imobiliária sorocabana. O cadastramento que fizemos dos edifícios da área central da cidade, nos permitiu além da visualização da morfologia vertical desta área, o contato com muitos moradores antigos, que ali moram há décadas, o que nos permitiu o acesso a informações e documentos preciosos. Para a pouca verticalização do centro da cidade, algumas coisas parecem consensuais aos que lançam um olhar sobre esta área. O primeiro fator se origina no fato de que a cidade – como muitas cidades antigas – possui um centro tradicional relativamente pequeno e com ruas muito estreitas. Tal fato fez e ainda faz com que os possíveis investidores pensem muito ao cogitar a possibilidade de fazerem ali tais investimentos. As ruas estreitas são um dificultador importante, pois, com o grande fluxo de automóveis presenciado na área central, , ficam facilmente congestionadas, inviabilizando muitas vezes a intensa saída e entrada de veículos, tão características dos edifícios. Outro fator inibidor importante é o bolsão de áreas tombadas pelo patrimônio histórico, como os galpões de antigas fábricas, o Palacete Scarpa e a região no 37 Foto 4 – O centro da cidade sob visão oblíqua e em direção à região norte – pouca verticalização. Autor: BARRETO, I. J. - Dezembro/2006 Foto 5– Em algumas regiões do centro há pouquíssima verticalização. Ao fundo, a região noroeste da cidade. Autor: BARRETO, I. J. - Dezembro/2006 38 entorno do Mosteiro de São Bento, como já dito anteriormente, região do primeiro núcleo populacional da cidade. Nestas áreas, obviamente, verticalização, não! Observe na página as fotos 6 e 7. Os terrenos são escassos e os poucos existentes, caros. As residências térreas, em locais com características favoráveis à verticalização, quando cogitadas para aquisição dos incorporadores imobiliários, também são caras, pois, muitas vezes, estão nas mãos de famílias de forte tradição na cidade e que moram há muito tempo nesta área. Neste caso, quando a sugestão de venda existe, o preço se torna inviável aos investidores que, diante dos empecilhos já descritos nos parágrafos anteriores, pelo mesmo preço ou menos, preferem outras áreas nobres e com características bem mais convidativas ao consumidor final. È o caso do Parque Campolim e, nas suas proximidades, do Elton Ville, Jardim Emilia e Condomínio Isaura. O novo Plano Diretor traz um coeficiente de aproveitamento mais convidativo às construções no Centro do que o Parque Campolim, por exemplo. No primeiro o CA é de 4 (quatro vezes a área do terreno ) e no segundo, 2. Mesmo assim, diante dos fatores já citados, é irrelevante a quantidade de edifícios em construção atualmente nesta área. O gráfico 3 nos mostra um comparativo entre o número de edifícios em construção atualmente na área central e no Parque Campolim. A diferença é significativa. Mesmo considerando a dinamicidade do espaço urbano, a verticalização do Centro de Sorocaba deve, a curto e médio prazo, sofrer pouca alteração, com a manutenção dos edifícios ali existentes que têm, num momento mais recente, assumido novas funções. Uma delas, é a adequação desses edifícios para abrigar em seu interior, as chamadas garagens automáticas verticais, que acabam ocupando toda a extensão dessas construções e suprindo a latente necessidade de estacionamento da área central. 39 Foto 6 – Prédio da antiga Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Ponte. Área tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal, com 43078 metros quadrados, bem no centro da cidade. Autor: BARRETO, I.J – Dezembro-2006. Foto 7 – O Museu da Estrada de Ferro Sorocaba com o Palacete Scarpa ao fundo – outro exemplo de área tombada pelo Patrimônio Histórico. Autor: BARRETO, I.J – Dezembro/2006. 40 Número de edifícios em construção atualmente no centro e no Parque Campolim em Sorocaba - 2006 14 12 10 8 Número de edifícios 6 4 2 0 Centro Parque Campolim Gráfico 3 Fonte: Dados colhidos em Pesquisa de Campo – Novembro/2006. Organização: BARRETO, I. J. Outra realidade da área central e que os teóricos já vêm há algum tempo tratando de estudar, é a refuncionalização dos edifícios residenciais ali existentes. Identificamos vários casos de famílias de classe baixa que ali moram, segundo eles, à custo do aluguel similar ao que pagariam no bairros mais distantes. A vantagem é que morando na área central, têm acesso a uma série de serviços que, com certeza, não o teriam morando distante. Além disso, tem a economia de transporte que tanto pesa no bolso do trabalhador. Por fim, uma realidade que apareceu em todas as nossas entrevistas é o fato de todos os entrevistados do mercado imobiliário terem sido unânimes ao dizer que o sorocabano, de maneira geral, não ter incutido a idéia de morar em apartamentos. Segundo Rosa ( 2006 ), 41 pelo mesmo preço, o possível comprador do apartamento, muitas vezes prefere as casas e, mais recentemente, os condomínios residenciais. O número de pavimentos por edifício é bastante variado na parte central e por conta disso vai desde os menores ( 4 pavimentos) até o que apresentam mais de 20 pavimentos. Observe abaixo no gráfico 4: Escala de pavimentos e quantificação de unidades dos edifícios da área central de Sorocaba 32% 60 39% 75 4 pavimentos 5 a 10 pavimentos Acima de 10 pavimentos 55 29% Gráfico 4 Fonte: Dados colhidos em Pesquisa de Campo – Novembro/2006 Organização: BARRETO, I.J. 42 O centro da cidade possui 190 edifícios com mais de 4 pavimentos. O Parque Campolim, 82. Essa proporção mostra que nos 10 anos de verticalização do bairro, se chegou a quase metade das construções existentes no Centro. O gráfico 5 explicita a realidade, hoje, dos edifícios com 4 ou mais pavimentos ao longo de toda a extensão da cidade, mostrando o total, e as frações absorvidas pelo Centro e o Parque Campolim. Este gráfico reforça mais uma vez, a pouca verticalização da área central, em especial, se comparada à totalidade dessas construções ao longo da cidade. Disposição dos 900 edifícios com 4 ou mais pavimentos ao longo da cidade de sorocaba 9% 82 21% 190 Campolim Centro Restante da cidade 628 70% Gráfico 5 Fonte: Dados colhidos em Pesquisa de Campo – Outubro 2006 Organização: BARRETO, I. J. 43 No mês de outubro de 2006, fizemos um levantamento “in loco” dos edifícios da área central, com 4 ou mais pavimentos, uma vez que, pelo arcaico sistema de informatização da Prefeitura Municipal de Sorocaba, mesmo com dezenas de pedidos feitos, tais informações não nos foram dadas. A tabela 1 é o resultado desse nosso trabalho no levantamento dos referidos dados, o que nos permitiu confeccionar os gráficos utilizados e analisados até aqui. 44 Tabela 1 – Relação dos edifícios do centro de Sorocaba NOME ENDEREÇO Edifício Residencial Sevvila Rua Artur Gomes, 530 Plaza Edifício Sem Nome Rua Artur Gomes, 570 Edifício Sem Nome Rua Artur Gomes, 586 Edifício Montreau Rua Arthur Gomes, 123 Edifício Pirâmide Rua Arthur Martins, 63 Edifício Jussara Maria Rua Arthur Martins, 121 Edifício Julieta Rua Arthur Martins, 137 Edifício Bellucci Rua Araçoiaba, 101 Edifício Sindicato dos Rua Augusto Franco, 159 trabalhadores Transportes Rodoviários Edifício Flamboyant Rua Augusto Franco, 83 Edifício Perseverança III Rua Barão do Rio Branco, 45 Edifício Ótica Carol Rua Barão do Rio Branco, 45-A Edifício Pernambucanas Rua Barão do Rio Branco, 131 Edifício Barão do Rio Branco Rua Barão do Rio Branco, 159 Edifício Foka Rua Barão do Rio Branco, 255 Edifício Sem Nome Rua Barão do Rio Branco, 234 Edifício Jurema Leão Rua Barão do Rio Branco, 215 Edifício CEESP Braguinha, 45 Edifício Círculo Ítalo Brasileiro Braguinha, 39 Edifício Sophia Cheda Braguinha, 85 Edifício Sem Nome Braguinha, 111 Edifício Sem Nome Braguinha, 392 Edifício Kássia Marina Braguinha, 421 Edifício Rosa Maria Braguinha, 336 Edifício Luis Cardieri Rua Benedito Pires, 25 Edifício Cardum Hotel Rua Benedito Pires, 61 Edifício Inter Plaza Rua Benedito Pires, 81 Edifício Colégio Liceu Rua Brigadeiro Tobias, 413 Palace Hotel Rua Brigadeiro Tobias, 413 Edifício Fernando Silva Rua Brigadeiro Tobias, 247 Edifício Do-Re-Mi Rua Brigadeiro Tobias, 233 Edifício Itararé Rua Brigadeiro Tobias, 515 Edifício Francisco Pagliato Rua Capitão José Dias, 196 Edifício Alves Perez Rua Casemiro de Abreu, 46 Edifício Condomínio Tarumã Rua Cel. Cavalheiros, 170 Ed. Francisco Paulo Simoni Cel. Fernando Prestes, 50 Edifício Terazza Trento Rua Cesário Mota, 449 Edifício Sem Nome Rua Cesário Mota, 243 Edifício Sem Nome Rua Cesário Mota, 120 Edifício Sem Nome Rua Cesário Mota, 405 Edifício Sem Nome Rua Comendador Oeterer, 130 Edifício Martins Rua Dom Pedro II, 21 Edifício Agenor Leme dos Rua Dom Pedro II, 100 Santos PAVIM. 20 04 04 13 16 04 04 04 05 14 10 04 05 12 04 04 06 13 10 18 04 05 04 16 14 09 09 04 05 12 05 09 14 07 16 14 19 04 04 04 04 05 08 45 Edifício Piazza Di Spagna Edifício Torre Branca Edifício Shelton In Hotel Edifício Grande Hotel Royal Edifício Rubens Epeman Edifício Moveis Ipê Edifício X Três Edifício Três Irmãs Edifício Em Construção Edifício Colomizini Edifício Anuário Soares Edifício Sem Nome Edifício Piazza Di Salerno Edifício Antonio José Edifício Alice Edifício Ondina Madureira Edifício Cardieri Edifício Previdência Social Edifício Sem Nome Edifício Condomínio Ed. Meridional Edifício Piazza Navona Edifício Humaita Edifício Sociedade Médica de Sorocaba Edifício Maria Neuza Edifício Sem Nome Edifício Nair Amaral Edifício Tupi Edifício Arnaldo Ferro Edifício Sem Nome Edifício São Luiz Edifício Ipanema Edifício Sem Nome Edifício Edwar Maluf Edifício Sem Nome Edifício Cidinha Edifício Maria José Edifício Elfrida Margarida Edifício Sem Nome Edifício Sem Nome Edifício 8 Irmãos Edifício Mariana Betti Edifício Belluci Edifício Sem Nome Edifício Monitoria Edifício Funserv Edifício Simão Peres Av. Dr. Afonso Vergueiro, 1810 Av. Dr. Afonso Vergueiro, 1870 Av. Dr. Afonso Vergueiro, 1850 Rua Dr. Álvaro Soares, 451 Rua Dr. Álvaro Soares, 403 Rua Dr. Álvaro Soares, 420 Rua Dr. Álvaro Soares, 345 Rua Dr. Álvaro Soares, 237 Rua Dr. Álvaro Soares, 197 Rua Dr. Álvaro Soares, 194 Rua Dr. Álvaro Soares, 150 Rua Dr. Álvaro Soares, 44 Av. Dr. Eugenio Salerno, 123 Rua Dr. Nogueira Martins, 491 Rua Dr. Nogueira Martins, 343 Rua Dr. Nogueira Martins, 323 Rua Dr. Nogueira Martins, 290 Rua Dr. Nogueira Martins, 141 Rua Dr. Nogueira Martins, 103 Rua Dr. Nicolau P. de C. Vergueiro, 133 15 24 09 09 12 04 06 07 04 04 04 04 15 04 05 04 05 04 04 11 Rua Humaitá, 140 Rua Humaitá, 72 Rua João Soares, 75 19 04 05 Rua João Soares, 78 Rua João Soares, 203 Rua Joaquim da Silva, 37 Rua Rua Jose Antonio Fereira Prestes, 17 Rua José Bonifácio, 21 Rua José Bonifácio, 70 Rua José Miguel Saker Filho, 83 Rua José Miguel saker Filho, 11 Av. Juscelino Kubistschek, 550 Av. Juscelino Kubistschek, 753 Av. Juscelino Kubistschek, 1000 Av. Juscelino Kubistschek, 1199 Rua Largo de São Bento, 47 Rua Largo de São Bento, 53 Rua Leite Penteado, 39 Rua Leite Penteado, 96 Rua Leopoldo Machado, 522 Rua Largo de São Bento, 474 Rua Largo de São Bento, 175 Rua Machado de Assis, 54 Rua Major João Lício, 153 Rua Major João Licio, 275 Rua Manoel José da Fonseca, 193 04 04 04 04 04 06 16 19 04 11 04 04 07 14 04 04 04 04 04 04 04 04 15 46 Edifício Athenas Edifício Lucy de Toledo Camargo Edifício São João Edifício Vovó Natália Edifício Miranda Azevedo Edificio São Luiz Edifício Santa Catarina Edifício Sem Nome Edifício João Carone Edifício Luiz Pessitti Edifício centro Cultural Brasil/EUA Edifício Sem Nome Edifício Amarílis Edifício Sem Nome Edifício Ágata Edifício Nossa Senhora da Ponte Edifício Conjunto Santa Clara Edifício Sem Nome Edifício Camboriu Edifício Dona Martha Edifício Esplanada Edifício Sem Nome Edifício Ethie Edifício Dr. Attílio Bruni Edifício Sem Nome Edifício Buffet O Bom Petisco Edifício Leblon Edifício Alvorada Edifício Hotel Ipanema Edifício Esc. Contabilidade Dona Áurea Edifício Malibu Edifício São Pedro Edifício Fefiso Edifício Embratel Edifício Dr. Arthur cyrillo Freire Edifício Sem Nome Edifício Telefônica Edifício Maria Augusta Nossa Senhora da Penha Edifício Cirandinha Edifício Hamma Edifício Sem Nome Edifício Hotel Milano Edifício Arcoador Edifício Largo do Colégio Edifício Henrique Stadler Rua Manoel José da Fonseca, 186 Rua Manoel José da Fonseca, 471 12 16 Rua Miranda Azevedo, 250 Rua Miranda Azevedo, 561 Rua Miranda Azevedo, 551 Rua Miranda Azevedo, 17 Rua Miranda Azevedo, 147 Rua Miranda Azevedo, 143 Rua Moreira César, 134 Rua Moreira César, 242 Rua Moreira César, 124 04 08 17 04 09 04 08 19 04 Rua Nogueira Martins, 271 Rua Padre Luiz, 677 Rua Padre Luiz, 252 Rua Padre Luiz, 383 Rua Padre Luiz, 17 Rua Padre Luiz, 39 Rua Paula Souza, 317 Rua da Penha, 1269 Rua da Penha, 1242 Rua da Penha, 1200 Rua da Penha, 1122 Rua da Penha, 1129 Rua da Penha, 1077 Rua da Penha, 1063 Rua da Penha, 1205 Rua da Penha,992 Rua da Penha, 987 Rua da Penha, 936 Rua da Penha, 823 04 04 04 04 15 14 04 09 13 15 04 04 04 04 04 20 16 11 04 Rua da Penha, 815 Rua da Penha,766 Rua da Penha, 680 Rua da Penha, 647 Rua da Penha, 500 Rua da Penha, 463 Rua da Penha, 458 Rua da Penha, 437 Rua da Penha, 426 Rua da Penha, 274 Rua da Penha, 158 Rua da Penha, 35 Rua da Penha, 19 Rua Professor Toledo, 235 Praça Ferreira Braga, 29 Praça Carlos de Campos, 52 09 05 09 07 15 04 08 08 09 04 04 04 04 16 13 06 47 Edificio Ercília Edifício Mônaco Edifício Trade Tower Edifício João Alcolea Garcia Edifício Acapulco Edifício Alexandre Flores Alcolea Edifício Sem Nome ( em construção) Edifício Santa Maria Edifício Sem Nome Edifício Atlântica Edifício Pio XII Edifício Paula Santos Edifício Sem Nome (em construção) Edifício Conjunto Fortaleza Edifício Roberto Rodrigues Edifício Souza Arêas Edifício São João Edifício Banco de São Paulo Edifício Sem Nome Sem Nome Edifício Virginia Edifício Condomínio Miloca Pires Edifício Sorocaba Edifício São Bento Edifício Sem Nome Edifício São Vicente de Paulo Edifício Pietra Teodori Edifício Sem Nome Edifício Sem Nome Edifício Sem Nome Edifício ACM Edifício A. Cardoso Edifício Condomínio Elias Mussi Edifício Condomínio Maria Licia Missi Edifício Maris José Edifício Itamarati Edifício Floresta Negra Edifício Sem Nome Edifício Santa tereza Edifício José Ferranesi Edifício Quinzinho de Barros Edifício Sem Nome Edifício Edifício Maria Alcoléa Praça Carlos de Campos, 120 Rua Ramos de Azevedo, 230 Rua Riachuelo, 460 Rua Rio Grande do Sul, 394 Rua Rio Grande do Sul, 280 Rua Rio Grande do Sul, 224 05 15 16 04 17 05 Rua Rio de Janeiro; 174 04 Rua Saldanha da Gama, 98 Rua Salvador Corrêa, 114 Rua Salvador Corrêa, 41 Rua Santa Clara, 49 Rua Santa Clara, 203 Rua Santa Clara, 162 13 04 07 10 05 05 Rua Santa Clara, 446 Rua Santa Clara, 522 Rua Santa Clara, 544 Rua São Bento, 16 Rua São Bento, 32 Rua São Bento, 39 Rua São Bento, 57 Rua São Bento, 133 Rua São Bento, 195 05 08 04 04 12 04 04 06 06 Rua São Bento, 190 Rua São Bento,298 Rua São Bento, 332 Rua Santa Cruz, 138 Rua Senador Feijó, 199 Rua sete de Setembro, 26 Rua sete de Setembro, 33 Rua sete de Setembro, 144 Rua sete de Setembro, 173 Rua sete de Setembro, 287 Rua sete de Setembro, 543 16 17 04 18 09 05 05 05 05 17 17 Rua sete de Setembro, 533 17 Rua sete de Setembro, 792 Rua sete de Setembro, 820 Rua sete de Setembro, 863 Rua Souza Pereira, 76 Rua Souza Pereira, 410 Rua Souza Pereira, 226 Rua Treze de Maio, 71 Rua Tuiuti, 72 Rua Ubaldino do Amaral, 250 18 13 13 05 13 05 17 04 15 48 Edifício Edmundo Missi Rua Ubaldino do Amaral, 237 Edifício Pedro Alcoléa Rua Ubaldino do Amaral, 250 Edifício Sem Nome Rua Vicente de Carvalho, 63 Ed. Soares Contabilidade Rua Vicente de Carvalho, 40 Edifício Torre Azul Rua Voluntários de Sorocaba, 244 Edifício Sem Nome Rua XV de Novembro, 220 Edifício Antonio Augusto Rua XV de Novembro, 229 Amaral Edifício Banco do Brasil Rua XV de Novembro, 191 Edifício Sem Nome Rua XV de Novembro,180 Edifício Goldman Rua XV de Novembro,121 Edifício XV de Novembro Rua XV de Novembro, 97 Edifício Sem Nome (Em Rua XV de Novembro, 45 Construção) Fonte: Dados colhidos em Pesquisa de Campo – Novembro/2006 Organização: BARRETO, I. J. 16 15 04 04 18 04 10 10 04 04 21 08 49 2.3. Sorocaba em vias de se tornar a quarta Região Metropolitana do Estado de São Paulo. O deputado Hamilton Pereira, reeleito na última eleição, pelo Partido dos Trabalhadores, protocolou Projeto de Lei junto a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, no dia 05 de outubro de 2005, criando a 4ª Região Metropolitana de do Estado de São Paulo. Como o próprio nome sugere, Sorocaba seria o município sede. Os estudos pertinentes a viabilidade do Projeto já estão sendo realizados e a previsão é de que os Deputados Estaduais devam votar sobre o Referido Projeto de Lei, no ano de 2007. A Região Metropolitana seria então composta por Sorocaba e outros 15 municípios que estão em seu entorno, totalizando uma área de 5662 Km2 e uma população de 1 388 220 habitantes; com densidade demográfica de 245,18 habitantes por km2. A efetiva criação da Região Metropolitana deve fortalecer e oficializar uma realidade que na prática já existe: a metropolização vivida pela cidade há algum tempo. Embora se arriscar em análises mais aprofundadas sobre as características que são essenciais para a criação de uma Região Metropolitana , diante da complexidade, seja perigoso, dá para se perceber que a troca existente entre o município pólo - Sorocaba - e as cidades que estão à sua volta é, hoje, extremamente intensa. O fluxo de trabalhadores para esta última é grande e o sistema coletivo de transporte não consegue dar conta da demanda, principalmente nos horários de pico, como por exemplo, logo pela manhã e no final da tarde. A busca por hospitais e serviços médicos em geral, é também constante e intensa. Os hospitais públicos, sucateados por essência, não dão conta dos que vêm à cidade à procura desses serviços. Fileiras de ônibus com placas da região ( Piedade, Salto de Pirapora, São 50 Roque, Boituva, aqui tomados por exemplo ) são facilmente vistos nas proximidades do chamado Hospital Regional. As escolas e faculdades de Sorocaba também são atrativos fortes e que também promovem uma troca intensa entre a cidade e as cidades próximas. No caso das Universidades, a recente chegada da Unesp ( 2003 ) e da Ufscar ( 2005 ) as primeiras Universidades Públicas a se instarem no Município, com alguns de seus cursos, também deve ser um elemento a mais nesse fluxo intenso de pessoas para a cidade sede. A votação por parte do Legislativo, criando efetivamente a Região Metropolitana, só vai legitimar um processo que já existe; alguns mais evidentes como os que aqui foram relatados superficialmente, pois não é intenção deste trabalho se aprofundar em discussão tão rica e com pontos de vistas tão divergentes, como provam as leituras que já fizemos sobre o tema, inclusive, no Curso da Professora Olga Firkowski, intitulado, Tópicos Especiais em Geografia - Metrópole e região Metropolitana: marco conceitual e pertinência para análise espacial, realizado na primeira quinzena do mês de novembro de 2005, na Universidade Estadual de Maringá, Pr. As cidades são lugares privilegiados, onde tudo se realiza, devemos fazer com que nelas se concretizem também parte dos sonhos de uma sociedade mais justa, onde a população, muitas vezes refém da rigidez dos limites políticos existentes no interior dos espaços aglomerados, possa encontrar mecanismos mais solidários e conciliatórios entre seus dilemas diários de trabalhar em um município e votar em outro; trabalhar em um município e dormir em outro; trabalhar em um município e precisar da creche para seus filhos em outro; trabalhar em um município e preocupar-se com a falta de água para suas necessidades básica em outro. Faz-se mister que as pessoas passem a assumir sua condição de cidadão metropolitano ou de aglomerados, possam exercer sua cidadania em uma base territorial ampliada, pois seus problemas e as possibilidades de soluções, estarão, cada vez menos, limitadas a esfera municipal. (FIRKOWSKI, 2000, P. 1) As Justificativas utilizadas pelo deputado estadual Hamilton Pereira, no Projeto de Lei Complementar nº 33, de 2005, e que cogita a possibilidade da criação da Região 51 Metropolitana de Sorocaba aparecem a seguir, seguida, pela tabela 2, onde aparece a relação dos municípios que devem compor a referida área metropolitana. O texto completo, consta dos anexos deste trabalho: JUSTIFICATIVA Sorocaba, como um dos mais importantes e populosos municípios do interior paulista, é responsável pelo desenvolvimento da região e dos municípios localizados no seu entorno, dada sua referência e importância estratégica. A criação da Região Metropolitana de Sorocaba, com sede no Município de Sorocaba, certamente trará mais benefícios e maior desenvolvimento aos municípios dela integrantes, na medida em que exigirá um planejamento integrado e ações conjuntas, além de uma união permanente de esforços para a execução de funções públicas de interesse comum. A nova unidade regional que se pretende criar, com a conjugação de esforços mútuos dos entes públicos envolvidos, certamente se tornará um grande polo de desenvolvimento, atraindo novos investimentos, o que propiciará a geração de novos empregos, aumentará a renda dos trabalhadores e, por conseqüência, trará melhoria de vida a toda a população. O agrupamento dos 16 (dezesseis) municípios integrantes, segundo dados do SEADE, de 2005, conta com uma população de aproximadamente 1.400.000 (um milhão e quatrocentos mil) habitantes, distribuídos por uma área de 5.600 (cinco mil e quinhentos) quilômetros quadrados, perfazendo uma densidade demográfica de 245 (duzentos e quarenta e cinco) habitantes por quilômetro quadrado, de acordo com o quadro demonstrativo abaixo: Tais números demonstram a elevada densidade demográfica dessa região. Ressalte-se que a maior distância entre as localidades elencadas no § 1º do art. 1º desta propositura, não ultrapassa 45 (quarenta e cinco) quilômetros do município sede da região – Sorocaba, evidenciando significativa conurbação. Afora isso, as funções urbanas e regionais desse agrupamento de municípios contam com um elevado grau de diversidade, especialização e integração socioeconômica, tendo em vista que a ligação entre esses municípios, à Capital e às outras regiões do Estado é realizada por importantes rodovias, tais como a Rodovia Presidente Castello Branco (SP 280), a Rodovia Raposo Tavares (SP 270), a Rodovia Marechal Rondon (SP 300) e a Rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho - SP 075). ( PEREIRA, 2005 ). 52 Tabela 2 – Relação dos Municípios componentes da R M de Sorocaba MUNICÍPIO POPULAÇÃO ÁREA DENSIDADE 2 (em km ) DEMOGRÁFICA (hab/km2) BOITUVA 41.643 248 167,92 CAPELA DO ALTO 16.422 143 114,84 ALUMINIO 16.335 95 171,95 ARAÇARIGUAMA 13.216 138 95,77 ARAÇOIABA DA SERRA 23.027 283 81,37 IBIÚNA 73.396 1.088 67,46 IPERÓ 22.017 165 133,44 ITU 151.268 642 235,62 MAIRINQUE 46.188 214 215,83 PIEDADE 53.561 729 73,47 PORTO FELIZ 49.647 569 87,25 SALTO DE PIRAPORA 41.174 255 44,24 SALTO 104.479 160 161,47 SÃO ROQUE 71.695 313 229,06 SOROCABA 560.250 443 1.264,67 VOTORANTIM 103.902 177 587,02 1.388.220 5662 245,18 Soma total e média Fonte: www.hamiltonpereira.org.br - 15/11/2006 Organização: BARRETO, I.J. A localização dos municípios que constam da tabela acima pode ser feita na página seguinte, na figura 7: 53 Figura 7 – Os municípios que compõem a Região administrativa de Sorocaba. Fonte: Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo – 15/01/07. Organização:BARRETO,I.J. CAPÍTULO 3 URBANIZAÇÃO E VERTICALIZAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Visão desconcertante que parece confundir superfície e profundidade, presente e passado. Difícil de identificar, a primeira vista, este skyline desprovido de signos ou pontos reconhecíveis. Algo porém – talvez a particular textura formado pelo aglomerado caótico, pela massa de concreto erguido, uma passagem saturada e opaca – nos dá a inequívoca sensação de que olhamos nossas grandes cidades.(PEIXOTO,1998,p.227) 55 3.1. A Complexidade e dinamicidade do espaço urbano O espaço de uma grande cidade capitalista constitui-se, em um primeiro momento de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e de conteúdo social, de lazer, entre outras e aquelas de reserva para futura expansão. Para Corrêa ( 1995, p.7 ) “Este complexo conjunto de usos da terra é, na realidade, a organização espacial da cidade, ou simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como espaço fragmentado”. O espaço urbano sempre foi alvo de estudos por parte de teóricos advindos das mais variadas disciplinas, certamente atraídos pela gama de enfoques que se pode dar ao seu referido tema. LEFBVRE ( 1999, p. 51 ) nos lembra que: Atualmente o fenômeno urbano surpreende por sua enormidade; sua complexidade ultrapassa os meios do conhecimento e os instrumentos da ação prática. Ele torna quase evidente a teoria da complexificação, segunda a qual os fenômenos sociais vão de uma certa complexidade ( relativa ) a uma complexidade maior .Teoria que nasce nas ciências ditas “da natureza” e na teoria geral da informação, mas que se desloca para a realidade social e seu conhecimento. Ainda na concepção do autor, a cidade acaba sendo sempre o reflexo de uma sociedade em seu conjunto e em um determinado momento histórico: Apenas hoje é que começamos a apreender a especificidade da cidade. A cidade sempre teve relação com a sociedade no seu conjunto, com sua composição e com seu funcionamento, com seus elementos constituintes ( campo e agricultura, poder ofensivo e defensivo, poderes políticos, Estados, etc ), com sua história. Portanto ele muda quando muda a sociedade no seu conjunto. ( LEFEBVRE, 2001, p. 46 ). 56 A cidade dos nossos dias apresenta uma dinâmica tão fascinante e rica em sua multiplicidade de funções que, indubitavelmente uma só disciplina não cumpriria a contento o papel de estudá-la. Sendo assim, a soma dos “saberes” de diversas disciplinas, em especial, as voltadas às ciências humanas, nos parece uma saída bastante plausível no objetivo de vencer os desafios decorrentes de tal estudo. Tomar a cidade como espelho de análise significa compreender a multiplicidade de atores e motivações particulares; significa explicar constantemente as diferenças. Não se trata de qualquer nostalgia ideográfica, mas pelo contrário, trata-se de conferir significado às escalas do cotidiano e às suas articulações com outras escalas temporais e espaciais, tomando como suposto que não há explicação simples para fenômenos complexos. ( CASTRO, 1993, p. 92 ). Para SPÓSITO, o conceito de urbanização remete para a idéia de processo, no caso, para a origem e evolução das cidades, sendo indispensável o estudo das relações sociais no tempo e no espaço: O conceito de urbanização contém, para nós, a idéia de processo. Assim, remete, necessariamente, à análise da origem e evolução histórica das cidades, em relação ao nível de desenvolvimento das forças produtivas, ao estágio da divisão social e territorial do trabalho, à transformações de ordem política e social, às manifestações de caráter cultural e estético, à revoluções e contra-revoluções ideológicas e do conhecimento, à Filosofia e à especulação , à Ciência e ao quadro do cotidiano. ( SPÓSITO, 1991, p. 26 ). A mesma autora demonstra na citação abaixo a sua concepção de cidade, dando ênfase aos diferentes momentos históricos e à produção humana nesses períodos: Assim a cidade é para nós , forma materializada , não apenas paisagem estática, mas representação/manifestação do processo de urbanização, num dado ponto do território, somatória combinação dos diferentes momentos históricos que se concretizaram nesta produção humana. ( SPÓSITO, 1991, p. 26 ). 57 Santos ( 1993, p. 24 ) nos chama a atenção para a complexidade e os desafios nos estudos pertinentes ao sistema urbano: No sistema urbano há, por conseguinte, tendência crescente à diferenciação e à complexificação. As cidades são cada vez mais diferentes umas das outras. Aqueles esquemas simplórios que nos acostumamos a reproduzir e enfeitam a maioria das nossas teses, artigos e livros, mostrando redes urbanas formadas com diversas categorias de cidades distinguidas em níveis hierárquicos, são coisa agradável ao olhar, sem dúvida, instrumentos de aproximação da realidade, mas não são suficientes para a sua interpretação. Esse tipo de classificação em níveis sucessivos deixa de ter significação à proporção que cada cidade passa a ter uma relação direta com a demanda da sua região, e à proporção que cada região se especializa: uma especialização regional, que é, também, especialização da demanda ligada ao consumo produtivo. A cidade se dobra à essa demanda, se reforma, se reorganiza, se refaz, se recria. Embora em muitos momentos as expressões cidade e urbano tendam a se fundir, Souza ( 1995 ), com base nas palavras de Milton Santos, nos lembra que as expressões têm significados diferentes, a saber: A cidade é o lugar, como diz Milton Santos, o particular, o concreto, o interno. Na cidade está o transporte, a especulação imobiliária, a habitação. O urbano é o abstrato, o geral, o externo, onde está a produção, a classe social, a divisão do trabalho. O conjunto dessa história é o que nos dá a teoria da urbanização. ( SOUZA, 1995, p. 65 ). Os estudos focados na dinâmica urbana são bastante contundentes e parecem instigar cada vez mais o que se lançam em seu estudo, num momento histórico em que a grande maioria desses estudiosos parece apontar para uma verdadeira crise teórico-metodológica em função principalmente do atual estágio de acumulação capitalista, visível morfologicamente através da segregação urbana. Sobre isso, é oportuno que se diga que: 58 A realidade urbana nos coloca diante de problemas cada vez mais complexos, que envolve o desvendamento dos conteúdos do processo de urbanização, hoje, uma tarefa que de vê ser coletiva , através de um debate que deve ser fundamentado contemplando várias perspectivas teóricometodológicas, como possibilidades abertas com a pesquisa urbana em Geografia. Por outro lado, não se pode ignorar o conhecimento acumulado sobre a cidade que contempla um profícuo debate interdisciplinar como esforço das ciências parcelares na direção de sua elucidação. Este conhecimento acumulado revela-nos a cidade enquanto obra da civilização, bem como lugar de possibilidades sempre ampliadas para a vida humana; ao mesmo tempo em que um desafio se eleva no horizonte das análises urbanas; poderiam as ciências parcelares, isoladamente, construir um entendimento sobre a cidade em sua totalidade? E nesta direção, qual a contribuição possível de cada uma para a constituição de um entendimento da cidade como ponto de partida para o desvendamento do mundo moderno? ( CARLOS, 2004, p. 18 ) Ainda nas palavras da autora, entre outras coisas, a cidade é, antes de tudo, produto que se realiza como realidade espacial concreta, na qual o movimento é resultado do processo histórico cumulativo: Portanto, deixando de lado postulados e afirmações dogmáticas , podemos tomar como ponto de partida para desenvolvimento do raciocínio capaz de produzir uma “leitura geográfica sobre a cidade” partindo da idéia da cidade, enquanto construção humana, produto histórico-social, contexto no qual a cidade aparece como trabalho materializado, acumulado ao longo de uma série de gerações, a partir da relação entre sociedade e natureza. Expressão e significação da vida humana, a história da cidade revela-a como obra e produto, que se realiza como realidade espacial concreta cujo movimento é produto de um processo histórico cumulativo, revelando ações passadas ao mesmo tempo, que o futuro que se tece no presente e, nesta condição revela nas possibilidades presentes na vida cotidiana. Assim, o sentido o sentido e a finalidade da cidade enquanto construção histórica se refere ao homem e a realização da vida humana. Assim se a construção da problemática urbana se realiza em plano teórico, a produção da cidade e do urbano se coloca no plano da prática sócio-espacial, revelando a vida na cidade. A sociedade constrói um mundo objetivo através da prática sócio-espacial, revelando em suas contradições, num movimento que aponta um processo em curso, que tem sua base no processo de reprodução das relações sociais - que se realiza enquanto relação espaço – temporal. ( CARLOS, 2004, p. 19 ) No conjunto da urbanização brasileira, muitos autores vêm trabalhando, ao longo das últimas décadas, as mais diferentes temáticas. O que, porém, parece consensual, é que na maioria das vezes, as várias nuanças desse processo se apresentam de maneira bastante sutil e 59 camuflada. “O desenvolvimento urbano, portanto, é um fenômeno complexo que afeta questões: econômicas, sociais, políticas e culturais”. Tolosa ( 1978 ). Segundo Melo ( 1990 ), a produção do espaço construído no Brasil é resultado de duas vertentes de explicação: a primeira, procura enfatizar as manipulações de interesses de classes e do Estado; e a segunda; destaca por sua vez, as mudanças no conteúdo das alianças no seu relacionamento com as políticas públicas e a forma de acumulação. Assim sendo, a (re)produção desse espaço construído é uma amostra da imposição do modelo capitalista dominante, pois, na maioria das vezes, as transformações ocorridas no espaço urbano, vem ao encontro exclusivamente do interesse do grande capital. Sobre isso é oportuno destacar: La producción del espacio urbano és resultado de prácticas de unos agentes que actuan dentro del marco del sistema capitalista utilizando los mecanismos legales a su disposicion y realizando su actuacion al margem de estos mecanismos e obteniendo posteriormente la sancion legal correspondiente. (CAPEL, 1974:, p.19). 3.2 . Sobre a verticalização das cidades Segundo Mendes ( 1992 ); o processo de verticalização foi extremamente marcante para as cidades no seu intenso processo de construção e reconstrução. As primeiras construções verticais eram prioritariamente destinadas ao comércio e atendiam às novas necessidades da divisão do trabalho e da concentração das mais variadas atividades. O autor afirma também que: Não se deve atribuir aos aspectos como utilização de energia elétrica, do elevador e das grandes estruturas de aço, o fator determinante do crescimento vertical. É certo que esses aspectos realmente impulsionaram ( e impulsionam ) o processo de construção de edifícios, mas podemos encontrar a resposta à esta questão no próprio desenvolvimento da tecnologia, ligada à acumulação do capital. ( MENDES, 1992, p. 25 ). 60 Inserida com bastante intensidade no contexto da urbanização, a verticalização vem – há algum tempo – se destacando no ambiente urbano de muitas cidades brasileiras e têm sido alvo de estudo, em especial, de profissionais geógrafos e arquitetos, principalmente a partir da década de 1980. Devido à pouca importância dada ao termo “verticalização”, o mesmo não aparece nem mesmo nos mais conceituados dicionários de Língua Portuguesa. Sendo assim, podemos dizer que: Verticalizar, significa criar novos solos, sobrepostos, lugares de vida dispostos em andares múltiplos, possibilitando pois, o abrigo, em local determinado, de maiores contingentes populacionais do que seria possível admitir em habitações horizontais, e, por conseguinte, valorizar e revalorizar estas áreas urbanas pelo aumento de seu potencial de aproveitamento. ( RAMIREZ, 1997, p.5). Segundo Souza ( 1994 ), a verticalização se constitui “ numa especificidade da urbanização brasileira”, tendo em vista que “em nenhum outro lugar do mundo o fenômeno se apresenta como no Brasil, com o mesmo ritmo e com a mesma destinação prioritária para a habitação”. Não há como negar que a Geografia da Verticalização corresponde a uma Geografia de valorização, nitidamente acoplada no seu processo de expansão às disponibilidades em decorrência das quais os pobres vão sendo permanentemente rechaçados. ( SOUZA, 1994, p. 139 ). A autora ainda nos lembra que o processo das construções verticais se apresenta numa homogeneidade espacial e com visível heterogeneidade temporal, resultante das intensas relações espaciais: Verticalização significa segregação o que significa também, mesmo espaço em tempos diferentes. Uma homogeneidade espacial heterogeneamente temporal, reveladora da espacialidade e da temporalidade específica das relações sociais. Apesar das determinações socioeconômicas para a produção dos edifícios, elas não ocorrem ( como processo maciço da verticalização ), em todos os lugares, concomitantemente, diferente de outros tipos de imóveis ( da habitação popular convencional, por exemplo ). Curioso problema a ser desvendado – uma espacialidade implicando uma temporalidade diferencial. Seria isto uma historicidade ou uma temporalidade das relações sociais? ( SOUZA, 1991, p. 139 ). 61 O processo de verticalização das cidades brasileiras tem se mostrado como tema desencadeador de grande ebulição no seio acadêmico, tendo em vista que o referido processo tem se destacado em nosso país de forma mais acentuada que em outros, em especial, por apresentar em território brasileiro uma intensa dinamicidade, pois acontece de forma rápida e com tendência prioritariamente residencial. Sobre as singularidades do processo de verticalização ocorrido no Brasil é oportuno que se diga: ● a verticalização não decorre de falta de áreas de expansão horizontal, mas de uma combinação de interesses dos vários agentes que atuam nesse mecanismo; ● é notória sua complexidade enquanto forma de reprodução do espaço urbano no modo capitalista de produção; ● a importância no contexto econômico, político e sociocultural e como o entrelaçamento desses elementos é determinante na deliberação de desenvolvimento desse fenômeno; ● o Estado pode se constituir num indutor ou bloqueador da verticalização através da legislação urbanística; ● o processo de verticalização nas cidades brasileiras inicia-se na área central e se prolifera em direção aos bairros residenciais; ● no Brasil, a expansão do processo de verticalização, a partir de 1964, está atrelada principalmente à construção de apartamentos. ( MACHADO 1997, p. 57 ) Segundo Ramires ( 1998 ), já se pode perceber aspectos da verticalização no Brasil na década de 1920 , como o edifício A Noite, inaugurado no Rio de Janeiro em 1927, com 22 andares e considerado o edifício mais alto do mundo em concreto armado já anos 30. Ainda segundo o referido autor, merece destaque o edifício Martinelli, na capital paulista , que superou por alguns metros o outro edifício já citado neste parágrafo. O autor ainda afirma que com o passar dos anos o processo de verticalização no Brasil foi adquirindo surpreendente vigor, o que colocou o país num papel de destaque no cenário internacional. O Copan, edifício com 32 andares e 1160 apartamentos, aparece no Guiness Book como o maior prédio residencial da América Latina, com seus mais de 5 mil moradores. 62 Por esse exemplo e entre outros motivos, a cidade de São Paulo se destaca como o núcleo urbano mais verticalizado de toda a América Latina. A difícil mobilidade da população, devido aos problemas com estrutura do sistema de transporte coletivo ou à concentração dos serviços, pode explicar o surgimento da verticalização residencial em São Paulo, e outras cidades brasileiras. ( FERREIRA, 1987 apud MENDES 1992, p. 25 ). Embora seu uso tenha sido intensificado a partir da década de 1960, já na década de 1940, existem registros da utilização dos edifícios de apartamentos como forma de moradia da classe média: A introdução do apartamento como principal forma de moradia da classe média teve início na década de 1940, em Copacabana no Rio de Janeiro. Mas foi com a implementação do SFH, em 1964, que o mercado de produção imobiliária privada, baseado no edifício de apartamentos, se consolidou por meio de uma explosão imobiliária. ( MARICATO, 2001, p. 20 ) Oportunamente, ainda que se diga que, ao se abordar o tema verticalização, não basta apenas tentar explicá-lo, simplesmente como resultante, única e exclusivamente da vontade do grande capital de se reproduzir. Cabe lembrar que, embora este último seja um elemento importante na construção da cidade vertical, outros fatores são também importantes e merecem destaque: Ao explicá-la pela reprodução do capital financeiro e imobiliário, deve-se também conjecturar que a divisão social do espaço é produto de estratégia maior. Implica em série de decisões como: a) vontade da classe média de possuir um certo espaço, e b) há o problema da renda fundiária – sobre a verticalização, há detalhes do Projeto, detalhes técnicos que necessitam ser examinados - para explicar a verticalização é conveniente não se precipitar sobre a lógica do capital financeiro, pois ele também extrai seu lucro projetando casas individuais, como as casas germinadas. O capital financeiro existe em todos os países e nem todos os países conhecem um processo de verticalização análogo ao brasileiro. Assim é necessário analisa-lo com cuidado e vê-lo numa certa conjuntura, como: a questão da acessibilidade, e porque nos países adiantados, a burguesia está voltando para o centro ( residência –trabalho ). ( SOUZA, 1985, p.15 ). 63 Por fim, com relação aos diferentes “olhares” sobre o tema verticalização - boa parte com análises bastante singulares - é oportuno que se destaque dois pontos que parecem consensuais àqueles que abordam o referido tema: Conforme lembra Vaz ( 1989 ), apesar das diferentes maneiras de ver/pensar/teorizar o processo de verticalização em diferentes áreas acadêmicas tais como a História, Geografia Urbana, Arquitetura e Urbanismo com seus enfoque próprios, dois pontos de consenso podem ser destacados com relação ao momento inicial da verticalização, a saber: esse processo é típico dos tempos modernos e a área central é o locus de concentração de novas formas arquitetônicas, ou seja, dos arranha-céus/ edifícios / apartamentos. ( RAMIREZ, 1998, p.68 ). 3.3. O capital multifacetado na figura dos promotores imobiliários Quando se fala dos agentes produtores do espaço urbano ou promotores imobiliários nos deparamos na literatura que aborda o tema, uma infinidade de concepções e pontos de vista. Isso acaba tornando evidente que essas definições ou tentativas de se conceituar os referidos agentes, acabam ficando a cabo dos autores que os abordam. Almeida ( 1982 ) nos lembra que fica a cargo de cada autor definir a seu modo o agentes e suas respectivas estratégias que modelam o espaço. Sobre a complexidade de se identificar os referidos agentes cabe lembrar: Provavelmente no Brasil , e sobretudo em São Paulo, os agentes produtores do espaço urbano ainda estão por serem identificados, pois se dividem em pelo menos três tipos: os incorporadores, os construtores e os vendedores. É preciso conceitua-los melhor. O que torna a tarefa mais complexa é que o mesmo agente pode assumir os três tipos ou um ou dois deles. O que ainda se deve comprovar é que eles ( os tipos ) podem agregar-se ou desagregar-se, neste ou naquele empreendimento , assumindo portanto, papéis ou figuras jurídicas que variam com o tempo. Para tanto, torna-se imprescindível uma reconstituição histórica das empresas que se constituem nesses agentes. ( SOUZA, 1994, p.189 ). 64 Spósito ( 1991, p.158 ) conceitua com bastante propriedade os principais agentes produtores do espaço urbano: a) ESFERA PRIVADA – neste conjunto estão diversos agentes que têm como principal objetivo lucrar, direta ou indiretamente, com a terra urbana. Entre estes agentes estão: • Proprietários dos meios de produção - empresários industriais e ou comerciais que por suas atividades consomem muito espaço. Para eles, a terra urbana assume dupla função: suporte das atividades produtivas e localização de atributos especiais para essas atividades. • Proprietários fundiários – dão predomínio ao valor de troca sobre o valor de uso e estão sempre interessados na transformação de propriedades rurais em imóveis urbanos. Pra garantir os rendimentos com o mercado imobiliário, interferem na definição da legislação urbana. • Incorporadores – realizam a gestão do empreendimento entre os proprietários e os agentes imobiliários, realizam o estudo técnico, providenciam a localização e lançam o imóvel no mercado. Muitas vezes o proprietário é também o incorporador. • Construtores – realizam a construção, tornando indissociável o valor de uso e o valor de troca entre terreno e imóvel. • Corretores imobiliários – realizam a venda do imóvel, fazem o marketing do empreendimento e estimulam novas demandas. • Agentes financeiros – oferecem recursos necessários ao financiamento, compra ou construção por particulares e empresas, orientam a demanda por faixas de preço, idade e tipos de imóveis. 65 b) ESFERA PÚBLICA – o Estado interfere na produção do espaço urbano em suas diferentes escalas de organização ( federal, estadual e municipal ) e de diferentes maneiras: • Produção e legislação; • Realização de empreendimentos; • Aplicação de tributos ( IPTU, ISS ); • Tomadas da decisão para investimentos em espaços da cidade; • Exercício de controle e fiscalização; • Prestação ou concessão de serviços públicos; • Oferta de financiamentos. c) SOCIEDADE CIVIL – neste conjunto estão incluídas pessoas ou organizações que têm como principal objetivo garantir o direito à moradia e à cidade: • Trabalhadores, habitantes e usuários; • Sociedade civil organizada; • Associações de bairro; • Movimentos sociais; • Organizações não governamentais; • Outras agremiações e corporações; • Grupos sociais excluídos. Quando falamos no processo de construção das cidades, indubitavelmente afloram duas categorias de análise que são indissociáveis de tal processo: o Estado e o Capital. Os fatos nos revelam que este último vem ao longo do tempo, em menor ou maior intensidade dependendo do momento histórico e dos interesses das sociedades capitalistas vigentes - , direcionando as ações do Estado e, em função disso, porque não chamá-lo de Estado capitalista. Esse Estado capitalista, muito distante de ações de equidade que ideologicamente 66 o conceberam, age segundo os interesses deste grande capital, planejando suas ações em função das classes sociais com maior representatividade, com políticas públicas altamente segregadoras e discriminatórias. A atuação do Estado se faz, fundamentalmente e em última análise, visando criar condições de realização e reprodução da sociedade capitalista, isto é, condições que viabilizem o processo de acumulação e a reprodução das classes sociais e de sua frações. ( CORRÊA, 1995, p. 26 ). 3.3.1 – O Estado capitalista Não se entende o Estado de forma idealista, que paira sobre a sociedade, disposto a resolver os problemas. Adota-se uma postura mais crítica, entende-se o Estado como representação da classe dominante, constituindose num instrumento de divisão e controle das classes dominantes. ( FERREIRA, 1987, p. 41). O Estado capitalista, enquanto agente incontestável no processo de produção e reprodução das cidades, detém em sua esfera de ação uma série de mecanismos que justificam tal denominação e via-de-regra, contempla nas referidas ações, grupos econômicos dos quais é legitimo representante: a) b) c) d) e) direito de desapropriação e precedência na compra de terras; regulamentação do uso do solo; controle e limitação dos preços das terras; limitação da superfície da terra de que cada um pode se apropriar; impostos fundiários e imobiliários que podem variar segundo a dimensão do imóvel, uso da terra e localização; f) taxação de terrenos livres, levando a uma utilização mais completa do espaço urbano; g) mobilização de reservas fundiárias públicas, afetando o preço da terra e orientando especialmente a ocupação do espaço; h) investimento público na produção do espaço, através de obras de drenagem, desmontes, aterros e implantação de infra-estrutura; i) organização de mecanismos de crédito à habitação; j) Pesquisas, operação – tese sobre materiais e procedimentos de construção, bem como o controle de produção e do mercado deste material. ( SANSON, 1980 apud CORRÊA, 1995, p. 25 ). 67 Embora o Estado aja nas várias esferas de governo ( federal, municipal e estadual) sua ação efetiva como agente permissivo ou cerceador das várias formas de ocupação do espaço urbano, se torna latente no âmbito municipal. Ali, em função principalmente da legislação, suas ações são facilmente identificadas: É preciso considerar que a ação do Estado processa-se em três níveis político-administrativos e espaciais: federal, estadual e municipal. A cada um desse níveis a sua atuação muda, assim como o discurso que encobre os interesse dominantes. É no nível municipal, no entanto, que estes interesses se tornam mais evidentes e o discurso menos eficaz. Afinal a legislação garante à municipalidade muitos poderes sobre o espaço urbano. Poderes que advêm , ao que parece, de uma longa tradição reforçada pelo fato de que, numa economia cada vez mais monopolista, os setores fundiário e imobiliário, menos concentrados, constituem-se em fértil campo de atuação para as elites locais. ( CORRÊA, 1995, p. 26 ). Um exemplo bem claro da ação do poder público no que tange a morfologia da cidade é o estabelecimento de encargos e tributos que incidirão sobre as terras e imóveis de um determinado município. Esses impostos são, por si só, altamente segregadores e culminam numa evidente divisão social do espaço. Tendo em vista estes propósitos, o Estado capitalista cria mecanismos que levam à segregação residencial e a sua ratificação. Assim, os diferenciais de impostos territorial e predial , são um forte fator discriminante, afetando o preço da terra e dos imóveis e, como conseqüência, incidindo na segregação social: os grupos de renda mais elevada residem em imóveis mais caros e localizados em bairros onde o preço da terra é mais elevado. Através da alocação espacialmente diferenciada dos equipamentos de consumo coletivo, o Estado também interfere na segregação residencial. ( CORREA, 1995, p. 26 ) No que se refere aos investimentos e dotação de infra-estrutura no “locus” urbano, o que tem se presenciado até há pouco tempo é um significativo investimento nas áreas centrais em detrimento das áreas periféricas. Porém, há que se observar que alguns bairros, via-deregra, os que têm como alvos consumidores de alto poder aquisitivo, têm recebido um 68 excelente aporte de infra-estrutura por parte do poder público. Cabe aqui salientar que o Parque Campolim, alvo de nossos estudos, têm em seu interior, equipamentos urbanos visivelmente dotados de qualidade e quantidade para atender o público já destacado neste parágrafo e capaz de atrair uma quantidade significativa de investimentos por parte da construção civil, em especial, aqueles voltados às construções verticais. No processo de criação e recriação do espaço urbano estão as condições gerais de reprodução do capital e da força de trabalho promovidas, muitas vezes, com o fomento do Estado. Com a astuta exploração do trabalho, a provisão de tais condições é realizada para facilitar a circulação e reprodução deste capital . O papel do Estado é significativo na determinação das demandas do uso do solo urbano e, conseqüentemente, no seu preço, pois é responsável pelo fornecimento da maioria dos serviços urbanos. Quando o poder público fornece serviços públicos em determinada zona, como água, escola pública ou linha de ônibus, desvia demandas de empresas e moradores para esta zona. Com o aumento da demanda vem a valorização do solo nesta área, em relação às demais. (COSTA, 2002, p. 20 ). Por fim, o Estado em função dos atributos e poderes que lhe são concedidos pela legislação, acaba tendo papel fundamental no contexto da dinâmica urbana, pois, sua ação acabará determinando em maior ou menor escala, o preço do solo urbano e a partir daí, o assentamento das diferentes classes sociais no espaço urbanizado. Se esse Estado é ( e sempre foi ) representante das classes dominantes, não é de se estranhar que o mesmo planeje suas ações na direção dos anseio dos mesmos. Nossas considerações e fundamentações teóricas feitas aqui têm como objeto momentâneo conceituar e explicitar a importância do Estado capitalista no contexto da construção e reconstrução do espaço urbano. Em outros momentos deste trabalho, estaremos recorrendo às fundamentações teóricas para dar embasamento à nossa pesquisa, uma vez que o Estado é uma importante categoria de análise, a ponto de ter sido elencado como 69 sustentadora desse nosso trabalho. Assim também o faremos com as considerações sobre a nossa outra categoria de análise, a saber: o Capital. Deste modo, fica bastante evidente que a cidade capitalista no que tange às suas formas e funções, acaba sendo moldada pelas relações sociais e o ônus oriundo desses conflitos acaba sendo impresso ao longo do tempo e no espaço construído pelas sociedades. [... ] O tempo (processo) é uma propriedade fundamental na relação entre forma, função e estrutura, pois é ele que indica o movimento do passado ao presente. Cada forma sobre a paisagem é criada como resposta a certas necessidades ou funções do presente. O tempo vai passando, mas a forma continua a existir. Conseqüentemente, o passado técnico da forma é uma realidade a ser levada em consideração quando se tenta analisar o espaço. A flexibilidade na construção de novas formas, quando a sociedade está passando por mudanças estruturais, decresce com o tempo, em decorrência da imobilidade inerente que por vezes caracteriza a forma preexistente... Face à durabilidade das formas, a construção da paisagem converte-se em um legado aos tempos futuros.( SANTOS, 1985, p.71) 3.3.2 – O Capital Não há produção possível sem um instrumento de produção; seja esse instrumento apenas a mão. Não há produção possível sem trabalho passado, acumulado; seja esse trabalho a habilidade que o exercício repetido desenvolveu e fixou na mão do selvagem.Entre outras coisas, o capital é também, instrumento de produção, é também trabalho passado e objetivado. Logo o capital é uma relação natural, universal e eterna. ( MARX, 1974 ) O capital é um elemento extremamente importante quando nos propomos a estudar as nuanças que permeiam todas as etapas de ( re)produção do espaço urbano, onde o mesmo aparece muitas vezes de maneira bastante sutil e compartimentada , principalmente quando enfocamos um alvo muito almejado por este capital, por permitir rapidamente a sua potencialização: no caso as construções verticais. Sobre isso Souza ( 1994, p. 147 ) nos lembra que “Assim, parece-nos que a verticalização, além da produção do edifício realizar plenamente a reprodução, através da combinação das diversas formas do capital, valoriza ou 70 sobrevaloriza o espaço urbano onde se instala”. E ainda lembra que “O capital imobiliário é um falso capital . Ele é, sem dúvida, um valor que se valoriza, mas a origem de sua valorização não é a atividade produtiva, mas a monopolização do acesso a uma condição indispensável àquela atividade” Souza (1994, p.156 ). Os problemas voltados ao solo urbano, não podem ser colocados, partindo-se do pressuposto segundo o qual existe um conflito entre interesses capitalistas e fundiários. O que tem se percebido na prática, é o surgimento e expansão do sistema de incorporação e com isso, a tendência é que haja uma articulação entre os processos de valorização fundiária e imobiliária, intensificados com o estabelecimento das relações orgânicas entre a incorporação e o grande capital. Com relação ainda aos investimentos e expectativas do capital imobiliário na produção de construções no âmbito do espaço urbano, cabe considerar que o mesmo, de maneira estratégica – e não poderia ser diferente – , invariavelmente leva em consideração a localização do terreno que supostamente receberá os investimentos deste capital. Esse aspecto, a localização, tem se mostrado elemento essencial e determinante no tocante aos investimentos do capital imobiliário. Como endosso dessa nossa afirmação é importante ressaltar: A renda do solo urbano não advém das construções e das benfeitorias que sobre ele incidem, mas de sua localização. Construções e infra-estrutura de mesma natureza, em terrenos com localizações diferentes, apresentam preços diferentes. Esses preços, geralmente se formam pela demanda, pela quantidade de dinheiro que se esteja disposto a pagar no mercado imobiliário pela terra urbana, em função da acessibilidade aos locais relevantes da cidade ( local de trabalho, compras e lazer ) e serviços de infra-estrutura. ( SOUZA, 1994, p. 156 ). 71 3.3.2.1 – O capital na figura do incorporador No que permeia o processo de construções verticais, indubitavelmente o incorporador é o agente mais importante, justamente porque cabe ao mesmo a execução de várias etapas na direção da produção dos edifícios. Os maiores riscos também correm por conta dos mesmos, haja vista que vários investimentos são feitos antes da obra terminada, condição óbvia para retorno de quaisquer investimentos. Souza ( 1994 p.156 ) nos lembra que “O incorporador é o agente que ´correndo riscos muito grandes` desenvolve uma cadeia de ações: compra de terreno, aprovação de planta do edifício na Prefeitura e registro da incorporação no Registro de Imóveis. Embora corra os riscos frisados no parágrafo anterior, parece que como resultado final de seus investimentos, a promoção imobiliária parece ser altamente lucrativa, haja vista que em nossas pesquisas e estudos sobre os mesmos, encontramos vários exemplos desses incorporadores envolvidos há tempos em diversos projetos e obras de construções verticais. O incorporador é quem incorpora, quem na realidade promove o empreendimento, quem cria o espaço vertical. Que significa incorporar? Significa criar o solo – processo que vai desde a compra do terreno até a venda, para o consumidor final, da mercadoria produzida. O incorporador é quem desmembra o terreno em “frações ideais”, portanto, é quem fabrica o solo. ( SOUZA, 1994, p. 191 ). Além da compra do terreno, é o incorporador que faz a contratação do arquiteto/engenheiro para confecção do projeto, quem paga as taxas e impostos junto à Prefeitura – indispensável para posterior liberação do imóvel para a venda. Ainda é de incumbência do incorporador, todas as despesas junto aos Cartórios e o patrocínio de todas as campanhas publicitárias relativas ao seu investimento. Assim sendo, cabe ao incorporador, o fomento dos maiores custos na construção dos edifícios. Porém, cabe salientar que, as maiores 72 fatias dos lucros angariados com a venda desses imóveis, acabam sendo destinadas a esse incorporador. Assim sendo, Mendes ( 1992 ) nos lembra que ao falarmos do incorporador, estamos falando daquela parcela do capital que se valoriza pela imensa gama de serviços prestados. Sobre a ação deste incorporador, o objeto da negociação que era simplesmente, o valor de uso do imóvel, agora passa a ter valor de troca, exaltado no período de venda por propagandas indutivas e altamente convidativas, onde são ressaltadas a exaustão todas as peculiaridades do referido imóvel. Sobre o incorporador: lei nº 4591, de 16 de dezembro de 1964 Considera-se incorporador a pessoa jurídica ou física , comerciante o não , que embora não efetuando a construção, compromissa e efetiva a venda de frações ideais do terreno, objetivando a vinculação de tais frações a unidades autônomas, em edificações a serem construídas ou em construção sob o regime condominial, ou que meramente aceite proposta para efetivação de tais transações, coordenando e levando a termo a incorporação e responsabilizando-se , conforme o caso, pela entrega a curto prazo, preços e determinadas condições das obras concluídas.(COSTA, 2002, p. 22 ) Muitas das ações dos incorporadores podem ter seu sucesso otimizado ou não, em função das ações do poder público. Esse último acaba por dar, na grande maioria das vezes, suporte para realizações bem sucedidas dos referidos incorporadores. Um bom aporte de infra-estrutura urbana pode ser a chave para investimentos imobiliários com retorno financeiro altamente satisfatório no futuro. Sendo o poder público o agente responsável pela infra-estrutura física e de acessibilidade dos bairros, as alternativas espaciais dos incorporadores estarão ligadas à maior ou menor atuação do governo na preparação e manutenção dos equipamentos básicos do solo urbano. ( ALMEIDA, 1982, p. 180 ). 73 Não ao acaso, a maioria dos incorporadores são comumente confundidos com os construtores. No intuito de maximizar seus lucros, muitos desses incorporadores são hoje, também construtores. Porém, a etapa seguinte, a que pressupõe que o imóvel já esteja pronto, acaba ficando, na maioria, à cargo dos corretores de imóveis especializados e vinculados às imobiliárias. Os promotores imobiliários, do alto de sua experiência nos mais variados empreendimentos, costumam planejar e pôr em prática, ações no sentido de otimizar os seus lucros. A saber: Produzir habitações, principalmente para as classes média e alta, detentora de maior renda; Incorporar áreas providas de melhor infra-estrutura ( segurança, acesso, transporte ); Criar edifícios ou loteamentos que proporcionem um valor de uso superior aos antigos lançamentos; Lançar empreendimentos imobiliários cuja arquitetura atraia adquirentes; Promover campanhas publicitárias, a fim de manter-se em evidência no mercado imobiliário e valorizar o bem imóvel; Participar, sugerir e criar projetos que facilitem a atuação na cidade; Promover a infra estrutura básica nos loteamentos, conforme as exigências da legislação municipal; Apoiar-se na ajuda do sistema financeiro para traçar os seus planos de financiamento às classes populares; Definir estratégias de acordo com a situação sócio-econômica do país; Criar novas áreas nobres, no caso de “esgotamento” de áreas valorizadas da cidade. ( COSTA, 2002, p. 24 ). 74 Por fim, Smolka, (1989), nos lembra que, com o reconhecimento jurídico da figura do incorporador, houve um reforço no seu papel enquanto agente responsável por profundas mudanças no espaço urbano, já que a partir de então, houve uma facilitação de ganhos de base fundiária e a visível subordinação da atividade de edificação à incorporação. Ainda segundo o autor, o referido procedimento jurídico consagrou a lei de mercado na regulação e mudança do solo, com impactos expressivos nos preços dos imóveis, redefinindo a matriz de estruturação interna das cidades brasileiras. Nossa experiência no contato direto com esses incorporadores, tem nos mostrado que muitos deles, começaram como construtores e, com a maximização de seus lucros, resolveram abocanhar outras fatias nas várias etapas de construção de um edifício, em especial, àquelas pertinentes à incorporação. Outra realidade com relação a esses incorporadores e que nossas entrevistas também acabaram por confirmar, é o fato de que até mesmo na etapa de comercialização dos imóveis, os incorporadores têm agido diretamente, contratando corretores que trabalham exclusivamente em suas incorporações. Cabe salientar que, mesmo assim, os imóveis são repassados para as imobiliárias ligadas a esses incorporadores. CAPÍTULO 4 O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DO PARQUE CAMPOLIM A difusão do edifício como elemento transformador do espaço, possibilita a multiplicação do solo que aliado ao capital investido, acarreta a valorização da terra. O solo urbano não é colocado apenas como um local inerte ao trabalho humano, ele tem valor como qualquer outra mercadoria, pois as forças produtivas e as relações sociais criam a localização, aspecto inseparável da questão fundiária. Na verdade, o que se compra é a localização e o que pesa realmente no preço é a localização. ( VILLAÇA, 1986) 76 Com o advento do Capitalismo a problemática do bairro singularizou-se, observando-se, a partir daí, a crescente complexidade das relações mercantis capitalistas que se desenvolvem na cidade, transformando-a constantemente. Nesse sistema econômico, a vida de bairro sofre uma crescente e continua diluição, dada a significativa expansão urbana que se tem manifestado desde os primórdios do século XIX. (SILVA, 1999, p. 14) 4.1. Breve histórico sobre a formação do bairro O Parque Campolim está localizado na porção sul da cidade de Sorocaba. Antes da formação do bairro, havia no local uma chácara de propriedade do Sr. Achilles Campolim, o Quiló, adquirida por ele no ano de 1917. Segundo Almeida (2006), advogado que nos concedeu entrevista em nome da Família Campolim e que acompanha a formação do bairro desde o seu início, o patriarca da família utilizava a área para a criação de gado leiteiro e praticava ali o cultivo de gêneros agrícolas para o seu sustento e de sua família. Na década de 1950, com a morte do patriarca, assume os negócios da família, seu filho, João Campolim, que assim o faz até meados da década de 1970. Em meados da década de 1970 , após vários contatos entre membros da família Campolim e proprietários da Construtora e Empreendedora Júlio e Júlio, resolve-se que o local será então dotado de toda infra-estrutura para posterior comercialização de seus terrenos; isso acontece no início de 1976. O loteamento foi liberado por fases, sendo que a primeira ficou pronta só em 1981, ano de início da comercialização dos lotes. O acordo dizia que ao final das obras, o loteamento seria dividido igualmente entre as duas partes interessadas. E assim aconteceu. Ainda nas palavras do nosso entrevistado “nesse primeiro momento, os terrenos menos valorizados eram os da Avenida Central, atual Carlos Cômitre, e quem diria que iriam se transformar no metro quadrado mais valorizado da cidade.” ( Fotos 8 e 9 ). Após a dotação de infra-estrutura, houve então, um fracionamento dos terrenos que cabiam aos membros da família Campolim , relembrando, 50% do total. A maioria dos 77 Foto 8: Avenida Carlos Cômitre. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul – Janeiro/88. Organização: BARRETO, I. J. Figura 9: A avenida Carlos Cômitre com baixíssimo índice de ocupação em seu entorno Fonte: Jornal o Cruzeiro do Sul – janeiro/88 Organização: BARRETO, I. J. 78 herdeiros diretos constituiu em seus nomes, empresas com o intuito de comercializarem os referidos terrenos. Nesse primeiro momento de comercialização, os terrenos eram extremamente baratos, se comparados a outros em regiões próximas. Ainda conforme Almeida, “Faziam-se os mais diferentes negócios, desde venda à vista àquelas em que o comprador só empenhava a sua palavra e pagava com o tempo, como se podia”, conclui o entrevistado. A última fase do loteamento é concluída em 1985, ainda com a venda dos terrenos ocorrendo de maneira tímida. 4.2. A inauguração do binômio Hipermercado Carrefour Esplanada Shopping Center Ao contrário da década anterior, os anos de 1990 começam a fomentar a efetiva ocupação da área. A inauguração, ao sul do bairro, do Hipermercado Carrefour em agosto de 1990 e, anexado ao mesmo, do Esplanada Shopping Center , no ano seguinte, indubitavelmente são, segundo as nossas entrevistas, levantamentos e quantificação da ocupação da área, as grandes molas propulsoras deste “boom” inicial. Até então, a zona sul de Sorocaba tinha como um dos seus limites o Parque Campolim, mas não em sua totalidade. Acontece que a Rodovia Raposo Tavares corta o bairro em sua porção exatamente neste ponto. Na época, não havia nenhuma ponte de ligação entre as duas partes do bairro. Nas vésperas da inauguração do binômio já citado neste parágrafo, é inaugurada a ponte de ligação, obviamente resultado da pressão já exercida pelo grande capital personificado nas grandes empresas que ali se instalavam. ( Foto 10 e 11). Os primeiros edifícios nessa porção do bairro começam a surgir logo depois . 79 Foto 10 – Placa comemorativa de inauguração da ponte sobre a Raposo Tavares. Mais do que uma estrutura de concreto, um símbolo da ligação entre as duas partes do Campolim. Autor: BARRETO, I. J. – Novembro/2006 Foto 11 – Em primeiro plano, a ponte sobre a rodovia Raposo Tavares e ao fundo, a intensa verticalização da parte sul do Parque Campolim. Autor: BARRETO, I. J. – Novembro/2006 80 Sobre o que foi descrito no parágrafo anterior cabe frisar que os grandes proprietários industriais e das grandes empresas comerciais são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes consumidores de espaços. Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às atividades de suas empresas – junto ao perto, as vias férreas ou em locais de ampla acessibilidade à população etc. a terra urbana tem assim, em principio, um duplo papel: o de suporte físico e o de expressar diferencialmente requisitos locacionais específicos às atividades. ( CORRÊA, 1995, p.13 ). Segundo Rosa (2006), supervisor de vendas da Mendes Ortega Empreendimentos Imobiliários, a inauguração do referido viaduto vai muito além da ligação entre dois pontos do bairro. Ela acaba sendo um símbolo do poder econômico e também de um novo momento para o bairro, em especial, para sua verticalização, que se desencadeia nas proximidades deste que hoje é o principal centro comercial da cidade. Outro fator que merece destaque é a alternativa de ligação com a cidade de Votorantim proporcionada pela ponte, tendo em vista que o Parque Campolim, limita-se com a referida cidade. Aliás, a cidade de Votorantim vem presenciando um grande aquecimento de seu mercado imobiliário, em especial nessas áreas limítrofes, com destaque para o surgimento, mais recentemente, de vários condomínios horizontais, com o Tivoli, o Sunset e o Alphaville, que em território sorocabano, acabam por fomentar os negócios imobiliários daquela cidade. Cabe ainda dizer que os loteamentos abertos também são uma forte realidade nesta região. 4.3. A importância da Rodovia Raposo Tavares A Rodovia Raposo Tavares sempre foi um importante corredor viário para a cidade de Sorocaba. Pela mesma, pode se chegar à capital em mais ou menos uma hora, já que dista da 81 mesma, por essa rodovia, 95 km. Também permite a ligação com o Sul do país no sentido interior. A sua duplicação, em especial, no trecho entre o Sorocaba e São Paulo, ocorrida nos últimos 5 anos, acabou sendo um elemento a mais para o fomento imobiliário do bairro. Muitos moradores de bairros próximos à rodovia, em especial, do Campolim, fazem o traslado diário em direção à capital, por preferir morar em uma cidade teoricamente mais tranqüila. Embora não possamos precisar com exatidão a origem dos moradores do Parque Campolim, uma vez que há sempre uma forte resistência por parte dos mesmos em passar esse tipo de informação, nossas entrevistas junto às principais imobiliárias da cidade, apontam seguramente para uma significativa presença dos paulistanos no bairro. A Foto 12 mostra com clareza o trecho da Rodovia Raposo Tavares que “corta” o bairro. Foto 12 – Rodovia Raposo Tavares no ponto em que a mesma “corta” o Campolim. Do lado inferior esquerdo da foto o ponto mais verticalizado do bairro – a parte sul. Autor: VIEIRA, R. – Junho/06. 82 4.4. A VERTICALIZAÇÃO DO BAIRRO 4.4.1. Estado: a importância da Legislação Urbana para a para o expressivo adensamento vertical na porção Sul do bairro Como já frisado neste trabalho, no mês de junho de 2004, foi aprovado o novo Plano Diretor da Cidade de Sorocaba. No caso específico do Parque Campolim, no que tange às construções verticais, houve poucas mudanças, sendo que além das nomenclaturas, cabe ressalvar, o potencial de aproveitamento, ou seja, a relação direta entre o tamanho do terreno e número de pavimentos que ali podem eventualmente ser construídos. O extremo sul do bairro, onde já se havia permissão para construções verticais segundo o Plano Diretor anterior, estava na área denominada de ZR4, ou Zona Residencial 4; hoje ZR2. O restante do bairro, anteriormente denominado de ZR1 3º Setor, agora está incluso numa área denominada de ZR1, onde a verticalização continua vetada, com exceção da avenida Carlos Cômitre. O coeficiente de aproveitamento para verticalização na Carlos Cômitre é de 2,5; na porção sul do bairro, 2,0. Em função disso, apesar da já destacada e inquestionável importância do Hipermercado Carrefour e Esplanada Shopping Center, para a verticalização da parte sul do Parque Campolim, é importante que se destaque que, sem a permissividade que havia e que há na legislação urbana - obviamente por ação direta do Estado capitalista - para essa verticalização, ela não ocorreria; como não ocorreu no restante do bairro, onde, dos 82 edifícios construídos ou em fase de construção, com mais de 4 pavimentos, somente 7 estão localizados fora desta área ( Gráfico 6 ). 83 Disposição atual dos edifícios com 4 ou mais pavimentos ao longo do Parque Campolim 9% Porção sul Restante do bairro 91% Gráfico 6 Fonte: Dados colhidos em Pesquisa de Campo – Outubro 2006 Organização: BARRETO, I.J. 84 Assim sendo, a normatização para a efetiva ocupação de uma área, promovida pela ação do Estado através principalmente da legislação urbana, acaba sendo, indiscutivelmente, um elemento fomentador das expectativas dos agentes imobiliários no sentido de maximizar seus lucros. Neste sentido a importância do Estado como agente modelador do espaço urbano é evidenciada pelas diferentes formas através das quais se dá sua atuação: promovendo o desenvolvimento de diferentes formas e usos mediante a taxação diferenciada dos imóveis urbanos e, conseqüentemente, estimulando ( ou não ) a especulação imobiliária; pelo fornecimento de crédito que vai possibilitar o acesso à moradia das demandas não-solventes, movendo reservas fundiárias públicas e colocando, dessa forma, no mercado, áreas até então estocadas; elaborando a legislação urbanística (ou planos diretores específicos para determinadas áreas) que vai orientar o processo de expansão urbana; e por intervenções diretas, com a produção do chão que ocorre através de drenagens, aterros e desmonte de morros, permitindo a apropriação de terrenos não-utilizados. (LEITÃO, 1999, p. 45). 4.4.2. A estrutura do Parque Campolim O Parque Campolim está localizado na zona sul da cidade. O bairro ocupa uma área de 936.237.09 m2 ( Figura 8 ). Possui em seu interior uma série de equipamentos urbanos que o torna praticamente auto-suficiente em relação à área central. São agências bancárias, clínicas, padarias, fast-foods, bares, restaurantes, hipermercados, escolas, pista de caminhada, aqui tomados por exemplo. Nos finais de semana é o “ point” da cidade, em especial, da população jovem que ali vai à procura diversão e lazer. Hoje, o bairro possui em seu interior grandes redes de escolas, como o Colégio Anglo, o Colégio Objetivo, o Universitário, além do Colégio e Faculdade Uirapuru. Os dois maiores hipermercados da cidade também estão no Campolim: a rede francesa Carrefour e o norte- americano Wal Mart. Este último, inaugurado em 2005. Em nossas 85 Figura 8- Planta do Parque Campolim. Fonte: Prefeitura Municipal de Sorocaba. Organização: BARRETO, I. J. 86 entrevistas, ouvimos dos agentes entrevistados que, seguramente, deve se instalar ali, também, nos próximos dois anos, uma filial do Hipermercado Pão de Açúcar. As agências bancárias se multiplicam num ritmo bem acelerado. Hoje o bairro possui agências da Caixa Econômica Federal, do Banespa, do Bradesco, do Itaú e do Bank of Boston. Fotos 13, 14, 15 e 16. Entre a rede hoteleira, destaca-se o IBIS Hotel e o Transamérica Flat. Uma tendência recente, segundo Vieira(2006), do Departamento de Vendas da Casabranca Negócios Imobiliários, é a de instalação no bairro de escritórios de grandes empresas já fixadas na cidade e em fase de instalação. Muitas dessas, empresas multinacionais. Foto 13 – As agências bancarias são forte presença na Avenida Carlos Cômitre. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06. 87 Foto 14- Hipermercado Wal Mart – Multinacional norte-americana inaugurada no início de 2006, aproveitando-se do grande desenvolvimento do bairro. Autor: BARRETO, I. J. – Novembro/06. Foto 15 – Os edifícios comerciais de alto padrão começam a surgir com intensidade no interior do bairro. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06. 88 Foto 16 – A pista de caminhada do Parque Campolim é uma boa amostra das opções de lazer do bairro. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06 Construções surgem a todo o momento no bairro, em especial na avenida Carlos Cômitre, principal corredor comercial do bairro; e na sua porção sul, com uma quase totalidade de construções verticais. Ainda nas palavras de Vieira, a avenida Carlos Cômitre, em alguns de seus pontos, já é o metro quadrado mais caro da cidade, superando pontos muito valorizados da área central. Em negócio recente da imobiliária, as transações de venda de um terreno no centro comercial do bairro, sugeria a cifra de R$ 3000,00 o metro quadrado. A distância até o centro da cidade, 1,5 km, é um outro atrativo do bairro. Tem -se toda infra-estrutura no local, mas, na necessidade de se ir à zona central, gasta-se pouco mais de 5 minutos de carro. Sobre a valorização de áreas próximas ao centro é oportuno que se diga que 89 a produção imobiliária pode combinar diferentes estratégias de valorização. A mais racional se traduz na intensificação do aproveitamento do solo urbano em áreas de preços finais de mercado elevado. A extensiva recorre ao deslocamento para áreas menos centrais da cidade, onde o preço do terreno é menos elevado. Ambas tendem a elevar o preço do mercado imobiliário por meio de uma valorização cíclica. “ Os terrenos mais próximos à área central, mergulhados no mercado imobiliário, cada vez mais um mercado de edifícios, passam a pressupor também uma nova valorização, que acaba resultando da elevação dos preços no mercado de terras”.( SOMEKH, 1997, p. 114). 4.4.3. Capital: ações e estratégias dos promotores imobiliários O Parque Campolim é hoje, um intenso campo de obras; de obras verticais. Depois do arranque inicial promovido pela chegada do Hipermercado Carrefour e do Esplanada Shopping Center, os agentes imobiliários, em especial, as incorporadoras, começaram a olhar a região com outros olhos e, a partir de então, promovido maciços investimentos na área. No caso específico do extremo sul do Parque Campolim havia no início da década de 1990, pelo menos três elementos absolutamente convidativos no que tange à esses investimentos, a saber: o atrativo promovido pelo recém-chegado Centro Comercial já descrito no início deste parágrafo, a permissão Lei de Zoneamento Urbano para a presença de construções verticais e, por fim, uma área inteira disponível e pronta para receber tais construções. Na primeira metade da década de 1990, a parte ao norte do bairro já apresenta uma boa ocupação, com predominância absoluta das construções horizontais, únicas permitidas nesta parte, com exceção do seu corredor central, a avenida Carlos Cômitre, que, até então, apresentava apenas um edifício em construção, como mostra a foto 17, datada de 1996. 90 Foto 17 – Inicio da verticalização do bairro em meados da década de 1990. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul – março/96. A partir da segunda metade de da década de 1990, mais precisamente, 1996, começam a aparecer as primeiras construções verticais, entre elas, os edifícios Sorocaba Empresarial e o Residencial Campolim. Segundo Rosa ( 2006 ), a partir de então, o bairro começa a presenciar o seu primeiro momento de verticalização, caracterizado por construções de no máximo 4 pavimentos e padrão médio de construção. Essa realidade, segundo o mesmo, se perdura até a virada do século onde, uma nova realidade vertical começa a aparecer na área. A de construções de alto padrão e com número significativo de pavimentos. Dois elementos parecem ter sido essenciais para que isso acontecesse. O primeiro desses elementos foi a surpresa dos empreendedores que viram um esgotamento dos terrenos e então, tiveram que maximizar o uso do solo, e isso 91 só acontece com o aumento do número de pavimentos. O segundo, o perfil dos consumidores que, de poder aquisitivo maior, começa a exigir um produto final melhor. Embora se possa atestar a realidade descrita no parágrafo anterior no cenário do Parque Campolim, é importante que se ressalte que, em função da verticalização ocorrida no primeiro momento, já descrito anteriormente, há ainda uma predominância dos edifícios de 4 pavimentos, embora a grande maioria dos agentes imobiliários entrevistados, digam que a forma recente de ocupação das construções verticais – de número maior de pavimentos – deva prevalecer futuramente na paisagem do bairro, com destaque para a avenida Carlos Cômitre. O gráfico 7 nos mostra o comportamento das construções verticais no bairro, com número de pedidos, ano a ano . O destaque para este gráfico é o grande número de pedidos no ano de 2000. A justificativa mais plausível para esse significativo número de pedidos, na nossa opinião e na opinião de diversos agentes imobiliários, é o fato de que o referido ano antecedia o ano de Aprovação do Estatuto das cidades. De posse dessa informação e sabendo que o Estatuto podia mudar as regras de ocupação no interior das cidades, os agentes imobiliários trataram de agilizar suas intenções, protocolando a parte formal de suas construções junto ao Corpo de Bombeiros e Prefeitura Municipal. Embora o ano de 2000 tenha sido o ano com maior número de pedidos, houve nesse ano, uma maioria de pedidos para construções de 4 pavimentos . As construções de baixo número de pavimentos, têm menos custo de produção, pela limitação no seu tamanho e também por serem dispensadas do elevador. Parece que a partir deste ano, é que a preocupação de se maximizar a utilização dos terrenos, começa efetivamente a existir. Embora o nosso recorte temporal, se limite ao ano de 2004, pudemos constatar que, embora tenha havido uma queda nos pedidos no ano de 2001, depois de 2004, esses números só têm aumentado. 92 Número de pedidos de Aprovação Técnica Junto ao Corpo de Bombeiros - Parque Campolim Período de 1996 a 2004 16 14 12 10 8 Número de pedidos 6 4 2 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Gráfico 7 Fonte: 15º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Sorocaba – Novembro/2006. Organização: BARRETO, I. J. 2002 2003 2004 93 Um outro fator relevante sobre o número de pedidos expresso neste gráfico, é que quando somamos o número total de pavimentos solicitados através dos Pedidos junto ao Corpo de Bombeiros, esse não é o ano cuja soma é maior. Observe no gráfico 8 essa constatação. Embora o ano de 2004 tenha tido menor número de pedidos que o ano de 2000, o fato é que individualmente os edifícios deste ano possuíam número significativo de pavimentos, confirmando uma nova tendência no bairro: o dos edifícios altos com ótimo padrão de construção. A citação abaixo nos parece oportuna nesse momento em que falamos das estratégias dos promotores imobiliários na especulação do solo urbano, em especial, porque descreve nas entrelinhas, a realidade do Parque Campolim e daqueles que ali canalizam seus investimentos, com destaque aos, incorporadores imobiliários. A renda do solo urbano não advém das construções e das benfeitorias que sobre ela incidem mas, de sua localização. Construções e infra-estrutura da mesma natureza, em terrenos com localizações diferentes, apresentam preços diferentes. Esses preços geralmente se formam pela demanda, pela quantidade de dinheiro que se esteja disposto a pagar no mercado imobiliário pela terra urbana, em função da acessibilidade aos locais relevantes da cidade ( local de trabalho, compras, lazer ) e serviços de infra-estrutura. (SOUZA, 1993, p. 157 ) 94 Soma total dos pavimentos com Pedido de Aprovação Técnica Junto ao Corpo de Bombeiros Parque Campolim - Período de 1996 a 2004 90 80 70 60 50 Soma total dos pavimentos 40 30 20 10 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Gráfico 8 Fonte: 15º Grupamento de Corpo de Bombeiros de Sorocaba. Novembro/2006. Organização: BARRETO, I. J. 2003 2004 95 Quando analisamos os pedidos, ainda ano a ano, por faixa de pavimentos, no gráfico 9, percebemos a partir de 1999, uma forte evolução dos edifícios que sem configuram na faixa que vai entre 5 e 10 pavimentos. Isso nos indica então, que a evolução da extensão vertical de tais construções, vem tido crescimento rápido mais com passagens pelas categorias que podemos denominar de baixo número de pavimentos, num primeiro momento ( até 4 ), médio número de pavimentos ( de 5 a 10 ) e número grande de pavimentos ( acima de 10 ). O crescimento do número de edifícios com número de pavimentos maiores e conseqüentemente, com grau de ocupação também maior, nos faz pensar que tal adensamento populacional, previsível para a área, deve trazer alguns inconvenientes: problemas socioambientais como falta de insolação nos apartamentos, perda de privacidade com a proximidade entre os prédios e até mesmo problemas de ordem infra-estruturais, como os ligados ao saneamento básico, coleta de lixo. Esses serviços atualmente são muito bons no bairro, mas, tendem com o referido adensamento, mostrar perda na qualidade, como já presenciamos em outros locais. Em muitos pontos os apartamentos apresentam sérios problemas de iluminação, ventilação e insolação. Ainda gera problemas de ordem ambiental para a cidade , como a má circulação e a formação de ilhas de calor no centro da cidade. (MENDES, 1993, p. 8). Cabe ainda comentar que o grande capital se aproveita no momento de aquecimento imobiliário de uma determinada área, do seu aporte infra-estrutural - tão vital para as construções verticais -, boa parte público, portanto, pagos pelos cidadãos, e usufruído em intensidade por este capital imobiliário. Com o esgotamento e a necessidade de maiores aportes infra-estruturais público, todos pagam a conta. No caso do Parque Campolim, uma estratégia recente utilizada pelos incorporadores e que sabemos, também é freqüente em outros lugares, é a busca de outras áreas nobres e com 96 P edidos de Aprovação Técnica Junto ao Corpo de Bombeiros, ano a ano, por número de pavimentos dos Edifícios do Parque Campolim - Período de 1996 a 2004 12 10 Número de pedidos 8 6 4 pavimentos 4 De 5 a 10 pavimentos Acima de 10 pavimentos 2 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Gráfico 9 Fonte: 15º Grupamento de Corpo de Bombeiros de Sorocaba – Novembro de 2006. Organização: BARRETO, I. J. 2003 2004 97 bom aporte de infra-estrutura em bairros circunvizinhos, onde pagam menos pelo terreno e, astutamente, muitas vezes, incorporam à estas áreas, o nome Campolim. 4.4.3.1. A força da propaganda e do marketing na promoção das vendas dos apartamentos Com a ebulição imobiliária que vem sofrendo há algum tempo, O Parque Campolim acaba sendo um bom exemplo de como o marketing e a propaganda são extremamente favoráveis aos que se lançam em construções verticais na área. São diversos tipos de edifícios e apartamentos, dispostos a servir todos os gostos. As propagandas estão presentes em outdoors, banners, revistas, jornais, folderes e até mesmo em montagens, em tamanho diminuto, é claro, de edifícios que estão por ser lançados no bairro. Há de se dar a mão à palmatória: o material utilizado nas referidas propagandas é de primeiríssima qualidade e com alto grau de elaboração, muitos deles com dobraduras , formas e réplicas das construções originais. A idéia principal que se tenta passar na grande maioria das propagandas espalhadas pela cidade, é a de que, ao se mudar para o Campolim, o sonho de morar em um local belo, próximo do centro e com uma série de serviços à disposição, é plenamente possível. Sobre as estratégicas do marketing imobiliário a citação abaixo nos parece bastante oportuna: Smolka afirma que uma dessas formas de alterar o comportamento do mercado de imóveis, modificando o preço médio estipulado e permitindo, desse modo, que o incorporador imobiliário amplie os seus ganhos, será promover inovações no programa da edificação. Essas inovações, somadas a uma bem articulada estratégia de comercialização, farão com que o comprador aceite pagar mais caro por uma mercadoria que lhe garantirá, por exemplo – um novo modo de viver – uma expressão freqüente nas campanhas publicitárias desse tipo de empreendimento.(LEITÃO, 1999, p. 44). 98 O nome das incorporadoras e imobiliárias envolvidas na construção e comercialização destes edifícios, são destaques em todo tipo de propaganda. Uma forma clara de abalizar estas construções e dar crédito às mesmas, uma vez que uma boa parte desses agentes imobiliários já atuam no mercado há algum tempo. Uma forma bastante natural no fomento das vendas dos edifícios, é o próprio imóvel. Quando de fácil acessibilidade e trânsito intenso de veículos e pessoas, acaba sendo um chamariz, principalmente quando trazem em suas fachadas, características de sua disposição interna, preço e condições de pagamento. Observe na figura 9, matéria recente sobre a valorização do bairro e nas figuras 10, 11, 12, 13 e 14, os múltiplos perfis das propagandas sobre imóveis verticais no bairro: 99 Figura 9 –Manchetes destacando o crescimento do Campolim são constantes na imprensa local – Foto da pista de caminhada com edifícios no seu entorno. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul – 25 de Outubro de 2006 (Capa). 100 Figura 10 Fonte: Imobiliária Reis – Outubro/2006. 101 Figura 11 Fonte: Proest Incorporadora e Construtora. Julho/2005. 102 Figura 12 Fonte: Mendes Ortega Negócios Imobiliários – Outubro/2006. 103 Figura 13: Croqui do edifício Campolim Office. Fonte: Casabranca Negócios Imobiliários – Novembro/2006. 104 Figura 14 Fonte: Reis Imóveis – Outubro/2006. 105 Uma realidade bastante constante e que nos surpreendeu durante as entrevistas e principalmente nas pesquisas de campo, foi a forte presença de funcionários ligados às incorporadoras, no interior dos edifícios em fase de venda, na condição de corretores desses imóveis. Isso nos leva a crer que, essa seja mais uma faceta destes agentes no sentido de abocanhar fatias cada vez maiores no processo de comercialização de seus imóveis. Cabe observar que apesar deste fato, a terceirização das vendas, total ou parcialmente, sempre é feita junto às principais imobiliárias. Muitas empresas atuam no processo de verticalização do Parque Campolim. Algumas, com grande concentração de seus investimentos na área.Uma constatação que pudemos fazer em nossas entrevistas é que uma parcela significativa dessas incorporadoras, financiam suas próprias construções, ou seja, em todas as etapas, da aquisição do terreno ao acabamento, são as mesmas que custeiam o investimento. Na hora da venda, ai sim, o cliente tem a opção de buscar junto ao mercado financeiro, o possível financiamento de seu imóvel. A tabela 3, abaixo, traz a relação das incorporadoras, todas também construtoras, que mais atuam nas construções verticais do Parque Campolim. Tabela 3 – Relação das principais Incorporadoras/Construtoras que atuam no Campolim Nome da Incorporadora Paulo Afonso Sorocaba –SP Cidade sede Proest Sorocaba –SP La Rioja Sorocaba –SP Planeta Sorocaba -SP Cardieri Sorocaba -SP Peroti Teixeira Sorocaba -SP Fonte: Dados colhidos em Pesquisas de Campo e em Entrevistas feitas junto ao mercado imobiliário. Outubro/2006. Organização: BARRETO, I. J. 106 4.4.3.2 O papel da Associação de Moradores na ocupação do Parque Campolim O Parque Campolim possui uma associação de moradores bastante ativa. Em todas as discussões promovidas pelo executivo e legislativo, e que são referentes ao bairro, essa associação marca presença. Ultimamente, com as audiências públicas, para discussão e possíveis alterações no novo Plano Diretor, o seu envolvimento tem sido bastante intenso. A participação popular no planejamento e na gestão das cidades continua alimentando acaloradas discussões. Há os que argumentam que essa participação é desejável e totalmente legítima, por se tratar de um direito (especialmente considerando os limites e as deficiências da democracia representativa) e, mesmo, por razoes de eficiência (argumenta-se que, sobre a base da participação popular, as decisões sobre a alocação de recursos ou sobre intervenções no espaço estarão sendo mais bem informadas, à luz das necessidades reais da população, reduzindo-se, assim, o desperdício; argumenta-se, também, que, uma vez que se sintam participantes de processos decisórios, as pessoas tenderão, também, mais responsáveis perante os bens públicos e os destinos da cidade). (SOUZA, 2003, p. 161). Embora a Associação - não com as características de hoje - já existisse desde de meados da década de 1990, sua ação efetiva começa em 2002, com o intuito principal de contestar as novas formas de ocupação do bairro, que se intensificavam a partir daí. Segundo Cezar ( 2006 ) vice – presidente da Associação, inicialmente o bairro foi concebido - e com todas as características físicas – para ser um condomínio fechado. Segundo o entrevistado, pelo fato de que ao sul , o bairro não possuía saída para outros locais, e se limitava com a rodovia Raposo Tavares, a possibilidade de se fechar a área, era absolutamente possível. Outro dado no qual a Associação se apóia para contestar a verdadeira hibridez de ocupação do Campolim, é o fato de que, as regras para ocupação do bairro foram registradas 107 no início da comercialização de seus lotes, em um Cartório, com anuência do Poder Público, dos incorporadores e dos então compradores de seus lotes. O nosso entrevistado ainda reforça que, neste documento original, as regras são bem claras com relação à ocupação da área. Somente seriam permitidas construções horizontais e unifamiliares. Sobre este prisma, completa Cezar, os edifícios, por exemplo, presentes no cenário do bairro, estão todos na irregularidade. Mas, a sua maioria teve aprovação junto à Prefeitura, não é mesmo? Quando fiz essa pergunta ao vice-presidente da Associação, o mesmo foi categórico: “ O Poder Público deverá ser o primeiro a ser penalizado quando do final das dezenas de causas que movemos na justiça, e que vêm rolando há anos”, completa. Além de terem sérias ressalvas com relação aos edifícios, há também uma forte contestação com relação aos bares e lanchonetes que, como já dito, atraem milhares de jovens ao local , promovendo muito barulho e a concentração dos mesmos, já na madrugada, nas imediações da pista de caminhada do bairro ( foto 16 – já mostrada anteriormente neste capítulo ), onde consomem bebidas alcoólicas e fazem também uso do local para suas relações amorosas. Na segunda-feira, é facilmente constatável, em grande quantidade, a presença do lixo oriundo dessa “festança de final de semana”. Em nossas entrevistas com agentes imobiliários, foi notório o reconhecimento da efetiva ação da AMO ( Associação dos Moradores do Campolim ), inclusive com o efeito de suas ações: muitas decisões do Poder Público não têm ido à efeito no interior do bairro. Mesmo com toda a altivez da referida Associação, parece que a influência do grande capital tem prevalecido, ao menos num primeiro momento. Os processos que rolam na justiça se estendem por anos à fio, e os incorporadores continuam a ocupar intensamente a área, contando é claro, com a legislação vigente. Há tempo, cabe lembrar que quando da entrevista feita com os representantes da família Campolim, o advogado que os representa, cujo nome já foi citado neste trabalho, nos 108 disse que, nenhum juiz em sã consciência, impediria a ordem natural e a vocação do bairro para o comércio e a prestação de serviços. Segundo o mesmo, que acompanha a evolução do bairro desde seu início, na década de 1970, a ocupação deverá ser cada vez mais intensa, com preservação de pequena área, no filão central, esta, com nula possibilidade de abertura por parte da legislação para construções verticais, pois, preserva as características iniciais do bairro – a das construções horizontais unifamiliares. Uma das poucas tentativas de intervenção vertical na área predominantemente residencial, foi interditada justamente pela forte pressão dos moradores. É o prédio da NET, empresa que trabalha com o ramo de canais televisivos à cabo. A obra está até hoje embargada pela justiça. ( Foto 18 ). A ação da Associação dos Moradores, apesar da forte pressão do Poder Público e do capital imobiliário deve continuar intensa, até porque, contam com a simpatia da sociedade civil e de outras associações, sendo que, algumas dessas últimas, se aproveitam dos precedentes abertos por ações e manifestos da referida Associação, sem dúvida nenhuma, a mais ativa da cidade de Sorocaba. 109 Foto 18 – Prédio da NET – Interditado pela justiça por estar em local onde não há permissividade para verticalização. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/2006. 4.4.3.3. O futuro da verticalização no Parque Campolim Embora não seja de longe a intenção deste trabalho esgotar os temas relativos a todas as nuanças que permeiam o dinâmico processo de construção e reconstrução do espaço urbano, em especial, ao processo de verticalização, algumas elementos nos dão indícios que, 110 nos permitem fazer algumas considerações sobre o futuro do nosso alvo de nosso estudo – o Parque Campolim. Partindo dos pressupostos teóricos de que Estado e Capital estão intimamente ligados, afirmação com a qual comungamos totalmente, e que entre ambos a relação é mais intensa do que se imagina, não é difícil conceber a idéia de que as pretensões do capital imobiliário deverão se potencializar cada vez mais no Parque Campolim. Embora a área do bairro seja relativamente pequena ( pra lembrar, pouco mais de 900 mil metros quadrados ) existem ainda espaços a serem ocupados, com a ressalva do alto preço dessa parcela da terra do espaço urbano de Sorocaba. As construções deverão privilegiar então os edifícios de grande número de pavimentos, e devem aumentar os destinados aos fins comerciais, que hoje somam pouco mais de 10% do total ( 11 no total ) e com concentração maciça na avenida Carlos Cômitre, como já dito anteriormente, principal corredor comercial do bairro. Ambiciosamente falando, muitos se arriscam – a imprensa em especial – a chamar a avenida Carlos Cômitre de Avenida Paulista Sorocabana. Exagero à parte, os nossos entrevistados são unânimes em dizer que, o coração financeiro da cidade deve definitivamente se estruturar ao longo desta avenida, que ainda, na previsão dos mesmos, deve sofrer intensa verticalização de uma ponta a outra de seus 1,7 quilômetros de extensão. São 1.700 metros de riqueza e formosura. Quase todas as qualidades sorocabanas (e também alguns defeitos, como os terrenos baldios) estão presentes nas laterais da avenida Antonio Carlos Cômitre, no Parque Campolim. Em pouco mais de uma década, aquele que era literalmente um caminho da roça emergiu como elegante corredor comercial, onde logistas e profissionais bem-sucedidos oferecem seus produtos e serviços para consumidores privilegiados. Com seu visual clean,prédios bonitos e canteiros caprichados, a avenida é o espelho em que os sorocabanos gostam de se ver refletidos, e também o cenário ideal para os mais variados sonhos de consumo, do pãozinho de queijo ao carrão importado.(REVISTA EXCLUSIVA-UP, p. 13, 2002). 111 Na porção sul, onde estão quase 90% das construções verticais da área, deverão consolidar-se, edifícios de maior número de pavimentos, estes, com destino maciço para os apartamentos residenciais. Veja nas páginas seguintes, aspectos da verticalização do bairro, registrados nas fotos 19, 20, 21, 22, 23 e 24. 112 Foto 19 – Verticalização em áreas limítrofes ao estacionamento do hipermercado Carrefour: grande número de pavimentos. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06. Foto 20 – Edifícios na parte sul do bairro com os mais variados números de pavimentos. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06. 113 Foto 21 – Em primeiro plano, a ponte sobre a Rodovia Raposo Tavares; ao fundo a verticalização da porção sul do bairro. Autor: BARRETO, I.J. – Agosto/ 2006. Foto 22 – A parte sul do bairro com edifícios de diferentes número de pavimentos. Autor: BARRETO, I.J – Agosto/2006. 114 Foto 23 – Edifício Manhatan – Arquitetura Moderna e de alto luxo. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06. 115 Foto 24 – Edifício Crystal Plaza – muitos o consideram o edifício mais belo da cidade. Autor: BARRETO, I. J. Novembro/06 116 Abaixo, apresentamos a tabela 4, com relação dos edifícios do Parque Campolim e seus respectivos anos de Aprovação Técnica Junto ao Corpo de Bombeiros da cidade de Sorocaba. Tais informações foram essenciais para a confecção dos diversos gráficos que utilizamos ao longo deste capítulo. Tabela 4 – Relação dos Edifícios do Parque Campolim com respectivos anos de Aprovação Técnica junto ao Corpo de Bombeiros NOME ENDEREÇO PAVIM. ANO DA APROVAÇÃO TÉCNICA Edifício Patrícia André Rodrigues 14 2002 Benavides, 101 Edifío Mariana André Rodrigues 11 1996 Benavides, 60 Edifício Pâmela André Rodrigues 04 2003 Benavides, 70 Edifício Chateau André Rodrigues 07 2004 Chambord Benavides, 100 Edifício Atacama André Rodrigues 04 2004 Benavides, 115 Edifício Coliseu André Rodrigues 05 2006 Benavides, 151 Edifício Mistral André Rodrigues 11 2004 Benavides, 136 Edifício Yukatan André Rodrigues 05 2004 Benavides, 156 Edifício Cézane André Rodrigues 14 Em construção Benavides, 169 Edifício Suécia André Rodrigues 04 1998 Benavides, 170 Edifício Residencial André Rodrigues 04 2003 Casablanca Benavides, 198 Edifício Aurora André Rodrigues 04 2000 Benavides, 189 Edifício Iracema André Rodrigues 04 2000 Benavides, 212 Edifício Marjorie André Rodrigues 04 1999 Benavides, 226 Edifício Monet André Rodrigues 04 2001 Benavides, 227 Residencial Esplanada João Dias de Souza, 79 12 Em construção Edifício Mirante do João Dias de Souza, 137 04 1998 Campolim 117 Condomínio Serra da Estrela Edifício Colinas do Campolim Edifício Emílio Corrêa Edifício Anabela Residencial Campolim Edifício Adriana Higway Loft Edifício Altos Campolim Residencial Blue Edifício Leon D’oro João Dias de Souza, 180 09 2000 João Dias de Souza, 192 04 2000 João Dias de Souza, 207 João Dias de Souza, 225 João Dias de Souza, 245 João Dias de Souza, 312 Octaviano Gozzano, 285 Octaviano Gozzano, 263 Octaviano Gozzano, 103 Carlos Eugênio Salerno, 48 Edifício Campolim Plaza Carlos Eugênio Salerno, 208 Edifício São Fernando Carlos Eugênio Salerno, 231 Edifício Iracema Carlos Eugênio Salerno, 260 Residencial Casagrande Carlos Eugênio Salerno, 284 Edifício Turmalinas Carlos Eugênio Salerno, 300 Edifício Solar São Judas Carlos Eugênio Salerno, Tadeu 342 Edifício Palazzo Del Fiori Carlos Eugênio Salerno, 365 Edifício Nobre Campolim Carlos Eugênio Salerno, 369 Residencial Ouro Velho Carlos Eugênio Salerno, 337 Highlander’s Loft Carlos Eugênio Salerno, 495 Edifício Mediterranée Carlos Eugênio Salerno, 515 Edifício Target Carlos Eugênio Salerno, 520 Edifício Búzios Carlos Eugênio Salerno, 535 Edifício Colibri Carlos Eugênio Salerno, 528 Edifício Campolim I Carlos Eugênio Salerno, 542 Edifício Campolim III Carlos Eugênio Salerno, 561 Edifício Campolim Carlos Eugênio Salerno, 665 Residencial Caminho Real Carlos Eugênio Salerno, 545 14 07 08 04 06 04 04 10 2005 Em construção 1998 2000 2003 2000 2001 Em construção 04 2000 04 2003 05 2000 04 2000 04 2004 07 2000 07 2005 04 2000 04 2002 06 2001 09 2003 04 1998 04 Em construção 04 1998 04 1996 05 1996 05 1996 07 2003 118 Edifício Bela Vista EdifícioTerazzo Campolim Edifício Renascença Edifício Príncipe de Mônaco Edifício Viena Edifício Daniele Edifício Siena Edifício Tammy Edifício Iris Edifício Exclusividade Edifício Alfa Edifício Florença Edifício Cláudia Vieira Edifício Ushuaia Edifício Trial Edifício Lunes Edifício Atenas Edifício Ravena Edifício Munique Residencial M.Portela Solar Campolim Sola Campolim II Sem nome Residencial Altos do Campolim Edifício Príncipe de Liverpool Edifício Esplanada Miró Horácio Cenci, 245 Horácio Cenci, 343 Horácio Cenci, 368 Horácio Cenci, 345 04 04 04 04 1999 2002 2002 2000 Horácio Cenci, 396 04 2000 Horácio Cenci, 410 05 2002 Horácio Cenci, 424 05 2003 Horácio Cenci, 438 05 2004 Horácio Cenci, 428 05 2002 Horácio Cenci, 455 07 Em construção Horácio Cenci, 468 05 Em constução Horácio Cenci, 540 05 2002 Antonio Adade, 55 09 2001 Antonio Adade, 67 04 2002 Antonio Adade, 164 04 Em construção Almirante Giachetta, 29 09 2001 Almirante Giachetta, 41 09 2004 Almirante Giachetta, 95 08 2005 Almirante Giachetta, 126 05 2004 Almirante Giachetta, 185 04 2006 Francisco Rodrigues, 30 06 2006 Francisco Rodrigues, 30 06 Em construção Francisco Rodrigues, 64 09 Em construção Horácio Mesquita de 13 Em construção Camargo, 100 Horácio Mesquita de 17 2004 Camargo, 120 Horácio Mesquita de 14 2004 Camargo, 230 Edifício Íbis Hotel Maria Aparecida Pessuti 08 1999 Milego, 290 Edifício Paulista Av. Prof. Izoraida 14 Em construção Marques Peres, 540 Edifício Transamérica Flat Av. Prof. Izoraida 17 2000 Marques Peres, 193 Edifício Stylus Av. Prof. Izoraida 05 1996 Marques Peres, 226 Edifício Campolim Office Av. Carlos Cômitre, 15 Em construção Edifício Dallas Av. Carlos Cômitre, 510 15 1998 Edifício Crystal Plaza Av. Carlos Cômitre, 525 15 2005 Edifício Manhattan Av. Carlos Cômitre, 650 12 1998 Edifício Net Av. Carlos Cômitre, 1074 05 (Interditado pela Justiça) Edifício Sorocaba Av. Carlos Cômitre, 1350 10 1996 Empresarial Edifício Esplanada Av. Carlos Cômitre, 1651 10 2005 Fonte: 15º Grupamento de Corpo de Bombeiros de Sorocaba – Outubro de 2006. Dados colhidos em Pesquisa de Campo – Novembro de 2006. Organização: Barreto, I. J. 119 Por fim, cabe salientar que, quando da aquisição das informações contidas na tabela que acabamos de mostrar, ouvimos dos profissionais do Corpo de Bombeiros incumbidos de expedirem a referida Aprovação Técnica que, no caso do Parque Campolim, o que chama a atenção é a rapidez com a qual as obras são executadas a ponto de, mo momento da expedição do referido documento, as obras já estarem em andamento. Neste caso, os incorporadores, contam com a experiência de seus engenheiros e arquitetos que traçam plantas seguindo rigorosamente as normas exigidas pelo Corpo de Bombeiros. Assim sendo, imprimem um ritmo que chama a atenção nas construções verticais do Parque Campolim. CONSIDERAÇÕES FINAIS 121 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Falar do espaço urbano em todas as suas nuanças, definitivamente não é tarefa fácil. As mudanças ocorrem num ritmo tão acelerado e numa dinâmica tão intensa, que identificar seus agentes, muitas vezes, se torna tarefa difícil de se realizar. O Poder Público e o capital imobiliário, indiscutivelmente, são os grandes agentes das mudanças ocorridas no urbano, uma vez que o primeiro, por força da legislação, pode viabilizar ou cercear as possíveis mudanças que possam acontecer no interior das cidades; o segundo, pela força que possui em todas as relações de troca, no bojo do modo capitalista de produção, promove intensamente a criação e recriação da cidade, única e exclusivamente, com a intenção de maximizar e potencializar seus lucros. Embora na teoria possam parecer forças antagônicas, por força da carga ideológica que os permeiam, Estado e Capital, estão mais próximos em suas ações do que se possa imaginar numa primeira análise. O “namoro” entre essas duas categorias é freqüente e constante no processo de construção e reconstrução da cidade. Os Planos Diretores, o Código de Obras e Postura, aqui tomados, por exemplo, ao seu final, trazem nas entrelinhas, indubitavelmente, aspectos que serão de extrema serventia ao capital imobiliário. Não nos esqueçamos que a conhecida “balança da eqüidade” símbolo do Direito, muitas vezes não se aplica ao Estado, tendo em vista que, quem dirige e administra este último, na grande maioria das vezes, é oriundo das classes sociais mais privilegiadas, e, sem sombra de dúvidas, não promoveria ações no sentido de limitar as ações daqueles que são do seu meio econômico, fazendo aqui uma menção direta ao grande capital - ao capital imobiliário. Cabe ainda ressalvar que é comum, encontrar dirigentes públicos ligados diretamente ao mercado imobiliário, caso por exemplo do ex- prefeito de Sorocaba, Renato Fauvel Amary, proprietário da Renato Amary Empreendimentos Imobiliários. Não dá pra 122 imaginar que o mesmo promoveria alguma ação no sentido de inibir as ações daqueles que fazem parte de um grupo econômico ao qual o então prefeito estava e está ligado diretamente. A cidade de Sorocaba, do alto dos seus quase 600 mil habitantes, vem crescendo num ritmo sem precedentes em sua história. O motivo principal desse crescimento, sem dúvida nenhuma, é a posição geográfica privilegiada, uma vez que cidade está muita próxima da maior metrópole do país ( 87km ), e isso significa todo tipo de apoio logístico, além do potencial de consumo que a Região Metropolitana de São Paulo pode oferecer. Ainda no que tange à logística, cabe salientar que a cidade é servida por duas importantes rodovias – a Raposo Tavares e a Castello Branco. Além disso, a cidade está a menos de 100 quilômetros de um dos maiores aeroportos de carga e descarga do país, o de Viracopos em Campinas e, por fim, a 159 km do Porto de Santos. Acrescente a tudo isso, o excelente aporte de infraestrutura, aspecto que também justifica as 1600 indústrias presentes nos parques industriais da cidade, dentre elas, inúmeras multinacionais norte-americanas e européias. Tal crescimento acaba sendo um atrativo para migrantes de várias regiões do país, em especial vindos dos estados vizinhos de Minas Gerais e do Paraná. Em função disso, a população cresce num ritmo acelerado, com taxas superiores às do próprio Estado: 2,5% ao ano. As informações descritas, em especial, nos dois últimos parágrafos, aplicados diretamente a este estudo, nos levam com facilidade ao seguinte raciocínio: crescimento econômico é igual a pólo de atração para empresas e pessoas e isso culmina inevitavelmente em fomento do mercado imobiliário. Ao longo da evolução da malha urbana de uma cidade cuja área total é de 449km2 e que possui atualmente 98,3% de sua população morando no locus urbano, muitas regiões presenciaram em um momento ou outro, forte crescimento e isso acabou por delinear as ações dos agentes produtores do espaço urbano. Porém, para uma cidade que há quase um século e 123 meio, começou efetivamente a contemplar a presença das primeiras indústrias, um determinante indiscutível e direcionador de espaços urbanizados, sem dúvida nenhuma, foi essa industrialização. Vários bairros surgiram no entorno de indústrias. Num passado mais distante, o Santa Rosália, o além Ponte e o Além Linha, e depois outros bairros resultados de suas ramificações; e, mais recentemente, por estarem no entorno dos parques industriais, os bairros do Éden e da Aparecidinha, aqui tomados por exemplo. O centro da cidade ou de uma cidade que acumula 352 anos de fundação, é o centro tradicional de um espaço ocupado a mais de três séculos: ruas e calçadas estreitas e construções antigas que se misturam ao novo, formando um contraste que, embora seja visível a quem se lança no estudo do espaço urbano, passa muitas vezes despercebido ao olhar dos menos atentos, estes, envolvidos pelo forte movimento de transeuntes e veículos nessa parte central da cidade. A realidade descrita em trechos do parágrafo anterior, indica nos dias atuais, o porquê do pouco interesse em investimentos imobiliários no centro da cidade, principalmente por que ali existe uma conjuntura de fatores que corroboram para isso: as já destacadas ruas e calçadas estreitas, bolsões de construções e áreas tomadas pelo patrimônio histórico, custo do terreno que, em posse, na maioria das vezes, de famílias tradicionais na cidade têm o seu preço inviabilizado para as ambições do mercado imobiliário; e por fim, existência de outros centros de atração imobiliária, como o Parque Campolim, objeto direto dessa Dissertação. O Parque Campolim, ao contrário do Centro da cidade que é repulsor de investimentos atualmente, é pólo de atração dos referidos investimentos. E os atrativos são muitos: pouca distância do centro ( 1,5 km ), excelente aporte de infra-estrutura, já destacado no interior deste trabalho, corredor comercial ( a avenida Carlos Cômitre ) com espaços ainda vazios e 124 cada vez mais valorizados e, vias que dão acesso rápido às principais áreas da cidade e também às cidades vizinha. O crescimento do bairro - impar dentro da cidade - acabou por desencadear um aquecimento do mercado imobiliário de bairros vizinhos, como o Jardim Emília, o Condomínio Isaura e o Elton Ville, que presenciam atualmente, uma forte valorização de suas construções e, de eventuais lotes ociosos nesse entremeio. Uma outra constatação importante com relação ao fomento imobiliário da região, em especial, do Parque Campolim, é o fato de que, as grandes incorporadoras, com o intuito único de promover as suas vendas, incorporam as áreas onde estão suas construções, ao Campolim, ou seja, chamam de Campolim, o que está fora dos limites do bairro: a intenção é única: maximizar seus lucros com o valor de troca de seus empreendimentos. O surgimento, principalmente, nos últimos 5 anos, de condomínios horizontais no entorno do bairro, como o Sunset, o Tívoli e mais recentemente, do Aphaville, também é resultado do “boom” imobiliário promovido pelo Campolim e os serviços que o bairro pode hoje oferecer, com destaque ao Centro Comercial formado pelo Esplanada Shopping Center e Hipermercado Carrefour. Embora não tenha sido o foco de nossos estudos, a cidade de Votorantim que faz limite com a parte sul da cidade de Sorocaba, justamente na parte que permeia o Parque Campolim, também vem sofrendo a ação direta do crescimento do bairro. Vários dos bairros da cidade de Votorantim vem sofrendo um forte crescimento do seu mercado imobiliário, como o Jardim Clarice, a Vossoroca, o Parque Bela Vista e o Paraíso, aqui tomados por exemplo. Também nesse município limítrofe, estão surgindo os condomínios horizontais, aproveitando é claro, a proximidade com os condomínios vizinhos, em territórios sorocabano. Um bom exemplo disso, é o Condomínio Aldeia da Mata. 125 Nessa segunda parte de nossas considerações – como na poderia deixar de ser – focaremos nossas análises no processo de verticalização do Parque Campolim, o que obviamente requer uma introdução à própria verticalização da cidade, em especial, da sua área central. O centro de qualquer cidade, em especial das cidades brasileiras, foi num primeiro momento, o local preferido para o processo de construções verticais. E Sorocaba não fugiu à regra. O cenário do centro da cidade começa a se modificar a partir da década de 1950, com o surgimento dos primeiros edifícios.O edifício Nossa Senhora da Penha (inaugurado em 1956 ) foi o primeiro deles; e o primeiro a ter elevador também. Depois, vieram tantos outros nas décadas seguintes. Nestes 50 anos de presença dos edifícios no cenário da cidade, uma coisa fica bem clara quando a vemos de cima: ela é pouca verticalizada se comparada a outras cidades de mesmo porte. E o destaque é para a região central. Existem ali – como mostramos no capítulo 1 - grandes espaços sem verticalização e a concentração só acontece mesmo, no quadrante central. As nossas reflexões, parte delas calcadas em entrevistas com o mercado imobiliário e outras, resultado do levantamento do número de edifícios que fizemos “ in loco”, apontam algumas razões para essa pouca verticalização do centro. Em primeiro lugar, os agentes imobiliários foram unânimes ao dizer que os sorocabanos, de maneira geral, não absorveram a idéia de morar em edifícios. Assim sendo, pelo mesmo preço, preferem comprar uma casa, seja ela no bairro ou, num contexto mais recente, nos condomínios horizontais. Aliado ao que acabamos de descrever, podemos destacar que o centro tradicional da cidade é pequeno e como dissemos anteriormente, com ruas estreitas. Essas ruas estreitas acabam sendo empecilho importante quando se fala na construção de um edifício, uma vez que o adensamento populacional, promovido por essas construções verticais, acaba por congestionar o trânsito dos locais onde estão construídos, promovendo assim, um descontentamento de 126 seus moradores, que ao tentar adentrar em seus condomínios, podem se deparar com o trânsito parado, em locais com passagem, na maioria das vezes, para um único carro. Por fim, embora o centro tenha CA 4 ( Coeficiente de Aproveitamento) , o dobro do Campolim, cujo CA é 2, tem despertado pouco interesse no que tange às construções verticais, em especial, pelos motivos já descritos neste parágrafo. Seguindo a tendência de várias cidades brasileiras, com destaque para as médias e grandes aglomerações urbanas, Sorocaba tem presenciado uma ocupação significativa dos seus edifícios residências centrais por pessoas de poder aquisitivo que pode ser classificado de baixo ou no máximo médio. São pessoas que alugam esses apartamentos, antigos, de baixo padrão de construção, por preços que também pagariam nos bairros mais longínquos. As vantagens são estar próximas de uma série de serviços prestados no centro, sem pagar nada a mais por isso. A economia fica visível principalmente no gasto com transporte que, claramente, abocanha parcela significativa dos ganhos dos assalariados. No Parque Campolim, ao contrário do centro, a verticalização das construções se torna cada vez mais intensa, em especial, ao sul do bairro, onde os edifícios são permitidos em toda a sua extensão. Além dessa área, a legislação só permite verticalização do corredor comercial assentado ao longo da avenida Carlos Cômitre. O bairro é hoje um significativo campo de obras: de obras verticalizadas. Os primeiros edifícios começam a surgir na segunda metade da década de 1990, como resultado inegável da presença do binômio Esplanada Shopping Center / Hipermercado Carrefour. Estas duas importantes âncoras comerciais, ao longo deste trabalho, foram se validando cada vez mais como molas propulsoras da verticalização do Parque Campolim. Aliada às mesmas, vem, em especial com sua recente duplicação, a rodovia Raposo Tavares, corredor viário que corta o bairro e, assim, o liga com à capital , ao interior e Norte do Paraná, além de facilitar a circulação no interior da cidade. 127 Com o crescimento expressivo do bairro veio a implantação de obras infra-estruturais, o que acabou saltando aos olhos do capital imobiliário, em especial dos incorporadores que viam à sua frente, uma chance única de incorporar empreendimentos no interior do bairro e assim, potencializar seus ganhos. O bairro presenciou nestes 10 anos de verticalização, dois momentos distintos: um primeiro, de construções de padrão médio e com predominância de edifícios de até 4 pavimentos. O segundo, de construções com alto padrão e com muitos edifícios superando os 10 pavimentos. Isso mostra que com o passar dos anos e com a possibilidade de esgotamento dos terrenos – cabe lembrar que o bairro está assentado sobre uma área relativamente pequena, com pouco mais de 900 mil metros quadrados – os incorporadores foram tratando de maximizar ao extremo o coeficiente de aproveitamento dos terrenos, assim, extraindo o máximo de lucro sobre aa suas construções. Outro fator importante e que também justifica o aumento de construções de elevado número de pavimentos é o fato de que, com a aprovação do Plano Diretor em 2004, a possibilidade dessas construções poderia ser limitada, já que o referido Plano, normatiza em seus parágrafos, através do Coeficiente de Aproveitamento dos terrenos, tais construções. Das construções mais modestas aos grandes e sofisticados edifícios, foram menos de 10 anos. Atualmente está em construção no bairro um edifício, denominado, Avenida Paulista que, além de salas comerciais amplas e modernas em seu padrão de construção, trará em sua cobertura, o primeiro heliponto construído no Campolim e por que não dizer, em um prédio da cidade. São 69 edifícios construídos e 13 em construção. A grande maioria na porção sul, que está exatamente ao lado do Hipermercado Carrefour e que segundo o novo Plano Diretor, passou a se chamar ZR2( Zona Residencial 2 ); o restante do bairro, ZR1 ( Zona Residencial ). 128 Na primeira, coeficiente de aproveitamento 2,0; na segunda 1,5. Além dessas, a avenida Carlos Cômitre que passou para a condição de CCR ( Corredor de Circulação Rápida ) com Coeficiente de Aproveitamento de 2,5. O novo Plano Diretor limitou a verticalização da área, com os coeficientes destacados no parágrafo anterior. Com isso, duas coisas inevitavelmente acontecem: necessidade de aquisição de terrenos maiores por parte dos incorporadores, o que implica em maior custo da construção que ao final, aumenta o valor dos apartamentos. A segunda, é o fato de que, diante do fato descrito no início deste parágrafo, muitos desses incorporadores, vão à procura de terrenos em bairros limítrofes ao Campolim, de preço menor, mais próximo de tudo que o bairro pode oferecer. Com isso, crescem – e muito – os bairros no entorno do Parque Campolim. O preço do terreno no bairro cresce em ritmo alucinante. Há dois anos atrás, falava-se em R$ 300,00 o metro quadrado na Avenida Carlos Cômitre; hoje se cotam alguns terrenos até a R$ 1000,00 o metro quadrado. Em negociação recente, uma empresa paulistana, de nome não revelado por um dos agentes por nós entrevistados, ofertou R$ 3000, por metro quadrado, em um terreno na parte central do bairro.É o metro quadrado mais caro da cidade. Nesses três anos de estudos sobre o Parque Campolim, nos surpreendemos muitas vezes com o intenso e dinâmico processo de construção do bairro, em especial, no que se refere às construções verticais. A cada nova visita ao bairro, várias novidades. Um prédio surge aqui; outro começa a ser construído acolá. Mas, essa intensidade com que surgem as construções verticais devem seguir no ritmo atual nos próximos anos? A resposta parece ser sim, porém com algumas observações. Primeiramente, devemos considerar a legislação vigente que diz que a verticalização pode somente acontecer em locais específicos do bairro. Se o leitor deste trabalho se perguntar sobre a possibilidade de abertura de novas áreas para as construções 129 verticais no Parque Campolim, a nossa experiência diz: Não! Isso porque há no bairro uma união forte dos moradores, oficializada através da AMO ( Associação dos Moradores do Parque Campolim ) e que, constantemente, participa da discussões sobre o novo Plano Diretor, que atualmente tem recebido proposta de ressalvas, previstas em sua elaboração original. A Associação ao longo dos últimos anos tem movido na justiça uma série de ações contra o Poder Público Municipal, principalmente por que a permissividade que vem sido dada por este último, através da legislação, segundo AMO, fere o Documento Original de constituição do bairro, registrado em Cartório e, que diz que, no interior do bairro só poderiam existir construções unifamiliares horizontais. A briga continua... A forte concentração dos edifícios no Parque Campolim, com destaque para sua porção sul, e a intensidade com que o processo de verticalização vem acontecendo na referida área, como decorrência, principalmente, da voracidade com que o capital imobiliário tem interferido no local, deve em curto espaço de tempo, apresentar as mazelas de tal adensamento. Problemas como falta de privacidade, umidade nos apartamentos por falta de insolação e pouca ventilação, já são apontados por vários moradores e facilmente identificados no interior do bairro. Uma característica importante do Campolim é a proximidade com a Rodovia Raposo Tavares. Se por um lado, tal proximidade é um facilitador para os moradores que contam que esse importante corredor viário, por outro, traz um grande problema aos mesmos. Como o tráfego de automóveis e principalmente dos veículos pesados, como caminhões e ônibus, é intenso, os que moram próximos à rodovia, reclamam do intenso barulho provocado pelos mesmos, em especial, à noite, onde muitos dizem não dormir direito, incomodados pelo forte sons emanados por tais veículos. 130 Por fim, a cidade vertical vai se moldando à novas realidades e, uma dessas novas tendências, é a verticalização do bairro, em especial, àqueles que estão dotados de algumas características vitais a tal verticalização: bom aporte de infra estrutura e acessibilidade, proximidade relativa com a área central, disponibilidade de espaços para construções verticais e, por fim, permissividade por parte da Legislação Urbana. E o capital imobiliário? Com todas essas características, inevitavelmente estará presente em tal processo. REFERÊNCIAS 132 6. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Roberto S. 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Sorocaba, 2006. LAGHI, Josélia J. Maia. Proprietária da LAG Assessoria Imobiliária. Sorocaba, 2006. MARCO, Pedro Tadeu de Marco. Proprietário da PM Construtora. Sorocaba, 2006. MASCARENHAS, José Vicente Dias. Secretário de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de Sorocaba. MOURA, Edgard. Proprietário da Edgard Moura Negócios Imobiliários. Sorocaba, 2006. NANINI, Humberto. Chefe do setor de Informática da Prefeitura Municipal de Sorocaba. Sorocaba, 2006. PEROTI, João de Jesus. Sócio-proprietário da Peroti e Teixeira Empreendimentos Imobiliários. Maringá, 2006. LEME, Sylvio. Proprietário do empório O Mercador - Campolim. Sorocaba, 2006. 138 PETROCCHI, César Augusto Viudes. Engenheiro civil. Sorocaba, 2006. REIS, Ricardo. Proprietário da Reis Imóveis. Sorocaba, 2006. VIEIRA,Rodnei.Gerente de locação da Casabranca Negócios Imobiliários. Sorocaba, 2006. ANEXOS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – MESTRADO A VERTICALIZAÇÃO E O BAIRRO: O CASO DO PARQUE CAMPOLIM – SOROCABA – SP MESTRANDO: ILSON JULIANO BARRETO ORIENTADOR: PROF. DR. CÉSAR MIRANDA MENDES ENTREVISTA COM PROMOTORES IMOBILIÁRIOS NOME DA EMPRESA: _____________________________________________________ ENDEREÇO: _____________________________________________________________ TELEFONE: ______________________ E-MAIL: _______________________________ ENTREVISTADO__________________________________________________________ FUNÇÃO: ________________________________________________________________ DATA DA ENTREVISTA: __________________________________________________ 1) Por que a empresa tem canalizado investimentos nas construções verticais no Parque Campolim? 2) Qual o padrão médio de construção dos apartamentos ali existentes? 3) Qual o perfil socioeconômico dos consumidores desses apartamentos? 4) Existe significância na procura dos imóveis por parte de pessoas oriundas da cidade de São Paulo? 5) A Legislação vigente até Junho de 2004 (aprovação do novo Plano Diretor) foi a principal responsável pela alta densidade de construções verticais na porção sul do bairro? 6) Quais são os principais motivos que levam o cliente a adquirir os imóveis do bairro, em especial, na sua porção sul? 7) Qual a relevância da inauguração, em 1990, do corredor comercial ancorado pelo Shopping Esplanada e o Hipermercado Carrefour, no processo de verticalização do Parque Campolim? 8) Por que há uma maciça totalidade de construções verticais no extremo sul do bairro? 9) Na sua opinião, a alta densidade de edifícios construídos na área já descrita (Altos do Campolim) não vai gerar significativos problemas socioambientais com a pouca insolação e ventilação nos entremeios desses imóveis? 10) Os equipamentos urbanos de uso coletivo, em especial, de serviços como saneamento básico , energia elétrica, telefonia, suportam tal adensamento vertical? 11) Quais as expectativas com relação à forma das construções futuras em espaços ociosos do bairro? 12) A alta valorização imobiliária da área, em especial, a que permeia os limites com a cidade de Votorantim, pode desencadear ali, em território desta última, um intenso processo de ocupação, com ênfase às construções verticais? 13) Os bairros vizinhos ao Campolim devem sofrer o mesmo “ boom” imobiliário que o bairro presencia atualmente? 14) As emendas futuras, ao novo Plano Diretor, devem privilegiar novas áreas com permissividade no interior do bairro? 15) Na sua opinião, quais os motivos que justificam a pouca verticalização do centro da cidade? PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 33, DE 2005 Cria a Região Metropolitana de Sorocaba, o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba e autoriza o Poder Executivo a instituir entidade de direito público, a constituir o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano de Sorocaba, e dá providências correlatas. A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA: Artigo 1º - Fica criada a Região Metropolitana de Sorocaba, com sede no Município de Sorocaba, como unidade regional do Estado de São Paulo. § 1º - A unidade regional a que se refere o “caput” deste artigo, é constituída pelo agrupamento dos Municípios de Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Boituva, Capela do Alto, Ibiúna, Iperó, Itu, Mairinque, Piedade, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, São Roque, Sorocaba e Votorantim. § 2º - Integrarão a Região Metropolitana de Sorocaba os municípios que vierem a ser criados em razão de desmembramento ou fusão dos municípios elencados no parágrafo anterior. Artigo 2º - A criação da Região Metropolitana de Sorocaba tem por finalidade a concretização dos objetivos de organização, planejamento e execução de funções públicas de interesse comum dos municípios que a integram, em conformidade com o disposto no § 3º do artigo 25 da Constituição Federal, no artigo 153, “caput”, da Constituição Estadual, e no artigo 1º da Lei Complementar Estadual nº 760, de 1º de agosto de 1994, e especialmente: I – ao planejamento e uso do solo; II – ao transporte e sistema viário; III – à habitação; IV – ao saneamento básico; V – ao meio ambiente; VI – ao desenvolvimento econômico; VII – ao atendimento social; VIII – ao turismo. Parágrafo único – O atendimento social, a que se refere o inciso VII deste artigo, para efeito desta Lei Complementar, engloba as funções saúde, educação e planejamento integrado da segurança pública. Artigo 3º - Fica criado o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba, de caráter normativo e deliberativo, composto por um representante de cada município que a integra e por representantes do Estado nos campos funcionais de interesse comum, e será regido nos termos do artigo 9º e seguintes da Lei Complementar nº 760, de 1º de agosto de 1994. § 1º - O Conselho de Desenvolvimento terá como atribuição, além daquelas fixadas no artigo 13 da Lei Complementar nº 760, de 1º de agosto de 1994, propor critérios de compensação financeira aos municípios integrantes da Região Metropolitana de Sorocaba, que vierem a suportar ônus decorrentes da execução de funções ou serviços públicos metropolitanos. § 2º - É assegurada a participação popular, devendo o Conselho de Desenvolvimento estabelecer os procedimentos adequados em seu Regimento Interno, obedecidos os princípios fixados no artigo 14 da Lei Complementar nº 760, de 1º de agosto de 1994. Artigo 4º - O Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba criará o Conselho Consultivo, composto por membros dos poderes legislativos municipais integrantes da Região Metropolitana de Sorocaba e por representantes da sociedade civil, e estabelecerá em seu Regimento Interno, as normas de funcionamento, o processo de escolha dos seus integrantes e terá as seguintes atribuições: I – elaborar propostas representativas da sociedade, nas áreas de interesse da Região Metropolitana de Sorocaba, a serem debatidas e deliberadas pelo Conselho de Desenvolvimento; II – propor a constituição de Câmaras Temáticas para as funções públicas de interesse comum e Câmaras Temáticas Especiais, voltadas a um programa, projeto ou atividade específica, como subfunção entre as funções públicas definidas. Artigo 5º - O Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba convocará ordinariamente, a cada 4 (quatro) meses, audiências públicas para expor suas deliberações referentes aos estudos e planos em desenvolvimento, e prestar contas relativas à utilização dos recursos geridos. Artigo 6º - Os municípios integrantes da Região Metropolitana de Sorocaba, assim como o Estado, compatibilizarão, no que couber, seus planos e programas às diretrizes do planejamento da região, expressamente estabelecidas pelo Conselho de Desenvolvimento. Artigo 7º - Fica o Poder Executivo Estadual autorizado a criar, mediante lei específica, entidade com personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, com o propósito de integrar, respeitada a competência das entidades envolvidas, a organização, o planejamento e a execução das funções públicas de interesse comum. Parágrafo único - A entidade de que trata o “caput” deste artigo, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e demais princípios inerentes à administração pública. Artigo 8º - Fica o Poder Executivo Estadual autorizado a constituir o Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba, vinculado à entidade referida no artigo anterior, com a finalidade de dar suporte financeiro ao planejamento integrado e às ações conjuntas dele decorrentes, com os seguintes objetivos: I – financiar e investir em programas e projetos de interesse da Região Metropolitana de Sorocaba; II – contribuir com recursos técnicos e financeiros para a melhoria dos serviços públicos municipais; III – contribuir com recursos técnicos e financeiros para a melhoria da qualidade de vida e para o desenvolvimento sócio-econômico da Região Metropolitana; IV – contribuir com recursos técnicos e financeiros para a redução das desigualdades sociais da Região Metropolitana. Parágrafo único – A aplicação dos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba será supervisionada por um Conselho de Orientação, composto por 6 (seis) membros, sendo 4 (quatro) do Conselho de Desenvolvimento e 2 (dois) diretores da entidade pública referida no artigo 7º desta lei complementar, ou do Conselho Consultivo, enquanto aquela não for criada, indicados por seus respectivos Conselhos. Artigo 9º - Constituirão recursos do Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba: I – recursos do Estado e dos Municípios a ele destinados por disposição legal; II – transferência da União, destinadas à execução de planos e programas de interesse comum entre a Região Metropolitana de Sorocaba e o Governo Federal; III – empréstimos nacionais e internacionais e recursos provenientes da ajuda e cooperação internacional e de acordos intergovernamentais; IV – retorno das operações de crédito contratadas com órgãos e entidades da administração direta e indireta do Estado e dos Municípios e concessionárias de serviços públicos; V – produto de operações de crédito e rendas provenientes da aplicação de seus recursos; VI – resultado de aplicações de multa por infrações cuja competência tenha sido delegada ou transferida para a alçada do Conselho de Desenvolvimento; VII – recursos decorrentes do rateio de custos referentes a obras de interesse comum; VIII – doações de pessoas físicas ou jurídicas públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras ou multinacionais; IX – outros recursos eventuais. Parágrafo único – O Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba deverá integrar os orçamentos anuais e planos plurianuais do Estado e dos Municípios integrantes. Artigo 10 – Fica o Poder Executivo Estadual, para atender as despesas decorrentes da aplicação desta lei complementar, autorizado a: I – abrir créditos especiais até o limite de R$ 500,00 (quinhentos reais); II – proceder à incorporação, no Orçamento vigente, das classificações orçamentárias incluídas pelos créditos autorizados no inciso I, promovendo, se necessário, a abertura de créditos adicionais suplementares. Parágrafo único – Os valores dos créditos suplementares a que se refere este artigo, serão cobertos na forma prevista no § 1º do artigo 43 da Lei Federal nº 4320, de 17 de março de 1964. Artigo 11 – Esta lei complementar entra em vigor na data de sua publicação. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS Artigo 1º - O Conselho de Desenvolvimento elaborará seu Regimento Interno provisório no prazo de 60 (sessenta) dias após sua instalação. Artigo 2º - O Conselho de Orientação, referido no Parágrafo único, do artigo 8º desta lei complementar, será constituído em 30 (trinta) dias, contados da data de constituição do Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba. JUSTIFICATIVA Sorocaba, como um dos mais importantes e populosos municípios do interior paulista, é responsável pelo desenvolvimento da região e dos municípios localizados no seu entorno, dada sua referência e importância estratégica. A criação da Região Metropolitana de Sorocaba, com sede no Município de Sorocaba, certamente trará mais benefícios e maior desenvolvimento aos municípios dela integrantes, na medida em que exigirá um planejamento integrado e ações conjuntas, além de uma união permanente de esforços para a execução de funções públicas de interesse comum. A nova unidade regional que se pretende criar, com a conjugação de esforços mútuos dos entes públicos envolvidos, certamente se tornará um grande polo de desenvolvimento, atraindo novos investimentos, o que propiciará a geração de novos empregos, aumentará a renda dos trabalhadores e, por conseqüência, trará melhoria de vida a toda a população. O agrupamento dos 16 (dezesseis) municípios integrantes, segundo dados do SEADE, de 2005, conta com uma população de aproximadamente 1.400.000 (um milhão e quatrocentos mil) habitantes, distribuídos por uma área de 5.600 (cinco mil e quinhentos) quilômetros quadrados, perfazendo uma densidade demográfica de 245 (duzentos e quarenta e cinco) habitantes por quilômetro quadrado, de acordo com o quadro demonstrativo abaixo: MUNICÍPIO POPULAÇÃO ÁREA (em km2) BOITUVA 41.643 248 DENSIDADE DEMOGRÁFICA (hab/km2) 167,92 CAPELA DO ALTO 16.422 143 114,84 ALUMINIO 16.335 95 171,95 ARAÇARIGUAMA 13.216 138 95,77 ARAÇOIABA DA SERRA 23.027 283 81,37 IBIÚNA 73.396 1.088 67,46 IPERÓ 22.017 165 133,44 ITU 151.268 642 235,62 MAIRINQUE 46.188 214 215,83 PIEDADE 53.561 729 73,47 PORTO FELIZ 49.647 569 87,25 SALTO DE PIRAPORA 41.174 255 44,24 SALTO 104.479 160 161,47 SÃO ROQUE 71.695 313 229,06 SOROCABA 560.250 443 1.264,67 VOTORANTIM 103.902 177 587,02 1.388.220 5662 245,18 Tais números demonstram a elevada densidade demográfica dessa região. Ressalte-se que a maior distância entre as localidades elencadas no § 1º do art. 1º desta propositura, não ultrapassa 45 (quarenta e cinco) quilômetros do município sede da região – Sorocaba, evidenciando significativa conurbação. Afora isso, as funções urbanas e regionais desse agrupamento de municípios contam com um elevado grau de diversidade, especialização e integração socioeconômica, tendo em vista que a ligação entre esses municípios, à Capital e às outras regiões do Estado é realizada por importantes rodovias, tais como a Rodovia Presidente Castello Branco (SP 280), a Rodovia Raposo Tavares (SP 270), a Rodovia Marechal Rondon (SP 300) e a Rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho - SP 075). A Constituição Federal (§ 3º do artigo 25), assim como a Constituição Estadual (artigo 153), prevêem a possibilidade dos Estados, mediante lei complementar, instituírem regiões metropolitanas, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. A Lei Complementar nº 760, de 1º de agosto de 1994, por sua vez, foi promulgada com o intuito de estabelecer diretrizes para a Organização Regional do Estado de São Paulo, regulamentando a aplicabilidade do artigo 153 da Constituição Estadual. Diz ainda a Carta Bandeirante, no item 1 do § 1º, do artigo 24 o seguinte: “Artigo 24 - ...... § 1º - Compete, exclusivamente, à Assembléia Legislativa a iniciativa das leis que disponham sobre: 1 – criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios;” Se a Constituição Paulista confere à Assembléia Legislativa a competência exclusiva de iniciativa de leis que disponham sobre a criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios, é evidente que, na mesma linha de raciocínio, deve ser de iniciativa parlamentar as leis complementares que disponham acerca da criação de unidades regionais, dentre as quais inserem-se as Regiões Metropolitanas. Assim, espero contar com o apoio dos meus Nobres Pares, Senhores Deputados e Deputados, na aprovação deste Projeto de Lei Complementares que cria a Região Metropolitana de Sorocaba e demais mecanismos para o seu funcionamento, como o Conselho de Desenvolvimento, além de autorizar o Executivo Estadual a instituir entidade de direito público para integrar a organização, planejamento e a execução das funções públicas, respeitada a competência das demais entidades envolvidas, e ainda constituir o Fundo de Desenvolvimento, vinculado à entidade de direito público referida, com a finalidade de dar suporte financeiro às ações da nova unidade regional. Sala das Sessões, em 5/10/2005 a) Hamilton Pereira - PT SPL - Código de Originalidade: 599177 051005 1133