relatos de pesquisa ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA DENGUE NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA, NO PERÍODO DE 2011 A 2014 Natália Ferreira Santos* Alex Souza Silva** Polyana Gonçalves Gusmão*** Milena Soares Santos**** RESUMO A dengue é uma doença infecciosa de etiologia viral, transmitida pela picada de mosquito Aedes aegypti, que se destaca como um grave problema de saúde pública. Este estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico dos casos de dengue no município de Vitória da Conquista, Bahia. Foram incluídos no estudo todos os casos de dengue confirmados pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificações, Superintendência de Vigilância e Proteção à Saúde da Bahia e Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista – Bahia durante o período de 2011 a 2014. A análise das variáveis clínicas, epidemiológicas e laboratoriais foi obtida através de medidas de frequência absoluta e relativa, e a associação estatística foi medida através da odds ratio, considerandose nível de significância intervalos de confiança de 95% e valor de p <0,05. Um total de 1.158 casos de dengue foi confirmado entre 2011 e 2014. A maior prevalência de casos ocorreu no ano de 2011(433/1.158) 37,4%, entre os indivíduos a faixa etária de 25 a 59 anos e do gênero feminino, respectivamente (668/1.158) 57,68 %e 700/1.158 (60,4%) casos foram os mais acometidos pela doença. A maioria dos casos foi concentrada entre os pacientes residentes na zona urbana (67,9%; 786/1.158) e distribuídos principalmente no primeiro semestre do ano [OR= 3,7947 (2,8977-4,9692) p=0,0001]. Os dados deste trabalho ressaltam a importância do monitoramento da dengue no município de Vitória da Conquista e alertam para a emergência desta doença na região. Palavras-chave: Dengue. Epidemiologia. Perfil Epidemiológico. saúde pública e como uma das principais 1 INTRODUÇÃO doenças A dengue é um problema das relações humanas *Graduanda do Curso de Ciências Biológicas. Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira, Universidade Federal da Bahia. Email: [email protected] **Graduando do Curso de Farmácia. Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira, Universidade Federal da Bahia. Email: [email protected] ***Coordenação de Endemias. Secretaria Municipal de Saúde. Vigilância Epidemiológica. Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, Bahia. E-mail: [email protected] ****Farmacêutica. Habilitações em Análises Clínicas e Saúde Pública e Bioquímica de Alimentos. Profa. Adjunto da Universidade Federal da Bahia, Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira, Vitória da Conquista, Bahia. 45029094, Brasil. Doutora em CiênciasBiotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa-CPqGM-FIOCRUZ. Email: [email protected] e re-emergentes do mundo (PIGNATTI, 2004). Caracteriza-se como ambientais, uma arbovirose transmitida ao homem considerada como um grave problema de pela a picada do mosquito Aedes aegypti C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 111 Natália Ferreira Santos, Alex Souza Silva, Polyana Gonçalves Gusmão, Milena Soares Santos (LINNAEUS,1762), principal vetor da 100.000.000 infecções por dengue doença no Brasil (CORDEIRO, 2008; ocorrem a cada ano em todo o mundo. TAUIL, 2002). É caracterizada como uma Antes de 1970, apenas nove países doença infecciosa, de etiologia viral, tinham sofrido epidemias de dengue ocasionada por quatro sorotipos virais grave. A doença tornou-se endêmica em antigenicamente mais distintos (DENV-1, de 100 países no Mediterrâneo 2002; LANCIOTTI, 1997). A infecção por Sudeste Asiático e no Pacífico Ocidental, qualquer sorotipo viral resulta em um sendo os países destas três últimas amplo espectro clínico, variando desde regiões mais seriamente afetados (WHO, uma 2014). viral inespecífica até formas graves e letais (TAUIL, 2001). nas África, DENV-2, DENV-3, DENV-4) (GUBLER, síndrome Oriental, na Américas, No Brasil, a primeira evidência de Durante muito tempo a dengue foi epidemia de dengue foi registrada em classificada como Dengue clássica, Febre 1982, em Roraima. A partir de 1990, Hemorrágica e observou-se uma ampliação da área de Síndrome do Choque da Dengue (SCD), transmissão em todo território brasileiro porém, no ano de 2014, o Brasil adotou (BARRETO; TEIXIERA, 2008; CAMARA uma nova classificação, preconizada pelo et al., 2007; SANTOS et al., 2002). No Ministério da Saúde através de estudos início do século XXI, o Brasil chegou a propostos pela Organização Mundial da representar 78% de todos os casos Saúde com o intuito de aprimorar a notificados nas Américas e 61% de todos classificação dos casos de dengue de os casos relatos pela OMS, ocupando o acordo com as avaliações clínicas e primeiro lugar no ranking internacional exames laboratoriais realizados. A nova para classificação divide os casos de dengue (TEIXEIRA, 2009). da Dengue (FHD) o total de casos da doença em Dengue, Dengue com sinais de No Estado da Bahia, a primeira alarme e Dengue grave (VERDEAL et al., epidemia de dengue foi detectada em 2011). A incidência da doença tem 1987, em Ipupiara, onde foi identificado o aumentado dramaticamente em todo o sorotipo DEN-1. O vírus só voltou a ser mundo nas últimas décadas. Mais de 2,5 detectado em 1994, quando o sorotipo bilhões de pessoas estão em risco de DEN-2 foi detectado no extremo sul do dengue. Estima-se que entre 50.000.000- estado (TEIXIERA, 2009). No ano de 112 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 Análise epidemiológica da dengue no município de Vitória da Conquista - Bahia, no período de 2011 a 2014 2002, ocorreu uma epidemia maciça com Vitória a e população total foi estimada em 340.199 surgiram os primeiros casos de dengue habitantes (IBGE, 2015) e está situada hemorrágica, no estado (MELO et al., distante quinhentos e três quilômetros da 2007). O primeiro caso de sorotipo DEN-4 capital, Salvador e apresenta uma área de foi introduzido na Bahia em 2011 na 3.204,5 km², tendo como distritos Bate- cidade de Salvador (BAHIA, 2011). Pé, Cabeceira da Jibóia, Cercadinho, introdução do sorotipo DEN-3 Embora sejam reportados boletins da Conquista- Dantelândia, Iguá, Bahia, Inhobim, cuja José epidemiológicos periódicos dos casos de Gonçalves, Pradoso, São João da Vitória, dengue do estado da Bahia, não há São Sebastião e Veredinha, limita-se com publicações na literatura que demonstrem os municípios de Cândido Sales, Belo o da Campo, Anagé, Planalto, Barra do Choça, da Itambé, Ribeirão do Largo e Encruzilhada comportamento dengue no Conquista. epidemiológico município Nosso de Vitória estudo tem como (PMVC, 2013). objetivos realizar uma análise temporal Foram incluídos no estudo, todos dos casos de dengue confirmados no os casos de dengue confirmados por município de critérios determinar a Vitória da incidência Conquista, da clínicos, epidemiológicos e doença, laboratoriais conforme preconizado pelo caracterizar o perfil epidemiológico dos Ministério da Saúde, através das fichas de casos e identificar as áreas com maior Investigação de Agravo e Notificações número de casos registrados. oriundos do Sistema de informações de agravos 2 METODOLOGIA de notificação (SINAN) da Secretária de Saúde do Estado da Bahia, Superintendência de Vigilância e Proteção Trata-se de um estudo de base populacional, com abordagem descritiva e quantitativa, realizado no período de janeiro de 2011 a junho de 2014, tendo como unidade de análise espacial os setores censitários do município e como unidade temporal, os anos de estudo. O estudo foi conduzido no município de da Saúde da Bahia (SUVISA) e do Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista - Bahia. Foram excluídos do estudo todos os casos de dengue não confirmados e os registros duplicados. As variáveis sócio-demográficas e clínicas utilizadas nas análises foram: C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 113 Natália Ferreira Santos, Alex Souza Silva, Polyana Gonçalves Gusmão, Milena Soares Santos faixa etária, gênero, raça, critérios de No município de Vitória da classificação da dengue, sorotipo viral e Conquista na Bahia foram registrados sazonalidade. A avaliação de associação 2.645 pacientes como casos suspeitos de entre foi dengue no período de janeiro de 2011 a determinada pela medida do Odds Ratio julho de 2014. Entre os registros foram (OR) e intervalos de confiança (IC) de encontrados 95% de outros municípios do estado da Bahia: o Belo Campo, Boa Nova, Caculé, Candido as variáveis selecionadas considerando significância de um nível p<0,05. Para indivíduos Sales, utilizado o programa Epi Info versão para Brumado, Caetanos, Feira de Santana, Windows 3.5.3. A proporção dos casos da Ituaçu, Rio do Antônio, Tanhaçu, Bom doença Jesus bairros e distritos foi da Lapa Planalto, de processamento e análise dos dados foi nos Itambé, residentes Poções, e Tremedal. Foram classificada em três categorias: áreas com incluídos no estudo todos os casos baixa prevalência da doença, até 10 confirmados de dengue cujos pacientes casos, com a prevalência intermediária, foram residentes de Vitória da Conquista. entre 11 e 45 casos e com elevada Foram excluídos da análise 24 casos prevalência,maior que 45 casos. notificados em Vitória da Conquista cujo A pesquisa foi realizada mediante indivíduo teve origem de outras cidades. Comissão Entre os casos suspeitos, 2.621 Municipal de Ensino e Pesquisa do Polo e eram pacientes residentes do município e Educação Permanente em Saúde- PEPS 44,1% (1.158/2.621) tiveram diagnóstico do município de Vitória da Conquista- confirmado de dengue pelos critérios Bahia, conforme oficio nº 106/2014 de 19 clínico-epidemiológico e laboratorial. No de maio de 2014 e do Comitê de Ética em período de 2011 a 2013, 2.484 casos Pesquisa da Universidade Federal da foram notificados, dos quais 1.084foram Bahia/ Campus Anísio Teixeira – Instituto confirmados Multidisciplinar Casos anuência e aprovação em da Saúde, conforme como inconclusivos Dengue e clássica. descartados parecer nº 734.343 de 31 de julho de corresponderam a 13,24% (329/2.484) e 2014. 0,08% (2/2.484) dos casos não havia informação do diagnóstico final (Tabela 1). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 114 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 Análise epidemiológica da dengue no município de Vitória da Conquista - Bahia, no período de 2011 a 2014 Tabela 1- Casos de dengue em Vitória da Conquista – BA, segundo o critério de classificação, no período de janeiro 2011 a dezembro de 2013. Classificação 2011 2012 2013 Dengue Clássico 433 324 327 Dengue c/ complicações 0 0 0 Febre Hemorrágica do 0 0 0 Dengue Indeterminados/Descartado 135 38 432 s Ignorados/ Branco 0 1 1 Casos notificados 738 830 916 Casos não confirmados 170 467 156 Fonte: Dados da pesquisa. No primeiro semestre de 2014, 173 novos casos de dengue foram notificados. De acordo com a nova classificação, 73 casos foram definidos como Dengue, um caso como Dengue com sinais de alarme e 63 casos como não confirmados (Dados não mostrados). A trajetória da doença no município evidencia flutuações no número de casos ao longo dos últimos anos. Durante o ano de 2011, foram notificados 740 casos de dengue, dos quais 433 (58,5%) foram confirmados casos como Dengue Clássica. No ano seguinte, foram confirmados 324/830 (39%) casos, uma redução de 25,17 % dos casos registrados em relação ao ano anterior. Em 2013, foram registrados 327/916 (35,7%) casos de dengue clássica, o que correspondeu a um aumento de 0,92% dos casos confirmados comparado ao ano de 2012. No ano de 2014, houve uma redução brusca de 75,9% dos casos comparado com o ano anterior. Resultado semelhante foi publicado no Boletim Epidemiológico da Bahia (2014) onde houve uma redução de 74% para todo o estado. Ao diminuir o número de casos, o município de conseguiu Vitória atingir da uma Conquista das metas propostas pelo Programa Nacional de Controle da Dengue, que é reduzir o número de casos a cada ano subseqüente (BRASIL, 2002). A redução ocorrida no período de 2014, em relação aos anos anteriores, pode ser explicada pela tendência natural da doença, já que foi observada em todos os estados brasileiros uma redução de 52,5% dos casos em todo o país, na análise comparativa em relação ao ano de 2013 (BRASIL, 2014). A maior frequência dos casos de dengue ocorreu em indivíduos do gênero feminino, sendo responsáveis por 60,4 % dos casos (700/1.158), enquanto que o gênero masculino foi representado por 39,6% (458/1.158) dos casos (Figura 1) [OR= 1,1228 (0,9504-1,3265) p=0,0173], sugerindo que pacientes do sexo feminino tem uma maior probabilidade de desenvolver a dengue. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 115 Natália Ferreira Santos, Alex Souza Silva, Polyana Gonçalves Gusmão, Milena Soares Santos Figura 1 - Número de casos de Dengue confirmados estratificados por gênero, no município de Vitória da Conquista – BA, no período de 2011 a julho 2014. corrobora também com Monteiro et al. (2009),onde foi encontrada maior prevalência de 60% dos casos entre pacientes do gênero feminino. No Estado na Bahia, estudos realizados em Itabuna por Souza e Dias (2000), mostraram que 54% das notificações ocorreram entre as mulheres. Segundo Vasconcelos et al. (1993) e Monteiro et al. (2009), uma das prováveis explicações, para esta diferença entre os gêneros, permanência Fonte: Dados da Pesquisa. seria das a mulheres maior no intradomicílio e peridomicílio, estando, portando mais susceptíveis a serem acometidas pela doença, já que são os Não houve registro de óbito por locais são propícios à transmissão da dengue e todos os pacientes acometidos dengue. Os resultados obtidos com este evoluíram para a cura. Entretanto, o estudo diferenciam de outros trabalhos, primeiro caso complicado ocorreu no mês como de junho de 2014, classificado como (1997), no Maranhão e por Santos et al. dengue com sinais de alarme, cujo (2002) em Uberlândia – MG, onde não foi paciente correspondeu a um indivíduo do encontrada gênero feminino, com idade entre 25-59 significante entre os gêneros. O que anos. sugere que tanto homens como mulheres Os resultados da distribuição da os possuem reportados diferença níveis por Gonçalves estatisticamente semelhantes de dengue estratificados por gênero obtidos exposição e risco de desenvolver a no presente estudo, se assemelham os doença. resultado reportado por Vasconcelos et al. Em relação à distribuição dos (1993), em Araguaiana-TO, no qual a casos por faixa etária, observamos que a doença foi mais frequente em mulheres doença afeta pacientes de todas as do que em homens, mostrando diferença idades, sendo mais frequente nos adultos estatisticamente significante (p < 0,05); jovens (15-24 anos) e adultos (25-59 116 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 Análise epidemiológica da dengue no município de Vitória da Conquista - Bahia, no período de 2011 a 2014 anos), que juntos representam 74,17% em cada estudo, perfil semelhante ao (859/1.158) dos casos confirmados. A encontrado no nosso estudo. menor prevalência de casos ocorreu na faixa etária em menores de um ano, com 1,38% (16/1158) dos casos, entretanto Figura 2 - Incidência da dengue em Vitória da Conquista - BA, segundo a faixa etária no período de 2011 a junho de 2014. representam uma das maiores taxas de incidência, durante os anos de 2011, 2012 e 2013 (86,97; 86,97; 130,46/100.000 habitantes, respectivamente). A maior prevalência dos casos ocorreu na faixa etária entre 25-59 anos com 57,68 % dos casos (668/1.158), que representa as maiores taxas de incidência durante todo período estudado (127,2; 138,5; 130,7; 26,0/100.000 habitantes, respectivamente), verificando uma Fonte: Dados da Pesquisa diferença estatística significante quando comparado com indivíduos das demais faixas etárias [OR= 1,1890 (1,00- 1,41; p=0,0427)]. Este dado sugere que este grupo apresenta maior chance de apresentar a doença (Figura 2). Estudo realizado por Escosteguy et al. (2013), no Rio de Janeiro, observou quea dengue na faixa etária em adultos, representa 59,5% dos casos. Assim como trabalhos realizados em Goiás, por Santos et al. (2009) e na Bahia por Souza & Dias (2009), que mostraram que pacientes com idade entre 20 a 39 anos são os mais acometidos pela doença, respectivamente representando 43,7% e 34,8% dos casos No nosso trabalho, identificamos a elevada incidência da dengue na população pediátrica, entre os menores que cinco anos, nos anos de 2011, 2012 e 2013 (respectivamente 47,10; 29,97; 38,54/100.000 habitantes). Contudo, a partir de 2007, o Brasil mostrou uma mudança de faixa etária dos acometidos pela doença, a qual evidencia a elevação de crianças menores de quinze anos (BARRETO; TEIXEIRA, 2008). Estudo Teixeira incidência realizado (2009), por verificou (106,7/100.000 Silva uma e alta habitantes) ocorrendo em crianças com idade entre 0 a 9 anos, o que se assemelha com o C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 117 Natália Ferreira Santos, Alex Souza Silva, Polyana Gonçalves Gusmão, Milena Soares Santos observado na pesquisa. Alguns estudos, meses de março (n=290) e abril (n=385). como realizado por Galdino et al. (2011), Nos meses seguintes o número de casos podem explicar o aumento da dengue em tende a sofrer uma redução conforme crianças, podendo estar relacionado ao mostrado na figura 3. fato de que à medida que a população Figura 3 - Número mensal de casos de dengue em Vitória da Conquista - BA, no período de janeiro de 2011 a julho de 2014. adulta torna-se infectada pelos diversos sorotipos, adquirindo de tal modo imunidade específica para cada um deles, as crianças crescem em importância epidemiológica, por ser o grupo populacional mais susceptível a adquirir a dengue. Neste estudo também ressalta, a introdução do sorotipo 4 no estado da Bahia, sendo explicação também para alta uma possível incidência em Fonte: Dados da pesquisa crianças menores que um ano, pois é Uma faixa etária mais susceptível a A doença apresenta um padrão adquirir a doença. Conforme demonstrado na figura 2, durante o período de estudo de 2014, foram identificadas as menores taxas de incidência da doença, se elevando à medida que aumentava a faixa etária do indivíduo. A incidência durante todo o período do estudo para a sazonal com tendência a ocorrer nos meses onde as temperaturas são em média de 21º C e caracterizadas por um período 26,0; 35,9/100.00 habitantes, analisarmos a doença em aspecto sazonal, verificamos que em todos os anos do estudo os casos predominaram no primeiro semestre [92,1% (n = 1067/1158)], com pico nos 118 município. No mais baixas e uma estação mais seca. Há maior chance de ocorrência de casos no primeiro semestre do ano quando comparados com os casos do respectivamente. Ao no segundo semestre tem-se temperaturas população total foi de 0,0; 0,0; 7,48; 27,93; chuvoso segundo semestre [OR= 3,7947 (2,89774,9692), p=0,0001], onde a temperatura e as condições pluviométricas mostram correlação favorável para a distribuição da dengue no município. Essa mesma C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 Análise epidemiológica da dengue no município de Vitória da Conquista - Bahia, no período de 2011 a 2014 tendência é observada municípios nos outros brasileiros, como 83 regiões, enquadradas das quais como Santos et al. (2002) que observou maior consideradas como áreas intermediárias número de casos no primeiro semestre do (<5% dos casos) e 55 bairros como áreas ano, tendo pico entre os meses de com baixa prevalência de casos (<1% dos fevereiro a abril. Em Paripiranga, na casos). Não foi obtida a informação de 7,7 Bahia, estudo realizado por Silva e % dos casos (n=89). A maior prevalência Andrade dos resultados semelhantes, observaram casos foi entre os 25 alta prevalência também casos), com foram demonstrados em estudo realizado por (2014), (≥5% áreas três foram indivíduos apresentando residentes na zona urbana (786/1.158; com maior frequência dos casos no 67,9%) em relação aos indivíduos da primeiro semestre do ano. zona rural (372/1.158; 32,1%), com uma Segundo, Câmara et al. (2007), a concentração maior nas regiões norte e dengue está estreitamente relacionada a oeste da cidade. Conforme demonstrado períodos ano, na figura 4, os bairros/distritos Inhobim associados a altas taxas metabólicas, alta (11,6%, n=134 casos), Alto do Maron reprodução e (9,5%, n=110 casos) e Brasil (5,9%, n=68 replicação do agente etiológico. Porém, casos) apresentam maior concentração outros estudos, como Ribeiros et al. de casos de dengue. mais quentes do vetor, do maturação (2006), no interior de São Paulo, reportam que não há correlação entre as variáveis climatológicas. Como observados na Figura 4 – Distribuição dos casos de dengue nos bairros do Município de Vitória da Conquista, no período 2011 – 2014. nossa pesquisa, a variação sazonal de temperatura e da pluviosidade influenciaram o aumento de casos de dengue no município, mostrando o estrito relacionamento entre os aspectos sazonais e a dengue. A análise dos casos de dengue por bairros e distritos, mostra que a doença esteve distribuída de maneira heterogênea. Foram registrados casos em Fonte: Dados da pesquisa. Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista, Bahia - SMS/VC-BA (2014). C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 119 Natália Ferreira Santos, Alex Souza Silva, Polyana Gonçalves Gusmão, Milena Soares Santos Nota: Bairros onde foi registrado menos que 1% casos: Barrocas, Bela Vista, Boa Vista, Caminho do Parque, Capinal, Conjunto da Vitoria, Distrito Industrial, Guanabara, Jardim Valério, Lagoa de Melquides, Morada Nova, Recanto das Águas, Vila São José, Campinho, Fazenda Lamarão, Iguá, Inocoop I, Jardim Sudoeste, Morada da Primavera, Santa Terezinha, Simão, Vila da Conquista, Alto da Boa Vista, Alvorada, Morada dos Pássaros, Salobo, Santa Cecilia, Sumaré, Terras do Remanso, Vila América, Alto da Conquista, Flamengo, Ipanema, Pradoso, Ribeirão, Urbis II, Iracema, Miro Caires, Morada Real, Nova Cidade, Cidade Modelo, Nossa Senhora da Vitória, Olho d' água, São Pedro, Urbis I, Campo Formoso, Petropólis, Senhorinha Caires, Sobradinho, Jurema, Veredinha, Conveima, Jardim Guanabara, Renato Magalhaes e Urbis V. Não informado: Não foi informado o bairro onde ocorreu o caso. correlacionar a incidência da doença como sorotipo viral circulante no município. 4 CONCLUSÃO Embora este estudo tenha evidenciado diminuição da incidência dos casos de dengue comparado a outras cidades do país, esta doença continua como um importante problema de saúde pública em Vitória da Conquista. As O estudo da distribuição por áreas medidas de combate e controle ao vetor, da a dinâmica de circulação viral e as outras doença, o que possibilita a visualização doenças que podem ser transmitidas pela de áreas de aglomeração de focos da picada doença, destaca a distribuição geográfica do mosquito Aedes aegypti áreas que ressaltam a importância de contínua atenção das vigilância, capacitação de profissionais e, atividades de vigilância epidemiológica. sobretudo conscientização e mobilização Para Barcellos e Bastos (1996), estes social em áreas de risco para a doença. indicando necessitam elementos de as maior visuais facilitam a interpretação, com a possibilidade de indicadores de risco para a doença. Limitações do estudo Devido à falta a pesquisa, À Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista e à Equipe de Endemias da de informações laboratoriais no banco de dados cedidos para AGRADECIMENTOS não foi Secretaria de Saúde de Vitória da Conquista. possível EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS OF DENGUE IN VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA, IN THE PERIOD OF 2011 TO 2014 ABSTRACT Dengue is an infectious disease of viral etiology, transmitted by mosquitoes Aedes aegypti, which stands as a serious public health 120 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p.111-123, jul./dez. 2016 Análise epidemiológica da dengue no município de Vitória da Conquista - Bahia, no período de 2011 a 2014 problem. The aim of this study was carry out the epidemiological cases of dengue in the city of Vitória da Conquista, Bahia. The study included cases of dengue confirmed during the period 2011 to 2014. The data was obtained from the “Sistema de Informação de Agravos e Notificações”, “Superintendência de Vigilância e Proteção à Saúde da Bahia” and “Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista – Bahia”. Data analysis was performed using absolute and relative frequency measures. The association between variables was performed by odds ratio, considering static significance level p <0.05 and 95% confidence intervals. A total of 1,158 dengue cases were confirmed. The higher prevalence of cases occurred in 2011, (433/1,158; 37.4%) among subjects aged 25-59 years and females, respectively (668/1,158; 57.68%) and 700 / 1,158 (60.4%) cases were the most affected by the disease. The patients living in urban areas had 67.9% (786/1,158) of the cases and were mainly distributed between the months of the first half of the year [OR = 3.7947 (2.8977 to 4.9692) p = 0.0001]. This study highlights the importance of the dengue monitoring in Vitória da Conquista municipality and alert for this disease emerged in the region. Keywords: Dengue. Epidemiology and Epidemiological Profile. Artigo recebido em 21/03/2016 e aceito para publicação em 27/05/2016 REFERÊNCIAS BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Situação epidemiológica da dengue. Diretoria de Vigilância Epidemiológica – DIVEP, n. 6, abril, 2011. Disponível em: <http://www. suvisa.ba.gov.br/sites/default/files/boleti m_epidemiol+%C2%A6gico_N06_2011_ 11.04.2011.pdf.>. Acesso em: 03 jul. 2014. Avançados,São Paulo, v.22, n. 64, p.5372, 2008. BARCELLOS, C.C.; BASTOS, F.I. Geoprocessamento, ambiente e saúde: uma união possível?. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.12, n.3, set. 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa nacional de controle da dengue. Brasília, DF, p. 1-32, 2002. BARRETO, M.L.; TEIXEIRA, M.G. Dengue no Brasil: situação epidemiológica e contribuições para uma agenda de pesquisa. 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