Arquivos Catarinenses de Medicina ISSN (impresso) 0004- 2773 ISSN (online) 1806-4280 RESUMO EXPANDIDO Tratamento cirúrgico da síndrome estilo-hióidea por abordagem intraoral: relato de caso e revisão da literatura. Surgical treatment of stylohyoid syndrome by intraoral approach: case report and literature review. Ciro Paz Portinho1, Luciano Engelmann Morais, Emerson Rogério Morello, Marcus Vinícius Martins Collares Resumo with analgesics, anti-inflammatories and tricyclic antidepressants. We have resected calcified ligaments e processes by intraoral approach, with no significant complications. Patient has presented swallow pain for a couple of weeks, but dizziness and cervical pain have ceased. Initial treatment is usually conservative; surgical is indicated in its failure. Styloid process resection may be either by cervical or intraoral approach. In this paper, we discuss advantages and disadvantages of each approach. A síndrome estilo-hióidea (SEH) é a causa mais conhecida de dor cervicofaríngea. Os autores relatam o caso de uma paciente com este diagnóstico, submetida a tratamento cirúrgico por abordagem intraoral. Uma paciente de 52 anos apresentava cervicalgia anterior, com irradiação para a região occipital e para a mandíbula bilateralmente. Além disso, havia tontura, agravada pela rotação do pescoço. Ela já havia sido tratada com analgésicos, anti-inflamatórios e antidepressivos tricíclicos. Realizou-se a ressecção dos ligamentos calcificados por abordagem intraoral, sem intercorrências significativas. A paciente evoluiu com dor para deglutir por algumas semanas, mas teve melhora significativa da tontura e da cervicalgia. O tratamento costuma ser inicialmente conservador; a cirurgia é indicada na sua falha. A abordagem do processo estiloide pode ser por via cervical ou intraoral. As vantagens e desvantagens de cada acesso são discutidas neste artigo. Keywords: hyoid bone, neck pain, facial pain Introdução A Síndrome de Eagle (SE) é a causa mais conhecida de dor cervicofaríngea. Ela foi descrita por Walt Eagle em 1937 e ocorre por crescimento do processo estilóide (PE) e pode ser acompanhada de calcificação do ligamento estilo-hióideo (LEH). Entre as causas, podemos citar: trauma e calcificação ligamentar. Na realidade, a denominação de SE é reservada para os casos de trauma ou decorrentes de procedimentos cirúrgicos prévios. Senão, denomina-se síndrome estilo-hióidea apenas. Na SE, o PE tem mais de 25 mm e pode chegar a 105 mm.(1) A sua incidência é mais comum em adultos, entre 30 e 50 anos. O quadro clínico consiste de dor cervical e faríngea ao deglutir, falar, abrir a boca ou movimentar a região cervical. A dor pode irradiar para a região auricular. Ainda, é comum haver a sensação de corpo estranho na orofaringe. (2) O PE origina-se do segundo arco branquial ou cartilagem de Reichert. Esta cartilagem forma o estapédio, o PE do osso temporal, o LEH e o corno menor do corpo do osso hióide. Se houver uma zona persistente de cartilagem, pode haver potencial para crescimento e maturação óssea retardados. Descritores: osso hióide, cervicalgia, dor facial Abstract Stylohyoid syndrome (SHS) is the most common known cause of cervicopharyngeal pain. The authors report a case of a patient with such diagnosis, submitted to surgical treatment by intraoral approach. A 52-yearold female patient presented anterior neck pain, which used to irradiate to occipital and mandibular regions bilaterally. Besides, there was dizziness, aggravated by cervical rotation. She had already been treated 1.Cirurgião Plástico - Médico Contratado do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - RS Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 43 - Suplemento 1 - 2014 XXX Jornada Sulbrasileira de Cirurgia Plástica - Gramado - RS 28 Tratamento cirúrgico da síndrome estilo-hióidea por abordagem intraoral: relato de caso e revisão da literatura. Objetivo há história de trauma ou cirurgia, nem crescimento do PE. (1) O tratamento da SEH costuma ser inicialmente conservador. A cirurgia, como foi o caso da paciente em questão, geralmente é indicada e realizada após a falha das medidas não-invasivas. (1) Entretanto, há autores que citam que os resultados dos tratamentos conservadores a longo prazo não são bons. (2) É importante enfatizar que pctes. c/ outras síndromes álgicas podem permanecer c/ dor na região ou em outras próximas, sentindo-se frustrados por isso. Ainda, estes pacientes podem sofrer de quadros depressivos, frequentemente associados às dores crônicas. No caso apresentado, a pcte. tinha uma combinação de sintomas álgicos com vasculares, o que reforçou a indicação do procedimento. A abordagem dos PEs e dos LEHs pode ser tanto por via cervical (VC) como intraoral (VIO). (2) A VC ou externa permite uma visualização melhor das estruturas, mas deixa uma cicatriz cervical visível, exige dissecção próxima a estruturas neurovaculares importantes e pode resultar em lesões das mesmas. Já a VIO permite uma abordagem rápida e direta, sendo que a localização da incisão pode ser determinada pela palpação do próprio PE; os reveses são a dificuldade de visualização do processo por inteiro, o risco maior de infecção pós-operatória, o risco de sangramento por hemostasia inadequada e o desconforto residual para deglutir nas semanas seguintes. Em pctes. c/ amígadalas grandes, pode-se realizar amigdalectomia associada. (3) A VIO pode ser assistida por videoendoscopia. Após a cirurgia, há a preocupação de reossificação do PE e do LEH. O tratamento c/ AINEs parece reduzir isso. (1) Relatar o caso de uma paciente com SEH, tratada cirurgicamente por abordagem intraoral. Metodo Relato do Caso: Uma paciente de 52 anos foi apresentava dor cervical anterior, com irradiação para a região occipital e mandibular bilateralmente. Além disso, havia tontura, agravada pela rotação do pescoço. A paciente já havia sido tratada com analgésicos, antiinflamatórios não-esteróides (AINEs) e antidepressivos tricíclicos. Era tabagista pesada, fumando acima de uma carteira por dia há mais de 10 anos. A angiotomografia (Figuras 1, 2 e 3) demonstrava calcificação do LEH bilateralmente, com sobreposição destas estruturas sobre as artérias carótidas. Esta paciente foi submetida a uma cirurgia para ressecção parcial dos PEs. Escolheuse a abordagem intraoral porque os processos ósseos eram facilmente palpáveis na orofaringe e porqu e assim prescindiríamos de uma incisão externa e uma dissecção com risco de lesão nervosa. A paciente recebeu anestesia geral e foi intubada por via nasotraqueal. Infiltrou-se ropivacaína a 0,75% com adrenalina 1:100.000 nos pilares palatais e no palato mole. Duas incisões verticais foram realizadas, sobre cada um dos PEs. A dissecção foi romba até o plano ósseo. Os processos foram expostos e ressecados parcialmente, de forma a permanecer apenas 1 a 1,5 cm proximais. O sangramento foi mínimo. A sutura foi realizada com Vicryl 4-0, com pontos separados e em plano único. Conclusão A via intraoral para o tratamento da SEH pareceu ser efetivo neste caso. Resultados A paciente evoluiu bem, mas teve desconforto para deglutir por cerca de duas semanas. Não houve lesão nervosa detectada clinicamente. Os segmentos ressecados dos PEs foram enviados para exame anatomopatológico. O resultado foi tecido ósseo madura com medula óssea normocelular. A peça do lado esquerdo media 30 x 4 x 4 mm. Já a peça do lado direito, 27 x 3 x 3 mm. Referências 1. Valerio CS, Peyneau PD, Sousa ACP et al. Stylohyoid syndrome: surgical approach. J Craniofac Surg 2012; 23(2): e138-e140. 2. Carvalho ACG, Filho OM, Garcia IR Jr, Holanda ME, Menezes JMS Jr. Intraoral approach for surgical treatment of Eagle syndrome. Br J Oral Maxillofac Surg 2009; 47: 153-4. Discussão O diagn. da dor cervicofaríngea pode passar despercebido. Valério e cols. (2012) citam três entidades distintas: A SE, secundária a trauma ou cirurgia e com crescimento do PE; a SEH, s/ associação a trauma ou cirurgia, mas c/ crescimento do PE; e a síndrome pseudoestilo-hióidea, em que há dor, mas não 3. Mortellaro C, Bianucci P, Picciolo G et al. Eagle’s syndrome: importance of a corrected diagnosis and adequate surgical treatment. J Craniofac Surg 2002; 13: 755-8. Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 43 - Suplemento 1 - 2014 XXX Jornada Sulbrasileira de Cirurgia Plástica - Gramado - RS 29 Tratamento cirúrgico da síndrome estilo-hióidea por abordagem intraoral: relato de caso e revisão da literatura. Imagens Endereço para correspondência Rua Mostardeiro, 5 – 1009 - Moinhos de Vento CEP 90430001 - Porto Alegre – RS - BR 5199983979 / 5132112117 Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 43 - Suplemento 1 - 2014 XXX Jornada Sulbrasileira de Cirurgia Plástica - Gramado - RS 30