Capítulo 2- O Problema Agrícola Sinopse das aulas Versão Provisória O problema agrícola Visão tradicional 1 A visão tradicional do problema agrícola George Brandow(1977) identifica a essência do problema agrícola de “ rendimentos anormalmente baixos” como o resultado de baixos preços dos produtos agrícolas. Um problema adicional seria a diminuição do número de explorações agrícolas; Tweeten(1971) identifica o baixo rendimento como um sintoma com duas origens: um rendimento líquido demasiado baixo para suportar as despesas familiares e uma baixa taxa de rentabilidade (retorno) dos factores de produção; A visão tradicional do problema agrícola Brandow e Tweeten identificam um outro problema que denominam de variabilidade ou instabilidade dos preços e rendimentos agrícolas; Schultz(1945) sintetiza a sua visão do problema agrícola como abrangendo o baixo rendimento dos agricultores e a grande instabilidade do rendimento derivado da actividade agrícola 2 A visão tradicional do problema agrícola A percepção prevalecente do problema agrícola no pós-guerra coincide com a visão de Schultz de baixos e instáveis rendimentos originados pela estrutura económica particular do sector agrícola. O modelo do problema agrícola Os economistas agrícolas dos anos 40 e 50 do sec.XX explicavam o problema agrícola como o resultado dum modelo simples de oferta e procura. 3 As características básicas do modelo Procura muito inelástica; Oferta muito inelástica; A procura aumenta muito lentamente com o tempo; A oferta aumenta mais rapidamente com o tempo. As características básicas do modelo O modelo requere uma taxa de progresso técnico suficiente para causar um aumento da oferta superior à procura; Choques externos no curto prazo que causem grandes flutuações de preços. 4 Revisão de conceitos A elasticidade preço da procura é a variação percentual da quantidade procurada dividida pela variação percentual do preço; A elasticidade rendimento da procura é a variação percentual da quantidade procurada dividida pela variação percentual do rendimento Determinantes da elasticidade preço da procura Necessidades versus supérfluos; Disponibilidade de substitutos; Definição do mercado ver exemplo do mercado de bens alimentares e do mercado do sorvete de baunilha; Horizonte temporal ver exemplo do mercado da gasolina. Ver Mankiw Capítulo 5 pp91-113; 5 Revisão de conceitos Elasticidade preço da oferta é igual à variação percentual da quantidade oferecida dividida pela variação percentual do preço; Grande elasticidade preço da oferta para valores superiores a 1; Pequena elasticidade preço da oferta para valores inferiores a 1; Exemplos: mercado de trigo Ver Mankiw pp 105-107; Elasticidade zero curva de oferta vertical; Elasticidade infinita curva de oferta horizontal Elasticidade um curva de oferta na recta dos 45º; Curva da oferta abaixo da linha dos 45º elasticidade superior a 1; Curva da oferta acima da linha dos 45º elasticidade inferior a 1. 6 Verificação empírica do modelo A ineslasticidade procura preço e oferta preço foi confirmada para um grande número de produtos agrícolas; As discussões de Brandow, Schultz, Hathaway, Tweeten e outros como Willard Cochrane(1958) são dirigidas ao sector, logo as funções de oferta e procura são agregadas; Pesquisa da oferta e procura agregada, discutida por Gale Johnson(1950) e Cochrane(1958) confirmam que os valores das elasticidades são próximas de zero no curto prazo Limitações do modelo O modelo agrícola de oferta e procura é incompleto tanto do ponto de vista micro económico como por ser um modelo parcial da economia; Um modelo de equilibrio geral incorporando outros factores e mercados seria necessário para situar o sector agrícola na economia; Houthakker(1967) e Simon(1947) desenvolvem um modelo para dois sectores: agricultura e outras actividades. 7 Modelos do sector agrícola Equilíbrio geral e mercados de factores O modelo de equilíbrio geral Embora mais complexo este modelo mantém a relação entre produtividade agrícola e o problema agrícola; Como diz Houthakker: “ Quanto maior for o aumento da produtividade agrícola maior o desequilíbrio entre oferta e procura agrícola que tem de ser corrigido pela saída de mão de obra agrícola e baixos preços. Se a saída de mão de obra agrícola não for suficientemente rápida, um aumento da produtividade causa a baixa dos preços agrícolas e baixos rendimentos.” 8 Introdução do comércio internacional Segundo Gale Johnson(1973) e Edward Schuh(1974) tem-se negligenciado o comércio internacional na discussão do problema agrícola nomeadamente: Que o baixo crescimento da procura doméstica pode ser equilibrado pelo crescimento da procura externa; A procura inelástica de produtos agrícolas é irrelevante numa economia aberta. Consequências dum modelo com economia aberta A enfâse nos mercados internacionais teve consequências na análise do problema, nomeadamente ao lançar dúvidas sobre a relevância da inelasticidade da procura doméstica para a determinação do rendimento agrícola; Uma elasticidade maior implica que uma política de controlo da oferta para sustentar o rendimento agrícola é menos eficaz do que o sugerido no caso anterior; A visão de que a perda de mercados é razão suficiente para evitar grandes programas de controlo da oferta vulgarizou-se. 9 Síntese O modelo de oferta e procura agrícola integrou com sucesso a teoria e a verificação empírica estabelecendo como plausível que a ineslasticidade da oferta e da procura agrícolas causam instabilidade nos preços; Contudo a relação com o baixo nível de rendimento não foi fortemente consubstanciada. A investigação empírica (econométrica) NÃO estabeleceu uma ligação entre a tendência nos preços agrícolas e a tendência para a redução do rendimento agrícola. Os modelos de equilíbrio geral sugerem que a explicação deve ser procurada nos mercados de factores e não nos mercados de produtos. Mercados de factores e o problema agrícola Os modelos de equilíbrio geral não esclarecem as razões da diferença de remuneração dos factores de produção entre o sector agrícola e o resto da economia; Para explicar este diferencial nas taxas de remuneração é necessário representar o desequilíbrio entre sectores; Segundo Johnson(1958) o problema agrícola é o resultado do excedente de mão de obra com um rendimento abaixo do que poderia ganhar noutros sectores da economia. Tweeten(1971) sublinha que o capital fundiário em média é remunerado abaixo do seu custo de oportunidade. 10 Rigidez no mercado de trabalho agrícola Porque é que os agricultores e os trabalhadores agrícolas são incapazes de ajustar o seu comportamento por forma a ter salários equivalentes aos do resto da economia mesmo com muito tempo para se adaptar ás alterações verificadas no sector? Rigidez no mercado de trabalho: a visão neoclássica O desequilíbrio é um fenómeno de curto prazo devido aos custos de ajustamento; As diferenças no longo prazo são atríbuiveis a preferências não pecuniárias pela actividade agrícola, diferenças de skills, idade, problemas com a medição do rendimento agrícola e outros factores não comparáveis entre o sector agrícola e o resto da economia; 11 Inovação e procura de factores Schultz(1953) e Zvi Griliches(1958) estudaram a taxa de retorno do investimento em inovação. É consensual que tem sido alta, acima da taxa média de retorno do investimento na economia dos USA (Evenson and Kislev1975;Peterson and Hayami 1977). As estimativas da produtividade total dos factores aponta para um crescimento anual de 1.5% nos últimos 40 anos. Produtividade Total dos Factores É calculada como o rácio dum índice do produto agrícola dividido pelo índice agregado da terra, trabalho e bens de capital; Inovação tecnológica desta dimensão teria de ter efeito na procura de factores; Ruttan e Stout(1960), Binswanger(1974), Antle(1986), Hufman e Evenson (1989) verificam que a mudança tecnológica tem poupado trabalho. 12 Estudos de inovação tecnológica As séries de trabalho, terra e construções, maquinaria, adubos e pesticidas publicadas pelo USDA a partir de 1910 mostram uma tendência para uma grande redução na utilização de mão de obra paralela à redução no número de agricultores; Huffman e Evenson(1989) verificam que a despesa privada e pública em inovação tem um enviesamento para tecnologias que poupam trabalho e usam mais adubos. Desequilíbrio no mercado de trabalho Porque razão agricultores e trabalhadores rurais se mostram incapazes de ajustar o seu comportamento por forma a terem rendimentos ao mesmo nível dos outros sectores apesar do tempo de adaptação ser longo? 13 Visão neo-clássica O desequilíbrio é um fenómeno de curto prazo atribuível aos custos de ajustamento; As diferenças de rendimento de longo prazo têm origem em preferências pela actividade agricola, diferenças de formação, de idade, de medição ou devido à não comparabilidade de rurais e não rurais ( Johnson,1963). Extensão da visão neoclássica Enfatiza a rigidez e irreversibilidade do investimento no sector agrícola; A ênfase na rigidez foi desenvolvida por Johnson: “ A função oferta de bens de capital tem uma elasticidade preço para movimentos de redução de preços muito pequena porque a quantidade de activos existentes em qualquer momento poderiam ter um retorno maior noutras aplicações.” 14