Uso de testes de DNA em investigações forenses está prestes a decolar no Brasil C ena do crime. Uma simples bituca de cigarro repousa em um canto escuro da rua. Investigadores forenses levam-na para o laboratório e descobrem que a bituca só pode ter sido deixada no local por volta da hora do crime. Moléculas de DNA são coletadas nas partículas da saliva, e imediatamente são delineadas as características físicas capazes de identificar o criminoso. Parece enredo de seriado policial, mas será o processo de praxe da tecnologia forense brasileira até 2017. Esse novo método de investigação é capaz de isolar segmentos genéticos que codificam traços fenotípicos, como a cor dos olhos. Mas, para que o processo funcione por aqui, será preciso produzir uma espécie de mapeamento da ancestralidade da população para determinar as sequências padrão de tipos faciais. Uma vez concluído, o mapa servirá de base para futuras comparações. “Como o Brasil é um país miscigenado, as informações disponíveis em laboratórios europeus e norte-americanos não servem de referência”, diz a coordenadora do Laboratório de Genética Humana e Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Clarice Sampaio Alho. O projeto é desenvolvido em parceria com pesquisadores da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, que recentemente criaram um método capaz de construir um rosto a partir do DNA. O genoma wide consegue mapear o rosto humano com 1.200 pontos e descobrir quais marcadores genéticos são comuns a determinados tipos físicos. A partir das conclusões, a equipe do Laboratório de Genética Humana e Molecular da PUC-RS fará o caminho oposto: isolará as sequências genéticas mais recorrentes no estudo belga para então cruzá-las com fotos de voluntários brasileiros com essas mesmas sequências e apontar quais são as características determinantes. “O que lá pode indicar uma pessoa com nariz largo aqui pode fazer referência a alguém com nariz arrebitado, por exemplo”, afirma a pesquisadora Clarice. O estudo promete revolucionar o uso do DNA na esfera forense, ainda limitado no Brasil. Hoje, sua eficácia é mais evidente em casos de estupro, com a coleta de material genético do agressor a partir de fluidos trocados com a vítima, e na identificação de cadáveres. Em ambas as situações, a identificação é possível somente a partir da confrontação com o DNA de suspeitos ou de parentes, no caso de desaparecidos. Uma vez coletado na cena do crime, o material biológico é incluído na Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, implantada em 2013 e que reúne DNA de julgados e condenados por crimes hediondos, de cadáveres não identificados e de familiares de pessoas desaparecidas. Com 2.584 amostras, segundo relatório divulgado em março, o banco auxiliou 71 investigações criminais em todo o país até o final de 2014. QUEM É VOCÊ? Veja o passo a passo para Identificar um suspeito a partir de sua sequência genética AMOSTRAGEM > Vestígio que pode revelar o DNA — uma mancha de sangue em um lençol, por exemplo — é localizado e coletado. EXTRAÇÃO > Micropipetas ou um robô de extração usam microesferas magnéticas que aderem ao DNA para isolá-lo de outros componentes celulares. PURIFICAÇÃO > O DNA é retirado do interior das células. QUANTIFICAÇÃO > A amostra da etapa anterior é submetida a uma reação química para revelar se contém DNA humano em quantidade e qualidade adequadas. AMPLIFICAÇÃO > O DNA encontrado é submetido a outra reação química que produz bilhões de cópias das sequências que interessam. DETECÇÃO > As moléculas são detectadas em equipamentos espaciais, e o perfil genético é traçado.