Diferença entre salário inicial e de demitidos é a mais alta desde 2010

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 Diferença entre salário inicial e de
demitidos é a mais alta desde 2010
29/07/2013
Por Arícia Martins | De São Paulo
Fabio Romão, economista da LCA Consultores: "O poder de barganha do
trabalhador não é pequeno, mas já foi maior"
Os salários iniciais pagos no mercado formal não estão mais
tão atrativos este ano. Com o desaquecimento no ritmo de
contratações e a inflação mais alta, a diferença entre a
remuneração dos admitidos em relação aos demitidos, que
vinha em uma longa e contínua trajetória de queda, avançou
para 7,3% na média do segundo trimestre, maior percentual
nessa medida desde o último trimestre de 2010. Nos primeiros
três meses de 2012, essa relação chegou a atingir apenas 4,4%.
Os cálculos foram feitos pela LCA Consultores, a pedido do
Valor, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados (Caged).
Para especialistas, quanto menor a disparidade entre os
rendimentos de contratados e desligados, mais forte está o
mercado de trabalho. É natural, no entanto, que haja alguma
diferença, já que os salários de admissão englobam aqueles
que estão trabalhando pela primeira vez e, também, pessoas
mais experientes em uma nova ocupação, mas que podem ter
aceitado remuneração menor por terem sido demitidas do
emprego anterior.
No ano passado, quando a taxa de desemprego nas seis
principais regiões metropolitanas ficou em 5,5% - menor nível
da nova série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), iniciada em 2002 - os salários de
contratação foram, em média, 6,7% menores do que os
recebidos pelos dispensados.
É consenso entre economistas que o aumento desse diferencial
este ano é mais um dentre os vários indícios de
desaquecimento dos fundamentos do emprego. Há dúvidas,
contudo, quanto à hipótese de que as empresas estariam
tentando cortar custos por meio da substituição de mão de
obra cara por outra mais barata.
Segundo Fabio Romão, da LCA, a inflação mais elevada e o
menor reajuste do salário mínimo este ano, de 2,7% em
termos reais (ante 7,5% em 2012) pesaram contra a
remuneração dos entrantes no mercado formal, além do ritmo
mais fraco de criação de novas vagas. Romão observa que o
salário médio real de admissão subiu 1% em junho sobre igual
mês do ano passado, forte desaceleração frente ao avanço de
6% registrado em junho do ano passado.
Com o crescimento aquém do previsto da atividade desde o
fim de 2011, diz o economista, é de se esperar que as empresas
contratem iniciantes com salários mais modestos. "O poder de
barganha do trabalhador não é pequeno, mas já foi maior",
diz. Em sua opinião, ainda é cedo, porém, para apontar que os
empregadores vão aderir à prática de cortar profissionais com
salários mais altos para colocar em seu lugar pessoas menos
experientes e com remuneração menor. "Acredito que não seja
tão simples fazer essa troca porque o desemprego continua
baixo."
João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), ressalta que é normal que os salários dos
admitidos sejam menores do que os dos desligados. Mas diz
que, quando esse diferencial sobe ainda mais e a rotatividade
permanece elevada, esse movimento pode indicar que, de fato,
para se proteger de uma conjuntura mais adversa, as empresas
estejam substituindo trabalhadores que ganham mais por
outros com remuneração mais baixa.
Na média do primeiro semestre, foi de 4,35% a taxa de
rotatividade, dado que indica o percentual de funcionários em
relação ao estoque total de empregados formais que foram
substituídos no período - um foi demitido e outro foi
contratado em seu lugar.
Para Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, a diferença maior
entre os salários de iniciantes e desligados está em linha com a
alta mais moderada dos rendimentos, detectada pelo IBGE
desde dezembro passado. Em junho, a renda real média dos
ocupados superou em 0,8% o dado de igual mês de 2012,
frente alta de 1,4% em maio.
Em sua avaliação, um conjunto de fatores afetou os salários
iniciais, com destaque para o aumento menor do piso nacional
e a aceleração dos índices de preços, mas, também, dissídios
menos robustos do que no passado recente. "A economia
crescendo menos tende a ser um vetor de influência negativa
para os rendimentos". Não significa, no entanto, que as
empresas estariam substituindo funcionários mais experientes
por outros com salários menores, diz. "As empresas estão
tentando reduzir seus custos por meio das novas contratações,
mas não demitindo funcionários mais antigos. Se isso
estivesse acontecendo, o desemprego não seria maior entre os
jovens". De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação na
faixa etária de 18 a 24 anos foi de 14,1% em junho, enquanto,
no grupo que vai de 25 a 49 anos - maior fatia da População
Economicamente Ativa (PEA) - essa fatia foi de apenas 4,8%.
Alexandre Loloian, da Fundação Sistema Estadual de Análise
de Dados (Seade), diz que é "quase um consenso" entre
especialistas que a alta rotatividade no mercado formal ocorre
devido à substituição de funcionários mais caros por mais
baratos, mas destaca que a troca pode ser um tiro no pé.
"Empresas mais frágeis usam esse artifício para reduzir seus
custos, mas é uma tática um pouco suicida", diz Loloian, já
que, além de incorrer em elevados custos trabalhistas, o
empregador não conquista a cumplicidade de seus
colaboradores, o que afeta negativamente a produtividade do
trabalho.
Sobre a alta menor dos salários de admissão até junho,
Loloian diz que é mais um sinal de que o mercado de trabalho
não está mais tão apertado, mas descarta descolamento maior
entre a remuneração dos contratados e desligados daqui até o
fim do ano. "Não há nada que indique que a economia vá
mergulhar. Com a atividade andando de lado, esperamos que
o mercado de trabalho mostre uma melhora sazonal no fim do
ano".
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