Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. Polinização por morcegos em espécies de Caatinga ISABEL CRISTINA MACHADO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ARIADNA VALENTINA LOPES - INSTITUTO DE BOTÂNICA STEFAN VOGEL - UNIVERSIDADE DE VIENA, ÁUSTRIA [email protected] Estudos de comunidade envolvendo a polinização por morcegos em ecossistemas brasileiros são registrados unicamente para a floresta Atlântica do Sudeste do País, ocorrendo apenas citações de percentuais da síndrome de quiropterofilia para áreas de Cerrado. Para a Caatinga, são raras as publicações relacionadas com polinização por morcegos e, a partir de um estudo geral existente sobre as síndromes de polinização neste ecossistema, foi inferido que quiropterofilia ocorre em 13,1 % das 142 espécies analisadas. No presente trabalho são apresentados, pela primeira vez, os dados relativos à guilda de quiropterofilia em três áreas de Caatinga em Pernambuco, localizadas nos municípios de Alagoinha (8o27’S, 36o46’W), Buíque (8o67’S, 37o11’W) e Serra Talhada (7o59’S, 38o19’W). Foram examinadas a composição das espécies quiropterófilas nessas localidades, o hábito das plantas, os atributos florais, incluindo morfologia, tipo, dimensões, cor e odor das flores, bem como volume e concentração de néctar, estes últimos medidos com auxílio de seringas micrométricas (10, 25 e 50 ul) e de refratômetro de campo (0-50%). Vinte e duas espécies nativas de plantas visitadas e polinizadas por morcegos são relacionadas, distribuídas em 13 famílias e 15 gêneros. As famílias mais representativas são Leguminosae, Capparaceae e Cactaceae, cada uma com cinco espécies, havendo apenas três gêneros (Bauhinia, Capparis e Pilosocereus), dentre as 13 famílias, representados por mais de uma espécie. Os tipos florais mais comuns foram campânula e pincel. A maioria das flores apresentou flores brancas, seguidas por flores de cor creme, bege ou esverdeada/amarelada. O volume de néctar variou entre 13 e 500 µl e a concentração de açúcares entre 10 e 34%. Na comunidade como um todo, as flores apresentaram dimensões que variaram ente 15 e 150 mm. Com exceção de uma espécie (Mimosa lewisii – Leguminosae, Mimosoideae), cujas flores são pequenas (< 10mm) e organizadas em inflorescências capituliformes, que funcionam como a unidade de polinização, as demais espécies apresentaram flores grandes ou muito grandes (até 150 mm), sendo visitadas individualmente pelos morcegos. Mimosa lewisii constituiu o primeiro registro de polinização por morcegos no gênero e mais um exemplo de flores pequenas adaptadas Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. à utilização por esses animais. Outro exemplo que fugiu ao padrão geral de flores quiropterófilas foi Harpochilus neesianus (Acanthaceae), cujas flores são fortemente bilabiadas. As flores foram polinizadas principalmente por Glossophaga soricina, sendo também registradas visitas de Anoura geoffroyi e Lonchophylla mordax a algumas espécies de plantas. O comportamento de visita dos morcegos, associada à análise de registros fotográficos feitos durante as visitas indicam diferentes locais de contato do animal com pólen e estigma das flores, como membrana interfemural (uropatágio), asas, garganta ou cabeça. Os dados obtidos foram analisados em relação aos existentes para a Floresta Atlântica brasileira e outros ecossistemas tropicais, mostrando grande diversidade de espécies quiropterófilas nessas três áreas de Caatinga, mesmo quando comparados com ecossistemas mais úmidos. É ressaltada a importância da manutenção de processos ecológicos para a conservação da fauna e flora associada a essa interação mutualística (CNPq).