um olhar sob a história da arte moderna a partir da filosofia viquiana

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica
2008 – UFU 30 anos
UM OLHAR SOB A HISTÓRIA DA ARTE MODERNA A PARTIR DA
FILOSOFIA VIQUIANA
Janaína Balbino Lizardo1
Universidade Federal de Uberlândia – Av. João Naves D’Ávila, nº 2121. B. Stª Mônica. CEP.:38408-100
e-mail: [email protected]
Humberto A. de O. Guido2
Universidade Federal de Uberlândia
e-mail: [email protected]
Resumo: A arte se estabelece por diferenciada presença no imaginário, surgindo do ser que
antes de elaborar as palavras articuladas, as ciências abstratas, a tecnologia mutável, e toda a
gama ocidental-civilizada já era capaz do produzir artístico. A arte é como uma representação do
processo civilizatório da humanidade. Com isto, uma breve análise da arte moderna passa
necessariamente por um olhar sobre a contextualidade desta expressão. As concepções modernas
acerca do homem, (mesmo as tardias, configuradas como pós-modernas ou contemporâneas),
acerca do mundo e da epistemologia possuem os marcos do racionalismo e do empirismo. Aqui, a
arte moderna adquire significados ampliados pela concepção filosófica de Giambattista Vico;
apresentando a tecitura resultante de um método de pesquisa pautado na leitura introdutória sobre
a história da arte moderna e o texto fundamental do filósofo, a saber, “A ciência Nova”, bem como
de textos complementares e estudos de algumas obras de arte catalogadas como arte moderna.
Giambattista Vico compreende que a arte, como parte de todo conjunto mais extenso das
expressões humanas denominado por ele de poesia, tanto representa os avanços e as mudanças,
como também contribui para o desenvolvimento de todo o processo. A existência torna-se um
constructo humano permanente, pelo qual o Homem se faz e refaz constantemente, segundo os
ciclos de tolerância e intolerância que são constituídos, por sua vez, das transformações nas
mentes dos povos. O movimento constante do modelar humano do mundo e de si próprio capaz de
construir e desconstruir em busca de novas sociabilidades, partindo do enfrentamento do
isolamento ferino-primitivo que se rompe pelo esforço humano em comunicar-se e em significar é o
mesmo movimento da fundamentação epistemológica e filosófica dos saberes, pois feito pelos
homens de acordo com suas capacidades cognitivas, é o resultado apresentado uma expressão
deste mesmo movimento.
Palavras-chave: Filosofia Moderna, Filologia, Filosofia da Arte, Filosofia da História, História da
Arte Moderna.
1. INTRODUÇÃO
Primeiramente, a noção de Arte Moderna perpassa por um período repleto de outras tantas
expressões, criações e concepções do fazer humano que amoldam, em conjunto com a arte, o
1
Graduada e mestranda em Filosofia; pesquisadora do Centro de referência em Violência e Segurança Pública –
CEVIO/UFU e pesquisadora do Grupo de Estudos da Filosofia de G. Vico.
2
Professor Drº dos Programas de Mestrado em Filosofia e de Mestrado e Doutorado em Educação; orientador do Grupo
de Estudos da Filosofia de G. Vico (site: http://www.guido.prof.ufu.br/gpvico.htm ) e deste trabalho.
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homem moderno. A arte, porém, se estabelece por sua diferenciada presença no imaginário, pois
surge das entranhas permanentes do ser que antes de elaborar as palavras articuladas, as ciências
abstratas, a tecnologia mutável, e toda a gama ocidental-civilizada já era e sempre será capaz do
produzir artístico. A arte, então, se estabelece como uma representação do processo civilizatório da
nossa espécie; isto é, do processo humanizatório do próprio Homem, já que é a expressão
permanente existencial e significadora na história da humanidade.
Com isto, uma breve análise da arte moderna passa necessariamente por um olhar, mesmo que
tímido, sobre a contextualidade desta expressão. As concepções modernas acerca do homem,
(mesmo as tardias, configuradas como pós-modernas ou contemporâneas), acerca do mundo e da
epistemologia possuem os marcos do racionalismo e do empirismo. O último atesta a validação de
todo e qualquer conhecimento pela experiência e pela sua sistematização. O primeiro apresenta-se,
principalmeente, através do pensamento de Renè Descartes; um racionalista que pretende romper
com os aspectos culturais, históricos, sociais e artísticos do saber humano para estabelecer novas
diretrizes para as ciências e demais construções humanas, até então estigmatizadas e oprimidas pela
tradição medieval. Sua proposta apresenta um nível de cognição humana que concentra os anseios
modernos de rompimento com a tradição (base absoluta até então de todo avanço nos campos do
conhecimento). Sua necessária radicalidade, porém, tenta suprimir aspectos da cognição humana
que sempre acompanharam e sempre acompanharão o Homem – como, por exemplo, a participação
da história e da arte na elaboração humana acerca do seu universo, ciência, conhecimentos e mundo,
bem como na constituição de instrumentos capazes de contribuir para o aperfeiçoamento da própria
razão. Seus seguidores não ultrapassam a leitura do movimento da natureza, pois o indizível acerca
dos seus motivos e origens continua inalcançável; ao mesmo tempo em que, para Descartes, o
Homem precisa do isolamento absoluto para conhecer a verdade.
2. MATERIAIS E MÉTODO
A leitura sistemática e a elaboração de textos no decorrer do trabalho de interpretação e da
transdisciplinariedade constituiu o principal método aplicado ao material utilizado. Uma breve
análise da arte moderna passa necessariamente por um olhar sobre a contextualidade desta
expressão. Esta pesquisa, portanto, é pautada na leitura introdutória sobre a história da arte moderna
e do texto fundamental do filósofo Giambattista Vico, a saber, “A ciência Nova”, bem como de
textos complementares e estudos tanto de algumas obras de arte catalogadas como arte moderna
européia, quanto de livros que contribuam para o entendimento dos conceitos filosóficos viquianos,
das características culturais, históricas e artísticas modernas européias, e dos conceitos filosóficos e
científicos que participam da proposta aqui investigada.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1. Movimentos da arte moderna: autonomia, a tradição do novo e a expressão cubista sob as
significações viquianas.
Através de uma pequena observação da história das produções artísticas, culturais e filosóficas,
constata-se que a arte definiu-se até um determinado período de acordo com concepção da imitação.
Este valor clássico tanto reflete o momento na história da filosofia moderna acima descrito
brevemente, quanto também participa do contexto da sociedade medieval (final), moderna européia
e antiga greco-romana. A arte moderna que se apresenta a partir do início do século XX caracterizase principalmente pela necessidade de autonomia, mas até mesmo esta característica constitui-se de
reflexos do seu tempo. Na tentativa de rompimento com toda tradição e limitação, Descartes no
início do século XVII apresenta uma concepção racionalista dependente da natureza, pois não
avança além das suas determinações, principalmente quando desconsidera os outros saberes
humanos; ao definir o objetivo principal de rompimento e superação da tradição escolástica nos
campos de domínio da Filosofia, da Medicina, das ciências naturais, ele contribui –
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contraditoriamente e inesperadamente - para o salto que se concretiza na modernidade e na pósmodernidade expresso com magistral liberdade na arte moderna do início do século 20.
A arte moderna pretende romper com esta dependência, inclusive do valor da própria arte
baseada, então, na imitação desta natureza, e propõe um radicalismo formal. O desenvolvimento
desta perspectiva amplia o debate acerca das possibilidades artísticas e do próprio homem (pois,
para Giambattista, filósofo humanista, o homem não é somente o que pensa, mas também o que
realiza); abre caminho para novo nível de cognição, de entendimento sobre a realidade que se
apresenta, através das mãos do artista, não como algo absoluto e acabado, mas como algo em
movimento. A experiência estética moderna (que abarca o contexto, os detalhes do impacto sobre o
produtor e sobre o espectador), apresenta um movimento constante, através do qual é possível
visualizar a crise, a tensão, o novo emergindo constantemente da arte pela arte, da experiência que
pretende desconstruir e reconstruir novas sociabilidades, novas percepções.
A arte moderna desenvolve uma nova abordagem da arte num momento de esgotamento da
representação literal de um objeto ou assunto, pois traduz os novos anseios frente ao advento da
fotografia que transforma o recurso tradicional do registro, limitando o campo de atuação e
sobrevivência dos artistas, principalmente pintores e escultores. Concomitantemente com a
fotografia, os novos contextos filosófico, histórico, social, cultural propiciam novas visões artística
que se pautam na autonomia da interpretação do real, sendo este real composto pela natureza física,
ou pela sociedade em seus diversos aspectos. A nova arte preocupa-se com a elaboração, com o
entendimento e interpretação do objeto, com a função, materiais e texturas da arte.
O mesmo exercício reflexivo que Descartes empreende para romper com determinada tradição,
radicalizando o racionalismo abstrato, negando a influência de toda e qualquer tradição, os artistas
modernos também empreendem na sua proposta, mas com características ora semelhantes, ora
diferenciadas. Por exemplo, a construção de uma proposta na qual o espectador deve relacionar-se
de forma ativa com a obra é a mesma proposta de fundo da epistemologia cartesiana. A proposta
parte da concepção de liberdade e pretende conferir ao espectador o status de autônomo, através do
qual o significado, o conhecimento, a verdade são encontrados no percurso solitário da abstração.
Mas mesmo o homem moderno cartesiano que se dispõe a buscar solitariamente a verdade,
expressará o anseio do seu tempo ainda envolto pelo dogmatismo medieval que impõe a este
homem, ansioso por radical rompimento, um retorno para a subjetividade de forma também
dogmática, isto é, para a concepção de razão cartesiana absoluta capaz de libertar a mente das
falsas concepções. Na arte observamos este mesmo embate, por meio de diferente linguagem, mas
refletindo a universalidade da cognição humana que em todas as áreas dos saberes dialoga com os
estatutos do poder, da tradição e das necessidades constantes por ampliar o entendimento acerca do
universo e de si próprio. Até mesmo as concepções que se pretendem universais são, na verdade, de
acordo com o movimento da história humana e dos seus feitos, um corpo delgado e poroso,
influenciando e sendo influenciado pelos diversos significados da existência humana. O diálogo
entre os diferentes matizes da vida social é percebido em detalhes como estes embates; e deste
diálogo surge a própria crise constante na produção artística moderna.
O rompimento com a idéia necessária de representação literal que se identifica com as
concepções científicas, matemáticas e exatas tradicionais e estreitamente vinculadas às concepções
filosóficas moderno-cartesianas, é também expressão do que este nível de cognição é capaz – capaz
de somar, subtrair, conceber, criticar e de, então, subverter e remodelar. Um exemplo desta
possibilidade é o movimento denominado cubismo que apresenta uma expressão específica frente
ao conjunto permitido pela nova estética que não procura o significado no objeto final, na
mensagem ou objetivo, mas na representação, na linguagem básica da forma (textura, cor e
movimento). A partir do momento em que a forma em si possui um significado, o cerne do
cartesianismo (que estabelece a abstração como o ponto máximo das capacidades intelectuais) é
alcançado pela arte (rejeitada por ele enquanto parte da elaboração de um conhecimento válido)
que, assim, rompe com esta tradição ao apresentar o primitivo como a manutenção das capacidades
humanas para a reelaboração racional do real. O conceito de razão considerado, então, pela busca de
simetria com as ciências da natureza física que reflete (a busca) os valores potencializados e
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justificados pelo caráter absoluto da matemática, é invertido em seu âmago pela permanente
expressão que sempre conduziu o homem para a reconsideração do ato de significar (a ele mesmo a
ao Universo); pois a exatidão matemática e a exatidão geométrica são apropriadas como
instrumentos que transfiguram a forma na expressão cubista, apresentando, assim, perspectivas
diferentes para a observação do ser representado, dos valores que significam e, assim, do próprio
real. O novo ângulo que ultrapassa o plano da tela reverte o significado da própria exatidão e se
estabelece de forma permanente apenas quando permite a transformação, a ampliação do
significado daquele que a determinou enquanto ciência – o próprio homem. As formas que são
compreendidas anteriormente como uma possibilidade única de representação, aparecem
transfiguradas por matizes e ângulos diversos abertos pela própria matemática-geometria e o que
anteriormente se definia como certo e absoluto é desconstruído por mãos que, apropriadas destas
seguras ciências exatas, reconstroem outras possibilidades de verdade.
Esta reordenação resulta da constante crise entre racionalismo e irracionalismo na história da
arte e da filosofia, pois o que constituirá a “tradição do novo” na arte moderna, assume seu aspecto
racionalista no convite de interação ao espectador com a obra, num convite explícito à reflexão, à
avaliação e conhecimento dos seus valores impressos no gosto e na relação com o objeto. A
tradição do novo, no entanto, não depende da reação do público, pois a arte pela arte possui um
compromisso maior com ela mesma – e assume seu aspecto irracional (da tentativa de total
abandono dos limites e regras). Rompe-se com a necessidade de significar algo de forma absoluta e
clara, pois a obra aberta reflete as novas concepções nas quais a obra se caracteriza pela disposição
e exposição para diversos significados – existem diversas possibilidades para o fazer humano e não
apenas o estatuto da tradição.
Giambattista Vico compreende que a arte, como parte de todo conjunto mais extenso das
expressões humanas denominado por ele de poesia, tanto representa os avanços e as mudanças,
como também contribui para o desenvolvimento de todo o processo. A existência torna-se um
constructo humano permanente, pelo qual o Homem se faz e refaz constantemente, segundo os
ciclos de tolerância e intolerância que são constituídos, por sua vez, das transformações nas mentes
dos povos, ora mais tolerantes com determinada forma de organização social e de concepções
filosóficas, científicas, ora mais intolerantes e desejosas de avanços e transformações específicos. O
movimento constante do modelar humano do mundo e de si próprio capaz de construir e
desconstruir em busca de novas sociabilidades, partindo do enfrentamento do isolamento ferinoprimitivo que se rompe pelo esforço humano em comunicar-se e em significar é o mesmo
movimento da fundamentação epistemológica e filosófica dos saberes, pois feito pelos homens de
acordo com suas capacidades cognitivas, é o resultado apresentado uma expressão deste mesmo
movimento. Segundo Bosi “Ao homem, pensa Vico, é dado conhecer por dentro só o que ele e os
outros homens fizeram, isto é, a História, a poesia, a religião, a política, o direto. A teoria das
ciências do homem é a teoria que sua práxis tornou possível; pelo que, a filosofia é, sempre
metodologia da cultura como trabalho humano.”(2000).
A autonomia artística se apresenta como um conceito também delgado e poroso, refletindo
seu tempo e contribuindo para a modelação deste mesmo tempo. Esta autonomia, necessariamente,
possibilitou a realização das diversas experiências fundamentais para as criações modernas e para a
instituição desta nova tradição, que surge denunciando e relacionando-se com a emersão do
industrialismo, desconstruindo a linguagem clássica enquanto busca o que consideram neste
momento como essencial – mesmo que encontrado na fragmentação humana moderna, isto é, o
sujeito, seu pensamento, sua ação, suas possibilidades de resignificação. Esta linguagem pretende se
desvencilhar dos limites categóricos e recriar os significados concentrados nela mesma (por
exemplo, forma, matéria, espessura, cores) enquanto uma linguagem autônoma. Todo o conjunto de
experiências durante o ato de criação perpassa esta linguagem que, somente assim, é por si só. Com
isto, a razão do artista moderno, ilimitado, inquieto, ousado, ambíguo, se expressa em uma arte que
exige nova relação do público que precisa também se relacionar com o movimento das mãos do
artista, isto é, sair da contemplação passiva para interagir, refletir, sentir, ser penetrado por
compreender a exposição dos novos horizontes ainda por serem construídos. Esta separação
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essencial entre o público e arte moderna garante o desenvolvimento desta proposta que pretende
dialogar com as diferenças tanto quanto reflete a efervescência dos contatos com as diversas
culturas e sociedades – capaz de garantir a expansão do olhar humano sobre seu próprio horizonte,
alargando as perspectivas na elaboração moderna do inacabado.
Os movimentos da história da arte moderna refletem a concepção viquiana de que é necessário e
fundamental considerar nas construções epistemológicas, filosóficas e científicas a obscuridade das
mentes, isto é, o desconhecido, o incompreendido pela pura abstração racional; e abrir uma nova
possibilidade para a própria razão. A origem da cognição humana permanece sobre os escombros de
todo sistema totalitário, seja este sistema um modo de governo, seja uma sistematização do saber
filosófico ou científico, seja uma tradição artística; o inatingível pela forma totalitária de se
conceber o mundo enfrenta e enfrentará sempre a força da particularidade universal que responde
aos golpes da realidade espontaneamente e emerge como uma linguagem primitiva, mesmo que
reelaborada pelos avanços intelectuais. Os traços primitivos do cubismo seduzido pelas máscaras
africanas são severamente calculados em traços geometricamente estudados; surgem como
resultado da busca pelo significado da humanidade – Homem moderno capaz de calcular, traçar,
medir, delimitar. Capaz também, pelos avanços resultantes dos grandes cálculos, de guerrear,
explorar e exterminar, de se apropriar da verdade inacabada e humana e, somente a partir desta
verdade, conferir validade às produções. Homem universal capaz de contar, ordenar e, então,
fragmentar para reordenar; conhecer, formalizar, estruturar e, então, distorcer para resignificar,
desconstruir e, sucessivamente, das ruínas imagina e realiza os mesmo traços significativos através
de novas formas, novas possibilidades, novos significados. Vico reconhece nas expressões
humanas, bem como na arte, instrumentos capazes de despertar no homem estes reais significados
da sua dignidade humana, isto é, do que estabelece sua cognição enquanto uma epistemologia
válida – o estabelecimento válido de significados que norteiam a vida no planeta. Esta
epistemologia é um constructo, tal qual observamos nas artes e em todos os campos do
conhecimento – a verdade é um processo humano e inacabado, assim como a ciência, o
conhecimento, a Filosofia.
O cubismo (figuras 1 e 2) é um movimento artístico que contribui para uma reflexão a cerca
da importância da universalidade dos sentimentos e permite uma compreensão mais viquiana, isto é,
mais humana acerca das possibilidades e significados do homem. A importância de Picasso neste
movimento é fundamental.
Constata-se forte influência da arte africana, suas convenções estilísticas, mas
principalmente, sua austeridade intelectual, na qual a idéia acerca do tema é mais importante do que
a representação naturalista; em outras palavras, a abordagem conceitual do tema herdada da arte
africana (figuras 3 e 4).
Com o desenvolvimento do cubismo, há o rompimento com a perspectiva matemática e
científica (rompimento este possível apenas com a utilização dos seus instrumentos) presente antes
nos valores clássicos da imitação da natureza e inaugura, então, uma nova perspectiva denominada
de visão simultânea, capaz de abarcar detalhes do 180º graus ao redor do modelo no plano único da
representação. A idéia principal é de unir o tema central ao espaço de representação, isto é, ao plano
da tela – dialogando representação com espaço de representação e objeto representado (nos 180º
graus). Cada artista cubista elabora os elementos do movimento de forma específica, expressando as
influências e as suas elaborações pessoais; mas sempre apontando para a renovação do conceito de
forma.
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Figura 1: PICASSO, P. Les Demoiselles d'Avignon, 1907, óleo.
http://cgfa.sunsite.dk/picasso/index.html
Figura 2: PICASSO, P. Menina com bandolim.
Museu de arte moderna Nova York.
http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/artes/picasso/menina.htm
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Figura 3: Máscara Punou Gabon Madeira século 19
http: //aartemoderna.blogspot .com/2006/04 /arte-africana.html
Figura 4: Foto datada pela década de 10.
http://www.caminhosancestrais.com.br/index.php?option
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma constante durante todo o processo de desenvolvimento e aprimoramento cubista é o
compromisso intelectual e o confronto com a realidade (atividade de base filosófica, pois a filosofia
caracteriza-se pelo enfrentamento do aceito tradicionalmente. Segundo Vico, a Sabedoria não é
mérito dos Doutos e, aqui, reconhecemos esta dignidade no enfrentamento dos artistas com a
verdade estabelecida; a verdade depende sempre dos feitos humanos). A construção de uma nova
realidade cubista abre espaço para o questionamento e a superação de questões relacionadas à
suposta separação entre abstração e representação (limitada à leitura e repetição do movimento da
natureza física). O significado deste salto ainda está por ser compreendido pelas diversas áreas da
subjetividade humana, ainda limitada em diversos aspectos aos cálculos cartesianos. O cubismo é
um vértice entre a abstração, a representação, e o incógnito irracional que amplia os significados,
bem como é ponto de encontro entre o real matemático e as possibilidades das potencialidades
humanas de apreensão, elaboração, imaginação e remodelação. Sua ótica utiliza a matemática
criada pelo homem e avança através das dimensões do olhar que se movimenta com o corpo e o seu
cerne – o ser, o mundo, as significações humanas do Universo e do real. A importância desta arte de
experimentação está refletida não somente na herança das obras e nas perspectivas técnicas, mas,
sobretudo, no avanço e na contribuição quanto às perspectivas da compreensão do real. Seu produto
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do diálogo entre a conceituação africana, a expressão moderna da intensidade e do rigor pictório e o
radicalismo da matemática e da geometria rompe com os limites tradicionais e reordena as linhas
capazes de ampliar o alcance do pincel e das vistas, compondo sobre os frutos da África, sobre a
pressão das tradições, emergindo de uma nova razão3 que dialoga com o real re-transfigurado.
Novas possibilidades pictórias, sensoriais, cognitivas? – Novas perspectivas do fazer-ser humano,
segundo a perspectiva viquiana da sabedoria poética humana.
5. REFERÊNCIAS
ARGAN, G. C., FAGIOLO, M., “Guia de História da Arte”, Lx., Estampa, 1992.
BOSI, Alfredo. “O Ser e Tempo da Poesia”, 6.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
DESCARTES, René. “Meditações sobre Filosofia Primeira”, Tradução: Fausto Castilho – Ed.
Bilíngüe em latim e português – Campinas, SP: Editora UNICAMP, 2004.
GUIDO, Humberto. “Gimabattista Vico: A filosofia e a educação da humanidade”, Petrópolis,
Editora Vozes, 2004.
HADOT, Pierre. “O que é Filosofia Antiga?”, Tradução de Dion Davi Macedo. São Paulo: Edições
Loyola, 1999.
HOMERO. “Odisséia”, Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Editora Três, 1974.
HOMERO. “Ilíada”, Tradução de Carlo Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Editora Três, 1974.
JANSON, H. W. “História da Arte”, Lisboa, F. C. Gulbenkian, s.d.*
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Nova razão: nova, apesar de já conhecida, pois constituída pela permanência do homem do tempo histórico, na face do
planeta. Conhecido pode ser o que elo homem é feito, segundo a epistemologia viquiana.
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