1 FOURVIÈRE: A CAMINHO DO SEGUNDO CENTENÁRIO Contemplar a história em nossas vidas a partir de hoje I. UMA SEMENTEIRA DE INQUIETUDES COMPARTILHADAS 1. E subiram a colina de Fourvière 1. Os doze seminaristas chegaram ao santuário de Fourvière depois de uma grande peregrinação interior. O caminho espiritual teve início em Le Puy como o de tantos romeiros que se propõem a se dirigir ao sepulcro dos Apóstolos a caminho de Jerusalém, a partir de Santiago ou de Roma. Em Le Puy, Courveille inicia uma caminhada interior ao escutar uma voz “não com os ouvidos do corpo, mas do coração” que lhe dizia: “O que desejo é que nestes tempos de impiedade e incredulidade exista uma Sociedade consagrada a mim”1. 2. O itinerário interior transcorreu pelas salas de aula e pátios, primeiro no Seminário Maior de Le Puy e depois no de Lyon, como consequência da nova divisão da diocese. Ali Courveille encontra Champagnat e outros companheiros. “Éramos uns 12. Falávamos sempre que podíamos sobre a Sociedade de Maria. Isso durou até 1816, quando fomos juntos a Fourvière para nos consagrar à Santíssima Virgem. Eu celebrei a santa missa. Todos os demais comungaram de minhas mãos, tanto os sacerdotes como os que não o eram”2. As sementes espalhadas ao longo deste fecundo caminho espiritual germinaram e cresceram em uma sementeira de inquietudes compartilhadas e foram confirmadas com uma profissão de fé e uma consagração aos pés de Maria. 2. Para se vincular às origens pela fé 3. Esse grupo de seminaristas subiu a colina de Fourvière, a um lugar alto, à “colina que reza”, onde a natureza oferece uma linguagem de estética universal e o crente comunga com a transcendência. Este pequeno grupo levava na alma o germe, a semente de um novo modo de ser Igreja que deseja confiar à Mãe do Senhor, à companheira que abre caminho com eles pelas trilhas da fé. Fourvière é a primeira presença mariana no carisma fundacional. Essa pequena célula de Igreja que nasce em peregrinação às fontes, às origens da cultura dos antepassados, mas também às origens da fé, que repousa seus olhos em Maria, a crente fiel. 4. Sobre as bases da antiga cidade pagã agora se ergue um santuário dedicado a Maria porque nesse lugar foi martirizado São Potino. Detido em 177 sob o reinado de Marco Aurélio junto com um grupo de cristão, que seriam os primeiros mártires de Lyon, morre na prisão em consequência das torturas infligidas por seus algozes. Seu sucessor será São Irineu, que havia recebido a fé de São Policarpo que por sua vez a recebera do apóstolo João. Esta colina recebeu a semente da fé e foi regada com o sangue dos mártires. Este é o ponto de encontro onde estes seminaristas de Lyon construíram a 1 2 OM 718, 1-21. OM 718, 1-21. 2 primeira igreja, que pelos testemunhos da fé chegou até eles e vai servir de referência para sua missão. 3. Declarar suas intenções e seus propósitos 5. Os peregrinos são 12 apóstolos recém-eleitos para a missão. Assessorados por seu diretor espiritual vislumbraram amplos horizontes para seu futuro. Seis eram sacerdotes; os outros ainda não haviam recebido a ordenação sacerdotal. Levavam no bolso uma declaração de intenções3 escrita para ser colocada aos pés da milagrosa estátua da Senhora de Fourvière junto com o compromisso de se consagrar à nova Sociedade de Maria. 6. “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tudo para a maior glória de Deus e em honra de Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós, abaixo-assinados, querendo trabalhar para a maior glória de Deus e de Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, declaramos e afirmamos que temos a sincera intenção e firme vontade de nos consagrar4, logo que seja possível, na Instituição da mui piedosa Congregação dos Maristas. Pelo presente ato e com nossa assinatura, entregamos, com tudo o que possuímos, irrevogavelmente e enquanto seja possível, à Sociedade da Bem-aventurada Virgem Maria”. 7. A Mãe de Fourvière acolhe e acompanha o projeto desta pequena célula da Igreja apostólica que nasce. “Assim como fui o apoio da Igreja nascente, assim mesmo o serei nos últimos tempos. Estas palavras presidiram o começo da Sociedade”5 e serviram de fundamento e alento”6. A “sincera intenção e firme vontade de se consagrar” representa o compromisso coletivo. A promessa dos peregrinos expressa “pelo presente ato e com nossa assinatura” se realiza no dia 23 de julho de 1816. Essa data histórica foi considerada o momento fundacional e o primeiro ato oficial, embora privado, realizado pelos candidatos à Sociedade de Maria. 4. A consagração pessoal de Marcelino 8. No dia seguinte, antes de deixar Lyon, Champagnat retornou ao santuário de Nossa Senhora de Fourvière para realizar sua consagração pessoal a Maria e encomendar-lhe seu apostolado. É uma iniciativa que nasce de seu coração e marca sua personalidade dentro do grupo. Após a santa missa, prostrado aos pés da imagem de Maria, pronunciou esta consagração que ele mesmo havia composto: “O texto não é propriamente um voto ou uma consagração, mas uma declaração de intenções”. Juntin Taylor sm. – François Drouille, sm. Subieron a Fourvière. Conmemorando el bicentenario de la promesa marista 1816-2016, p. 21. 4 “A consagração é um documento solenemente de alta categoria. O texto está redigido na primeira pessoa do plural, “nós”. Seus autores se identificam formalmente como “nós, abaixo assinados” o que parece identificar que este texto será um documento assinado e lido em voz alta, de onde se esperaria algo como “nós, aqui reunidos”. O fato de estar redigido em latim, junto com o uso de uma série de expressões formais e enfáticas, atesta o desejo de os aspirantes a maristas de lhes dar o mais alto grau de solenidade de que eram capazes”. Juntin Taylor sm. - François Drouille, sm. Subieron a Fourvière. Conmemorando el bicentenario de la promesa marista 1816-2016, p. 21. 5 OM 582. 6 OM 674 3 3 Virgem Santíssima, a ti, tesouro de misericórdia e canal da graça, elevo minhas mãos suplicantes e te peço encarecidamente que me acolhas sob tua proteção e intercedas por mim diante de teu adorável Filho, para que se digne conceder-me as graças necessárias para um digno ministro do altar. Quero trabalhar sob teu auspício na salvação das almas. Nada posso, Mãe de misericórdia. Nada peço, mas tu podes tudo com a tua intervenção. Virgem Santíssima, deposito em ti minha confiança. Ofereço-te, te dou e consagro minha pessoa, meus trabalhos e minha vida inteira. 9. Ao descer de Fourvière, a peregrinação espiritual deste grupo de apóstolos continuou pelos caminhos da vida: “Após desta cerimônia”, disse Courveille, “cada um se dirigiu ao lugar designado pela autoridade eclesiástica”7. No entando, todos regressariam, em diversas ocasiões, aos pés da Virgem de pele morena, símbolo de inclusão e universalidade, para colocar em corações de ouro e prata so nomes dos missionários que levarão a fé para terras longíncuas. Champagnat colocou em L’Hermitage dentro do coração de prata, suspenso no pescoço da imagem de Maria, os nomes dos irmãos antes de enviá-los em missão às paróquias e vilarejos onde iriam desenvolver seu apostolado de catequistas e educadores. II. UM NOVO COMEÇO PARA NOSSAS VIDAS 1. Hoje também peregrinamos a Fourvière 10. Hoje seguimos uma tradição centenária ao peregrinar espiritual e materialmente a Fourvière seguindo o exemplo de Champagnat e seus companheiros. Assim fizeram centenas de maristas. Entre outros muitos, chegou aos pés da Virgem Maria de rosto moreno, em peregrinação espiritual, o Irmão Francisco, ao escrever sua Circular de 2 de fevereiro de 1885, por ocasião da proclamação do dogma da Imaculada. E a intuição de seu coração interpreta assim a Sociedade de Maria que já começa caminhar pela história através dos irmãos: 11l. Precisamos buscar em outro lugar motivos de confiança, sinais da poderosa e maternal proteção de Maria e de marcas sensíveis de sua compassiva bondade e de sua ternura incomparável para nós, seus filhos? Nossa Sociedade não nos oferece isso continuamente e cada um de nós não é seu testemunho? Perguntemos a este piedoso noviço, ao jovem irmão, a nossos irmãos carregados de horas de aula, a nossos irmãos Diretores, em qualquer situação em que tenham se encontrado, perguntemos-lhes quem os sustentou nas dificuldades, nas aflições e nos perigos; quem os preservou da desgraça de ofender a Deus, de ceder à tentação e até de perder a vocação; quem os fez superar todos os obstáculos que encontraram; como tiveram êxito em seu trabalho, em seu cargo, em seu estabelecimento; quem fez de seus alunos jovens piedosos, humildes, assíduos e respeitosos; e todos eles nos responderam: É a Maria a quem devemos agradecer; é porque recorremos a Maria, foi porque invocamos Maria, porque nos consagramos a Maria, porque nos colocamos sob sua proteção e em suas boas mãos os nossos meninos, nosso trabalho e nossos 7 OM 718 [20] 4 estabelecimentos que todas as graças nos forma concedidas. Oh! Que grandes coisas, que milagres, que prodígios de bondade, misericórdia e amor foram realizados por essa Mãe terna em favor de seus queridos filhos e que tanto a amam e se esforçam para fazê-la amar e invocar quantas vezes lhes seja possível.”8 Esta terna Mãe, nossa vida e nossa esperança, não se deixará vencer em generosidade e em amor: ela nos dará com segurança sinais novos e claros de sua bondade e de sua poderosa intercessão. O passado é uma garantia segura do futuro. Quem invocou o nome de Maria e não foi atendido? Quem implorou sua assistência e foi abandonado? Nunca se poderá dizer que esta Virgem poderosa e fiel, em quem se igualam o poder com o amor e cuja herança é a ternura e a misericórdia, tenha falhado com qualquer pessoa que a tenha invocado, em qualquer situação, circunstância ou necessidade espiritual ou corporal em que se tenha encontrado.9 Feliz o Irmãozinho de Maria que dá boa formação a seus alunos sobre as grandezas e bondades desta terna Mãe, que os acostuma a se consagrar a ela cada dia e a recorrer à sua maternal proteção em todas as necessidades, a invocá-la em todos os perigos a que possam estar expostos e em todos os males da alma e do corpo! Felizes também os meninos confiados a esse Irmão! Pode-se afirmar que sua formação será para eles uma fonte de virtudes, santidade e amor a Maria que lhes saberá inspirar, afastando-os do vício, e os conduzirá seguramente nos caminhos da salvação e os devolverá, cedo ou tarde, ao bom caminho se a fraqueza ou a ignorância fizerem se afastar deles algumas vezes. Que consolo para um irmão educador! Que motivo de confiança e de estímulo! Quão feliz se sentirá ao ver todos os seus alunos rezando a Maria, consagrando-se a Maria, amando-a e honrando-a, formando-se sob seu cuidado para servi-la todos os dias de sua vida!”10 12. Guias espirituais e peregrinos como os irmãos Juan María Merino, Balko ou Gabriel Michel ajudaram muitas pessoas que subiram a Fourvière para descobrir a história do carisma marista nesta Basílica. 2. O laicato marista em Fourvière 13. Com Champagnat como pai de uma nova família carismática, subiram também a Fourvière leigas e leigos a quem o carisma de Champagnat deu vida. O jovem Champagnat com seus 28 anos recém-completados e sua opção de vida assumida vocacionalmente como sacerdote, ao subir em peregrinação a Fourvière leva sobre seus ombros todos os jovens que o seguirão ao longo da história atraídos por seu carisma. Todos os que foram fecundados pelo carisma de Champagnat estiveram ali com Marcelino. Estas são algumas das consequências históricas de um pequeno ato de peregrinação a um santuário. Carregamos o futuro no coração. Hoje os jovens maristas iluminam seu caminho de fé com a luz que resplandece da visão de Champagnat aos pés de Maria em Fourvière. 14. Diante da Senhora de rosto moreno estava o jovem o jovem Fundador que um dia talhará a rocha, o Fundador que reunirá em torno da mesa uma comunidade de irmãos, o Fundador que oferecerá a água da rocha para saciar a sede de espiritualidade, o 8 Ir. Francisco. Circulaires, T. 2, p. 214. Circular del 2 de febrero de 1885. Ir. Francisco. Circulaires, T. 2, p. 212. Circular del 2 de febrero de 1885. 10 Ir. Francisco. Circulaires, T. 2, p. 218. Circular de 2 de fevereiro de 1885. 9 5 Fundador que dará vida a uma família carismática que estará presente em numerosas dioceses do mundo. Ali rogou a Maria por todos os irmãos e irmãs dos quais precisaria para realizar o projeto que colocava a seus pés. Ali, no coração daquele jovem Marcelino, foi encomendada e consagrada a Maria a família marista de Champagnat, a nova família carismática com a qual consolidaria no futuro uma Igreja de comunhão. Ali, no coração de Champagnat, estivemos todos e ali queremos estar de novo para tomar consciência de nossas origens. II. CONSAGRAR O CAMINHO DA VIDA 1. Caminhar pela vida como consagração 15. Consagrar-se é entregar-se. Fourvière inspira os caminhos da nossa consagração, o futuro novo de nossa existência, o novo início da fundação marista. Consagrar-se a Jesus por meio de Maria é atualizar o compromisso de nosso batismo ou de nossa profissão religiosa para acolher a aurora dos novos tempos. Consagração batismal e consagração religiosa. Fourvière convida a caminhar pela vida como consagração que remete às origens para partir rumo às novas terras de missão. Os doze seminaristas, ao se consagrarem a Maria em Fourvière, celebraram um novo nascimento que podemos comparar com o nascimento do batismo pela água e pela palavra. A consagração de Champagnat e seus companheiros em Fourvière é um sinal de ressurreição e de vida nova. É um ato de opção por Jesus Cristo, guiados por Maria e de entrega à sua Igreja para sempre. A consagração a Maria é uma denúncia profética da malignidade que domina tantas consciências e condutas humanas que impedem a chegada do Reino de Deus. 16. Consagrar-se à obra de Maria é entregar-se à Igreja para construir uma Igreja de comunhão tomando Maria como guia. Consagrar-se a Maria é optar por um serviço de qualidade à Igreja por meio da educação da fé das crianças e dos jovens. Consagra-se a Maria é colocar-se ao lado dos pequenos e marginalizados 2. Descobrindo o rosto mariano da Igreja 17. A promessa de Fourvière é uma renovação solene e uma explicitação das promessas do batismo desse grupo de seminaristas peregrinos. Uma promessa se baseia na fé e na confiança. Estas são as promessas batismais, o compromisso incontestável de todo cristão: “Entrego-me a Jesus Cristo e a sua Igreja para sempre”. Os maristas expressaram sua entrega a Jesus e à expansão de seu Reino colocando Maria como mediadora: “A Jesus por Maria”, diz seu lema. Consagrar a pessoa e as ações a Jesus por Maria é atualizar o compromisso do batismo ou da profissão religiosa para acolher a aurora dos novos tempos. A entrega da Igreja é um chamado característico desse grupo de seminaristas. “Maria, que consolou, protegeu e salvou a Igreja nascente, também a salvará nos últimos 6 tempos”. Para ele, “Maria se servirá de nós, seus filhos. Tornemo-nos dignos; por nosso intermédio ela lutará contra o demônio e o mundo, por meio de nós ela vencerá se nos colocarmos ao seu lado pela pureza de nossa vida, a inocência de nosso coração e fazendo-nos merecedores de suas graças e favores”11. 18. Os protagonistas da promessa de Fourvière afirmam: “Entregamo-nos com todo o coração”. Champagnat deixa isso muito claro com um matiz muito pessoal: “Ofereço a ti, dou e consagro minha pessoa, meus trabalhos e minha vida inteira”. A promessa de Fourvière é consequência prática da promessa batismal e com ela se inicia a Sociedade de Maria. 19. Esse momento histórico quando recordamos com gratidão a promessa desses jovens seminaristas em Fourvière é propício para que assumamos em nosso interior um novo nascimento pela água e pela palavra. “Pelo batismo somos novamente gerados como filhos de Deus, chegamos a ser membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e nos tornamos partícipes de sua missão”. Colin quando já via as primeiras expressões concretas da Sociedade, convidava seus seguidores com estas palavras: “É necessário tentar fazer o possível agora, no momento presente; mais adiante a obra crescerá. Deus suscitará alguém; os homens não amadurecem de repente, e as obras tampouco. No início não são grandiosas”12. Por isso convida a atuar imediatamente com a confiança em deus para dar solidez às decisões. “Se pretendermos atuar por nossa própria conta somos uns loucos. Nossa maneira de ver não pode produzir a não ser um efeito passageiro, e a Sociedade deve ser uma obra duradoura na Igreja”13. III. A ORIGINALIDADE DE UM NOVO ROSTO DA IGREJA 1. Um futuro de novidade profética 20. Os futuros maristas intuem o futuro de suas vidas como uma novidade profética. “A Sociedade de Maria não deve tomar como modelo nenhum dos grupos que a precederam. Nada disso. Nosso modelo, nosso único modelo deve ser e é a primitiva Igreja. E a Santíssima Virgem que realizou então grandes maravilhas as realizará agora, no final dos tempos, ainda maiores, pois o gênero humano estará mais doente” (OM 63). E consolidam sua identidade em torno de um nome carismático: “Sintamo-nos felizes de ser membros de sua Sociedade e de levar seu nome. As comunidades que nascem invejam esse formoso nome” (OM 674). As constituições dos irmãos acolheram essa inspiração: Champagnat “nos deu o nome de Maria para que vivamos de seu espírito” (C 4). 2. Maria na Igreja nascente 21. O papel de Maria na Igreja nascente após a Ascensão de Cristo se converteu em uma potente fonte de inspiração para Colin em sua reflexão sobre as origens da Sociedade de Maria. “Os começos da Sociedade são como os da Igreja”14. Em um ambiente eclesial 11 Colin. Au réfectoire pendant la retraite général. Mayet 3, 271s. Colin. Au P. Alphonse Cozon. APM 249, Agenda Cozon. 13 Cozon. Postulatum au chapitre général de 1880-1884. APM 322.581 et 811.3 (A5). 14 Colin. Entretien a table. OM 425, [2]. 12 7 no qual a Igreja pós-revolução francesa concebe a Igreja como uma cidade fortificada e os crentes como um exército que há de lançar a última batalha contra o mal e de colocar a cabeça da serpente sob seu calcanhar, os seminaristas que peregrinam a Fourvière intuem um novo modo de ser Igreja em que se veem a si mesmos com uma identidade original: assim como os seguidores de Inácio de Loyola intuem uma “Sociedade de Jesus” a serviço de uma nova Igreja e se denominarão “jesuítas”, os membros da nova “Sociedade de Maria” se chamarão “maristas”. “A Sociedade não toma como modelo nenhuma outra existente”15. “Não temos outro modelo que a Igreja nascente”16. “A Sociedade começou como a Igreja. É necessário que sejamos como os apóstolos e como os que aderiram a eles numerosos e que eram numerosos: Cor unum et anima una. Amavam-se como irmãos”17. 3. Abertos à universalidade 22 . Descobrimos em Colin intuições semelhantes às de Marcelino que sonhava com todas as dioceses do mundo. Uma perspectiva muito atual quando se fala de intercionalidade : “Os maristas conquistarão o mundo. Eles se espalharão por todos os lugares. Nunca estarão tão unidos como quando dispersos pela vontade de Deus. Eles se dispersarão por todas as partes. Nunca estarão tão unidos como quando estiverem dispersos pela vontade de Deus e pela salvação das almas.”18 “Queremos invadir todos os lugares.”19 diz Colin. Porque Maria quer cobrir toda a terra sob seu manto”20. “Nosso fim não é outro do que conseguir que o universo seja marista”21. E conversando com o cardeal Castracane, mantém este diálogo: “Então, todo o mundo será marista? Sim Eminência, incluído o Papa. A ele queremos como chefe.”22 “Ninguém poderá resistir à Sociedade, e seus membros terão tanta coragem que ninguém os poderá deter”23. 4. Com Maria à frente dos crentes 23. Colin recordará o papel central de Maria a Sociedade: “Lembremo-nos, reverendos Padres, que reconhecemos de fato, como nossa única e verdadeira Fundadora, e que a escolhemos como nossa única e perpétua Superiora” 24. “Ela está na frente da barca que conduz todos os seus filhos ao porto. Como poderíamos perecer sob a bandeira de tal Comandante? Não! Tenhamos fé”25. “Marchemos, avancemos sem hesitação”26. A Sociedade de Maria tem consciência de que encarna uma Igreja militante: “Sempre pensei – diz Colin – que a Sociedade está destinada a combater até o final dos tempos. Maria foi o apoio da Igreja nascente. Ela será também a da final, e será por meio de nós. É, portanto, necessário preencher com o seu espírito e esse espírito deve começar a 15 Colin. Entretien a table. OM 425, [2]. Colin. Remarques au P. Mayet. Mayet 1, 286. 17 Colin. Remarques au P. Mayet. Mayet 1, 286. 18 OM T. 2, p. 124, nota 3. 19 Colin, OM 427. 20 Colin. Mayet 5, 668s. 21 Colin, Remarques au P. Mayet. Mayet 1, 275s. 22 Colin, OM 427, [2]. 23 Colin OM 452, [1]. 24 Colin. Au chapitre général, relation Ducournau. APM 322.459. 25 Colin. Au chapitre général, relation Ducournau. APM 322.459. 26 Colin. Au chapitre général, relation Ducournau. APM 322.459. 16 8 partir de seu coração. Os apóstolos não faziam nada sem antes consultá-la, pois ela tinha a nova lei em seu coração e desde antes da Encarnação fora instruída pelo Espírito Santo”27. “Maria se servirá de nós, seus filhos. Façamo-nos dignos. Por nós ela lutará contra o demônio e contra o mundo, por nós ela vencerá”28. Hoje o coração de Maria se abre para acolher os maristas novos em missão. ______________________ Antonio Martínez Estaún 27 28 OM 897, 4. Colin ES 160, 6s.